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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
NEUROCIÊNCIA E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: COMO FACILITADORES NO PROCESSO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Erycka Gomes dos Santos Ferreira
ORIENTADORA
Profa. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2017
DOCUMENTO
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
NEUROCIÊNCIA E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: COMO FACILITADORES NO PROCESSO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Erycka Gomes dos Santos Ferreira
Rio de Janeiro
2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus primeiramente e acima de tudo, pois sem ele em minha vida, nada
disso seria possível.
Ao meu esposo e filhas, que durante esta caminhada sempre estiveram ao meu
lado, dando todo suporte necessário, emocional e estrutural, sempre com enorme
paciência.
E principalmente aos mestres que me acompanharam nesta emocionante jornada,
esta realização não seria possível sem eles.
DEDICATÓRIA
A minha mãe, que me ensinou os valores necessários para
conquistar meus objetivos e jamais desistir diante dos
obstáculos.
RESUMO
A Consciência Fonológica vem sendo apontada em diversas pesquisas
neurocientíficas e discussões, como uma possível alternativa para superar
problemas historicamente determinados, como o fracasso escolar e o analfabetismo.
Considerando que desde a educação infantil a criança deve ter oportunidade de
vivenciar situações de aprendizagem da leitura e escrita, entende-se que é
indispensável que a escola possibilite situações reais de leitura, se apropriando dos
estudos neurocientíficos; e desenvolvendo um trabalho sistemático de reflexão
fonológica, de modo a possibilitar que os alunos avancem no processo de
apropriação da escrita alfabética.
A ludicidade e afetividade, nessa modalidade de ensino, são condição básica nesse
processo de ensino e aprendizagem, onde professores devem ser mediadores
reflexivos, sempre na busca de novos conhecimentos, a fim de diminuir as
desigualdades sociais, para que seus alunos sejam capazes de agir em sociedade.
Palavras-chave: Neurociência; Consciência Fonológica; alfabetização; educação infantil.
METODOLOGIA
Este projeto foi desenvolvido através de levantamento bibliográfico sobre
conceitos de alfabetização (FERREIRO, SOARES), Consciência Fonológica
(CAPOVILA, MARTINS, LEITE, FREITAS), Dificuldades de leitura e escrita
(BRADLEY, BRYANT), Competências do professor (PERRENOUD), Educação
Infantil (SOARES), Neurociência aplicada à aprendizagem cognitiva (RELVAS), O
cérebro e aprendizagem da leitura (DEHAENE), entre outros autores que serão
citados durante o desenvolvimento do projeto; documentos oficiais do Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade (PNAIC) e web gráfica.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPITULO I - CONTEXTO HISTÓRICO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NO BRASIL ..................................................................................................................... 11
1.1Quatro eixos que orientam a aquisição da leitura e da escrita pelo (PNAIC) .... 13
1.2 Consciência Fonológica: conceito e sua relação com a aquisição da leitura e da escrita. .............................................................................................................. 15
CAPÍTULO II - FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...... 20
2.1 Processo de alfabetização na Educação Infantil .............................................. 22
2.2 Desenvolvimento das habilidades fonológicas na Educação Infantil ............... 24
CAPÍTULO III - NEUROCIÊNCIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES À PRÁTICA DOCENTE ................................................................................................................. 28
3.1 Como o cerebro aprende ................................................................................. 29
3.2 O prazer que deve atravessar pelo cotidiano da Educação Infanttil ................ 32
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 35
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 37
INDICE ...................................................................................................................... 40
8
INTRODUÇÃO O tema abordado neste trabalho será Consciência Fonológica, Alfabetização
e Neurociência, onde se pretende colocar em discussão o método fônico como uma
possibilidade de realizar uma alfabetização eficaz e de qualidade, apoiado nos
estudos recentes da neurociência, de modo a reverter os altos índices de fracasso
escolar na educação básica brasileira.
Capovila (2010) defende o método fônico e ressalta sua utilização no
processo de alfabetização, tornando-o eficaz. Estudos concordam que a
Consciência Fonológica é um pré-requisito para uma alfabetização bem sucedida.
(DEHAENE, 2010)
O interesse por este tema surgiu primeiramente do interesse pela temática
alfabetização e letramento e após a participação de um workshop que tinha como
tema: Consciência Fonológica e Alfabetização, onde foram apresentados estudos e
pesquisas na área com ótimos resultados na superação de dificuldades de leitura e
escrita diante da implementação do método fônico.
Outra questão que despertou um grande interesse em aprofundar os estudos
quanto à temática, foi quando se realizou uma breve pesquisa informal através de
uma rede social, com uma amostra de trinta pessoas aproximadamente (ligadas à
área de educação), que quando indagadas quanto ao seu conhecimento sobre o
tema Consciência Fonológica, todas desconheciam o tema em questão.
No contexto atual torna-se imprescindível que o futuro e o atual educador se
mantenham em constante estudo e formação, desconhecer fatores que podem
contribuir para uma melhoria no ensino e na aprendizagem é uma falta enorme.
O professor deve saber identificar “competências-chave” (Perrenoud 2000)
para organizar as aprendizagens, orientar o trabalho em sala e estabelecer
prioridades. Durante as leituras para este escrito, foi observado que a Consciência
Fonológica é um tema que vêm crescendo nas rodas de debates educacionais e
despertando o interesse de vários estudiosos na área, contudo a falta de
conhecimento dos educadores, que estão atuando, quanto a esta temática ainda é
bem expressiva.
Diante de dados alarmante quanto ao fracasso escolar que o Brasil apresenta
na educação básica, se faz necessário uma reflexão quanto à prática pedagógica do
9
professor alfabetizador e possíveis intervenções pedagógicas tendo como eixo
temático a Consciência Fonológica.
Pesquisa realizada pela psicopedagoga Nádia Aparecida Bossa, durante
cinco anos, com estudantes da rede pública de São Paulo, aponta que somente 25%
das crianças saem do ensino fundamental sabendo ler e escrever.
Diante disso cabem os seguintes questionamentos: As intervenções com a
finalidade de desenvolver habilidades fonológicas podem contribuir para aquisição
da leitura e da escrita? Qual o melhor momento para que estas intervenções sejam
realizadas?
Os objetivos específicos foram traçados buscando: Pesquisar os fundamentos
teóricos das neurociências em relação à aquisição do processo de leitura, mais
especificamente na aquisição da consciência fonológica; Identificar as relações entre
Consciência Fonológica e Alfabetização; Analisar as estratégias didáticas para a
iniciação e apropriação do mundo letrado; e Entender o desenvolvimento das
habilidades fonológicas.
O presente texto tem como objetivo principal, promover uma reflexão, à luz da
neurociência, quanto à importância de conhecer e trabalhar com a Consciência
Fonológica, no processo de aquisição da leitura e da escrita em crianças da
educação Infantil, através de atividades lúdicas e prazerosas.
Conforme Ferraz, Pocinho e Fernandez (2011, p.33) faz refletir:
O treino da consciência fonológica pode ser divertido e deve ser
apropriado à faixa etária em que a criança se encontra. Deve iniciar-
se por um nível mais fácil, por exemplo, através da exploração de
rimas e da segmentação de palavras. Os poemas, os trava-línguas,
as músicas, as adivinhas, as lengalengas, os ditados populares, as
histórias, os jogos de escuta e de linguagem são, igualmente,
exemplos de atividades facilitadoras do desenvolvimento da
consciência fonológica no pré-escolar.
Este trabalho de pesquisa justifica-se diante de dados alarmante quanto ao
fracasso escolar que o Brasil apresenta na educação básica, se faz necessário uma
reflexão quanto à prática pedagógica do professor alfabetizador e possíveis
intervenções pedagógicas tendo como eixo temático a Consciência Fonológica.
