Post on 24-Jan-2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS
CURSO DE LETRAS – ESPANHOL
MULHERES HISTÉRICAS BEIRANDO O HEROÍSMO
DAYANNA CORREIA LINS TAVARES
Orientadora: Prof.ª Ma. Christiane Maria de Sena Diniz
João Pessoa,
FEVEREIRO/2014
DAYANNA CORREIA LINS TAVARES
MULHERES HISTÉRICAS BEIRANDO O HEROÍSMO
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em
Letras da Universidade Federal da Paraíba como requisito
para a obtenção do título de Licenciada em Letras –
Espanhol.
Orientadora: Prof.Ma.Christiane Maria de Sena Diniz
João Pessoa,
FEVEREIRO/2014
T231m Tavares, Dayanna Correia Lins.
Mulheres histéricas beirando o heroísmo / Dayanna Correia
Lins Tavares.- João Pessoa, 2014.
46f.
Orientadora: Christiane Maria de Sena Diniz
Monografia (Graduação) - UFPB/CCHL
1. Burundarena, Maitena, 1951- crítica e interpretação.
2.Literatura argentina - crítica e interpretação. 3. Mulheres.
4.Realidade. 5. Humor.
UFPB/BC CDU: 860(82)(043.2)
DAYANNA CORREIA LINS TAVARES
MULHERES HISTÉRICAS BEIRANDO O HEROÍSMO
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em
Letras no Curso de Letras- Espanhol da Universidade Federal da Paraíba
Data da aprovação:
__/__/__
Banca Examinadora:
_______________________________________
Prof.ª Ma. Christiane Maria de Sena Diniz
Orientadora
(UFPB)
________________________________________
Prof.ª Ma. Ana Berenice Perez Martorelli
Examinadora
(UFPB)
________________________________________
Prof.ª Ma. Eneida Maria Gurgel de Araújo
Examinadora
(UEPB)
João Pessoa,
2014
Dedico a minha mãe e irmã que estão sempre ao meu lado.
AGRADECIMENTOS
Hoje percebo que concluo mais uma etapa importante na minha vida. Lembro que no
início não estava certa se este era o caminho certo a seguir, mas encarei como projeto de vida
tornar-me professora. Ao finalizar este trabalho, desejo agradecer às pessoas essenciais.
A Deus, por me fazer compreender que a vida é mais leve quando se tem ele como
guia. “Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.”
A minha mãe, que me ensina que amor não se mede com palavras, mas com atitude.
A ela dedico todas minhas conquistas. A Steven, por enfatizar a importância dos estudos e por
acredita que sou capaz.
A minha irmã, por ser companheira, leal e sincera. Com quem compartilho todos os
dias alegrias e tristezas. A ela dedico meu amor eterno.
À professora Luiza, agradeço todos os conselhos, ensinamentos e confiança. Foram
muitos anos aprendendo que para ser professora não basta ser boa, tem que ser a melhor.
À professora María, meus sinceros agradecimentos pelo apoio dado no processo
seletivo do intercâmbio e pelas orientações acadêmicas e a Juan Ignacio pelo incentivo às
leituras literárias.
À professora Ana Berenice, pelo carinho e compreensão, não me esqueço das vezes
que me estendeu a mão.
À professora Eneida, por me guiar nos primeiros passos como aluna da extensão.
A minha amiga e orientadora Christiane, por acreditar que conseguiria finalizar este
trabalho. E por ser exemplo de determinação.
As minhas amigas fieis: Amparo e Tamires por tornarem meus dias mais divertidos.
As minhas queridas companheiras de apartamento: Camila, Fabiana e Helen pelos
momentos mágicos que passamos e Santiago de Compostela.
A Rhilbert pelos momentos felizes que tivemos.
A Thalita, pelo apoio neste momento tão complicado de conclusão de curso, muito
obrigada pela cumplicidade.
Ao meu anjo da guarda e amigo de todas as horas difíceis Joaquim. Por estar sempre
ao meu lado e por me fazer acreditar que nossa amizade é verdadeira.
A minha amiga Nohara, por compartilharmos nossos clicks.
A minha amiga Caíla, por me permitir entender como é uma "mulher alterada". Que
a nossa amizade perdure por muito tempo.
A Caroline, pelo apoio e consideração.
A Débora, pelos anos e anos de admiração e reciprocidade.
A Priscilla, que mesmo distante se faz presente.
A minha prima querida Steph.
E, por fim, a todos aqueles que contribuíram para que eu alcançasse meus objetivos.
MUITO OBRIGADA!
H(ORAS)
Horas
Sientes.
Quieres
Sentir.
Horas que
No pasan.
Oras
Para vivir.
(DAYANNA LINS)
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo mostrar o posicionamento das mulheres diante da sociedade
através das personagens da escritora Maitena. Interpretar-se-ão algumas tirinhas que
pertencem ao livro Mujeres Alteradas. A partir de um olhar consciente, a escritora enfatiza as
características e posturas das suas personagens, apontando o humor como traço marcante em
quase todas as tirinhas. Inicia-se com a apresentação da escritora e, ao mesmo tempo, como
surgiram as tirinhas. Encontrar-se-ão perguntas muitas vezes ocultas, através do humor, algo
que também representa dúvida e certezas em diferentes pontos de vista. Maitena pretende
mostrar a realidade aos leitores. Os quadrinhos humorísticos abordam as relações entre
homens e mulheres, e objetiva destacar a fala das mulheres. Os capítulos seguintes, centrar-
se-ão na reflexão da maneira disfarçada da vida das mulheres atuais, descrevendo o universo
feminino. Ao mesmo tempo, mostra através da interpretação a criação literária de várias
personagens e suas fases. Abordando assuntos contemporâneos que servem para mostrar as
situações do cotidiano das mulheres.
Palavras chaves: Mulheres; Realidade; Humor.
RESUMEN
Este trabajo tiene el objetivo de mostrar el posicionamiento de las mujeres ante la sociedad a
través de los personajes de la escritora Maitena. Se interpretarán algunas tiritas cómicas que
pertenecen al libro “Mujeres Alteradas”. A partir de una visión consciente, esta autora
enfatiza las características y las posturas de sus personajes, destacando el humor por su rasgo
visible en casi todas las tiritas. Se inicia con una presentación de la escritora y, al mismo
tiempo, como surgieron las tiritas. Se buscarán preguntas muchas veces ocultas, a través del
humor, algo que también representa duda y certezas en distintos puntos de vista. Maitena
pretende exponer la realidad a los lectores. Los cómics tratan de las convivencias entre
hombres y mujeres, y se objetiva destacar el habla de la figura femenina. Los capítulos
siguientes, se reflexionará sobre la manera de disfrazar la vida de las mujeres actuales,
describiendo el universo femenino. Al mismo tiempo, muestra a través de la interpretación de
la creación literaria de varios personajes y sus fases. Tratando, por fin, asuntos
contemporáneos que sirven para mostrar que las situaciones del cotidiano de las mujeres.
CLAVE: Mujeres; Realidad; Humor.
TIRINHAS
Tirinha 1 ...................................................................................................................................30
Tirinha 2 ...................................................................................................................................33
Tirinha 3 ...................................................................................................................................36
Tirinha 4 ..................................................................................................................................39
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................11
CAPITULO 1: MAITENA....................................................................................................12
1.1 Vida e Obra de Maitena...................................................................................................12
1.2 As Histórias em Quadrinhos de Maitena........................................................................14
1.3 O gênero: Histórias em Quadrinhos................................................................................17
CAPÍTULO 2: A PROBLEMÁTICA FEMININA..............................................................20
2.1 Gritos denunciativos ........................................................................................................20
2.2 Humor ou não? .................................................................................................................25
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DAS TIRINHAS DE MAITENA ............................................28
3.1 A descaracterização das personagens de maitena .........................................................28
3.2 Caracterização da tirinha 1: Dime qué edad tienes y te diré qué esperas de un hombre
………………………………………………………………………………………………...30
3.3 Caracterização da tirinha 2: Algunas diferencias entre los príncipes azules y lo hombres
………………………………...……………………………………........................................33
3.4 Caracterização da tirinha 3: ¡Las mujeres son tan hermosas...!......….........................36
3.5 Caracterização da tirinha 4: Lo lindo de las vacaciones es descansar...........................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA........................................................................................44
11
INTRODUÇÃO
Na nossa sociedade, durante muito tempo, as mulheres sofreram e ainda sofrem com
a submissão ao homem. Ainda considerada como sexo frágil, apesar de todas as lutas em
busca de uma igualdade entre os sexos. No entanto, aos poucos, a mulher vem adquirindo
espaço na sociedade, de modo que grande parte de pessoas bem sucedidas são de mulheres,
fato que rompe um pouco com a ideologia dominante do machismo.
