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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO A IGREJA METODISTA E SUA AÇÃO PASTORAL FRENTE AO FENÔMENO DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO por Paulo Dias Nogueira São Bernardo do Campo — julho de 2009

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  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO

    A IGREJA METODISTA E SUA AO PASTORAL

    FRENTE AO FENMENO DO ENVELHECIMENTO

    POPULACIONAL BRASILEIRO

    por

    Paulo Dias Nogueira

    So Bernardo do Campo julho de 2009

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  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO

    A IGREJA METODISTA E SUA AO PASTORAL

    FRENTE AO FENMENO DO ENVELHECIMENTO

    POPULACIONAL BRASILEIRO

    por

    Paulo Dias Nogueira

    Orientador Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva Dissertao apresentada em cumprimento parcial s exigncias do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio, para obteno do grau de Mestre.

    So Bernardo do Campo julho de 2009

  • FICHA CATALOGRFICA

    N689 Nogueira, Paulo Dias A Igreja Metodista e sua ao pastoral frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro /-- So Bernardo do Campo, 2009. 202fl. Dissertao (Mestrado em Cincias da Religio) Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Ps Cincias da Religio da Universidade Metodista de So Paulo, So Bernardo do Campo Bibliografia Orientao de: Geoval Jacinto da Silva 1. Envelhecimento 2. Idosos - Brasil 3. Aconselhamento pastoral - Idoso I. Ttulo CDD 259.3

  • Dedicatria

    minha famlia

    Valria e Beatriz

    Com carinho.

  • Agradecimentos

    CAPES pela concesso da Bolsa de Estudos;

    Ao Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva, que alm de mestre foi pastor e bispo

    durante este tempo;

    Aos professores/as e funcionrios/as desta escola que sempre me trataram

    com respeito e dignidade;

    Ao meu amigo Mrcio Divino de Oliveira que foi o grande incentivador desta

    jornada;

    Aos amigos Samir Borges da Silva e Natanael Pereira do Lago, pastores das

    Igrejas pesquisadas, que foram acolhedores e prestativos;

    Catedral Metodista de Piracicaba que com carinho me acompanhou e

    incentivou durante o percurso;

    Ao compadre Ronalde, comadre Priscila e sobrinha-torta Carla pelo apoio

    nos momentos difceis;

    Ao Hilkias pelo auxlio prestado no lanamento dos dados da pesquisa;

    Darlene Schtzer que solidariamente corrigiu parte do trabalho;

    Abigail Daneluz que gentilmente traduziu o abstract;

    Aos muitos amigos que fiz pelo caminho.

  • BANCA EXAMINADORA

    ________________________________

    Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva

    Presidente - UMESP

    ________________________________

    Prof. Dr. Clvis Pinto de Castro

    UNIMEP

    _______________________________

    Prof. Dr. Ronaldo Sathler Rosa

    UMESP

  • NOGUEIRA, P. Dias. A Igreja Metodista e sua Ao Pastoral frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro. Dissertao. Programa de Ps Graduao em Cincias da Religio - Faculdade de Humanidades e Direito; Universidade Metodista de So Paulo - UMESP - 2009.

    SINOPSE

    O envelhecimento populacional uma realidade mundial. No caso do

    Brasil pode-se afirmar que este fenmeno tem trazido novos desafios para o

    governo e para a sociedade como um todo. A Igreja Metodista, como parte

    dessa sociedade, uma comunidade de f que apresenta em seus

    documentos uma proposta pastoral de forte engajamento nas questes sociais.

    Diante disso, esta pesquisa se prope a analisar a Ao Pastoral da Igreja

    Metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro. Para

    elaborao da mesma utiliza-se de dois mtodos de procedimento: o mtodo

    histrico, para o primeiro e o segundo captulos, e o mtodo estatstico para o

    terceiro. No primeiro captulo so abordados os conceitos e os preconceitos

    relativos velhice e ao envelhecimento; apresentada uma anlise

    demogrfica do envelhecimento populacional brasileiro; e por fim so, tecido

    breves comentrios sobre a velhice frente o neoliberalismo. No segundo

    captulo so apresentados um breve histrico e a conceituao de termos

    relevantes para a pesquisa: Teologia Prtica, Pastoral, Prxis e Igreja

    Metodista. Por fim, no terceiro captulo, apresenta-se a anlise e discusso dos

    resultados da pesquisa de campo realizada em trs igrejas, cujo objetivo

    aferir em seu cotidiano qual tem sido, efetivamente, a Ao Pastoral da Igreja

    Metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional. Nas

    consideraes finais do trabalho, de posse dos resultados da pesquisa

    apresenta-se algumas pistas pastorais para uma ao com e para os idosos.

    Palavras-chave: Velhice, Envelhecimento, Pastoral, Prxis, Misso

  • NOGUEIRA, Paulo Dias. The Methodist Church and Its Pastoral Action towards the Brazilian Population Aging Phenomenon. So Bernardo do Campo, 2009. Dissertation (Masters of Religion Sciences) Faculty of Humanities and Law, Methodist University of So Paulo (UMESP).

    ABSTRACT

    Population aging is of great concern worldwide. In Brazil, such

    phenomenon has brought new challenges to the government and to the society

    as a whole. The Methodist Church, as part of this society, holds a strong

    commitment to social issues with a Pastoral proposal entitled Plan for the Life

    and Mission of the Church (PLMC). Therefore, the aim of this study was to

    analyze the Pastoral action of the Methodist Church towards the Brazilian

    population aging phenomenon. This study included a historical method,

    according to Lakatos (1991), for the first and second chapters; and a statistical

    one for the third chapter. In the first chapter, the concepts and prejudices

    related to old age and aging were addressed, considering a demographic

    analysis of the Brazilian population aging as well as brief comments on the old

    age towards neoliberalism. The second chapter was aimed at a brief history

    and concept of relevant terms to research: Practical Theology, Pastoral, Praxis

    and Methodist Church. Finally, the third chapter involved an analysis and

    discussion of the results of field research conducted in three churches to assess

    what Pastoral action the Methodist Church has been taking towards the

    population aging phenomenon. The results of this study showed that the

    Methodist Church has been pastorally acting in an irrelevant manner towards

    this phenomenon, suggesting that further studies are needed to provide the

    elderly population with more information on aging using key Pastoral

    approaches.

    Keywords: Old Age, Aging, Pastoral, Praxis, Mission.

  • SIGLRIO

    ANG - Associao Nacional de Geriatria

    CE - Colgio Episcopal

    CEBs - Comunidades Eclesiais de Base

    Cedi - Centro Ecumnico de Documentao e Informao

    Cela - Conferncia Evanglica Latino-Americana

    CMI - Conselho Mundial de Igrejas

    CMP - Catedral Metodista de Piracicaba

    Conic - Conselho Nacional de Igrejas Crists

    EC - Expositor Cristo

    EI - Estatuto do Idoso

    EN - Evangelii Nuntiandi

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IM - Igreja Metodista

    IMCC - Igreja Metodista Central de Campinas

    IMCERP - Igreja Metodista Central de Ribeiro Preto

    ISAL - Junta de Igreja e Sociedade na Amrica Latina

    LOAS - Lei Orgnica de Assistncia Social

    LXX - Septuaginta

    MPAS - Ministrio da Previdncia e Assistncia Social

    MRE - Ministrio das Relaes Exteriores

    ONG - Organizao no Governamental

    ONU - Organizao das Naes Unidas

    PAI - Plano de Assistncia ao Idoso

    PNDH - Plano Nacional de Direitos Humanos

    PNI - Plano Nacional do Idoso

    RE - Regio Eclesistica

    SEDH - Secretaria Especial dos Direitos Humanos

  • LISTA DE TABELAS, GRAFICOS, FOTOS E MAPAS

    TABELAS

    TABELA 1: Populao, total e de 60 anos ou mais de idade e proporo de idosos, segundo continentes e pases - 1990/1999.

    40

    TABELA 2: Distribuio percentual da populao, por grupos de idade - 1940-2000.

    40

    TABELA 3: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios 1970, 1980, 1991 e 2000.

    41

    TABELA 4: Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000.

    42

    TABELA 5: Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo masculino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000.

    42

    TABELA 6: Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo feminino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000.

    42

    TABELA 7: Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1900 2020.

    45

    TABELA 8: Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1991 2000.

    45

    TABELA 9: Populao residente, por situao do domiclio e sexo, segundo as Grandes Regies e as Unidades da Federao - Brasil - Grandes Regies comparativo 2001 com 2007.

    47

    TABELA 10: Pastorais na Amrica Latina (Gustavo Gutierrez) 69

    TABELA 11: Aspectos da realidade sociopoltica brasileira e da realidade eclesial metodista (incio da dcada de 1980).

    92

  • TABELA 12: Classificao das Regies Eclesisticas e Missionrias da Igreja Metodista, conforme mapa 1.

    97

    TABELA 13: Total de Metodistas Arrolados Gnero e Regio Eclesistica (Clrigos e Leigos).

    99

    GRFICOS

    GRFICO 1: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (1970)

    41

    GRFICO 2: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (1980)

    41

    GRFICO 3: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (1990)

    41

    GRFICO 4: Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios (2000)

    41

    GRFICO 5: Total de Metodistas Arrolados - valor absoluto. 99

    GRFICO 6: Total de Metodistas Arrolados - porcentagem. 99

    GRFICO 7: Nmero de membros arrolados no Distrito de Piracicaba 111

    GRFICO 8: Metodistas no professos - CMP 111

    GRFICO 9: Escola Dominical Central - CMP 112

    GRFICO 10: Escola Dominical Chcara - CMP 112

    GRFICO 11: Sociedades - CMP 112

    GRFICO 12: Ministrios locais - CMP 113

    GRFICO 13: Nmero de membros arrolados no Distrito de Campinas 115

    GRFICO 14: Metodistas no professos - IMCC 116

    GRFICO 15: Escola Dominical - IMCC 116

    GRFICO 16: Sociedades - IMCC 116

    GRFICO 17: Ministrios locais - IMCC 117

  • GRFICO 18: Nmero de membros arrolados no Distrito de Ribeiro Preto 119

    GRFICO 19: Metodistas no professos - IMCERP 120

    GRFICO 20: Escola Dominical - IMCERP 121

    GRFICO 21: Sociedades - IMCERP 121

    GRFICO 22: Ministrios locais - IMCERP 121

    GRFICO 23: Gnero e faixa etria geral - nmeros absolutos (1) 123

    GRFICO 24: Gnero e faixa etria geral - nmeros absolutos (2) 123

    GRFICO 25: Gnero e faixa etria geral - porcentagem 124

    GRFICO 26: Gnero e faixa etria - IMCC 124

    GRFICO 27: Faixa etria - porcentagem (1) - IMCC 125

    GRFICO 28: Faixa etria - porcentagem (2) - IMCC 125

    GRFICO 29: Gnero e faixa etria - CMP 125

    GRFICO 30: Faixa etria - porcentagem (1) - CMP 125

    GRFICO 31: Faixa etria - porcentagem (2) - CMP 125

    GRFICO 32: Gnero e faixa etria - IMCERP 126

    GRFICO 33: Faixa etria - porcentagem (1) - IMCERP 126

    GRFICO 34: Faixa etria - porcentagem (2) - IMCERP 126

    GRFICO 35: Tempo de freqncia na igreja local - geral (absoluto) 127

    GRFICO 36: Tempo de freqncia na igreja local - geral (porcentagem) 127

    GRFICO 37: Tempo de freqncia na igreja local - geral - masculino 128

    GRFICO 38: Tempo de freqncia na igreja local - geral - feminino 128

    GRFICO 39: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC (absoluto) 128

    GRFICO 40: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC (porcentagem) 128