10
Estudos recentes nas áreas de linguagem, fonoaudiologia e neurociência
aplicada à educação, consideram a relevância da consciência fonológica para o
aprendizado da leitura e escrita. Neste sentido os educadores devem apropriar-se
deste conhecimento, facilitando e mediando este processo de aquisição da leitura e
escrita de seus alunos, estreitando assim os laços entre essas duas realidades:
apropriação do conhecimento e aplicação em sala.
O presente trabalho foi desenvolvido através de levantamento bibliográfico
sobre conceitos de alfabetização (FERREIRO, SOARES), Consciência Fonológica
(CAPOVILA, MARTINS, LEITE, FREITAS), Dificuldades de leitura e escrita
(BRADLEY, BRYANT), Competências do professor (PERRENOUD), Educação
Infantil (SOARES), Neurociências aplicada à aprendizagem cognitiva (RELVAS),
entre outros autores que serão citados durante o desenvolvimento do projeto, e
documentos oficiais do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade (PNAIC).
Este texto esta estruturado em quatro seções. Na primeira delas articula-se
como surgiu o trabalho com a Consciência Fonológica no Brasil e o surgimento de
um novo programa do governo federal, Pacto Nacional de Alfabetização na Idade
Certa, na intenção de minimiar os altos índices de analfabetismo e fracasso escolar
em nosso país. Nesta mesma seção observa-se a relação entre o desenvolvimento
das habilidades fonológicas e a aquisição da leitura e da escrita.
Na segunda seção apresenta-se como se dá a formação dos professores na
Educação Infantil, bem como estes devem propiciar situações de aprendizagem em
um ambiente alfabetizador, privilegiando os estudos neurociêntíficos e o trabalho
com a consciência fonológica, conhecendo assim como essas habilidades se
desenvolvem nessa faixa etária que compreende a Educação Infantil.
A terceira seção fará uma breve analise de como os estudos neurocientíficos
podem contribuir para a pratica docente, se estes tomarem para si conhecimentos
de como o cérebro aprende e quais as motivações necessárias na educação infantil
para se realizar um ensino de qualidade.
Finalmente, concluí-se o artigo examinando as implicações desta análise,
para as discussões recentes sobre o lugar do letramento na educação infantil, e
como o trabalho com a consciência fonológica pode predizer o sucesso na
aprendizagem da leitura e da escrita.
11
CAPÍTULO I
CONTEXTO HISTÓRICO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
NO BRASIL
Os estudos sobre a importância de se trabalhar a consciência fonológica na
aquisição da leitura e da escrita, começam a ser discutidos na década de 70, e
desde então, esta temática vem ganhando mais adeptos e crescendo em suas
pesquisas.
Pesquisas internacionais há mais de 50 anos levantam questionamentos
quanto a eficácia dos métodos de alfabetização, diante dessas pesquisas surgem as
primeiras evidências da importância dos princípios fônicos para a alfabetização,
segundo Capovila e Capovila (2010, p.11) “ Países como Inglaterra, Estados Unidos,
Austrália, Israel, Finlândia e França, reconhecem tais evidências e acatando o que
há de mais recente em termos científicos, reconhecem o método fônico em suas
diretrizes oficiais”.
Infelizmente o Brasil é relutante quanto a mudanças nos parâmetros para a
alfabetização, o método de alfabetização atual brasileiro baseado no construtivismo
e adotado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é arcaico, não se
aproxima nem um pouco com a atualidade, pelo menos no que diz respeito a
alfabetização, por mais que índices mostrem frequentemente que o Brasil necessita
de novas metodologias para avançar na educação.
Entre 1995 e 2005, por exemplo, as avaliações do Sistema de Avaliação do
Ensino Básico (Saeb), mostram uma queda significativa da competência de leitura
em todas as séries avaliadas, demonstrando o fracasso do modelo de alfabetização
adotado pelo sistema de ensino brasileiro, o Brasil apresenta atualmente elevados
índices de analfabetismo e repetência escolar e apesar dos grandes esforços e
investimentos do governo brasileiro para modificar este quadro.
Capovila e Capovila (2010, p.14), afirmam que: “Enquanto o falido modelo de
alfabetização construtivista dos PCNs não for revisto, não haverá esperança em tirar
12
o Brasil do atraso, não importa o tamanho das cifras astronômicas que venham a ser
investidas”.
Ainda para situar-se e defender um lado ou outro se faz necessário
compreender um e outro ponto de vista, e diferenciar os dois conceitos, ou seja:
Capovila (2000, p.141), Enquanto a proposta construtivista dos PCNs
professa a adoção de textos inteiros desde os primeiros dias de aula,
familiarizando as crianças com letras e palavras em um “texto real”, o
método fônico apregoa que as letras devem ser apresentadas e
conhecidas por meio da associação com os sons que emitem.
Entretanto mesmo que timidamente já se consegue visualizar um inicio do
reconhecimento da importância do método fônico no sistema oficial de educação,
em alguns textos oficiais como, no livro Ensino Fundamental de Nove Anos (Brasil,
2006) e Pró-letramento: Fascículo de Alfabetização e Linguagem (Brasil, 2007),
onde se podem verificar sinais de uma orientação para realização de atividades que
evidenciem uma analise fonológica e o ensino de correspondências entre sons e
letras.
Porém o maior passo do ensino brasileiro rumo a uma alfabetização de
qualidade onde seja priorizado um trabalho com a consciência fonológica, foi o
recente desenvolvimento do projeto intitulado: Pacto Nacional de Alfabetização na
Idade Certa (PNAIC);
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um acordo
formal assumido pelo Governo Federal, estados, municípios e
entidades para firmar o compromisso de alfabetizar crianças até, no
máximo, 8 anos de idade, ao final do ciclo de alfabetização. (BRASIL,
PNAIC: Caderno de Apresentação, 2013, p. 5)
Esse Programa envolve ações propostas pelo MEC, entre elas destaca-se a
formação continuada ofertada aos professores alfabetizadores. No ano de 2013, a
ênfase da formação foi voltada para a alfabetização e, em 2014, a ênfase foi
destinada à área da Matemática.
Para a execução deste projeto, universidades participantes produziram cadernos
que fornecem aos professores alfabetizadores, referencial teórico e metodológico
13
relacionado a recentes pesquisas na área de alfabetização no ano 1 e matemática
no ano 2, onde estão implícitos nesses cadernos de formação, referente à
alfabetização, o trabalho com a consciência fonológica.
1.1Quatro eixos que orientam a aquisição da leitura e da escrita
pelo (PNAIC)
O Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa propõem quatro eixos
direcionadores do trabalho com a língua escrita: Leitura; Produção de texto;
Oralidade e Análise Linguística.
Então daremos ênfase a Análise Linguística, onde fica evidente que a
apropriação do sistema escrito está diretamente relacionada com a capacidade de
pensar sobre a língua, ou seja, a consciência metalinguística, que pode ser definida
por Gombert (1992) como: “A reflexão da linguagem e a manipulação intencional da
estrutura da língua”, que incluem as habilidades semânticas, sintáticas e
fonológicas, esta última terá maior visibilidade neste artigo.
Fica claro que um linguista é capaz de desenvolver sua habilidade
metalinguística, mas e uma criança será que tem esta capacidade? Segundo
Ferreiro (2011, p.64) “As crianças nunca esperaram completar 6 anos e ter uma
professora à sua frente para começarem a aprender. Desde que nascem são
construtoras de conhecimento”. Quando a criança inicia seu processo de
alfabetização escolar, ela já é capaz de utilizar a linguagem, esta competência
linguística é adquirida naturalmente durante seu processo de socialização e durante
este processo uma serie de regras gramaticais vão sendo adquiridas, internalizadas
e utilizadas mesmo de forma inconsciente.
Ainda sobre esta interrogação afirma Ferreiro (1994).
