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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LABORATÓRIO DE FISIOLOGIA TRANSLACIONAL
EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE CÉLULAS
TRONCO HEMATOPOIÉTICAS DE CAMUNDONGOS HIPERTENSOS
THAÍS DE ANDRADE JACINTO
Vitória - ES
2016
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THAÍS DE ANDRADE JACINTO
EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE CÉLULAS-
TRONCO HEMATOPOIÉTICAS DE CAMUNDONGOS HIPERTENSOS
Vitória-ES
2016
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Fisiológicas da Universidade Federal do
Espirito Santo como requisito para a obtenção
do Título de Mestre em Ciências Fisiológicas.
Orientadora: Profª Dra Silvana dos Santos
Meyrelles
Co-orientadora: Profª Dra Bianca Prandi
Campagnaro
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THAÍS DE ANDRADE JACINTO
EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE CÉLULAS-
TRONCO HEMATOPOIÉTICAS DE CAMUNDONGOS HIPERTENSOS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da
Universidade Federal do Espirito Santo como requisito para a obtenção do Título de Mestre em
Ciências Fisiológicas.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof.ª. Dra. Silvana dos Santos Meyrelles
Orientadora
Prof.ª. Dra. Bianca Prandi Campagnaro
Co-Orientadora
Prof.ª. Dra. Fabiana D M Siman Meira
Examinador Interno
Prof. Dr. Marcelo Perim Baldo
Examinador Externo
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Dedico aos meus pais, André e Zilda, e a minha irmã Julia por sempre
me apoiarem e me darem um amor imensurável.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por sempre me abençoar, me iluminar
em todos os meus caminhos e escolhas e me trazer paz nos momentos
mais difíceis e alegres que passei.
A minha família, por sempre estar ao meu lado, por sempre sorrir e chorar
comigo, por sempre me motivar e acima de tudo por serem a base da
minha vida.
A Prof.ª Silvana e Prof.ª Bianca, as duas orientadoras fantásticas que tive
o prazer em ter, por me acolherem e me darem a oportunidade de
conhecer esse mundo incrível da ciência, por toda aprendizagem e
conhecimento transmitido, pelos puxões de orelhas, pelos conselhos e
dicas. E principalmente, por confiarem em mim. Serei eternamente grata.
Ao Prof. Vasquez, por permitir a minha presença em seu laboratório. É
muito gratificante conhecer e ficar perto de um grande mestre da ciência.
Aos meus grandes amigos e colegas do LFT: Jamila, Brunella, Gisele,
Rossana, Brenna, Lais, Victor, Vinicios, João Victor, Marcos e Franciane.
Obrigada por me aturarem durante todo esse tempo.
Muito Obrigada!
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“Todo grande progresso da ciência resultou de uma nova audácia da
imaginação” (John Dewey)
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................17
1.1 Hipertensão.............................................................................................17
1.1.1. Epidemiologia......................................................................................17
1.1.2. Hipertensão Renovascular.................................................................17
1.2 Estresse Oxidativo..................................................................................18
1.3 Células-tronco hematopoiéticas............................................................19
1.4 Ciclo Celular.............................................................................................20
1.5 Sildenafil...................................................................................................21
2. JUSTIFICATIVA..............................................................................................23
3. OBJETIVOS......................................................................................................25
3.1 Objetivo Geral.....................................................................................................25
3.2 Objetivo Especifico..................................................................................25
4. METODOLOGIA...............................................................................................27
4.1 Animais Experimentais...........................................................................27
4.2 Grupos Experimentais............................................................................27
4.3 Indução da Hipertensão Renovascular 2R1C.......................................28
4.4 Tratamento dos Animais.........................................................................28
4.5 Medidas Hemodinâmicas........................................................................29
4.6 Cateterização da artéria carótida e medida de PA...............................29
4.7 Coleta e cultura das células-tronco hematopoiéticas da medula
óssea..............................................................................................................30
4.8 Quantificação das células na câmara de neubauer.............................30
4.9 Imunofenotipagem..................................................................................31
4.10 Análise do estresse oxidativo..............................................................32
4.11 Análise do ciclo celular.........................................................................33
4.12 Análise da apoptose celular.................................................................33
8
4.13 Análise estatística.................................................................................34
5. RESULTADOS.................................................................................................36
6. DISCUSSÃO....................................................................................................47
7. CONCLUSÃO..................................................................................................53
8. REFRÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................55
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RESUMO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e mantidos de pressão arterial. Esta condição está
associada a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo, como por
exemplo, coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos; e também as alterações
metabólicas, que aumentam o risco de disfunções cardiovasculares fatais e não fatais.
O modelo clássico de hipertensão renovascular, 2 rins-1 clipe (2R1C), foi desenvolvido
por Goldblatt em 1934, onde mostrou uma elevação substancial da pressão arterial
de cães, este modelo patogênico serviu e serve como base para estudos
subsequentes de hipertensão renovascular. Nosso laboratório tem mostrado que esta
hipertensão é acompanhada de níveis elevados de estresse oxidativo, o qual é um
fenômeno complexo definido como o excesso de espécies reativas de oxigênio (ROS)
resultante do aumento de sua produção ou da diminuição de sua degradação. As ROS
desempenham papéis fisiológicos importantes uma vez que estão envolvidas em
diversas funções celulares, como defesa contra patógenos, expressão gênica,
senescência, apoptose e regulação do crescimento celular em diversos órgãos.
Torna-se importante também estudar neste modelo a funcionalidade das células
tronco, as quais possuem uma imensa responsabilidade sobre a manutenção tecidual
e na homeostase do organismo. Todo o sistema hematopoiético é gerado a partir de
células-tronco hematopoiéticas (CTHs) que possui uma grande longevidade e um
enorme potencial para auto renovação. Nossa proposta também visa investigar neste
modelo de hipertensão o efeito do sildenafil, o qual é uma droga vasoativa
amplamente utilizada no tratamento de disfunção erétil e hipertensão pulmonar. Ele é
um inibidor potente e seletivo da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5). O objetivo do presente
estudo foi avaliar o efeito do tratamento com sildenafil sobre a produção citoplasmática
de espécies reativas de oxigênio (ROS) em células-tronco hematopoiéticas de
camundongos com hipertensão renovascular. A hipertensão renovascular foi induzida
pela colocação de um clipe de aço ao redor da artéria renal esquerda de camundongos
machos (C57BL/6), pesando 23 g. Duas semanas após a indução da hipertensão, os
animais foram aleatoriamente divididos em dois grupos: tratados com sildenafil [40
mg/kg/dia (VIAGRA), Pfizer, São Paulo, Brasil], via oral (Sil, n= 10) ou veículo (2R1C,
n= 10) por 2 semanas e comparados com o grupo controle (Sham, n= 10). Ao final do
10
tratamento, os animais foram eutanasiados; rins e coração foram removidos para
determinação de seus pesos e normalizados em relação ao comprimento da tíbia. As
CTHs foram isoladas da medula óssea a partir de fêmures e tíbia. As células tronco
foram identificadas, quantificadas e análises da produção de radicais livres, apoptose
e ciclo celular realizadas. Os dados estão expressos como média ± EPM. A análise
estatística foi realizada por meio de ANOVA de uma via, seguida de post hoc de
Tukey. Nossos dados indicam que animais hipertensos tiveram um aumento da
produção de ânion superóxido e que o tratamento com sildenafil reverteu essa
produção (Sham 1531±206 vs. 2R1C 1973±337* vs. Sil 1483±192#). Os níveis de
peróxido de hidrogênio que também estavam aumentados tiveram sua produção
diminuída com o tratamento com sildenafil (Sham 3805±237 vs. 2R1C 6562±456* vs.