    GRFICO 41: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC - masculino 129

    GRFICO 42: Tempo de freqncia na igreja local - IMCC - feminino 129

    GRFICO 43: Tempo de freqncia na igreja local - CMP (absoluto) 129

  • GRFICO 44: Tempo de freqncia na igreja local - CMP (porcentagem) 129

    GRFICO 45: Tempo de freqncia na igreja local - CMP - masculino 130

    GRFICO 46: Tempo de freqncia na igreja local - CMP - feminino 130

    GRFICO 47: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP (absoluto) 130

    GRFICO 48: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP (porcentagem) 130

    GRFICO 49: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP - masculino 131

    GRFICO 50: Tempo de freqncia na igreja local - IMCERP - feminino 131

    GRFICO 51: Tempo de freqncia - gnero e idade - geral 131

    GRFICO 52: Leitura do Estatuto do Idoso - geral (absoluto) 132

    GRFICO 53: Leitura do Estatuto do Idoso - geral (porcentagem) 132

    GRFICO 54: Leitura do Estatuto do Idoso - IMCC (porcentagem) 132

    GRFICO 55: Leitura do Estatuto do Idoso - CMP (porcentagem) 133

    GRFICO 56: Leitura do Estatuto do Idoso - IMCERP (porcentagem) 133

    GRFICO 57: Escola Dominical - geral (absoluto) 135

    GRFICO 58: Escola Dominical - geral (porcentagem) 136

    GRFICO 59: Escola Dominical - IMCC (porcentagem) 136

    GRFICO 60: Escola Dominical - CMP (porcentagem) 136

    GRFICO 61: Escola Dominical - IMCERP (porcentagem) 136

    GRFICO 62: Escola Dominical - estudo dos temas - geral (absoluto) 136

    GRFICO 63: Cultos, encontros e seminrios - geral (absoluto) 137

    GRFICO 64: Cultos, encontros e seminrios - geral (porcentagem) 138

    GRFICO 65: Cultos, encontros e seminrios - IMCC (porcentagem) 138

    GRFICO 66: Cultos, encontros e seminrios - CMP (porcentagem) 138

    GRFICO 67: Cultos, encontros e seminrios - IMCERP (porcentagem) 138

    GRFICO 68: Artigos, estudos e pastorais - geral (absoluto) 139

    GRFICO 69: Artigos, estudos e pastorais - geral (porcentagem) 140

  • GRFICO 70: Artigos, estudos e pastorais - geral (no responderam) 140

    GRFICO 71: Artigos, estudos e pastorais - IMCC (porcentagem) 140

    GRFICO 72: Artigos, estudos e pastorais- CMP (porcentagem) 140

    GRFICO 73: Artigos, estudos e pastorais- CMP (porcentagem) 140

    GRFICO 74: Boletim Informativo - geral (absoluto) 141

    GRFICO 75: Boletim Informativo - geral (porcentagem) 141

    GRFICO 76: Expositor Cristo - geral (absoluto) 141

    GRFICO 77: Expositor Cristo - geral (porcentagem) 141

    GRFICO 78: Voz Missionria - geral (absoluto) 142

    GRFICO 79: Voz Missionria - geral (porcentagem) sim/no 142

    GRFICO 80: Voz Missionria - geral (porcentagem) por igreja 142

    GRFICO 81: Revistas da Escola Dominical - geral (porcentagem) 143

    GRFICO 82: Revistas da Escola Dominical - geral (absoluto) 143

    GRFICO 83: Sermes - geral (absoluto) 144

    GRFICO 84: Sermes - geral (porcentagem) 144

    GRFICO 85: Sermes - IMCC (porcentagem) 144

    GRFICO 86: Sermes - CMP (porcentagem) 145

    GRFICO 77: Sermes - IMCERP (porcentagem) 145

    GRFICO 88: Estatuto do Idoso - contato (absoluto) 145

    GRFICO 89: Carta do Colgio Episcopal (porcentagem) 146

    GRFICO 90: Parceria com outras instituies -sim/no (porcentagem) 147

    GRFICO 91: Parceria com outras instituies - quais (porcentagem) 147

    FOTOS

    FOTO 1: IMCC aplicao do questionrio (1) 107

  • FOTO 2: IMCC aplicao do questionrio (2) 107

    FOTO 3: IMCC aplicao do questionrio (3) 107

    FOTO 4: CMP aplicao do questionrio (1) 107

    FOTO 5: CMP aplicao do questionrio (2) 107

    FOTO 6: CMP aplicao do questionrio (3) 107

    FOTO 7: IMCERP aplicao do questionrio (1) 107

    FOTO 8: IMCERP aplicao do questionrio (2) 107

    FOTO 9: IMCERP aplicao do questionrio (3) 107

    FOTO 10: Fachada do Templo - CMP 108

    FOTO 11: Fachada do Templo - IMCC 114

    FOTO 12: Fachada do Templo - IMCERP 118

    MAPAS

    Mapa do Brasil apontando as Regies Eclesisticas e Missionrias da Igreja Metodista, conforme classificao da tabela 12.

    97

  • SUMRIO

    INTRODUO 18

    CAPITULO I - O envelhecimento populacional brasileiro 24

    1.1. O envelhecimento e a velhice uma abordagem bblico-teolgico-pastoral

    24

    1.2. O envelhecimento e a velhice na contemporaneidade conceitos e preconceitos

    32

    1.3. O envelhecimento populacional brasileiro uma anlise demogrfica

    39

    1.4. O envelhecimento populacional na agenda das polticas pblicas

    48

    1.4.1. A agenda internacional 49

    1.4.2. A agenda nacional 52

    1.5. A velhice e o neoliberalismo

    54

    CAPITULO II - Histricos e definies: conceitos norteadores da pesquisa (teologia prtica, pastoral, prxis, igreja metodista).

    58

    2.1. Teologia Prtica 59

    2.1.1. Teologia Pastoral - breve histrico e especificidades 60

    2.1.2. Teologia Prtica - breve histrico e especificidades 63

    2.2. Pastoral 65

    2.2.1. Pastoral - breve histrico e conceituao 66

  • 2.3. Prxis 72

    2.3.1. Prxis - conceitos gerais 72

    2.3.2. Prxis - segundo Casiano Floristn 78

    2.4. Igreja Metodista um breve histrico (Inglaterra, EUA e Brasil)

    82

    2.4.1. Metodismo na Inglaterra 82

    2.4.2. Metodismo nos E.U.A. 84

    2.4.3 Metodismo no Brasil 85

    2.5. Igreja Metodista Proposta Pastoral (PVMI) 90

    2.6. Igreja Metodista Organizao Administrativo-Geogrfica 97

    2.7. Consideraes sobre o captulo

    100

    CAPTULO III - A ao pastoral da igreja metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro apresentao, anlise e interpretao dos dados da pesquisa de campo.

    103

    3.1. Procedimentos Metodolgicos 103

    3.2. Breve histrico e caracterizao das Igrejas Pesquisadas 108

    3.2.1.Catedral Metodista de Piracicaba 108

    3.2.2.Igreja Metodista Central de Campinas 114

    3.2.3. Igreja Metodista Central de Ribeiro Preto 118

    3.3. Anlise e interpretao dos Dados 122

    3.3.1. Perfil dos entrevistados 122

    3.3.1.1. Idade, sexo e tempo de membresia 123

    3.3.1.2. Conhecimentos gerais sobre o tema 132

    3.3.2. Ao Pastoral da Igreja na tica dos entrevistados 133

    3.3.2.1. Escola Dominical 134

    3.3.2.2. Cultos, Encontros e Seminrios 137

  • 3.3.2.3. Peridicos da Igreja Metodista 138

    3.3.2.3.1 Boletim da Igreja local 141

    3.3.2.1.2. Expositor Cristo 141

    3.3.2.1.3. Voz Missionria 142

    3.3.2.1.4. Revistas da Escola Dominical 143

    3.3.2.4. Sermes 143

    3.3.2.5. Ao Docente - Estatuto do Idoso 145

    3.3.3. Opinies e sugestes dos entrevistados quanto prxis pastoral da IM frente ao fenmeno do envelhecimento populacional.

    146

    3.4. Consideraes finais sobre o captulo 148

    CONSIDERAES FINAIS 150

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 159

    ANEXOS 178

    Anexo 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido 179

    Anexo 2 - Questionrio (Pesquisa de Campo) 181

    Anexo 3 - Parecer consubstanciado do CEP-UMESP 183

    Anexo 4 - Relatrio de Estatstica Igreja Local 2008 (CMP) 184

    Anexo 5 - Relatrio de Estatstica Igreja Local 2008 (IMCC) 188

    Anexo 6 - Relatrio de Estatstica Igreja Local 2008 (IMCERP) 192

    Anexo 7 - Total de Membros - Estatsticas 2007 (Nacional) 196

    Anexo 8 - Total de Membros - Estatsticas 2008 (5 RE) 197

    Anexo 9 - Regimento da Escola Dominical - Igreja Metodista. 200

  • INTRODUO

    O presente trabalho, que se insere na rea de Prxis Religiosa e

    Sociedade do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da

    Universidade Metodista de So Paulo se prope a analisar a Ao Pastoral da

    Igreja Metodista frente ao fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro.

    Quando comecei a me interessar pelos estudos do envelhecimento e da

    velhice, algumas pessoas me questionavam como um jovem poderia se

    interessar por um tema como este. Ouvi expresses como: Voc to novinho

    estudando sobre os velhos? Vai estudar uma coisa mais interessante, Voc

    louco, as pessoas querendo fugir da velhice e voc querendo ficar perto dela,

    outros ainda diziam, Trabalhar com velho fcil, eles s esto esperando para

    morrer. Desde o incio percebi as dificuldades para falar sobre a velhice, sendo

    um jovem. Simone de Beauvoir, na introduo de sua monumental obra sobre

    a velhice, relata algo muito parecido: "Quando eu digo que trabalho num ensaio

    sobre a velhice, quase sempre as pessoas exclamam: Que idia!... Mas voc

    no velha!... Que tema triste..."1

    1 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003.p. 08.

