Trabalho, Saúde e Sustentabilidade · 2019-07-18 · ramos da Engenharia Civil, Elétrica,...

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Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

ReitoR

José Jackson Coelho Sampaio

Vice-ReitoR

Hidelbrando dos Santos Soares

editoRa da UeceErasmo Miessa Ruiz

conselho editoRial

Antônio Luciano PontesEduardo Diatahy Bezerra de Menezes

Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso Francisco Horácio da Silva Frota

Francisco Josênio Camelo ParenteGisafran Nazareno Mota Jucá

José Ferreira NunesLiduina Farias Almeida da Costa

Lucili Grangeiro CortezLuiz Cruz LimaManfredo RamosMarcelo Gurgel Carlos da SilvaMarcony Silva CunhaMaria do Socorro Ferreira OsterneMaria Salete Bessa JorgeSilvia Maria Nóbrega-Therrien

conselho consUltiVo

Antônio Torres Montenegro | UFPEEliane P. Zamith Brito | FGV

Homero Santiago | USPIeda Maria Alves | USP

Manuel Domingos Neto | UFF

Maria do Socorro Silva Aragão | UFCMaria Lírida Callou de Araújo e Mendonça | UNIFORPierre Salama | Universidade de Paris VIIIRomeu Gomes | FIOCRUZTúlio Batista Franco | UFF

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1a EdiçãoFortaleza - CE2019

T758 Trabalho, saúde e sustentabilidade [recurso eletrônico] / Maria Rosilene Cândido Moreira, Francisco Elizaudo de Brito Júnior, José Auricélio Bernardo Cândido (Organizadores). - Fortaleza: EdUECE, 2019. Livro eletrônico. ISBN: 978-85-7826-721-6 (E-book) 1. Saúde. 2. Saúde ambiental. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Moreira, Maria Rosilene Cândido. II. Brito Júnior, Francisco Elizaudo de. III.Cândido, José Auricélio Bernardo. IV. Título.

CDD: 363.7

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade© 2019 Copyright by Maria Rosilene Cândido Moreira, Francisco Elizaudo de Brito

Júnior e José Auricélio Bernardo Cândido

Impresso no Brasil / Printed in BrazilEfetuado depósito legal na Biblioteca Nacional

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECEAv. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – Ceará

CEP: 60714-903 – Tel: (085) 3101-9893www.uece.br/eduece – E-mail: eduece@uece.br

Editora filiada à

Coordenação EditorialErasmo Miessa Ruiz

CapaJosé Auricélio Bernardo Cândido

DiagramaçãoNarcelio Lopes

Revisão de TextoLorna Etiene Castelo Branco Reis

Ficha CatalográficaLúcia Oliveira CRB - 3/304

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APRESENTAÇÃO

O exercício da docência no magistério superior, cotidianamente, nos impulsiona a promover debates, produzir saberes e instigar as pessoas a refletirem sobre as relações entre o homem e a natureza, permeadas pelos grandes desafios da contemporaneidade.

Os impactos sociais, econômicos e ambientais do modo de produção e consumo atual vêm ameaçando a saúde e a vida no planeta e destacando a importância de se incorporar a sustentabilidade como conceito-chave de interação entre distintos campos do conhecimento e ação.

A relação entre trabalho, saúde e ambiente está no centro da Agenda global contemporânea, do ponto de vista teórico-conceitual e prático, especialmente na pers-pectiva da sustentabilidade socioambiental. Esse tema vem saindo dos círculos mais restritos da academia e dos ambientalistas para ganhar espaço na proposição de políticas que incorporam a sustentabilidade e afirmam novos paradigmas e princípios.

Os autores nos informam que o binômio saúde--doença, na sua aparente separação e mal compreendida dualidade, não se resume exclusivamente ao que pode ocorrer com o nosso corpo, como se fora um ente vivo

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autômato, mas que deve ser percebido enquanto parte de um ecossistema integrado a todos os demais. De-monstra, nos estudos, o quão somos parte inseparável tanto do mundo natural quanto do mundo cultural, ambos com uma história de bilhões de anos, integra-dos a este sistema complexo e dele recebendo influências positivas ou negativas, dependendo do estado do meio ambiente, dos processos de trabalho aos quais estamos submetidos e da nossa mentalidade.

Nessa perspectiva, a interface saúde, trabalho e sustentabilidade, delineia pontos críticos e emergentes que suscitam reflexões acerca do nosso papel enquanto educadores, mediadas pelo ensino, pesquisa, extensão e cultura, expressas nos construtos bibliográficos próprios do mundo universitário.

Este livro, uma produção de elevada magnitude, traz a compilação de textos diversos, elaborados com base em conhecimentos igualmente diversificados, que provocam o leitor a transitar pelos aspectos interdisciplinares e co-letivos atinentes ao debate epistemológico que envolve a saúde, o trabalho e a sustentabilidade.

Constitui, portanto, uma realização científica, la-pidada por múltiplas mãos, organizada e disposta como fonte de inspiração aos que habitam o vasto mundo uni-versitário, cujo alcance transcende os muros da acade-mia, indo ao encontro do ambiente social no qual todos estão inseridos.

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Almejamos que esta obra possibilite aos leitores as inspirações iniciais na busca pela produção e transfor-mação do conhecimento, impactando positivamente na compreensão sobre a indissociabilidade entre saúde, tra-balho e sustentabilidade.

Professora Dra. Maria Rosilene Cândido MoreiraCoordenadora geral de pós graduação da Universidade Federal

do Cariri - UFCA

Professor Dr. Francisco Elizaudo de Brito Júnior Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Apoio ao Servidor

da Universidade Regional do Cariri - URCA

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PREFÁCIO

“Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que a história nos trouxe até este ponto e por quê. Contu-do uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para uma mudança da sociedade, é a escuridão” .

Eric Hobsbawn

Ao receber o convite para prefaciar o livro Traba-lho, Saúde e Sustentabilidade, sem muito refletir, aceitei de pronto. Enquanto percorria os 15 artigos da obra, fazia anotações daquilo que mais me chamava a atenção. Chamou-me logo a atenção a origem dos autores. Entre eles, representantes das Universidades Federal do Cea-rá (UFC), Federal do Cariri (UFCA), Federal do Piauí (UFPI), Estadual do Ceará (UECE), Regional do Cariri (URCA) e Instituto Federal do Ceara (IFCE), oriundos, portanto, das mais importantes instituições públicas de ensino superior do estado do Ceará, do vizinho Piauí e do nosso Cariri. A destacar também profissionais da Escola de Saúde Pública do Ceará - ESP/CE. Tal cons-

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tatação, como bom agouro, prenunciava, a qualidade dos artigos e a profícua produção que tinha em mãos. Além de docentes, muitos ex-alunos e atuais alunos dos programas de pós-graduação das instituições citadas es-tão entre os autores dos capítulos. Entre os programas a mencionar, temos o Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável - PRODER da UFCA, o Programa de Mestrado Acadêmico em En-fermagem – PMAE da URCA, Mestrado Profissional em Saúde da Família – RENASF/URCA. Pela natureza do tema do livro, por óbvio, predominam, como au-tores, profissionais da área da saúde: da Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia e Psicologia. Todavia, outra constatação para mim relevante foi a participação de profissionais de outras áreas, como da Administração, Agronomia, Biologia, Ciências Econômicas, Direito, Educação Física, Engenharias, Pedagogia, Recursos Hídricos, Serviço Social e Sociologia. Os resultados da eclética reunião do conhecimento manifestados nos ar-tigos compilados traçam caminhos seguros para a sus-tentabilidade. O resultado de desejável e difícil trabalho interdisciplinar, a título de exemplo, de profissionais dos ramos da Engenharia Civil, Elétrica, Química, junto a profissionais de Fisioterapia e Enfermagem aparece na avaliação de indicadores de saúde ambiental. Nou-tro artigo, são apresentados os resultados do trabalho, conduzido por expertos do Direito, Ciências Contábeis, Psicologia, Enfermagem e Odontologia, sobre a contri-buição da aprendizagem cooperativa na UFCA para o

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desenvolvimento sustentável. Em um terceiro artigo, novamente engenheiros e fisioterapeutas avaliam aspec-tos ergonômicos da atividade laboral do trabalhador da construção civil. Quero salientar com essas observações que muitos dos artigos vem ao encontro da premissa atual que as respostas aos problemas complexos da nossa sociedade não podem mais ser elaboradas com aborda-gens fracionadas e com predominância do conhecimen-to especializado. Nesse aspecto destaca-se a exemplarida-de do livro. Além dos temas abordados nos artigos men-cionados, muitos outros destacam as relações da saúde e do trabalho com a sustentabilidade. Podemos encontrar referências à formação profissional de saúde à luz do desenvolvimento de competências, com mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes, voltados para a promoção da saúde e a sustentabilidade. Um outro estudo possibilitou a compreensão sobre a Abordagem Ecossistêmica em Saúde, como uma importante forma de produção de conhecimentos sobre a relação saúde--ambiente-trabalho, objetivando promover participação social/comunitária e transdisciplinaridade. Em um dos artigos aparece a proposta de discutir a relação Trabalho, Saúde e Sustentabilidade na Educação, circunscrevendo as relações de trabalho ao contexto acadêmico; relacio-nando saúde e sustentabilidade na educação, buscando identificar os fatores que geram satisfação no trabalho. Um preocupante problema: a realidade da saúde mental na universidade e possíveis desdobramentos de forma a incorporar esta temática nas discussões sobre sustentabi-

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lidade é apresentado por psicólogas da UFCA. O empre-go decente, o trabalho digno e trabalho escravo à luz de um confronto entre o princípio da dignidade humana e o 8º objetivo da ODS é tratado com profundidade num dos artigos. Economistas discutem em outro artigo as diferenças e inter-relações entre crescimento econômico e desenvolvimento. Nele o desenvolvimento sustentável emerge como preenchimento da lacuna entre cresci-mento e desenvolvimento. A preocupação de alunos e professores do Curso de Mestrado Acadêmico em En-fermagem da URCA com o gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) provenientes da insulinote-rapia na Atenção Básica manifesta-se num outro artigo na forma de uma revisão de literatura. Fica destacada a lacuna da falta de pesquisas que abordem como se dá o gerenciamento desses RSS a nível local. Partindo do conceito de território, com base na elaboração de uma matriz ecossistêmica tendo como modelo o quadro de força Motriz-Pressão-Estado-Exposição-Efeito-Ação - modelo FPEEEA da OMS, num dos artigos é proposto um modelo para reorganização do processo de trabalho em vigilância à saúde no âmbito da atenção básica, com o intuito de instituir uma atenção programada voltada para as prioridades de saúde da comunidade. Abordan-do as perspectivas de trabalho e permanência dos jovens no meio rural caririense uma pesquisa apresentada no livro mostra que a influência das políticas públicas e ar-ticulação das ONGs nas comunidades rurais do Cariri cearense, em conjunto com vários parceiros da socieda-

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12Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

de civil vêm transformando o “Sair do Campo” em uma perspectiva de vida cada vez mais digna e valorizada, buscando meios sustentáveis de permanência no campo. Uma revisão bibliográfica abordando a contaminação ambiental pelo uso de agrotóxicos e seu impacto na saú-de humana apontou para a necessidade de se integrar os setores saúde e ambiente em torno da garantia da qua-lidade de vida das populações do campo e da cidade, tendo como conceito norteador a sustentabilidade am-biental. O crescimento populacional da terceira idade e a preocupação com o preparo de cuidadores de idosos levou docentes e graduandos do Curso de Enfermagem da UFPI a conduzir uma pesquisa. Ficou constatada a carência de profissionais cuidadores, a atividade de fa-miliares leigos não capacitados no cuidado de idosos e da necessidade de mais pesquisas com a temática. Con-tribuições filosóficas e estéticas aos processos de trabalho e pesquisas em saúde são abordadas num dos artigos. O trabalho aponta para a primordialidade de se manterem diálogos que estimulem a formação de profissionais mais reflexivos e dedicados a tecer pesquisas, que reverberam ações práticas, ancoradas nos conceitos epistemológicos procedentes de teorias sistêmicas. Esse é o livro que te-nho a satisfação e a honra de prefaciar. Finalizo parabe-nizando os organizadores dessa edição, estimulando-os a não pararem com um só volume. A amplitude das di-mensões da sustentabilidade e a diversidade das pesqui-sas desenvolvidas nos programas de pós-graduação das instituições envolvidas se unem em oportunidades para

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13Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

a compilação da produção científica em volumes temá-ticos. Com certeza um passo importante para a qualifi-cação dos programas de pós-graduação, de seus docentes e alunos foi dado com essa publicação.

Professor Dr. Ricardo Luiz Lange NessReitor da Universidade Federal do Cariri – UFCA

Coordenador local do doutorado interinstitucional em desenvolvimento sustentável UnB/UFCA

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APRESENTAÇÃO ............................................................................ 5

PREFÁCIO ....................................................................................... 8

APRENDIZAGEM COOPERATIVA: CONTRIBUIÇÃO NA CONS-TRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................ 17Cícero Marcelo Bezerra dos Santos, Milena Silva Costa, José Ferreira Lima Junior, Verônica Salgueiro do Nascimento e Suely Salgueiro Chacon

ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA EM SAÚDE NO ENFRENTA-MENTO À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL COMO CAMINHO PARA SUSTENTABILIDADE ........................................................ 37Rhavena Maria Gomes Sousa Rocha, Maria do Socorro Vieira Lopes, Karla Jimena Araújo de Jesus Sampaio, Célida Juliana de Oliveira e Ana Maria Parente Garcia Alencar

PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO: CONTRIBUIÇÕES FILOSÓ-FICAS E ESTÉTICAS AOS PROCESSOS DE TRABALHO E PES-QUISAS EM SAÚDE ...................................................................... 60Sofia de Moraes Arnaldo, Rayane Moreira de Alencar, Cícera Luciana da Silva Sobreira, Alissan Karine Lima Martins e Francisco Elizaudo de Brito Junior

SATISFAÇÃO NO TRABALHO E SUSTENTABILIDADE ............ 81Liana de Andrade Esmeraldo Pereira, Mirna Fontenele de Oliveira, Cícera Aldevania Pereira de Oliveira, Suzana Kramer de Mesquita Oliveira e Simone Maia Pimenta Martins Ayres

SAÚDE MENTAL E SUSTENTABILIDADE NO AMBIENTE UNI-VERSITÁRIO: DESAFIOS E PROPOSIÇÕES ............................... 98Liana de Andrade Esmeraldo Pereira, Yane Ferreira Machado, Cicera Mônica da Silva Sousa Martins e Moema Alves Macêdo

Sumário

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TRABALHADORES NA CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO: CONTOS DA TRAMA QUE AINDA NÃO SE ENCERROU .............117Alana Maria Brito Lucas, Ane Caroline Rodrigues Leite, Selton David Cavalcante Sobral, Francisca Laudeci Martins Souza e Victoria Régia Arrais de Paiva

DA GÊNESE DAS MAZELAS HUMANAS: PRELÚDIO DA ANUN-CIAÇÃO DO CAPITAL SOBRE O MEIO AMBIENTE ............... 138Ane Caroline Rodrigues Leite, Selton David Cavalcante Sobral, Francisca Laudeci Martins Souza e José Micaelson Lacerda Morais

JOVEM RURAL: FICAR OU SAIR DO CAMPO? ....................... 158Francier Simião da Silva Junior, Cláudia Araújo Marco, Vanessa Oliveira Teles, Silvério de Paiva Freitas Junior, Francisco Gauberto Barros dos Santos e Verônica Salgueiro do Nascimento

TERRITORIALIZAÇÃO E MATRICIAMENTO EM SAÚDE COLE-TIVA: PROCESSO DE TRABALHO ECOSSISTÊMICO COM BASE NA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO ............................................... 178Lívia Monteiro Rodrigues, Nara Juliana Santos Araújo, Valmir Wanderson Tomé da Silva, Edilma Gomes Rocha, Alissan Karine Lima Martins e Francisco Elizaudo de Brito Junior

INTERFACE ENTRE AMBIENTE, PROMOÇÃO DA SAÚDE E SUSTENTABILIDADE NOS CURSOS DE FORMAÇÃO PROFIS-SIONAL EM SAÚDE .................................................................... 202Antonia Priscila Pereira, Samyra Paula Lustoza Xavier, Maria de Fátima Antero Sousa Machado e Maria Rosilene Cândido Moreira

DIABETES E SUSTENTABILIDADE: GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS PROVENIENTES DA INSULINOTERAPIA NA ATEN-ÇÃO BÁSICA ............................................................................... 227Sofia de Moraes Arnaldo, Eloíza Barros Luciano Rolim, Emiliana Bezerra Gomes e Ana Maria Parente Garcia Alencar

SAÚDE, TRABALHO E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ..................................... 251Maria Iderlania de Freitas Sousa, Ana Patrícia Nunes Bandeira, Otávio Rangel de Oliveira e Cavalcante, Josafá Justino Barbosa, Maria Gorethe de Sousa Lima Brito e Paula Hemília de Souza Nunes

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INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL RELACIONADOS ÀS CONDIÇÕES DE EXTRAÇÃO DO CALCÁRIO LAMINADO NO SUL DO CEARÁ .......................................................................... 269Paula Hemília de Souza Nunes, Maria Gorethe de Sousa Lima, Flavio Cesar Brito Nunes, Maria Iderlania de Freitas Sousa e Ana Patrícia Nunes Bandeira

PANORAMA DE CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL PELO USO DE AGROTÓXICOS E SEU IMPACTO NA SAÚDE HUMANA ....... 289Geovanna Maria Sales Monteiro e Eline Mara Tavares Macêdo

AVALIAÇÃO DO PREPARO DE CUIDADORES DE IDOSOS PARA REALIZAÇÃO DO CUIDADO .................................................... 311Simone Santos Sousa Mendes, Andressa Santos Rodrigues, Lisandra Ravena Veloso da Silva, Maria Laíse de Lima Leal, Edina Araújo Rodrigues Oliveira e Laura Maria Feitosa Formiga

ORGANIZADORES ..................................................................... 331

AUTORES .................................................................................... 333

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APRENDIZAGEM COOPERATIVA: CONTRIBUIÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Cícero Marcelo Bezerra dos SantosMilena Silva Costa

José Ferreira Lima JuniorVerônica Salgueiro do Nascimento

Suely Salgueiro Chacon

INTRODUÇÃOA expansão urbana das cidades brasileiras é uma

realidade marcada por problemas estreitamente relacio-nados entre si, e que tem como consequência fatores que potencializam a destruição dos recursos naturais, urbanização desordenada, comprometimento da saúde e qualidade de vida das pessoas, dentre outros.

Com esse cenário, as discussões sobre o Desenvolvi-mento Sustentável passaram a ser prioridade nos debates acadêmicos e na sociedade. O termo Desenvolvimento Sustentável emergiu no Relatório da primeira-ministra da Noruega Gro Haralen Brundtland, denominado de “Nosso Futuro Comum”, em 1987, e teve sua consoli-dação no encontro Rio-92, mas o seu conceito correla-ciona-se com o que Maurice Strong denominou de Eco-desenvolvimento, em 1972, um desenvolvimento para

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o bem-estar das pessoas que se satisfaçam sem destruir o meio ambiente. Posteriormente, o Ignacy Sachs, no ano de 1986, reforçou com sua obra Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir (GADOTTI, 2012).

Sachs (1994) explicou, em sua obra, as dimensões que abrangem a sustentabilidade, que são: 1) Sustenta-bilidade social: trata-se de uma sociedade mais justa, que diminua as discrepâncias entre ricos e pobres, principal-mente redistribuindo rendas e bens; e não deixando os ricos mais ricos e os pobres em condições miseráveis; 2) Sustentabilidade econômica: leva a uma alocação mais efi-ciente dos recursos, inclusive entre as nações e deve ser medida em termos macrossociais, e não apenas no âmbito das empresas; 3) Sustentabilidade ecológica: para alcançá-la deve-se usar de forma criativa, responsável, não devastá--la ou agredi-la, saber utilizar o potencial de recursos da Terra; limitar o uso de recursos não renováveis e aumen-tar o uso adequado dos renováveis; diminuir a poluição e aumentar a reciclagem; conscientizar para a limitação do consumo por países e indivíduos; aumentar as pesquisas para descobrir tecnologias limpas; normatizar, institucio-nalizar e instrumentar a proteção ao meio ambiente.

Como últimas dimensões, tratou o mesmo autor, sendo: 4) Sustentabilidade espacial: conseguida através de um equilíbrio entre as zonas rurais e urbanas, distribuin-do melhor por estas, as atividades econômicas e huma-nas. 5) Sustentabilidade cultural: promover o desenvolvi-mento local, levando-se em conta os saberes locais.

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Para Chacon (2007), as cinco dimensões propostas por Sachs são complementares e inseparáveis. Entretan-to, imaginar que os níveis de desigualdade social, geram uma sociedade violenta e desacreditada de mudanças, de prosperidade e harmonia fica estranho desenhar as de-mais dimensões da sustentabilidade (cultural, espacial, econômica e ecológica), porque o provedor configura-se desempoderado. Então, resta a educação transformado-ra e libertadora para empoderar o ser humano, e fazer modificações benéficas à coletividade e não apenas aos detentores do saber.

A educação ajuda no Desenvolvimento Sustentável por proporcionar o pensar globalmente, os sentimentos, a identidade pessoal e a consciência planetária (GA-DOTTI, 2006). É meio para disseminação de valores e conhecimentos capazes de criar o ambiente propício à consecução de um desenvolvimento comprometido com os interesses da coletividade (BARRETO; CHA-CON; NASCIMENTO, 2012).

Nessa perspectiva, a Organização das Nações Uni-das (ONU) editou no ano de 2002, a Resolução 57/254, a qual ficava estabelecida a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS), antes disto, em Estocolmo, no ano de 1972, já se trabalhava a cultura para a sustentabilidade. No final da década de 1970, o assunto foi discutido pela ONU, na Rússia. Duas dé-cadas depois, noutra conferência mundial, realizada na Grécia, restou a introdução da sustentabilidade na edu-cação formal (GADOTTI, 2012).

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Consistindo a educação num elemento indispen-sável para o Desenvolvimento Sustentável, o ensino su-perior se configura na última etapa da educação formal do cidadão e o elo entre a ciência e os profissionais. A educação é preponderante para construir um desenvol-vimento sólido, eficaz e equitativo, do contrário será re-ducionista ao treino do mercado de trabalho.

A Universidade aduz transformações na formação profissional, a partir de metodologias contextualizadas, a fim de promover a capacitação dos discentes, não só no que se refere ao preparo profissional/técnico, mas de levá--los ao pensamento crítico e reflexivo sobre suas práticas. A graduação, em um curso universitário, deve ser mais que o simples aprender uma profissão, é preciso compreender o mundo, profissão, mercado, discutir valores etc.

A educação que se busca atingir pelas universidades é a tecida por Nascimento (2009), como a possibilidade que o povo pode ter de gerar transformações e possibili-dades culturais, criando estratégias comprometidas com a edificação de sociedades justas e solidárias, constituin-do, assim, possibilidade mais concreta para saciar os an-seios de uma sociedade pelo, e com, o Desenvolvimento Sustentável.