Sil 4447±395#&). As espécies altamente reativas de oxigênio foram diminuídas com o
tratamento (Sham 1653±303 vs. 2R1C 2529±196* vs. Sil 1611±252#). O número de
células presentes na medula óssea caiu drasticamente nos animais hipertensos, mas
essa situação foi revertida com o sildenafil (Sham 4,5x106±1,1 vs. 2R1C 2,4x106±0,7*
vs. Sil 6,3x106±1,7#). O número de CTHs que sofreram apoptose também diminuíram
com o tratamento, tendo uma melhora significativa inclusive comparado ao grupo
controle, aumentando assim o número de células viáveis (Sham 59,3%±7,8 vs. 2R1C
46,7%±6* vs. Sil 80%±4,9#&). Considerando a importância das células-tronco para a
homeostase do organismo, nossos dados nos levam a sugerir o sildenafil como uma
opção para o tratamento de CTHs prejudicadas pela hipertensão renovascular.
Palavras-chave: Hipertensão renovascular; Células-Tronco Hematopoiéticas;
Estresse Oxidativo; Apoptose; Sildenafil
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ABSTRACT
Arterial hypertension is a multifactorial clinical condition characterized by elevated and
sustained high levels of blood pressure, which is also associated with
functional/structural changes in target organs such as heart, brain, kidneys and blood
vessels and in the metabolic changes that increase risk of fatal and nonfatal
cardiovascular disorders. The classic model of renovascular hypertension, 2 Kidney-1
Clip (2K1C), was developed by Goldblatt in 1934. This model showed a substantial
increase in blood pressure of dogs and has served for subsequent studies in
renovascular hypertension. Reactive oxygen species (ROS) play important
physiological role and are involved in diverse cellular functions such as defense
against pathogens, gene expression, senescence, apoptosis, and regulation of cell
growth. Our laboratory has shown that the renovascular hypertension accounts with
the development of high levels of oxidative stress, resulting from ROS increased
production or decreased degradation. It is well known that stem cells have an important
role in tissue maintenance and homeostasis and can be affected by high levels of ROS.
The entire hematopoietic system is generated from hematopoietic stem cells (HSCs)
that has a long lifespan and a high potential for self-renewal. The focus of the present
investigation is on the Sildenafil, which is a vasoactive drug commonly used in the
treatment of erectile dysfunction and pulmonary hypertension. It is a potent and
selective inhibitor of phosphodiesterase type 5 (PDE5). The aim of this study was to
evaluate the effect of sildenafil treatment on intracytoplasmic production of ROS in
hematopoietic stem cells of mice with renovascular hypertension. Renovascular
hypertension was induced by placing a steel clip around the left renal artery of male
mice (C57BL/6) weighing between 23-23.5g. Two weeks after the induction of
hypertension, the animals were randomly divided into two groups: treated with
sildenafil (40 mg/kg/day (VIAGRA Pfizer, Sao Paulo, Brazil), orally (Sil, n=10) or
vehicle (2K1C, n=10) for 2 weeks and compared with the control group (Sham, n=10).
At the end of treatment, animals were euthanized, the kidneys and hearts were
removed and weighted for relative heart/tibia measurement. HSCs were isolated from
bone marrow from femurs and tibiae. Cells was identified, quantified and
intracytoplasmic production of free radicals, apoptosis and cycle cell were made. Data
were expressed as mean ± SEM. Statistical analysis was performed by one-way
12
ANOVA followed by Tukey post hoc test. Results showed that 2K1C animals had an
increase in superoxide anion production and the treatment with sildenafil prevented
this increase (Sham 3805±237 vs. 2R1C 6562±456* vs. Sil 4447±395#&). The high
levels of hydrogen peroxide, also decreased with treatment (Sham 3805±237 vs. 2R1C
6562±456* vs. Sil 4447±395#&). The same occurred with the highly reactive species of
oxygen that were also decreased with treatment (Sham 1653±303 vs. 2R1C
2529±196* vs. Sil 1611±252#). The number of cells present in the bone marrow has
dropped significantly in hypertensive animals, this situation was prevented with
sildenafil treatment (Sham 4,5 x 106±1,1 vs. 2R1C 2,4 x 106±0,7* vs. Sil 6,3 x 106±1,7#).
The sildenafil treatment also significantly decreased the number of HSCs with
apoptosis when compared to control group, increasing the number of viable cells
(Sham 59,3%±7,8 vs. 2R1C 46,7%±6* vs. Sil 80%±4,9#&). Considering the HSCs
importance to body homeostasis and based on the data of the present study, we
suggest sildenafil as an option to treatment of damaged HSCs observed in
renovascular hypertension.
Keywords: Renovascular hypertension; Hematopoietic stem cells, Oxidative stress,
Apoptosis; Sildenafil
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Pressão arterial e frequência cardíaca.
Tabela 2: Contagem de células da medula óssea na câmara de Neubauer.
Tabela 3: Níveis de apoptose das células tronco hematopoiéticas
Tabela 4: Fases do ciclo celular das células tronco hematopoiéticas
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LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS
Figura 1: Células-tronco hematopoiéticas
Figura 2: Histograma do ciclo celular
Figura 3: Citograma representativo de apoptose
Figura 4: Peso corporal final
Figura 5: Peso seco do coração corrigido pelo valor da tíbia (mg/cm).
Figura 6: Peso seco do rim esquerdo
Figura 7: Peso seco do rim direito
Figura 8: Imunofenotipagem de CTHs da medula óssea
Figura 9: Níveis de ânion superóxido nas CTHs
Figura 10: Níveis de peróxido de hidrogênio nas CTHs
Figura 11: Níveis de espécies altamente reativas nas CTHs
Figura 12: Níveis de óxido nítrico nas CTHs.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
2R1C: 2 rins-1 clipe
cAMP: Monofosfato de adenosina cíclico
cGMP: Monofosfato de guanosina cíclico
CDKS: Cyclin-dependent kinases
ClO-: Hipoclorito
CTHs: Células-tronco hematopoiéticas
DAF: Diaminofluoresceína
DCF: Diacetato de diclorofluesceína
DHE: Dihidroetídeo
DNA: Ácido desoxirribonucleico
ECA: Enzima conversora de angiotensina
H2O2: Peróxido de hidrogênio
HAS: Hipertensão arterial sistêmica
HIV: Vírus da imunodeficiência humana
HPF: Hidroxifenil fluoresceína
O2•-: Ânion superóxido
O2: Oxigênio
O3: Ozônio
•OH: Radical hidroxila
NO: Óxido nítrico
ONOO-: Peroxinitrito
OMS: Organização Mundial da Saúde
PI: Iodeto de Propídeo
PDE5: Fosfodiesterase tipo 5
ROS: Espécies Reativas de Oxigênio
SRA: Sistema Renina-Angiotensina
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Introdução
17
1. Introdução
1.1 Hipertensão Arterial
1.1.1 Epidemiologia
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e mantidos de pressão arterial. Associa-se,
frequentemente, com alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo, como por
exemplo, coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos; e também às alterações
metabólicas, que aumentam o risco de disfunções cardiovasculares fatais e não fatais
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2010).
Dentre as doenças cardiovasculares, a HAS tem alta prevalência na população
brasileira; sendo que aproximadamente 90% dos indivíduos hipertensos são
considerados essenciais, ou seja, a etiologia da doença ainda não é conhecida. No
ano de 2013, a prevalência de HAS referida na população de adultos residentes nas
capitais brasileiras e no Distrito Federal foi de 24,1%. No Espirito Santo a prevalência
foi de 20,6% (ANDRADE et al, 2015).