  • 19

    Meu interesse por estudos gerontolgicos e, especialmente, pelo

    desenvolvimento desta pesquisa fruto de minha formao teolgica e prtica

    pastoral. Assim que comecei os estudos teolgicos, com apenas 19 anos de

    idade, fui seminarista em uma igreja da cidade de Campinas-SP, localizada no

    bairro de So Bernardo. Era uma pequena comunidade composta por pessoas

    idosas. Nela tive minha primeira experincia de conviver e pastorear idosos.

    Ainda no perodo de estudos fui nomeado como pastor acadmico para a Igreja

    Metodista em Amparo-SP. Nesta comunidade havia um grande nmero de

    idosos e l tive minhas primeiras experincias de desenvolver uma ao

    pastoral mais prxima a eles. Aps minha formatura, recebi nomeao

    episcopal para a Igreja Metodista em Rondonpolis-MT. Esta foi a nica igreja

    que pastoreei, cuja populao idosa era muito pequena. Aps trs anos de

    trabalho fui transferido para a Igreja Metodista em Marlia-SP, nesta, a

    populao idosa era muito expressiva e atuante. Atualmente estou pastoreando

    a Catedral Metodista de Piracicaba-SP, cuja comunidade composta por

    muitos idosos.

    Iniciei minhas atividades pastorais, ainda como seminarista, em 1989 e

    passados vinte anos estou dissertando sobre um dos temas que mais me

    chamou a ateno na vida da igreja: a falta de uma Pastoral voltada para as

    pessoas idosas. Tenho verificado em minha experincia ministerial que a igreja

    desenvolve pastorais voltadas para a infncia e a juventude, porm parece

    ignorar a presena, a ao e as limitaes dos idosos na sociedade. Parece-

    nos que as programaes das Igrejas so voltadas, em sua maioria, para os

    jovens e as crianas.

    Somado minha experincia pastoral e a percepo pessoal de que a

    igreja parecia no produzir uma pastoral voltada para o idoso, veio minha

    descoberta de que o envelhecimento populacional uma realidade mundial, e

    que no Brasil este fenmeno tem trazido novos desafios para o governo e para

    a sociedade como um todo. Foram estes fatores que me motivaram a

    pesquisar o tema.

  • 20

    Para a elaborao desta pesquisa foram utilizados dois mtodos de

    procedimento: o mtodo histrico e o mtodo estatstico. Eva Maria Lakatos

    define os dois da seguinte forma:

    MTODO HISTRICO (...) consiste em investigar acontecimentos, processos e instituies do passado para verificar a sua influncia na sociedade de hoje, pois as instituies alcanaram sua forma atual atravs de alteraes de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada poca.2 MTODO ESTATSTICO (...) fundamenta-se na utilizao da teoria estatstica das probabilidades. Suas concluses apresentam grande probabilidade de serem verdadeiras, embora admitam certa margem de erro. A manipulao estatstica permite comprovar as relaes dos fenmenos entre si, e obter generalizaes sobre sua natureza, ocorrncia ou significado.3

    Nos dois primeiros captulos foi utilizado o mtodo histrico e a

    metodologia da pesquisa foi bibliogrfica. No terceiro captulo o mtodo

    utilizado foi o estatstico e a metodologia da pesquisa a quantitativa, seguindo o

    mtodo survey descritivo, atravs da aplicao de um questionrio estruturado

    cuja populao-alvo so os membros da Igreja Metodista com 60 anos ou mais

    de idade. Reconhecendo ser impraticvel entrevistar todos os metodistas

    idosos do Brasil decidiu-se pela pesquisa por amostragem, uma das

    caractersticas do mtodo de survey. No terceiro captulo sero melhor

    especificados os procedimentos metodolgicos. Como visto, a pesquisa foi

    dividida em trs captulos.

    No primeiro captulo, com o objetivo de apresentar o fenmeno do

    envelhecimento populacional e seus desafios para a sociedade, sero

    apresentados os seguintes subitens: O envelhecimento e a velhice uma

    abordagem bblico-teolgico-pastoral, onde sero destacados dois conceitos

    bblicos de ancio: zqn (hebraico) e presbytero (grego). No segundo subitem,

    intitulado O envelhecimento e a velhice na contemporaneidade conceitos e

    preconceitos, sero abordados alguns conceitos que tem demonstrado

    2 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia Cientfica. So Paulo: Atlas, 1983, p.79. 3 Ibid.

  • 21

    distores do que seja verdadeiramente a velhice por sua dependncia

    excessiva do modelo biomdico (biomedicalizao da velhice). No terceiro

    subitem, intitulado: O envelhecimento populacional brasileiro uma anlise

    demogrfica, sero apresentados dados estatsticos que comprovam o

    fenmeno do envelhecimento populacional. No quarto subitem, O

    envelhecimento populacional na agenda das polticas pblicas, para

    compreender os desafios provenientes deste fenmeno e saber como o

    governo tem tratado o tema, sero feitos alguns apontamentos das agendas

    nacional e internacional sobre o envelhecimento populacional. Para concluir o

    primeiro captulo, ser realizada uma breve reflexo sobre a sociedade

    neoliberal e sua relao com os idosos

    No segundo, por reconhecer que a pesquisa utilizar ferramentas da

    Teologia Prtica, principalmente a apresentada por Casiano Floristn, ser

    apresentado um breve histrico e a conceituao de alguns termos relevantes,

    para esta pesquisa: Teologia Prtica, Teologia Pastoral, Pastoral, Prxis, Igreja

    Metodista. Para compreender a especificidade da Teologia Prtica, ser

    apresentado um breve histrico e sua conceituao, procurando diferenci-la

    da Teologia Pastoral, pois as duas, muitas vezes, foram confundidas no

    decorrer da histria. Para esclarecer o significado da expresso Ao

    Pastoral neste trabalho, ser apresentado um breve histrico do termo

    Pastoral e o desenvolvimento do conceito no contexto da Amrica Latina.

    Quanto utilizao do termo prxis no contexto deste trabalho, ser

    apresentado, ainda que sucintamente, seu significado etimolgico, sua

    utilizao e compreenso a partir do senso comum (conscincia comum da

    prxis), o desenvolvimento e a elaborao do conceito filosfico (conscincia

    filosfica da prxis), e mais especificamente, o conceito de prxis segundo

    Casiano Floristn. Com o objetivo de apresentar a Igreja Metodista, sero

    realizados breves apontamentos sobre sua histria, estrutura geogrfico-

    organizacional e proposta Pastoral.

    Reconhecendo que o envelhecimento populacional brasileiro um

    fenmeno que tem apresentado novos desafios para a sociedade e em

    particular para a misso da igreja (1 captulo) e que a Igreja Metodista tem

    uma proposta pastoral libertadora e transformadora que leva em considerao

  • 22

    a importncia do engajamento social (2 captulo), o terceiro captulo realizar

    uma pesquisa de campo com o objetivo de aferir qual tem sido a ao pastoral

    da Igreja Metodista frente a este fenmeno segundo a percepo dos idosos

    que freqentam as igrejas locais. Diante da Populao-Alvo, composta por

    todos os metodistas com 60 anos ou mais, espalhada pelas oito Regies

    Eclesisticas/Missionrias, optou-se pela Quinta RE, nesta, pelos distritos de

    Campinas, Piracicaba e Ribeiro Preto, e nestes pelas igrejas centrais das

    cidades sedes dos distritos: Catedral Metodista de Piracicaba (CMP); Igreja

    Metodista Central de Campinas (IMCC) e (Igreja Metodista Central de Ribeiro

    Preto (IMCERP). A opo por estas comunidades como amostras para o

    estudo no foi aleatria, mas sim, por responderem aos seguintes quesitos: 1)

    Igrejas com mais de 90 anos de vida e misso, demonstrando assim

    estabilidade organizacional e administrativa; 2) igrejas com uma forte presena

    da populao idosa, permitindo, assim, verificar se a comunidade onde ela est

    tem refletido sobre o fenmeno do envelhecimento populacional e seus

    desafios para igreja; e 3) Igrejas situadas em cidades do estado de So Paulo

    cuja populao excede a 350 mil habitantes, reconhecendo que estes

    municpios esto numa regio desenvolvida do pas, onde as pessoas tm um

    maior acesso a informaes e formao escolar.

    Ainda que a Igreja Metodista tenha uma proposta Pastoral de

    engajamento social (PVMI), verificar-se- atravs dos resultados da pesquisa,

    que, na percepo e ao dos idosos entrevistados, o fenmeno do

    envelhecimento populacional e seus desafios no tem feito parte da agenda

    missionria da Igreja. As poucas aes que existem so tmidas e voltadas

    para a prpria comunidade de f. Diante disso, nas consideraes finais foram

    propostas algumas pistas pastorais para uma ao COM e PARA os idosos.

    Reconhece-se ser pretensioso, num espao exguo de dissertao, querer

    definir aes pastorais para a Igreja Metodista frente ao fenmeno, por isso

    deve-se ressaltar que o objetivo ser de apenas delinear algumas pistas. Para

    tal, ser levado em considerao: 1) os desafios provenientes do fenmeno do

    envelhecimento populacional brasileiro; 2) os resultados da pesquisa de

    campo; 3) o conceito de Prxis Pastoral (criadora, reflexiva, libertadora e

    radical), bem como, os eixos para a ao Pastoral da Igreja (Misso - Kerigma;

  • 23

    Catequese Didaskalia; Liturgia Leitourgia; Comunho Koinonia; Servio

    Diakonia) apresentados por Casiano Floristn; e 4) a proposta pastoral da

    Igreja Metodista contida no Plano para a Vida e a Misso da Igreja (PVMI).

  • CAPTULO I

    O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

    Para melhor compreender o fenmeno do envelhecimento populacional

    bem como a concepo de velhice que se tem na atualidade, subdividiu-se

    este captulo com os seguintes temas: o envelhecimento e a velhice uma

    abordagem bblico-teolgico-pastoral; o envelhecimento e a velhice na

    contemporaneidade conceitos e preconceitos; o envelhecimento populacional

    brasileiro uma anlise demogrfica; o envelhecimento populacional na

    agenda das polticas pblicas; e por fim, a velhice e o neoliberalismo.

    1.1. O envelhecimento e a velhice uma abordagem bblico-teolgico-

    pastoral

    Delimitar teoricamente o incio do envelhecimento, bem como o conceito

    de velhice tem sido um ponto de divergncia entre os pesquisadores, os

    legisladores e a populao de forma geral.

    H uma tendncia em muitas pessoas em colocar no mesmo patamar a

    velhice e o envelhecimento. A confuso destes termos fortalece uma iluso de

  • 25

    salvao em que, pretensamente, s os velhos envelhecem... e j que os

    velhos so os outros...!.1 Continua Messy:

    O envelhecimento no a velhice, como uma imagem no se reduz a uma etapa. O envelhecimento um processo irreversvel, que se inscreve no tempo. Comea com o nascimento e acaba na destruio do indivduo. (...) Os significados so inseparveis. (...) Se o envelhecimento o tempo da idade que avana, a velhice o da idade avanada, entende-se, em direo morte".2

    J que velho sempre o outro, muitas pessoas se assustam quando so

    chamadas de velhas pela primeira vez3. A percepo da velhice, na maioria

    das vezes, acontece de "fora para dentro". o outro que reconhece a velhice;

    o espelho que mostra as mudanas; so situaes do cotidiano que

    apresentam o fato novo.

