Post on 07-Jan-2017
DDesde a sua fundação, há 21 anos, o CEMPRE tem tradição de realizar pesquisas e estudos que ajudam a definir estratégias empresariais e governamentais na área de reciclagem.
Graças à proatividade do setor empresarial e ao esforço dos
catadores, muito se avançou na reciclagem de embalagens
pós-consumo no país. Ao longo do tempo, o trabalho junto aos
setores que compõem o mercado de coleta seletiva, triagem
e processamento de materiais para fabricação de produtos
reciclados tornou-se uma referência.
O modelo inspirou a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
que veio em boa hora, a fim de impulsionar a reciclagem a
partir da definição de regras claras dentro do princípio da
responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e
população. Construir bases sólidas para que esse mercado –
emergente e promissor – se desenvolva com viabilidade técnica
e econômica é um dos principais desafios atuais.
Esta publicação é a primeira de uma série que tem por objetivo
analisar e atualizar o panorama da reciclagem de embalagens
pós-consumo no Brasil. Além de um diagnóstico de mercado,
contextualizado a partir dos aspectos econômicos, ambientais e
sociais, a proposta é apresentar caminhos e subsidiar decisões
no horizonte de três anos para o incremento dos índices de
recuperação de embalagens e para a formulação de políticas
públicas de incentivos, inclusive tributários, necessários para
o combate à informalidade e crescimento do setor com
geração de renda.
Victor Bicca Neto
Presidente do CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem
apresentação
1
23
expediente índice
Cenário
O contexto histórico, a evolução e as perspectivas do mercado de resíduos recicláveis no Brasil
Pilares
O papel dos municípios, empresas e consumidores para avanços na cadeia produtiva da reciclagem
Catadores
A força de trabalho que se organiza e ganha reconhecimento para a expansão econômica da atividade
CEMPRE Review é uma publicação do CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem*
Presidente Victor Bicca Neto Diretor executivoAndré Vilhena
Coordenação editorial e texto Sérgio Adeodato
Direção de arte, projeto gráfico e ilustração digitalWalkyria Garotti
CapaWalkyria Garotti e Sandro Falsetti
Revisão José Julio do Espirito Santo
Produção gráficaBel Brunharo
Tratamento de imagemMomédio Nascimento
ImpressãoGráfica Pigma
CEMPRE – Compromisso Empresarial para ReciclagemRua Bento de Andrade, 126, Jd. Paulista, São Paulo-SP, CEP 04503-000
Informações em www.cempre.org.br, www.facebook/cemprebr ou cempre@cempre.org.br
* Publicação elaborada com base em dados gerais consolidados até 2012 em estudo da LCA Consultores. Para informações atualizadas, consulte: www.ipea.gov.br, www.snis.gov.br e www.ibge.gov.br.Associações setoriais: www.abralatas.org.br, www.plastivida.org.br, www.abiplast.org.br, www.abividro.org.br, www.bracelpa.org.br, www.abipet.org.br e www.abeaco.org.br.
6
18
36selo FSC
6 7cempre review 2013 cempre review 2013
contexto histórico,Oevolução
recicláveisperspectivas
no Brasil
e asa
do mercado de resíduos
Nas últimas duas décadas, o país de-
senhou seu modelo de reciclagem ba-
seado na coleta seletiva e no trabalho
dos catadores. Após a nova legislação,
a expectativa é o crescimento do mer-
cado com investimento público e em-
presarial nessa base já construida.
cenárioO Brasil dá passos importantes para ocupar posição de destaque no
cenário global da reciclagem. Isso se deve não apenas aos índices
já alcançados de retorno de embalagens, a exemplo das latas de
alumínio e das garrafas PET. O potencial do setor é proporcional
ao desenvolvimento econômico, aos avanços nas práticas de
sustentabilidade das empresas, às ações de governo bem construídas
e a uma maior conscientização por parte do consumidor. A tendência
é o crescimento ser acelerado à medida que a lei da Política Nacional
de Resíduos Sólidos é colocada em prática dentro de um ambiente
regulatório favorável a novos investimentos.
Projeções realizadas pela LCA Consultores com base em dados públicos
do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e de associações
empresariais mostram que 27% dos resíduos recicláveis (fração seca) coletados nas cidades foram efetivamente recuperados em 2012 – ou seja, foram desviados dos lixões e
aterros, retornando à atividade produtiva. No caso específico das
embalagens, o índice de recuperação foi de 65,3%.
O retrato do mercado brasileiro da reciclagem e sua perspectiva de
futuro estão alicerçados em um processo histórico marcado, desde o
início, por uma atitude proativa do meio empresarial no sentido de se
antecipar a medidas legais e contribuir no desenho de um caminho
ambientalmente adequado, socialmente benéfico e economicamente
viável para a gestão dos resíduos no Brasil, respeitando a realidade
e as peculiaridades nacionais.
ISTO
CkPh
OTO
8 9cempre review 2013 cempre review 2013
cobertura da coleta
Coleta e geração estimada de resíduos sólidos no Brasil
lixo coletado (ton/dia)lixo geRado (ton/dia)
169.300193.642
Fonte: SNIS (2010), Censo 2010, LCA
O quadro atual resulta do debate intensifi cado nas
décadas de 1970 e 1980, quando os riscos da poluição,
do desperdício e do uso excessivo de recursos naturais
municiavam as ações ambientalistas. Logo, a questão
entrava para a agenda de governos e empresas. Marco
desse processo foi a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), onde
os países debateram caminhos para colocar o planeta
nos trilhos de uma prosperidade econômica com menos
destruição ambiental e desigualdade social, mudando
padrões de produção e consumo. A Agenda 21, reunindo
ações a serem adotadas em cada país, incluiu a gestão
do lixo como tema prioritário.