E, nesta seara, a Aprendizagem Cooperativa vem contribuir com a construção de ensino na universidade, desmistificando e não persistindo aquela sedução por resultados imediatos, em se publicar aprovações, certifi-cações, reconhecimentos e medalhas. Ela consiste numa

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metodologia de ensino-aprendizagem, em que os alunos se reúnem para estudar os conteúdos e interagem entre si, desmitificando a figura do professor como principal fonte do saber. Essas células estudantis contemplam a possibilidade de ajudar os acadêmicos à conclusão dos seus cursos, motivá-los à mudança de paradigmas e pode resultar nas atitudes em prol de um Desenvolvimento Sustentável (ANDRADE NETO, MAZZETTO, 2007).

Esse método de ensino foi recepcionado na Uni-versidade Federal do Cariri (UFCA), por meio do Pro-grama de Aprendizagem Cooperativa em Células Estu-dantis (PACCE), após seu desmembramento da Univer-sidade Federal do Ceará (UFC) no ano de 2013. Ele tem como proposta estimular o protagonismo estudantil, dissipando o individualismo e oportunizando um sen-timento de coletividade, ideal para trilhar o caminho da sustentabilidade.

Na perspectiva de se averiguar a articulação entre a Aprendizagem Cooperativa ofertada pela UFCA através do PACCE com o Desenvolvimento Sustentável, sur-giu a ideia de desenvolver essa pesquisa, que tem como questão norteadora: Como a Aprendizagem Cooperativa da UFCA contribui para construção do Desenvolvimen-to Sustentável? O estudo se justifica pela importância de averiguar se esta metodologia poderá lograr êxitos na pro-moção do Desenvolvimento Sustentável. Portanto, objeti-vou-se conhecer a contribuição da Aprendizagem Coope-rativa para a construção do Desenvolvimento Sustentável.

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PERCURSO METODOLÓGICOTrata-se de um estudo de caso com abordagem

qualitativa, a qual descreve a complexidade de um de-terminado problema, analisa sua interação, compreen-de e classifica processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresenta contribuições no processo de mudança, forma opiniões de grupos e permite a inter-pretação de comportamentos e atitudes individuais psi-cossociais (PRESTES, 2004). O estudo de caso é uma investigação empírica que permite o estudo de um fenô-meno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão bem definidos (GIL, 2009).

A pesquisa teve como lócus, o Campus da UFCA se-diado no município de Juazeiro do Norte, que tem uma população de aproximadamente 250 mil habitantes (IBGE, 2010) e está distante das principais capitais do Nordeste. A UFCA possui 13 cursos de graduação dis-tribuídos em cinco Campi localizados nos municípios de Barbalha, Brejo Santo, Crato, Icó e Juazeiro do Norte.

Os sujeitos do estudo foram os alunos inseridos no PACCE no ano de 2014. Esse Programa está vinculado à Pró-Reitoria de Ensino (PROEN) da UFCA e é composto por alunos regularmente matriculados nos cursos de gra-duação desta universidade e por um tutor (UFCA, 2014).

A seleção para ingressar no PACCE acontece de forma anual, mediante Edital oriundo da PROEN/UFCA. Os alunos interessados são selecionados a partir de atividades de formação sobre aprendizagem coope-

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rativa, análise de histórico acadêmico e disposição para desenvolver autonomia para a aprendizagem. Para in-gressar no PACCE, eles precisam dispor de 12 horas semanais, não exercer atividade remunerada ou possuir bolsas; não ter reprovação por falta nos componentes curriculares e/ou por nota nos últimos dois semestres letivos; não estar cursando outra graduação. Os alunos selecionados dentro do número de vagas ofertadas rece-bem um auxílio financeiro (bolsa) para ajudar no custeio dos estudos (UFCA, 2014).

Em 2014, o PACCE contou com 15 alunos bol-sistas, um voluntário e 27 integrantes das células estu-dantis, totalizando, assim, 43 alunos envolvidos e distri-buídos nos seguintes cursos: Comunicação Social – Jor-nalismo (03 alunos), Medicina (18 alunos), Engenharia Civil (05 alunos), Agronomia (04 alunos), Engenharia de Materiais (06 alunos), Biblioteconomia (04 alunos), Administração Pública (03 alunos).

Esses alunos compuseram 16 células estudantis e tinham suas reuniões semanais. Na ocasião, eles estu-davam assuntos do curso e temas transversais. Os alu-nos bolsistas, além dessa atividade, reuniam-se durante quatro horas semanais para os encontros de formação, com objetivo de estudarem a metodologia da aprendiza-gem cooperativa, temas interdisciplinares, compartilhar as ações desenvolvidas nas células estudantis, bem como socializar as angústias, limitações e novas propostas. As reuniões com os bolsistas, voluntário e tutora aconte-ciam mensalmente para socializarem os resultados das atividades das células estudantis e planejar as ações.

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Para seleção dos sujeitos do estudo, adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: ser aluno bolsista ou voluntário do PACCE no ano de 2014; ser aluno nova-to ou veterano do PACCE. Como critério de exclusão, aplicou-se para os alunos que foram convidados a serem integrantes das células estudantis, mas que não passaram pela seleção do Edital do PACCE em 2014. Este critério se justifica pelo fato que estes alunos desenvolveram uma menor carga horária dentro do Programa e não aprofun-daram sobre a metodologia da aprendizagem cooperati-va durante os encontros. Assim, 16 alunos estavam aptos a responderem ao instrumento de coleta de dados.

Para tanto, utilizou-se um questionário autoaplica-do que contemplou perguntas sobre: perfil acadêmico e seus saberes sobre a contribuição da Aprendizagem Coo-perativa para o Desenvolvimento Sustentável.

Após anuência da UFCA para iniciar a pesquisa, os pesquisadores procuraram os referidos alunos na reu-nião geral do Programa ocorrida no mês de outubro de 2014, explicaram os objetivos da pesquisa, apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), entregaram o questionário aos 16 alunos e agendaram a devolução em um prazo de 15 dias. Após o prazo e sua prorrogação, 15 alunos devolveram o questionário preenchido junto com o TCLE, encerrando assim a co-leta, em novembro de 2014.

Os dados foram organizados e categorizados con-forme análise temática de conteúdo, tendo como orien-

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tação Bardin (2011), que divide e descreve essa fase do estudo nas etapas de: Pré-análise, que consistiu na lei-tura das respostas dos questionários, procurando-se res-ponder aos objetivos propostos.

A segunda etapa é denominada de exploração do material, que possibilitou a classificação dos dados com vistas a alcançar o núcleo de compreensão do texto. Para operacionalizar esta etapa, foram estabelecidas as temáti-cas baseadas nas expressões ou palavras significativas que os alunos descreveram nos questionários.

A terceira etapa é descrita como tratamento dos resultados obtidos e interpretação, abordando a análise do estudo. Neste estudo foi feita uma análise descritiva em cada unidade de análise para extrair das mensagens, as informações pertinentes ao assunto pesquisado. Para tanto, considerou-se como Unidade de Registro (UR), a frase ou parágrafo que serviram de unidade de com-preensão (BARDIN, 2011).

As respostas dos alunos foram analisadas com base nos princípios teóricos da aprendizagem cooperativa e pesquisas sobre o tema. O estudo seguiu os preceitos éti-cos e legais da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs pesquisados eram acadêmicos com idades entre

18 e 53 anos de idade; cinco alunos eram do sexo mas-culino e 10 do sexo feminino; um aluno estava matri-

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culado no curso de Administração Pública, um cursava Comunicação e Jornalismo, um era da Agronomia, dois cursavam Engenharia Civil, dois estavam no curso de Biblioteconomia, dois alunos no curso de Engenharia de Materiais e seis alunos, no curso de Medicina.

Percebeu-se que houve uma maior procura ao PAC-CE pelos alunos do Curso de Medicina. É comum ob-servar que, neste curso, as relações de amizade construí-das pelos alunos parecem ser mais sólidas, ultrapassando a simples interação de sala de aula. Há uma divisão entre eles de moradia, com isto, é comum compartilharem as tarefas, as contas, estudos, dentre outros; o que, de certa forma, facilitou a inserção dos acadêmicos ao PACCE, por já serem fortes suas convivências estudantis idênticas aos Princípios da Aprendizagem Cooperativa.

Com a convivência mais próxima, acontece uma separação de responsabilidades, nas quais umas são indi-viduais e outras são coletivas ou sociais, e nenhuma des-tas é superior ou melhor que a outra. Qualquer afirma-ção de responsabilidade social que substitua a individual só pode ser contraproducente. Caso inexista a responsa-bilidade individual, a social não pode ser bem-sucedida (SEN, 2010).

No tocante a análise das respostas dos alunos, en-controu-se a classe temática: A contribuição da Aprendi-zagem Cooperativa para o Desenvolvimento Sustentável, a qual resultou em 13 UR distribuídas em três categorias.

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CATEGORIA 1 - DEFINIÇÃO DE DESENVOLVI-MENTO SUSTENTÁVEL

Na pergunta sobre o que os acadêmicos entendem ser Desenvolvimento Sustentável, as respostas convergi-ram ao significado de uma forma de desenvolver sem agredir o meio ambiente. Noutra perspectiva, respon-deram que é saciar as necessidades com responsabilida-de. Foi dito que se podem conciliar interesses coletivos com as limitações naturais, e que é preciso a interação do homem com o mundo, porém, preservando os recursos sem comprometer as futuras gerações. Sustentabilidade estava associada não só com a questão ambiental, mas também com a energética e a social.

Envolve o uso racional de matérias-primas e recur-sos energéticos e gestão administrativa. (Aluno 02)

É o desenvolvimento da sociedade humana que alia suas necessidades à aplicação de medidas responsá-veis, levando em consideração os interesses coletivos e respeitando as limitações que o ambiente, em que vivemos nos impõe. (Aluno 07)

Ser sustentável ou sustentabilidade consiste na in-teração do homem com o mundo, preservando o meio ambiente sem comprometer os recursos natu-rais das gerações futuras. Sustentabilidade está asso-ciada não só com a questão ambiental, mas também com a energética e social. (Aluno 08)

É o Desenvolvimento que leva em consideração tanto o meio ambiente, o uso consciente das ma-térias-primas, como o lado econômico. E, também, a contribuição de todos para o bem da sociedade. (Aluno 11)

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O Desenvolvimento Sustentável também aborda as áreas econômicas, sociais e políticas. Para o alcance do mesmo é necessário mudar muitas questões es-truturais, principalmente a econômica. (Aluno12)

Por ser um tema transversal e que exige aponta-mentos oriundos de mais uma ciência, tecnicamente as definições podem conter deslizes, mas aduzem pontos de realces, os quais merecem atenção. Quando se respondeu que interesses coletivos e necessidades são contidos por medidas responsáveis, já se mostra que responsabilidade é preciso para galgar um compartilhamento de vitórias, as quais nutram a coletividade. Está implícito nesta afir-mativa que se houver irresponsabilidade, não se poderá abastecer a todos, sendo assim haverá desigualdade.

É oportuno lembrar que há nas afirmações uma importante frase a qual diz que o ambiente impõe li-mites ao homem. Assim, não é o homem quem atribui limitações ao meio, conforme a prática tem demonstra-do. E isto caracteriza respeito e consciência, foge-se do antropocentrismo, onde tudo está a serviço do homem. Adentra-se noutra visão, a biocêntrica, na qual todos os seres vivos e recursos naturais do planeta são compreen-didos como partes constituintes de um delicado sistema equilibrado, resultando num organismo vivo que é o planeta Terra.

Contribuindo para o debate, nesta categoria resta-ram partes importantes nas quais ficam bem evidentes que o tema perpassa pelo: uso racional de matérias-pri-mas e recursos energéticos e gestão administrativa. É ne-

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cessário viver respeitando as limitações que o ambiente nos impõe. É preciso saber da interação do homem com o mundo e que Sustentabilidade está associada, não só com a questão ambiental, mas também com a energética e social.

CATEGORIA 2 - POSSIBILIDADES DO ALUNO DO PACCE PARA UMA SOCIEDADE JUSTA E SOLIDÁRIA

Na interrogação lançada sobre as possibilidades dos alunos integrantes ao Programa para construir uma so-ciedade mais justa e solidária, adveio respostas as quais demonstraram que a Aprendizagem Cooperativa deixa os alunos mais preocupados com o próximo e, por isso, faz com que as pessoas estejam propensas a serem mais justas e solidárias umas com as outras.

Os pilares da Aprendizagem Cooperativa são ca-pazes de produzir ações de coletividade, responsa-bilidade, proatividade, capacidade de ter diálogos, aceitar ideias, maior conhecimento entre as pessoas e etc. Essas aquisições são fundamentais para se chegar ao que alguns dizem ser a “utopia” de uma sociedade justa e solidária. (Aluno 01)

Os princípios da Aprendizagem Cooperativa incorpo-rados, no nosso dia a dia, auxiliam no nosso compor-tamento com relação ao nosso próximo. (Aluno 03)

A palavra cooperação é muito importante e vivida no dia a dia dos bolsistas e participantes das células. A partilha do conhecimento, a troca de experiências

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ajuda nos vínculos criados na Universidade. Gera um ser mais sensível e mais humano. (Aluno 10)

Na medida em que trabalhamos os cinco princípios da Aprendizagem Cooperativa, tais como interde-pendência social e habilidade social, percebemos que a visão capitalista competitiva, individualista, refletida no paradigma cartesiano de ensino, em nada contribui para a nossa transformação da estru-tura social. Os princípios da Aprendizagem Coope-rativa contribuem para desconstruirmos essa visão capitalista e, por conseguinte, formar profissionais protagonistas de mudanças. (Aluno 12)

Durante esses três anos, aprendi a conviver e tra-balhar com pessoas de diferentes cursos, diferentes personalidades, diferentes objetivos. Aprendemos a dividir tarefas e funções, dividir recompensas, compartilhar saberes. Fomos treinados a ouvir o próximo, a criticar ideias e não pessoas. Se esses princípios fossem executados por todos, acredito que teríamos uma sociedade mais justa e solidária. (Aluno 14)

Na visão dos discentes pesquisados são fortes e reais as chances de um mundo melhor, humano, contendo justiça, onde a solidariedade seja recorrente, conforme o aprendido nas células da Aprendizagem Cooperativa. E vai parecer utópica sim, mas é desta utopia que se deve buscar aproximação, iniciando com a aceitação de ideias divergentes, uma compreensão maior dos outros, do res-peito às outras pessoas e a colaboração para atividades que se complementam.

Freire (2011, p. 42) apregoa que “a solidariedade social e política de que precisamos para construir a so-ciedade menos feia e menos arestosa, em que podemos

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ser mais nós mesmos, tem na formação democrática uma prática de real importância”. Nesse sentido, a edu-cação para a sustentabilidade não faz do educando um depósito de conhecimentos como um mero objeto do processo educativo, mas um ser pensante que constrói junto com o professor o conhecimento necessário para evitar o discurso fatalista, neoliberal e pragmático tipi-camente capitalista.

Como boa ajuda ao presente estudo ficou que o PACCE tem permitido a alteração das pessoas para um ser mais sensível e mais humano e o que os princípios da Aprendizagem Cooperativa são fundamentais para se chegar ao que alguns dizem ser a “utopia” de uma socie-dade justa e solidária, fazendo a sociedade conviver e tra-balhar com pessoas diferentes, mas que possam vencer as desigualdades e consiga dividir tarefas e funções, dividir recompensas, compartilhar saberes. E que os alunos pes-quisados foram treinados a ouvir o próximo, a criticar ideias e não pessoas.

CATEGORIA 3 - EXPECTATIVA DOS ALUNOS DO PACCE EM FOMENTAR O DESENVOLVI-MENTO SUSTENTÁVEL

Feita pergunta direta, sobre a expectativa dos alu-nos do PACCE em fomentar o desenvolvimento susten-tável, os acadêmicos sinalizaram uma convergência ao resultado positivo, o qual descreve boa esperança.

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[...] Colocar-se no lugar do outro e pensar nas pró-prias atitudes que afetam outras pessoas. (Aluno 03)

Na Aprendizagem Cooperativa aprende-se a se pre-ocupar mais com o próximo e isso faz com que as pessoas sejam mais justas e solidárias. (Aluno 04)

Espera-se que ele se empodere dos fundamentos da Aprendizagem Cooperativa e do Desenvolvimento Sustentável para então fazer um nexo entre esses campos, o que é totalmente possível. O aluno, além de protagonista de mudanças em sua célula de estu-do, também será um ator de mudanças na socieda-de, quando se fala de Desenvolvimento Sustentável, pois a Aprendizagem Cooperativa o fortalece para trabalhar com outros atores sociais, formar redes e arranjos institucionais, canalizando esforços, geren-ciando os conflitos e diferenças para o alcance de um determinado objetivo. (Aluno 12)

Alteridade e empatia são ações que podem estar em desuso, para parte da sociedade, mas para estes alunos é algo comum. É de forma simplória em colocar-se na posi-ção alheia e tentar entender sentimentos, as necessidades, satisfações e frustrações dos amigos (os quais eram desco-nhecidos nesta seara particular) para compreender, de for-ma mais humana, as interações. Esta qualidade e virtude de um maior cuidado com o outrem aduzem mudanças importantes, atitudes simples, mas com efeitos perma-nentes que, se cultivadas, podem ser seguidas e ensinadas.

A preocupação com as dificuldades alheias é prática recorrente dos sujeitos pesquisados, os quais já se acostu-maram em ajudar mutuamente os amigos a conviverem e vencerem, conjuntamente, as limitações individuais com o apoio e auxílio dos amigos.

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33Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

A referência sobre a prática da justiça e da solidarie-dade repousa nas atitudes dos alunos de se respeitar nas diferenças e com as limitações de cada um, excluindo da relação possíveis pontos, fatos ou situações ocultadas nas amizades hodiernas. E com esta maneira algumas deficiências são suprimidas e as potencialidades superam de forma a não tornar a amizade superficial.

São através dos fundamentos da Aprendizagem Cooperativa que brotam o protagonismo e o empodera-mento individual, entretanto, estes estão consubstancia-dos na melhoria para um conjunto coletivo.

Como já dito por eles mesmos, a sustentabilidade está associada não só com a questão ambiental, mas tam-bém com a energética e social. Espera-se que o aluno, que já teve a experiência com o PACCE, colabore com seus conhecimentos, trabalhando em grupo, mostrando e aplicando os princípios da Aprendizagem Cooperativa, sempre no intuito de aprimorar a dinâmica coletiva.

Ao debate restou, ofertados pelos acadêmicos, colocar-se no lugar do outro, assim como pensar nas próprias atitudes que afetam outras pessoas. O compro-misso assumido de se preocupar mais com o próximo, a dedicação de sentir-se e desejar serem pessoas mais justas e solidárias. A esperança do jovem oriundo do PACCE ser protagonista de mudanças e um ator de mudanças na sociedade.

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34Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

CONSIDERAÇÕES FINAISO momento para se discutir Desenvolvimento,

Sustentabilidade e Ensino Superior no Cariri é acertado em virtude da eclosão de cursos de graduação instalados, aliado às criações e expansões das Instituições de Ensino Superior e a política do governo que, nos últimos anos, es-timulou a permanência dos alunos com programas de au-xílio aos universitários, tal como a instalação de uma Uni-versidade Federal que trabalha ensino, pesquisa, extensão e cultura, como a UFCA, o que já a difere das demais.

O auxílio da metodologia da Aprendizagem Coo-perativa nos espaços universitários contribui para o encorajamento dos alunos para vencerem um sistema arcaico de ensino, no qual os conhecimentos provêm, exclusivamente, do professor.

No que é pertinente ao conhecimento sobre o De-senvolvimento Sustentável, traçaram o uso racional de matérias-primas, recursos energéticos e gestão adminis-trativa. Disseram que a Sustentabilidade está associada, não só com a questão ambiental, mas, também, com a energética e social.

O PACCE tem permitido a alteração dos envolvi-dos para um ser mais sensível e humano. A “utopia” de uma sociedade justa e solidária pode ser alcançada com o uso dos princípios da Aprendizagem Cooperativa, segundo os universitários. Como expectativa dos pes-quisados em fomentar o Desenvolvimento Sustentável, eles sugeriram pensar nas próprias atitudes que afetam outras pessoas.

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35Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Diante dos resultados obtidos percebe-se a real possibilidade do contributo da Aprendizagem Coope-rativa para a construção da Sustentabilidade, e o papel preponderante da Universidade em conduzir o ensino de modo acertado.

Por fim, é mister o desenvolvimento de linhas de estudos e pesquisas que aprofundem a relação entre en-sino e desenvolvimento sustentável para fomentar a cria-ção de uma sociedade mais justa e solidária.

REFERÊNCIASANDRADE NETO, M.; MAZZETO, S.E. Mútua Cooperação entre estudantes como estratégia de inclusão através da educação. Per-Cursos, v. 7, n. 1, p.1-11, 2006. Disponível em: <http://www.perio-dicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/1502/1268> Acesso em: 10 de mar. de 2015.BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições, 70, 2011.BARRETO, P.L.N.; CHACON, S.S.; NASCIMENTO, V.S. Educa-ção e Desenvolvimento Sustentável: a expansão do ensino superior na Região Metropolitana do Cariri. Sustentabilidade em Debate. Brasí-lia, V. 3. N.1, p.117-134, jan/jun, 2012. CHACON, S.S. O sertanejo e o caminho das águas: políticas públi-cas, modernidade e sustentabilidade no semi-árido. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2007.FREIRE, P. Educação e mudança. 24. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.GADOTTI, M. Paulo Freire e a Boniteza do Sonho de Ensinar e Aprender com Sentido. In: SCOCUGLIA, A. Paulo Freire na Histó-ria da Educação do Tempo Presente. p.211, 2006.______. Educar para a Sustentabilidade: Uma contribuição à Déca-da da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Ed,

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L, 2008. 127p. (Série Unifreire, 2). Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2012. GIL, A.C. Estudo de Caso: fundamentação científica, subsídios para coleta e análise de dados e como redigir o relatório. 1.ed. São Paulo: Atlas, 2009.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo Demográfico 2010. 2013. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 12 de nov. de 2013.NASCIMENTO, V.S. Elementos para a Promoção de uma Cultura de Paz: um olhar a partir da contribuição de Paulo Freire. In: FIGUEI-REDO, J.B.A.; SILVA, M.E.H. Formação Humana e Dialogicidade em Paulo Freire II: reflexões e possibilidades em movimento. Forta-leza: Edições UFC, 2009.PRESTES, M. L. de M, A Pesquisa e a Construção do Conheci-mento Científico: do Planejamento aos textos, da escola à Academia. Catanduva/SP: RESPEL LTDA, 2004. SANCHS, I. Estratégias de transição para o século XXI. In: BURSZ-TYN, M. (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.SEN, A. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA. Anexo IV da Resolução nº 01/2014/CONSUP. Dispõe sobre a regulamentação do Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis (PACCE) no âmbito da Universidade Federal do Cariri. Juazeiro do Norte, 2014.

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37Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA EM SAÚDE NO ENFRENTAMENTO À

PROBLEMÁTICA AMBIENTAL COMO CAMINHO PARA SUSTENTABILIDADE

Rhavena Maria Gomes Sousa RochaMaria do Socorro Vieira Lopes

Karla Jimena Araújo de Jesus SampaioCélida Juliana de Oliveira

Ana Maria Parente Garcia Alencar

INTRODUÇÃOA Abordagem Ecossistêmica em Saúde pode ser

entendida como um enfoque fundamentado no casa-mento da ideia de ecossistema & saúde humana, a partir do vínculo entre estratégias de gestão integral do meio ambiente com uma abordagem complexa da promoção da saúde. Objetiva desenvolver novos conhecimentos sobre a relação saúde, ambiente, trabalho, em realidades concretas, de forma que permita ações adequadas, apro-priadas e saudáveis das pessoas, e para as pessoas que aí vivem (MINAYO, 2006).