    Nesse sentido vlido dizer que, tanto a velhice, quanto o momento em

    que ela se d, no so rgidos, variam de pessoa para pessoa, de acordo com

    o seu histrico de vida.

    No decorrer dos tempos muitos conceitos e parmetros quanto ao

    envelhecimento e a velhice, foram adotados e descartados. Atravs do

    conhecimento de como as pessoas concebiam a velhice no passado, pode-se

    perceber algumas heranas culturais que na atualidade influenciam na

    compreenso do conceito que se faz da velhice e do envelhecimento

    Beauvoir4 fez uma pesquisa minuciosa sobre a condio do velho nas

    sociedades primitivas, destacando principalmente sua posio no contexto

    social. Percebeu que diferentes posturas foram assumidas por estas

    sociedades: algumas eliminavam seus velhos, outras os abandonavam at

    morrerem, por outro lado, algumas, mesmo em situao de penria os

    respeitavam e veneravam. Para a autora, para compreender a realidade e o

    significado da velhice , portanto, indispensvel examinar qual o lugar nela

    1 MESSY, J. A pessoa idosa no existe. So Paulo: Editora ALEPH, 1992. p. 17 2 Ibid., p.12 e 17 3 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003. 4 Ibid.

  • 26

    atribudo aos velhos, qual a imagem que deles se tem em diferentes pocas e

    em diferentes lugares.5

    Provavelmente um dos textos mais antigos que discorre sobre a velhice

    do filsofo e poeta egpcio Ptah-Hotep, escrito por volta de 2500 a.C, que

    descreve assim o fim de um velho:

    Vai dia a dia enfraquecendo: a vista baixa, as orelhas se tornam surdas; a fora declina; o corpo no encontra repouso, a boca se torna silenciosa e j no fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e tornam-lhe impossvel recordar hoje o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. As ocupaes a que outrora se entregava com prazer s as realiza agora com dificuldade e desaparece o sentido do gosto. A velhice a pior desgraa que pode acometer um homem. O nariz se obstrui e nada mais se pode cheirar. 6

    Ao escrever uma histria da velhice, Jean-Pierre Bois argumentou que,

    no importava o perodo em que ela fosse abordada, o discurso sempre

    passava por uma discusso de

    [...] temas em oposio mas sem dvida complementares sabedoria e loucura, felicidade e tristeza, beleza e feira, virtudes e corrupes de idade e das pessoas idosas que exprimem duas aspiraes, a tentao de uma vida longa e a recusa das fraquezas clssicas da idade.7

    No objetivo deste trabalho apresentar uma histria da velhice8,

    porm, por tratar-se de uma pesquisa na rea de Prxis Religiosa e Sociedade

    que pretende estudar a prtica missionria da Igreja Metodista frente ao

    fenmeno do envelhecimento populacional, faz-se necessrio uma breve

    abordagem bblico-teolgica sobre o envelhecimento e a velhice.

    Pode-se afirmar que tanto a comunidade de Israel (descrita nos textos

    do Antigo Testamento), quanto as comunidades crists do 1 sculo

    (compostas por pessoas de vrios povos e naes, descritas no Novo

    Testamento) tratavam os idosos com muito respeito. Voltando afirmao de 5 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003. p. 41. 6 PTAH-HOTEP. Ensinamento de Ptah-hotep apud: Ibid, p. 103. 7BOIS, Jean-Pierre. Histoire de la vieillesse, Paris: PUF, 1994 apud: ALVES JNIOR. Edmundo de Drummond, A Pastoral do Envelhecimento Ativo. Tese Apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Fsica da Universidade Gama Filho Como Requisito Parcial Obteno do Ttulo de Doutor em Educao Fsica. 2004. p. 24. 8 Para uma melhor compreenso da histria da velhice confira BEAUVOIR. Op. cit. e ALVES JNIOR. Op. cit.

  • 27

    Beauvoir, elas podem ser includas entre as sociedades da antiguidade que

    valorizavam seus velhos, mesmo em casos de penrias.

    Voltar os olhos para algumas afirmaes bblicas com respeito ao

    envelhecimento e a velhice, buscando contextualiz-las, uma forma de

    compreender o lugar do idoso na sociedade da poca.

    No Antigo Testamento existem vrias palavras que podem ser

    traduzidas por "velho" ou "velhice". Porm, neste momento optar-se- apenas

    pela palavra hebraica zqn, por ser ela a mais citada entre todas. Derivada da

    palavra zqn, barba, ela significa idoneidade e sabedoria provenientes de

    uma vida farta de dias. Esta palavra aparece 167 vezes no plural (ancios) e 9

    no singular (ancio). Na Septuaginta (LXX) ela foi traduzida por presbyteros.

    Nos textos que narram o tempo do xodo, os ancios so apresentados

    como importantes personagens, pessoas que recebiam tarefas especficas e

    lideravam o povo sob a responsabilidade de Moiss:

    Vai, ajunta os ancios de Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abrao, o Deus de Isaque e o Deus de Jac, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito. Portanto, disse eu: Far-vos-ei subir da aflio do Egito para a terra do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu, para uma terra que mana leite e mel. E ouviro a tua voz; e irs, com os ancios de Israel, ao rei do Egito e lhe dirs: O SENHOR, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de trs dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus. Eu sei, porm, que o rei do Egito no vos deixar ir se no for obrigado por mo forte. Portanto, estenderei a mo e ferirei o Egito com todos os meus prodgios que farei no meio dele; depois, vos deixar ir. Eu darei merc a este povo aos olhos dos egpcios; e, quando sairdes, no ser de mos vazias. Cada mulher pedir sua vizinha e sua hspeda jias de prata, e jias de ouro, e vestimentas; as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egpcios. (xodo 3:16-22)9

    Respondeu o SENHOR a Moiss: Passa adiante do povo e toma contigo alguns dos ancios de Israel, leva contigo em mo o bordo com que feriste o rio e vai. Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em Horebe; ferirs a rocha, e dela sair gua, e o povo beber. Moiss assim o fez na presena

    9 BBLIA SAGRADA. Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada)

  • 28

    dos ancios de Israel. E chamou o nome daquele lugar Mass e Merib, por causa da contenda dos filhos de Israel e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Est o SENHOR no meio de ns ou no? (xodo 17:5-7)10

    Disse tambm Deus a Moiss: Sobe ao SENHOR, tu, e Aro, e Nadabe, e Abi, e setenta dos ancios de Israel; e adorai de longe. S Moiss se chegar ao SENHOR; os outros no se chegaro, nem o povo subir com ele. Veio, pois, Moiss e referiu ao povo todas as palavras do SENHOR e todos os estatutos; ento, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que falou o SENHOR faremos. (xodo 24:1-3)11

    Durante o perodo da monarquia os ancios formavam o Conselho Real.

    Decidiam sobre os acordos de paz ou os atos de guerra. Em muitos momentos

    assumiam funes judicirias:

    Disse ainda Aitofel a Absalo: Deixa-me escolher doze mil homens, e me disporei, e perseguirei Davi esta noite. Assalt-lo-ei, enquanto est cansado e frouxo de mos; espant-lo-ei; fugir todo o povo que est com ele; ento, matarei apenas o rei. Farei voltar a ti todo o povo; pois a volta de todos depende daquele a quem procuras matar; assim, todo o povo estar em paz. O parecer agradou a Absalo e a todos os ancios de Israel... Disse Husai a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Assim e assim aconselhou Aitofel a Absalo e aos ancios de Israel; porm assim e assim aconselhei eu. (2 Samuel 17:1-4,15)12

    Ento, o rei de Israel chamou todos os ancios da sua terra e lhes disse: Notai e vede como este homem procura o mal; pois me mandou exigir minhas mulheres, meus filhos, minha prata e meu ouro, e no lho neguei. Todos os ancios e todo o povo lhe disseram: No lhe ds ouvidos, nem o consintas. (1 Reis 20:7-8)13

    Mas, havendo algum que aborrece a seu prximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere de golpe mortal, e se acolhe em uma dessas cidades, os ancios da sua cidade enviaro a tir-lo dali e a entreg-lo na mo do vingador do sangue, para que morra. No o olhars com piedade; antes, exterminars de Israel a culpa do sangue inocente, para que te v bem. (Deuteronmio 19:10-13)14

    No perodo do Exlio Babilnico o povo de Israel no tinha uma liderana

    oficial, sendo assim os ancios eram os nicos a exercerem autoridade sobre o

    10 BBLIA SAGRADA. Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada) 11 Ibid. 12 Ibid. 13 Ibid. 14 Ibid.

  • 29

    povo. Quando retornaram Palestina, o povo estabeleceu em cada cidade um

    conselho de ancios, formando assim, o Sindrio.15 Sobre o Sindrio, esclarece

    Morin:

    O Sindrio no remonta a Moiss... tem sua origem nos Conselhos de Ancios de que o Sumo Sacerdote se cercou, desde os tempos da dominao Persa. O chefe da sinagoga era escolhido entre os ancios. Cabia-lhes zelar pelo prdio e pela ordem das assemblias, dirigir as preces e os cantos, designar as intervenes.16

    No Novo Testamento, verifica-se a participao ativa dos ancios

    (presbyteros) no Sindrio ao lado dos escribas e sacerdotes:

    Ento, vieram de Jerusalm a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discpulos a tradio dos ancios? Pois no lavam as mos, quando comem. (Mateus 15:1-2)17

    Ora, reuniram-se a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalm. E, vendo que alguns dos discpulos dele comiam po com as mos impuras, isto , por lavar (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradio dos ancios, no comem sem lavar cuidadosamente as mos; quando voltam da praa, no comem sem se aspergirem; e h muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal {e camas}), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que no andam os teus discpulos de conformidade com a tradio dos ancios, mas comem com as mos por lavar? (Marcos 7:1-5)18

    No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalm as autoridades, os ancios e os escribas com o sumo sacerdote Ans, Caifs, Joo, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e, pondo-os perante eles, os argiram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto? Ento, Pedro, cheio do Esprito Santo, lhes disse: Autoridades do povo e ancios...(Atos 4:5-8)19

    Pode-se afirmar que a sociedade israelita em seus vrios momentos

    histricos sempre respeitou e reverenciou os idosos, reconhecendo neles

    idoneidade e sabedoria.

    15 SANCHEZ, R. Enciclopdia de la Bblia. Barcelona, Garriga, 1963, p. 489. 16 MORIN, E. Jesus e as Estruturas de seu tempo. So Paulo: Paulinas, 1984. p. 103 e 133 17 BBLIA SAGRADA. Op. cit. 18 Ibid. 19 SOCIEDADE BBLICA DO BRASIL. Bblia Sagrada. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada).