A patogênese da hipertensão essencial é, em grande parte, indefinida, multifatorial,
e altamente complexa. Por outro lado, quando a etiologia da doença é conhecida,
como é o caso do modelo proposto neste estudo, define-se a hipertensão como
secundária, o que pode, portanto, direcionar o tratamento de acordo com a etiologia
(OLIVEIRA-SALES, 2006).
1.1.2 Hipertensão Renovascular
De acordo com Khangura e colaboradores (2014), a hipertensão renovascular é uma
condição secundária gerada pela estenose da artéria renal e/ou pode estar associada
a doenças ateroscleróticas. Somente nos Estados Unidos cerca de 5% dos
aproximadamente 75 milhões de adultos hipertensos, são acometidos com esse tipo
de hipertensão.
Um dos modelos clássico de hipertensão renovascular, 2 rins-1 clipe (2R1C), foi
desenvolvido por Goldblatt et al em 1934, esse modelo mostrou uma elevação
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substancial da pressão arterial de cães, cujo suprimento sanguíneo para os rins era
reduzido por meios da colocação de clipes de prata na artéria renal (FAZAN JR et al,
2001).
O modelo 2 rins-1 clipe (2R1C) é dependente de ativação contínua do sistema renina-
angiotensina (SRA). O tempo de manutenção da pressão elevada e os níveis
pressóricos atingidos dependem da espécie e do grau de estenose da artéria renal
(DIAS AT, 2014).
Além disso, este modelo serviu como base para estudos subsequentes e demonstrou
que uma lesão obstrutiva na artéria renal deve alcançar um nível crítico de 75% a 80%
para produzir mudanças hemodinâmicas significantes do fluxo arterial.
1.2 Sistema Renina-Angiotensina
O Sistema Renina-Angiotensina corresponde a uma complexa rede hormonal, com
papel crucial nos mecanismos que regulam tanto a pressão arterial como o balanço
hidroeletrolítico do organismo, a visão clássica deste sistema tem como primeiro
componente a renina (AIRES, 2012). Sabe-se que quando o fluxo sanguíneo renal
diminui, renina é liberada pelas células justaglomerulares, que funcionam como
mecanorreceptores e são encontradas, principalmente, na parede das arteríolas
aferentes do aparato justaglomerular dos rins. A renina é uma enzima que atua sobre
o angiotensinogênio plasmático, sintetizado principalmente pelo fígado, catalisando
sua conversão em um peptídeo de 10 aminoácidos, a angiotensina I, que possui
pequena atividade vasoconstritora, insuficiente para causar mudanças significantes
na função circulatória. Em seguida, dois aminoácidos são removidos da angiotensina
I formando o octapeptídeo angiotensina II, potente vasoconstritor e efetor chave do
sistema renina angiotensina (SRA). Esta conversão ocorre quase que inteiramente
nos pulmões durante a passagem do sangue através dos capilares pulmonares e é
catalisada pela enzima conversora de angiotensina (ECA) que se encontra
primariamente ligada ao endotélio e em concentrações particularmente elevadas nas
células endoteliais da vasculatura pulmonar. Entretanto, atualmente sabe-se que os
componentes do SRA são sintetizados e expressos em vários tecidos do organismo
(CAMPAGNARO BP, 2012)
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1.3 Estresse Oxidativo
O estresse oxidativo é um fenômeno complexo definido como o excesso de
espécies reativas de oxigênio (ROS) resultante do aumento de sua produção ou da
diminuição de sua degradação (JONES, 2006). As ROS são pequenas moléculas
derivadas do metabolismo do oxigênio incluindo radicais livres, como ânion
superóxido (•O2-), óxido nítrico (NO), radical hidroxila (•OH), hipoclorito (ClO-) e
peroxinitrito (ONOO-), e também algumas moléculas que não são radicais livres, mas
agentes oxidantes que podem ser facilmente convertidos em radicais, como ozônio
(O3), oxigênio singlet (O2) e peróxido de hidrogênio (H2O2). As ROS desempenham
papéis fisiológicos importantes uma vez que estão envolvidas em diversas funções
celulares, tais como: defesa contra patógenos, expressão gênica, senescência,
apoptose e regulação do crescimento celular (CAMPAGNARO BP,2012).
Um grande número de pesquisas experimentais e clínicas mostra uma forte relação
entre a hipertensão arterial e os radicais livres. Os radicais livres podem participar na
hipertensão causando danos em órgãos-alvos através de várias maneiras (AMAT,
2014).
Nos anos recentes, pressão arterial alta e estresse oxidativo se tornaram o foco das
pesquisas. O estresse oxidativo pode ser a causa, a consequência ou um fator
potencializador para a hipertensão (ARAUJO e WILCOX, 2014).
Além dos danos aos órgãos alvos, o estresse oxidativo também pode causar danos
ao DNA, causando oxidação de bases específicas ou strand breaks, conduzindo a
uma instabilidade genômica e mudanças permanentes no material genético, levando
a genotoxicidade (RODRIGUES BP, 2013). Essa instabilidade genômica e mutações
no DNA são observadas em doenças neurodegenerativas, câncer e envelhecimento.
Além disso, é bem sabido que as espécies reativas de oxigênio afetam toda a
sinalização do sistema renina-angiotensina nas células-tronco da medula óssea, as
quais possuem participação fundamental na reparação tecidual (CAMPAGNARO et
al, 2013)
20
1.4 Células-Tronco Hematopoiéticas
As células-tronco são responsáveis pela manutenção tecidual e homeostase do
organismo. Assim sendo, essas células-tronco tem características evolutivas que
oferecem proteção contra danos, permitindo a sobrevivência e repovoando os tecidos
lesados em um curto prazo (LANE e SCADDEN, 2012).
Todo o sistema hematopoiético é gerado a partir de células-tronco hematopoiéticas
(Figura 1) o qual possui uma grande longevidade e um alto potencial para auto
renovação (MILYAVSKY,2010). Estudos demonstraram, através de células-tronco
dos melanócitos, que o dano ao DNA ocasiona um estresse genotóxico irreparável
induzindo a diferenciação prematura em melanócitos maduros (MANDAL, 2012).
Figura 1: Cascata de diferenciação das células tronco hematopoiéticas. Adaptado
de: www.lookfordiagnosis.com
1.5 Ciclo Celular
Ciclo celular é um processo extremamente coordenado onde a progressão pelas fases
do ciclo é regulada, de modo muito preciso, por uma rede bioquímica muito complexa,
que sinaliza o andamento e as passagens entre G1, S, G2, M. Esse controle é vital
21
para a manutenção do ritmo de proliferação, para garantir a correta replicação do
material genético, segregação dos cromossomos, e coordenar os processos de
diferenciação, senescência e morte. O mau funcionamento dessas vias leva ao
aparecimento e perpetuação de mutações e aberrações cromossômicas que
favorecem ao aparecimento de diversas patologias, entre elas o câncer (SOUZA,
2011)
O ciclo celular envolve numerosas proteínas reguladoras que direciona a célula
através de uma sequência específica de eventos que culmina na mitose e produção
de duas células filhas. No centro destes processos estão as ciclinas dependentes de
quinase (CDKs) e as ciclinas que regulam a progressão celular (SCHAFER,1998).
O ciclo celular pode ser morfologicamente subdividido em interfase que é composta
por G1, S, G2 e a fase mitótica que inclui prófase, metáfase, anáfase e telófase. As
fases G1 e G2 são os “gaps” que ocorrem entre dois pontos do ciclo celular: a síntese
do DNA e a mitose. No primeiro “gap”, G1, a célula é preparada para a síntese do
DNA, na fase S o DNA é sintetizado e no segundo “gap”, fase G2, a célula é preparada
para a fase M (mitótica). A célula também possui a fase G0 que indica células que não
estavam em ciclo, porém teriam o potencial para se dividir (SCHAFER,1998).