Tal abordagem inovadora, também chamada de Ecossaúde, surge para responder a uma lacuna na atua-lidade e frente a incertezas apresentadas no processo di-nâmico de interação entre os seres vivos e a ação humana (SANTOS, 2009). É fundamental compreender a inter-

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38Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

-relação existente entre o ser humano e o ecossistema e, consequentemente, entre meio ambiente e a determina-ção de estados de saúde ou de doença. Este deve ser enten-dido como elemento que influencia diretamente na saúde das populações, a partir da compreensão de que o binô-mio ser humano-ecossistema tem um elo indissociável.

Em seu estudo, Beserra et al. (2010) evidencia uma visão de meio ambiente como espaço de interação e local para a existência humana; o que demonstra compreen-são acerca da ligação entre os diferentes aspectos que in-tegram e fazem interagir o social, o cultural e o natural em uma mesma noção formal de meio ambiente. Assim, a atividade humana, os processos produtivos, exercem influências sobre a natureza, e esta traz impactos para a saúde humana, já que esses elementos são interligados em diversos aspectos e interagem entre si.

Para Santos (2009), é imprescindível encontrar no-vas possibilidades para solucionar os problemas de saúde nas comunidades, a partir do conhecimento de suas vi-vências e práticas cotidianas, contribuindo, assim, para a sustentabilidade. Nesse sentido, o fazer em saúde deve dar conta das interações complexas da vida social e dos desafios epistemológicos de integração de sua diversidade.

A Abordagem Ecossistêmica em Saúde baseia-se em três pilares fundamentais: transdisciplinaridade, par-ticipação social e equidade de gênero. A transdisciplina-ridade, que consiste em trabalhar em diversas áreas do conhecimento; a participação social, que abrange todos

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39Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

os atores sociais envolvidos e a equidade de gênero, que leva em consideração os diferentes papéis relacionados ao gênero (GOMÉZ; MINAYO, 2006).

Diante da insuficiência do enfoque unidisciplinar na abordagem à problemática ambiental e da necessida-de de construir um conhecimento integrado das ciências naturais e humanidades, destaca-se a interdisciplinarida-de. Para Weihs (2013), trata-se de romper com as fron-teiras historicamente construídas entre as disciplinas, buscando integrar dados, métodos, ferramentas, concei-tos e teorias e incorporar o saber informal e a participa-ção social e lidar com relações de poder e conflitos.

Reforça-se a relevância da participação social nesse processo. Silva & Peliccioni (2013), corroboram com esta afirmativa, ao assegurar que a participação em que as pessoas interagem com o meio na condição de sujeito é aquela que cria possibilidades para a transformação social, portanto, deve ser ativa e deliberativa, ou seja, o sujeito não será simplesmente um espectador, ele deverá interpre-tar, analisar, dialogar e agir sobre a realidade em que está inserido, estimulando, também, a cooperação coletiva.

Evidenciando a importância da compreensão de enfoques integrativos e participativos, e baseando-se na necessidade de enxergar o meio ambiente como elemen-to complexo e interconectado ao ser humano, deparou--se com a seguinte questão: Como a Abordagem Ecossis-têmica em Saúde tem sido utilizada no enfrentamento à problemática ambiental?

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40Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Sendo assim, este estudo objetivou compreender através do levantamento da produção científica nacio-nal e internacional como se tem realizado a Abordagem Ecossistêmica em Saúde no enfrentamento à problemá-tica ambiental, considerando os impactos da ação das pessoas sobre a natureza e como esses impactos afetam a saúde humana, os ambientes de trabalho, além de vis-lumbrar que a utilização da abordagem ecossistêmica em si, por ser um processo transdisciplinar e participativo contribui sobremaneira com a sustentabilidade de ecos-sistemas naturais e socioculturais.

METODOLOGIATrata-se de uma revisão integrativa da literatura, a

qual pode ser considerada como uma pesquisa que bus-ca sintetizar estudos realizados acerca de determinado assunto. A revisão integrativa é um dos métodos de pes-quisa utilizados na prática baseada em evidências e que possibilita a incorporação das evidências na prática clí-nica. Tendo como referencial estudiosos desse método, é preciso percorrer seis etapas distintas: Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa, esta-belecimento de critérios de inclusão e exclusão e busca na literatura, definição das informações a serem extraí-das, avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e apresentação da revisão integrativa (Mendes, Silveira e Galvão, 2008).

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41Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

A busca dos artigos aconteceu no período de junho a julho de 2014, a partir das bibliotecas BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e PubMED (US National Library of Medicine National). Acessou-se à página da BVS, sele-cionando as bases de dados LILACS (Literatura Latino--Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BDE-NF (Bases de Dados de Enfermagem) e na PubMED, todos os artigos encontrados eram indexados à base de dados MEDLINE (Medical Literature Analysis and Re-trieval System Online).

Para a localização de artigos na BVS, a busca foi realizada utilizando-se uma palavra-chave e dois Descri-tores em Ciências da Saúde (Decs): “Abordagem ecossis-têmica” (Palavra-chave) AND “Saúde ambiental” (Decs) OR “Saúde” (Decs). O uso da palavra-chave “Abordagem ecossistêmica” se justifica pelo restrito número de artigos que contemplavam os objetivos da pesquisa quando se utilizaram descritores similares, como “Ecossistema”. As-sim, optou-se por utilizar esse termo, visando ampliar o número de pesquisas encontradas. Os critérios de inclusão foram contemplar os objetivos do estudo, estar disponível como texto completo de forma gratuita, publicado nos últimos dez anos. Como critério de exclusão, foram omi-tidos da pesquisa as dissertações, teses, trabalhos de con-clusão de curso e resumos de anais e livros, assim como artigos que estavam indexados em mais de uma base de dados. Então, os artigos repetidos eram desconsiderados.

Na BVS, após busca integrada avançada, encon-trou-se 34 artigos em seguida, após aplicação dos filtros,

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42Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

obteve-se o número de 18 artigos. Depois de leitura na íntegra e exclusão dos artigos repetidos, chegou-se ao to-tal de sete artigos, sendo cinco indexados pela LILACS e dois pela BDENF.

Na PubMED, o levantamento dos artigos foi fei-to utilizando-se os seguintes Mesh: “Environmental health” AND “Ecosystem” AND “Health”. Para seleção dos artigos utilizou-se os seguintes critérios de inclu-são: contemplar os objetivos do estudo, estar disponível como texto completo de forma gratuita, publicado nos últimos dez anos e pesquisas realizadas somente com hu-manos. Foram encontrados 94 artigos, após aplicação dos filtros foram pré-selecionados 11 artigos. Ao final da leitura, restaram cinco artigos, todos indexados na base de dados MEDLINE.

Desse modo, somando-se os artigos encontrados nas três bases, que atendiam aos objetivos do estudo, chegou-se ao número final de 12 artigos.

Figura 1. Fluxograma mostrando a seleção dos artigos para revisão: estratégia de pesquisa, número de registros identificados e artigos incluídos.

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43Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

RESULTADOS E DISCUSSÃODos 12 artigos, no período compreendido entre

2005 e 2013, cinco (41,6%) eram do ano de 2013, três (25%) do ano de 2007, e os anos de 2005, 2009, 2010 e 2012 contaram com apenas um artigo cada (8,3%). Quanto ao país de origem, a maioria dos estudos foi realizado no Brasil, sendo oito nacionais e quatro inter-nacionais, distribuídos entre os seguintes países: Colôm-bia, Itália e Canadá (dois artigos).

Quadro 1: Distribuição dos artigos selecionados, período de 2005-2013, segun-do título, autor, ano de publicação, país de origem, periódico e bases de dados.

Título Autor/AnoPaís

de ori-gem

Periódico Base de Dados

Os desafios da geração do co-nhecimento em

saúde ambiental: uma perspectiva

ecossistêmica

WEIHS; MERTENS.

2013Brasil

Ciência & Saúde Co-

letivaLILACS

An ecosystem perspective in

the socio-cultural evaluation of dengue in two

Colombian towns

SUAREZ; GONZÁLEZ;

CARRAS-QUILA;

QUINTERO.2009

Co-lômbia

Cad. Saúde Pública LILACS

Abordagem ecossistêmica:uma possibilidade para construir conheci-mento sustentável em enfermagem/

saúde

SVALDI; ZAMBER-LAN; SI-QUEIRA.

2013

BrasilEsc. Anna

Nery LILACS

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44Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Ecosystem ap-proach and the Fuzzy logic: a

dialectical propos-al for information on Environmental

Health

CANAVESE; ORTEGA;

GIATTI2012

Brasil EngSanitAm-bient

LILACS

Modelo mul-tidimensional

para o controle da dengue: uma

proposta com base na reprodução

social e situações de riscos

SANTOS; AUGUSTO.

2010Brasil

Revista de Saúde Co-

letivaLILACS

Abordagem ecossistêmica em terapia intensiva: conhecimento dos

enfermeiros

PARCIANE-LO et al.

2013Brasil R. pesq.: cuid.

Fundam BDENF

Nursing, environ-ment and health

conceptions: an ecosystemic approach of the collective health production in the

primary care

CEZAR-VAZ et al.2007

BrasilRev Latino-

-am Enferma-gem

BDENF

Convergence of Ecohealth and

One Health

ZINSSTAG.2013

Cana-dá EcoHealth MEDLI-

NE

Salute de glieco-sistemi e salute umana

CECCHI; MANCINI.

2005Itália Ann Istsuper-

sanitàMEDLI-

NE

Ecosystem ap-proaches and

health in Latin America

FREITAS et al.2007

Brasil Cad. Saúde Pública

MEDLI-NE

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45Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Letter from the New IAEH President Jakob Zinsstag: Health

& Ecology: Let us Join Forces

ZINSSTAG2013

Cana-dá EcoHealth MEDLI-

NE

Compreensões integradas para a vigilância da

saúde em ambien-te de floresta: o

caso da Chapada do Araripe, Ceará,

Brasil.

AUGUSTO; GOÉS 2007 Brasil Cad. Saúde

PúblicaMEDLI-

NE

Em relação aos periódicos, os artigos foram pu-blicados nos seguintes: Ciência & Saúde Coletiva (um artigo), Caderno de Saúde Pública (três artigos), Escola Anna Nery (um artigo), Revista Engenharia Sanitária (um artigo), Revista de Saúde Coletiva (um artigo), Re-vista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental (um artigo), Revista Latino-americana de Enfermagem. (um artigo), EcoHealth (dois artigos), Ann IstSuperSanità (um arti-go). Dos 12 artigos, cinco eram indexados na LILACS, dois na BDENF e cinco na MEDLINE.

No quadro 2, estão dispostas as formas de utiliza-ção da Abordagem Ecossistêmica em Saúde e os prin-cipais resultados das pesquisas. A partir da análise dos estudos, emergiram quatro categorias temáticas: “Abor-dagem Ecossistêmica em Saúde”, “Transdisciplinarida-de”,“Participação social” e “Equidade de gênero”.

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Dos 12 artigos estudados, sete abordaram a trans-disciplinaridade, como proposta de alcançar uma maior compreensão dos problemas de saúde. Destaca-se que um dos autores (artigo 7) mencionou, também, a inter-disciplinaridade. Os artigos 1, 4, 5, 9, 10, 12, enfatizam a relevância da participação social no enfoque ecossistê-mico. Dos artigos estudados, quatro mencionam a equi-dade (3, 5, 8 e 12) e, destes, dois referem-se, especifica-mente, às relações de gênero.

Importante mencionar que alguns estudos abor-daram desafios a serem superados nessa perspectiva, em que podemos enfatizar incompatibilidade entre as medi-das em direito ambiental e a abordagem ecossistêmica e a dificuldade de apropriação por parte dos usuários das informações e instrumentos apresentados.

Estão evidenciadas a seguir as quatro categorias:

Abordagem Ecossistêmica em Saúde

Reconhece-se cada vez mais a ligação indissolúvel da saúde das pessoas e dos animais e seus ecossistemas, e compreende-se que não existe vida saudável em um ambiente ameaçado, incapaz de fornecer subsídios para a sobrevivência e promoção da saúde humana. Surge, então, a necessidade de uma estratégia abrangente para as questões de saúde do ecossistema e da saúde huma-na, uma estratégia capaz de superar a perspectiva redu-cionista e abraçar as complexas dinâmicas que ligam o

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47Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

ambiente ao ser humano (CECCHI; MANCINI, 2005; ZINSSTAG, 2013). Tal proposta deve recuperar a rela-ção saudável do ser humano com a natureza (AUGUS-TO; GOÉS, 2007).

O pensamento sistêmico compreende-se pelo en-tendimento de que sistemas complexos interagem com vários outros sistemas e níveis, não havendo separação entre os seus componentes. Assim sendo, todas as par-tes do conjugado sistêmico de um arranjo específico precisam estar presentes para garantir o funcionamen-to eficiente e conseguir alcançar o seu propósito. Nes-sa perspectiva, torna-se necessário considerar o espaço como um sistema social dinâmico, com uma diversidade de elementos inter-relacionados (SVALDI; ZAMBER-LAN; SIQUEIRA, 2013; PARCIANELO et al., 2013).

Assim, entende-se a realidade não mais como uma relação de causa e efeito, de forma linear, mas através de uma complexa rede de relacionamentos interconectada e incorporada a redes maiores, isto é, a partir das inte-rações. Compreendendo esse raciocínio, e consideran-do pessoas e natureza como elementos de um mesmo sistema, depreende-se que não existe separação entre o ambiente natural e o social, não apenas por ser difícil distinguir, mas porque funcionam inter-relacionados, formando um todo (SVALDI; ZAMBERLAN; SI-QUEIRA, 2013).

A Abordagem Ecossistêmica em Saúde despon-ta como uma possibilidade de integrar conhecimentos

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de diferentes áreas, onde pesquisadores, gestores e pro-fissionais estão dispostos ao diálogo e a experimentar novas abordagens neste conceito, a fim de promover a saúde e o desenvolvimento sustentável. Esta possui nos seus princípios a capacidade de aproximar todos os ele-mentos que a integram, saúde e o ambiente por meio da ciência e tecnologia. Baseia-se em uma atenção in-tegral/holística e não somente assistencialista e tecnicis-ta com enfoque na doença (SVALDI; ZAMBERLAN; SIQUEIRA, 2013; CANAVESE; ORTEGA; GIATTI, 2012; PARCIANELO et al., 2013; ZINSSTAG, 2013).

1. TransdisciplinariedadeA transdisciplinariedade emerge na abordagem

ecossistêmica como fruto da superação da insuficiência teórica dos enfoques unidisciplinares em explicar as per-turbações advindas da relação ser humano-ecossistema. Implica em visão ampla dos problemas de saúde, a partir de um processo de investigação que não esteja restrito à ciência, mas que os conhecimentos adquiridos em ou-tras esferas possam integrar-se à vida das pessoas, pos-sibilitando poder de transformação social (SANTOS; AUGUSTO,2010; CEZAR-VAZ et al., 2007). Trata-se de romper com as fronteiras historicamente construídas entre as disciplinas (WEIHS; MERTENS, 2013).

Os esforços destinados a amenizar os sintomas da mudança planetária, decorrentes dos impactos das pes-

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soas sobre o ecossistema, não obtém êxito quando reali-zados por meio de uma única disciplina. Faz-se necessá-rio a realização de estudos com métodos participativos e integradores, abrindo caminhos de pesquisa em todas as disciplinas acadêmicas, ligando ciência e sociedade. Desafia-se, assim, o reducionismo unidisciplinar (CA-NAVESE; ORTEGA; GIATTI, 2012; PARCIANELO et al., 2013; ZINSSTAG, 2013).

Vale salientar que os saberes e práticas são construí-dos considerando-se o ambiente como um todo, sobre o atento olhar de diferentes disciplinas, diferentes tra-balhadores da saúde, em que a saúde não é vista como descolada do ambiente físico/social, associado aos sabe-res da comunidade. Assim, cientistas de diversas áreas abrem espaço para a participação dos indivíduos (SAN-TOS; AUGUSTO, 2010; CEZAR-VAZ et al., 2007).

Apesar da relevância da transdisciplinaridade para a abordagem ecossistêmica, alguns autores evidenciaram limitações, como o desafio de estabelecer o diálogo entre o saber informal e a participação popular ao conheci-mento científico, os processos produtivos e lidar com re-lações de poder ou situações conflituosas ao tentar criar vínculos entre os problemas e solução destes. Além disso, o pesquisador divide-se entre valorizar sua especialidade enquanto cede a outras linguagens, métodos e conheci-mentos distintos dos seus (WEIHS; MERTENS, 2013).

Em vista disso, a edificação do saber da complexi-dade ambiental requer um processo dialógico, com base

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na troca de conhecimentos, hibridação da ciência e in-serção de saberes populares. Assim, a adoção de métodos transdisciplinares trazem à tona o surgimento de novos conceitos. (CEZAR-VAZ et al., p.9, 2007).

2. Participação social A partir de uma perspectiva de saúde pública, é

primordial identificar e reduzir os determinantes sociais que favorecem a reprodução de doenças, indo além de suas origens biológicas, tanto visando amenizar a sua frequência como influenciar a mudança de comporta-mento da comunidade. Para tanto, incentiva-se o uso de estratégias participativas, que juntamente com uma abordagem interdisciplinar, resultaram em uma maior capacidade organizativa para resolver as questões locais (WEIHS; MERTENS, 2013; SUAREZ; GONZÁLEZ; CARRASQUILA; QUINTERO, 2009).

É pertinente pensar que o processo de mudança da realidade só se torna possível se os indivíduos que a vivenciam são capazes de conhecê-la, refletir criticamen-te sobre ela e compreender a necessidade de mudança. Desta maneira, consideram-se os atores sociais indis-pensáveis nesse processo, sendo os mesmos instigados à participação e envolvimento nas questões ambientais, a partir da identificação de problemas e busca de soluções (SVALDI; ZAMBERLAN; SIQUEIRA, 2013; CANA-VESE; ORTEGA; GIATTI, 2012).

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A participação social tem a finalidade de se chegar a um acordo nas decisões tomadas entre os membros da comunidade e com os cientistas. A proposta remete à necessidade de estudar e promover intervenções parti-cipativas na resolução de problemas complexos, apreen-dendo desde questões da saúde humana a aspectos so-cioambientais. Assim, o diálogo entre pesquisadores e comunidades viabiliza a transformação de resultados de pesquisa em conhecimentos para a ação (WEIHS; MERTENS, 2013; SANTOS; AUGUSTO, 2010).

Na abordagem ecossistêmica em saúde, a partici-pação do público é considerada um elemento integral. O pesquisador procura agregar as diversas partes inte-ressadas (pesquisadores, gestores e comunidade) na for-mulação de hipóteses e análise dos resultados, a partir da parceria e colaboração de especialistas e atores locais, que conduzem ao controle da problemática. Nota-se que embora muitas empresas reconheçam a importân-cia do envolvimento das comunidades locais, muitas vezes as ferramentas disponíveis são insuficientes para implementar a resolução (CECCHI; MANCINI, 2005; FREITAS et al., 2007).

Logo, admite-se que o comportamento de cada in-divíduo no ecossistema afeta a vida e a saúde de todos os outros. Assim, o sucesso da comunidade depende do su-cesso de cada membro, e vice-versa. Isso se explica pelo fato de que todos são elementos de um mesmo sistema, sendo influenciados de forma mútua. Por isso, é necessá-rio promover o empowerment da comunidade, pois uma

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vez detentora do conhecimento, esta compreenderá que tem um importante papel na resolução dos problemas do seu meio (SANTOS; AUGUSTO, 2010; PARCIA-NELO et al., 2013).

3. Equidade de gênero.No que diz respeito à equidade de gênero, percebe-

-se que cabe ao homem o papel de provedor, relaciona-do à sua masculinidade e promovendo a reprodução dos padrões de comportamento de gênero. Assim, desde a infância, os garotos são cobrados quanto ao sustento do lar através do trabalho. Já a ocupação das mulheres, por sua vez, foi tida como um obstáculo para os cuidados da família. Almeja-se, portanto, a equidade de gênero por meio do empoderamento da mulher no papel da reprodução, no cuidado com a saúde, na ação política e no mercado de trabalho (AUGUSTO; GOÉS, 2007; SVALDI; ZAMBERLAN; SIQUEIRA, 2013).

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Quadro 2. Distribuição dos artigos selecionados descritos quanto à forma de utilização da Abordagem Ecossistêmica e principais resultados.

Título Como foi utilizada/abordada a “Aborda-gem Ecossistêmica em Saúde” Principais resultados

Os desafios da geração do conhecimento em saúde ambiental: uma perspectiva ecossistêmica

O projeto brasileiro denominado CARUSO e um conjunto de projetos desenvolvido no Nepal foram revisados quando à aplicação da interdisciplinaridade e transdisciplinariedade, segundo uma perspectiva ecossistêmica, sendo abordada também a participação comunitária.

No projeto Caruso, o diálogo entre pesquisadores e saberes lo-cais (transdisciplinariedade), bem como a participação social, permitiu compreender a dinâmica integral do local e identificar soluções para o problema.As estratégias participativas e inter/transdisciplinares resulta-ram em uma maior capacidade organizativa para resolver as questões locais.

An ecosystem perspective in the socio-cultural evaluation of dengue in two Colombian towns

Foi realizado um estudo transdisciplinar para avaliar as ligações entre fatores eco-bio--sociais e da situação atual da dengue em duas cidades da bacia do rio Magdalena, na Colômbia.

A ocorrência da doença está ligada a percepções sociais de saú-de e doença, dependendo de determinados ambientes para seu desenvolvimento e sendo associada pela população às classes mais baixas, tendo estas muito mais risco de ter as formas dos vetores da dengue. Há a necessidade de uma abordagem ecos-sistêmica.

Abordagem ecos-sistêmica:uma possibilidade para construir conheci-mento sustentável em enfermagem/saúde

Aborda de forma teórica as considerações sobre a abordagem ecossistêmica e a constru-ção de um conhecimento sustentável.

O pensamento/abordagem ecossistêmica desponta como uma possibilidade de construção de conhecimento ao permitir a emergência de ideias coletivas e inovadoras. Metodologica-mente, é agregadora e promove a emergência das respostas, não sendo prescritiva nem determinística. Essa forma metodológica pode permitir que o ser humano encontre outra maneira de pen-sar, de construir conhecimento/ciência.

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Título Como foi utilizada/abordada a “Aborda-gem Ecossistêmica em Saúde” Principais resultados

Ecosystem approach and the Fuzzy logic: a di-alectical proposal for information on Environmental Health

Aborda de forma teórica o enfoque ecossistê-mico e as novas abordagens para a Saúde Am-biental e os desafios no uso da informação sob a ótica ecossistêmica.

A abordagem ecossistêmica contribui para a produção de infor-mação científica. A situação dos atuais problemas ambientais e de saúde requer pesquisas com metodologias participativas e integradas, com uma proposta transdisciplinar e participação de atores sociais. No entanto, existem desafios como a incom-patibilidade entre as medidas em direito ambiental e a aborda-gem ecossistêmica e a dificuldade de apropriação por parte dos usuários dos instrumentos apresentados.

Modelo multidi-mensional para o controle da dengue: uma pro-posta com base na reprodução social e situações de riscos

Aborda um modelo compreensivo/explicativo de caráter ecossistêmico, a partir da identifi-cação das situações de risco envolvidas com a da Dengue nos níveis de micro e macro-contexto.