  • 30

    A igreja primitiva, conhecida atravs dos textos do Novo Testamento,

    seguir a mesma tradio da sociedade israelita, valorizando os ancios

    (presbyteros) e dando-lhes lugar de destaque e liderana nas comunidades

    nascentes. Menoud afirmar: os presbteros dirigem a igreja na ausncia dos

    apstolos e em colaborao com eles em sua presena. Este o caso por

    ocasio do conclio de Jerusalm (Atos 15) e mais tarde quando Paulo chega

    pela ltima vez na cidade santa (Atos 21:28).20

    Por sua idade e experincia o ancio era respeitado e sua opinio

    valorizada; ele participava das principais decises da comunidade; era

    responsvel pela administrao, o ensino e o governo da igreja:21

    Alguns indivduos que desceram da Judia ensinavam aos irmos: Se no vos circuncidardes segundo o costume de Moiss, no podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e Barnab, contenda e no pequena discusso com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalm, aos apstolos e presbteros, com respeito a esta questo. Enviados, pois, e at certo ponto acompanhados pela igreja, atravessaram as provncias da Fencia e Samaria e, narrando a converso dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmos. Tendo eles chegado a Jerusalm, foram bem recebidos pela igreja, pelos apstolos e pelos presbteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles.( Atos 15:1-4)22

    Rogo, pois, aos presbteros que h entre vs, eu, presbtero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glria que h de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que h entre vs, no por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por srdida ganncia, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescvel coroa da glria. (1 Pedro 5:1-4)23

    Pode-se afirmar que tal como na sociedade israelita, as comunidades

    crists primitivas tambm valorizaram o ancio dando-lhe lugar de destaque e

    liderana. Tanto o Antigo, quanto o Novo Testamento registraram este fato.

    20 MENOUD, in: ALLMEN, Jean J. Von & colaboradores. Vocabulrio Bblico. 3 Ed. So Paulo: ASTE, 2001. p. 253. 21 Ibid., p. 252-256 22 BBLIA SAGRADA. Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. So Paulo, 2000. (edio revista e atualizada). 23 Ibid.

  • 31

    Como j foi afirmado, existem outras palavras para designar velho e a

    velhice, mas em nossa pesquisa optamos pelas palavras zqn (hebraico) e

    presbyteros (grego). Porm, para que no se tenha uma viso distorcida da

    compreenso bblica da velhice e do envelhecimento importante afirmar que

    existem abordagens bblicas mais otimistas (idealistas) da que foi apresentada,

    bem como tambm, outras mais pessimistas. Born nos ajuda nesta

    compreenso quando nos afirma:

    Uma viso idealista v na velhice uma gloriosa coroa (Pv. 16:31) e admira a sua experincia (Ecl. 25:6) sabedoria e compreenso (J 12:12; 15:9s; Ecl. 25: 4ss) e seus vastos conhecimentos (J 8:18ss). Por isso, Dn 7:9 no hesita em apresentar Deus, por causa de sua existncia desde toda a eternidade, como um ancio, e Pv. 16: 31 ousa chamar a velhice de uma bela recompensa; em Is. 65:20 e Zc. 8:4 a velhice tem at o seu lugar no quadro da felicidade escatolgica. Porm, a Bblia tambm d palavra velhoum sentido bastante pejorativo como, por exemplo, no NT quando Paulo se refere ao velho homem, alienado de Deus e ao novo homem, reconciliado com Deus, porm, esse termo no se refere idade cronolgica. A Bblia pinta a velhice em cores sombrias: a vida vai se enfraquecendo (Gn. 27:12; 1Rs 14:4), o calor do corpo vai diminuindo (1Rs 1:1), sofre-se de reumatismo ((1Rs 15:23), a alegria vital vai se esmorecendo (2Sm 19:36ss), no se tem mais energias para medidas vigorosas, a potncia para gerar filhos est morta (Gn 18:11ss; Lc 1:18; Rm 4:19).24

    A sociedade contempornea, regida por uma filosofia neoliberal que

    reduz o homem a um ser econmico (produtor, investidor e consumidor)25,

    exclui aqueles que no tenham condies materiais de produzir, investir ou

    consumir no Mercado. Dentre estes excludos, encontramos os idosos que ao

    longo do tempo e da histria foram perdendo seu espao de respeito e

    contribuio social. Como afirmou Beauvoir, , para compreender a realidade e

    o significado da velhice , portanto, indispensvel examinar qual o lugar nela

    atribudo aos velhos, qual a imagem que deles se tem em diferentes pocas e

    em diferentes lugares.26

    24 BORN, A. Van Den. Dicionrio Enciclopdico da Bblia. Petrpolis: Vozes, 1971. p. 1546. 25 SUNG, Jung Mo. Sementes de Esperana. Petropolis: Vozes, 2005 p. 98-99 26 BEAUVOIR. Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003, p.41

  • 32

    1.2. O envelhecimento e a velhice na contemporaneidade conceitos

    e preconceitos

    O tema do envelhecimento e da velhice na contemporaneidade pode ser

    abordado de vrias formas. Neste trabalho, optou-se por apresentar as

    distores provenientes do uso do modelo biomdico27 na compreenso e

    conceituao destes termos, por compreender que a construo social da

    velhice a partir dos mesmos, tem focalizado no idoso as doenas e suas

    limitaes fsico-qumicas. Isto leva a associao da velhice a doenas,

    anormalidades e limitaes. O idoso muito mais que suas doenas e suas

    limitaes fsico-qumicas.

    Antes, propriamente, de abordar o tema da biomedicalizao da velhice,

    far-se- uma breve introduo questo epistemolgica. Isto de fundamental

    importncia para que se verifique a mudana de paradigma epistemolgico no

    decorrer da histria, quando a cincia passa a ser considerada em alguns

    crculos, como sinnimo da nica verdade.

    O conhecimento cientfico, como ele entendido hoje, fruto do sculo

    XIX. Antes disso o que se tinha eram estudantes da natureza em busca de

    uma filosofia da natureza ou uma histria natural.28 Segundo Filoramo e

    Prandi:

    O sculo XIX caracterizou-se por um processo de ramificao das cincias naturais e das cincias humanas, em meio s profundas transformaes por que passou o Ocidente, em seu conjunto. A revoluo industrial, em seu interior, e as conquistas coloniais, em seu exterior, colocaram a cultura europia diante de novas exigncias de definio da prpria capacidade de leitura tanto da sociedade ocidental quanto das sociedades com as quais o ocidente havia estabelecido relaes de domnio e intercambio.29

    27 Utilizar-se- como referencial terico o texto NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p.11-22. 28 HARRISON, Peter. Cincia e Religio: Construindo os Limites. in: Revista de Estudos da Religio. no 1, 2007, p. 1 29 FILORAMO, Giovani e PRANDI, Carlo. As Cincias das Religies. So Paulo: Paulus, 2007 p. 06.

  • 33

    Para Sommerman no sculo XII iniciou-se uma grande ruptura na viso

    cosmolgica, antropolgica e epistemolgica da elite europia, que a levou no

    decorrer dos sculos seguintes...

    ... de uma perspectiva multidimensional (que chamarei de tradicional) do cosmos e do ser humano, apoiada no mito judaico-cristo e na filosofia platnica, para uma perspectiva e teoria do conhecimento cada vez mais racionais e empricas, o que levou a estrutura circular das disciplinas que se alimentavam mutuamente para permitir a compreenso do todo a uma reduo e fragmentao do saber.30

    Essas rupturas levaram a uma separao crescente entre a tradio, a

    religio, a filosofia, e a cincia nos sculos seguintes. Verifica-se que nos

    sculos XV, XVI e XVII, alguns pensadores (Coprnico31, Galileu32, Newton33),

    baseando-se em epistemologias racionalistas ou empiristas, estabeleceram os

    fundamentos da cincia moderna, ao mesmo tempo quantitativa e

    experimental.34

    Sobre este processo de mudana epistemolgica, afirma Morin:

    ... a tradio crtica, nascida da filosofia, em Atenas, cinco sculos antes de nossa era, interrompida cinco sculos depois na nossa era, foi reconstituda com o Renascimento; foi no

    30 SOMMERMAN, Amrico. Inter ou transdisciplinaridade?: da fragmentao disciplinar ao novo dilogo entre os saberes. So Paulo: Paulus, 2006. p. 09. 31 Nicolau Coprnico (1473-1543) - astrnomo polons: Revolucionou o pensamento ocidental atravs do sistema heliocntrico. Quando afirmou que a Terra se move em torno do Sol, em 1543, o cientista no apenas divulgou um novo postulado cientfico. O que Coprnico provocou foi uma revoluo no pensamento ocidental, ao tirar pela primeira vez o homem do centro do Universo. At ento, a teoria geocntrica de Ptolomeu, em que tudo gira em volta da terra, era a verdade que guiava a filosofia, a cincia e a religio. Fonte: Enciclopedia Italiana di Scienze, Lettere ed Arti (Treccani) - http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u202.jhtm (visitado em 23 de abril de 2009). 32 Galileu Galilei (1564-1642) - Responsvel por uma revoluo na fsica e na astronomia. Dentre as vrias contribuies cincia destacam-se: o binculo, a balana hidrosttica, o compasso geomtrico, uma rgua calculadora e o termobaroscpio. Em 1609, construiu um telescpio muito melhor que os existentes na poca. A partir de suas descobertas astronmicas, defendeu a tese de Coprnico de que a Terra no ficava no centro do Universo. Fonte: Enciclopedia Italiana di Scienze, Lettere ed Arti (Treccani) - http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u202.jhtm (visitado em 23 de abril de 2009). 33 Isaac Newton (1642-1727) Lanou as bases da cincia moderna travs de Princpios Matemticos da Cincia Natural. Ao observar uma ma caindo de uma rvore, ele comeou a pensar que a fora que havia puxado a fruta para a terra seria a mesma que impedia a Lua de escapar de sua rbita. Descobriu a lei da gravitao universal. Foi a primeira vez que uma lei fsica foi aplicada tanto a objetos terrestres quanto a corpos celestes. Ao firmar esse princpio, Newton eliminou a dependncia da ao divina e influenciou profundamente o pensamento filosfico do sculo 18, dando incio cincia moderna. http://educacao.uol.com.br/biografias/ ult1789u549.jhtm (visitado em 23 de abril de 2009). 34 SOMMERMAN. Op cit. p. 09.

  • 34

    primeiro caldo de cultura da cincia que se destacou como um ramo da filosofia mas que, mesmo assim, obedece a essa tradio crtica que marcou a histria ocidental e que hoje em dia se universaliza atravs da difuso da cincia no mundo.35

    Outro fator a se destacar que juntamente com estas rupturas

    epistemolgicas (tradio, religio, filosofia e cincia) acontecer uma

    mudana na resposta relativa a qual o conhecimento verdadeiro. A partir de

    ento, o conhecimento nascido da cincia passou a ser o detentor da verdade.