Neste trabalho, pretendemos estudar as tiras cômicas da autora argentina Maitena, na
obra Mulheres Alteradas, que sugerem uma visão da mulher e sua posição na sociedade,
também sugerem a ironia como um aspecto cômico para revelar a rotina e as dificuldades da
mulher atual que ainda sofre com a submissão ao homem. Analisaremos as tirinhas da
escritora argentina, enfatizando a visão que se tem da mulher através da análise das falas das
personagens e da leitura das imagens.
Como poderemos observar, ao longo do nosso trabalho, autores como Penna (2010)
revelam que Maitena compartilha das dores enfrentadas pelas mulheres na sociedade, que é
controlada pelos homens. Logo, pretendemos mostrar a maneira como a mulher subordina-se
diante do poder masculino.
Nosso estudo começa com o capítulo 1, em que relatamos alguns aspectos
relacionados sobre a biografia da autora e, também, a influência de seus textos para o universo
feminino. Depois, no capítulo 2, como meio de argumentar as ideias que são expressas nas
tiras cômicas, resgatamos um pouco dos ideais das manifestações feministas e nos
concentramos em seguida na importância desta temática, para refletirmos quanto ao papel que
a mulher exerce na sociedade. Apresentaremos algumas considerações sobre o humor e a
ironia, que são características das tirinhas de Maitena.
No capítulo 4, produzimos uma análise de algumas tiras do primeiro, segundo e
quinto capítulo do livro Mulheres Alteradas, de modo que selecionamos as tirinhas que mais
se destacam pelo conteúdo específico das características dos sofrimentos e situações que
mostram a “verdadeira” mulher dos dias atuais. Selecionamos as tirinhas e as temáticas da
seguinte maneira: 1ª tirinha representando as mulheres em diferentes etapas da vida; 2ª
tirinha que revela a eterna busca da mulher pelo amor e homem ideais; 3ª tirinha relata a
batalha feminina, para enquadrar-se aos padrões de beleza; e, por fim, a 4ª tirinha sugere a
exaustiva jornada cotidiana da mulher, mesmo em dias de lazer.
12
CAPÍTULO 1: MAITENA
ESTOU ACOSTUMADA A NÃO SER ENTENDIDA. NO MEU TRABALHO EU RIO DO QUE ME FAZ
CHORAR (MAITENA)
Este capítulo tem como objetivo apresentar a autora de Mulheres Alteradas e,
também, mostrar de que forma surgiram seus interesses em construir histórias em quadrinhos.
Em seguida, apresentam-se as tirinhas nas quais a autora exibe o universo feminino, e busca
caracterizar os personagens de suas histórias em quadrinhos. E, por fim, apresentar as
definições sobre o gênero Histórias em Quadrinhos.
1.1 Vida e Obra de Maitena
Maitena Inés Burundarena é uma escritora e cartunista argentina. Descendente de
uma família de classe média, nascida em 1 de maio de 1962, na cidade de Buenos Aires, é a
sexta de sete irmãos.
Desde muito jovem, já manifestava tendências para desenhar. Estimulada pela mãe
arquiteta, começou a dar seus primeiros passos como cartunista. A escritora Maitena e sua
mãe tiveram uma relação conturbada, passaram a vida toda se desentendendo. Mesmo assim,
a cartunista afirmou em entrevista dada à Revista TPM (2013) “Ah, minha mãe. Toda a vida
me desentendendo com ela e mesmo assim é minha musa mais recorrente!” a mãe era sua
musa e a ela dedicou seus livros Mulheres Alteradas.
Trabalhou nos anos 80 como ilustradora gráfica para diários, textos escolares e
revistas. Simultaneamente, escrevia para tirinhas eróticas, através da revista Para Ti, uma
tradicional revista feminina, que a cartunista publicou suas primeiras tirinhas. Como afirma
Penna (2010, p 19), “Foi por meio da revista Para Ti, periódico consolidado no segmento
feminino argentino, que Maitena publicou suas primeiras tirinhas semanais, tentando desafiar
e reverter o quadro da situação patriarcal dominante.” O sucesso foi imediato, em seguida
13
surgiram comentários de mulheres de todas as idades que se identificavam naquelas
personagens. Como afirma a própria Maitena:
A medida que iba recibiendo elogios, guiños cómplices y buena onda en
general, me fui animando a contar cada vez más cosas y a ir cada vez más
lejos. La intimidad con las lectoras me hacía sentir muy cómoda y sentía que
podía contar cualquier cosa sin ningún pudor. Fui ganando confianza y me
animé a todo. (MAITENA, 2012, p 7)
Os quadrinhos descrevem o que acontecem em tempo real a uma pessoa do sexo
feminino, são estes os temas em que se baseiam suas narrativas. As mulheres lutam
desesperadamente, para manter o equilíbrio entre o trabalho e sua vida privada. E estas
também representam as lutas das personagens de Maitena, as quais retratam de maneira
singular o que acontece a uma mulher, seja ela de qualquer parte do mundo.
Quino, o criador de Mafalda, deixa claro no prefácio de Mulheres Alteradas 1,
porque essa argentina conquistou muitos fãs por diversos países: “Espontânea e direta,
Maitena não pretende ser um ‘espelho que reflita a realidade’. Ao contrário: ela agarra a
realidade, com espelho e tudo, e atira em nossa cabeça”.(QUINO, 2003, p 3). Com a junção
de tirinhas públicas pela revista Para ti, surgiu na década de 90 o livro Mulheres Alteradas.
A partir do que já se mencionou, manual nenhum daria conta de concretizar o que Maitena
realizou. Comicamente, denunciavam as séries de cobranças impostas às mulheres pela
sociedade. Mulheres Alteradas é uma obra que possui cinco volumes que foram publicados
entre 2001 e 2003. Como consequência, foram publicados mais dois livros intitulados Curvas
perigosas, em 2004 e 2005. Entre 2006 e 2008, mais três volumes foram lançados, desta vez
intitulados Mulheres superadas, que traziam temas distintos aos que eram abordados em
Mulheres alteradas. Segundo Maitena:
Yo siempre sostuve que una mujer se alteraba cuando tenía muchos frentes
de combate abiertos al mismo tiempo y se la pasaba batallando para que le
saliera todo bien. Mujeres Alteradas me cambió tanto la vida que dejé de
estar alterada. De repente tuve éxito profesional y reconocimiento personal,
y dejé de tener problemas de dinero, de vivienda, de autoestima, y ¡hasta de
ropa!, y encima me enamoré del hombre de mi vida (MAITENA, 2012, p.
9).
14
A escritora sabe lidar com os dilemas femininos como ninguém. Seus quadrinhos
desvendam os dramas femininos: a relação com seus companheiros, o medo da solidão,
convivência com seus filhos, a busca pelo corpo considerado padrão de beleza, a luta contra a
celulite, as crises da meia idade, todos estes temas fazem com que os livros da cartunista
sejam considerados um fenômeno no mercado mundial.
Ao longo de sua carreia, a portenha conquistou com toda sua irreverência fãs por
mais de quarenta países. No Brasil, os quadrinhos de Maitena ganharam espaço nas páginas
da revista CLAUDIA, entre 2003 e 2008. Aqui, os livros Mulheres Alteradas venderam
mais de 400 mil cópias, sendo inclusive a primeira nação a exibir uma adaptação da obra de
“Mulheres Alteradas” para o teatro, como se pode observar com a peça Mulheres Alteradas,
textos de Andrea Altarolli e a colaboração de Bernardo Jablonski.
Ultimamente, a autora dedicou-se a escrever um romance autobiográfico, Segredos
de Menina, o qual trata das aventuras e angústias de uma adolescente argentina no período do
governo peronista. Em entrevista dada a Colombo (2013), Maitena afirma que:
O livro nasceu da necessidade de fazer algo diferente. Decidi que não ia
mais trabalhar com nada que tivesse um 'deadline'1. Afinal, foram mais de 13
anos escrevendo e desenhando piadas de mulheres todos os dias, para vários
jornais do mundo. Fiquei esgotada e pensei: 'já ganhei muito dinheiro, não
preciso mais (COLOMBO, 2013, p. 1)
Ainda nos dias atuais, embora tenha deixado de lado os seus quadrinhos e se
dedicado à literatura, a escritora prossegue com seu trabalho, para que sua obra torne-se um
instrumento poderoso para desvendar o cotidiano das mulheres.
No próximo capítulo, abordaremos uma breve reflexão histórica sobre as questões
relacionadas à problemática feminina, sendo abordados os recursos da ironia e do humor que
estão presentes nas tirinhas de Maitena.