Naquele ano de 1992, antes da conferência, um
grupo de empresas com visão sobre o cenário que
se apresentava criou o CEMPRE – Compromisso
Empresarial para Reciclagem, tendo como um dos
objetivos a promoção da atividade sob o ponto de vista social e econômico, com a construção de indicadores capazes de orientar e dar suporte a iniciativas legais e ao mercado que emergia. Logo nasceu o Ciclosoft – um sistema
destinado a medir os índices da coleta seletiva, seus
custos e a composição do lixo com o percentual dos
diferentes materiais recicláveis. Adaptada às condições
brasileiras, a iniciativa teve como base o método
desenvolvido originariamente pela ERRA (European
Recovery and Recycling Association).
87,4%
Um pouco de história
10 11cempre review 2013 cempre review 2013
Após a aprovação da nova lei de
resíduos, em 2010, o trabalho
de construir indicadores e fazer
diagnósticos de mercado é estratégico
para induzir o desenvolvimento da
reciclagem sobre pilares sólidos e
mensuráveis, importantes para a
maior transparência, segurança nos
investimentos e melhoria contínua, com
estabelecimento de metas. A legislação
prevê a responsabilidade compartilhada
entre governo, empresas e população
na questão dos resíduos urbanos,
determinando o fim dos lixões até 2014
e o descarte em aterros sanitários
apenas dos materiais que não podem
ser reciclados. A logística reversa, ou
seja, a coleta e o retorno de materiais à
indústria após o consumo, passou a ser
obrigatória para alguns setores.
O mercado se movimenta para a
aplicação da lei e para o aproveitamento
de novas oportunidades de negócio que
devem surgir para dar vazão ao maior
volume de resíduos separados nas
residências e coletados pelas prefeituras.
O CEMPRE estima que, em 2012, a
coleta, a triagem e o processamento
dos materiais em indústrias recicladoras
geraram um faturamento de R$ 10 bilhões no Brasil. A expectativa para
os próximos anos é de uma significativa
expansão, no ritmo da maior escala
e do desenvolvimento do parque
industrial de reciclagem. Nesse caminho,
identificar obstáculos e gerar dados
úteis a políticas de incentivos e de
investimentos, visando o equilíbrio entre
oferta e demanda, a redução de custos
e o máximo de benefícios sociais e
econômicos, é uma rotina que se integra
à gestão do lixo no Brasil.
O impulso com a nova lei
10 cempre review 2013
12 13cempre review 2013 cempre review 2013
mudanças com a lei de Resíduos
Pouca prioridade para a questão do lixo urbano Municípios devem traçar um plano para gerenciar os resíduos da melhor maneira possível, buscando a inclusão dos catadores
A maioria dos municípios destinava os dejetos para lixões a céu aberto Lixões passam a ser proibidos e devem ser erradicados até 2014, com a criação de aterros que sigam as normas ambientais
Sem aproveitamento dos resíduos orgânicos Municípios devem instalar a compostagem para atender a toda a população
Coleta seletiva inefi ciente e pouco expressiva Prefeituras devem organizar a coleta seletiva de recicláveis para atender toda a população, fi scalizar e controlar os custos desse processo
Falta de organização Municípios devem incentivar a participação dos catadores em cooperativas a fi m de melhorar suas condições de trabalho
Inexistência de regulação sobre os investimentos privados na administração de resíduos
Legislação prevê investimentos das empresas no tratamento dos resíduos
Poucos incentivos fi nanceiros Novos estímulos fi nanceiros para a reciclagem
Desperdício de materiais e falta de processos de reciclagem e reutilização A reciclagem estimulará a economia de matérias-primas e colaborará para a geração de renda no setor
Sem regulação específi ca Empresas apoiam postos de entrega voluntária e cooperativas, além de garantir acompra dos materiais a preços de mercado
Manejo do lixo feito por atravessadores, com riscos à saúde Catadores deverão se fi liar a cooperativas de forma a melhorar o ambiente de trabalho, reduzir os riscos à saúde e aumentar a renda
Predominância da informalidade no setor Cooperativas deverão estabelecer parcerias com empresas e prefeituras para realizar coleta e reciclagem
Problemas tanto na qualidade como na quantidade dos resíduos Aumento do volume e melhora da qualidade dos dejetos que serão reaproveitados ou reciclados
Catadores sem qualifi cação Os trabalhadores passarão por treinamentos para melhorar a produtividade
Separação inexpressiva de lixo reciclável nas residências População separará o lixo reciclável na residência
Falta de informações Realização de campanhas educativas sobre o tema
Atendimento da coleta seletiva pouco efi ciente Coleta seletiva será expandida
pode
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ção
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14 15cempre review 2013 cempre review 2013
O que acontece com osresíduos no Brasil
jogado em Rios, lagos ou maR
outRa destinação
enteRRado na pRopRiedade
jogado em teRReno baldio ou logRadouRo
disposto em caçamba
queimado na pRopRiedade
Recolhido poR caminhões e levado paRa lixões, ateRRos ou Reciclagem
0,1%0,2%0,6%
2%
7,2%
9,6%
80,3%
Font
e: C
enso
201
0
Está em jogo não apenas a viabilidade econômica da reciclagem, mas também
a geração de empregos e o bem-estar de milhares catadores, organizados em
cooperativas. Das caixas de suco às garrafas de refrigerantes, o que antes era
visto como lixo sem valor vira fonte de riquezas e como tal começa a ser tratado
pelas estatísticas. Em 2012, pesquisa encomendada pelo CEMPRE à consultoria
LCA cruzou dados pré-existentes sobre saneamento e gerou informações
inéditas sobre o mercado da reciclagem no Brasil, desde a coleta até o destino
final dos resíduos, que em grande parte (40%) acabam em lixões e aterros sem
os cuidados ambientais necessários. Neste quesito, de acordo com o estudo, o
Brasil se encontra no meio do caminho entre os países desenvolvidos e a África,
mas com tendência de evoluir para melhores índices.