O marco conceitual da abordagem ecossistêmica se emprega para analisar os vínculos entre os ecossistemas e a saúde hu-mana. Essa abordagem considera essencial entender as formas de participação social e equidade existentes nos contextos locais, com base na transdisciplinaridade.

Abordagem ecossistêmica em terapia intensiva: conhecimento dos enfermeiros

Realiza uma investigação visando identificar o conhecimento dos enfermeiros sobre a abor-dagem ecossistêmica em Unidade de Terapia Intensiva.

A abordagem ecossistêmica em saúde humana objetiva desen-volver perspectivas acerca da relação saúde do ser humano e ambiente, permitindo ações adequadas e saudáveis de todos os indivíduos, a partir de um trabalho transdisciplinar. A saúde é intrinsecamente relacionada com a qualidade de vida em um ambiente capaz de oferecer aos indivíduos uma assistência contínua e integral. Destaca-se a relação interativa entre o pro-fissional de enfermagem e o usuário/cliente, tornando-o mais participativo de sua própria saúde.

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Título Como foi utilizada/abordada a “Aborda-gem Ecossistêmica em Saúde” Principais resultados

Nursing, environ-ment and health conceptions: an ecosystemic approach of the collective health production in the primary care.

Abordar teoricamente os principais delinea-mentos de significados expressos de ambiente na relação com o trabalho desenvolvido pelas enfermeiras da rede básica de atenção à saúde, com base na abordagem ecossistêmica na pro-dução de saúde.

O sentido de ambiente claramente é compreendido como cole-tivo em sua dimensão sociobiológica e o desafio é apreendê-lo numa dimensão ecológica ampliada de promoção da saúde humana. Os saberes e práticas dos enfermeiros não devem se restringir a um fenômeno único (saúde descolada do ambiente físico e/ou social), são conhecimentos que devem se construir e desenvolver de forma integrada (interdisciplinariedade).

Convergence of Ecohealth and One Health.

Compara-se dois tipos distintos de abor-dagem: A abordagem ecossistêmica e One Health, buscando compreender as divergên-cias entre eles.

Ambas as abordagens enfatizam uma compreensão holística da saúde para além da puramente biomédica, baseando-se no pensamento sistêmico como uma maneira de alcançar uma maior compreensão dos problemas de saúde, ambas defendem a inter e trans-disciplinariedade nas pesquisas e participação colaborativa.

Salute deglieco-sistemi e salute umana.

Aborda dois estudos de caso em que foi utilizada a Abordagem Ecossistêmica: Minas e pedreiras, DDT e malária.

Uma abordagem ecossistêmica nas minas e pedreiras requer a participação de atores sociais, como governos ou os gover-nos locais, empresas, comunidades locais e ecossistemas. Os problemas causados pelo uso de DDT trazem a necessidade de uma estratégia abrangente para as questões de saúde do ecossistema e à saúde humana, capaz de superar a perspectiva reducionista e abraçar as complexas dinâmicas que ligam o ambiente para o homem. Dá-se destaque aos métodos transdis-ciplinares, a partir da epidemiologia.

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Título Como foi utilizada/abordada a “Aborda-gem Ecossistêmica em Saúde” Principais resultados

Ecosystem approaches and health in Latin America

Contribuição teórica sobre o desenvolvimento de Abordagem ecossistêmica no contexto latino-americano.

Uma abordagem ecossistêmica necessariamente envolve uma combinação de diversas informações (conhecimento inte-grado), a participação do público e de todos os atores sociais envolvidos, sendo considerados elementos integrais.

Letter from the New IAEH President, Jakob-Zinsstag: Health & Ecology: Let us Join Forces.

Aborda teoricamente a importância da Abordagem ecossistêmica na compreensão da relação entre alterações ecossistêmicas e efeitos na saúde.

As tentativas de mitigar essas síndromes de mudança global não podem ser alcançadas por uma única disciplina (inter e transdisciplinariedade) e devem ser de forma reflexiva e sistêmica.

Compreensões integradas para a vigilância da saúde em ambien-te de floresta: o caso da Chapada do Araripe, Ceará, Brasil.

Aborda as relações sociais decorrentes das interações de grupos humanos com o ambien-te de floresta em face do processo produtivo extrativista vegetal e identificar os decorrentes problemas ambientais e sociais, que são importantes para orientar ações de vigilância da saúde

Deve-se recuperar a relação saudável do ser humano com a natureza, que só poderá acontecer mediante políticas públicas estabelecidas com essa intencionalidade aliadas à participação da comunidade. Consideram-se as relações de gênero.

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CONSIDERAÇÕES FINAISO presente estudo possibilitou a compreensão sobre

a Abordagem Ecossistêmica em Saúde, como uma impor-tante forma de produção de conhecimentos sobre a relação saúde-ambiente-trabalho, objetivando promover parti-cipação social/comunitária e transdisciplinaridade.

No que diz respeito à participação social, é ainda um desafio envolver os principais atores sociais, que são os pesquisadores, gestores, funcionários públicos e membros da sociedade, na busca por soluções dos pro-blemas ambientais, especialmente devido à dificuldade de integrar saber informal e conhecimento científico.

Há, também, a dificuldade em utilizar uma abor-dagem transdisciplinar, visto que os profissionais/traba-lhadores veem-se divididos entre considerar sua especia-lidade, ao mesmo tempo em que precisam render-se a outros conhecimentos, linguagens, conceitos e métodos.

Entretanto, mesmo diante de tais obstáculos, é pri-mordial avançar nesta área ambiental, em busca de no-vas perspectivas acerca do elo indissociável saúde, meio ambiente e trabalho, considerando as relações entre as condições de saúde e seus determinantes culturais, so-ciais e ambientais, sendo assim a abordagem ecossistê-mica propicia a sustentabilidade socioambiental.

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REFERÊNCIASAUGUSTO, L.G.S.; GÓES, L. Compreensões integradas para a vigi-lância da saúde em ambiente de floresta: o caso da Chapada do Ara-ripe, Ceará, Brasil. Cad. saúde pública, v. 23, n. supl. 4, p. 549-558, 2007.BESERRA, E. P. et al. Educação ambiental e enfermagem: uma inte-gração necessária. Revbrasenferm, v. 63, n. 5, p. 848-52, 2010.CANAVESE, D.; ORTEGA, N.R.S.; GIATTI, L.L..Ecosystem ap-proach and the Fuzzy logic: a dialectical proposal for information on Environmental Health. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 17, n. 4, p. 363-368, 2012.CECCHI, G.; MANCINI, L. Salute degliecosistemi e salute umana. Ann Ist Super Sanità, v. 41, n. 3, p. 271-279, 2005.CEZAR-VAZ, M.R. et al. Nursing, environment and health concep-tions: an ecosystemic approach of the collective health production in the primary care. Rev Latino-am Enfermagem, v. 15, n. 3, 2007.FREITAS, C.M. et al. Ecosystem approaches and health in Latin America. Cadernos de saúde pública, v. 23, n. 2, p. 283-296, 2007.GÓMEZ, C. M.; MINAYO, M. C. S. Enfoque ecossistêmico de saú-de: uma estratégia transdisciplinar. InterfacEHS - Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio ambiente., v. 1, n. 1, 2006.MENDES, K. D.S.; SILVEIRA, R. C. C. P.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto and Contexto Enfermagem, v. 17, n. 4, p. 758-764, 2008.PARCIANELLO, M. K. et al. Abordagem ecossistêmica em terapia intensiva: conhecimento dos enfermeiros. R. pesq.: cuid. Fundam, v. 5, n. 2, p. 3645-54, 2013.SANTOS, S. L. Abordagem ecossistêmica aplicada ao controle da Dengue no nível local: um enfoque com base na reprodução social. 2009. Tese de Doutorado. Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães. 2009.SANTOS, S. L.; AUGUSTO, L. G. S. Modelo multidimensional para o controle da dengue: uma proposta com base na reprodução social e situações de riscos. Physis, v. 21, n. 1, p. 177-196, 2010.

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SUÁREZ, R.; GONZÁLEZ, C.; CARRASQUILLA, G.; QUINTE-RO, J. An ecosystem perspective in the socio-cultural evaluation of dengue in two Colombian towns. Cadernos de Saúde Pública. v. 25, p. 104-114, 2009. SVALDI, J. S.; ZAMBERLAN, C,; SIQUEIRA, H. C, H. Aborda-gem ecossistêmica: uma possibilidade para construir conhecimento sustentável em enfermagem/saúde. Escola Anna Nery Revista de En-fermagem. v. 17, n. 3, p. 542-547, 2013.SANTOS, S. L. Abordagem ecossistêmica aplicada ao controle da dengue no nível local: Um enfoque com base na Reprodução Social. 2009. 231p. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Fundação Oswaldo Cruz. Centro de pesquisas Aggeu Magalhães. Recife, 2009.SILVA, E. C.; PELICIONI, M. C. F. Participação social e promoção da saúde: estudo de caso na região de Paranapiacaba e Parque Andre-ense. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 563-572, 2013.WEIHS, M.; MERTENS, F. Os desafios da geração do conhecimento em saúde ambiental: uma perspectiva ecossistêmica. CienSaude Co-let, v. 18, n. 5, p. 1501-10, 2013.ZINSSTAG, J. Convergence of ecohealth and one health.EcoHealth, v. 9, n. 4, p. 371-373, 2012.ZINSSTAG, J. Letter from the New IAEH President, JakobZinsstag: Health & Ecology: Let us Join Forces. EcoHealth, v. 9, p. 376–377, 2012.

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PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO: CONTRIBUIÇÕES FILOSÓFICAS E ESTÉTICAS AOS PROCESSOS DE

TRABALHO E PESQUISAS EM SAÚDE

Sofia de Moraes ArnaldoRayane Moreira de Alencar

Cícera Luciana da Silva SobreiraAlissan Karine Lima Martins

Francisco Elizaudo de Brito Junior

INTRODUÇÃOA visão sistêmica da vida expõe-se como uma ma-

neira de refletir sobre a realidade como um processo contínuo de fluxo e mudança, que se desdobra mediante o interacionismo das partes de um todo. Os fenômenos cósmicos, dentro desta perspectiva, mostram-se dinâ-micos, adquirindo uma natureza cíclica, de modo que todos os processos se encontram integrados em prol de um equilíbrio constante (CAPRA, 1983).

Frente ao delineamento de uma visão sistêmica, as contribuições do pensamento ecossistêmico se fir-mam nas interações entre homem, sociedade e meio, tendo como um de seus pilares de sustentação os con-ceitos epistemológicos procedentes de teorias sistêmicas e apontando a necessidade de repensar a configuração dessas interações e de que modo vão de encontro à ma-nutenção do meio (SANTOS, 2010).

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61Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Questiona-se o quanto as pesquisas em saúde vêm contribuindo para melhoria das atividades profissionais, percebe-se o quão restrito encontra-se o conhecimento advindo desses estudos, onde a realização de pesquisas, muitas vezes, encontra-se restrita aos ambientes univer-sitários, vinculadas, em sua maioria, aos programas de pós-graduação, refletindo o vínculo indissociável entre pesquisa e ensino na saúde, o que se caracteriza como sendo uma barreira a ser vencida para que essas pesquisas possam alcançar ambientes além daqueles onde os cui-dados são prestados (FORTUNA; MISHIMA, 2012).

Mas, como ampliar essa visão fragmentada das pes-quisas e das práticas no campo da saúde e que limitam a assistência prestada ao ser humano e suas particulari-dades em um contexto tão complexo? Eis aí o grande desafio para pesquisa na atualidade: vencer as barreiras da fragmentação dos conteúdos em profissões que se propõem a reconhecer as necessidades humanas.

A compreensão dos fenômenos cósmicos e do pró-prio ser em frações isoladas não atinge as reais neces-sidades do conhecimento, fazendo-se necessário com-preender bem mais que as partes, indo de encontro à visualização do espaço e do indivíduo como um todo, um constructo que integra homem e meio dentro de um mesmo sistema (PARCIANELLO et al., 2011).

O modelo da Matriz de Força Motriz-Pressão-Esta-do-Exposição-Efeito-Ação (FPEEEA) proposto por Cor-valán (1996, p. 28) se reproduz como um fenômeno do-

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62Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

tado de aspectos que envolvem as nuances do pensamen-to ecossistêmico e permite trabalhar na perspectiva da vigilância em saúde, confluindo as pesquisas em saúde, as ações correspondentes e seus indicadores correlatos.

O Ministério da Saúde passou a utilizar no Bra-sil esse modelo para subsidiar as ações de Vigilância em Saúde Ambiental, parte do Sistema Nacional de Saú-de Pública. Essa metodologia foi desenvolvida para o levantamento de indicadores mais apropriados para o programa, o qual permite considerar a relação dinâmica do processo econômico e social, bem como as respostas à saúde humana e ao ambiente, conferindo essa relação entre as partes (ARAÚJO-PINTO, 2012).

Esta análise e reflexão justifica-se pelo contexto de imersão dos autores, que compõem o quadro de discen-tes e docentes do Curso de Mestrado Acadêmico em En-fermagem de uma Instituição de Ensino Superior, assim discutiam sobre a temática no percurso da disciplina de Teoria do Conhecimento em Enfermagem. Os impulsos emergidos articularam-se com o aprofundamento das lei-turas e, teoricamente, diante das evoluções sociais apresen-tadas na atualidade, a temática em questão faz-se relevante e imperativa como norteadora dos caminhos a serem per-corridos para o presente e futuro da pesquisa em saúde.

Esse tema pode ser abordado de diversas perspec-tivas, então, optamos pela elaboração de um ensaio teó-rico reflexivo que objetiva estimular as discussões acerca das contribuições filosóficas e estéticas do pensamento ecossistêmico à pesquisa em saúde.

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O PENSAMENTO ECOSSISTÊMICOA primazia da racionalidade na denominada Era

Científica distanciou os indivíduos da ideia de orga-nismo total e, consequentemente, do meio ambiente natural. Assumindo uma visão cartesiana de natureza, a separação da matéria e do espírito contribuiu para a redução do universo a um sistema mecânico, onde seus componentes vivos foram reduzidos a um conjunto de peças segregadas, simplificando fenômenos complexos a componentes básicos (CAPRA, 1983).

Diferentemente da ideia atribuída a um sistema mecânico, tem-se que um sistema é considerado uma organização aberta e complexa, na qual as partes consti-tuintes do mesmo encontram-se interligadas, de modo que não se pode limitar essa totalidade integrada a uma simples análise das partes. O pensamento sistêmico, tido como processual, considera que as inter-relações estabe-lecidas dentro desse sistema não são lineares e que há processos infinitos de trocas e interações interdependen-tes (SEVERO; SIQUEIRA, 2013).

O entendimento do conceito de sistema mostra--se variante conforme o referencial teórico, que embasa as ideias expostas, transitando entre o reducionismo e a malha da complexidade. No plano conceitual do sistema como uma organização aberta e complexa, há uma tra-ma intrínseca e extrínseca entre os fenômenos, além de uma plasticidade constante mediante as interações dos mesmos, mantendo a capacidade de autoprodução e au-torregulação (FREITAS; LOPES, 2016).

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Um contraponto que se faz necessário ao pensa-mento sistêmico é o pensamento ecossistêmico, que permite uma visão de pensar a realidade e as interde-pendências dos fenômenos com o ecossistema. Não se limita aqui a compreensão das substâncias básicas, mas sim das organizações e suas configurações. O pensa-mento ecossistêmico considera a imprevisibilidade dos ecossistemas, de modo que os mesmos sofrem mudanças constantemente, devido sua dinamicidade e capacidade de auto-organização (MILIOLI, 2007).

Atribuir às organizações humanas o conceito de sistemas vivos e de redes não lineares é apontado como um desafio, sabendo-se que, ao se fazer uso desse concei-to, acrescentas-se a ideia de que todos os sistemas vivos devem seguir os princípios de organização dos ecossiste-mas, dando subsídios para a manutenção da sustentabi-lidade (CAPRA, 2002). Ressalta-se que a busca pela sus-tentabilidade se configura como uma atividade de cunho social e coletivo, cabendo às organizações humanas o papel de guiarem suas práticas com esse direcionamento.

A mudança de paradigma aponta a transição do pensamento, valores e percepções que se direcionam à realidade. A ideia de uma evolução humana pautada na competitividade social e no avanço tecnológico e cien-tífico, tal como a abordagem do universo como um sis-tema mecânico, apresentou-se como limitada e rígida, o que desencadeou uma crise coletiva, no qual indivíduos e instituições sociais partilham do mesmo sentimento de colapso (CAPRA, 1983).

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A necessidade de um novo paradigma que respon-da a essa crise e cesse o estado de colapso instaurado torna-se pontual, considerando que a humanidade con-tinua a trilhar seus passos em um terreno marcado pela ausência da alteridade, onde o individualismo destaca-se e o desejo de dominação do todo impera.

Discute-se, assim, sobre a necessidade de uma não fragmentação ou redução dos fenômenos e relações, de maneira que a dimensão humana não se afaste do meio ambiente. Nessa perspectiva de pensamento complexo e sistêmico, entende-se que a complexidade não se im-põe como um método ou ferramenta para dar conta da totalidade, até porque há um reconhecimento dessa im-possibilidade de alcance por parte da mesma, mas sim busca o respeito a todas as dimensões dos fenômenos (MORIN, 2015).

Retomando a ideia da fragmentação do todo, sa-lienta-se que esta também refletiu nas estruturas acadê-micas e governamentais, de maneira que o meio ambien-te se tornou alvo dos estudos de grupos distintos que, ao tomar para si o fragmento que julgam importante, não consideram suas conexões, assim como as relações de in-terdependência (CAPRA, 1983).

No âmbito acadêmico, o exercício de uma educa-ção guiada pelos fundamentos da complexidade pro-picia uma aprendizagem que reintegra o indivíduo ao ecossistema, compreendendo que este último é tido como um sistema aberto de trocas e interações contí-

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nuas (SANTOS, 2010). A abordagem de uma academia que estimula a formação de indivíduos que se reconhe-cem como integrante de um sistema e que norteiam suas ações em prol da manutenção de um meio ecológico saudável, mostra-se como uma possibilidade de matu-ração do pensamento ecossistêmico. Portanto infere-se que, refletir sobre uma nova forma de produção do co-nhecimento que se enraíza no solo do pensamento ecos-sistêmico como um desafio educacional emergente.

(RE)PENSANDO O TRABALHO EM SAÚDE A PARTIR DAS PESQUISAS CIENTÍFICAS

A reflexão acerca da importância das pesquisas na saúde são significantes para seu crescimento enquanto ciência, sendo essenciais à melhoria e à valorização das práticas realizadas nesse campo do conhecimento. Inde-pendentemente do tipo e natureza das pesquisas, estas contribuem para a saúde de forma direta, através das te-rapias, intervenções, diagnósticos e tecnologias que me-lhoram a qualidade da atenção, de forma indireta, por meio dos benefícios econômicos resultantes da melhoria da saúde (BRASIL, 2007).

Entende-se, assim, que é essencial a formulação de pesquisas capazes de inserir e aproximar a produção científica aos serviços de saúde, de forma a influenciar e disseminar nos profissionais uma visão mais ampliada do ser humano, compreendendo suas singularidades e

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pluralidades, tal como associando sua relação com a co-letividade, de forma a considerar seus contextos sociais, culturais, econômicos e espirituais e a inter-relação exis-tente entre essas dimensões (SALVIANO et al., 2016).

Vencer as barreiras da fragmentação dos conteúdos na área da saúde se constitui um grande dilema, prin-cipalmente no que se refere ao alcance dos objetivos de reconhecimento das necessidades humanas dos clientes. No entanto, diante de tantas inquietações busca-se ainda compreender como realizar a reformulação da visão e do modo de pensar dos profissionais da saúde que os tor-nem capazes de vislumbrar essas necessidades e propor-cionar a esses clientes uma assistência mais qualificada.

Ademais, a complexidade se constitui como sendo uma possibilidade à pesquisa na saúde, considerando que essa área de conhecimento tem como objeto de es-tudo o ser humano e a coletividade. Pensar complexo se relaciona a uma forma de compreender o mundo de forma integral, vislumbrando uma realidade que con-sidere as relações existentes entre os seres no universo e do universo com os seres. Os profissionais da saúde necessitam compreender a complexidade existente entre o ser humano e a coletividade, com outras disciplinas e com o meio ambiente, reconhecendo de forma aberta e contextualizada, a totalidade da realidade que se apre-senta (SANTOS, 2003).

As abordagens de incrementação da teoria da com-plexidade e seus afluentes (pensamento ecossistêmico)

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no cotidiano dos profissionais será possível a transgres-são da visão fragmentada que não permite reconhecer a realidade encoberta pelo véu da superficialidade presen-te na maioria das profissões no âmbito da saúde. Então, sob esse ponto de vista articulado, insere-se a importân-cia da figura do trabalho em saúde como mola propulso-ra dessas práticas integradoras e promotoras de um olhar mais holístico e invasor da interface da sustentabilidade.

Nesse âmbito, prioriza-se um conjunto de elemen-tos responsáveis por constituir e estruturar os ecossiste-mas vigentes, que podem ser essenciais na construção de redes de cooperação e de interligação que sejam capazes de otimizar o trabalho e, desta forma, corroborar para a tomada de decisões que viabilizem ações direcionadas à sustentabilidade (SANTOS; SIQUEIRA; SILVA, 2009).

Portanto, a adoção de ações ecossistêmicas no fa-zer cotidiano dos profissionais de saúde tem como foco a realização de um trabalho voltado para integralidade do ser humano, evitando, assim, a realização de recortes e a sua fragmentação, oportunizando ações de caráter ambiental, ecológicas, físicas, psicológicas, espirituais, sociais, entre outras, e criando as possibilidades de um assistência integrativa e inter-relacional capaz de abarcar as necessidades do cliente como um todo ( ZAMBER-LAN et al., 2013).

Outrossim, as abordagens ecossistêmicas à saúde humana promovem e implantam uma pesquisa cientí-fica integradora, que permite analisar as relações entre

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os vários componentes do ecossistema e definir e avaliar as propriedades determinantes da saúde e do bem-estar humano, sendo guiadas pela inter e transdisciplinarida-de nos processos de pesquisa, envolvendo a comunidade científica, a sociedade civil e os gestores públicos (LE-BEL, 2003; WALTNER-TOEWS, 2001; FORGET; LEBEL, 2001 apud LAWINSKY, 2011).

Torna-se essencial uma reforma no próprio modo de pensar dos profissionais, capaz de fazer com que o mesmo seja atrelado e associado ao contexto onde os seres estão inseridos, de modo a contemplar a comple-xidade existente dentro da visão ecossistêmica. Assim, devem-se implementar esses conhecimentos, reduzindo a distância entre o saber e o fazer e investindo no desen-volvimento de pesquisas que considerem a complexida-de existente entre a variedade de fatores que interferem na prestação da assistência à saúde (BRASIL, 2007).

AS ESSÊNCIAS ADOTADASDiante das novas perspectivas na pesquisa, ema-

nadas por intermédio do avanço do pensamento ecos-sistêmico, outras abordagens se destacaram e aspiraram algumas de suas características para se fazerem presentes e angariarem vantagens também à pesquisa em saúde, dando-lhe um ar analítico mais holístico e sensível às in-ter-relações do ser com seu ambiente. A exemplo, temos a etnografia e a pesquisa-ação.