As células podem parar nos pontos de checagem ou “checkpoints” temporariamente
para permitir que: o dano celular seja reparado, que ocorra dissipação de sinal de
estresse celular exógeno ou para avaliação dos fatores de crescimento, hormônios ou
nutrientes. As sinalizações dos “checkpoints” podem também resultar na ativação de
mecanismos que conduzem à morte celular programada ou apoptose se o dano
celular não for totalmente reparado (PIETENPOL, 2002).
Muitos estudos têm demonstrado que o ciclo celular pode ser parado em resposta ao
estresse oxidativo. Alterações no estado redox também resultam em dificuldades na
progressão da fase G1 a S bem como na parada da fase G2 (PARAVICINI e TOUZ,
2006).
1.6 Sildenafil
O sildenafil é uma droga vasoativa amplamente utilizada no tratamento da disfunção
erétil e hipertensão pulmonar. É um inibidor potente e seletivo da fosfodiesterase tipo
5 (PDE5), enzima que degrada o GMPc, e pode ser encontrada nas células
22
musculares lisas dos corpos cavernosos do pênis, de vasos periféricos arteriais e
venosos, bem como na circulação coronária e pulmonar, e também nas plaquetas
(RODRIGUES, 2013).
Há evidências experimentais que o aumento intracelular de GMPc pode prevenir a
indução do estresse oxidativo. Foi demonstrado que a atividade de enzimas
antioxidantes aumenta depois da administração sistêmica do sildenafil. Além disso, o
sildenafil apresenta efeitos cardio-protetivos e pode reduzir a apoptose e necrose em
tecidos cardíacos após a isquemia-reperfusão (EBRAHIMI et al, 2009). De acordo com
Rodrigues e cols. (2013) o tratamento com sildenafil em camundongos
ateroscleróticos, reduziu o estresse oxidativo, resultando em diminuição do dano ao
DNA nas células mononucleares sanguíneas e células do fígado.
23
Justificativa
24
2 Justificativa
É indiscutível a importância das células tronco para a manutenção e regeneração
celular e tecidual. Entretanto em diferentes situações patofisiológicas, como por
exemplo, na hipertensão arterial, essas células podem ter sua função comprometida,
contribuindo para o mau funcionamento de diversos órgãos. Considerando que o
sildenafil, um inibidor da PDE5, tem demonstrado efeitos antioxidantes em diversos
órgãos, se faz necessário e importante realizar estudos visando avaliar a eficácia
desta droga sobre a função das células tronco em modelos fisiopatológicos.
25
Objetivos
26
3 Objetivos
3.1. Objetivo Geral
Avaliar o efeito do tratamento com sildenafil sobre as células-tronco hematopoiéticas
de camundongos com hipertensão renovascular.
3.2. Objetivos Específicos
Em camundongos com hipertensão renovascular, verificar o efeito do tratamento
com sildenafil sobre:
Os parâmetros biológicos: pressão arterial, peso corporal, peso do coração e
peso dos rins;
O número de células presentes na medula óssea;
O ciclo celular, apoptose e estresse oxidativo nas células hematopoiéticas
27
Metodologia
28
4. Metodologia
4.1. Animais experimentais
Foram utilizados camundongos (Mus musculus) machos da linhagem C57Bl/6,
pesando entre 23 e 23,5 gramas com aproximadamente 8 semanas de idade,
provenientes do biotério do Laboratório de Fisiologia Translacional, pertencente ao
programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas no Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo, com garantia de serem animais
isogênicos, ou seja, filhos de casais irmãos e, portanto, com o mínimo de variabilidade
genética. Os animais foram mantidos no biotério em gaiolas individuais colocadas em
estantes ventiladas onde receberam água e ração ad libitum e também foi controlado
o ciclo de 12 horas claro/escuro, bem como a temperatura (22±2oC) e a umidade
(70%) do ambiente. Os aspectos éticos, a utilização e o manuseio experimental dos
animais estava de acordo com as normas estabelecidas pela Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio) e a American Physiological Society (APS). Este
estudo foi aprovado previamente pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da
Universidade Federal do Espírito Santo (CEUA-UFES), sob o nº 59/2014.
4.2. Grupos Experimentais
Os animais foram aleatoriamente divididos em três grupos experimentais (n=10 por
grupo):
Análise dos Parâmetros
Biológicos
Coleta das células
hematopoiéticas
Análise de estresse
oxidativo
Análise do ciclo celular e
apoptose
C57BL/6
SHAM 2R1C Sham
2R1C
SILDENAFIL
29
Os experimentos foram realizados de acordo o cronograma abaixo:
4.3. Indução da Hipertensão Renovascular 2R1C
Os animais foram anestesiados com ketamina/xilazina (91/9,1 mg/kg) por via
intraperitoneal. Após a tricotomia no flanco esquerdo, foi realizada uma incisão para
exposição do conteúdo da cavidade retro peritoneal. Com auxílio de uma lupa
cirúrgica (Opto Eletrônica S/A Brasil) a artéria renal esquerda foi isolada para a
colocação de um clipe de aço em forma de “U” com 0,12 mm de abertura (Exidel AS,
Moutiter, Suíça), próximo à aorta dos animais do grupo 2R1C e 2R1C-SIL, para que o
fluxo sanguíneo e, consequentemente, a pressão de perfusão renal fosse reduzida. A
camada muscular e a incisão cutânea foram suturadas, respectivamente, com catgut
4.0 e fio de seda 4.0. Os animais do grupo Sham foram submetidos ao mesmo
procedimento cirúrgico, porém sem a colocação do clipe. Os animais foram
observados até se recuperarem da anestesia e estudados 28 dias após a indução da
hipertensão.
4.4. Tratamento dos animais
O tratamento com veículo (água) ou sildenafil foi iniciado 14 dias após a indução da
hipertensão renovascular e teve duração de 14 dias, este tempo de tratamento já é
bastante consolidado em nosso laboratório, visto que após 14 dias de indução o
animal já apresenta as características da hipertensão renovascular. Foi utilizado
sildenafil (Pfizer, São Paulo, Brasil) na dose de 40 mg/kg/dia. A dose foi escolhida por
se aproximar dos valores utilizados na prática clínica para o tratamento de hipertensão
pulmonar em humanos. Os animais Sham e 2R1C veículo receberam apenas o
1º dia
.
•Verificação do peso corporal
•Indução da hipertensão renovascular ou cirurgia fictícia
14º dia
Início do tratamento com veículo ou sildenafil
40mg/kg/dia
28º dia
• Medida da PAM e FC
• Verificação do peso corporal
• Coleta dos orgãos e células tronco
30
veículo (100 μL de água) pelo mesmo período de tempo. Todos os tratamentos foram
realizados por via oral (gavagem), sempre pelo mesmo administrador.
4.5. Medidas hemodinâmicas
Após 28 dias os animais foram novamente pesados, para obtenção do peso corporal
final. No último dia do protocolo experimental, os animais foram eutanasiados e o
coração e os rins foram isolados e mantidos na estufa a 37°C por 24 horas para
obtenção do peso seco. Para verificar a existência de hipertrofia cardíaca o peso do
coração (g) foi dividido pelo comprimento da tíbia (cm).