Em um país como o Brasil, medir a reciclagem é um trabalho complexo por vários
motivos: o grau de informalidade do mercado, a inexistência de dados oficiais
consistentes e abrangentes, a dimensão territorial e suas diferentes realidades,
e a diversidade de atores que participam do mercado – catadores, atacadistas
de materiais recicláveis, indústrias recicladoras de pequeno, médio e grande
porte, prefeituras, empresas de coleta, entre outros. Um dos poucos estudos
sobre aspectos econômicos da reciclagem foi realizado pelo IPEA (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), em 2010, com a constatação de que o país perde
anualmente R$ 8 bilhões ao enterrar o lixo que poderia ser reciclado.
O país perde anualmente R$ 8 bilhões ao
enterrar o lixo que poderia ser reciclado
Indicadores para os negócios com resíduos
16 17cempre review 2013 cempre review 2013
Os materiais mais descartados
Fonte: IPEA, 2010
matéRia oRgânica51,4%
outRos16,7%
plástico13,5%
papel, papelão e longa-vida13,1%
vidRo2,4%
aço2,3%
alumínio0,6%
O tema da sustentabilidade ganha espaços diferenciados
na agenda do setor produtivo. As ações se tornam
abrangentes e participativas, com maior equidade na
distribuição de benefícios entre os elos das diferentes
cadeias produtivas. Não mais se restringem a filtrar
fumaça das chaminés ou não sujar os rios. Zelar pelo
bem-estar da humanidade, gerar postos de trabalho
e ter boa reputação junto a novos consumidores mais
conscientes e conectados em rede é também uma
condição para ser lucrativo e garantir a sobrevivência do
negócio. O mercado de resíduos é transversal aos novos
desafios e pode contribuir com transformações efetivas
e duradouras para o planeta virar o jogo da degradação
dos recursos em benefício das gerações atuais e futuras.
hoje, a humanidade consome 30% a mais do que o
planeta pode naturalmente repor e é necessário
reduzir a desigualdade no acesso a esses recursos.
O crescimento do mercado da reciclagem é termômetro
dessas transformações.
A tendência é o desperdício diminuir a partir das iniciativas
impulsionadas pela nova lei de resíduos, notadamente até
2014 – horizonte de tempo considerado chave para o avanço da
reciclagem no país. Até lá, os municípios precisam acabar com
os lixões. E naquele ano acontecerá no país a Copa do Mundo
da FIFA, um evento esportivo de potencial para a geração de
legados estruturantes. é oportunidade para as cidades-sede atraírem investimentos, planejarem a gestão dos resíduos e serem estimuladas a aumentar a coleta seletiva, mobilizando a população para a nova prática.
O valor econômico e social dos resíduos
SAM
AR
A A
SS
I/CE
MPR
E
18 19cempre review 2013 cempre review 2013
O país tem avançado na reciclagem
de embalagens pós-consumo e o po-
tencial é de um crescimento crescen-
te em resposta à nova lei de resíduos.
Será necessário investimento na cole-
ta seletiva e na ampliação do parque
industrial que reprocessa os resíduos
separados pela população.
pilares
municípiosempresas
na cadeiada reciclagem
O papel dos
e,
para avançosconsumidores
21cempre review 2013
coleta seletivaem resposta à lei de resíduos,
aprovada em 2010, é crescente
o número de cidades que se
movimentam para fazer planos
municipais de gestão do lixo e
implementar a coleta seletiva com
objetivo de aproveitar materiais
antes despejados em lixões.
o ritmo da corrida para adequação
legal aumentou em 2013, após
as eleições e a transição para a
nova gestão municipal. Apesar do
avanço, o caminho para se atingir
uma maior escala, compatível com
o tamanho do desafi o, é longo:
apenas 14%
dos municípios brasileiros oferecem serviço de coleta seletiva, de acordo com o
estudo ciclosoft (2012). Desse
total, 86% estão nas regiões
sul e sudeste.
22 23cempre review 2013 cempre review 2013
Popu
laçã
o bra
sileira atendida pela coleta seletiva em
2012
Agen
tes e
xecutores da coleta seletiva municipalA elaboração de planos municipais de gerenciamento de resíduos é
condição legal para o acesso a recursos públicos federais, como os que
se destinam à estrutura de coleta e aterros sanitários. O Programa Recicla
Brasil, do Ministério do Meio Ambiente, prevê repasse financeiro para a
implantação de aterros sanitários, com meta de cobrir 73% da população
urbana do país (118 milhões de habitantes). No caso da coleta seletiva, o
plano é atender 59% dos habitantes que vivem em cidades, somando 94
milhões de brasileiros. Hoje são atendidos 27 milhões, segundo o Ciclosoft.
Em complemento, o Programa Pró-Catador, do Ministério do Trabalho e
Emprego, reservou R$ 185 milhões para os governos estaduais apoiarem
municípios. A injeção de investimentos na estruturação da reciclagem
inclui ainda recursos de empresas estatais, como Banco do Brasil e BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
A coleta seletiva municipal é imprescindível como fonte de abastecimento do mercado da reciclagem. A maior parte
dos municípios realiza a coleta de porta em porta (88%), mas cresce a
alternativa de recolhimento por meio dos Postos de Entrega Voluntária
(PEVs), onde a população deixa resíduos recicláveis. Também aumenta
a participação de cooperativas de catadores contratadas para a coleta
seletiva municipal – alternativa já adotada por mais da metade das
cidades que oferecem o serviço.