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A essência da etnografiaO ser humano constitui-se como sendo um ser so-

cial, produtor de cultura e dotado da capacidade de ex-pressar opiniões sobre o contexto em que está inserido, tornando-se imperativo pensar em métodos de pesquisa que valorizem tal fato. Nesse sentido, entendemos que torna-se necessário uma revisão nos métodos e técnicas de pesquisa empregados de forma a permitir que essas abordagens favoreçam uma reflexão aprofundada e críti-ca que possa conduzir a uma visão unitária do ser huma-no, capaz de romper com a visão fragmentada (COSTA; GUALDA, 2010).

Na área da saúde, a compreensão do processo saú-de-doença só é possível através da articulação do ser hu-mano com o contexto social no qual ele está inserido, levando-se em consideração que esse fenômeno se ca-racteriza como um processo sociocultural influenciado pelos significados socialmente construídos. Logo, para compreensão do processo saúde-doença de forma inte-gral não podem ser desvinculadas as estruturas sociais que permeiam as sociedades.

Nas últimas décadas houve um incremento no campo da saúde de estudos que têm como proposta um enfoque etnográfico, especialmente no campo da saúde coletiva, que se caracteriza pela necessidade de compreender o ser humano em todas as suas dimensões. Nesse contexto, entende-se que a etnografia se caracteri-za como uma estratégia rica para a realização de estudos que se preocupem em analisar os processos e interações

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sociais. Na medida em que possibilita, por todas as suas características, acessar a complexidade e a singularidade que constituem as atividades no convívio social (TRAD, 2012; SATO; SOUZA, 2001).

É importante ressaltar que a descrição etnográfica vai além da percepção exclusivamente visual, tendo em vista sua capacidade de mobilizar a totalidade da inteli-gência e da sensibilidade do pesquisador. A etnografia é um mergulho numa verdadeira aculturação de uma sociedade. Percebe-se que esse tipo de estudo não consi-dera somente as evidências exteriores, mas preocupa-se em conhecer as significações que os próprios indivíduos expressam através de seus comportamentos (MAIA, 2009).

Partindo desse pressuposto, entendemos que os estudos etnográficos possibilitam muitas contribuições aos profissionais da saúde, pois permitem aos mesmos compreender processo de saúde-doença na ótica dos usuários dos serviços de saúde (LENARDT, MICHEL, MELO, 2011).

Por isso, ratifica-se que devido à necessidade de va-lorização da subjetividade humana e das condições so-ciais nas quais se desenvolve o fenômeno do cuidado em saúde, esses estudos possibilitam inúmeros benefícios às diversas profissões, podendo influenciar, de forma di-reta, no processo de humanização e na qualidade dos serviços prestados.

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A essência da pesquisa-açãoEm nossas vidas, nos diversos lugares que convi-

vemos, passamos a maior parte do tempo observando os acontecimentos superficialmente, ou realmente não prestando atenção. Nosso hábito de facilitar algumas ações sem exercitar o raciocínio nos impede de descobrir o real sentido das coisas, das relações e dos fatos. Portan-to, nosso esforço para descobrir as pequenas diferenças observando mais de perto, refletindo, pedindo ajuda, comparando quebra do ciclo vicioso do descaso e apro-funda-se ao íntimo das conectividades das inter-relações.

A pesquisa-ação assemelha-se a isso, começa com uma avaliação, leva a um estudo de si mesmo, dos recur-sos, das pessoas que trabalham em conjunto, do ambien-te ao redor. Se pensarmos que a pesquisa é basicamente coleta de informações ou a produção de conhecimento, estamos enganados e não acompanhamos as perspectivas atuais. A pesquisa envolve informação e conhecimento, mas, com mais frequência, é a associação a outras pes-soas em um ambiente social para compreender melhor como algo funciona (STAKE, 2011).

A pesquisa-ação possui etapas de desenvolvimento previsíveis: iniciação, conhecer os outros pesquisadores e participantes, um período de aprofundamento e inves-tigação mútua, etapa de fechamento. Pesquisadores-ação compreendem que o produto não é o processo e que o processo tem enormes efeitos secundários nos partici-pantes (OSLEN, 2015).

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Nesse cenário, os dados secundários, as novas in-formações são úteis e enriquecem o processo de pesqui-sa-ação. Os dados sociais podem ser um processo rico e vigoroso que critica e refuta hipóteses, avança para novas alegações, desenvolve uma teoria explicativa e descreve conflitos onde ninguém antes reconhecera a existência de um problema (OSLEN, 2015).

Partindo dessa ótica, manter a organização dos conteúdos com a escrita de memorandos exige minu-ciosos cuidados e faz-se necessário, também, dar um re-torno aos envolvidos com o fornecimento de feedbacks, a distribuição de cartazes, a produção de um vídeo e a própria redação do estudo. A problemática pode ir além, pois nesse tipo de abordagem dá-se crédito e au-toridade às vozes de pessoas comuns, e a confusão da busca pela causalidade dos fatos propõe diferenças sutis no tipo e na finalidade dos discursos que, por vezes, os despersonalizam e, assim, devem ser tratadas com res-peito e ética.

A pesquisa-ação é também o estudo da ação, quase sempre com a intenção de conseguir aprimorá-la, mas é especial por ser realizada pelas pessoas diretamente res-ponsáveis pela ação, configurando-se como uma abor-dagem que insere a parte (o eu-ação) nas relações que modulam o todo (contexto de imersão) e agregam-se no rol dos modelos que foram salpicados pelas propostas do pensamento ecossistêmico.

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POR UMA PESQUISA MAIS HOLÍSTICA: MO-DELO MATRIZ FPEEEA

O advento do paradigma da promoção da saúde trouxe consigo uma descrição ampliada do conceito saú-de a intercalando com diversas dimensões que perpas-sam a existência e a vida do ser humano. Nesse sentido, a perspectiva holística dessas inter-relações ganha forças nas ideias sobre o pensamento ecossistêmico e a neces-sidade de uma visão mais integral das situações sociais e seus contextos ambientais, corroborando ao conexo de iminências sobre a temática e das carências que precisam de ampliadas discussões.

Então, a monitoração dos possíveis agravos à saúde decorrentes das constantes e intensas mudanças sociais econômicas e ambientais aflora como pontos a serem tratados, pois vivenciam a combinação entre diferentes condições físicas, químicas, biológicas, sociais, culturais e econômicas que se divergem quanto ao horário do dia, à atividade de trabalho exercida, à estação, à infraestru-tura e à localização geográfica, compondo uma complexa relação entre a saúde humana, o meio ambiente e o tra-balho (ARAÚJO-PINTO; PERES; MOREIRA, 2012).

Os indicadores de saúde ambiental representam um meio para atender às necessidades de melhoria e pre-cisão no quadro holístico informacional, pois represen-tam mais do que os dados brutos, fornecendo um meio de dar o valor agregado de dados convertendo-os em informações de uso direto para o tomador de decisão.

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Assim, um indicador de saúde ambiental pode ser visto como uma medida que resume algum aspecto da relação entre meio ambiente e saúde (CORVALÁN; BRIGGS; KJELLSTROM, 1996).

Nessa ótica, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu e vem apoiando a aplicação de uma estrutura para descrever e analisar os diferentes aspectos envolvidos nessa complexa relação – além da necessida-de de propor ações e indicadores de Saúde Pública espe-cífica para cada passo. Essa estrutura recebeu o nome de quadro de FPEEEA (ARAÚJO-PINTO; PERES; MO-REIRA, 2012).

Esses modelos oferecem ao governo e à sociedade a compreensão de determinações de riscos, contribuindo como ferramenta importante na tomada de decisão, de-finição de políticas e estratégias intersetoriais, estratégias de prevenção e controle dos riscos, promoção da saúde. São instrumentos importantes, não apenas para embasar as decisões no âmbito do setor saúde, como também nos demais setores de políticas públicas (OLIVEIRA; FA-RIA, 2008).

A Matriz FPEEEA (Figura 1) permite uma com-preensão integrada e abrangente de como “forças mo-trizes”, geradas por processos de desenvolvimento, resultam em “pressões” associadas ao uso intensivo de determinados recursos naturais, que contribuem para a geração de “situações/estados” (ambiente contaminado ou deteriorado) que, caso ocorra “exposição” humana,

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podem causar “efeitos” na saúde. Para cada uma dessas categorias e situação local específica, são construídos in-dicadores e propostas ações, em um procedimento que favorece uma compreensão mais integral do problema e a visualização das decisões a tomar, em cada nível de complexidade do modelo (OLIVEIRA; FARIA, 2008).

Figura 1 – Modelo FPEEEA

Fonte: BRASIL, 2011

Ao considerar a saúde como valor social, o modelo agrega o conhecimento da sociedade acerca do proble-ma, relevando, com isso, o saber e as experiências dos mesmos e buscando conduzir a saúde, a proteção e a promoção de mudanças, bem como facilitar a tomada de decisões (BRASIL, 2011).

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Então, podem-se tomar ações em cada passo da matriz, e a definição de indicadores é realizada em todos os níveis da estrutura. Em curto prazo, as ações foca-lizam os efeitos na saúde, e em longo prazo são mais eficazes, buscando a eliminação ou redução dos efeitos das forças motrizes ou das pressões que produzem os pe-rigos. As intervenções no nível das forças motrizes, fre-quentemente, possuem implicações múltiplas, porque grandes forças motrizes exercem influência por meio de vários caminhos causais (QUINTINO, 2009).

A estrutura se denomina complexa, porém é de fá-cil entendimento desde que se tenha acurácia nos cami-nhos da observação, da análise, da reflexão e das ações a serem adotadas e efetuadas aos diferentes atores do processo, sendo utilizada para identificar diferentes “re-des de conexões” ou “caminhos”, segundo os interesses e necessidades de seus usuários, através do qual permite uma eficiência na análise de tais problemas em compara-ção a outros modelos de causa-efeito, pois proporciona a compreensão dos processos de forma não lineares graças às suas inúmeras interações estabelecidas (ARAÚJO--PINTO; PERES; MOREIRA, 2012).

A TÍTULO DE CONCLUSÃODigamos que quanto à estética, o pensamento

ecossistêmico intervém às novas abordagens metodoló-gicas da pesquisa, com a observação mais sensível, uma

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reflexão contextual e holística das situações. Os sentidos do ser imerso, dominado e dominante de seu ambiente, que tanto move quanto é movido dentro da engrenagem da vida, as conexões que ele faz para se fazer sentir e tornar-se sensível com seu meio social-econômico-cul-tural-ambiental, afloram as perspectivas filosóficas.

Ademais, ressaltamos que essas reflexões não pos-suem o intuito de esgotar a necessidade de discussão que emerge frente à temática, considerando a dimensão dos assuntos discutidos, bem como suas implicações. Assim, aponta-se a primordialidade de manter diálogos que es-timulem a formação de profissionais mais reflexivos e dedicados a tecer pesquisas, que reverberam ações práti-cas, ancoradas nos conceitos epistemológicos proceden-tes de teorias sistêmicas.

REFERÊNCIAS

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SATISFAÇÃO NO TRABALHO E SUSTENTABILIDADE

Liana de Andrade Esmeraldo PereiraMirna Fontenele de Oliveira

Cícera Aldevania Pereira de OliveiraSuzana Kramer de Mesquita OliveiraSimone Maia Pimenta Martins Ayres

INTRODUÇÃOAs transformações vividas pela humanidade ao lon-

go dos anos, sejam nas relações interpessoais ou nas rela-ções homem e natureza, refletiram na capacidade de su-prir as necessidades humanas e de resiliência do ambiente.

Ao mesmo tempo em que se descreve o momento atual como tendo alcançado o progresso nas ciências e tecnologias, aumento da longevidade e diminuição da mortalidade, vivencia-se uma crise ambiental que amea-ça a própria vida do planeta (BURSZTYN e PERSEGO-NA, 2008). E isso se deve, em parte, pelas alterações ge-radas pela globalização, como a migração de grande par-cela da população para a área urbana nas últimas décadas, e a exploração sem compromisso do meio ambiente.

No contexto deste progresso, muitas vezes o ho-mem se posiciona como espectador, dada a omissão so-cial a qual veio assumindo, a quem nada pode acontecer,

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experimentando uma emoção estética, sem a compreen-são dos fatos passados, significados e conexões com o presente e, portanto, sem compromisso com o futuro (ROSSI, 2000).

Esta sociedade progressista, revolucionária, indus-trializada, tecnológica, na busca do aumento da produ-tividade, encurtou o tempo social, contribuiu para o adoecimento do trabalhador, ao mesmo tempo em que acelerou a degradação do meio ambiente e o consumo de meios não renováveis. Na dinâmica das relações do homem com seu meio e com seu trabalho, sua subje-tividade, identidade e conscientização são modificadas, muitas vezes gerando ruptura do equilíbrio intra-indi-víduo ou entre o indivíduo e o cosmos (SPINK, 2003).

Na expropriação do homem do produto do seu tra-balho e na exclusão vivida nas relações sociais, criam-se desigualdades sociais que podem ser injustas e evitáveis, transforma-se a sociabilidade e restringe-se o encontro. Geram-se, muitas vezes, iniquidades, como o adoeci-mento social, que também é físico, mental, político e cultural, na medida em que o homem não se reconhece como pertencente a determinado ambiente, prejudican-do sua vinculação, identificação e apropriação.

O ritmo alucinante do trabalho, as exigências in-tangíveis, a banalização do sofrimento psíquico são riscos tangíveis que se refletem muitas vezes em conse-quências invisíveis. Os danos orgânicos e psíquicos estão entrelaçados. Até a década de 40 não havia estudos que

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revelassem que fatores sociais e emocionais eram inter-venientes na Qualidade de Vida no trabalho (MAYO, 1945).

A partir de então, reconhece-se a importância da valorização do indivíduo e, portanto, de investir em práticas que gerem satisfação, motivação e comprome-timento com o trabalho.

A variável satisfação no trabalho é “o conjunto de sentimentos que uma pessoa possui em relação ao seu trabalho” (ROBBINS, 2005, p.23). Essa atitude tem reflexos no absenteísmo e rotatividade, demonstrando a importância de que as organizações invistam em traba-lhos estimulantes e gratificantes.

A questão da saúde do trabalhador perpassa tanto aspectos fisiológicos, como psicológicos e socioeconô-micos. Diante da sociedade pós-moderna individualis-ta, onde o tempo, espaço e trabalho são vivenciados de forma diferente, como pensar no futuro, se não se tem expectativa, esperança, onde só existe o presente? Falar e desenvolver uma cultura de sustentabilidades nas or-ganizações requer adaptabilidade e estratégia de valores que considerem o desenvolvimento sustentável como um valor a ser perseguido e alcançado.

Diante deste contexto, este trabalho se propõe a discutir a relação Trabalho, Saúde e Sustentabilidade na Educação, articulando, inicialmente, questões contem-porâneas com as relações de trabalho em geral; em se-guida, discute a saúde do trabalhador, circunscrevendo

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as relações de trabalho ao contexto acadêmico; e, por fim, relaciona saúde e sustentabilidade na educação, apontando para alguns elementos de cuidado com os atores-trabalhadores do campo acadêmico através de um estudo realizado para identificar os fatores que geram satisfação no trabalho. A pesquisa foi desenvolvida por amostragem com alguns servidores (26) da Universidade Federal do Cariri – UFCA, no Campus Barbalha através da aplicação da escala de satisfação com o trabalho que exerciam. Foi entregue um questionário a cada servidor para que pudessem responder sobre o quanto se sentiam satisfeitos com sua atividade laboral. O questionário ti-nha vinte e cinco (25) perguntas. A opção de resposta era uma escala que variou de 1 a 7, sendo 1 (totalmente insatisfeito) e 7(totalmente satisfeito). No quadro 1 es-tão descritas as questões da escala de satisfação no traba-lho e as médias obtidas.

Quadro 1- Média de satisfação no trabalho de funcionários de uma Universida-de Federal (2014), Barbalha-Ceará

Variáveis de satisfação no Trabalho Média de satisfação (variação de 1 a 7)

Espírito de colaboração entre os colegas de trabalho 5,3O modo com o chefe organiza o trabalho no setor 5,1Números de vezes que foi promovido 4,3Garantias que a empresa oferece para promoção 3,9Salário comparado com o nível de trabalho exercido 3,7Amizade no ambiente de trabalho 5,4O interesse que minhas atividades despertam 5,3

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Variáveis de satisfação no Trabalho Média de satisfação (variação de 1 a 7)

Comparação do meu salário com minha capacidade profissional

3,8

Interesse do meu chefe pelo meu trabalho 4,8A maneira como a empresa realiza promoções de seu pessoal

3,3

Como o meu trabalho me absorve 4,0O meu salário comparado ao custo de vida 3,0Oportunidade de fazer o trabalho 4,9Relacionamento interpessoal no trabalho 5,7A quantia que recebo no final do mês 3,5Oportunidade de ser promovido 3,7Amigos entre os colegas de trabalho 5,0Preocupações pelo meu trabalho 4,0Entendimento com o meu chefe 5,3O tempo de espera por uma promoção 3,8Salário comparado com meu esforço no trabalho 3,6A maneira como meu chefe me trata 5,5Variedade de tarefas que realizo 4,8Confiança em meus colegas de trabalho 5,0Capacidade profissional do meu chefe 5,3Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

As perguntas do questionário foram distribuídas em cinco categorias temáticas, de acordo com a conver-gência entre elas, resultando na seguinte classificação: 1. Relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho (média total obtida: 5,28); 2. Crescimento profissio-nal (média total obtida: 4,0); 3. Benefícios financeiros (média total obtida: 3,5); 4. Motivação com a ativida-de laboral (média total obtida: 4,5); e 5. Chefia (média total obtida: 5,22). Nota-se que o mais baixo grau de

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satisfação esteve relacionado a benefícios financeiros, ao passo que o mais alto nível de satisfação direcionou-se a relacionamentos interpessoais no ambiente de traba-lho, o que nos mostra a importância de refletir acerca de clima organizacional, e como este pode influenciar na saúde do trabalhador.

1 CLIMA ORGANIZACIONAL E SAÚDE DO TRA-BALHADOR

O Brasil tem vivenciado, nas últimas décadas, um complexo processo de reformas em sua estrutura, trans-formações tecnológicas, culturais, científicas, sociais e político-institucionais, decorrentes da nova ordem eco-nômica mundial. É perceptível que o modelo buro-crático já não atende às demandas impostas pelo novo cenário, sendo necessário reorganizar a administração pública, uma vez que as práticas de gestão ainda são ba-lizadas por uma visão cartorial e burocrática (PINHEI-RO, 2000). Trata-se de um cenário que suscita o de-senvolvimento do compromisso dos servidores públicos com a construção de uma sociedade mais preparada para enfrentar as novas demandas, com o objetivo de tornar os serviços públicos mais eficientes.

Ainda, o modelo de gestão proposto para ser apli-cado na “era gerencial” da administração pública, deve reconhecer, na força de trabalho, um dos maiores recur-sos organizacionais. Assim, identificar a percepção que

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os servidores têm sobre o ambiente de trabalho, passa a ser fundamental às organizações, em especial para as que compreendem que o trabalhador satisfeito é imprescin-dível ao alcance da eficácia e da eficiência administrativa (TEIXEIRA, FRANÇA, 2013).

A satisfação com o trabalho envolve os conceitos de resultado, tratamento e procedimentos justos (TA-VARES, CRUZ, 2016). Em concordância com Robbins (2002, p. 75), a satisfação no trabalho é “(...) um estado emocional agradável que resulta da percepção de que o trabalho ajuda a pessoa a atingir resultados valorizados”. Segundo o autor, colaboram para essa sensação de bem--estar a interação com os colegas e chefes, as condições que apoiam o cumprimento das tarefas, assim como a percepção de estar envolvido na elaboração das metas setoriais. De acordo com Brown & Huning (2010), a satisfação no trabalho pode ser definida como o prazer que os funcionários experimentam na realização de seu trabalho.

Dessa forma, depreende-se que a mensuração da satisfação e/ou insatisfação do servidor torna-se uma ta-refa complexa, uma vez que envolve muitos aspectos, tais como a convivência do indivíduo dentro da orga-nização, as relações interpessoais, o respeito às normas e regras, o reconhecimento pela chefia, a aceitação dos padrões de trabalho, as recompensas, entre outros. Para Davis & Newstrom (1992), a satisfação no trabalho envolve sentimentos favoráveis ou desfavoráveis, depen-

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dendo da visão que os colaboradores possuem do seu trabalho, sendo, portanto, um sentimento relativo. Ro-bbins (2005), afirma que o interesse das chefias quanto à satisfação no trabalho costuma ser centralizado nos seus efeitos sobre o desempenho dos funcionários.

Nesse contexto, um dos fatores que deve ser repen-sado é a conscientização dos dirigentes das organizações, quanto à necessidade de desenvolvimento de métodos e técnicas de melhoria contínua do ambiente de traba-lho, de forma a proporcionar um clima organizacional favorável aos servidores, pois um trabalho de desenvolvi-mento do clima organizacional influencia de forma sig-nificativa e efetiva o comprometimento e o engajamento dos colaboradores nas organizações (EWIS, 2015).

Luz (2003) entende que o clima organizacional é o reflexo do grau de satisfação dos colaboradores de uma organização, em um dado período. A eficiência da orga-nização pode ser aumentada por meio da criação de um clima organizacional que satisfaça as necessidades dos colaboradores e, ao mesmo tempo, canalize esse com-portamento na direção dos objetivos da organização. Já Siqueira (2008), ressalta que o clima organizacional é importante para compreender o ambiente de trabalho e como o mesmo está relacionado ao comportamento das pessoas, assim como sua qualidade de vida e o reflexo que isso terá no desempenho das organizações.

O estudo do clima organizacional apresenta indi-cadores do que possivelmente está insatisfatório ou satis-

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fatório e que são apresentados por meio de variáveis e/ou propriedades organizacionais, que não são definidas de forma única, haja vista a complexidade envolvida, não existe uma definição “universal” das categorias a serem investigadas no clima organizacional. Ao longo das últi-mas décadas, muitos autores desenvolveram e validaram modelos de pesquisa de clima organizacional, conforme alguns exemplos apresentados no Quadro 2.

Conforme exposto no Quadro 2, são diversas as dimensões pelas quais pode-se estudar o clima organi-zacional. Percebe-se que os instrumentos desenvolvidos para mensurar o clima organizacional apresentam dife-rentes variáveis, que foram criadas com a finalidade de avaliar seus respectivos construtos. Além dos exemplos citados, existem vários outros modelos na literatura acadêmica. Alguns modelos foram desenvolvidos para órgãos específicos, outros, podem ser aplicados mais ge-nericamente pelas organizações, a exemplo dos modelos de Sbragia (1983) e Kolb (1986).

Quadro 2 - Autores X Indicadores de Pesquisa de Clima organizacional

AUTOR (MO-DELO) INDICADORES PROPOSTOS

LIKERT (1961)

Liderança – Comunicação – Tomada de decisão – Objetivos – Interação-Influência – Controle

SCHNEIDER E BARTLETT(1968, 1970)

Apoio gerencial – Conflito interno – Estrutura ge-rencial – Interesse por novos empregados – Inde-pendência do agente de seguros – Satisfação geral

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AUTOR (MO-DELO) INDICADORES PROPOSTOS

LITWIN E STRINGER

(1966)

Estrutura e normas – Padrões e responsabilidade –Recompensa e punição – Risco e envolvimento – Cordialidade e apoio – Cooperação e conflito

SBRAGIA (1983)

Estado de Tensão – Ênfase na Participação – Proxi-midade da Supervisão – Consideração Humana – Autonomia Presente –Prestígio Obtido – Tolerân-cia Existente – Clareza Percebida - Justiça Predomi-nante – Condições de Progresso – Apoio Logístico Proporcionado – Reconhecimento Proporcionado – Forma de Controle.