1 Prazo de entrega
15
1.2 As Histórias em Quadrinhos de Maitena
Maitena quer mostrar através das suas tirinhas a pressão imposta pela sociedade à
mulher. As tirinhas abordam problemas comuns quanto à questão profissional e pessoal.
Segundo Penna (2010):
Cansada dos padrões de ‘mulher perfeita’ ditado pela sociedade machista de
sua época, Maitena Inés Burundarena decide quebrar o silêncio e a
submissão das mulheres perante o gênero masculino dando início às suas
tirinhas cômicas e irreverentes sobre a hegemonia masculina que assolava os
anos 1980 e 1990 (PENNA, 2010, p 18).
Os problemas femininos são retratados de maneira cômica, com contratempos que
acontecem na vida de qualquer mulher que queira se enquadrar aos padrões sociais. Suas
personagens não têm superpoderes, são comuns e autênticas. São mulheres de idades e
condições sociais diferentes, donas de casa, solteiras que querem casar, casadas que querem
separar-se, mães que sofrem para educar os filhos, mães solteiras, mulheres de meia idade que
querem encontrar um companheiro, divorciadas, adolescentes que sofrem de crises
existenciais, mulheres com problemas hormonais, aborrecidas com celulites, gordas, magras e
esposas cansadas das rotinas.
Maitena justifica alguns dos comportamentos de suas personagens comparando as
condutas que as separam dos homens. Em entrevista realizada com Danielle Chevrand, a
autora relata:
Fazemos muitas coisas ao mesmo tempo e queremos fazer tudo muito bem:
sermos boas profissionais, boas donas de casa, boas amantes, não ter
celulites. E é difícil fazer tudo perfeito. Acho que a alteração da mulher é
superficial. Parecemos desequilibradas porque choramos, porque
expressamos mais nossos sentimentos. Os homens não. Eles têm a aparência
de ser equilibrados. O problema e que eles guardam tudo que nós
externamos e acabam tendo uma úlcera (CHEVRAND, 2003, p 1).
Os maridos, filhos, irmãos e amigos, profissionais de belezas são meros figurantes
nesse universo das tirinhas da portenha. A personagem mulher é o foco das tirinhas de
16
Maitena. De acordo com Penna (2010), “Suas personagens são mulheres ocidentais,
modernas, independentes, de classe média alta e das mais variadas idades, que infelizmente
ainda vivem dilemas decorrentes do mundo machista e patriarcal” (PENNA, 2010, p 20). Por
isso, as mulheres são as protagonistas e os homens são descritos como personagens
secundários neste cenário.
Com relação ainda aos relacionamentos com o sexo oposto, a figura masculina é
culpada, muitas vezes, pelas inquietações femininas. As personagens acabam expondo os
pensamentos mais sigilosos, como se estivem confessando suas inconformidades, cujas
confissões acabam influenciando aos leitores a perceberem o mundo real de uma forma
diferente, sobre esta percepção ressalta a autora Penna a seguir.
De acordo com Réis (apud PENNA, 2010):
Maitena satiriza, em suas tirinhas, o cotidiano da mulher; por causa disso,
alguns dos seus trabalhos podem promover uma subversão social, já que são
passíveis de identificação e de projeção por parte dos leitores, o que pode
levá-los a fazerem uma crítica sobre sua realidade (RÉIS apud PENNA,
2010, p 20).
Em termos gerais, as tirinhas de Maitena dizem respeito a situações cotidianas das
mulheres, geralmente relacionadas aos seus comportamentos (comparando-as aos homens), e
as mudanças que sofreram nas últimas décadas. Como dito anteriormente, essas personagens
representam uma mulher enquadrada em um universo machista/patriarcal, no qual seus
assuntos favoritos são: moda, celulites, tpm, corpo, amores imperfeitos, maridos, namorados,
filhos e trabalhos. Tais evoluções são questionadas em alguns quadrinhos, assim como
também são retratados os problemas referentes a casamento, filhos, divórcios e separações,
etc. Para argumentar tal ideia, citamos os dizeres da escritora Rosa Monteiro (2008), ao
afirmar que:
O mais assombroso, contudo, é comprovar que sempre houve mulheres
capazes de sobrepor-se às mais penosas circunstâncias; mulheres criadoras,
guerreiras, aventureiras, políticas, cientistas, que tiveram a habilidade e a
coragem de escapar, quem sabe como, a destinos tão estreitos quanto um
túmulo (MONTERO, 2008, p.17).
17
Ao observar este fragmento, percebemos que as personagens de Mulheres Alteradas
expressam essas categorias de mulheres guerreiras, fortes e que, acima de tudo, souberam se
adequar, mas não se conformaram às exigências que a sociedade lhes cobra, que se verificam
abaixo no fragmento. De tal maneira, o progresso das mulheres é incontestável, mas as
desigualdades ainda são evidentes. Conforme salienta Reis (2010):
Ainda nos dias atuais, a autora trata de grandes e pequenas preocupações
femininas que perpassam diversas situações como a dificuldade de conciliar
vida profissional e vida doméstica, o dilema feminino de sempre tentar se
enquadrar nos padrões de beleza (e moda) ditados pela sociedade, a ausência
de um relacionamento estável e duradouro até problemas menores como
ciúmes (seja do sexo oposto, seja das amigas) e dilemas interiores entre a
tradição repassada pela família e a modernidade (REIS apud PENNA, 2010,
p 19).
Em suma, as historinhas que a referida obra apresenta são relevantes para expressar a
situação social e política que o sexo feminino enfrenta na sociedade atual, cujos problemas
são originários desde décadas passadas.
1.3 O gênero: Histórias em Quadrinhos
De acordo com Guimarães (2003), História em Quadrinhos (HQS) são a forma de
expressão artística que tenta representar um movimento através do registro de imagens
estáticas. O autor afirma que as HQs são:
(...) toda produção humana, ao longo de toda sua História, que tenha tentado
narrar um evento através do registro de imagens, não importando se esta
tentativa foi feita numa parede de caverna há milhares de anos, numa
tapeçaria, ou mesmo numa única tela pintada. Não se restringe, nesta
caracterização, o tipo de superfície empregado, o material usado para o
registro, nem o grau de tecnologia disponível. Engloba manifestações na
área da Pintura, Fotografia, principalmente a fotonovela, do Desenho de
Humor como a charge, o cartum, e sob certos aspectos, a caricatura, e até
algumas manifestações da Escrita, como as primeiras formas de ideografia,
quando o nível de abstração era baixo e ainda não havia uma
correspondência entre símbolos escritos e os sons das palavras
(GUIMARÃES, 2003, p. 6).
18
Pelo que se nota através da citação acima, as HQS são a representação de fatos e
momentos do estado humano com o intuito de mostrar a real situação humana no decorrer de
sua trajetória histórica de uma maneira descontraída, não como forma de se impor ao
formalismo, mas como modo de sintetizar as ideologias expressas. Dessa forma, as histórias
em quadrinhos narram os acontecimentos através dos recursos visuais e atualmente
representam ainda a reprodução correspondente a nossa realidade. Sobre este tema, o autor
Aguiar (2004) relata a respeito da importância das HQs para a sociedade:
Isso significa que a comunicação humana não se dá apenas de forma
horizontal, entre os pares próximos ou distantes de um mesmo momento
histórico, mas acontece verticalmente, entre o sujeito e o passado, com o
qual ele entra em contato através dos registros deixados por homens de
outros tempos, sendo-lhe possível, por essas vias, projetar o futuro
(AGUIAR, 2004, p. 23).
Logo, a evolução de simples imagens para uma ilustração dinâmica, ou seja, um
conjunto de figuras com interpretações de personagens, ou mesmo a demonstração de fatos ou
ações, já é um avanço do gênero para a expressão social.
Desta maneira, pode-se observar que: “Se precisamos estar em constante contato
com os outros, é evidente que a comunicação é essencial para a vida humana e organização
social” (AGUIAR, 2004, p. 24). Além de ser uma expressão artística da sociedade, servia
também antigamente como um sistema de comunicação e produção cultural. Conforme Silva
(2002), “Em meio às notícias sérias dos jornais, tinha-se também o direito a momentos de
humor e descontração, proporcionados pelas tiras diárias. Algo que se observa, até os nossos
dias, nos jornais de todo mundo” (p 18). As HQs ficaram à margem de quaisquer
considerações literárias, eram tratadas como sub-literaturas, como se fossem uma espécie de
literatura “inútil”, “ignorante”, ou seja, um bom passatempo nos momentos de ócio . Destaca-
se a seguir a ideia de Silva (2008):
Durante muito tempo, as tiras em quadrinhos, de maneira especial, foram
vistas como objeto de leitura pernicioso e alienante por diversos intelectuais,
portanto banido da esfera educativa. Geralmente, a leitura deste gênero se
dava no dia-a-dia de maneira espontânea e intuitiva, por meio de jornais e
19
revistas em quadrinhos, no espaço privado. O leitor se divertia com as piadas
encontradas nas tiras (SILVA, 2008, 158).