Municípios com coleta seletiva no Brasil
1994 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012
443405327
237192
13581
Fonte: CEMPRE/Ciclosoft Fonte: CEMPRE/Ciclosoft
12%
26%
52%
prefeiturA cooperAtivA
empresApArticulAr
62%
766
24 25cempre review 2013 cempre review 2013
Um desafio é a redução de custos e o aumento da produtividade
para que o modelo se torne viável e menos dependente de
subsídios. Em 2012, o custo da coleta seletiva ainda se mostrava
4,5 vezes superior ao da coleta convencional de resíduos. Um
caminho é a estruturação de consórcios municipais para a gestão
conjunta dos resíduos urbanos, estratégia capaz de viabilizar
escala, custos e investimentos. No Amazonas, por exemplo, 56
dos 61 municípios se uniram para a elaboração de um plano único.
A tomada de decisão sobre o modelo mais adequado de
reciclagem para o município também deve levar em conta a
composição do lixo separado pela população. Quase metade
(45,9%) do volume coletado é papel e papelão, seguido pelos
plásticos (15,6%). O plano municipal deve embutir a preocupação
de manter os preços da sucata atrativos para o mercado.
O aumento da escala na oferta de materiais, com
reflexos na consolidação da cadeia produtiva da
reciclagem no país, depende da evolução da coleta
seletiva nos grandes centros urbanos, que concentram
o maior percentual do consumo de embalagens e são
irradiadores de tendências e novos modelos de gestão
para outras regiões. No Rio de Janeiro, 1% dos resíduos
foi coletado seletivamente pela prefeitura em 2012,
no total de 30 toneladas diárias, em média. A meta é
aumentar o índice para 25% até 2016, quando a cidade
sediará os Jogos Olímpicos. A expansão da coleta
seletiva recebe R$ 50 milhões da prefeitura e do BNDES,
prevendo a instalação de seis centrais de reciclagem em
diferentes pontos da capital para o processamento de
150 toneladas diárias.
Em São Paulo, a capital mais populosa e industrializada,
a coleta seletiva abrange apenas 2% do lixo gerado pela
população. O serviço cobre 42% dos domicílios, uma
vez por semana. O material é levado para 20 centrais
de triagem mantidas por cooperativas de catadores.
A administração pública alega falta de áreas urbanas
disponíveis para novos galpões. Existem 3,8 mil PEVs e 2,8 mil contêineres que recebem embalagens pós-consumo entregues pela população. Nesse mercado a ser explorado para
o alcance de um patamar satisfatório na gestão
dos resíduos, as soluções passam por decisões
políticas e novos modelos de gestão capazes de gerar
oportunidades de negócios.
Eficiência na coleta Força do pioneirismoSão José dos Campos (SP) é um dos municípios que mais coletam materiais para
reciclagem em relação ao tamanho da população. São 99 toneladas por dia, recolhidas em
todos os bairros por caminhões da empresa municipal de limpeza, a Urban. Os resíduos
são levados para um centro de triagem, operado por 186 funcionários contratados pela
prefeitura, com vendas de R$ 191 mil mensais. Uma quantidade adicional, equivalente ao
dobro da coleta municipal, é operada por cooperativas de catadores, com foco na sucata
de maior valor comercial. Em 2012, a quantidade recolhida para reciclagem cresceu 14%,
quatro vezes mais do que a expansão dos volumes do serviço convencional. O custo da
coleta seletiva, três vezes maior em comparação à comum, é compensado pelos ganhos
sociais e ambientais, além do aumento da vida útil do aterro sanitário.
Porto Alegre está entre as capitais pioneiras em coleta seletiva no Brasil. Iniciado
em 1990, o serviço tomou corpo após a aprovação de uma lei municipal para o
gerenciamento integrado do lixo, prevendo soluções além do descarte em aterros.
A iniciativa teve forte adesão popular por meio de campanhas educativas. Em 2008,
a coleta seletiva já era realizada duas vezes por semana em todos os bairros.
Os resíduos são recolhidos por uma empresa contratada pela prefeitura e levados para
18 cooperativas onde trabalham 700 catadores. Os materiais recicláveis misturados ao
lixo da coleta convencional são separados em estações de transbordo antes do despejo
em aterro. Contratadas pelo município, as cooperativas de catadores recebem um valor
mensal para cobrir custos com a estrutura.
Evolução da média de custos da coleta seletiva (US$/ton)
Font
e: C
EMPR
E/Ci
clos
oft
1994 1999 2004 2006 2008 2010 20122002
240154
114151
221 204 212
70
26 27cempre review 2013 cempre review 2013
A tarefa não se restringe em encontrar caminhos técnica
e economicamente viáveis para a coleta de embalagens
após o consumo. Na ponta final da cadeia, é necessário
consolidar o parque industrial de reciclagem para que
a demanda por resíduos seja compatível com a maior
escala da oferta, com a expansão do mercado diante
do maior número de municípios que cumprem a lei e
aumentam a coleta seletiva. A tendência é o expressivo
aumento do volume de resíduos disponíveis para
reciclagem. Não há fórmulas mágicas. Mais do que
tecnologias caras e importadas, às vezes inadequadas
ao cenário brasileiro, o esforço se concentra na melhor
gestão, na qualificação e na busca inteligente e criativa
de soluções viáveis.