4.6. Cateterização da artéria carótida e medida da PA
Para a medida da pressão arterial média (PAM) e da frequência cardíaca (FC), 26 dias
após a cirurgia, os animais foram anestesiados com ketamina/xilazina 91,0/9,1 mg/kg
por via intraperitoneal para a introdução de um cateter na artéria carótida direita
comum. Esse cateter consistia em uma cânula com 4 a 5 cm de comprimento (0,040
mm OD X 0,025 mm ID; Micro-Renathane; Braintree Science, USA) que foi esticada
sobre ar aquecido até que sua extremidade tivesse com aproximadamente 300-500
μm de diâmetro. As cânulas foram previamente preenchidas com solução salina
isotônica contendo heparina (100U) e obstruídas com pinos de metal. Foi realizada
uma incisão cervical nos animais que permitiu o acesso à artéria carótida, a qual foi
isolada e teve suas extremidades amarradas com o auxílio de uma lupa cirúrgica (Opto
Eletrônica SA, modelo SM 2002, Belo Horizonte, MG, Brasil). Em seguida, o cateter
foi inserido no lúmen da artéria através de uma pequena incisão, foi firmemente
amarrado e exteriorizado na nuca dos animais com o auxílio de um trocater. Os
registros da PAM e da FC foram realizados nos animais acordados e livres dentro das
gaiolas, 48 horas após a colocação do cateter. Para o registro da PAM e da FC, o
cateter foi conectado a um tubo de polietileno de aproximadamente 25 cm (PE 50;
0,023 mm ID X 0,038mm OD; Clay-Adams, EUA). A extremidade livre deste tubo foi
acoplada a um transdutor de pressão (Cobe Laboratories, EUA) previamente
conectado a um amplificador e a um sistema de aquisição de dados (Biopac System,
Santa Barbara,CA, EUA).
31
4.7. Coleta e Cultura das células-tronco hematopoiéticas da medula óssea
Os animais foram anestesiados e levados para capela de fluxo laminar onde foi
realizada a assepsia do animal e os fêmures e as tíbias removidos, assim como o
excesso de músculo e tecido conjuntivo ao redor dos ossos. As epífises foram
cortadas para exposição do canal medular e uma agulha de 26-gauge acoplada a uma
seringa de plástico (1 mL) que foi inserida na cavidade medular para retirada da
medula óssea através de “flush” utilizando meio de cultura DMEM (Dulbecco’s
Modified Eagle Medium; Sigma) suplementado com 20% de soro fetal bovino e 1% de
antibiótico (penicilina/estreptomicina; Gibco). Após a retirada da medula óssea, a
mesma foi colocada em placas de cultura e levada para uma incubadora, depois de 3
dias foram coletadas as células hematopoiéticas. Após a coleta, as células foram
transferidas para um tubo falcon para a centrifugação por 10 min à 2.600 rpm e
ressuspendidas com 1ml de solução de congelamento e armazenadas em um freezer
por 24 h, após esse período as células foram armazenadas à -80ºC.
4.8. Quantificação de células na câmara de neubauer
Este protocolo foi realizado objetivando utilizar sempre 106 de células nos estudos
realizados por meio de citometria de fluxo e também para quantificar o número de
células obtidas através da extração da medula óssea.
Para determinação do número de células obtidas, foi realizada uma diluição 1:10 (v/v)
da suspensão das células-tronco hematopoiéticas em PBS (Gibco). Em seguida, uma
alíquota desta solução foi diluída 1:2 (v/v) em solução de Turck (ácido acético 2% com
azul de metileno) para eliminar resíduos de hemácias das amostras e uma alíquota
desta última solução foi novamente diluída 1:2 (v/v) em solução de azul de Tripano
0,4% para quantificação das células vivas. A solução (células/Turck/Tripano) foi
homogeneizada e colocada em um lado da câmara de Neubauer para contagem com
auxílio do microscópio óptico (Nikon Tsi) no aumento de 40X. As células foram
contadas nos quatros quadrantes externas da câmara seguindo sempre a mesma
direção e usando o esquema do “L” para que a mesma célula não fosse contada duas
vezes. Portanto, as células que se encontraram sobre as linhas de baixo e da direita
32
não foram contadas. A equação usada para determinar o número de células por
mililitro foi:
QC = FD x 104 x 1ml x Nº de células, onde:
4
QC → Quantidade de células por ml
FD → Fator de diluição (40x)
104 → Fator de correção da câmara de Neubauer
1ml → Volume da amostra
Nº de células → Média do número de células contadas
4.9. Imunofenotipagem
Para a identificação e confirmação das células tronco hematopoiéticas, foi realizada
imunofenotipagem, para a identificação de antígenos expressos na superfície celular.
Antes de iniciar o protocolo, as células foram colocadas em cultura por 24 horas e,
realizada uma imuno-depleção magnética, onde ocorre a marcação de células
diferenciadas por meio de vários anticorpos: CD3c, CD11b, CD45, Ly-65, Ly–76 e
TER 119, esses anticorpos marcam as células já diferenciadas e que não são de
interesse do nosso estudo. O processo de imuno-depleção consiste em adicionar o
coquetel com os anticorpos mencionados acima, deixar a amostra em repouso em
uma temperatura de 6ºC por 30 minutos, logo após, a amostra era colocada na
posição horizontal em uma coluna magnética, onde as células que foram marcadas
com o coquetel são atraídas, deixando assim as células não marcadas e que são de
interesse do estudo, livres para que possam ser coletadas. Após a imuno-depleção
magnética, as células coletadas foram marcadas com anticorpos que marcam os
antígenos presentes nas superfícies das células hematopoiéticas: CD90, CD133,
CD117 e Sca1.
33
4.10. Análise do estresse oxidativo
Para a análise dos níveis de ROS, foram utilizados marcadores para: ânion superóxido
(•O2-) através do marcador dihidroetídeo (DHE); peróxido de hidrogênio através do
marcador 2’,7’ – diacetato de diclorofluesceína (DCF-DA); para biodisponibilidade de
NO através do marcador diacetato de 4,5 – diaminofluoresceína (DAF-2D); e para
espécies altamente reativas (ONOO/OH) através do marcador hidroxifenilfluoresceína
(HPF). Os níveis de ânion superóxido (•O2-) foram medidos por citometria de fluxo através
da fluorescência emitida pelo etídeo, que é produto da oxidação do dihidroetídeo ou
hidroetidina. O DHE, forma reduzida do brometo de etídeo, entra livremente na célula e
reage rapidamente com o O2•- formando etídeo. No citoplasma, o DHE é um fluorocromo
azul (420nm), entretanto quando oxidado à etídeo, este se liga ao DNA causando a
amplificação da fluorescência vermelha (518-605nm) (Sharikabadet al., 2001). A oxidação
do DHE é quantitativamente proporcional a concentração de O2•- na célula.
Os níveis de peróxido de hidrogênio (H2O2) também foram medidos por citometria defluxo
através da fluorescência emitida pela diclorofluoresceína (DCF) que é produto da
oxidação do 2’,7’-diacetato de diclorofluoresceína (DCFH-DA). O DCFH-DA é um éster,
não-fluorescente, internalizado pelas células e que se incorpora às regiões hidrofóbicas.
Após entrar na célula, o DCFH-DA perde o grupo diacetato, pela ação de esterases
intracelulares, resultando na formação de um composto intermediário (DCFH), que pode
ser oxidado pelo H2O2 formando o composto fluorescente diclorofluoresceína (DCF), que
por ser apolar fica aprisionado no interior da célula. Portanto, a oxidação do DCFH-DA é
quantitativamente proporcional à concentração de H2O2 na célula.