KOLB (1986)Conformismo – Responsabilidade – Padrões – Re-compensas – Clareza organizacional – Apoio e ca-lor humano – Liderança

BISPO (2006)

Fatores internos de influência: Ambiente de tra-balho – Assistência aos funcionários – Burocracia – Cultura organizacional – Estrutura organizacio-nal – Nível sociocultural – Incentivos profissionais – Remuneração – Segurança profissional – Vida profissional.Fatores externos de influência: Convivência fa-miliar – Férias e lazer – Investimentos e despesas familiares – Saúde – Segurança Pública – Situação financeira – Time de futebol – vida social.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

O modelo elaborado por Rizzatti (2002), avaliou o clima organizacional nas universidades federais do Sul do Brasil e trouxe como contribuições dados im-portantes para a reavaliação e reestruturação de diversos aspectos organizacionais como: políticas e estratégias de recursos humanos, política de assistência e benefícios, estrutura organizacional, tecnologias educacionais, esti-los de liderança, capacitação profissional, planejamento

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institucional, processo decisório, comunicação, confli-tos de interesse, avaliação institucional, qualidade do en-sino e autonomia universitária, entre outros. Trata-se, portanto, de um modelo adequado para o levantamento do clima organizacional em universidades públicas, mas não pode ser aplicado genericamente nas empresas, pois foi adaptado a um tipo específico de organização pública (BISPO, 2006).

Independente da multiplicidade de posicionamen-tos de diferentes autores, grande parte dos pesquisadores acede que a percepção de clima organizacional reflete o significado que as pessoas atribuem ao seu ambiente de trabalho e como eles interpretam os acontecimentos organizacionais (NASCIMENTO, CANDATTEN, MACIEL, 2004). Para que as organizações se desenvol-vam e possibilitem a melhoria na qualidade de vida no trabalho, é fundamental conhecer as pessoas e as equipes de trabalho, por meio do seu grau de satisfação, suas ne-cessidades e expectativas, o que esperam e o que necessi-tam (SIQUEIRA, 2008). Investir na promoção de ações que valorizem os colaboradores em sua integralidade, certamente promoverão melhor integração entre a orga-nização e o servidor, o que impactará significativamente na motivação e satisfação individual, gerando melhor desempenho e consequente alcance dos objetivos orga-nizacionais, o que levará à construção de uma sociedade mais preparada para enfrentar as novas demandas, com o objetivo de tornar os serviços públicos mais eficientes. Sem dúvida, uma verdadeira relação ganha-ganha!

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Diversos estudos têm apontado a situação de estresse no trabalho por parte de docentes na educação em geral. Campos (2011), da Universidade Federal do Pará, por exemplo, avalia, no contexto da crise trabalho e estado, as tensões da educação superior, ressaltando os adoecimen-tos mentais em docentes, e analisando as suas implicações na ordem das relações sociais que se estabelece no contex-to acadêmico. Citando Dejours (2008), mostra que

[...] para libertar-se, ainda que de maneira imperfei-ta, do peso das relações sociais, o sujeito faz uso, e de forma privilegiada, do trabalho como mediador e forma de subversão. Pela maneira como ele assume as dificuldades que o trabalho lhe causa, o indivíduo, às vezes, chega a subverter a ordem das relações sociais para introduzir “a sua marca”, a sua contribuição pessoal, lutando desta forma para o reconhecimento de sua identidade no campo social [...] (DEJOURS, 2008, p. 196, apud CAMPOS, 2001, p. 90).

Por outro lado, para ampliar o olhar sobre os pro-cessos de saúde e adoecimento no contexto acadêmico, é fundamental entender a experiência docente como um desafio contemporâneo, que precisa ser refletido à luz de perspectivas inovadoras, como a sustentabilidade.

2 SUSTENTABILIDADE E SAÚDEO desenvolvimento sustentável da sociedade tem

por objeto principal a preservação e disponibilização dos seus recursos voltados para a melhoria da qualidade da

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vida humana, sem detrimento das gerações posteriores. O meio ambiente do trabalho equilibrado, inserido nes-se contexto, é direito constitucional de todos os cidadãos brasileiros, para uma qualidade de vida saudável.

A ideia de um ambiente de trabalho saudável é fa-tor essencial para a qualidade de vida do trabalhador, do ponto de vista físico e psíquico. Além do que um ambiente de trabalho seguro e sadio é um cenário pro-pício para que os empregados possam alcançar as metas estabelecidas pelas empresas, além da melhoria do clima organizacional.

O trabalhador se relaciona com a satisfação em desenvolver sua carreira e vida pessoal através do am-biente profissional. É sempre importante enfatizar que a qualidade de vida nas empresas impacta no desempe-nho dos funcionários. Qualidade de vida e bem-estar também são benefícios almejados pelo desenvolvimento sustentável e para que possa ser alcançado, necessita ser incorporado como prática na cultura das organizações.

Atualmente, no mundo globalizado e tecnológico em que vivemos, o consumismo toma conta da vida hu-mana, tudo é voltado para o trabalho, instrumento de produção de riquezas que será usado para a continuação do ciclo de perpetuação do capitalismo e manutenção desse sistema alienador que passa despercebido da classe trabalhadora, cuja vida está atrelada ao tempo do traba-lho, gerando, muitas vezes, o adoecimento do trabalha-dor. E as relações adoecidas perpetuam intolerância em

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todos os sentidos, pois não temos tempo para escutar o outro; vivemos a aceleração do movimento da vida onde tudo tem que ser para ontem e, apesar da tecnologia, continuamos no mesmo ritmo frenético e alucinante. Não esperamos o timing da própria natureza.

Para refletir sobre saúde e trabalho na educação, apresentaremos os dados da pesquisa realizada na Uni-versidade Federal do Cariri, com 22 servidores do Cam-pus de Barbalha, Ceará. O questionário fazia menção à importância da qualidade de vida no trabalho e conti-nha quatro perguntas sobre fatores importantes para ad-quirir ou continuar com uma qualidade de vida eficaz, tais como: riscos/doenças mais comuns ao seu ambiente de trabalho; Como prevenir/evitar esses riscos/doenças ocupacionais?; Demandas para ter um ambiente de tra-balho melhor; e Sugestões.

Sobre os riscos/doenças mais comuns ao seu am-biente de trabalho foram citadas doenças virais, alergias, dor de cabeça, lesão por esforço repetido, problemas oftalmológicos, exposição solar, contato com produtos químicos e picadas de insetos.

Em relação a prevenir/evitar esses riscos/doenças foram mencionadas a manutenção do ambiente seguro, atividade física laboral, mobiliário adequado, realização intervalos periódicos, maior número de funcionários, e reforma da infraestrutura.

As necessidades apontadas para termos um am-biente de trabalho melhor e com mais qualidade de vida

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para os servidores foram: bons relacionamentos entre os colegas de trabalho, projetos relacionados a assistência e saúde do servidor.

As sugestões mais mencionadas foram sala de en-tretenimento, capacitações, iluminação dos espaços, ar-borização, acessórios que previnam ou amenizem a L. E. R. (Lesão por Esforço Repetido).

CONCLUSÃOConclui-se que as questões referentes à saúde e à

qualidade de vida nas instituições de trabalho precisam ser revistas, os cenários de trabalho precisam ser revisi-tados e o modo de fazer cotidiano precisa ser reavaliado, no sentido de otimizar tempo, recurso e motivação hu-mana. Acredita-se que não exista um manual pronto, mas que as ações de melhoria precisam ser implemen-tadas e otimizadas continuamente, no sentido de pro-mover satisfação no trabalho e um ambiente de saúde e qualidade de vida para as pessoas envolvidas.

REFERÊNCIAS

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SAÚDE MENTAL E SUSTENTABILIDADE NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO:

DESAFIOS E PROPOSIÇÕES

Liana de Andrade Esmeraldo PereiraYane Ferreira Machado

Cicera Mônica da Silva Sousa MartinsMoema Alves Macêdo

INTRODUÇÃONas últimas décadas, um novo tema tem perpas-

sado as discussões acadêmicas, reflexo dos alertas glo-bais como as mudanças climáticas, escassez energética e problemas de controle do crescimento demográfico. Aliado a estas dimensões que conectam o homem com a natureza, discute-se o papel da educação na busca pelo desenvolvimento sustentável, onde se possa conectar os homens entre si, na disseminação de valores e de uma cultura que incentive a mudança de estilo de vida.

Conforme destaca Morin (2011), a educação tem a função de prover valores, atitudes e comportamentos que confrontem os desafios como pobreza, desigualdade e violência. Esta nova mentalidade é um desafio para as universidades, atualmente engessadas em metodologias e práticas arcaicas que enrijecem as relações de recipro-cidade, ou melhor, muitas vezes somente há espaço para trocas objetivas, reprimindo-se a vinculação socioafeti-

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va, tão importante quanto a anterior e, portanto, geran-do adoecimento (SABOURIN, 2011a).

O desenvolvimento de um novo modelo de pensar requer uma desconstrução e reconstrução sociopolítica que se fundamente em políticas de ações que incorpo-rem o que a ciência diz, ao mesmo tempo em que se constrói uma nova teoria. Diante de uma universidade segmentada em diversas ciências, trabalhar o meio am-biente e a qualidade de vida, em uma perspectiva in-terdisciplinar e, ao mesmo tempo, gerando discussões transdisciplinares é um grande desafio. (MORIN,2011; BURSZTYN, 2001).

A universidade, enquanto ambiente de formação e de desenvolvimento da sociedade, influencia o com-portamento da coletividade. As interações, conexões e atitudes de seus atores precisam ser compatíveis com as exigências de um mundo sustentável. O Desenvolvi-mento Sustentável, conceito ainda em construção, pre-cisa dialogar de forma interdisciplinar, interinstitucional e intergeracional. Superar, portanto, as dificuldades de diálogo entre as disciplinas na academia e de conexão do mundo acadêmico com o real.

Nessa perspectiva, o diálogo sobre sustentabilidade precisa versar sobre as dimensões político-econômicas e também socioafetivas. Dados divulgados pela mídia re-velam o aumento de transtornos mentais na universidade (CAMBRICOLI; TOLEDO, 2017). Essas informações são corroboradas nos encontros anuais dos setores de as-sistência estudantil das universidades federais, Fórum Na-

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cional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estu-dantis (FONAPRACE) em que se discute a problemática da saúde mental com agravos como tentativas de suicídio.

Este trabalho, portanto, busca refletir sobre a rea-lidade da saúde mental na universidade e possíveis des-dobramentos de forma a incorporar esta temática nas discussões sobre sustentabilidade; e legitimar ações e regulações, ancoradas em políticas, que integrem poder público e sociedade civil na produção de conhecimentos e práticas ambientalmente mais sustentáveis. Introduzi-remos nossa discussão, apresentando a política pública e sua atuação na saúde e sustentabilidade; em seguida, discutiremos esses conceitos à luz da Psicologia Social e Saúde; e finalizaremos refletindo sobre o sujeito inseri-do no ambiente universitário, apresentando o perfil dos estudantes acompanhados na UFCA. Trata-se, portanto, de um estudo de caso, utilizando-se de pesquisa docu-mental, de natureza exploratória, do tipo quantitativo.

1 POLÍTICA, SAÚDE MENTAL E SUSTENTABI-LIDADE

A Política Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), no âmbito do MEC, criada em 2008, tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens no ensino superior público federal através do decreto 7.234 de 19/07/2010, oferecendo assistência em algumas áreas e, dentre elas, a saúde. Na Universidade

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Federal do Cariri (UFCA), criada em 2013, os progra-mas de assistência estudantil sempre foram considerados importantes aliados estratégicos na garantia da perma-nência e combate à evasão. Anualmente, discute-se e implementam-se novas metodologias para o alcance de condições mais igualitárias para os estudantes de forma a promover a inclusão social e os direitos de cidadão.

A terminologia de política e de políticas públicas remete a poder social, entretanto, enquanto a primei-ra refere-se ao poder de um modo geral, a segunda faz referência ao manejo dos assuntos públicos, sendo a ex-pectativa de que a política pública tenha foco no bem comum, ou seja, eticamente esteja direcionada ao desen-volvimento sustentável, ao atendimento das demandas sociais da população e à melhoria das condições de vida. Por bem comum, entende-se um conjunto de condições sociais capazes de promover o desenvolvimento integral de todos os seres humanos da comunidade. Assim, cabe ao Estado criar mecanismos utilizando recursos, muitas vezes escassos, que amenizem as desigualdades sociais resultantes do próprio modo de produção capitalista. Mesmo sendo essa função do Estado, salienta-se que as decisões tomadas são resultantes da articulação dos di-versos atores sociais dispostos nos diferentes grupos so-ciais e nas suas representatividades políticas, o que Lowi (1964, 1972) nomeou de arenas decisórias, pois cada decisão agrega em si apoios e vetos de grupos específicos (DIAS; MATOS, 2012; HOCHMAN, ARRETCHE; MARQUES, 2007; SILVA; SOUZA-LIMA, 2010).

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Disso resulta que os atores sociais com maior poder mobilizador para o Governo, conseguem levar as suas pautas para a agenda governamental as quais se firmam em Leis, decretos e portarias que regulamentam a ação do Estado no âmbito das instituições e das relações civis e definem as prioridades e metas das políticas públicas em cada contexto histórico.

De acordo com Dias e Matos (2012) as políticas públicas receberam diferentes classificações, a saber: conforme as arenas decisórias tipificam-se em regulató-rias, constitutivas, distributivas e redistributivas; quanto à finalidade agrupam-se em preventivas, compensatórias e sociais stricto sensu; em relação ao alcance das ações distribuem-se em focalizadas ou universalistas.

Em se tratando da finalidade, as políticas públicas sociais preventivas visam prevenir a existência de pro-blemas sociais, a exemplo da saúde pública, enquanto as compensatórias visam remediar problemas inerentes à ineficiência das políticas preventivas, mas como não resol-vem a causa do problema tendem a ter pouco impacto. Já as sociais stricto sensu visam à redistribuição de renda e de benefícios sociais de modo a diminuir as desigualdades.

No que concerne ao alcance das ações, as univer-salistas se direcionam a todos que compõem a comu-nidade indistintamente. Já as focalizadas se destinam a grupos definidos pelas necessidades específicas, com vistas a equidade.

Em relação às arenas propostas por Lowi em 1964 e 1972, as regulatórias estabelecem padrões de comporta-

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mento, de regulamentação e controle, tais como o códi-go de trânsito e de defesa do consumidor. As constituti-vas ou políticas estruturadoras estabelecem as regras para que as outras políticas sejam propostas e selecionadas, tais como a distribuição de competências entre as esferas do governo. As distributivas são aquelas financiadas pelo conjunto da sociedade, mas geram benefícios a grupos individualizados, tais como renúncias fiscais. Por fim, as redistributivas criam mecanismos de diminuição das desigualdades por meio de redistribuição de finanças, direitos e outros benefícios entre os grupos sociais, tais como programas de seguro desemprego e previdência.

Assim, considerando as definições de Dias e Ma-tos (2012) e as características da Política Nacional de Assistência Estudantil, pode-se classificá-la em: política pública social stricto sensu, focalizada e redistributiva.

2 SAÚDE E SUSTENTABILIDADE: PERSPECTI-VAS ADVINDAS DA PSICOLOGIA SOCIAL E DA SAÚDE

O conceito de Desenvolvimento Sustentável surge a partir de inquietações de estudiosos, ambientalistas e integrantes de grandes cúpulas de discussão na década de 1990. Sachs (2002) afirma que este modelo desenvol-vimentista tem uma perspectiva endógena, levando em consideração as potencialidades locais, é autossuficiente, pois não está presa ao modelo econômico vigente, e orien-

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tado para necessidades locais, onde os recursos naturais e humanos são utilizados de forma racional e harmônica.

O mesmo autor afirma que para entender como se dá esse processo é preciso entender as cinco dimensões inerentes a ele: sustentabilidade social, que diz respeito à visão de um modelo pautado em ações que objetivem promover a redução da desigualdade econômica e social na população; econômica, que se refere ao gerenciamen-to de recursos sob uma perspectiva macroeconômica; ecológica, que trata da utilização consciente dos recursos naturais; espacial, que elucida a importância do equilí-brio entre a distribuição territorial entre espaços rurais e urbanos; e cultural, que foca na produção de mudanças estruturais no ato de pensar desenvolvimento, trazendo a importância de valorizar este processo sob um enfoque sustentável (SACHS, 1993).

Chacon (2007) observa que para que sejam efeti-vadas estratégias pautadas no desenvolvimento sustentá-vel, é necessário superar a visão impregnada na socieda-de, onde o consumismo desenfreado e a falsa noção de progresso comandam os modos de vida da população, e a partir disto promover ações onde o sujeito entenda como corresponsável da manutenção da sua espécie na Terra, promovendo ações que visem o bem-estar inte-gral, não só da população humana, como também de todos que compõem o bioma onde vivem.

Trazendo tais princípios para a atuação no campo das ciências da saúde, pode-se considerar a dimensão saú-

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de é deveras importante para ser levada em conta quando se fala em práticas sustentáveis, partindo do entendimen-to das mesmas como estado resultante da interação entre fatores biológicos, sociais e psicológicos inseridos em de-terminado contexto histórico (BRASIL, 2011).

O contexto atual do padrão de saúde, diretamente relacionado ao modelo de crescimento econômico pre-datório existente, demonstra a necessidade de se pen-sar em práticas de saúde que possuam um olhar para além da perspectiva clássica saúde-doença. É visto um aumento significativo de doenças relacionadas a relações de trabalho precárias, doenças ocasionadas de problemas de ordem ambiental, como a falta de saneamento básico, exposição a substâncias tóxicas, seja por meio de alimen-tos contaminados por agrotóxico ou por contato com produtos contaminados e, em especial, adoecimentos de ordem psicológica, como o estresse, a depressão, entre outros (BRASIL, 2011).

Para compreensão da importância de se compreen-der o contexto sócio-histórico nas práticas em saúde, é preciso falar sobre equidade em saúde, um dos princí-pios doutrinários do Sistema Único de Saúde. De acor-do com a lei 8.080, que institui o SUS, é assegurado como direito de todos e dever do Estado o acesso iguali-tário dos serviços de assistência à saúde, sem distinções. Segundo Escorel (2009), a noção de equidade remete à percepção da heterogeneidade da população, onde se considera que grupos populacionais diversos possuem

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demandas diferenciadas, logo, é necessário que a atuação do profissional da saúde seja pautada num olhar diferen-ciado para as populações em estado de vulnerabilidade. A autora relata que este princípio é operacionalizado no SUS sob duas vertentes: observação das condições de saúde e acesso aos serviços de saúde (ESCOREL, 2009).

Na carta divulgada pelo Ministério da Saúde du-rante a Conferência Rio +20, um dos maiores eventos de discussão sobre Desenvolvimento Sustentável, o princípio da Equidade em Saúde é referido como algo “essencial para um desenvolvimento sustentável e para uma melhor qualidade de vida e bem-estar, contribuin-do para a paz e a segurança” (BRASIL, 2011, p.3).

O documento versa sobre a necessidade de se com-preender o contexto, no qual o sujeito se encontra para po-der traçar estratégias de promoção e manutenção da saúde.

No que se refere à percepção dos processos de saú-de, a partir do enfoque na Psicologia Social, o conceito de equidade é visto como fundamental para romper o mo-delo hospitalocêntrico de atenção à saúde. Spink (2003) reitera a percepção de que a vertente mais comum nas casas de saúde é a prática profissional centrada no pacien-te/cliente/usuário dessa instituição, onde o psicólogo se volta para a manutenção do status quo no paciente. Esse modelo péssimo se adéqua às necessidades do local de trabalho, como trabalhar melhor a dinâmica social em que está incluído o cliente e a adaptação do terapeuta ao contexto onde seu paciente reside (alteridade).

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Ao perceber essa problemática, o psicólogo frustra--se por ver que as técnicas centradas à individualidade são frágeis, considerando a demanda, e passa a adotar refe-rências embasadas na sociologia, abalando, também, seus ideais específicos por saber que a interação é bem mais complexa nessas instâncias sociais. Assim, o profissional passou a ter uma visão política das problemáticas, traba-lhando em movimentos de conscientização e reivindica-ções por melhorias nas condições de vida (SPINK, 2003).

Isso trouxe uma herança negativa, no qual o profis-sional se culpa com o privilégio do individual sobre o so-cial, e uma herança positiva, onde o psicólogo reconhece que o meio social faz parte da formação desse indivíduo, e se compreende que tudo é aprendido socialmente. Ao refletir sobre esta última instância, o psicólogo sai de sua “zona de conforto” de um atendimento voltado às suas normas, para ter que lidar com a vivência social da de-manda, compreendendo que a individualidade e fruto do processo de socialização de cada comunidade, promo-vendo, assim, práticas mais equitativas (SPINK,2003).

3 O CONTEXTO UNIVERSITÁRIO E SUAS NU-ANCES

A universidade possui o papel de promover o de-senvolvimento através da educação e o ensino superior gratuito possibilita a democratização do acesso e a inclu-são social através de programas de expansão Reestrutu-

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ração e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e políticas de inclusão como no Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e as cotas. Entretanto, após o ingresso na universidade, cada estudante preci-sa se “incluir” neste ambiente habitual que fará parte do seu cotidiano e que influencia e é influenciado pelo modo como as pessoas percebem, sentem e se compor-tam neste contexto específico.

Algumas pesquisas realizadas na própria univer-sidade elencam determinadas dificuldades vivenciadas pelos estudantes, que podem contribuir para evasão, tais como: dificuldade financeira, problemas de relacio-namento docente-discente e identificação com o curso; reprovações e carga horária elevada apareceram como fatores que desestimulam a permanência no curso.

A subjetividade é constitutiva do conhecimento, portanto, este sujeito que aprende necessita de aporte pedagógico, psicológico, físico, social, ambiental e espi-ritual, de modo a lidar com as pressões cotidianas para alto desempenho, competitividade, jornadas longas, além da distância da família, enquadre atual de migração promovido pelo modelo do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Cada sujeito, portanto, precisa se “in-cluir” naquele lugar, naquela cidade, naquele espaço. E, muitas vezes, desenvolver o sentido de pertencer a deter-minado ambiente é uma luta para a vida toda.

O mesmo conceito se aplica na construção de um ambiente e de relações sustentáveis, pois a perspectiva

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de futuro não se aplica a quem só percebe o presente; e quando este presente somente mostra dor e sofrimento, a vida perde o sentido. A maioria dos estudantes que entram na universidade são jovens, adolescentes ainda, passando pelo processo de escolha profissional, imatu-ridade emocional, luto pela vivência da infância e, lan-çados na formação para o mercado de trabalho, geração de resultados, busca da excelência, mérito acadêmico, e tantas cobranças internas e externas, que somadas a outros fatores, podem desencadear depressão e suicídio. Estudo feito por acadêmicos de medicina da UFCA apontam principais preditores de suicídio neste grupo: depressão, sono reduzido, faixa etária muito jovem, de localização, dificuldades amorosas e falta de suporte so-cial (SANTOS, K.C. et al., s. d.).

Tendo em vista o conhecimento relativo à pro-blemática educação e saúde e por compreendermos a educação como sendo para formação integral do ser humano, as ações e práticas da Pró-Reitoria de Assun-tos Estudantis da UFCA, além dos auxílios e bolsas que asseguram moradia, alimentação e transporte, também viabilizam a atenção à saúde, um dos eixos do PNAES.