Nas últimas décadas, os produtos reciclados ganharam
qualidade e valor. Fabricantes investem no design e
desenvolvimento de embalagens que utilizam menos
insumos e podem ser recicladas. A partir da agenda
da sustentabilidade das empresas e dos rumos da
chamada “economia verde”, setores produtivos
rompem barreiras e passam a empregar matéria-prima
reciclada como estratégia de ganhos ambientais,
sociais, econômicos e de reputação no mercado.
De embalagens de alimentos a automóveis e
eletroeletrônicos, o espectro de aplicações se amplia a
cada dia. O processo se desenvolve na medida em que
as indústrias assumem responsabilidades, reportam
compromissos e buscam alternativas para o resíduo
gerado após o consumo de seus produtos.
logística reversa
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S: 1
23R
F
O conceito de logística reversa – a coleta de embalagens e
outros materiais após o consumo para retorno como matéria-
prima à produção industrial – se torna comum no vocabulário e
nas práticas empresariais. O sistema pode ser operacionalizado
seguindo diferentes modelos, mais ou menos adequados
conforme as realidades locais. Ele ilustra como a gestão dos
resíduos incorpora-se ao planejamento e à visão de “cadeia de
valor”. Arranjos produtivos que consideram os elos e engrenagens da atividade, desde o insumo básico até o reprocessamento da sucata para fabricação de novos produtos, são estratégicos para a expansão do mercado da reciclagem.
A “responsabilidade compartilhada” pelos resíduos, eixo central
da nova legislação para o setor, reforça a importância dos atores
e seus diferentes papéis. No caso das empresas, a expectativa é
fazer o processo seguir as regras de mercado, com preços atrativos
e equilíbrio entre oferta e demanda. Eficiência no uso de recursos,
geração de emprego, planejamento e produtividade são fatores
que se incorporam à gestão do lixo que deixa de ir para vazadouros
a céu aberto e passa a ser tratado como matéria-prima industrial.
28 29cempre review 2013 cempre review 2013
Ao reduzir o uso de insumos extraídos da natureza com risco de impactos
ambientais, evitar danos à biodiversidade, economizar energia e diminuir
emissões de gases do efeito estufa, a reciclagem representa uma vantagem
competitiva para as empresas. Cada vez mais, as decisões de compra levam em
conta os impactos em todo o ciclo de vida dos produtos, da matéria-prima à
destinação fi nal. Além dos ganhos ambientais e sociais, há redução de custos. A substituição da celulose virgem por fi bras recicladas, por exemplo,
permite economia de R$ 331 por tonelada, metade do custo sem a reciclagem
(R$ 687 por tonelada). Para o caso do alumínio, o valor cai de R$ 6,1 mil para
R$ 3,4 mil por tonelada, segundo dados do IPEA.
Projeções feitas pela LCA indicam que o mercado brasileiro de reciclagem
registrará um benefício econômico de R$ 1,1 milhão por dia em 2014,
caso 90% da população das cidades-sede da Copa do Mundo seja
atendida por coleta seletiva. Os dados consideram os ganhos
econômicos com a substituição de matéria-prima virgem
por reciclada, emissões de carbono, energia
e impactos à biodiversidade.
Benefícios econômicos da reciclagem*
Desenhar parcerias envolvendo os diferentes
elos da cadeia de reciclagem tem sido uma
estratégia de sucesso para se viabilizar
novos produtos reciclados, na lógica do
“ganha-ganha”.
caixas de suco e leite aparentemente nada
têm a ver com embalagens de curativos
e muito menos com telhas para granjas.
No entanto, os três produtos estão mais
próximos do que se imagina graças à
construção de cadeias produtivas. A unidade
da suzano em embu das Artes (sp) extrai
fi bras de papel das embalagens longa-vida.
com o material, descartado após o consumo
dos alimentos e fornecido por cooperativas
de catadores, é produzido o papel-cartão
pcr. para fabricar 1 mil toneladas mensais,
são utilizadas 37 milhões de caixas de suco
e leite. De lá, o cartão reciclado segue para
transformação em embalagem de Band-Aid,
curativo fabricado pela Johnson & Johnson.
Após a separação do papel, a liga de plástico
com alumínio, existente nas caixas longa-
vida, é vendida para produção de telhas
pela recicladora ciclo, em Araçariguama
(sp), onde são produzidas 25 mil unidades
por mês, principalmente para galpões de
granjas. A tecnologia foi desenvolvida nos
últimos anos pela tetra pak, fabricante
das embalagens, cuja reciclagem passou a
gerar oportunidades de negócio à indústria
papeleira. No Brasil existem 35 recicladoras
de caixas longa-vida, com faturamento
de r$ 80 milhões por ano. Hoje, 29% dos
12 bilhões de embalagens que entram no
mercado anualmente são recicladas. A meta
é aumentar para 35% até 2014.
Rota do papel: das caixas de leite para as embalagens de curativos
material
reciclagem incremental
(ton/dia)
insumos (r$) Ambiental(co2, energia e biodiversidade)
(r$)
custo adicional da reciclagem(r$/ton)**
Benefício total
(r$/dia)
Aço 253 32.164 18.741 113 22.287
Alumínio 61 164.496 20.539 113 178.189
celulose 1.397 460.854 33.517 113 336.563
plástico 554 644.545 31.009 113 612.982
vidro 246 29.572 2.711 113 4.436
total 2.511 1.331.632 106.517 1.154.457
* Projeção com base na cobertura de 90% da população das cidades-sede da Copa do Mundo com coleta seletiva
** Custo da coleta seletiva (R$136/ton) menos custo da disposição em aterro (R$ 23/ton)
Fonte: IPEA/LCA
Benefício econômico por dia
30 31cempre review 2013 cempre review 2013
O Brasil é líder mundial de recuperação de latas de alumínio,
consequência – entre outros fatores – do preço atrativo da
sucata, que acompanha os valores da commodity no mercado
internacional. A reciclagem de garrafas PET é crescente,
impulsionada pelo consumo de fi bras sintéticas pelo setor têxtil
e outras aplicações que se diversifi cam. Nos últimos dez anos, a
taxa de recuperação do material aumentou de 32,9% para 57,1%,
totalizando um mercado anual de R$ 1 bilhão. Em 2012 existiam
no país 93 indústrias recicladoras com mais de cinco anos de
existência. Em 2004, eram 32. O crescimento poderia ser maior:
há uma demanda reprimida devido à baixa oferta do material pela coleta seletiva municipal. Segundo pesquisa
divulgada em 2013 pela associação empresarial que agrupa o
setor, 49% das recicladoras consideram que está cada vez mais
difícil o acesso ao PET para reciclar. No cenário de demanda
superior à oferta, os preços do material reciclado, antes mais
baratos, se equiparam aos da resina virgem.