Para detecção e estimativa da biodisponibilidade do NO foi usado o marcador diacetato
4,5-diaminofluoresceína (DAF-2D, 2mM), que na presença de NO, emite fluorescência de
cor verde, cuja intensidade é proporcional a biodisponibilidade intracelular de NO. Este
corante foi adicionado à suspensão de CTH´s e incubado à 370 C por 180 minutos no
escuro. Como controle positivo, as amostras foram incubadas com 10µM de nitroprussiato
de sódio (Dias et al., 2014)
34
4.11. Análise do ciclo celular
Através deste protocolo foi determinado o conteúdo de DNA das células por meio da
coloração com iodeto de propídeo (PI) através da citometria de fluxo. O PI é um agente
intercalante fluorescente de DNA que é capaz de penetrar na célula quando a membrana
celular é permeabilizada, corando o DNA. Desta forma, a fluorescência emitida pelo PI é
proporcional à quantidade de DNA das células. Inicialmente, 1x106 de células da medula
óssea foram ressuspensas e fixadas em 1mL de etanol 70% por pelo menos 2 horas a
-20ºC. As células foram lavadas, ressuspensas em 1mL de PBS gelado e incubadas com
200μL de solução de coloração (200μL de RNAse A (20mg/mL), 800μL de PI (500μg/mL),
20μL de TritonX-100, Q.s.p. 20mL de PBS1x) por 30 minutos, no escuro, a 4ºC. Em
seguida, as células foram centrifugadas a 1200 rpm por 10 minutos e, após a
centrifugação, as células foram ressuspendidas em 1mL de PBS. Após nova
centrifugação, as células foram ressuspendidas em 200μL de PBS e a fluorescência
emitida pelo PI medida no citometro de fluxo. A taxa de aquisição foi de 200
células/segundos para que fosse possível diferenciar singlets e doublets. A análise dos
dados foi realizada utilizando o software FACS Diva. Os histogramas da fluorescência
emitida foram analisados para detectar a presença de DNA fragmentado (região sub-
G0/G1), DNA normal (diploide – região G0/G1, antes da síntese de DNA), DNA em processo
de duplicação (região S) e DNA duplicado (poliploide – região G2/M) (Figura 2).
Figura 2: Histograma típico representativo do ciclo celular avaliado por citometria de
fluxo com uso de PI.
35
4.12. Análise da Apoptose
Para determinação de viabilidade e apoptose celular foi utilizada a marcação com o
reagente Annexin V-FITC Apoptosis Detection Kit® (BD Pharmingen, SanDiego, CA,
USA), composto da proteína anexina V conjugada à fluoresceína (FITC) e do corante
intracitoplasmático iodeto de propídeo (PI: Propidium Iodide), seguida de análise em
citometro de fluxo. Este ensaio consiste na ligação eficiente da proteína anexina V aos
resíduos do fosfolipídio fosfatidilserina (FS). Na célula viável, estes resíduos se encontram
na face interna da membrana plasmática. Entretanto, quando o processo de morte celular
programada (apoptose) é iniciado, estes resíduos são rapidamente translocados para a
face externa da membrana, permitindo a ligação da proteína anexina V. O PI, marcador
padrão de viabilidade, é usado para distinguir células viáveis de não-viáveis, uma vez que
células viáveis com membrana intacta são impermeáveis ao corante, enquanto que
membranas de células mortas ou danificadas são permeáveis. Além disso, o PI é usado
em conjunto com a anexina V para permitir a identificação de células em estágio inicial e
final de apoptose (van Engeland al., 1996). Portanto, neste ensaio é possível determinar
a proporção de células vivas (anexina V-/PI-); células em estágio inicial de apoptose onde
ocorre apenas a exposição da FS na face externa da membrana plasmática com
consequente marcação com a anexina V (anexina V+/PI-); células em estágio tardio de
apoptose ou em necrose onde além da exposição da FS, a membrana plasmática sofre
colapso e se torna permeável ao PI, fazendo com que a célula possua dupla marcação
(anexina V+/PI+), Figura 3.
36
Figura 3: Citograma típico obtido durante a aquisição dos dados e análise dos
resultados de apoptose
4.13. Análise Estatística
Para a análise estatística foi utilizado o teste de variância ANOVA uma via através do
software Graphpad Prism 6 seguido pelo pos hoc de Tukey. A diferença foi
considerada significante quando p < 0,05.
37
Resultados
5. Resultados
5.1. Pressão Arterial Média e Frequência Cardíaca
Após os 28 dias de experimento, antes da eutanásia dos animais, os mesmos foram
submetidos a aferição da pressão arterial e da frequência cardíaca. Os valores estão
apresentados na tabela abaixo (TABELA 1), como podemos observar os animais
submetidos a indução da hipertensão tiveram tanto sua pressão arterial média
(126±3mmHg) quanto sua frequência cardíaca (520±13bpm) aumentada quando
comparados ao grupo Sham (PAM: 105±2mmHg; FC: 453±20bpm). Os animais que
38
foram submetidos ao tratamento com sildenafil conseguiram reduzir esses valores
quando comparados ao grupo hipertenso sem tratamento (PAM:110±2mmHg; FC:
470±13bpm).
Tabela 1: Pressão arterial média e frequência cardíaca.
Os valores indicam média ± EPM. *p< 0,05 2R1C vs. Sham. #p< 0,05 Sildenafil vs.
2R1C. N=4
5.2. Peso Corporal
Também após 28 dias, 14 dias de cirurgia mais 14 dias de tratamento com veículo ou
sildenafil, os animais foram pesados e eutanasiados para posteriores análises. O
gráfico 1 apresentando abaixo, mostra os valores de peso corporal dos três grupos
analisados (n=10). Antes da indução da hipertensão, todos os grupos possuíam
animais com peso entre 22,9g a 23,1g. Como podemos observar, após 28 dias, os
animais considerados hipertensos (23,9g) apresentaram uma diminuição significante
do peso em relação ao grupo que não apresentava hipertensão (24,1g). Porém não
houve diferença do grupo hipertenso tratado (24,3g) em relação ao grupo SHAM.
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0
1 0
2 0
3 0
Pe
so
Co
rp
ora
l (g
)
*
39
Figura 4: Peso corporal após 28 dias de experimento. Os valores indicam a média ±
EPM. *p< 0,05 vs. Sham (ANOVA uma via, post hoc Tukey). N=12
5.3. Peso seco cardíaco e renal
Os gráficos abaixo mostram o peso seco do coração e rins direto e esquerdo, onde o
coração e rins após 28 dias de experimento, foram isolados, lavados com solução
fisiológica e mantidos na estufa a 37º C por 24 horas. O peso obtido (mg) foi corrigido
pelo valor da tíbia (cm), para verificar a existência de hipertrofia cardíaca e como
podemos observar, não houve diferença significante entre os grupos. Uma das
características do modelo 2R1C, já descrito pela literatura, é a atrofia do rim clipado
que se dá pela estenose da artéria renal esquerda, e isso foi confirmado através dos
nossos animais, onde houve a presença de atrofia no grupo 2R1C (SHAM: 0,043;
2R1C: 0,026g), além disso podemos observar que no grupo tratado com sildenafil
(0,061g) a atrofia do rim do esquerdo foi significativamente menor que o grupo
hipertenso sem tratamento. Já no rim direito não observamos nenhuma alteração
significante.
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0 .0 0 0
0 .0 0 5
0 .0 1 0
0 .0 1 5
0 .0 2 0
0 .0 2 5
Co
ra
çã
o/T
íbia
(g
/cm
)
Figura 5: Peso seco do coração corrigido pelo valor da tíbia (mg/cm). Os valores
indicam a média ± EPM (ANOVA uma via, post hoc Tukey)
40
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0 .0 0
0 .0 1
0 .0 2
0 .0 3
0 .0 4
0 .0 5
*P
es
o R
im E
sq
ue
rd
o (
g)
#
*
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0 .0 0
0 .0 2
0 .0 4
0 .0 6
Pe
so
Rim
Dir
eit
o (
g)
Figuras 6 e 7. Peso seco dos rins esquerdo e direito. Os valores indicam a média ±
EPM. **p< 0,05 2R1C vs. Sham, #p< 0,05 Sildenafil vs. 2R1C (ANOVA uma via, post
hoc Tukey). N=11
5.4. Quantificação celular
Na tabela apresentada abaixo, a contagem celular realizada na câmara de Neubauer
nos mostra que houve uma diminuição do número de células presentes na medula
óssea de animais hipertensos, já nos animais hipertensos tratados com sildenafil
observamos um aumento no número de células, superando até o número de células
presente em animais do grupo Sham.