A dupla propriedade da linguagem, de servir tanto para referir-se ao
mundo quanto para referir-se a si mesma, faz com que ela possa ser
utilizada também como objeto de conhecimento, o que caracteriza a
atividade metalinguística. Tal atividade envolve a atenção consciente
aos aspectos formais da linguagem (níveis fonológico, morfológico e
sintático) e não apenas ao seu conteúdo (nível semântico).
14
No entanto, apesar da criança por volta de 4 e 5 anos possuir um bom
domínio da gramática da língua e um vocabulário razoável, não significa que esta
possua suas habilidades metalinguísticas desenvolvidas, mas sim habilidades
linguísticas, as habilidades metalinguísticas não se desenvolvem naturalmente nos
seres humanos, mas podem ser desenvolvidas através de atividades que levem à
reflexão sobre a língua.
Para Guimarães (2008, p. 61-62), a expressão habilidades
metalinguísticas é uma expressão “guarda-chuva”, pois engloba
várias capacidades, como: habilidades para segmentar a linguagem
em palavras, sílabas e fonemas; para identificar os signos
linguísticos diferenciando significante e significado; para perceber e
identificar sons em palavras diferentes, para apreciar a coerência
sintática e semântica dos enunciados, entre outras. Para a autora,
um certo nível de habilidade metalinguística é necessário para o
processo de alfabetização.
No material elaborado pelo MEC e Universidades parceiras, para formação
dos professores alfabetizadores, habilidades metalinguísticas e consciência
fonológica, são palavras-chaves recorrentes em seus cadernos, sendo a consciência
fonológica mais evidente.
Em seu caderno do 1º ano, unidade 3 – Aprendizagem do Sistema de Escrita
Alfabética (SEA) – faz referência e explica a contribuição da atividade
metalinguística:
Dizemos que um indivíduo exerce uma atividade metacognitiva
quando ele, conscientemente, analisa seu raciocínio e suas ações
mentais, “monitorando” seu pensamento. Quando a pessoa faz isso
sobre a linguagem oral ou escrita, dizemos que ela está exercendo
uma atividade metalinguística. Tal reflexão consciente sobre a
linguagem pode envolver palavras, partes das palavras, sentenças,
características e finalidades dos textos, bem como as intenções dos
que estão se comunicando oralmente ou por escrito. Quando reflete
sobre os segmentos das palavras, a pessoa está pondo em ação a
consciência fonológica. (BRASIL, 2012, Ano 01, Unid. 3, p. 21)
15
Ainda na unidade 3 deste caderno, ressalta-se a importância dos educadores
alfabetizadores estarem atentos para quais habilidades de consciência fonológica a
criança precisa desenvolver a medida que vai se apropriando do sistema de escrita
alfabética e para isso elas devem ter a oportunidade de refletir sobre as formas orais
e escritas das palavras.
E no âmbito das habilidades metalinguísticas, se encaixa a consciência
fonológica, que é uma das áreas de estudo dessas habilidades e o objetivo maior
deste trabalho, onde trataremos mais profundamente no próximo tópico.
1.2 Consciência Fonológica: conceito e sua relação com a aquisição da leitura e da escrita.
A consciência fonológica refere-se à habilidade de se refletir acerca dos sons
que compõem a fala (CARDOSO-MARTINS, 1995). Segundo Barrera e Maluf (2003,
p. 2-3) o termo consciência fonológica tem sido utilizado de forma genérica para
referir-se à habilidade em analisar as palavras orais de acordo com as diferentes
unidades sonoras que as constituem. De modo operacional, a consciência
fonológica tem sido estudada a partir de provas que visam avaliar a habilidade do
sujeito para realizar julgamentos sobre características sonoras das palavras como
tamanho, semelhança, diferença e para isolar e manipular fonemas e outras
unidades supra-segmentares da fala, tais como sílabas e rimas.
Segundo Morais (2012, p. 84), a consciência fonológica é um grande conjunto
de habilidades de refletir sobre os segmentos sonoros das palavras. Essas
habilidades variam consideravelmente, dependendo das operações cognitivas que
fazemos sobre as partes das palavras: pronunciá-las, separando-as em voz alta;
juntar partes que escutamos separadas; contar as partes das palavras; comparar
palavras quanto ao tamanho; ou identificar semelhanças entre alguns pedaços
sonoros; dizer palavras parecidas quanto a algum segmento sonoro, entre outras.
Algumas habilidades são mais fáceis e outras mais difíceis de desenvolver, exigindo
clareza por parte do professor alfabetizador (MORAIS, 2012, p. 85).
A consciência fonológica pode ser entendida como um conjunto de
habilidades que vão desde a simples percepção global do tamanho da palavra e de
16
semelhanças fonológicas entre as palavras até a segmentação e manipulação de
sílabas e fonemas (Bryant &Bradley, 1985). Afirmando ainda, a consciência
fonológica refere-se tanto à consciência de que a fala pode ser segmentada quanto
à habilidade de manipular tais segmentos, e se desenvolve gradualmente à medida
que a criança vai tomando consciência do sistema sonoro da língua, ou seja, de
palavras, sílabas e fonemas como unidades identificáveis (Capovilla &Capovilla,
2000).
Retirado ainda de um dos cadernos produzidos pelo MEC, para formação de
professores alfabetizadores:
A consciência fonológica é um conjunto de habilidades
metalinguísticas que permitem ao indivíduo refletir sobre os
segmentos sonoros das palavras em diferentes níveis: silábico,
intrassilábico e fonêmico. Segundo Gombert (2003), as atividades
metalinguísticas são atividades de reflexão sobre a linguagem e
sobre seu uso. Consistem na capacidade do sujeito monitorar
intencionalmente e planejar os métodos próprios do processamento
linguístico (compreensão e produção). Tais habilidades abrangem
alguns aspectos específicos da língua, no nosso caso nos deteremos
nas habilidades metafonológicas ou consciência fonológica.
(BRASIL, 2012, Ano 03, Unid. 3, p. 11)
Diante da fala dos autores pode-se assim resumir que se entende por
consciência fonológica: a habilidade de refletir sobre os sons que compõem a fala,
habilidade de refletir sobre os sons, para além da mera percepção e envolve a
manipulação intencional dos sons que compõem a fala. Tomar consciência consiste
na tomada de ciência, conhecimento, perceber algo, ter intencionalidade.
Conforme tem demonstrado pesquisas internacionais e nacionais, a
habilidade de manipular os segmentos da fala é quesito fundamental para a
aquisição da leitura e da escrita. Autores como: Barrera, Maluf, Bradley, Bryant,
Capovilla, Martins, entre outros, concordam que a consciência fonológica é um
facilitador na aprendizagem da leitura e escrita de crianças com e sem dificuldades
de aprendizagem.
17
Para que se possa ter uma ideia, de que o desenvolvimento das habilidades
fonológicas é realmente importante nesse processo de aquisição de leitura e escrita,
transcreve-se o trabalho realizado por Bradley e Bryant, dois estudiosos em
desenvolvimento infantil e dificuldades de aprender a ler e escrever.
Um estudo realizado na Inglaterra demonstrou que a habilidade de refletir
sobre os sons da fala ajudam na aquisição da língua escrita
Bradley e Bryant (1983) deram a crianças de 4 e 5 anos de idade, antes delas
terem aprendido a ler e a escrever, vários testes que avaliavam as capacidades
linguísticas e metalinguísticas das crianças.
Uma tarefa que as crianças tinham que resolver, envolvia a habilidade de
refletir sobre os sons da fala. Na tarefa a criança tinha que dizer qual a palavra que
não combinava com as outras.
Por exemplo:
Eu vou falar para você três palavrinhas. Duas palavrinhas terminam com o
mesmo som. Uma termina diferente. Qual a que termina diferente? É ‘sapo’, ‘pato’
ou ‘rato’?