Com o avanço da logística reversa, o crescimento da oferta pode
reduzir o preço dos materiais recicláveis. Além disso, é natural
um aumento da parte mais “pobre” do lixo reciclável, aquela que
contém materiais menos valiosos. A gestão dos resíduos no
novo cenário da legislação deve considerar medidas para
garantir esse equilíbrio.
Há previsão de políticas para que os valores não desestimulem a
triagem e venda pelas cooperativas, bem como o desenvolvimento
de novos usos e até exportação. Projeções feitas pela consultoria
LCA, considerando o aumento de 20% da taxa de recuperação de
resíduos recicláveis entre 2010 e 2014, apontam para uma redução
média de 10,4% nos preços da matéria-prima reciclada.
o aumento da reciclagem depende de incentivos fi scais e creditícios do governo, previstos na lei de resíduos.
De acordo com o estudo da LCA, os benefícios teriam potencial
de elevar em até 31,5% a renda gerada pela coleta, triagem e
venda de materiais recicláveis.
Em tempos de novas atitudes de consumo em favor do meio ambiente, os supermercados
abrem espaço para atividades que vão além da venda de produtos. É comum encontrar nas
lojas os chamados Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), onde o consumidor deixa embalagens
após o uso dos produtos. O serviço é um instrumento do varejo e indústria para colocar em
prática a responsabilidade compartilhada pelos resíduos gerados a partir de seus negócios.
Entre as iniciativas mais antigas está o programa de estações de reciclagem mantido por
Pão de Açúcar e Unilever. Em 12 anos, foram recolhidas mais de 67 mil toneladas de materiais
recicláveis e o número de lojas participantes aumentou de 12 para 123 em todo o Brasil.
Os resíduos são doados para 36 cooperativas. Além dos benefícios econômicos com a venda
dos resíduos, o programa estimula consumidores a mudar práticas de descarte – inclusive do
óleo de cozinha usado, recebido nas estações. No total, foram recolhidos mais de 1,2 milhão
de litros, grande parte encaminhada para a produção de biocombustível.
Transformações nos supermercados
Perfi l da triagem (2012)
população urbana (iBGe) (mil habitantes) 165.018
Número de cooperativas 1.175
Número de catadores em cooperativas 30.390
total de resíduos sólidos coletados (ton/dia) 173.703
fração seca reciclável (% total) 31,9%
fração molhada e outros (% total) 68,1%
triagem/recuperação (fração seca) (ton/dia) 14.909
cooperativas 2.329
outros canais de triagem 12.580
percentual de triagem/recuperação total 26,9%
Fonte: IBGE, SNIS (2010) e LCA Consultores
32 33cempre review 2013 cempre review 2013
consumidor compra
desc
arte
Cada brasileiro gera em média 1 quilo de resíduos por dia. Um africano, 650 gramas, quase
um quarto do que produz um europeu. Quanto maior a renda de um país, maiores são o
consumo e a quantidade de resíduos que precisa de solução para retornar ao mercado e não
causar impactos negativos ao meio ambiente. Nas regiões menos desenvolvidas, é menor a
presença de embalagens e maior o volume de matéria orgânica no lixo. Enquanto no Brasil
a fração seca dos resíduos urbanos representa 50% de tudo que é gerado, nos Estados
Unidos a parcela é de 88%.
Com o desenvolvimento econômico, a tendência é o padrão brasileiro se aproximar
do americano e europeu, o que significa novos desafios para a gestão dos resíduos.
A legislação estabelece como prioridade reduzir o lixo na fonte; depois, reutilizar e reciclar.
Além do poder público e das empresas, também o comportamento da população é chave para o mercado da reciclagem crescer sobre base sólida. Enquanto o governo cria regras e incentivos, as prefeituras fazem a coleta seletiva e o meio
empresarial investe na logística reversa, o consumidor entra em cena desempenhando papel
protagonista. Ele tem poder de compra (preferindo produtos bons para o meio ambiente e
para a renda dos catadores) e é essencial na separação dos resíduos para a coleta seletiva.
Estudos de consultorias dimensionam o novo contingente de brasileiros que
ascende ao consumo. Entre 2001 e 2010, a classe E diminuiu de 17,3 milhões
para 7 milhões de brasileiros, migrando para as classes D e C . A base da
pirâmide social, ou seja, a camada mais pobre da população, representa hoje
menos de 1% dos domicílios do país. Nas últimas décadas, avanços foram
conquistados na redução da mortalidade infantil e do analfabetismo, bem
como no aumento da expectativa de vida. com o padrão mais elevado de consumo e as pessoas vivendo mais tempo, aumenta a necessidade de investimentos na infraestrutura de distribuição de água, redes de esgoto e coleta e reciclagem de lixo.