    Edgar Morin ao abordar o tema sobre a verdade da cincia, dir:

    Mas vamos questo da verdade cientfica, que foi central e continua a ser atualmente -, porque, durante muito tempo e ainda hoje, para muitos espritos, nossa concepo de cincia identificava-se com a verdade. A cincia parecia, finalmente, o nico lugar de certeza, de verdade certa, em relao ao mundo dos mitos, das idias filosficas, das crenas religiosas, das opinies. A verdade da cincia parecia indubitvel, visto que se baseava em verificaes, em confirmaes, numa multiplicao de observaes, que confirmavam sempre os mesmos dados. Nessa base, constituindo uma teoria cientfica uma construo lgica, e a coerncia lgica parecendo refletir a prpria coerncia do universo, a cincia no podia deixar de ser verdade.36

    Por mais que a cincia tenha auxiliado na compreenso de muitas reas

    da vida humana, ela no pode ser considerada a nica e a verdadeira forma de

    conhecimento. No pelo fato de trazer em si a prova emprica (dados

    verificados por diferentes observaes-experimentaes), bem como, a prova

    lgica (coerncia terica) que ela poder se considerar detentora da nica

    verdade. Para Morin,

    O saber cientfico ... no s provisrio, mas tambm desemboca em profundos mistrios referentes ao Universo, Vida, ao nascimento dos ser humano. Aqui se abre um indecidvel, no qual intervm opes filosficas e crenas religiosas atravs de culturas e civilizaes.37

    Outro esclarecimento importante a se fazer que dentro do prprio

    campo epistemolgico da cincia nos deparamos com vrias abordagens de

    35 MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 41 36 Ibid., p. 147-148 37 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessrios educao do futuro. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2000. p. 13

  • 35

    um mesmo objeto de estudo. Um exemplo so as diversas formas de se

    abordar a cincia do envelhecimento. Segundo Papalo:

    A cincia do envelhecimento tem a responsabilidade de ser o centro do qual emanam suas ramificaes gerontologia social, gerontologia biomdica e geriatria que, em conjunto, atuam sobre os mltiplos aspectos do fenmeno do envelhecimento e suas conseqncias. 38

    A gerontologia social aborda os aspectos no orgnicos, enquanto a

    gerontologia biomdica e a geriatria abordam os aspectos orgnicos. Os

    estudos da gerontologia social partem de pressupostos antropolgicos,

    psicolgicos, legais, sociais, ambientais, econmicos, ticos e polticos de

    sade. A geriatria, cujo objetivo principal curativo e preventivo, parte de

    pressupostos estreitamente ligados a disciplinas mdicas, tais como:

    neurologia, cardiologia, psiquiatria, pneumologia e outras. Isto levou a uma

    especializao dos conhecimentos: neurogeriatria, psicogeriatria,

    cardiogeriatria e neuropsicogeriatria, entre outras. J a gerontologia mdica

    tem como objetivo principal estudar os fenmenos do envelhecimento, partindo

    dos pressupostos da cincia mdica, porm focalizando na questo molecular

    e celular. 39

    Num pas como o Brasil que experimenta os desafios decorrentes do

    crescimento da populao idosa40, mas que ao mesmo tempo vivencia o

    avano e a consolidao da gerontologia e da geriatria como cincia e

    profisso, faz-se necessrio uma reflexo sobre as origens e o impacto do

    modelo biomdico sobre o estudo da velhice. Seguindo a mesma linha de

    raciocnio que Morin, Nri afirmar:

    O sculo XX assistiu consolidao do poder da medicina como campo profissional, como disciplina e como viso de

    38 PAPALO, Matheus. O estudo da velhice: Histrico, Definio de Campo e Termos Bsicos. In: FREITAS, Elizabete Viana... [at al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 7-8. 39 PAPALO, Matheus. O estudo da velhice: Histrico, Definio de Campo e Termos Bsicos. In: FREITAS, Elizabete Viana... et al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 8-9. 40 Na segunda parte deste captulo sero apresentados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) que comprovam o crescimento da populao idosa no territrio brasileiro. Na terceira parte ser apresentada a agenda das polticas pblicas, internacional e nacional, demonstrando os desafios apresentados pelo fenmeno do envelhecimento populacional brasileiro.

  • 36

    mundo. Em grande parte, esse poder deriva da associao que a medicina estabeleceu com a cincia, associao essa que legitima suas concepes e aes, bem como avaliza a sua influncia sobre a vida social. A ampla difuso do modelo biomdico sobre o envelhecimento afetou os rumos da pesquisa e da interveno com idosos, assim como influenciou atitudes, prticas e polticas sociais em relao velhice.41

    Os gerontlogos sociais rejeitaram o modelo biomdico42 de anlise da

    velhice, por entenderem ser este prejudicial para os idosos. Segundo eles a

    associao entre velhice e doena expe os mais velhos a preconceitos e a

    prticas discriminatrias diante de profissionais, de instituies e at mesmo de

    pessoas leigas no assunto.

    Ao abordar o conceito de biomedicalizao, Born afirmar: ... tem a ver

    com o imenso poder da biomedicina como disciplina e viso de mundo, sua

    capacidade para exercer influncia institucional, cientfica e social.43

    Neri apresenta alguns equvocos frutos do conceito de velhice e

    envelhecimento elaborado a partir do modelo biomdico.

    ... As principais distores cognitivas, para mim, so as seguintes: 1. supergeneralizao: a crena em que todos os idosos so doentes ou que a velhice uma doena; 2. supersimplificao: crena em que o envelhecimento um processo unitrio, que ocorre da mesma forma em todas as pessoas e com os mesmos resultados; 3. reducionismo: a crena em que o modelo biomdico d conta de explicar completa e satisfatoriamente o envelhecimento; 4. iluso pseudocientfica: crena em que todas as descobertas mdicas e tecnolgicas associadas ao prolongamento da vida apresentadas populao, com a chancela de laboratrio, tm base cientfica; 5. iluso sobre a imediaticidade da aplicao da pesquisa bsica: crena em que os produtos da pesquisa e da tecnologia que ajudam o enfrentamento dos males associados

    41 NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 11. 42 A expresso biomedicalizao do envelhecimento surgiu como uma reao dos gerontlogos sociais ao que julgavam ser uma exagerada e indevida ampliao do poder da medicina, tanto para explicar a velhice e o envelhecimento como para propor solues quer no mbito da pesquisa, quer no da interveno em sade e nas polticas sociais. Ibid. p. 12. 43 BORN, Tomiko. A Biomedicalizao da velhice: Implicaes socioculturais. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 22.

  • 37

    ao envelhecimento esto imediatamente ao alcance da mo de todas pessoas.44

    A construo social da velhice a partir dos conceitos apresentados pela

    biomedicalizao acaba por focalizar no idoso as doenas e suas limitaes

    fsico-qumicas. O modelo mdico, ao associar doenas velhice, leva a

    sociedade a manter imagens desta faixa etria como patologia ou

    anormalidade45.

    Ainda que a medicina tenha fornecido uma grande contribuio para o

    conhecimento e o tratamento da velhice, por si s, sem levar em conta outras

    reas do saber (outros pressupostos epistemolgicos), ela acaba por prejudicar

    a construo do conhecimento. necessria a busca de uma compreenso da

    velhice e do processo do envelhecimento que leve em conta a

    multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade. Faz-se necessrio vencer a

    barreira conceitual da biomedicalizao para se entender a velhice e o

    processo de envelhecimento. importante que se invista na formao de

    novas mentalidades com viso mais ampla e clara sobre as vrias facetas do

    envelhecimento para combater os preconceitos sociais, profissionais e

    cientficos em relao velhice.46

    Neri apresenta dez manifestaes de preconceito a serem evitadas por

    mdicos e no-mdicos no campo da gerontologia, em favor do progresso da

    rea e do bem-estar dos idosos:

    1) a associao incondicional entre velhice e doena e a conseqente legitimao da medicina como campo preferencial de pesquisa e de atuao em favor dos idosos;

    44 NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 13-14. 45 Estudos sistemticos, assim como observaes colhidas em grupo de idosos ou entre famlias revelam que a tendncia biomedicalizao da velhice atinge o pblico leigo em geral e o prprio grupo de idosos. Piadas correntes, assim como observaes sobre e dos prprios idosos costumam estar carregadas de imagens negativas da velhice, associadas a enfermidade e ao declnio fsico e mental irreversvel, perda da autonomia e ao aumento da dependncia. O prprio idoso, ao internalizar as imagens negativas da velhice pode tornar-se dependente e doente ou simplesmente assumir posturas ou desenvolver comportamentos considerados caractersticos de idosos. Ibid. p. 25. 46 MEDEIROS, S.L. Comentrios Finais. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 34

  • 38

    2) para efeito de pesquisa e da interveno, considerar pessoas de mais de sessenta anos como um grupo homogneo. Na verdade, a velhice comporta considervel variabilidade interindividual e abrange um perodo que pode ser muito longo, no decorrer do qual as limitaes e a fragilidade tendem a aumentar, o que faz dos velhos-jovens um grupo muito diferente dos velhos-velhos;

    3) a disseminao da idia segundo o qual existem poucos recursos pessoais e pouca variabilidade na velhice, contrariando dados de pesquisas multidisciplinares;

    4) a divulgao da noo de que a adoo de medidas individuais, tais como controle de dieta, cuidados com a sade, estilo de vida ativo e envolvimento social garantia de velhice bem-sucedida, mas sem a correta divulgao de que o efeito dessas variveis moderado por fatores intrnsecos, situacionais ou de histria de vida;

    5) o fortalecimento do mito de que a medicina antienvelhecimento uma conquista ao alcance imediato das mos da maioria dos idosos, que tero a sua vida positivamente afetada pela adoo de medidas dessa natureza;

    6) a insistncia na crena de que a boa longevidade uma conquista pessoal e que, assim, envelhecer bem ou mal uma questo de responsabilidade pessoal;

    7) apontar o aumento do nmero de idosos na populao e a expanso da longevidade como geradoras de nus social e familiar que tender a recair sobre os mais jovens;

    8) a apresentao da longevidade como um risco iminente sade econmica das famlias e da sociedade;

    9) considerar a pesquisa comportamental e a social como empreendimentos de segunda linha, que pouco ou nada agregam ao conhecimento j existente;

    10) apontar a pesquisa biomdica como a nica legtima em termos dos parmetros da cincia.47

    A educao tem um papel fundamental no processo de mudana de

    mentalidade. Ainda que venha a demorar ela pode ser um instrumento

    poderoso na ampliao das formas de conhecimento, bem como na

    47NERI, A. L. Biomedicalizao da velhice: distores cognitivas relacionadas ao uso de modelo biomdico na pesquisa gerontolgica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.) Sade e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alnea, 2004. p. 20-21

  • 39

    modificao das distores cognitivas associadas ao modelo biomdico em

    relao velhice e o envelhecimento.

    1.3. O envelhecimento populacional brasileiro uma anlise

    demogrfica.

    A busca pela longevidade tem feito parte dos sonhos da populao

    mundial ao longo da Histria. Analisando o sculo XX, principalmente as cinco

    ltimas dcadas, possvel verificar que avanos sociais e cientficos

    contriburam para que este sonho se aproximasse da realidade. O

    envelhecimento populacional, portanto, se tornou um fenmeno mundial.