Havia palavras com som inicial também
Por exemplo:
Eu vou falar para você três palavrinhas. Duas palavras começam com o
mesmo som. Uma começa diferente. Qual a que termina diferente? ‘cola’, ‘casa’ ou
‘boné’?
Os resultados mostraram que as crianças que na educação infantil
conseguiam identificar as palavras cujos sons eram diferentes dos outros, foram as
crianças que tiveram melhores escores de leitura no ano seguinte, quando
aprendiam a ler e escrever. Em outras palavras, esse conhecimento sobre os sons
ajudava as crianças aprender a ler e a escrever.
Os autores pensaram se conhecer o som das palavras ajuda na
aprendizagem da leitura e escrita, podemos ajudar as crianças que têm dificuldade
18
na leitura, ensinando-as a refletir sobre os sons que compõem a fala. Para testar
essa hipótese eles fizeram outro estudo.
Bradley e Bryant (1983) separaram as 60 crianças com os piores
desempenhos na leitura essas crianças com os piores escores na leitura foram
divididas em 4 grupos com 15 crianças em cada. Cada grupo era equivalente quanto
ao conhecimento da leitura, habilidade de refletir sobre os sons (consciência
fonológica) e inteligência.
Bradley e Bryant (1983) formularam a seguinte hipótese: Se a consciência
fonológica ajuda na aquisição da leitura, ajudar as crianças a desenvolver essa
habilidade melhorará o seu desempenho na leitura.
A Intervenção:
Cada grupo recebeu um tipo de ensino diferente.
GRUPO 1 – nesse grupo o trabalho envolveu ensinar às crianças que as
palavras podem ter sons iguais.
GRUPO 2 – nesse grupo o trabalho envolveu ensinar as crianças que as
palavras podem ter sons iguais, mas dessa vez, utilizou-se letras para ajudar no
trabalho.
GRUPO 3 – realizou um trabalho de categorização semântica das palavras
GRUPO 4 – não sofreu nenhum tipo de intervenção
O resultado:
Ao final de 40 encontros os autores obtiveram os seguintes resultados:
GRUPO 1 – trabalho com som → melhorou na leitura, mas o resultado não foi
estatisticamente significativo.
GRUPO 2 – trabalho com som e letra → melhorou na leitura de forma
estatisticamente significativa.
GRUPO 3 e 4 – controles → não melhoraram.
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Os autores concluíram que: As habilidades metafonológicas das crianças são
importantes precursores da alfabetização e que estas podem ser desenvolvidas
através da intervenção.
Pode-se ainda falar de um autor mais recente, Dehaene, neurocientista
francês que constatou através de mapeamento cerebral, das áreas envolvidas no
reconhecimento da palavra escrita, que o cérebro aprende melhor pelo som do que
pela imagem, pois durante o aprendizado da leitura, há um progressivo aumento da
atividade de duas regiões cerebrais ligadas ao tratamento fonológico.
Ele ainda reintera em seus estudos, que o sistema de alfabetização mais
eficaz para o nosso cérebro, é aquela que foca no ensino das unidades auditivas. Os
jogos fonológicos, por exemplo, podem auxiliar, desde pequena, a criança a
reconhecer palavras. Para Dehaene:
É preciso ajudar a criança a identificar os diferentes sons que
compõem uma palavra para só depois fazê-la compreender que as
letras representam esses sons. Depois disso é que a criança estará
pronta para juntar as letras. (DEHAENE, 2012)
Dehaene ainda argumenta “Desde os primeiros meses de vida, a criança
demonstra uma competência excepcional para discriminação dos sons da fala”. O
que corrobora com a certeza que desde a educação infantil deve-se estimular a
formação da consciência fonêmica nos futuros leitores.
Dehaene, Pegado, Braga, Ventura, Nunes Filho, Jobert, Dehaene-Lambertz,
Kolinsky, Morais e Cohen (2010) apresentam evidência experimental de como a
aprendizagem da leitura modifica as redes corticais da visão e do processamento
linguístico.
Aprender a ler causa uma verdadeira revolução no cérebro, as sinapses
acontecem em fração de segundos para que possamos decodificar as palavras, daí
a importância de se conhecer os processos cerebrais da leitura, para desenvolver
métodos de ensino mais eficazes, trataremos com maior clareza desses aspectos
nos capítulos seguintes.
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CAPÍTULO II
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Na formação de professores da Educação Infantil, se faz necessário superar
uma antiga visão que nessa fase do desenvolvimento infantil o cuidar vem antes do
educar, ou tem um maior destaque, é preciso romper com essa concepção
assistencialista na pratica educativa, pois na atualidade a escola partilha sim com os
pais essa função do cuidar, no entanto, ela deve garantir as praticas pedagógicas
adequadas para o desenvolvimento infantil.
Segundo Oliveira (2005, p.49), para que as propostas pedagógicas de
creches e pré-escolas atendam aos dispositivos legais, deverão:
[...] organizar condições para que as crianças interajam com adultos e outras crianças em situações variadas, construindo significações acerca do mundo e de si mesmas, enquanto desenvolvem formas mais complexas de sentir, pensar e solucionar problemas, em clima de autonomia e cooperação. Podem as crianças, assim, constituir-se como sujeitos únicos e históricos, membros de famílias que são igualmente singulares em uma sociedade concreta.
Durante o curso de Pedagogia, uma das constantes indagações e discussões
no meio acadêmico, é por que na Educação Infantil e anos iniciais, são aceitos
professores sem uma formação de nível superior, sendo que, este primeiro contato
com a Instituição escola é de extrema importância, pois irá refletir por toda
caminhada escolar do aluno.
Conforme art. 62º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-
LDBEN, Lei nº 9.394/96:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, ainda como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5(cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal.
O que da uma abertura para entrada de profissionais com um mínimo de
formação exigido, para ocupar um lugar tão significante e cheio de
responsabilidades na educação básica, porém cada município tem autonomia para
definir o grau de escolaridade para o cargo que pretende preencher, e o que se tem
21
observado, é um aumento dos municípios que tem como exigência em seus editais
nos concursos para professores, como formação mínima, o curso de Pedagogia
para assumir um cargo.
Ainda assim há outro questionamento, será que o curso de Pedagogia
oferece todos os subsídios necessários para que o professor consiga exercer em
sua plenitude tudo o que esta profissão implica e exige na atualidade?
Segundo Philippe Perrenoud, o professor necessita desenvolver
competências para ensinar, e em uma de suas obras ele evidencia dez
competências emergentes, que deveriam orientar as formações iniciais e continuas
do educador, são elas:
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar sua própria formação contínua. (Perrenoud, 2000, p. 14).
Extrai-se aqui a décima competência, a administração da formação continua,
pois para desenvolver a consciência fonológica no alfabetizando, o professor
necessita de conhecimentos primordiais como: O funcionamento do cérebro infantil e
o percurso que este cérebro realiza durante a leitura; conhecer um pouco da
estrutura da língua e princípios da fonologia.
Os currículos de Pedagogia, entretanto, não contemplam disciplinas que
foquem o estudo da estrutura da língua materna, especialmente de conteúdos
relacionados à fonologia e tão pouco conhecimentos neurocientíficos. Considerando
a lacuna na formação docente, a consciência fonológica se apresenta como um
desafio na formação dos professores que atuam na educação Infantil e nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, pois estes precisam buscar outros meios de
deterem este conhecimento.
Mesmo com a formação continuada que o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) proporciona aos professores da rede pública através do PNAIC, essa
formação só atende professores que atuam de 1° ano do ensino fundamental ao 3°
ano do ensino Fundamental, não beneficiando professores da Educação infantil, e
22
após a formação, não há um acompanhamento quanto a dificuldades que os
professores enfrentaram ou enfrentam, quanto à aplicabilidade em sala, o resultado
somente é verificado através de avaliação dos alunos.