41
Tabela 2: Contagem de células da medula óssea na câmara de Neubauer. Os
valores indicam a média ± EPM. *p< 0,05 2R1C vs. Sham. #p< 0,05 Sildenafil vs.
2R1C
5.5. Imunofenotipagem
Para confirmar a presença de células tronco hematopoiéticas (CTHs) nas amostras
obtidas das medulas ósseas, foi realizada a imunofenotipagem através da citometria
de fluxo. Os dados obtidos confirmaram a presença de CTHs e não houve diferença
na intensidade de fluorescência entre os grupos. A linha preta não preenchida
representa o controle de isotipo e a linha azul preenchida representa o anticorpo de
marcação.
42
Figura 8: Imunofenotipagem de células-tronco hematopoiéticas derivadas da medula
óssea
5.6. Análise do Estresse Oxidativo
5.6.1. Níveis de ROS
Os níveis de ânion superóxido foram quantificados pela marcação de DHE por meio
de citometria de fluxo. Na Figura 9, podemos observar que houve um aumento na
produção desses radicais em animais hipertensos (SHAM:1351± 206; 2R1C:
1973±337) e a diminuição nos animais hipertensos tratados com sildenafil (1483±192).
43
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0
5 0 0
1 0 0 0
1 5 0 0
2 0 0 0
2 5 0 0
DH
E
*
#
Figura 9: Níveis de ânion superóxido nas células tronco hematopoiéticas. Os valores
indicam a média ± EPM. *p< 0,05 vs. Sham p< 0,05 2R1C vs. Sildenafil. N =10
Com relação aos níveis de peróxido de hidrogênio, os mesmos foram quantificados
através da intensidade da fluorescência marcada pelo DCF. Os valores obtidos em
nosso estudo podem ser observados na Figura 10, onde os níveis de peróxido de
hidrogênio estão aumentados no grupo hipertenso (SHAM: 3805±237; 2R1C:
6562±456) e significativamente diminuídos nos animais hipertensos tratados com
sildenafil (4447±395) em relação aos outros grupos.
44
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0
2 0 0 0
4 0 0 0
6 0 0 0
8 0 0 0
DC
F
* *
# #
&
Figura 10: Níveis de peróxido de hidrogênio nas células tronco hematopoiéticas. Os
valores indicam a média ± EPM. **p< 0,01 Sham vs. 2R1C, ##p<0,01 2R1C vs.
Sildenafil, &p<0,05 Sham vs. Sildenafil. N= 10
Para os níveis de espécies altamente reativas marcados pelo HPF também houve
diferença estatística entre os grupos (SHAM:1653±303; 2R1C:2529±196;
SILDENAFIL: 1611±252), conforme mostrado na Figura 11.
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0
1 0 0 0
2 0 0 0
3 0 0 0
HP
F
* *
# #
45
Figura 11: Níveis de espécies altamente reativas nas células-tronco hematopoiéticas.
Os valores indicam média ± EPM. **p< 0,01 Sham vs. 2R1C, ##p<0,01 2R1C vs.
Sildenafil. N=8
Com o marcador DAF, foi possível quantificar a biodisponibilidade de óxido nítrico
(NO). Como podemos observar na Figura 12 houve um aumento significativo da
biodisponibilidade de óxido nítrico no grupo sildenafil. (SHAM:3413±251;
2R1C:2897±763; SILDENAFIL: 3874±645).
S H AM 2 R 1 C S IL D E N AF IL
0
1 0 0 0
2 0 0 0
3 0 0 0
4 0 0 0
5 0 0 0
DA
F
* *
Figura 12: Níveis de NO nas células tronco hematopoiéticas. Os valores indicam a
média ± EPM **p< 0,01 2R1C vs. Sildenafil. N=8
5.6.2. Apoptose Celular
Na tabela 3 estão apresentados os dados de apoptose obtidos através da citometria
de fluxo, podemos observar que houve diferença estatística entre os grupos. No grupo
46
tratado com sildenafil a apoptose diminuiu significativamente quando comparada ao
grupo hipertenso e grupo controle.
Tabela 3: Apoptose das células tronco hematopoiéticas. Os valores indicam a média
± EPM. *p< 0,05 e**p<0,01 Sham vs. 2R1C, #p<0,05 e##p<0,01 2R1C vs. Sildenafil,
&p<0,05 e&&p<0,01 Sham vs. Sildenafil.
5.6.3. Ciclo Celular
Já na tabela 4 podemos observar os resultados da análise do ciclo celular. Não foram
encontradas diferenças entre os grupos.
Tabela 4: Ciclo celular das células tronco hematopoiéticas.
Os valores indicam a média ± EPM.
47
Discussão
48
6. Discussão
De acordo com Andrade e cols. (2015), a hipertensão arterial (HA) é uma das
importantes corresponsáveis pela causa de óbito e um dos fatores de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Essas doenças vasculares foram as
causas de óbitos mais importantes do mundo no período de 2000 a 2012, segundo
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, apesar da redução da
mortalidade por essas doenças nos anos de 1996 a 2007, esse grupo ainda
representou a principal causa de óbito no país em 2011. Para o ano de 2013, a
prevalência de HAS referida na população de adultos residentes nas capitais
brasileiras e no Distrito Federal foi de 24,1%. No Espirito Santo a prevalência foi de
20,6%.
Grande parte dos hipertensos desconhece sua condição e, dos que a conhecem,
apenas 30% apresentam um controle adequado (Olmos e Lotufo, 2002). E se não
tratada, a hipertensão causa dano ao endotélio vascular, resultando em uma resposta
proliferativa, aterosclerose e podendo também aumentar os riscos de acidente
vascular cerebral, doença arterial coronariana, infarto do miocárdio, insuficiência
cardíaca congestiva e insuficiência renal crônica (NAVAR et al, 1998).
A hipertensão renovascular é a forma mais comum de hipertensão secundária e
apresenta patogênese complexa, na década de 30, Goldblatt e colaboradores (1934)
desenvolveram o modelo de hipertensão renovascular 2R1C em cães.
Posteriormente, em 1970 foi estabelecido este em modelo em rato. E em 1997 Wiesel
e colaboradores, desenvolveram em camundongos e verificaram que os modelos
murinos possuem as mesmas características dos modelos desenvolvidos em outras
espécies de animais, como cães e ratos (CAMPAGNARO, 2012).
O clipe utilizado neste modelo não é severo o suficiente para causar isquemia, no
entanto, a redução da pressão de perfusão renal estimula o aumento da síntese de
renina liberada do rim clipado (NAVAR et al, 1998). Na frase crônica deste modelo, a
hipertensão é mantida pela ativação continua do sistema renina-angiotensina
enquanto o rim contralateral normal impede a hipervolemia (SANTOS et al, 2005).
49
No presente estudo, foi observada a redução do peso corporal em animais submetidos
à colocação do clipe e isso corrobora com resultados já mostrados em nosso
laboratório (DIAS et al, 2014; CAMPAGNARO et al, 2013; NOGUEIRA et al 2012). Já
os animais hipertensos tratados com Sildenafil não apresentaram alteração no peso
corporal. Na análise da razão do peso do coração pelo comprimento da tíbia não foi
encontrada diferença entre os grupos, isso também já foi observado em outro trabalho
do nosso laboratório (DIAS et al, 2014).