Pretendemos demonstrar que estes quadrinhos não são apenas historinhas, para ser
lidas nos momentos de tédio, mas podem revelar ideologias, críticas, dentre outros.
Conduzindo também à percepção da maneira como estes são produzidos, principalmente
observando que suas histórias são decorrentes dos reflexos da sociedade.
Percebe-se, portanto, que a nova forma de linguagem que surgia, criava
outros significados, novos valores que possuíam intensa relação com a
cultura da época. A linguagem dos quadrinhos, provavelmente de forma
inconsciente ao leitor, estava criando sensações de profunda significação
social e cultural (Revista FAMECOS, Nº 5, p. 3).
As HQs levam o leitor a interpretar o que está implícito e analisar o que está
explicito minuciosamente. Através do interesse do leitor, permite seu ritmo próprio de leitura
e sua interpretação. Os leitores utilizam da imaginação para dar vida aos personagens e criar
novas sensações. Logo, percebemos a importância das tirinhas para a sociedade. Contudo, as
tirinhas de Maitena ressaltam as in (conformidades) das personagens femininas, os textos
estão cheios de humor disfarçando, muitas vezes, as críticas fortes à realidade das mulheres.
No próximo capítulo, abordaremos uma breve reflexão histórica sobre as questões
relacionadas à problemática feminina, sendo abordados os recursos da ironia e do humor que
estão presentes nas tirinhas de Maitena.
20
CAPÍTULO 2: A PROBLEMÁTICA FEMININA
O QUE SOMOS É O QUE FIZEMOS DO QUE FIZERAM DE NÓS.
(JEAN PAUL SARTRE)
Neste capítulo, serão apresentados os conceitos sobre temáticas femininas, além da
discussão de alguns aspectos que cercam o universo feminino, o trajeto histórico e social que
foi traçado e vivido pelas mulheres. Nosso objetivo é analisar o humor e a ironia que se
apresentam nas tirinhas da cartunista Maitena.
2.1 Gritos denunciativos
Para discutir alguns aspectos sobre a problemática feminina é indispensável
descrever o panorama de como tem sido a vida das mulheres na sociedade, no sentido de
buscar entender seus papéis na história da humanidade.
Como podemos observar ao longo da história, a mulher tem lutado contra a
desigualdade e tenta assumir um papel importante na sociedade, conquistando diferentes
espaços e ocupando posições variadas no mercado de trabalho. Segundo Montero (2008):
Filhos, como ainda somos, das ideias de perfectibilidades e de progresso
surgidas nos séculos XVIII e XIX, tendemos a acreditar que a sociedade em
que vivemos hoje é em tudo melhor que a de ontem, mas pior que a de
amanhã, como se as coisas se resolvessem inexoravelmente com o tempo – o
equívoco, aliás, tão óbvio que não vale a pena discuti-lo. E assim, no caso da
mulher, costumamos pensar que a igualdade foi sendo pouco a pouco
conquistada, até chegar o máximo de hoje, coisa que não está totalmente
correta (MONTERO, 2008, p 12).
Apesar das conquistas que a mulher alcançou, observamos que não houve uma total
satisfação dos resultados das forças de manifestação, assim como se pode ver no fragmento
citado anteriormente da autora Montero. Logo, é evidente que na sociedade existe resquício
de preconceito e divergências sociais referentes à posição do sexo feminino que atualmente
sofre com a desigualdade social. Mendonça (1999) nos recorda que:
21
(...) que essa ‘passividade’, atribuída à mulher, vem reforçada pela repetida
teoria de que o seu órgão sexual feminino estaria ‘embutido’; a mulher,
então, será apreciada e admirada como um objeto, principalmente porque
‘seu organismo representa o horror de não ter nada para ver’.
(MENDONÇA, 1999, p 54).
Nessa teoria, a passividade feminina estaria representada pelo órgão sexual. Este
conceito expressa que a mulher é considerada “sexo frágil” e o homem “sexo dominante”.
Para compreender a relação entre corpo e mente, trazemos a concepção de Elisabeth Grosz
(2000), quando esta afirma que: “O mais relevante aqui é a correlação e associação da
oposição mente/corpo com a oposição entre macho e fêmea, na qual homem mente, mulher e
corpo, alinham-se nas representações” (GROSZ, 2000, p 49). Logo, ao representar o homem
pela mente e a mulher pelo corpo tem-se a ideia de uma relação de subordinação da mulher ao
homem.
Para Montero (2008), “Todas têm em comum uma tradição, uma fuga, uma
conquista: traíram as expectativas que a sociedade depositava nelas, fugiram de seus limitados
destinos femininos, conquistaram a liberdade pessoal” (MONTERO, 2008, p 27). Também,
nesta perspectiva, Louro (2000) explica o porquê de existir a relação desigual entre homens e
mulheres:
O emergente discurso sobre a diferença sexual permitia um amplo leque de
respostas sociais e políticas diferentes e, frequentemente, contraditórias. Mas
no centro das definições emergentes estavam nossas relações culturais e
políticas, que eram o produto de mudanças no equilíbrio de poder entre
homens e mulheres. A nova percepção da sexualidade feminina e da biologia
reprodutiva tinha sito absolutamente central para o moderno discurso social
e político, a diferença e a divisão, ao invés da similidade e da
complementaridade (LOURO, 2000, p 41).
Baseando-se neste preceito, a finalidade era que a mulher fosse criada com
limitações, porque não se enquadrava aos padrões artificialmente construídos pela sociedade.
Neste cenário de submissão, a mulher não tinha autonomia de vida, assim se pode verificar na
seguinte concepção de Kamita (2004):
22
Seus argumentos circunscrevem aspectos relacionados à extrema vinculação
feminina ao papel de mãe e esposa, o que pressupunha que não houvesse
necessidade de estudar, pois imaginava-se que para cumprir esses papéis a
mulher possuísse dons que faziam parte de sua natureza feminina. Em um
discurso mesclado de afirmações pseudocientíficas na superfície e intenso
preconceito no fundo, o sexo frágil era mantido bem distante da pena
(KAMITA, 2004, p 282).
Segundo Montero (2008), o fato de ter havido no passado mulheres “valentes e
anônimas, é inegável, (...). Precisamente, e segundo as últimas teorias acadêmicas, talvez os
textos anônimos da história da literatura tenham saído, em sua maioria, de penas femininas.”
(MONTERO, 2008, p 19). Muitas escritoras não assinavam os seus textos, possivelmente por
medo ou vergonha de assumir os escritos. Contudo, Kamita (2004) ressalta que:
O fato de os textos escritos por mulheres terem pouca visibilidade, passa a
impressão primeira de que se de fato houve as que escreveram, sua
contribuição literária não ficou à altura de trabalhos de autoria masculina,
uma vez que raramente figuraram em livros de história literária ou antologias
(KAMITA, 2004, p 285).
Os conflitos retratados entre os gêneros masculino e feminino expressam as
divergências entre os sexos e a desigualdade entre eles. Para Mendonça (1999):
As diferenças têm que ser observadas sob uma perspectiva de equivalência
quando um se afirma junto a outro a partir de sua identidade própria: sua
voz, suas ideias, suas vontades e, até mesmo, seu corpo; na busca constante
de uma situação de equilíbrio. (MENDONÇA, 1999, p. 56).
Em outras palavras, as possibilidades, por outro lado, de equilíbrio não existiam,
sobretudo para as transformações significativas, de modo que as desigualdades devem ser
consideradas desde seu ponto de interseção, para que haja um equilíbrio ideal na valorização
da identidade. De acordo com Macedo (2005):
A crítica feminista veio assim reclamar uma dimensão política para a luta
das mulheres, bem como para a representação do feminismo e da diferença
sexual na e através da linguagem, local privilegiado da construção e
23
representação da identidade (...) afinal, o que interessa é o ser humano,
abstractamente considerado (MACEDO, 2005, p 88).