Talvez porque, ainda há grandes discussões que giram em torno de qual é o
melhor momento para iniciar o ensino da leitura e da escrita, e se é adequado dar
inicio na Educação Infantil? Perante essas perguntas, Ferreiro (2011, p.99) sustenta:
Em vez de nos perguntarmos se “devemos ou não devemos ensinar”, temos de nos preocupar em dar às crianças ocasiões de aprender. A língua escrita é muito mais que um conjunto de formas gráficas. É um modo de a língua existir, é um objeto social, é a parte de nosso patrimônio cultural.
2.1 Processo de alfabetização na Educação Infantil
Um dos grandes problemas na Educação Infantil seja por uma má formação
dos professores que atuam nessa modalidade de ensino, ou por uma equivocada
concepção do que ensinar nessa faixa etária, é que muitos ainda acreditam, que a
criança nesse momento deva se dedicar mais ao brincar, não que isso seja errado,
porém é no brincar que a criança cria seus significados, é neste momento do brincar
que se podem proporcionar as crianças situações de aprendizagem.
A alfabetização é um processo que se inicia muito antes da entrada da
criança na escola, porém é no espaço escolar que essa prática deve ser estimulada
com maior empenho, desde os primeiros anos da Educação infantil, proporcionando
um ambiente alfabetizador, ou seja: "[...] um ambiente é alfabetizador quando
promove um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita das quais as
crianças têm oportunidade de participar" (RCNEI; SEF, 1998, p. 154).
Os estudos mais recentes indicam que trabalhar com a consciência fonológica
desde os primeiros anos escolares, facilita o processo de aquisição da leitura e da
escrita nos anos posteriores, fazendo com que os alunos que tiveram esses
estímulos desde os primeiros anos, tenham um maior desempenho nesse processo
de alfabetização, entretanto, Kramer (2010) denuncia a escassez de trabalhos que
examinem o lugar da leitura e da escrita na Educação Infantil.
A consciência fonológica já definida anteriormente está ligada ao princípio
alfabético e ao desenvolvimento de habilidades como o reconhecimento das sílabas
23
e fonemas numa palavra. É uma capacidade cognitiva a ser desenvolvida, uma vez
que contribui para o processo de aquisição da leitura e da escrita.
Crescentes são os debates, que tem como tema central, qual é o lugar que a
escrita ocupa ou deve ocupar na vida dos alunos dentro e fora da escola, e essa
discussão também deve fazer parte do ensino na Educação Infantil, entretanto,
essas discussões têm sido realizadas somente na visão dos adultos, e a perspectiva
das crianças sobre essa problemática tem recebido pouca ou nenhuma atenção.
A importância de se explorar essa temática pelo ponto de vista das crianças assenta-se, no reconhecimento da centralidade das práticas sociais do grupo geracional para seus processos de socialização e de construção de conhecimentos, que, no caso de crianças pequenas, são sabidamente marcadas pela ludicidade característica da cultura de pares. (CORSARO, 2005)
Já no início dos anos 1980, Emilia Ferreiro, em seu livro Reflexões sobre
alfabetização (FERREIRO, 1985), criticava o falso pressuposto que subjaz à
determinação de idade e série de escolaridade para que a criança tenha acesso à
língua escrita: o pressuposto de que os adultos é que decidem quando esse acesso
pode ser permitido. Pressuposto falso, porque, nos contextos grafocêntricos em que
vivemos, as crianças convivem com a escrita - umas, mais, outras, menos,
dependendo da camada social a que pertençam, mas todas convivem - muito antes
de chegar ao ensino fundamental e antes mesmo de chegar a instituições de
educação infantil. (SOARES, 2009)
Independente da metodologia utilizada para a alfabetização, na Educação
Infantil esse processo deve ser iniciado de forma lúdica, onde o brincar e as praticas
de letramento se correlacionem entre si. Pode-se argumentar que as crianças e a
professora transformaram momentos de brincadeiras em eventos de letramento
(Heath, 1983) e, assim, constituíram o que Street (2003) denominou de um híbrido
entre a cultura local e a global, no que se refere ao entendimento do lugar do brincar
e da aprendizagem da leitura e da escrita na educação infantil.
Alfabetizar na Educação Infantil não significa que a criança deva se apropriar
do sistema alfabético nesse momento, mas sim aprender sobre o uso social e
cultural desse sistema. Assim como afirma Soares (2009):
É preciso reconhecer que o acesso inicial à língua escrita não se reduz ao aprender a ler e escrever no sentido de aprender a grafar palavras e decodificar palavras - não se reduz à alfabetização no sentido que é atribuído a essa palavra. É parte integrante e principal
24
do acesso ao mundo da escrita, mesmo do acesso inicial a esse mundo, o aprender a fazer uso da leitura e da escrita.
As atividades mais comuns na Educação Infantil são os rabiscos, brincadeiras
de faz de conta, jogos, desenhos, o que não é considerado como praticas de
alfabetização, mas na verdade é a fase inicial da aprendizagem da língua escrita,
segundo Vygotsky, a pré-história da linguagem escrita: quando atribui a rabiscos e
desenhos ou a objetos a função de signos, a criança está descobrindo sistemas de
representação, precursores e facilitadores da compreensão do sistema de
representação que é a língua escrita.
Voltando a discussão de uma metodologia mais adequada à alfabetização,
diante do fracasso escolar nessa área, que esta gritante diante de todos, podendo
ser verificado através de avaliações como SIMAVE, SAEBE entre outros, desta
forma crescem os debates e pesquisas em busca de recuperar a especificidade da
alfabetização. Segundo Magda Soares, nos encontramos em um momento da
reinvenção da alfabetização, A revista Educação do ano passado, cuja chamada de
capa é Guerra de Letras, diz: "Adversários do construtivismo garantem que o antigo
método fônico é mais eficaz no processo de alfabetização". Esse é um sinal que
indica um momento de reinvenção da alfabetização. Outro sinal é um texto da
revista Ensaio, de abril de 2002, que traz um artigo com o seguinte título:
"Construtivismo e alfabetização: um casamento que não deu certo". (SOARES,
2003)
Especialistas afirmam que é preciso voltar a orientar as crianças na
construção das relações fonemas/grafemas. Várias pesquisas comprovam a
correlação entre consciência fonológica e progresso na aprendizagem da leitura e da
escrita. Portanto, jogos voltados para o desenvolvimento da consciência fonológica,
se realizados sistematicamente na educação infantil, criam condições propícias e,
inclusive, necessárias para a apropriação do sistema alfabético.
Trabalhar com trava-língua, rimas, musica e jogos, na educação infantil torna-
se possível o desenvolvimento dos futuros leitores antes mesmo que estes leiam e
escrevam de fato.
2.2 Desenvolvimento das habilidades fonológicas na educação infantil
25
Sabe-se que o desenvolvimento da consciência fonológica inicia-se muito
cedo e vai-se expandindo progressivamente ao longo da infância. Para Lane e
Pullen (2004) o desenvolvimento da consciência fonológica depende das
experiências linguísticas da criança, mais precisamente do seu desenvolvimento
cognitivo e da exposição formal do sistema alfabético, como é o caso da aquisição
de leitura e escrita.
A criança pequena muitas vezes tenta imitar a escrita dos adultos, através de
rabiscos e garatujas, o que representa o inicio do processo de alfabetização. Dentre
os níveis identificados por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (2001), é o primeiro nível
que as crianças passam em seu processo de conceitualização do sistema alfabético,
níveis estes: icônico e da garatuja, pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e
alfabético.