    Andrews afirma:

    O crescimento da populao de idosos, em nmeros absolutos e relativos, um fenmeno mundial e est ocorrendo a um nvel sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhes de idosos no mundo e, j em 1998, quase cinco dcadas depois, este contingente alcanava 579 milhes de pessoas, um crescimento de quase 8 milhes de pessoas idosas por ano. As projees indicam que, em 2050, a populao idosa ser de 1 900 milho de pessoas, montante equivalente populao infantil de 0 a 14 anos de idade48

    Verifica-se atravs de dados estatsticos que nas ltimas dcadas houve

    um crescimento da populao idosa de forma mais acentuada nos pases em

    desenvolvimento, porm este nmero ainda proporcionalmente inferior ao

    dos pases desenvolvidos49. Na Tabela 1 possvel perceber que o Brasil

    assume uma posio intermediria no conjunto de pases da Amrica Latina,

    com 8,6% de idosos em relao populao total. Nota-se tambm uma

    grande diversidade na proporo de idosos neste conjunto de pases, variando

    de 6,4% na Venezuela at 17,1% no Uruguai. Quanto aos pases europeus

    constatam-se propores mais elevadas de idosos, chegando a um contingente

    de 1/5 da populao.

    48 IBGE 2000. Perfil dos Idosos apud: ANDREWS, Garry A. Los desafos del proceso de envejecimiento en las sociedades de hoy y del futuro. In: Encuentro Latinoamericano y caribeno sobre las personas de edad, 1999, Santiago. Anais... Santiago: CELADE, 2000. p. 247. 49 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Perfil dos idosos responsveis pelos domiclios no Brasil 2000 Estudos & Pesquisas, informao demogrfica e socioeconmica (no 9). Rio de Janeiro: IBGE, 2002. p. 12.

  • 40

    O Brasil, como pas em desenvolvimento, no foge regra, est

    envelhecendo rapidamente. Se em 1940 tinha 42% de sua populao com

    idade inferior a 15 anos, no ano 2000 chegou a uma porcentagem de 29,6%, e

    segundo dados do IBGE e projees da Organizao Mundial da Sade,

    chegar em 2020 a uma proporo de apenas 24,3%. Em contrapartida, a

    populao de 60 anos ou mais passou de 4,1%, em 1940, para 8,6% em 2000,

    projetando-se para 2020, uma proporo de 12%. Confira tabela 2.

    Tabela 01 - Populao, total e de 60 anos ou mais de idade e proporo de idosos, segundo continentes e pases - 1990/1999

    Continentes

    e Pases Populao

    total Populao

    60 anos ou mais Proporo

    de idosos (%)

    sia China 1.242.799.000 133.954.000 10,8 Japo 126.486.000 28.222.000 22,3 Europa

    Alemanha 82.057.379 17.927.000 21,8 Frana 57 526 521 11.305.622 19,7 Itlia 57.563.354 13.299.830 23,1 Reino Unido 59.008.634 12.051.946 20,4 Amrica do Norte Canad 30.301.185 4.950.593 16,3 Estados Unidos 280.298.524 44.670.193 15,9 Amrica Latina Argentina 34.768.457 4.584.300 13,2

    Brasil 169.799.170 14.536.029 8,6

    Chile 15.017.760 1.513.486 10,1 Colmbia 41.589.017 2.813.328 6,8 Cuba 11.065.878 1.439.245 13,0 Equador 11.936.858 792.982 6,6 Mxico 91.158.290 5.969.643 6,5 Peru 24.800.768 1.737.326 7,0 Uruguai 3.313.239 567.565 17,1 Venezuela 23.242.435 1.483.817 6,4

    Fontes: Demographic yearbook 1999. New York: United Nations, 1999; IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Tabela 02 - Distribuio percentual da populao, por grupos de idade - 1940-2000

    Grandes Regies

    Distribuio percentual da populao, por grupos de idade (%)

    0 a 14 anos 15 a 59 anos 60 anos ou mais 1940 2000 1940 2000 1940 2000

    Brasil 42,9 29,6 53,0 61,8 4,1 8,6

    Norte 42,3 37,2 54,3 57,3 3,4 5,5

    Nordeste 42,3 33,0 52,4 58,6 4,3 8,4

    Sudeste 42,4 26,7 53,6 64,0 4,0 9,3 Sul 43,8 27,5 52,2 63,3 4,0 9,2

    Centro-oeste 44,5 29,9 52,5 63,5 3,0 6,6 Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 1940/2000.

  • 41

    Analisando seus quatro ltimos censos demogrficos (1970, 1980, 1991

    e 2000) possvel perceber que o crescimento da populao idosa tem se

    acelerado. De 5,07% da populao geral em 1970, passou para 6,07% em

    1980, depois para 7,30 em 1990, chegando a 8,56% em 2000. Verifica-se um

    crescimento real de 3,49% desta faixa etria em relao populao geral.

    (confira a tabela 03)

    Tabela 03 - Brasil: distribuio proporcional (%) da populao, segundo grandes grupos etrios 1970, 1980, 1991 e 2000.

    Grupos etrios

    Anos Ano do recenseamento

    1970 1980 1991 2000 0-14 42,10 38,24 34,73 29,60 15-59 52,83 55,69 57,97 61,84 60 e + 5,07 6,07 7,30 8,56 Total 100,00 100,00 100,00 100,00

    Fontes: IBGE Censo demogrfico 1970, 1980, 1991 e 2000

    Grfico 01 Grfico 02

    Grfico 03 Grfico 04

    Dirigindo o olhar para os dois ltimos censos demogrficos, verifica-se

    que em dados absolutos, a populao de 60 anos ou mais de idade, era

    10.722.705 em 1991 chegando a 14.536.029 em 2000. Deste montante,

    4.931.425 homens e 5.791.280 mulheres em 1991 e 6.533.784 homens e

  • 42

    8.002.245 em 2000. Ou seja, o nmero de idosos aumentou em quase 4

    milhes de pessoas numa s dcada, sendo que a porcentagem de mulheres

    maior que a de homens. Este fenmeno denominado de Feminizao da

    Velhice.50 (Confira as tabelas abaixo)

    Tabela 04 - Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000

    Grandes Regies e

    Unidades da Federao

    Populao residente

    total

    Populao residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo

    Total Grupos de idade (%)

    Absoluto Relativo 60 a 64 65 a 69

    70 a 74

    75 ou mais

    Brasil - 1991 146.825.475 10.722.705 7,3 2,5 1,9 1,3 1,6

    Brasil - 2000 169.799.170 14.536.029 8,6 2,7 2,1 1,6 2,1 Fontes: IBGE Censo demogrfico 1991 e 2000

    Tabela 05 - Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo masculino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000

    Grandes Regies e

    Unidades da Federao

    Populao residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo

    Homem Grupos de idade (%)

    60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 ou mais

    Brasil - 1991 4 931 425 1 715 601 1 308 343 872 424 1 035 057

    Brasil - 2000 6 533 784 2 153 209 1 639 325 1 229 329 1 511 921 Fontes: IBGE Censo demogrfico 1991 e 2000

    Tabela 06 - Populao residente, total e de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade, do sexo feminino, segundo as Grandes Regies e Unidades da Federao - 1991/2000

    Grandes Regies e

    Unidades da Federao

    Populao residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo

    Mulher Grupos de idade (%)

    60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 ou mais

    Brasil - 1991 5 791 280 1 921 257 1 467 717 1 017 494 1 384 812

    Brasil - 2000 8 002 245 2 447 720 1 941 781 1 512 973 2 099 771 Fontes: IBGE Censo demogrfico 1991 e 2000

    50 Para uma melhor compreenso do tema Feminizao da Velhice consultar: CAMARANO, Ana Amlia [et al.] . Como vive o idoso brasileiro?. In: CAMARANO, A A (org). Os novos idosos brasileiros muito alm dos 60?, Rio de Janeiro, IPEA, 2004; ou BERQU, Consideraes sobre o envelhecimento da populao no Brasil. In: NERI, A. L. e DEBERT, G. G. Velhice e Sociedade. Campinas: Papirus, 1999.

  • 43

    Constata-se que o ritmo do crescimento da populao idosa mais

    acelerado que de outras faixas etrias. Esta alterao demogrfica deve-se ao

    progressivo declnio nas taxas de fecundidade e de mortalidade Nas palavras

    de Camarano,

    O crescimento relativamente mais elevado do contingente idoso resultado de suas mais altas taxas de crescimento, em face da alta fecundidade prevalecente no passado comparativamente atual e reduo da mortalidade. Enquanto o envelhecimento populacional significa mudanas na estrutura etria, a queda da mortalidade um processo que se inicia no momento do nascimento e altera a vida do indivduo, as estruturas familiares e a sociedade.51

    Relativamente diminuio da taxa de fecundidade, pode-se apresentar

    entre outros motivos, a ao pedaggica por parte da sociedade e do governo

    na busca de auxiliar o planejamento familiar e o avano da medicina com a

    descoberta de vrios mtodos contraceptivos, permitindo ao casal uma relao

    sexual com baixo risco de gravidez.52. Ramos tambm apresentar alguns

    motivos:

    As razes para a mudana do padro reprodutivo no Brasil so vrias. De um lado, fruto do processo de urbanizao da populao brasileira, temos uma necessidade crescente de limitao da famlia ditada pelo "modus vivendi" dos grandes centros urbanos (principalmente em um contexto de crise econmica), caracterizado entre outras coisas por uma progressiva incorporao da mulher fora de trabalho. 53

    Kalache explica de forma sucinta a dinmica do fenmeno do

    envelhecimento da populao, a partir da diminuio nas taxas de fecundidade

    e mortalidade:

    Em grande parte, o aumento atual do nmero de pessoas idosas em pases menos desenvolvidos decorrente do alto nmero de nascimentos durante as primeiras dcadas deste sculo, associado a um progressivo decrscimo nas taxas de

    51 CAMARANO, Ana Amlia. Envelhecimento da Populao Brasileira: Uma Contribuio Demogrfica. In: Freitas, Elizabete Viana... [at al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 88. 52 Diante desta afirmao deve se ressaltar, que nem toda a populao brasileira tem acesso ao processo pedaggico de planejamento familiar, bem como, ao conhecimento dos mais variados mtodos contraceptivos. Outro ponto a se destacar que pelo fato de estar esclarecida, no significa que tenha condies econmicas para implementar estes mtodos. 53 RAMOS, L.R. et al. Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Rev. Sade pbl., S. Paulo, 21: p. 213, 1987

  • 44

    mortalidades. Da mesma forma, o envelhecimento da populao de pases europeus das ltimas dcadas se deve a taxas de natalidade relativamente altas no primeiro quarto do sculo associadas a taxas decrescentes de mortalidades em todos os grupos etrios. Em seguida as taxas de natalidade decaram, fazendo com que a proporo de adultos progressivamente aumentasse. O processo portanto dinmico; para que uma populao envelhea necessrio primeiro que nasam muitas crianas, segundo que as mesmas sobrevivam at idades avanadas e que, simultaneamente, o nmero de nascimentos diminua. Com isso a entrada de jovens na populao decresce, e a proporo daqueles que sobreviveram at idades mais avanadas passa a crescer. As taxas de fertilidade da maioria dos pases esto em declnio. No entanto, mesmo um rpido declnio nas mesmas, como por exemplo o que atualmente se verifica no Brasil (decrscimo de mais de um tero entre 1970 e 1980 e ainda mais acentuado desde ento Ramos e col.18 1987), no se traduz necessariamente em imediato envelhecimento da populao em termos relativos. Ainda que a vida mdia do brasileiro tenha aumentado muito nesse final de sculo, as altas taxas de fertilidade do passado prximo ainda se refletiro nas pirmides populacionais das prximas dcadas. Isso se deve ao efeito tardio do alto nmero de nascimentos h 40, 30 ou 20 anos uma populao jovem numerosa, que sobreviveu at a idade reprodutiva. Mesmo que eles tenham poucos filhos, o efeito multiplicador ainda manifestado por algum tempo.54

    Com relao diminuio da taxa de mortalidade pode-se apresentar o

    avano da medicina e da tecnologia como as grandes responsveis. Este

    avano tem permitido um prolongamento da vida, elevando assim o ndice de

    expectativa de vida do brasileiro. Este ndice elevou-se de 34 anos, em 1900,

    para 68,6 anos, em 2000, e estima-se que ser de 72 anos, em 2020. Confira

    tabela 07.