Os movimentos feministas contribuíram com suas revoltas contra a dependência em
relação ao homem. Para compreender como o feminismo colaborou para a história da
literatura feminina, Kamita (2004) relata que:
O feminismo contribuiu para a reavaliação de antigos conceitos, estabeleceu
novos posicionamentos em relação aos estereótipos relativos aos temas e
gêneros literários, assim como lançou luz às sombras das convenções da
escrita produzida por mulheres, que passaram a sujeitos da história e da
criação literária (KAMITA, 2004, p 284)
A escritora Rodrigues apresenta a definição de Judith P. Butlher, e explora as
possibilidades do equilíbrio entre o feminismo e humanismo. Consideramos que “Butler
estaria tentando deslocar o feminismo do campo do humanismo, como prática política que
pressupõe o sujeito como identidade fixa, para algo que deixe em aberto a questão da
identidade (...).” (RODRIGUES, 2005, p 181). De acordo com Butler (apud RODRIGUES,
2005), a escritora põe em questão os conceitos sobre a política feminista e sua definição de
identidade afirmando que:
Se as identidades deixassem de ser fixas como premissas de um silogismo
político, e se a política não fosse mais compreendida como um conjunto de
práticas derivadas dos supostos interesses de sujeitos prontos, uma nova
configuração política surgiria certamente das ruínas da antiga (BUTLER
apud RODRIGUES, 2005, p 181)
O que Butler pretendia explanar era a ideia de igualdade, partindo das conquistas do
feminismo, do qual surgiria uma nova concepção do “feminismo” tendo como base uma nova
composição política.
24
Colocando em prática esta nova compreensão que a escritora Butler2 expressa sobre
o feminismo, destacamos os argumentos de Maitena quando questionada sobre as
características de suas tirinhas. Segundo Réis, “Maitena não é considerada feminista, pois seu
humor ácido não escolhe o gênero – tanto homens como mulheres são igualmente criticados
por ela.” (RÉIS apud PENNA, 2010, p 20). O humor com um tom irônico mostra as falhas
femininas com total liberdade. De tal maneira que nas tirinhas de Maitena não existe um
elogio sincero, sempre encontramos uma crítica à realidade das mulheres. A escritora afirma
não ser feminista e, desta forma, ressaltamos as suas justificativas em entrevista dada a
Machado (2003):
Não acredito que meu trabalho tenha nada de feminista. Não faço defesa de
gênero. Pelo contrário. Jogo muito duro com as mulheres. Mesmo os homens
inteligentes não me consideram feminista. Existem homens inteligentes e
sensíveis, inclusive alguns que não são gays. É importante dizer que não
faço trabalho pensando nas mulheres. Busco o encontro, e não o
desencontro, o sexismo (MACHADO, 2003, p 1).
A cartunista, quando questionada sobre suas tirinhas e a relação que tem com o
feminismo, afirma que não é o aspecto sexista, pois seu trabalho é pensado no mundo
feminino descrevendo as mulheres, não em prol das lutas feministas. Também em entrevista
dada a Cortêz (2013), Maitena destaca algumas questões importantes para esta discussão:
Dizer que sou feminista não é “cool” hoje como era antes. Mas o feminismo
é o movimento político que maiores mudanças tem gerado no último século.
É muito fácil para uma mulher de 25 anos que estuda, trabalha, vota, dirige,
tem uma máquina de lavar roupa e toma pílula anticoncepcional dizer que o
feminismo é antiquado. Mas se olharmos nas classes mais baixas da
sociedade, ainda é necessário um enorme trabalho para libertar as mulheres
da sujeição à cultura machista. (CORTÊZ, 2013, p 1)
2 RODRIGUES, Carla. Butler e a desconstrução do gênero. Revista Estudos Feministas Vol. 13. N 1
Florianópolis Jan./Apr. 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.p hp?pid=S0104-
026X2005000100012&script=sci_arttext. Acesso em 10/02/2014.
25
Vale destacar que é relevante considerar a visão que a escritora tem sobre o
feminismo. As representações das tirinhas de Maiteina não se baseiam nos conceitos
feministas que expressam a luta contra as desigualdades entre os sexos. A cartunista, por
outro lado, acredita que houve mudanças, mas suas charges mostram as alterações femininas,
os descontroles, muitas excessivas vontades de se liberar dos padrões machistas. Ainda em
entrevista a Machado (2003), a cartunista afirma que é incontestável a importância do
feminismo, pois este:
É um termo muito desgastado e eu não sou nada ativista, reconheço que se
não fosse o feminismo estaríamos todas passando roupas no quartinho. Por
isso, me irrita ouvir meninas de 20 anos chamando o feminismo de
antiguidade. (MACHADO, 2003, p 1)
Ao contrário das ideias feministas ou do “novo” conceito feminino defendido por
Butler, os quadrinhos de Maitena descrevem sobre alegrias e tristezas das mulheres. Quando
cria suas tirinhas, a escritora empresta sua “voz” para modular seus personagens. Sua escrita é
como a descrita por Brandão (2004), uma vez que “A escrita é, então, uma ordenação em que
os fatos ganham novas significações, eles se ressignificam e é por esse processo que o sujeito
se constitui, pela palavra, na força da letra.” (BRANCO & BRANDÃO, 2004, p 79). O poder
da palavra deixa subentendido à forma de apresentação das personagens da portenha, pois
suas vozes se apresentavam por meio da manifestação humorística e, muitas vezes, de
maneira irônica, também a relação de intimidade entre homens e mulheres.
2.2 Humor ou não?
No universo das HQs de Maitena, a linguagem humorística é um instrumento de
grande relevância para a compreensão das falas das personagens, transmitindo atitudes e
valores que, muitas vezes, se apresentam disfarçando a ironia presente nas tirinhas da
cartunista, reforçando, assim, suas inquietações e deixando subentendido a submissão da
mulher e a representação do poder masculino. Diante do exposto, justificamos conforme
Lucena (2012) que:
26
Por trata-se de discurso humorístico, muitos conflitos silenciados em outros
lugares do cotidiano são expostos e os personagens podem extravasar um
discurso quase “proibido” socialmente. A análise dos textos verbais,
associada às imagens dos desenhos, revela a alma feminina (LUCENA,
2012, p 2).
As relações entre os gêneros e a privacidade entre homens e mulheres são reveladas
de forma livre e cômica. Neste sentido, a cartunista expõe os modelos de condutas da
sociedade.
Em meio às relações de desequilíbrio, a escritora surge com o termo Alteradas,
referindo-se as suas personagens femininas e consequentemente ao mundo feminino. Este
termo evidencia o meio, as tensões, a relação de poder e as divergências estabelecidas entre os
gêneros e a maneira com que as mulheres enfrentam estes conflitos.
Em realidade, o termo alterada critica as condições femininas e, em circunstâncias,
as mulheres são consideradas “desequilibradas”. Considera-se que as expressões humorísticas
da escritora representem a ironia. Por trás destas falas irreverentes estão outros ideais e uma
visão crítica sobre a subordinação feminina. Desta forma, percebemos, através do que diz
Alberti (2002) “(...) aos que conferem ao riso, ao humor, à ironia um potencial de redenção
para o pensamento, como se fossem hoje as únicas vias ainda capazes de nos levar à ‘verdade’
(...)” (ALBERTI, 2002, p 8). Portanto, a finalidade da cartunista é elaborar uma narrativa
humorística, trazendo a ironia para que sejam evidenciadas as inquietações dos pensamentos
de suas personagens alteradas. Ainda com a perspectiva de Alberti (2002), compartilhamos da
ideia de que:
O riso e o cômico são literalmente indispensáveis para o conhecimento do
mundo e para a apreensão da realidade plena. Sua positivação é clara: o nada
ao qual o riso nos dá acesso encerra uma verdade infinita e profunda, em
oposição ao mundo racional e finito da ordem estabelecida (ALBERTI,
2002, p 12).
Assim, é possível dizer que o cômico e o mundo real permitem expandir a
interpretação sobre a realidade, com humor crítico e aparentemente indefeso, as HQs de
Maitena usam o riso para expor todas as verdades sobre as mulheres. A partir da análise de
27
algumas tirinhas, o leitor pode reconhecer a presença da ironia, caso contrário, será quase
impossível a construção do verdadeiro sentido do texto. Na visão de Berrendonner (apud
CAVENAGHI, 2011), a ironia se apresenta como a não correspondência entre o discurso e a
prática, ou seja, aquilo que se diz e aquilo que se faz. Desta forma, a ironia pode ser entendida
como sendo:
(...) a figura que leva a entender o contrário do que se diz reportando-se à
Retórica para explicar que a ironia é uma contradição lógica, um
procedimento que superpõe a um valor argumentativo dado o valor contrário
(BERRENDONNER apud CAVENAGHI, 2011, p 6).
Logo, é relevante apontar o objetivo das tirinhas humorísticas de Maitena devido ao
fato de que seu conteúdo crítico pretende despertar a atenção do leitor no que se refere às
relações de instabilidade do cotidiano da sociedade. Como podemos observar a partir das falas
e dos estereótipos sobre as mulheres, analisando os conflitos e contradições presentes nos
HQs da portenha Maitena.
28
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DAS TIRINHAS DE MAITENA
NÃO QUERO TER A TERRÍVEL LIMITAÇÃO DE QUEM VIVE APENAS DO QUE É PASSÍVEL DE FAZER SENTIDO. EU NÃO:
QUERO UMA VERDADE INVENTADA.