Faz-se lembrar de que Ferreiro e Teberosky identificaram os níveis
investigando comportamentos de crianças de 4, 5 e 6 anos. Como comprovam
inúmeras pesquisas e observações em instituições de educação infantil, as crianças
de 4 e 5 anos, com raras exceções, evoluem rapidamente em direção ao nível
alfabético se são orientadas e incentivadas por meio de atividades adequadas e
sempre de natureza lúdica, característica necessária na educação de crianças
pequenas: escrita espontânea, observação da escrita do adulto, familiarização com
as letras do alfabeto, contato visual frequente com a escrita de palavras conhecidas,
sempre em um ambiente no qual estejam rodeadas de escrita com diferentes
funções: calendário, lista de chamada, rotina do dia, rótulos de caixas de material
didático, etc. (SOARES, 2009)
Mesmo atividades muito presentes na educação infantil, via de regra
consideradas apenas por sua natureza lúdica - a repetição de parlendas, a
brincadeira com frases e versos trava-línguas, as cantigas de roda, a memorização
de poemas, são passos em direção à alfabetização porque, se forem orientadas
nesse sentido, desenvolverão a consciência fonológica, um aspecto fundamental
para a compreensão do princípio alfabético: se o sistema alfabético representa os
sons da língua, é necessário que a criança torne-se capaz de voltar sua atenção não
apenas para o significado do que fala ou ouve, mas também para a cadeia sonora
com que se expressa oralmente ou que recebe oralmente de quem com ela fala; que
perceba, na frase falada ou ouvida, os sons que delimitam as palavras, em cada
26
palavra, os sons das sílabas que constituem cada palavra, em cada sílaba, os sons
e que são feitas. (SOARES, 2009)
Segundo Dioses (2006), o primeiro dos níveis de aquisição do conhecimento
fonológico que compõe a Consciência Fonológica é a consciência de rima e
aliteração, a qual consiste no processo de reconhecimento de que duas ou mais
palavras compartilham um mesmo grupo sonoro. O segundo nível é a consciência
silábica, entendida como o conhecimento explícito de que as palavras estão
formadas por uma sequência de unidades fonológicas discretas, porém capazes de
se agrupar em unidades articulatórias. O terceiro é a consciência intrassilábica, a
habilidade de segmentar as silabas em seus componentes intrassilábicos de
princípio (ataque) e final (rima). E, por último, a consciência fonêmica, entendida
como a destreza em perceber os sons das palavras como unidades abstratas e
manipuláveis.
É de suma importância no desenvolvimento da consciência fonológica o
trabalho com rima e aliterações. A rima é a identidade sonora que ocorre,
geralmente, no final das palavras. Por exemplo, para rimar com sapato, a palavra
deve terminar em ato; para rimar com café, a palavra precisa terminar somente
em é. A equivalência deve ser sonora e não necessariamente gráfica, ou seja, as
palavras massa e caça rimam, pois os sons com que terminam são iguais,
independentemente da forma ortográfica.
Nas crianças de 4 a 5 anos, estimular o desempenho através de tarefas com
rimas, é essencial para o domínio da consciência fonológica, pois é o nível mais
básico e possui maior aplicabilidade com pré-escolares. A capacidade de crianças
em idade pré-escolar de detectar aliteração e rima se correlaciona significativamente
com o seu sucesso posterior na aprendizagem da leitura e da escrita. (CARDOSO,
FREITAS, SIQUARA, 2012, P. 39)
Para comprovar que a habilidade de refletir sobre os sons da fala ajuda na
aquisição da língua escrita, em um de seus estudos Bradley e Bryant (1983), na
Inglaterra, deram a crianças de quatro e cinco anos de idade, antes delas terem
aprendido a ler e a escrever, vários testes que avaliavam suas capacidades
linguísticas e metalinguísticas.
Uma das avaliações, por exemplo, a criança tinha que identificar dentre três
palavras, qual não combinava com as outras, duas palavras terminavam com o
27
mesmo som e uma não, e a criança deveria perceber qual era essa com terminação
diferente. E faziam ao contrário também, palavras que iniciavam com som igual e
apenas uma que não tinha o mesmo inicio sonoro.
Os resultados mostraram que as crianças que na Educação Infantil
conseguiram identificar as palavras cujos sons eram diferentes dos outros, foram às
crianças que tiveram melhores desempenhos de leitura no ano seguinte, quando
aprendiam a ler e escrever. Em outras palavras, esse conhecimento sobre sons
ajudava as crianças a ler e a escrever.
Bradley e Bryant(1983) formularam a seguinte hipótese: Se a consciência
fonológica ajuda na aquisição da leitura, ajudar as crianças a desenvolver essa
habilidade melhorará o seu desempenho na leitura.
Através de estudos atuais, já no Brasil, também levam a esta mesma
conclusão. Capovilla e Capovilla (2000), comprovaram este fato através de um
estudo realizado com crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 9 anos.
Verificaram neste estudo que houve um acréscimo significativo nos resultados
obtidos na maioria das provas e concluíram que o treino da consciência fonológica
realizado precocemente pode ajudar na aquisição da leitura e escrita.
O treino da consciência fonológica pode ser divertido e deve ser apropriado à
faixa etária em que a criança se encontra. Deve iniciar-se por um nível mais fácil, por
exemplo, através da exploração de rimas e da segmentação de palavras. Os
poemas, os trava-línguas, as músicas, as adivinhas, as parlendas, os ditados
populares, as histórias, os jogos de escuta e de linguagem são, igualmente,
exemplos de atividades facilitadoras do desenvolvimento da consciência fonológica
no pré-escolar.
Através dos conhecimentos neurocientíficos, o professor tem condições de
estimular as rotas fonológicas e semânticas. Dehaene (2012, p. 43) entende que o
“acesso à sonoridade das palavras se produz muito rapidamente,
inconscientemente, por via de conversão rápida dos grafemas em fonemas”. E
complementa: “se considerarmos agora a via lexical, aquela que reconhece as
palavras familiares, é necessário imaginar uma estocagem maciça de dezenas de
milhares de palavras” (DEHAENE, 2012, p. 56). Desta maneira é imprescindível
desafiar as crianças a buscarem semelhanças sonoras em palavras, e provocá-las a
procurar outras palavras com as mesmas semelhanças.
28
CAPÍTULO III
NEUROCIÊNCIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES À PRÁTICA DOCENTE
Hoje se sabe que o cérebro humano, o órgão mais importante do sistema
nervoso, é onde está localizado nosso intelecto, algo que algum tempo atrás já foi
contestado pelo grande filósofo Aristóteles, que afirmava ser o coração o centro do
intelecto.
É através dos estudos neurocientíficos que se pode compreender como o
sistema nervoso funciona, como se dá os sentidos, os movimentos e como se
aprende, por exemplo, entre outras contribuições essenciais para compreensão do
ser humano.
Para compreender a dinâmica da sala de aula é necessário entender o
funcionamento do cérebro, pois o ser humano é primeiramente biológico e não
somente psicossocial, o professor precisa ter esses conhecimentos para melhor
planejar sua pratica pedagógica e possibilitar aos seus alunos os estímulos
adequados, Relvas (2016) argumenta que:
A precariedade dos saberes sobre o funcionamento básico cerebral, bem como a falta de utilização de seus vastos recursos na educação, faz com que seja premente a inclusão deste tema interdisciplinar na formação científica do professor, buscando a relação entre a neuroplasticidade e os processos de aprendizado, com finalidade de instrumentalizar o educador.
A Neurociência estuda o sistema nervoso central em seu pleno
desenvolvimento e a Neuropedagogia vem para realizar este dialogo entre o cérebro
e educação, esta nova área de estudos vem para contribuir no fazer pedagógico
entendendo este cérebro como um cérebro social e emocional, portanto diferentes
entre si e que podem ser moldados pelo fazer docente.
Com o avanço da tecnologia a Neurociência também evolui, o que trouxe
novas descobertas da mente humana e que ajudam o professor a compreender
melhor o comportamento humano e como se da a aprendizagem.