4 O PERFIL DOS ALUNOS ATENDIDOS PELO SERVIÇO DE PSICOLOGIA NA UFCA

A promoção e a assistência à saúde mental do público universitário vem cada vez mais demandando

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atenção dos gestores nas universidades federais no Brasil. A saúde do estudante, uma das pautas do PNAES, é um aspecto fundamental para cumprimento dos seus obje-tivos, principalmente no tocante à redução das taxas de retenção e evasão acadêmica.

A partir da análise do perfil dos alunos que busca-ram o serviço de Psicologia nos anos de 2015, 2016 e 2017 (até o mês de setembro do corrente ano) é possível verificar que ocorre uma procura maior pelo atendimen-to psicológico entre discentes do sexo feminino, na faixa etária de 19 a 21 anos, seguida por discentes entre 22 a 25 anos, conforme observamos nos gráficos 1 e 2 a seguir:

Gráfico 1: Atendimento por Gênero.

Fonte: Autores (2017).

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Gráfico 2: Atendimento por Faixa Etária.

Fonte: Autores (2017).

Bleicher e Oliveira (2016) trazem dados de várias pesquisas (CERCHIARI, CAETANO e FACCENDA, 2005; ALMONDES & ARAÚJO, 2003; CERCHIARI & cols., 2005; CERCHIARI & cols.; NEVES, 2007) que corroboram com alguns dados encontrados no le-vantamento feito na UFCA, entre os quais pode-se des-tacar a não convivência com a família e a maior incidên-cia de transtorno mental entre o público feminino. As pesquisas citadas pelas autoras também correlacionam a alta incidência de transtornos mentais no público universitário, ao excesso de atividades, a exposição a si-tuações de ansiedade mais frequentes, e a preocupação com a perspectiva de futuro em relação à formação e ao papel social (idem). Essa investigação ainda necessita de aprofundamentos, a fim de que possa ser desenhado com mais clareza o perfil dos estudantes que apresentam alguma queixa de sofrimento psíquico, tendo em vista

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que inúmeras variáveis precisam ser levadas em conta, para que essa compreensão da saúde mental na UFCA possa ser o mais fidedigna possível.

Em relação à origem ou à naturalidade dos alunos que buscaram o serviço, constatou-se que a maioria des-tes são oriundos de municípios que compõem a região do Cariri cearense, contrariando a hipótese levantada a priori, de que o serviço era mais acessado por estudantes de municípios mais longínquos, em virtude do distan-ciamento com a família e outras variáveis que podem contribuir para a fragilização emocional desses sujeitos. Essa hipótese é confirmada apenas no tocante aos dis-centes do curso de Medicina, onde os fatores emocionais relacionados à mudança de ambiente atuam como um fator importante para a formulação de queixas de sofri-mento psíquico. A disposição geral desses dados pode ser melhor observada no gráfico 3 a seguir:

Gráfico 3:Perfil de atendimentos por origem dos alunos.

Fonte: Autores (2017).

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Em relação à necessidade de integrar esforços para uma atenção maior à saúde do estudante nas universi-dades federais, Bleicher e Oliveira (2016) afirmam que:

Como não há metas a serem cumpridas e nem me-canismos de avaliação da política, poucos gestores encamparam a necessidade da mudança de atuação, no sentido de voltar as ações para promoção e pre-venção em saúde e integração dos serviços à rede municipal pública de Saúde (p. 545).

Nesse sentido, apesar da universidade estar contri-buindo para o desenvolvimento regional ao promover a formação de profissionais em diversas áreas de conhe-cimento, torna-se muito importante que a instituição, também, possa ser uma promotora da qualidade de vida e que as intervenções relacionadas à saúde do estudante tenham a possibilidade de gerar uma repercussão positi-va na rotina acadêmica destes.

5 CONCLUSÃODessa forma, é possível perceber que não se trata

apenas de oferecer atendimentos pontuais em determi-nadas áreas da saúde, é necessário pensar em estratégias para torná-la autossustentável, investindo no empodera-mento do estudante como promotor da sua saúde biop-sicossocial, em uma visão holística, capaz de promover mudanças e adaptações no seu meio ambiente a fim de manejar fatores protetores em seu favor. Diante da gran-de demanda de serviços de saúde, também se faz neces-

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sário promover o acesso dos estudantes às políticas pú-blicas e outros serviços que são ofertados em instituições filantrópicas e privadas, como clínicas-escola, grupos de autoajuda e de práticas esportivas, entre outros, os quais podem atuar como parceiros. Outra questão essencial é promover o constante acesso às inovações em saúde e práticas alternativas que possam melhorar a qualidade de vida dos estudantes.

REFERÊNCIAS

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TRABALHADORES NA CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO: CONTOS DA

TRAMA QUE AINDA NÃO SE ENCERROU

Alana Maria Brito LucasAne Caroline Rodrigues Leite

Selton David Cavalcante SobralFrancisca Laudeci Martins Souza

Victoria Régia Arrais de Paiva

INTRODUÇÃOA precarização do trabalho, em decorrência da

busca desenfreada pelo lucro, é um dos problemas mais graves da atualidade. Nesse contexto, erige-se a prática do trabalho com a redução do homem à condição aná-loga de escravo. O trabalho escravo não é só um evento do passado, mas também um problema bastante atual, substancialmente nos países em desenvolvimento, situa-ção na qual o Brasil se encontra. Tem-se a falsa ideia de abolição do trabalho escravo no Brasil, decorrente da sanção da Lei Áurea em 1888. Diz-se falsa, porque basta uma leitura nos relatórios da Organização Mundial do Trabalho – OIT e do Ministério do Trabalho e Empre-go – MTE para compreender que esta prática nefasta e desumana está longe de ser afastada de nossa realidade.

Hodiernamente, encontramo-nos no século XXI, mais de cem anos após a abolição da escravatura no Bra-

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sil, é de se esperar, com isso, que de Chuí ao Oiapoque, o cenário da prole estivesse, no mínimo, longe de qual-quer indício de trabalho não decente à pessoa humana. No entanto, este quadro não representa a realidade. Diariamente, nos deparamos com notícias jornalísticas informando/denunciando a existência de exploração de trabalhadores à condição análoga à de escravo, ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana, que está expressamente disposto na Lei Maior em seu art. 1º, in-ciso III.

Sob a égide de uma Constituição democrática de direito (CF/1988), tal fato representa, ao mesmo tem-po, a inobservância aos direitos fundamentais e o co-metimento de conduta criminosa, uma vez que fere o Código Penal e desrespeita o princípio da dignidade da pessoa humana.

Logo, a necessidade de se tratar dos problemas do homem e deste sobre o planeta, especificamente, nun-ca foi tão válida. Seu início se deu por entre os anos de 1972, quando do reconhecimento internacional do conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS), na Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente, sediada em Estocolmo, na Suécia.

Tendo em vista essa preocupação, é que a ONU (2016) lançou mão do 8º objetivo, que trata da promo-ção do crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho de-cente para todos e todas. Assim sendo, defrontando a

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vertente do supracitado objetivo aos focos de trabalho análogo à condição escrava presentes no Brasil, surge a seguinte reflexão: como o Princípio da Dignidade Hu-mana face ao 8º objetivo da ODS reverbera sobre esse cenário nada sustentável nas condições de trabalho en-contradas no território brasileiro?

A fim de compreender esta e outras indagações que por ventura surjam no transcorrer da discussão, a pesqui-sa, ora proposta, tem como objetivo geral apontar onde estão ocorrendo os focos de trabalho análogo à condição escrava no Brasil, à luz de um confronto entre o princí-pio da dignidade humana e o 8º objetivo da ODS.

Metodologicamente, utilizou-se dados de nature-za secundária, ou seja, dados preexistentes compatíveis ao objeto de estudo em questão, disponíveis no site do Ministério do Trabalho e Previdência Social, especifica-mente no Cadastro de empregadores que tenham sub-metido trabalhadores à condição análoga a de escravo, divulgado em 23 de março de 2017, e revisão bibliográ-fica em livros e artigos, bem como análise da legislação, doutrina e jurisprudência vigente.

Dessa maneira, a fim de se atingir a problemática proposta, discorreu-se sobre o tema em três seções, sem contar a introdução e a conclusão, são estas: a primeira sobre o princípio da dignidade da pessoa humana; a se-gunda sobre os Objetivos do Desenvolvimento Susten-tável (ODS), especificamente com foco no oitavo; e, por último, a análise e discussão dos resultados.

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REFERENCIAL TEÓRICO

O princípio da dignidade da pessoa humana à luz da problemática da exploração de trabalhadores em condição análoga à de escravo

Kant – precursor do debate acerca da dignidade – afirma que o ser humano já nasce digno e que a digni-dade repudia toda e qualquer espécie de coisificação e instrumentalização do ser humano. Se contrapondo a ele, Hegel defende que o ser humano não nasce digno, mas torna-se a partir do momento que assume a condi-ção de cidadão, ou seja, impõe um condicionamento. Noutra perspectiva, Frei Betto afirma que tal dignidade da pessoa humana advém de sua criação à imagem e se-melhança de Deus (NETO, 2014).

Nota-se, portanto, a dificuldade em se conceituar dignidade. No entanto, não resta dúvida, que o princípio da dignidade da pessoa humana tornou-se um consenso ético expressivo somente após a Segunda Guerra Mun-dial, quando o mundo sai desta experiência atroz deci-dido a buscar valores a fim de estabelecer direitos fun-damentais e direitos humanos universais. As principais Constituições modernas, a começar com a da Alemanha, passaram a consagrar a dignidade da pessoa humana como um de seus valores centrais. (BARROSO, 2010)

No âmbito global, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), desde o seu nascedouro em 1919, tem como um dos principais objetivos a proteção a condi-

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ções dignas de trabalho, isto é, a preocupação humani-tária é acompanhada de perto, de modo a impedir que as deploráveis condições de trabalho ocorridas durante a Revolução Industrial no século XVIII não viessem/ve-nham a reincidir. (OIT, 2017)

Outrossim, é notório que o principal documento que trata sobre a importância da dignidade como um valor universal é a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 que já em seu preâmbulo destaca: “Considerando que o reconhecimento da dig-nidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fun-damento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. Inaugura o seu primeiro artigo assim: “Artigo 1°- Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. E no artigo quarto, veda expressamente qualquer forma de escravatura, in verbis: “Artigo 4°- Ninguém será man-tido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos”.

Logo, é possível afirmar que a DUDH (1948) ni-velou o entendimento sobre dignidade da pessoa huma-na ao menos para os países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), haja vista ser uma conditio sinequa non para se tornar membro a concordância com todos os preceitos de tal declaração. Assim, o relativismo em relação ao significado da dignidade da pessoa huma-na findou neste instante, pois, independente da cultura

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de cada país, a partir do disposto na DUDH a dignidade deve ser observada como um valor universal.

No Brasil, o princípio da dignidade da pessoa hu-mana está disposto expressamente na Lei Maior em seu art. 1º, inciso III, in verbis: “Art. 1º A República Federa-tiva do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; [...]”. Tal princípio é, por óbvio, um valor moral e espiritual inerente a todas as pessoas, apenas pela sua condição de ser humano.

Sendo assim, tendo em vista toda abstração e, até mesmo, banalização e vagueza na interpretação do con-ceito de dignidade da pessoa humana, Barroso (2010), na tentativa de tornar este conceito operacional, desta-cou três conteúdos essenciais da dignidade: valor intrín-seco, autonomia e valor social da pessoa humana.

Dos objetivos da agenda de 2030 aos desafios do de-senvolvimento sustentável: o 8º objetivo no âmago da discussão

A necessidade de se tratar dos problemas do ho-mem, e deste sobre o planeta não é recente, sua preconi-zação teve início lá por entre os anos de 1972, quando do reconhecimento internacional do conceito de Desen-volvimento Sustentável (DS), na Conferência das Na-ções Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente, sediada em Estocolmo, na Suécia.

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Veiga (2010) chamou o DS de “caminho do meio” para designar o desenvolvimento sustentável como re-sultado das contradições apresentadas pela experiência prática do processo de desenvolvimento econômico que, como tal, constitui-se como ponto de inflexão no diálogo entre desenvolvimento e meio ambiente, com a introdução de dimensões de caráter social e ambiental no conceito de desenvolvimento econômico (CASTE-LO-BRANCO, 2010).

Nessa perspectiva, vários eventos têm ocorrido ao redor do mundo reunindo cidadãos e líderes de gover-nos nacionais para discutir sobre o DS, ancorando-se nas várias conferências realizadas pela ONU, como o foi a Rio+20, em 2012. Realizada no Brasil, a Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável ou Rio+20, como é mais conhecida, reuniu um total de 193 represen-tantes de países, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.

Em 2015, os Estados-Membros das Nações Unidas adotaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Assim, 193 países membros [...] se com-prometeram em fornecer os meios e recursos neces-sários para cumprir as metas estabelecidas 17. Aque-les que se concentram em cinco áreas principais: pessoas, planeta, prosperidade, paz e alianças. As organizações internacionais, setor privado, sociedade civil e governo devem trabalhar juntos para alcançar as metas e objectivos da nova Agenda 2030 (GON-ZÁLEZ-CABRERA, p. 147, 2017, tradução nossa).

Entretanto, só em 2002, através da Rio+10 realiza-da em Johanesburgo, na África do Sul, é que foi lançado

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mão da conservação dos recursos naturais consoante à reafirmação dos Objetivos de Desenvolvimento do Mi-lênio (ODM), os quais foram promulgados dois anos antes dessa conferência. Inclusive, foi nesta mesma oca-sião que as críticas sobre a falta de posicionamento e resultados concretos sobre os problemas ambientais to-maram corpo e “engrossaram o caldo” para que os deba-tes continuassem a ser realizados lado a lado da lúgubre face das desigualdades sociais. É por essa razão que os argumentos ficam restritos a uma espécie de caráter me-ramente ideológico, à medida que o desenvolvimento humano e o direito ao desenvolvimento – não qualquer desenvolvimento, mas o desenvolvimento sustentável – parece estar submetidos à conversão de uma “fé social”, cujas discussões caminham da seguinte maneira: con-quanto seja dificílima a realização do desenvolvimento humano e do desenvolvimento sustentável, todos devem acreditar, piamente, nele (REZENDE, p. 31, 2016a).

A esperança é aviltada e postergada, transferida para 2030, pretende “cumprir” aquilo que os ODM não conse-guiram atingir. Esses 17 objetivos podem ser resumidos em:

[...] acesso à água limpa e saneamento; energia a preços acessíveis e não contaminante; promo-ver o trabalho decente e crescimento econômico, indústria, inovação e infraestrutura; consumo e assegurar produção sustentável; tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e os seus efeitos; conservar e utilizar de forma susten-tável oceanos; preservar vida ecossistemas mari-nhos e terrestres; tornar as cidades e comunidades

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sustentáveis; promover a paz, a justiça; construir instituições fortes e fortalecer as parcerias para atingir as metas (GONZÁLEZ-CABRERA, p. 147, 2017, tradução nossa).

Os 17 objetivos da Agenda de 2030 fazem parte de uma demanda que vem sendo encomendada pelas Nações Unidas aos Relatórios de Desenvolvimento hu-mano (RDHs) desde 1990, quando da tentativa de ten-tar inserir na agenda pública um agregado de ações que pudessem envolver lideranças políticas, governantes, intelectuais, técnicos e organizações da sociedade civil (REZENDE, p. 487, 2015b).

Dentro desse conjunto composto por 17 objetivos, está o 8º objetivo (foco da presente pesquisa), que trata do tema: promover o crescimento econômico sustenta-do, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos e todas. Este é mais um en-tre os tantos outros objetivos que buscam alicerçar metas e estratégias para erradicar alguns dos problemas sociais atuais, que podem ser denominados de mal-estar social, como discorre Amaro (p 11, 2003), como por exemplo, o desemprego, trabalhos análogos à condição de escravo, salários indevidos abaixo do mínimo legal, dificuldades físicas e mentais em relação ao ambiente de trabalho, jornada de trabalho exaustiva, hiperexploração da mais--valia etc. Prover emprego formal, salários dignos, am-biente de trabalho saudável são uma das preocupações do DS, em conformidade com as orientações dispostas na dimensão econômica e social da sustentabilidade.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES De forma esperada, no Brasil, as transformações,

sejam elas econômicas, sociais ou políticas, acompanha-ram o cenário global, mesmo tais acontecimentos não sendo simultâneos ao ocorrido nas economias externas. A sociedade brasileira conquistou um estado de direito e igualdade que já na primeira república implementou-se bases com maiores consistências nos anos que seguiram. Neste sentido, a legislação representa uma culminância destes direitos, materializando estas garantias, entretan-to, existe um hiato entre as referidas conquistas sociais e a aplicação das mesmas, para tanto, o trabalho na con-dição análoga à de escravo é arquétipo desta contradição entre direitos já adquiridos e a aplicabilidade destes. Para tanto, esta seção objetiva-se demonstrar à luz dos dados ofertados pelo Ministério do Trabalho e Previdência So-cial os estados que existem indivíduos atuando em con-dição análoga à de escravo.

Trabalho Escravo no BrasilO trabalho, enquanto questão social, isto nos mol-

des conceituais de Castel (2013), gera no Brasil uma dis-cussão jurídica desde 1824, elogio este que nos rodeia até os dias atuais. Isso porque a colonização do territó-rio brasileiro pelos Portugueses objetivava-se apenas na obtenção de renda para a Coroa. Considerando que a categoria trabalho era compreendida naquele período como uma prática inferior, sendo destinado apenas para as populações menos providas de renda, forçando estes

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indivíduos a submeter-se a práticas braçais pesadas e desprezíveis. Nesse sentido, a importância do trabalho se constituía na elevação de renda dos colonos, já que esse período constituía-se por ser uma economia escravagista.

Para além da alusão institucional, as terminologias trabalho e trabalho escravo, estiveram presentes nas dis-cussões de cunho político, econômico e social. Tendo como marco inicial a colonização brasileira aludida no parágrafo anterior. Inicialmente, escravizar os indígenas e os negros representava práticas naturais para a época, já que estes eram entendidos como “indivíduos sem pá-tria, sem dono, sem estrutura social, econômica e polí-tica que os detivessem como protegidos por uma nação e os categorizassem como seres humanos”, na sequência colocar o indivíduo, de qualquer natureza, como escravo passou a ser um efeito “normal” do avanço capitalista. Ora de “fio a pavio” o aprendizado com o ressurgimento da escravidão no século XXI, sob o título de escravidão contemporânea, é que o modelo mental capitalista é inexequível com a erradicação do trabalho escravo. No baluarte do capitalismo, as formas de exploração no tra-balho humano são reinventadas e ressurgem a cada pe-ríodo, sem nunca ter desaparecido completamente.

No curso da história das Constituições brasileiras, vislumbra-se a trajetória de conquistas no campo do tra-balho com um sistema de proteção social. Porém, no ínterim da “vida real”, do cotidiano de cada um dos “li-bertos” pela Lei Áurea, o significado da palavra “livre”

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foi carregado pela sombra privação. Privação fisiológica à privação de cunho econômico e social.

As privações cotidianas fizeram com que uma par-cela da população brasileira, “deixados à sua própria sorte”, buscasse outras formas de “ganhar seu sustento”. Em um cenário onde as terras pertenciam a fazendei-ros detentores de grandes propriedades, que possuíam as condições financeiras para empregar a mão de obra livre e que ainda representavam, no consciente social, a imagem de “patrão/dono”, os cidadãos que foram liber-tados, por lei, na prática, continuaram vinculados aos mesmos padrões econômicos e sociais. A submissão e servidão foram as novas formas de relação econômica, com o fim da escravidão, encontradas nos campos da lavoura do café, da extração mineral e de outras organi-zações econômicas que estavam em evidência na época.

O trabalhador escravo e seu senhor de antes trans-formaram-se no servo e patrão, no “morador” e senhor de engenho (cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste), no colono e fazendeiro (cultivo do café do Sudeste), como revela Garcia Jr.:

Até 1888, os senhores de engenho possuíram escra-vos negros de origem africana. ... Os senhores de engenho se apoiavam sobretudo sobre o trabalho de todos aqueles que estavam submetidos a eles pelo simples fato de residirem em seus domínios, os moradores. Depois da abolição da escravatura a parte essencial do trabalho nos engenhos era efe-tuada por moradores. ... Ser morador ou tornar-se morador significava se ligar ao senhor do domínio

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de uma maneira muito específica, numa relação que supunha residência e trabalho simultaneamente. ... Quem se apresentava ao senhor de engenho não pedia trabalho, pedia uma morada. (GARCIA JR., 1988, p. 4)

O trabalho escravo contemporâneo, no Brasil, contudo surge de uma história “mal contada” desde a abolição da escravatura até os dias atuais. “Mal conta-da” porque historicamente o “trabalho escravo” ou “tra-balho forçado”, não deixou de existir. Seja sob a forma de “moradores”, “colonos”, contratos de imigração para fins de parceria agrícola, mantidos sob coação armada ou por endividamento, uma parcela da população brasi-leira sempre esteve vulnerável à escravidão. A exploração do homem, inerente ao sistema econômico capitalista e explicado por Karl Marx, coexiste mesmo numa apa-rente prosperidade das condições sociais possibilitadas pelo acúmulo de riqueza num sistema político no qual o presidente é eleito pelo voto de todos os cidadãos.

Caracterização do trabalho em condição análoga à de escravo no Brasil

A definição de condição análoga à de escravo en-contra-se na Lei nº 10.803/2003, que trouxe uma nova redação ao art. 149 do Código Penal, in verbis:

Art. 149 - reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornadas exaustivas, quer sujeitando-o a con-dições degradantes de trabalho, quer restringindo,

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por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. (BRASIL, 2003)

O fundamento legal desta medida é a Emenda Constitucional 1981 que, ao alterar o disposto no art. 243 da Carta Magna, inovou a ordem jurídico-constitu-cional ao determinar que, da mesma forma que o cultivo ilegal de plantas psicotrópicas, a exploração de trabalho escravo seja fato gerador de expropriação confiscatória, in verbis:

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qual-quer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropria-das e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções pre-vistas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da explora-ção de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.

Destarte, mesmo com uma sanção tão severa devi-do, justamente, pela inobservância de um direito funda-mental, ainda nos deparamos com empregadores explo-rando o trabalhador em condição análoga à de escravo nos diversos estados brasileiros.

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Quadro 1 - Distribuição pelo número de estabelecimentos que exploram traba-lhadores em condições análogas às de escravo por estado de 2011 a 2016.

ESTADO QUANT. DE ESTABEL.MG 25SC 5MA 3AC 1PA 10MT 6SP 2RO 2TO 3BA 4RS 4GO 2MS 1

TOTAL: 68Fonte: Elaboração própria com base em Ministério do Trabalho (2017).

Em 23 de março de 2017, o Ministério do Tra-balho – através da Portaria Interministerial nº 4, de 11 de maio de 2016 – publicou a relação de empregadores que submeteram trabalhadores à condição análoga à de escravo e não celebraram ou não cumpriram acordo ju-dicial ou Termo de Ajustamento de Conduta nos termos da Portaria MTb/SDH-MJC n.4/2016. Isso é a prova de que, apesar da nossa Carta Magna de 1988 assegu-rar direitos fundamentais, como: liberdade, igualdade e, sobretudo, dignidade humana, lamentavelmente, na prática, isto ainda é inobservado, vejamos:

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Como se depreende no quadro 1, Minas Gerais é o estado com mais estabelecimentos que exploram tra-balhadores em condição análoga à de escravo de 2011 a 2016. Dos 68 estabelecimentos ao todo, 37% ficam em Minas Gerais.