CLARICE LISPECTOR
Iniciamos este capítulo com a análise de algumas personagens de Maitena,
evidenciando a caracterização de cada uma delas através das imagens e dos diálogos entre os
participantes das HQs. Desta maneira, buscamos investigar as relações e os conflitos
existentes nos quadrinhos da escritora argentina, enfatizando as suas personagens femininas
analisadas, visando descrever o mundo feminino criado pela autora.
3.1 A descaracterização das personagens de maitena
À medida que começamos a analisar as tirinhas de Maitena, nos deparamos com
temas complexos, por isso, houve a necessidade de questionar sobre o desenvolvimento das
personagens e a necessidade de desmistificar as imagens dessas.
Logo, percebemos a necessidade de discutir sobre alguns conflitos sociais que a
cartunista expõe em seus HQs. Na concepção de Candido, teórico que discute a questão da
personagem na ficção, há uma distinção entre os indivíduos da realidade e os seres de ficção,
de modo que há uma distinção entre indivíduos da vida real e na “vida fictícia”. Como
podemos observar no que diz o autor, ao afirmar que “(...) inicialmente, (...) há afinidades e
diferenças essenciais entre o ser vivo e os entes de ficção, e que as diferenças são tão
importantes quanto as afinidades para criar o sentimento de verdade, que é a
verossimilhança”3. Por este motivo, as HQs de Maitena possuem um caráter muito realístico e
confronta questões sociais pertinentes ao interesse da classe feminina.
As tirinhas da argentina possibilitam que a realidade da ficção seja exposta de
maneira tão peculiar que carrega características que dão às suas personagens um sentido de
verdade. Ainda sobre esta determinada perspectiva, Candido (2012) expressa que:
De fato, dada a circunstância de ser o criador da realidade que apresenta (...)
o artista em geral, domina-a, delimita-a, mostra-a de modo coerente, e nos
comunica esta realidade como um tipo de conhecimento que, em
conseqüência, é muito mais coeso e completo (portanto mais satisfatório) do
que o conhecimento fragmentário ou a falta de conhecimento real que nos
atormenta nas relações com as pessoas (CANDIDO, 2012, p 48).
3 CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. 2ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva. Disponível em <
http://groups.google.com/group/digitalsource. Acesso em 23 de janeiro de 2014.
29
Identificamos as personagens de Maitena como mulheres comuns, argumentadoras,
inquietas, muitas vezes insatisfeitas e desbravadoras. Além disso, são preocupadas em serem
boas esposas, mães dedicadas, conselheiras, avós compreensivas e acima de tudo felizes. Nos
próximos tópicos, buscaremos analisar algumas destas personagens, no intuito de caracterizar
cada uma delas.
3.2 A caracterização da tirinha 1: Dime qué edad tienes y te diré qué esperas de un hombre
Nesta primeira tirinha, analisamos a situação emocional que expressa cada
personagem da HQ de Maitena, de modo que é possível notarmos que há mudanças quanto à
evolução dos interesses femininos. Apresentamos a seguir a transcrição da primeira tirinha de
Maitena.
30
Tirinha 1
(Fonte: MAITENA, 2012, p. 254)
Os conflitos retratados neste primeiro quadrinho são sobre os diferentes objetivos
que as mulheres perseguem nas suas relações amorosas e quais são os interesses, basicamente
relacionados a seus desejos em encontrar o denominado “companheiro ideal”. São tirinhas de
ordem afetiva e cronológica. Esses quadrinhos apresentam o que podemos denominar de a
“evolução dos desejos femininos” que, com o passar do tempo, os sonhos vão mudando. Mas,
o desejo dessas mulheres é em encontrar um homem.
No primeiro quadrinho, podemos notar uma menina de quinze anos, que sugere uma
garota inexperiente e tímida. Nesse caso, a escritora descreve o que anseia uma menina nesta
31
idade e podemos perceber a partir da ideia, que o atributo que a personagem busca no garoto,
ou seja, no seu “tipo ideal”, é a beleza exterior. Logo, estaria satisfeita, uma vez que
adolescentes nessa idade pretendem um “namorado bonito”, para apresentar a sociedade. A
ironia da escritora se dá ao descrever essas adolescentes como sendo imaturas e ingênuas,
porque se preocupam apenas com o que a sociedade lhe impõe. Isto, portanto, revela-se como
uma crítica subentendida aos padrões sociais.
No segundo quadrinho, observamos uma jovem de vinte anos, que esta sendo
caracterizada de modo mais relaxado e com um aspecto descontraído. Nesse caso, a
personagem espera encontrar um jovem divertido. A mulher de vinte e cinco anos, por sua
vez, para os padrões da sociedade não é vista mais como uma garotinha, tampouco é
considerada imatura. Pelo que se observa e se interpreta, deseja encontrar um companheiro
maduro e experiente, que seja inteligente e que saiba conversar sobre temas distintos. Mais
uma vez, podemos observar que a escritora está ironizando as relações entre os gêneros
masculino e feminino, pois podemos considerar que a cartunista caracteriza os homens, de
modo que esses não acompanham, de certa forma, o crescimento intelectual das mulheres.
Na imagem da personagem de trinta anos, percebemos a irritabilidade na imagem,
por estar com os braços cruzados e com a aparência exausta. Relacionamos esta
caracterização ao fato dela já ter “cansado” de procurar o homem ideal e, consequentemente,
por crer que todos os indivíduos sejam iguais. O que esta almeja agora é encontrar um
companheiro que tenha dinheiro. O fato dessa mulher ser caracterizada por quem busca um
homem rico, determina, entre outras coisas, o humor da tirinha. As outras personagens com
idades diferentes procuravam parceiros com as seguintes características: bonito, divertido,
inteligente, no entanto, percebemos que implicitamente existe, neste aspecto, uma ironia. E
essa ironia está no fato de mulheres procurarem companheiros com poder aquisitivo alto.
Com relação à personagem de trinta e cinco anos, caracterizada com o aspecto de
insatisfeita, essa aparece com um cigarro, sugerindo que ela é uma pessoa ansiosa, talvez
porque sempre buscou um companheiro que preenchesse sua vida, mas não o encontrou. A
fisionomia da mulher revela a situação na qual se encontra, pois os homens da sua idade já
estão casados, por isso, busca um homem solteiro. O que em realidade a mulher deseja,
segundo a caracterização realizada através das personagens de Maitena descritas acima, é
encontrar um companheiro que possa ter um relacionamento, não um homem casado que a
tenha como amante.
A personagem que representa uma mulher de quarenta anos aparece sorridente,
usando roupa sofisticada, logo, tal descrição sugere um indício de que ela seja bem sucedida e
32
que esteja em busca não mais de um namorado rico, mas um companheiro apaixonado. A
personagem de quarenta e cinco anos é caracterizada com uma aliança na mão esquerda, mas
que parece estar cansada do seu relacionamento. Essa ideia, podemos perceber ao analisar a
expressão de seu semblante. Possivelmente, deseja separar-se e encontrar outro “amor”, que
seja sensível, enquanto a personagem de cinquenta anos aparece caracterizada como uma
mulher de alto poder aquisitivo. Suas características são descritas pelo uso de um colar de
pérolas, segurando uma taça com champagne. A caracterização dessa mulher, por sua vez,
sugere que ela busca encontrar um companheiro para não se sentir solitária. Por fim, a
personagem que representa uma mulher de sessenta anos, descrita como uma senhora de uma
idade avançada, busca finalmente encontrar um homem que ainda esteja esclarecido e
saudável.
Nesse quadrinho, Maitena comprova a necessidade das mulheres seguirem os
padrões impostos pela sociedade, buscando homens ideais de acordo com seus interesses e
suas etapas de vida.
3.3 Caracterização da tirinha 2: Algunas diferencias entre los príncipes azules y los
hombres
Neste tópico apresentamos a tirinha 2, descrita abaixo, com o objetivo de discutir
algumas das diferenças que as personagens de Maitena buscam no considerado “homem
ideal”. Nesta análise, associamos as imagens com as falas dos personagens, revelando assim a
sentença humorística.
33
Tirinha 2
(Fonte: MAITENA, 2012, p. 254)
Nesse quadrinho de Maitena, sugere a representação dos desejos das mulheres de
encontrar o homem ideal que, nesse caso, é representado pelo príncipe encantado, cuja
vontade é reforçada culturalmente pelos enredos dos contos das fadas, por exemplo. As
produções das histórias infantis exibem estes homens perfeitos que, em geral, são personagens
carinhosos, ricos, atenciosos e bonitos, representando o homem fantástico para qualquer
mulher, sempre segundo os padrões determinados pela nossa sociedade, desprezando, por
outro lado, os homens comuns que têm, sobretudo, seus defeitos.