    Ao analisar, especificamente, os dois ltimos Censos Demogrficos

    (1991-2000) verifica-se que a expectativa de vida subiu em 2 anos e seis

    meses, passando de 66 anos, em 1991, para 68 anos e 6 meses em 2000.

    Durante esta dcada (1991/2000), os homens tiveram um ganho de 27 meses

    e 12 dias de vida, as mulheres aumentaram sua expectativa em 34 meses e 8

    dias (Confira tabela abaixo). Nota-se que as mulheres so mais longevas que

    os homens. Em 1991, elas possuam uma vida mdia ao nascer 7,2 anos

    superior dos homens, j em 2000 esse diferencial passou para 7,8 anos.

    Para Mota a disparidade desses nmeros resulta do fato de que as mortes 54 KALACHE, A. et al. O envelhecimento da populao mundial. Um desafio novo. Rev. Sade pbl., S. Paulo, 21:200-10, 1987p. 204-205.

  • 45

    decorrentes de homicdios e acidentes, em especial na faixa de 15 a 35 anos

    de idade, so maiores entre homens do que entre as mulheres55. Confira tabela

    08.

    Tabela 07 - Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1991 - 2000

    Anos de Referncia Ambos os sexos

    1900 34,0 1950 43,3

    1991 66,0

    1998 68,1

    1999 68,4

    2000 68,6 2020 72,0

    Fontes: IBGE Censo demogrfico 1900,1950, 1991 e 2000

    Tabela 08 - Brasil - Expectativa de vida ao nascer e ganhos no perodo - 1991 - 2000

    Anos de

    Referncia Ambos os

    sexos Homens Mulheres

    1991 66,0 62,6 69.8 1998 68,1 64,4 72,0 1999 68,4 64,6 72,3 2000 68,6 64,8 72,6 Ganhos na Expectativa de vida ao nascer - 1991-2000 Em anos 2,59 2,26 2,84 Em meses 31,08 27,12 34,08

    Fontes: IBGE Censo demogrfico 1900,1950, 1991 e 2000

    55 MOTA, Maria Luiza dos Santos. A Terceira Idade e seus direitos. So Paulo: Seprosp, Fesesp, CNS, 2005. p. 06

  • 46

    Observa-se atualmente que a taxa de mortalidade dos idosos a que

    tem experimentado a maior queda, o que tem levado ao aumento da populao

    idosa.56. Segundo Camarano, a populao mais idosa, ou seja, as pessoas

    com idade acima de 80 anos a que tem apresentado a maior taxa de

    crescimento. Isso aponta para a heterogeneidade do grupo idoso, encontrando-

    se pessoas com diferena de idade que chegam a trs dcadas.

    Com a finalidade de atualizar alguns dados do ltimo censo demogrfico

    efetuado no ano de 2000, estabeleceu-se uma tabela baseada na Contagem

    Populacional57 realizada em 2007 (confira tabela 09). Atravs dela possvel

    verificar um crescimento estimado de 14.188.121 pessoas nestes sete anos.

    Proporcionalmente, o grupo de idosos tambm cresceu, porm, no se tem

    nmeros precisos. O que se pode afirmar que pelas projees, os nmeros

    de idosos continuaro a crescer nas prximas dcadas.

    Ainda que a diminuio das taxas de fecundidade e de mortalidade,

    tenha sido resultado de polticas e incentivos promovidos pela sociedade e pelo

    estado, visando responder s necessidades de uma poca58, ela levou a um

    envelhecimento progressivo da populao brasileira. Este envelhecimento

    populacional tem gerado novos desafios, e conseqentemente, a necessidade

    de novas polticas pblicas.

    56 CAMARANO, Ana Amlia. Envelhecimento da Populao Brasileira: Uma Contribuio Demogrfica. In: Freitas, Elizabete Viana... [at al.] Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 88. 57 Para compreender a forma como o Brasil realiza seu censo demogrfico, bem como entender o que seja Contagem Populacional, confira a introduo do documento: Contagem Populacional 2007 do IBGE em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/default.shtm. 58 Na dcada de sessenta o crescimento populacional mundial alcanou seu nvel mximo, sendo considerado o mais alto de toda a histria da humanidade. Diante disso, a Organizao mundial da sade (ONU) realizou algumas conferncias para refletir sobre o tema, intituladas: Conferncia mundial sobre populao. A 1 Conferncia aconteceu em Bucareste (Romnia) no ano de 1974, tendo como eixo central criar mecanismos que pudessem conter o crescimento demogrfico que estava em ritmo acelerado. A 2 Conferncia aconteceu na cidade do Mxico em 1984 e tambm trouxe temas relativos preocupao com o crescimento populacional: fecundidade e famlia, distribuio das populaes, migraes e desenvolvimento, mortalidade e polticas de sade. A 3 Conferncia ocorreu em 1994, na cidade do Cairo (Egito), quando diante das aes tomadas nos anos anteriores, os participantes reviram suas polticas e propostas. Em alguns pases foram implantadas medidas de esterilizao e abortos forados com o objetivo de conter o crescimento demogrfico. Nesta ltima, tratou-se do tema natalidade como uma responsabilidade da famlia, levando-se em conta que a prpria famlia quem se planeja (planejamento familiar).

  • 47

    . Tabela 09 - Populao residente, por situao do domiclio e sexo, segundo as Grandes Regies e as Unidades da

    Federao - Brasil - Grandes Regies comparativo 2001 com 2007

    C enso 2001 Contagem da Populao 2007

    Total Homens Mulheres Total Estimado

    Total recenseado

    Homens Mulheres

    Brasil 169 799 170 83 576 015 86 223 155 183 987 291 108 765 413

    Norte 12 900 704 6 533 555 6 367 149 14 623 316 12 259 438

    Rondnia 1.379.787 708.140 671.647 1 453 756 1 453 756 733 811 709 923

    Acre 557.526 280.983 276.543 655 385 655 385 329 001 323 752

    Amazonas 2.812.557 1.414.367 1.398.190 3 221 939 3 221 939 1 592 067 1 565 850

    Roraima 324.397 166.037 158.360 395 725 395 725 195 275 189 046

    Par 6.192.307 3.132.768 3.059.539 7 065 573 4 701 695 2 405 662 2 241 306

    Amap 477.032 239.453 237.579 587 311 587 311 292 024 290 337

    Tocantins (2) 1.157.098 591.807 565.291 1 243 627 1 243 627 626 434 602 339

    Nordeste 47 741 711 23 413 914 24 327 797 51 534 406 40 060 034

    Maranho 5.651.475 2.812.681 2.838.794 6 118 995 6 118 995 3 021 226 3 052 375

    Piau 2.843.278 1.398.290 1.444.988 3 032 421 3 032 421 1 481 576 1 529 053

    Cear 7.430.661 3.628.474 3.802.187 8 185 286 4 820 630 2 398 046 2 404 540

    Rio Grande do Norte 2.776.782 1.359.953 1.416.829 3 013 740 3 013 740 1 457 143 1 517 826

    Paraba 3.443.825 1.671.978 1.771.847 3 641 395 3 641 395 1 754 525 1 855 119

    Pernambuco 7.918.344 3.826.657 4.091.687 8 485 386 5 030 277 2 452 542 2 546 413

    Alagoas (2) 2.822.621 1.378.942 1.443.679 3 037 103 3 037 103 1 472 429 1 545 366

    Sergipe 1.784.475 874.906 909.569 1 939 426 1 939 426 936 306 981 208

    Bahia (2) 13.070.250 6.462.033 6.608.217 14 080 654 9 426 047 4 708 275 4 671 364

    Sudeste 72 412 411 35 426 091 36 986 320 77 873 120 31 077 361

    Minas Gerais 17.891.494 8.851.587 9.039.907 19 273 506 12 597 121 6 265 664 6 269 402

    Esprito Santo 3.097.232 1.534.806 1.562.426 3 351 669 1 702 365 847 307 840 237

    Rio de Janeiro 14.391.282 6.900.335 7.490.947 15 420 375 3 302 474 1 610 466 1 666 529

    So Paulo (2) 37.032.403 18.139.363 18.893.040 39 827 570 13 475 401 6 681 557 6 693 364

    Sul 25 107 616 12 401 450 12 706 166 26 733 595 16 842 791

    Paran (2) 9.563.458 4.737.420 4.826.038 10 284 503 6 262 285 3 107 256 3 122 367

    Santa Catarina 5.356.360 2.669.311 2.687.049 5 866 252 4 307 161 2 142 129 2 143 822

    Rio Grande do Sul 10.187.798 4.994.719 5.193.079 10 582 840 6 273 345 3 095 615 3 150 909

    Centro-Oeste 11 636 728 5 801 005 5 835 723 13 222 854 8 525 413

    Mato Grosso do Sul 2.078.001 1.040.024 1.037.977 2 265 274 2 265 274 1 122 705 1 129 179

    Mato Grosso 2.504.353 1.287.187 1.217.166 2 854 642 2 854 642 1 452 153 1 377 327

    Gois 5.003.228 2.492.438 2.510.790 5 647 035 3 405 497 1 702 655 1 667 722

    Distrito Federal (3) 2.051.146 981.356 1.069.790 2 455 903

    Fontes: IBGE Censo demogrfico 2001 e Contagem Populacional 2007

  • 48

    1.4. O envelhecimento populacional na agenda das polticas pblicas

    Diante dos muitos desafios provenientes do fenmeno do

    envelhecimento populacional, a Organizao das Naes Unidas (ONU), bem

    como diversos pases do m