29
Conhecer o processo da aprendizagem é um desafio para o professor, ele
precisa reconhecer e incorporar estes conhecimentos para enriquecer a sua pratica
de ensino, neste sentido nos fala Relvas (2016):
Estudar a Neurociência é fazer uma releitura das principais teorias da aprendizagem, mas também é reconhecer que é uma ciência, que estuda a aprendizagem no contexto do processo químico, celular, anatômico, funcional, patológico, comportamental do sistema nervoso, evidenciando, assim, uma visão sistêmica e integradora do estudante. Uma abordagem neurocientifica da aprendizagem compreende o entendimento da formação da inteligência, da emoção e do comportamento na interface no contexto escolar nas dimensões biológicas, psicológicas, afetiva, emocional e social.
O professor quando se apropria dos conhecimentos advindos dos estudos
neurocientíficos pode criar métodos de ensino mais eficazes, tornando suas aulas
prazerosas e estimulantes.
A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a memória, o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo o humor, a afetividade, o movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das imagens que fazemos mentalmente, o próprio desenvolvimento infantil e as diferenças básicas nos processos cerebrais da infância. (IZQUIERDO, 2002)
Outro fator importante é a questão das crianças com necessidades especiais,
é cada vez mais comum profissionais despreparados receberem essas crianças sem
preparo algum, novas exigências exigem novas perspectivas, e a perspectiva
biológica, fisiológica e anatômica que a neurociência apresenta, ajuda a
compreender estes diferentes cérebros.
Todos esses saberes são necessários para a compreensão do fazer
pedagógico, a neurociência veio como aliada do professor na atualidade, em
identificar o aluno como ser único e pensante, que aprende de maneira pessoal.
Desvendar os segredos do cérebro humano no momento da aprendizagem facilita o
trabalho pedagógico.
3.1 Como o cérebro aprende
Todo o cérebro é responsável pela aprendizagem, ele é divido em dois
hemisférios, direito e esquerdo, e subdividido em regiões, cada qual com sua
30
função, porem não trabalham individualmente, um depende do outro e trabalham em
conjunto.
No Córtex pré-frontal está localizado nossa memória de trabalho, que ficam
todas as informações que temos consciência no presente momento. E por todo
córtex cerebral está à memória de longo prazo, conectados entre si por diferentes
caminhos neurais.
O ambiente externo envia estímulos e informações o tempo todo para nosso
cérebro, captados pelos canais sensoriais, essas informações são retidas no tálamo
que via nervos manda para os locais necessários onde são processadas e
assimiladas, trazendo da memória de longo prazo, outras informações que são
relacionadas com as novas, a medida que se treina/repeti essa ação, reforça as
sinapses e ocorre a aprendizagem.
Sem memória não há como se dar a aprendizagem:
A memória é a base de todo o saber e, também, de toda a existência humana, desde o nascimento. Todo o nosso cérebro funciona por meio da memória; comemos, andamos, falamos porque nos lembramos de como fazê-lo. A memória determina nossa individualidade como pessoas e como povos. (RELVAS, 2009, p.56)
Através da memória que se da continuidade a humanidade, pois a historia é
repassada de geração em geração antes mesmo da existência da escrita, que só foi
possível por esse mecanismo incrível, uma das funções mais importantes do
cérebro, que consegue guardar todas essas informações.
A aprendizagem, por sua vez, ocorre mediante a possibilidade de o sujeito construir internamente, via linguagem, as experiências vividas e de memória, evocá-las nas situações onde, por meio da categorização do pensamento, se podem realizar associações entre o passado e as situações presentes. Esse processo revela a interiorização da ação como tal. (RELVAS, 2016, p.128).
A aprendizagem só é possível porque o cérebro é plástico, ou seja, é capaz
de se reestruturar em função de novas exigências ambientais ou das limitações
funcionais ocasionadas por lesões cerebrais, o que chamamos de plasticidade
neural.
A aprendizagem requer a aquisição do conhecimento e a capacidade de
guardar e integrar esta aquisição e posteriormente ser usado quando necessário,
31
durante este processo ocorrem modificações nas estruturas e no funcionamento das
células neurais e de suas conexões, ou seja, aprendizagem só ocorre por que é
possível a plasticidade neural.
O cérebro, no entanto é seletivo e escolhe o que quer aprender, portanto para
aprender, a nova informação deve ter importância e coerência, o cérebro deleta o
que não é coerente.
Sendo assim a aprendizagem ocorre através da memória envolvendo várias
áreas do sistema nervoso e só é possível pela plasticidade neural, se um estudante
não conseguiu aprender de uma maneira, não adianta insistir, pois isso quer dizer
que ele não encontrou nada em seus arquivos, é preciso ligar o conteúdo a varias
estímulos sensórios, um cheiro, uma musica, para que o cérebro busque através de
diferentes áreas, ligar este novo conhecimento. Visto isso, agora vejamos como este
cérebro aprende a ler.
A escrita é algo recente, se pensarmos na escala da evolução humana (cerca
de 5 mil anos), portanto o cérebro não evoluiu para ler ele se adaptou para leitura,
nós já nascemos aptos para a fala, para leitura e escrita não.
Estudos neurocientíficos apontam que para que haja uma alfabetização
significativa, ou seja, o aprendiz ler e ter a consciência do que esta lendo, se faz
necessário que a metodologia empregada por parte do professor beneficie a
construção da consciência fonológica.
Dehaene (2012) através de seus estudos e mapeamento cerebral das áreas
envolvidas no reconhecimento da palavra escrita, identifica que o cérebro aprende
melhor pelo som, sendo assim desenvolver a consciência fonêmica é
primordialmente essencial. Conforme Dehaene (2012, p.80) “[...] os técnicos da
imagem cerebral funcional revolucionaram o estudo do cérebro humano, permitindo
literalmente a leitura do cérebro”.
Com isso percebe-se que os métodos antigos de alfabetização não respeitam
a rota fonológica e semântica, atualmente considerados essenciais para o
desenvolvimento do futuro leitor. Uma visão moderna das redes corticais da leitura
(fig. 1) indica que o caminho é o do desenvolvimento da metafonologia para garantir
a qualificação do processo de alfabetização.
32
Figura 1 – Visão moderna das redes corticais da leitura (adaptação a partir de DEHAENE
2007, p. 97).
Essa figura destaca, em vermelho, a região occipito-temporal ventral; em
laranja, a região ativada pelo desenvolvimento da consciência fonológica e da
decodificação; e em cor verde, a região da rota semântica, a qual trará sentido à
palavra lida pela criança.
O processo de leitura no cérebro tem inicio pelas entradas visuais e passa
primeiramente pelo desenvolvimento da consciência fonológica, logo após a rota
lexical ou semântica. Visto isso é essencial respeitar essa dinâmica e criar estímulos
adequados para chegar até ao uso pleno da região occipito-temporal ventral, ou
seja, existem maneiras de se desenvolver com maior qualidade as interconexões até
que se chegue a leitura e a escrita.
3.2 O prazer que deve atravessar pelo cotidiano da Educação Infantil
É comum se ver crianças de 4 ou 5 anos brincando com nomes dos colegas
em jogos de rimas como: "Gabriel cara de pastel, “Fabiana cara de banana". Mesmo
sem saber que isto é uma rima, a brincadeira espontânea das crianças atesta sua
capacidade de consciência fonológica.
É neste contexto Lúdico que a aprendizagem deve acontecer nos anos
iniciais, e que o educador de forma intencional deve estar atento para mediar estas
33
situações do brincar e elevar a um nível de aprendizagem significativa, articular e
estabelecer uma estreita relação entre o brincar e o letramento é fundamental.
Pensando nisso, segundo Brancher, Chenet e Oliveira (2005), afirmam:
Várias situações experimentais indicam que quando as crianças
brincam, aprendem. A espontaneidade dos seus atos e a
oportunidade de demonstrá-los favorecem situações em que elas
não se sintam com medo de errar ou pressionadas a realizar tarefas
obrigatórias.