34
Vemos, no primeiro quadrinho, a expressão da personagem feminina descrita com
um semblante que sugere abatimento. Como podemos observar na referida tirinha, a mulher
está procurando algo para assistir na programação da TV, a cabo. Ironicamente, o quadrinho
mostrará também as atitudes distintas entre o príncipe encantado e o homem comum. Na fala
dos personagens masculinos, percebemos a diferença de comportamento entre eles. O homem
perfeito, por exemplo, parece querer desentediá-la, afirmando o seguinte: “¡Arriba! ¡Vámonos
de viaje a lugares increibles!”. Desta forma, podemos associar este comportamento a um
homem agradável e disposto. Enquanto que o outro personagem, este representando um
homem simples, deseja ficar ao seu lado. Percebemos na fala deste personagem, o seguinte:
“¡haceme un lugarcito! ¿dan uma peli?”, para assistir ao filme juntos. Disfarçadamente,
Maitena reforça a representação do homem utópico, querer agradá-la mais do que o outro
personagem. Esta relação de desequilíbrio entre as atitudes dos dois homens sugere o humor
crítico que enfatiza, portanto, uma visão crítica sobre os sonhos das mulheres em encontrar
um homem perfeito.
Na tirinha seguinte, percebemos o semblante da personagem, que aparenta
enfurecida com suas contas na mão a pagar e procurando uma solução. Então, nesse
momento, surgem mais uma vez as diferenças de atitudes entre os personagens masculinos. O
primeiro personagem parece poder resolver todos os seus problemas, dizendo o seguinte:
“¡dejá, dejá todo eso es mis manos!”, esse comportamento sugere, entre outras coisas, um
homem educado e atencioso para com a mulher; no caso do homem comum, esse tem os seus
próprios problemas, em uma situação como a descrita pela referida tirinha, este aconselharia a
procurar seu contador, dizendo o seguinte: “... si queres te paso el telefono de mi contador...”.
Desta forma, podemos percebemos que o príncipe fecha os olhos como se o “problema” fosse
algo fácil de ser resolvido. Já o segundo personagem, por sua vez, aponta o dedo indicado
porque reconhece que é um problema sério, buscando acalmá-la.
No terceiro quadrinho, a personagem mostra seu espanto ao perceber o desequilíbrio
entre o cavalheiro e o homem comum. O príncipe não precisa de nada, de modo que esse
parece estar disposto a agradá-la, pelo que podemos comprovar através da fala dos
personagens analisados. O príncipe pergunta à personagem: “¿Qué quieres?”. O outro
personagem que, apesar das divergências entre ele e sua companheira, parece buscar sempre a
sua atenção, representado na sua fala e na sua expressão facial “¿...me queres?”. Vale a pena
destacar que os dois personagens manifestam a relação entre o homem “imaginário” e o
homem “real”, o poder da imagem e da palavra, nesse caso, apresenta a manifestação
humorística.
35
Na quarta tirinha, a mulher é caracterizada de modo a ridicularizar as atitudes dos
homens. Por um lado, o homem maravilhoso, disposto a agradá-la e fazer com que sempre
aconteçam seus momentos sejam esplêndidos, afirma o seguinte: “¡Qué noche nos espera!”,
reforçando assim que ele havia preparado algo especial para a mulher e deixa subentendido
que há muito tempo a mulher não tem uma noite agradável ao lado de um homem. A
expressão fisionômica do homem comum é de cansaço, pois esse acaba de chegar cansado
depois de uma jornada de trabalho. Esse personagem diz o seguinte: “¡estoy muerto!”,
considerando o seu dia concluído. Assim, a cartunista ridiculariza a relação desgastada entre
mulheres e homens considerados “comuns”.
Na penúltima tirinha, a personagem feminina procura despertar o desejo sexual no
príncipe e no homem comum. Percebemos, desta forma, mais uma vez o humor acompanhado
da ironia. O primeiro personagem apenas admira seu corpo quando diz: “¡...oh! ¡luz de mis
ojos!”, o homem, por sua vez, deseja satisfazê-la, logo destaca: “¡ ...m! cosita rica...!”. Ou
seja, neste momento, há presença da ironia, pois, por mais perfeito que o príncipe seja, é o
outro homem que sabe reconhecer quando uma mulher quer seduzi-lo. Enfim, no último
quadrinho, a personagem escuta o telefone tocar, possivelmente é o homem real, ou seja, o
homem comum, deste modo, ela se dá conta que os príncipes não existem, mas os homens
comuns sim.
Consideramos que essa tirinha de Maitena é muito importante, porque esse
componente aparece nos contos de fadas onde, ironicamente, os príncipes encantados têm
todas as soluções para os problemas das mulheres, por outro lado, só um homem comum
reconhece seu valor. Podemos identificar essa como sendo uma crítica aos desejos que as
mulheres têm em encontrar o par perfeito.
36
3.4 Caracterização da tirinha 3: ¡Las mujeres son tan hermosas...!
Alguns dos conflitos que Maitena expõe com regularidade e com muito humor diz
respeito ao que as mulheres fazem para enquadrar-se aos padrões de beleza.Vejamos na
tirinha abaixo:
Tirinha 3
(Fonte: MAITENA, 2012, p. 30)
37
O título expressa como a escritora ironiza o fato de estereótipos atribuídos à beleza
ser considerada fundamental. Maitena ironiza na frase: “¡Las mujeres son tan hermosas...!”, e
isto intensifica o sarcasmo com as exclamações. Hoje, a sociedade procura ditar um padrão de
beleza, de modo que tanto homens quanto mulheres devem segui-lo, pois o primordial,
segundo esses valores, é a aparência física. Todos parecem tentar construir uma imagem
“perfeita”, procurando ser magros e elegantes, por exemplo. As mulheres se preocupam mais,
porque geralmente querem impressionar aos homens, pois a aparência feminina conduz a
opinião do outro sobre ela.
Nessa tirinha que analisamos, Maitena retrata em vários momentos o que as
personagens fizeram, para construir a imagem de mulher “fatal”, ou seja, aquela que se
enquadra nos padrões de beleza estereotipados pela sociedade da vaidade. Através da
representação dessas personagens percebemos que a transformação desempenha um papel
considerado para a autoestima da mulher. As imagens dessas personagens estão ligadas às
aspirações dos valores da sociedade. De acordo com Candido (2010):
Todavia, a criação de um vigoroso mundo imaginário, de personagens
“vivas” e situações “verdadeiras”, já em si de alto valor estético, (...), tanto
no plano horizontal da organização das partes sucessivas, como no vertical
das camadas; (...)4.(CANDIDO, 2010)
Percebemos no primeiro quadrinho que a personagem procura a roupa ideal, por
exemplo, e essa descrição é semelhante ao que acontece no mundo real, de modo que a
cartunista ironiza o fato de estar com bobs no cabelo e roupas simples. Na cadeira ao lado do
guarda-roupa, a mulher colocou muitas roupas, mas até o momento não encontrou uma que
destacasse sua beleza. O humor dessa tirinha está expresso na fala da persongem, quando ela
diz: “ Qué (termo pejorativo) me pongo?”. Maitena ironiza o fato da mulher ter várias
roupas, mas não ter encontrado a “perfeita”.
No segundo quadrinho, a personagem diz que precisa de ajuda, com a expressão em
inglês “Help”. Mais uma vez, a cartunista ironiza as atitudes da mulher que, para realização
pessoal, faz esforços, para satisfazer às vontades da sociedade. No terceiro e quarto
quadrinhos, a escritora demonstra o sofrimento da personagem e o esforço para ela estar com
4 CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. 2ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva. Disponível em <
http://groups.google.com/group/digitalsource. Acesso em 23 de janeiro de 2014.
38
a pele macia, de maneira a satisfazer novamente a pressão social e que, muitas vezes, esse
esforço não é para sua satisfação pessoal. Ainda no quarto quadrinho, a mulher afirma o
seguinte: “... ok, ok, nada de fritos, ni alcohol, ni chocolates...”, destacando o que não pode
comer para não engordar. No quinto quadrinho, Maitena mostra a personagem se perfumando
e, finalmente, ela aparece pronta para sair e satisfeita com a sua aparência. Ao final, Maitena
critica com a frase: “¡qué fácil es ser mujer!”
Esse quadrinho de Maitena ironiza, a todo momento, o fato de as mulheres
procurarem a perfeição, mostrando o que as mulheres fazem, para alcançar a satisfação social
e consequentemente a pessoal. Usam bobs, por exemplo, fazem exercícios inapropriados e
sofrem, em busca de uma beleza artificial.