O aumento da população, cada vez mais concentrada em cidades, acelera a
busca por soluções que devem considerar as disparidades regionais de um
país de dimensões continentais, como o Brasil. A maior conscientização do
consumidor, exigente e atento para o que pode interferir na qualidade de vida
e no futuro do planeta, pressiona o mercado a dar passos mais largos e inspira
novos investimentos.
35cempre review 2013
NÍvel De reNDA metAis pApel plÁstico viDromAtÉriA
orGÂNicAoutros
Baixa 3% 5% 8% 3% 64% 17%
média (inferior) 2% 9% 12% 3% 59% 15%
média (superior) 3% 14% 11% 5% 54% 13%
Alta 6% 31% 11% 7% 28% 17%
A composição do lixoe o nível de renda
Fonte: Banco Mundial/LCA
Fonte: SNIS (2010) e Banco Mundial (2012)
Gera
ção per capita de resíduos no Brasil e no mundo (kg)
0,651,03
2,20
1,10
1,10
0,45
0,951,10
ÁfricA
BrAsil
ocDe
ÁsiA orieNtAl
sul AsiÁtico
orieNte mÉDio
AmÉricA lAtiNA
europA e ÁsiA ceNtrAl
FOTO
S: 1
23R
F
36 37cempre review 2013 cempre review 2013
Com o apoio do governo e empresas,
as cooperativas de catadores se estru-
turam e avançam na gestão dos resí-
duos com viabilidade econômica, ex-
pandindo a comercialização em rede
para o aumento do poder de venda e
melhoria de preços. Estima-se que o
aumento da coleta seletiva se reflita
positivamente na renda e na melhor
qualidade de vida dos catadores.
catadores
força de
organizaexpansão
da atividade
Aque se
ganha reconhecimentopara a
trabalhoe
Quando os resíduos ganham valor como
matéria-prima e deixam de ser enterrados
como algo indesejável, desponta no cenário
um contingente de trabalhadores que existe
nas cidades desde a Revolução Industrial, mas
agora ganha reconhecimento como fornecedor
estratégico do mercado de reciclagem. São os
catadores de materiais recicláveis. No Brasil,
eles somam 800 mil, sendo cerca de 30
mil organizados em cooperativas. Em 2012,
elas foram responsáveis por 18% dos resíduos
separados para reciclagem no Brasil, ficando o
restante a cargo dos atacadistas de materiais
recicláveis, que muitas vezes incorporam
catadores autônomos como mão de obra.
A estimativa consta no estudo realizado pela
LCA Consultores para o CEMPRE, que calculou
em R$ 712 milhões o faturamento total com a
coleta e venda de materiais recicláveis, ficando
as cooperativas com a fatia de R$ 56,4 milhões.
38 39cempre review 2013 cempre review 2013
A reciclagem como negócio
Cenário da separação
QUANTIDADE(ton/dia)
PERCENTUAL DO RESÍDUO RECICLÁVEL
QUANTIDADE(ton/dia)
PERCENTUAL DO RESÍDUO RECICLÁVEL
QUANTIDADE (ton/dia)
PERCENTUAL DO RESÍDUO RECICLÁVEL
2.329 4,2% 12.580 22,7% 14.909 26,9%
3.851 6,8% 14.352 25,5% 18.203 32,3%
2012
2014*
Fonte: SNIS/LCA
Investimentos na compra de veículos e maquinário, e na
qualifi cação das cooperativas para melhorar a efi ciência
na gestão dos resíduos têm o potencial de aumentar
signifi cativamente a renda. O levantamento da LCA
indicou que em metade das doze capitais que sediarão
a Copa do Mundo de 2104 a efi ciência das cooperativas
é “baixa-baixíssima”. O estudo diz que programas de qualifi cação têm capacidade de aumentar a produtividade, reduzindo pela metade a diferença entre
os resultados das cooperativas de baixa e alta efi ciência.
A renda média dos catadores nessas cidades poderia até
dobrar se os materiais fossem comercializados por preços
iguais aos vendidos pelos atacadistas diretamente para a
indústria. É possível aumentar o ganho por meio de alianças
com atacadistas para a comercialização com a indústria e a
exportação de sucata.
O apoio a cooperativas de catadores para o
aumento da produção e da renda é um caminho
trilhado por empresas para operar a logística
reversa, com benefícios sociais e maior recuperação
de embalagens após o consumo. No Programa
“Reciclou, Ganhou”, iniciado em 1996, a Coca-Cola
Brasil investe na infraestrutura de coleta e triagem
com cessão de prensa, balança, elevadores e
caminhões em comodato, treinamento para gestão,
e avaliação de metas das cooperativas. Em parceria
com a ONG Doe seu Lixo, foram benefi ciadas 211
cooperativas envolvendo 5 mil pessoas em todo
o país. Até 2012 foram recicladas 180 milhões de
embalagens pós-consumo pelo programa, que em
sua atual fase prioriza a geração de valor com
redes de cooperativas.
Impulso para a geração de renda
Quando retornou da Europa, onde viveu por alguns anos, o supervisor de manutenção de aviões
Marcelo Mello assumiu o desafi o de buscar uma solução para algo que o incomodava em sua
nova cidade no Brasil: o excesso de lixo nas ruas. O projeto se concretizou depois que perdeu o
emprego e se tornou catador de materiais recicláveis, articulando a criação da CooperBen, no
Guarujá (SP). O empreendedor leu livros sobre gestão de resíduos e frequentou cursos para o
negócio gerar bom retorno. Hoje, com 29 catadores, a cooperativa recebe orientação técnica do
CEMPRE e recicla 70 toneladas mensais, proporcionando renda média de até R$ 1,2 mil mensais
por trabalhador. Além da venda dos materiais, os catadores são remunerados pela prefeitura
a partir de um contrato de serviço para coleta seletiva. Um carrinho elétrico cedido pela Nestlé
permitirá o recolhimento de resíduos em bairro com 25 mil residências, podendo dobrar a renda.