Uma das características marcantes deste modelo são as mudanças estruturais renais
devido à estenose da artéria esquerda causando a atrofia do rim esquerdo, o que pode
ser observado em nosso estudo. Assim, o achado mais importante foi que o
tratamento com sildenafil diminuiu essa atrofia do rim esquerdo. Especulamos de que
este benefício do sildenafil seja consequência na melhora dos níveis hiper-pressóricos
e também melhora da função cardíaca. Estudos mostram que o sildenafil atua como
vasodilatador onde produz um balanço entre a diminuição da resistência arterial e o
aumento da complacência venosa (JACKSON et al, 1999), Brindis e Kloner (2003)
mostra que em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva há alterações
benéficas na hemodinâmica com o uso de sildenafil, além disso o sildenafil tem sido
objeto de estudo em diversas pesquisas sobre doenças cardiovasculares (KUKREJA
et al, 2011; DONATO et al, 2013)
A medula óssea hematopoiética, que dá origem a todas as células sanguíneas em
circulação, é altamente organizada e complexa. Células sanguíneas maturadas são
derivadas de células-tronco hematopoiéticas que compõe uma complexa série de
passos de divisão e maturação. Os fatores que regulam esta proliferação ainda não
foram completamente elucidados, no entanto, é bem conhecido que a hematopoiese
é controlada por um combinado de efeitos causado pelo aumento de citocinas, fatores
de crescimento, receptores de superfície celular específico e sinais microambientais
locais da medula óssea. Por ser uma área de crescimento celular excessivo, a
presença de SRA local pode ser sugerido (HAZNEDAROGLU e OZTURK, 2003).
Um efeito importante observado na hipertensão é o estresse oxidativo. A colocação
do clipe em uma das artérias renais ativa o SRA induzindo ao desequilibro entre a
50
produção aumentada de radicais livres e a diminuição do sistema antioxidante,
levando a hipertensão e disfunção endotelial. Estes dados puderam ser comprovados
em nosso estudo, pois observamos uma grande produção de radicais livres. Outros
estudos também mostram esse aumento na produção de ROS em grupos
hipertensivos (DIAS, 2014; CAMPAGNARO, 2012; PARAVICINI e TOUYZ, 2006).
Pacientes com hipertensão demonstram níveis elevados de estresse oxidativo
juntamente com a diminuição da atividade de enzimas antioxidantes endógenas no
sangue e células mononucleares, esses pacientes também possuem indicações do
aumento de dano oxidativo ao DNA quando comparados a indivíduos normotensos
(PARAVICINI e TOUYZ, 2006). Podemos também observar uma diminuição do
estresse oxidativo no grupo tratado com sildenafil em relação aos outros grupos. Essa
diminuição de produção de ROS promovido pelo sildenafil, que é um grande
antioxidante, já é bem conhecido na literatura (BERNARDES, 2015; DIAS, 2014)
Radicais livres como ânion superóxido e peróxido de hidrogênio induzidos pelo
estresse oxidativo são conhecidos por gerarem danos celulares em várias doenças e
alguns estudos demonstraram que o estresse oxidativo no ciclo celular revela o
aumento de dano ao DNA induzido por ROS e está correlacionado com a parada do
ciclo celular. Samikannu e colaboradores em 2015 demonstraram que o aumento do
estresse oxidativo conduz a uma disfunção do ciclo celular levando a
neurodegeneração em pacientes com HIV. Tiwari e colaboradores em 2013
mostraram que exposição a hiperóxia também conduz ao aumento da produção de
ROS, inibindo a proliferação, parada do ciclo celular e eventualmente a morte celular.
Em resposta ao dano ao DNA, células viáveis param em fases discretas do ciclo
celular tanto para permitir a reparação do DNA que é essencial para a sobrevivência
da célula quanto para a morte celular quando o dano é muito grande (RAY et AL,
2013).
As ROS são importantes para a determinação do destino das células-tronco normais.
Células-tronco hematopoiéticas normais estão, principalmente, em estado quiescente
dentro do seu nicho na medula óssea. Naka e colaboradores mostram que diversos
estudos com animais knockout para genes envolvidos no estresse oxidativo como
ATM e FOXO não permitem que as CTHs fiquem em seu estado quiescente ou até
51
mesmo se auto renovar. CTHs expostas a ROS apresentam características alteradas
elevadas e podem se submeter tanto a proliferação quanto a diferenciação, mas
também podem ser levadas a senescência e a apoptose (RICHARDSON et al., 2015).
Chen e colaboradores (2016) dizem que os nichos da CTHs na medula óssea são
localizados no extremo do gradiente de oxigênio sugerindo que a redução de oxigênio
poderia ser benéfica para a função das CTHs.
Isso pode ser observado em nosso estudo, onde o número de células em apoptose
aumentou drasticamente em animais hipertensos, como consequência o número de
células presentes na medula óssea caiu significativamente. Mas esta situação foi
revertida com o tratamento com sildenafil.
Um dos dados interessantes deste estudo foi que em animais hipertensos ocorreu a
diminuição drástica de células presentes na medula óssea. Essa diminuição também
foi observada em outro estudo e de acordo com Campagnaro (2008), uma das
prováveis explicações para esta diminuição é a atividade pró-inflamatória da
angiotensina II que leva ao aumento exacerbado da taxa de divisão assimétrica de
células tronco.
Venneri e colaboradores (2015), diz que estudos clínicos e experimentais sugerem
que a contínua inibição de PDE5, fazendo com que os níveis de c AMP e c GMP
estejam aumentos, seja associado com cardioproteção e neuroproteção. Em
pacientes com diabetes tipo 2, o tratamento com sildenafil está associado com
cardioproteção e redução de níveis de citocinas inflamatórias, além disso, alguns
destes estudos relataram a melhora nos perfis de citocinas circulantes e redução do
estresse oxidativo.
Um estudo recente (SAXENA et AL, 2016) mostra que a indução de cAMP melhora a
geração de células-tronco hematopoiética, o que indica que a cascata do cAMP esteja
envolvida no desenvolvimento hematopoiético. Isso pode explicar a melhora dos
animais tratados com sildenafil em todos os aspectos analisados em nosso estudo,
principalmente no número de células presentes na medula óssea. Porém, não há na
literatura estudos que mostrem a relação do sildenafil com o microambiente da medula
52
óssea, assim, nosso estudo se torna um dos pioneiros em mostrar os benefícios do
sildenafil em células-tronco hematopoiéticas.
53
Conclusão
54
7. Conclusão
Podemos concluir com o presente estudo, sendo este um dos pioneiros a mostrar o
tratamento com o inibidor de PDE5 (SILDENAFIL) na hipertensão renovascular de
camundongos e seus efeitos na células-tronco hematopoiéticas, que: 1) Na
hipertensão renovascular a produção de ROS está aumentada; 2) O número de
células presentes na medula óssea cai drasticamente com a hipertensão
renovascular; 3) Grande parte das CTHs sofrem apoptose quando há a presença da
hipertensão renovascular; 4) E o tratamento com sildenafil melhora todos os
elementos analisados neste estudo, tendo até uma melhora comparado ao grupo
controle.
Então com os achados deste estudo, concluímos que o tratamento com o Sildenafil
pode ser considerado uma escolha benéfica e alternativa para o tratamento de
células-tronco hematopoiéticas prejudicadas pela hipertensão arterial renovascular,
visto que estas células são de grande importância para a homeostase do organismo
e também que estas células são a primeira escolha para o tratamento com terapia
celular. Porém, o mecanismo de ação pelo qual o sildenafil melhora vários parâmetros
destas células ainda deve ser elucidado.
55
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