3.5 Caracterização da tirinha 4: Lo lindo de las vacaciones es descansar
Como podemos observar, esta tirinha de Maitena representa como são as férias das
suas mulheres. A autora ironiza a condição da “folga” das personagens femininas.
Observamos que não há lazer, Maitena por meio das imagens e falas comprova que não
existem férias agradáveis para as mulheres.
39
Tirinha 4
(Fonte: MAITENA, 2012, p. 19).
Constatamos, nessa tirinha, o que mencionamos no capítulo 3, quando discutimos
sobre a desigualdade entre os sexos e a condição feminina. Maitena narra o que acontece a
uma dona de casa quando vai passar uns dias de “férias” com sua família na praia. No
primeiro quadrinho, a mulher dorme ao lado do seu companheiro, repentinamente é
despertada pelas crianças que repetem “¡ a- la- pla- ya! ¡ a- la- pla- ya! ¡ a- la- pla- ya!”.
Essa passagem sugere, entre outras coisas, o instinto maternal, já que os filhos normalmente
buscam a mãe para realizar suas atividades rotineiras.
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Neste momento, a personagem acorda e olha para as crianças com uma expressão
que sugere aborrecimento. Ao lado dela, está o seu companheiro, que parece imóvel diante
daquela situação. Essa caracterização sugere certa submissão da mulher, uma vez que ela teve
de levantar-se, para levar os filhos à praia, enquanto seu marido continuava dormindo.
A segunda tirinha apresenta um diálogo entre a personagem e o seu marido. Ele diz:
“¿No te comerías una milanesa com papas fritas?”, ela não lhe responde, mas a cartunista
descreve seu pensamento, que diz: “No, me arreglaría con um yogur...”. O semblante do
homem é de alguém que está insinuando que gostaria de comer uma milanesa com batatas
fritas, e a mulher, por sua vez, não contesta, mas em pensamento releva que se contentaria em
comer algo prático e leve, para evitar ir para a cozinha, que é fato mais representativo da
subordinação feminina, aquela que tem apenas como atribuições domésticas lavar, passar e
cozinhar. A submissão dessa personagem estaria representada na fala masculina, em que o
homem deseja comer algo, mas não pretende preparar. Nessa perspectiva, o personagem
espera que sua mulher prepare sua comida e traga até ele. A ironia aparece caracterizada no
pensamento da mulher, que ignora o pedido do homem.
Na terceira tirinha, o homem parece aparentemente preocupado, pois o filho dele
havia desaparecido enquanto eles estavam na praia. Esse pergunta para a mulher: “¿Cómo?¡¿
el bebé no estaba con vos? Visivelmente irritado, o homem aponta o dedo indicador para
expressar que a culpa do sumiço do bebê é da mulher. Tradicionalmente, os cuidados das
crianças ficam por conta da mãe, ou seja, na situação descrita anteriormente através da tirinha
analisada, apesar de encontrar-se relaxada, deitada na cadeira, a criança deveria estar sob os
cuidados dela. Logo, implica, nesse contexto, a relação de subordinação mais uma vez dos
gêneros masculino e feminino, considerando uma sociedade patriarcal.
No quarto quadrinho de Maitena, a autora pretende expressar que o casal, mesmo de
férias, segue falando das obrigações da casa. Notamos, através do diálogo, que a mulher fica
responsável por organizar as compras e o homem por pagar os gastos. O personagem
masculino questiona: “¿el super lo pagaste en efectivo?”, a mulher responde da seguinte
forma: “no, con la tajeta, porque no me alcanzaba...”, “…pagué las fotos…”, “…eran 40 $”.
Em contrapartida, o homem responde: “¡Pero sí…”. Ainda nos dias atuais, observamos esse
tipo de divisão doméstica, a mulher fica encarregada das compras e o varão de pagar as
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despesas. Com relação a essa tirinha, percebemos o resquício das diferenças de gênero, em
que a mulher é a responsável do lar e o homem trabalha para mantê-lo, ou seja, existe a
divisão de papéis, de modo que não há a igualdade entre os sexos.
No penúltimo quadrinho, podemos observar que a mãe está apavorada entre as duas
filhas. No título do quadrinho aparece a frase “...NO PENSAR EN NADA...”. A personagem,
que é mãe, encontra-se entre as duas filhas que querem ao mesmo tempo chamar sua atenção.
Uma das crianças diz: “... má, me aburro...”, e a outra filha pergunta: “má, ¿y si en vez de dar
las 3 doy una y dejo 2 previas...?”. O título da tirinha, como podemos observar, ironiza o que
em realidade acontece à mulher, como pode ela não pensar em nada, se suas filhas
reivindicam sua atenção.
O último quadrinho descreve a mulher agachada recolhendo suas correspondências e,
mais uma vez, o título simboliza o humor na frase “Y VOLVER CONTENTA A CASA!”. Logo,
averiguamos que, apesar de todos os contratempos, conflitos, inquietações durante suas
“férias”, a personagem fica feliz em saber que voltou a sua rotina, de modo que seu semblante
expressa toda sua satisfação em voltar para casa.
Os títulos das tirinhas de Maitena representam a opinião da autora sobre o tema. Dos
elementos textuais apresentados, compreendemos que cada título expressa o que
encontraremos na fala e na imagem dos personagens, cujo subtítulo o reafirma. A ironia, o
humor e a submissão das mulheres são retratados nas tirinhas analisadas. Muitas vezes,
encontramos implícitos no discurso através de uma linguagem conotativa e crítica, traçando
assim a caracterização da relação social representada pelas ações e atitudes das personagens.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisamos neste trabalho as Histórias em Quadrinhos (HQs) da cartunista argentina
Maitena, buscando observar a linguagem e as imagens das tirinhas. Apresentamos a
caracterização das personagens femininas que representam os dilemas femininos dentro de
uma sociedade patriarcal e machista. Buscamos centralizar as personagens femininas
caracterizadas nas tirinhas de Maitena, para expressar sua evolução a respeito de seus direitos
e sua função para a sociedade representada nas HQs. Na análise das tirinhas, destacamos
alguns questionamentos das mulheres atuais, através das personagens femininas retratadas e
as batalhas contra os modelos impostos pela sociedade.
Os personagens masculinos são descritos como meros figurantes nesse universo
“dominado”, conforme representação de Maitena, por mulheres. Ou seja, buscamos enfatizar
as atitudes femininas, suas opiniões e, por fim, suas “alterações”. O termo alterações
evidencia uma crítica à maneira de as mulheres atuais agirem, mas implicitamente a autora
Maitena possibilita as formas de evidenciar os importantes papéis desempenhados pelas
mulheres e como elas se comportam diante dos conflitos existentes.
Com isso, acreditamos que a percepção que se tem sobre HQs é incoerente, pois não
podemos considerar os quadrinhos uma subliteratura, uma vez que eles relatam o que
acontece na história da humanidade, os quadrinhos de Maitena retratam o que pensam as
mulheres, de modo que refletem os pensamentos machistas que se tem sobre elas. Mateina
expressa suas próprias inquietações, a qual faz uso de suas personagens, para ironizar as
condições femininas, representando as ironias e a desigualdade existente entre homens e
mulheres.
Sobre esse assunto, pensamos que a escritora além de fazer suas próprias
interpretações sobre as atitudes femininas, usa também suas próprias experiências, para
expressar suas indignações. Assim, ironiza os problemas entre os gêneros masculino e
feminino, a imposição da subordinação das mulheres e os padrões de beleza impostos pela
sociedade. Para tanto, notamos que as tirinhas de Maitena não podem ser consideradas
feministas, de modo que a cartunista não defende os direitos das mulheres, pois apresenta a
realidade tal como é. Ressaltamos neste trabalho que essas personagens são criadas como
forma de reflexo do que acontece na realidade das mulheres e a partir de diferentes etapas da
vida.
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Podemos considerar, a partir da leitura e análise das tirinhas, que a representação do
humor revela o sentido da ironia. Acreditamos que uso deste recurso humorístico torna
coerente a reflexão da cartunista. Por outro lado, é de suma importância destacar que as
personagens de Mateina não são consideradas personagens pacíficas, pois são “alteradas”,
revoltadas, desbravadoras, inconsequentes e insanas, mas estão inseridas em uma sociedade
com padrões estéticos machistas e desiguais. É preciso destacar que a mulher é vítima dessa
situação.
É evidente que Maitena expõe as diferenças de comportamento entre homens e
mulheres sem ser agressiva e, com muito humor, denuncia de maneira cômica os erros do
nosso passado e a herança de uma sociedade machista presentes nos dias atuais. Com isso,
consideramos ter realizado a associação de contextos históricos sobre o feminismo, a
problemática feminina, o humor e a ironia presentes nas tirinhas de Maitena.
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