Ainda afirma Relvas (2012, p.54), “Para garantir que as informações sejam
transformadas em aprendizagem, as aulas devem ser emolduradas pela emoção,
pois quando elas tem significado para a vida e vem pelo caminho da emoção, jamais
serão esquecidas”.
Um indivíduo só aprende o que deseja, o que lhe dá prazer, e para despertar
este desejo de aprender, o professor precisa acionar as conexões afetivas e
emocionais do sistema límbico desse aluno, com atividades que estimulem a
produção de serotonina e dopamina, mensageiros químicos que provocam a
sensação de prazer e satisfação.
E não levando atividades que provoquem a liberação de cortisol e adrenalina,
substancias que bloqueiam a aprendizagem, impedindo a transmissão de
informações ente os neurônios, aulas com professor elevando a voz, sem paciência
e irritado, promovem o stress e irritabilidade nos alunos também.
Pensando nisso Relvas (2012, p.56) acredita que: “Para uma aprendizagem
significativa, a aula tem de ser prazerosa, bem-humorada, elaborada e organizada
estrategicamente a fim de atender os movimentos neuroquímicos e neuroelétricos
do estudante”.
Na Educação Infantil ser um professor afetivo, amoroso e empático é
essencial, pois é nesse momento que as crianças têm seu primeiro contato com a
instituição escolar, e é importante que estas experiências sejam positivas, todos tem
uma história para contar de algum professor, ser educador é marcar a vida de um
aluno, então que seja para marcar positivamente.
34
Nesta etapa de ensino, não se faz um trabalho para os alunos, mas sim com
eles, a construção do saber deve-se iniciar a partir das experiências e vivencias dos
alunos, nesta faixa etária o cérebro é uma verdadeira “esponja” absorve tudo com
maior facilidade e agilidade, agregar novos conhecimentos aos já existentes assim
que se aprende.
Relvas (2012, p54), deixa clara a necessidade de o professor enriquecer sua pratica
de ensino através do conhecimento da neurociência, “O papel do professor é
provocar desafios, promover ações reflexivas e permitir o diálogo entre emoções e
afetos num corpo orgânico e mental que é “palco” destas reações”.
O desejo é movido pelo inconsciente que nesse momento do aprender ou não aprender responde as informações libidinadas (negação, recusa, omissão, rejeição etc)... ”A emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados”. (RELVAS, 2009 p.59)
Incentivar a autoestima dos pequenos é primordial, a criança que deve
sempre ser elogiada pelos seus avanços e conquistas, o professor deve agir com
tranquilidade diante da falha, que na verdade foi uma tentativa de acerto.
Através da neurociência sabe-se que cada ser é único e motivado de maneira
individual, então se constata que se existem varias maneiras de aprender, também
devem existir varias maneiras de ensinar, o professor deve oferecer o maior número
de estímulos possíveis para atingir um maior numero de alunos, para que todos
tenham a chance de construir seu conhecimento.
A Educação infantil é o cenário perfeito para uma aula criativa e estimulante,
pois se tem o tempo hábil para isso, esse tempo vai diminuindo conforme as
crianças vão passando de um ano letivo para o outro. Trabalhar com musica,
receita, jogos, brincadeira de roda, contar uma história, usar instrumentos musicais,
produzir um teatro de fantoches, são inúmeras as possibilidades, para motivar e
emocionar os pequenos infantis.
35
CONCLUSÃO
Desenvolver a consciência fonológica significa, para muitos educadores,
trabalhar com o tradicional “método fônico”, que restringe a fônica ao treinamento
repetitivo e à memorização mecânica. Mas certamente, não é desse método fônico
que se trata o presente trabalho, e que os estudiosos e pesquisadores estão
falando, o que se pretende é voltar a orientar as crianças na construção das
relações entre as letras e os sons da fala.
Essa confusão acontece pela precária formação dos educadores, pois essas
pesquisas não são amplamente discutidas na maioria dos cursos, o que se faz
necessário é uma reformulação, uma atualização nos currículos dos cursos de
Pedagogia, e também do profissional da educação estar sempre buscando adquirir e
desenvolver novas competências, se reinventar.
Embora gestores e educadores reconheçam a importância do trabalho com a
língua escrita no seguimento da Educação Infantil, as atividades desenvolvidas com
crianças pequenas referentes à alfabetização, ainda privilegiam cópia do alfabeto e
atividades de coordenação motora, supostamente com o intuito de preparação para
o ensino fundamental, muita confusão há nesse sentido ainda.
No contexto da Educação Infantil, as crianças são inseridas no meio escrito,
quando brincam com a sonoridade das palavras, reconhecendo semelhanças e
diferenças entre elas; quando manuseiam todo tipo de material escrito; quando o
professor lê e transcreve os textos de produção coletiva.
A aprendizagem inicial da escrita por parte do aprendiz está diretamente
ligada à mediação de outro sujeito mais experiente e, para tanto, a prática do
educador deve responder a essa necessidade. Que deverá realizar diariamente,
atividades relacionadas á perspectiva do letramento, utilizando textos de diferentes
gêneros, com ênfase em textos curtos, como parlendas, poesias, cantigas de roda,
trava-língua, que possibilitem a realização de atividades de reflexão fonológica.
Todas as atividades sugeridas devem ter como eixo central o brincar, devem
ser atividades prazerosas para os pequenos, pois é através do brincar que a criança
conhece a si, os outros e o mundo, desenvolve seu pensamento e habilidades ainda
não consolidadas, enfim é através do brincar que a criança se expressa e se
apropria do mundo.
36
Promover um ambiente afetivo e seguro, que traga prazer e satisfação a
todos os envolvidos na ação pedagógica, faz com que todas as memórias
construídas jamais sejam esquecidas, se aprende a medida que se emociona com o
conteúdo exposto, então que sejam emoções positivas.
É possível e se faz necessário à construção de uma prática pedagógica que
integre o brincar e a construção do conhecimento, mais especificamente a
apropriação da leitura e da escrita, respeitando sempre a cultura de pares e cada
fase do desenvolvimento infantil. Quando democratiza o acesso a cultura escrita, ela
está contribuindo para minimizar as diferenças socioculturais.
Sendo assim o presente estudo indica a necessidade de um
acompanhamento adequado às crianças de 4 e 5 anos, para que estas com o auxílio
do professor, consigam desenvolver suas habilidades fonológicas, sendo que esta
capacidade pode predizer o seu sucesso posterior na aprendizagem da leitura e da
escrita, pois é possível aprender brincando e se emocionando desde a Educação
Infantil.
Muito ainda tem de ser pesquisado, no que se refere à prática pedagógica em
si, para amenizar ou superar a má alfabetização em nosso país, e muito ainda tem
de ser pensado no que diz respeito à elaboração de políticas publicas que vá de
encontro às esses anseios educacionais, para a superação do fracasso escolar, pois
vai muito além da escolha de um método pedagógica, a fatores que extrapolam os
muros da escola, mas que devem ser pensados dentro dela.
37
BIBLIOGRAFIA
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
CONTEXTO HISTÓRICO DA CONSCIENCIA FONOLÓGICA
NO BRASIL 11
1.1.Quatro eixos que orientam a aquisição da leitura e da escrita pelo
(PNAIC) 13
1.2. Consciência Fonológica: conceito e sua relação com a aquisição da
leitura e da escrita 15
CAPÍTULO II
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 20
2.1. Processo de alfabetização na Educação Infantil 22
2.2. Desenvolvimento das habilidades fonológicas na educação infantil 24
CAPÍTULO III
NEUROCIÊNCIAS E SUAS CONTRIBUILÇOES À PRÁTICA DOCENTE 28
3.1. Como o cérebro aprende 29
3.2. O prazer que deve atravessar pelo cotidiano da educação infantil 32
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 37