Produtividade das cooperativas
Faturamento das cooperativas e atacadistas
COOPERATIVAS(ton/cooperativa/dia)
COLETA E TRIAGEM POR MATERIAL
CATADORES(kg/catador/dia)
2010 2012 2014*
2,6
52,4
2,9
57,8
4
79,3
(R$ milhões, a preços de 2011)
R$ 712,3 mi
56,4656
COOPERATIVAS OUTROS CANAIS
Metais R$ 227 mi
Aço 32
Alumínio 195
Papel e papelão 264
Plástico 201
PET 101
Outros 100
Vidro 21
Font
e: S
NIS
/IPE
A/L
CA
TRIAGEM FORA DAS COOPERATIVASTRIAGEM NAS COOPERATIVAS TRIAGEM TOTAL
*Projeção para o país baseada no aumento da coleta seletiva nas cidades da Copa do Mundo
O uso de insumo reciclado na indústria gera ganhos econômicos, além de contribuir com a solução do problema dos resíduos nas cidades brasileiras
Cresce o percentual de embalagens dos diferentes tipos que são coletadas após o uso dos produtos e retornam à produção industrial
Atacado e varejo informam sobre reciclagem ao consumidor e disponibilizam Pontos de Entrega Voluntária para o recebimento de resíduos
MATÉRIA-PRIMA
PRODUÇÃO
DISTRIBUIÇÃO E COMÉRCIO
O volume e a composição do lixo reciclável variam conforme o nível de renda da população
Expansão da coleta seletiva para 90% da população nas cidades da Copa do Mundo pode aumentar em 20% a reciclagem no Brasil
Estrutura de triagem e enfardamento de resíduos para venda às indústrias deve triplicar para atender a expansão da coleta seletiva
No cenário mais abrangente, benefícios tributários (IPI, PIS/Cofi ns e ICMS) têm alto potencial de alavancar a cadeia da reciclagem
A separação correta dos resíduos em recipientes para “úmido” e “seco” (onde devem estar as embalagens) é essencial para o melhor aproveitamento dos materiais
CONSUMO
COLETA SELETIVA
INCENTIVOS FISCAIS
TRIAGEM E COMERCIALIZAÇÃO
SEPARAÇÃO
1
2
3
4 5
6
8
7
CUSTOS DE PRODUÇÃO*
Aço
Alumínio
Celulose
Plástico
Vidro
matéria-prima virgem
* R$ por tonelada
matéria-prima reciclada
vantagem econômica
552
6.162
687
1.790
263
425
3.447
357
627
143
127
2.715
331
1.163
120
EMBALAGENS RECUPERADAS APÓS O USO
Fonte: IPEA e SNIS
Resíduo reciclável total
Alumínio
Aço
Papelão
Plástico
Vidro
Total (ton/dia)
Taxa de recuperação
(associações)
18.003
711
1.698
9.827
2.841
2.926
65,3%
98,5%
49,2%
72,7%
56,8%
49,9%
GERAÇÃO PER CAPITA
Nív
el d
e re
nda
Lixo gerado (kg/hab.dia)Baixa Alta
0,602,10
COMPOSIÇÃO DO LIXO
Baix
a re
nda Alta renda
3%8% 3%5%6%
11% 7%
Metais Papel Plástico Vidro Matéria orgânica Outros
Fonte: Banco Mundial, 2012
31%
64%
28%
17% 17%
COMPOSIÇÃO DA COLETA
Fonte: IPEA, 2010
2014
2012
Populaçãourbana
Recuperação total
Total de resíduos sólidos coletados(ton/dia)
165.018
167.936
mil habitantes
mil habitantes
173.703
176.728
55.414
56.381
= 31,9%
= 31,9%
26,9%
32,3%
20%+Fração seca reciclável
Fração seca reciclável
Recuperação total
Fonte: IBGE, SNIS e IPEA, 2010
Impacto dos benefícios tributários sobre a renda na cadeia de coleta e triagem de resíduos sólidos recicláveis até 2014:
R$ 4,4 bilhões de renda+ 31,5%
GERAÇÃO DE RENDA
de triagem+ 73%
de faturamento+ 55%
* Valores em R$ milhão ** Cooperativa com preço de cooperativaFontes: diversas. Elaboração: LCA Consultores
Cidades-sede 2010-2014
Faturamento cooperativas*
Faturamento outros canais de triagem*
Custo de operação*
Receita líquida cooperativas*
Número de catadores
Rendimento do catador ligado à cooperativa (R$)
2010 2014 Crescimento**
56,4
656
11,2
45,2
7.363
511,5
231,5
871,4
50,9
180,7
22.089
681,6
311%
33%
354%
300%
200%
33%
FATURAMENTO DE COOPERATIVAS NAS CIDADES-SEDE DA COPA
Fonte: SNIS e IPEA. Elaboração: LCA Consultores
2010 2014(R$ milhões, preços de 2011)
56,4 231,5656
712,3 1.102,9
871,4
CooperativasCooperativas
Outros canais
Outros canais
Fonte: LCA, 2013
Matéria orgânica51,4%
Outros16,7%
Plástico13,5%
Papel, papelão e longa-vida
13,1%
Vidro2,4%
Aço2,3%
Alumínio0,6%
RETRATO DO MERCADO DE RECICLAGEMEmpresas Cooperativas de catadores e atacadistas de materiais recicláveis
Poder público
População