Quadro 2 - Distribuição pelo número de trabalhadores encontrados na condi-ção análoga à de escravo por estado de 2011 a 2016.

ESTADO QUANT. DE TRAB.MG 348SC 30MA 22AC 3PA 81MT 40SP 44RO 5TO 17BA 59RS 25GO 17MS 4

TOTAL: 695Fonte: Elaboração própria com base em Ministério do Trabalho (2017).

Mais uma vez, Minas Gerais é o estado com maior número de trabalhadores submetidos às condições aná-logas à de escravo. No total de 695 trabalhadores em todo o Brasil, há 50% somente em Minas Gerais. Esse dado é bastante preocupante, o que enseja outras pes-quisas que busquem identificar as causas e as formas de

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combate mais efetivas. Pode-se adiantar que este desem-penho de liderança do ranking por Minas Gerais já vem se repetindo nos últimos anos, e segundo AMP-MG (2014):

O chefe da Divisão de Fiscalização para a Erradica-ção do Trabalho Escravo do MTE, Alexandre Lyra, explica que o grande número de autuações em Mi-nas Gerais deve-se ao fato de o Estado ter um grupo focado nesta atividade. Em Minas, são seis auditores fiscais atuando desde o fim de 2012 nessa atividade.

A fiscalização intensiva é apontada como uma das causas do grande número de autuações em Minas Ge-rais. O que nos faz deduzir o quanto a fiscalização é im-portante para impedir essas transgressões à dignidade da pessoa humana e, também, que se outros estados fisca-lizarem de forma semelhante, os resultados poderão ser ainda mais alarmantes.

Apesar disso, o aumento da fiscalização não tem desestimulado os empregadores de Minas Gerais, uma vez que AMP-MG (2014) afirma que se detectou neste estado 21% desses trabalhadores no ano 2013, sendo que no ano de 2016, este percentual já atingiu os 50%, ou seja, mais que duplicou.

Arrematando uma iniciativa relevante do Ministé-rio Público do Trabalho (2017) de Minas Gerais, foi a disponibilização do Disk Denúncia, para que qualquer cidadão acesse o respectivo site e denuncie este tipo de prática.

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CONCLUSÃO Ainda que tenhamos a falsa impressão de abolição

da escravatura por consequência da sanção da Lei Áurea em 1988, o trabalho escravo não é somente um evento do passado, já que da busca desenfreada pelo capital, erige-se a prática escravocrata contemporânea. A escravi-dão clássica deixou uma herança, uma marca que ainda persiste na atualidade. Ainda que a luta pela sua aboli-ção tenha sido intensa no Brasil, o modelo de escravidão persiste nos dias atuais. Oficialmente deu-se fim ao re-gime escravocrata, mas na prática é sabido que a escra-vidão não é coisa de outrora. Persistente nos dias atuais, com uma nova roupagem, é claro, mas em sua essência, igual. Vulnerabiliza a pessoa, trata-a como objeto, no in-tuito de auferir lucro para quem escraviza.

A analogia entre a escravidão antiga e a contempo-rânea não se encontra nas correntes e na restrição de liber-dade, mas no tratamento do ser humano como coisa. A senzala moderna encontra-se dissimulada, mas o escravo moderno não se encontra menos explorado. A proprieda-de de um ser humano por outro deixou de ser permitido no Brasil, assim como a superexploração de trabalhado-res, País que tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho.

À vista disso, ademais da liberdade que lhe é supri-mida, por conseguinte, sua dignidade resta prejudicada pelo tratamento de desprezo à sua condição humana. O ser humano trabalhador fica reduzido à uma condição pior que a de animais. E é necessário deixar claro que

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o consentimento do indivíduo para trabalhar nessas si-tuações lúgubres é irrelevante, uma vez que só é possível falar em consentimento quando se pode optar por algo.

Assim, a escravidão contemporânea é um conjun-to de ações que tendem a limitar a vontade da pessoa, por qualquer meio apto para tanto, aproveitando da vulnerabilidade da vítima e de sua fragilização social, impondo-lhe condições degradantes de trabalho e, por conseguinte, de vida, que envilece a dignidade humana, solapam direitos, destroem vidas, e deixam marcas físi-cas e psíquicas para o resto das vidas desses pobres seres que no melhor dos seus intentos, queriam, de toda a forma, melhorarem de vida e, assim, e principalmente, a de suas famílias e dependentes.

O trabalho escravo no Brasil do 3º Milênio merece uma nova análise jurídica, uma vez que sua roupagem não mais corresponde aos antigos (clássicos) conceitos de escravatura e, dessa forma, fornece um estudo digno dessa área pouco desenvolvida em análises jurídicas con-vencionais, tornando-se uma área propícia para o desen-volvimento de novas pesquisas.

REFERÊNCIAS

AMP-MG (2014). Associação do Ministério Público de Minas Gerais. Disponível em: <https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noti-cias/119744362/minas-gerais-lidera-ranking-de-trabalho-analogo-a--escravidao> Acesso em: 24 de mar. de 2016.

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BARROSO, L.R. A dignidade da pessoa humana no direito cons-titucional contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação. Versão provisória para debate público. Mimeo-grafado, dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.luisrober-tobarroso.com.br/wp-content/uploads/2010/12/Dignidade_texto-ba-se_11dez2010.pdf.> Acesso em: 03 de jul. de 2017.BRASIL. Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, p. 292, 1988.BRASIL. Manual de combate ao trabalho em condições análo-gas às de escravo. Manual de Combate ao Trabalho em Condições análogas às de escravo Brasília: MTE, p. 96, 2011. Disponível em: <http://www.justica.sp.gov.br/StaticFiles/SJDC/Arquivos Comuns/Programas Projetos/NETP/Manual%20de%20Combate%20ao%20Trabalho%20em%20Condi%C3%A7%C3%B5es%20An%C3%A-1logas%20%C3%A0s%20de%20Escravo.pdf. > Acesso em: 03 de jul. de 2017.______. Lei n. 10.803, de 11 de dezembro de 2003. Altera o art. 149 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para estabelecer penas ao crime nele tipificado e indicar as hi-póteses em que se configura condição análoga à de escravo. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.803.htm> Acesso em: 03 de jul. de 2017.CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 2013. CASTELO-BRANCO, E. O Meio Ambiente para as pequenas Em-presas de Construção Civil e suas Práticas de Gestão Ambiental. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2010.DUDH. Declaração Universal dos Direitos Humanos. (1948) Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm.> Acesso em: 03 de jul. de 2017.GARCIA JR. A. Libertos e sujeitos: sobre a transição para trabalha-dores livres do Nordeste. São Paulo: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.3, n.7, 1988. Disponível em: <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_07/rbcs07_01.htm>Acesso em: 20 de abr. de 2017.

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MINISTÉRIO DO TRABALHO. Cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condição análoga a de escra-vo. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/component/content/ arti-cle?id=4428> Acesso em: 24 de mar. de 2017. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Disk Denúncia. Disponível em: <http://portal.mpt.mp.br> Acesso em: 24 de mar. de 2017.LOURENÇO NETO, A da R. As raízes do direito. Rio de Janeiro: edição do autor, 2014.OIT. Conheça a OIT. Disponível em: <http://www.ilo.org/brasilia/lang--pt/index.htm> Acesso em: 03 de jul. de 2017.ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Transforman-do Nosso Mundo: a Agenda 2030para o Desenvolvimento Sustentá-vel. ONU, 2016. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/ima-ges/ed_desenvsust/Agenda2030completoportugus12fev2016.pdf>. Acesso em: 02 ago 2017.

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DA GÊNESE DAS MAZELAS HUMANAS: PRELÚDIO DA ANUNCIAÇÃO DO

CAPITAL SOBRE O MEIO AMBIENTE

Ane Caroline Rodrigues LeiteSelton David Cavalcante Sobral

Francisca Laudeci Martins SouzaJosé Micaelson Lacerda Morais

INTRODUÇÃO É sabido que, superado o período em que se acha-

va que desenvolvimento era equivalente ao crescimento econômico, o desafio agora seria diferenciá-los. E foi isso o que vários autores fizeram. Focado no intuito de dis-tinguir um termo do outro, Souza (1999) afirma que crescimento não é sinônimo de desenvolvimento, mui-to embora aquele seja condição indispensável para este último, não é condição suficiente. Logo, nem tudo que cresce é desenvolvido.

Conforme aborda Chenery (p. 7, 1981) sobre o de-senvolvimento, pode-se compreender que “o desenvol-vimento econômico [também] é um conjunto de trans-formações intimamente associadas, que se produzem na estrutura de uma economia, e que são necessárias à continuidade de seu crescimento”. Isso abre uma fenda na sensibilidade dos que acreditam que crescimento é o

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mesmo que desenvolvimento, embora já ter sido bas-tante discutido o fato de que ambos não são sinônimos entre si. Portanto, o desenvolvimento só cumpre seu pa-pel na medida em que os objetivos do desenvolvimento vão bem além da mera multiplicação da riqueza material (SACHS, 2008).

Sobre crescimento, Lipsey (1986) crava que o mes-mo está associado à capacidade de o investimento in-tervir na renda nacional, de modo a elevar a capacidade produtiva em potencial de um determinado país. Por isso, o crescimento econômico pode ser compreendido como sendo o aumento continuado de uma unidade econômica durante um ou vários períodos longos de tempo. Sua análise é feita por meio dos índices: Produto Interno Bruto (PIB) ou Produto Nacional Bruto (PNB), os quais medem o nível de produção e de renda perten-cente a um determinado país.

No lado extremo da via que conduz ao crescimento econômico, existe outra via que conduz ao “caminho do meio”, como propôs Veiga (2010). Este “caminho do meio” é o que chamamos de desenvolvimento susten-tável, um conceito, aliás, que surge como sendo uma nova matriz discursiva e interdisciplinar no campo das ideias. Assim sendo, o desenvolvimento sustentável re-vela-se como resultado das contradições apresentadas pela experiência prática do processo de desenvolvimento econômico que, como tal, constitui-se como ponto de inflexão no diálogo entre desenvolvimento e meio am-biente, com a introdução de dimensões de caráter social

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e ambiental no conceito de desenvolvimento econômico (CASTELO-BRANCO, 2010).

Desse modo, o desenvolvimento sustentável emer-ge como preenchimento da lacuna entre crescimento e desenvolvimento, de modo a recuperar a passagem que leva à preservação e otimização dos recursos naturais, co-locando-se como a maneira mais recomendada para se alcançar a proteção desses recursos e o bem-estar social, contemplando, enfim, a sustentabilidade das gerações atuais e, especialmente, das que virão.

À guisa da reflexão sobre desenvolvimento susten-tável, este trabalho se propõe a examinar o debate sobre a referida temática, qual seja, a rispidez do capitalismo/crescimento econômico (sobre a) face do desenvolvi-mento sustentável, atentando-se para um embasamento teórico das raízes daquele primeiro e suas reverberações sobre este último, bem como os desdobramentos provo-cados. No campo da metodologia, esta pesquisa é de ca-ráter reflexivo, qualitativo, sustentada a partir da aborda-gem bibliográfica por meio de livros e periódicos. Refle-xivo e qualitativo por se propor a analisar e compreender os conceitos em torno do embate teórico e bibliográfico, por ter seu fundamental teórico construído à luz de li-vros e artigos científicos nacionais afins com o assunto.

Além dessa introdução e da conclusão, este artigo discute no referencial teórico o diálogo que segue entre os autores sobre os fatores que legitimaram as bases para o capitalismo, seguindo com o arremate do Desenvolvi-

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mento Sustentável face às consequências do capital e a necessidade de se pensar em um novo paradigma.

MODERNIDADE E CAPITALISMOA primeira impressão transmitida da ideia de mo-

derno é que as melhorias vêm, automaticamente, imbuí-das nesse processo. Bauman (1999) fala que a moderni-dade pode significar muitas coisas. E Cruz (2001) con-corda com aquele autor, ao corroborar que, justificar sua definição, pode ser considerado tarefa difícil. Por outro lado, podemos considerar que a modernidade funciona como uma espécie de avanço temporal produzido pelo homem e para o homem, em que este, ao se colocar no centro como ser pensante e, portanto, dotado da razão, torna-se capaz de modificar a realidade ao seu redor por meio do uso do conhecimento, superando, por sinal, os signos que antes compunham o período do renascimen-to; o indivíduo que antes era considerado figura passiva, passa agora a ser sujeito – o fato de ser colocado no cen-tro, já o reconhece como sendo sujeito ativo (ou apenas sujeito, o que não interfere no seu sentido).

Ele mesmo (o indivíduo), à luz da razão, elabora o scriptim social com base na sua verdade. Doravante, te-mos a passagem do antigo para o novo, do atrasado para o avançado, do homem velho para o homem moderno. Aliás, foi na modernidade o grito que proclamou o iní-cio de muitas mazelas as quais podemos constatar hoje.

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Momentos históricos como as Grandes Navega-ções, o Renascimento e a Reforma Protestante marcam os exatos momentos em que o indivíduo, seja no âmbito político como no religioso, se reconhece como agente que transforma e é transformado, evocando o redesco-brimento de novas possibilidades e formas de se fazer conhecimento, distante é claro, do que propunha o for-jo da Idade Média. Logo, emerge dessa compreensão, a importância de se assimilar a modernidade como o momento crucial em que foi descoberta a concepção de sujeito como agente dominador, aquele que veio para conquistar a natureza a todo custo o seu quinhão, torná--la seu espaço e chamar de seu (CRUZ, 2011).

“A modernidade começa quando o espaço e o tem-po são separados da prática da vida e, entre si, podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação”, o que leva a crer que a modernidade está relacionada com a superação dessas duas variáveis (espaço e tempo). Por exemplo, foi dessa maneira que “a distância percorrida numa unidade de tempo passou a depender da tecnologia, de meios ar-tificiais de transporte, [onde] todos os limites à velocida-de do movimento, existentes ou herdados, poderiam, em princípio, ser transgredidos” (BAUMAN, p.9, 2001).

Logo, sendo para compreender a infusão da mo-dernização à sociedade, faz-se necessário desenvolver uma percepção atenciosa capaz de observar e identificar que:

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O movimento de modernização começa a aconte-cer quando uma parcela significativa de um grupo põe em prática uma atitude crítica, que questiona o que está posto até então. Ou seja, a modernidade se instaura quando os valores e a organização cultural e social são questionados e se gestam novos valores, que se contrapõem aos antigos. Assim, é preciso identificar o que caracteriza o tradicional, para que se perceba o que significa a modernidade em um dado momento (CHACON, 2007, p. 72).

Esses valores dos quais fala Chacon (2007), podem ser notados a partir da nossa concepção de homem como ser histórico, onde ele mesmo, sujeito da ação, constrói, derruba, conserta, danifica, instala, desinstala, conserva e degrada. O homem de outrora, aquele que atravessou o rio, do qual fala Heráclito, não é mais o mesmo de hoje (se quiser atravessar o mesmo rio novamente, ele, como ser histórico que é, já se modificou involuntariamente). Um exemplo disso é se compararmos o homem do siste-ma feudal com o homem do sistema capitalista, a dife-rença entre eles é assombrosa, muito embora estejamos falando do mesmo sujeito, não estamos lidando com a mesma pessoa. Uma vez que na sociedade feudal não havia a mercadoria, o homem não se via preocupado em produzir muito para adquirir demasiadamente. O motivo é simples: eles produziam para viver, o contrário de hoje – no sistema capitalista – onde os homens vi-vem para produzir; não somente produzir, mas também, consumir, degradar e extirpar tudo aquilo que estiver ao seu alcance ou, que por ventura, se mostre contrário à

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força universal que domina, conhecida por sinal de força capitalista de produção.

Desse modo, ao interferir na natureza, o processo civilizatório transforma-a. Ao mesmo tempo trans-forma o próprio homem. Eis que este, original-mente também um ser natural, pela vida das suas relações com o meio ambiente e com o outro, o seu semelhante, transmuda-se no ser cultural. As suas necessidades também se modificam. E a pauta das requisições daquilo que a ecologia e a economia podem lhe proporcionar já não reflete apenas os cuidados com a preservação de sua vida animal, pu-ramente biológica. Tem a ver, crescentemente, com a satisfação de aspirações e desejos criados, “necessi-dades” cultivadas - culturais e cultuais. Mais e mais, são elas a expressão da ânsia de respostas a inquie-tações de distintas índoles, nos planos mental, inte-lectual, moral, espiritual. Uma procura para além do ter, a do ser - a do ver. É ainda a busca do mais, mas é ao mesmo tempo a busca da verdade, do belo, do bom e do justo. A emergência do eidético, do estético, do ético (BURSZTYN, p. 16, 1993).

Bursztyn é feliz ao retratar as consequências huma-nas sobre o espaço ecumênio1 do qual retrata na obra por ele organizada e intitulada Para Pensar o Desenvol-vimento Sustentável, de 1993. Justaposto, vê-se que o homem criou suas necessidades e seus desejos, ao passo que, a modernidade, ampliando o campo da economia, permitiu ao homem explorar suas potencialidades den-tro do restrito plano limitado e denominado de nature-

1 Neologismo oriundo da junção dos substantivos “ecólogo” e “ecônomo”. O vocábulo ecúmeno é utilizado para expressar “a área habitável” ou “habitada da Terra”, ou ainda, “o geral”, “o universal”, isso pode ser constatado nos dicionários. Ver Burzstyn, 1993.

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za. É fato, que o homem não está apenas na busca por sobrevivência – assim como faziam os homens da era re-mota – sobrepuja um modelo cultural, político, econô-mico, social e ambiental jamais visto, em conformidade com a realidade factual (se é que fora alcançada) ou com alguma que possa ser inventada, que segue, a propósito, um comportamento inacabado e ininterrupto, dado que o fim último desse atual modelo ainda não foi alcança-do, se é que será. Bursztyn (p. 15, 1996) completa: “na verdade, o ecúmeno é sempre um produto inacabado in fieri. É um construto. Um processo. O Processo civili-zatório”.

Isso elimina qualquer possibilidade que alie ao ca-pitalismo aquela imagem dotada de uma devoção vir-ginal, daquele que trouxe ao mundo sórdido, na forma de uma oferenda perfeita, a mundialização (ou globali-zação, como queira chamar) como prova de todo o seu amor por tudo e todos. É fato, que o capitalismo trouxe muitos benefícios ao conjunto da humanidade, por ou-tro lado, é certo também que a sua atuação é pertinente quanto ao contexto que retrata o massacre pelo qual tem sofrido a natureza – inclui-se, também aqui, e, sobretu-do, a espécie humana, ao passo que, ingênua ou passi-vamente, tem atuado como marionetes na ciranda do capital e, dessa forma, contribuído para a eliminação de várias espécies animais, contaminação do solo, das águas e poluição do ar. Esta é, por excelência, o ponto excelso que a função da divindade do capital assumiu. Dizer que

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chegou ao fim (este massacre) é um erro porque ainda não conhecemos sua forma acabada e, muito menos, sua cartada final.

Partindo das instituições sistemáticas que domi-nam os sujeitos dentro desse complexo emaranhado do capital, vê-se um ávido desejo pelo consumo, um enga-jamento demasiado em tribos e/ou grupos como forma de aceitação, uma idolatria desconcertante em torno dos ditames da moda etc. Esses são uns dos vários escalpelos que contribuíram e, ainda contribuem, para que a úlcera bem do lado mais sensível do ego humano, a identidade, seja cada vez mais dilatada e inflamante. Conseguir fazer com que as forças do Homo sapiens vençam as do Homo demens vai ser o grande desafio da época2.

Não menos incisivo, a modernidade tem criado

[...] uma redistribuição e realocação dos “poderes de derretimento” da modernidade. Primeiro, eles afetaram as instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das ações-escolhas possí-veis, como os estamentos hereditários com sua alo-cação por atribuição, sem chance de apelação. Con-figurações, constelações, padrões de dependência e interação, tudo isso foi posto a derreter no cadinho, para ser depois novamente moldado e refeito; essa foi a fase de “quebrar a forma” na história da mo-dernidade inerentemente transgressiva, rompedora de fronteiras e capaz de tudo desmoronar (BAU-MAN, 2001, p. 7).

2 Ver Leonardo Boff em sua obra intitulada de Nova Era: a civilização planetária; desafios à sociedade e ao capitalismo, p. 87, ano de 1994.

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A citação mencionada anteriormente (BAUMAN, 2001) apresenta e denuncia o papel assumido pelas ins-tituições, ao passo que, destacadamente, se colocaram como coadjuvantes no papel que tem o capitalismo como protagonista e as instituições como subordinadas. Ele é, por sinal, a figura cardinal dessa presunçosa cena, aliás, é diretor e ator, pois não só escreve e dirige a pró-xima cena, como dita quem com ele vai contracenar a ação e/ou assumir o papel de figurante, e como se não bastasse admite, pragmaticamente, os “contemplados” a comporem a plateia, supervisionada.

O Estado, é ele o principal coadjuvante daquele outro, alimentando a fogueira que tem mantido acesa a chama que une modernidade ao capitalismo nesse enla-ce quase “romântico”, se não fosse os desastres aparente-mente escondidos por entre o tapete da morada que os une e comporta o pó escondido do niilismo da globa-lização. Como diria Bauman em sua Globalização - As Consequências Humanas, publicada em 1999, o panóp-tico assumido pela figura do Estado – o cetro de ferro do capitalismo – tem colocado os indivíduos na fúnebre marcha rumo ao capitalismo.

É a partir daí, que a modernidade toma a forma de uma “desordem”:

A tarefa de construir uma ordem nova e melhor para substituir a velha ordem defeituosa não está hoje na agenda - pelo menos não na agenda daquele domínio em que se supõe que a ação política resida. O “derretimento dos sólidos” traço permanente da

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modernidade, adquiriu, portanto, um novo senti-do, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo, e um dos principais efeitos desse redireciona-mento foi a dissolução das forças que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política. (BAUMAN, 2001, p. 7).

Porto-Gonçalves (2012) comunga da mesma con-cepção de Bauman, quando em sua obra A Globaliza-ção da Natureza e a Natureza da Globalização, enfatiza que essa (nova) ordem gerou uma desordem da qual deixou “um séquito de devastação e desordem ecológi-ca e social”, essa espécie de ordem-desordem mundial desaguou na dominação da natureza, que, por sua vez, implode como sendo consequência cronológica da im-pregnação capitalista que, para tanto, se firmou na mo-dernidade e encontrou sustentação.

A propósito, sobre o capitalismo o que se pode afir-mar é que teve o “prelúdio do seu revolucionamento”, lá no último terço do século XV e nas primeiras décadas do século XVI na Inglaterra (MARX, p. 264, 1984). De lá para cá muita coisa mudou, inclusive se aprofundaram as relações dos mais ricos sobre os mais pobres, mas o corolário desse lúgubre conto sobre exploração está por vir, aliás, emerge quando o homem toma sua presa e se torna tal como um animal predador, que para civilizar o termo aqui adotado, passou-se a se utilizar o termo “dominador da natureza”.

As imbricações e reflexos dessa rede de conexão que vêm dominando a natureza podem passar por desperce-

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bidas se não for assumido o fato de que o homem não só está retirando da natureza o que precisa, como tam-bém o que não precisa, levando à exaustão essa relação biunívoca entre homens e natureza. A questão é que o mesmo capitalismo que produz e satisfaz as necessidades humanas é também o que destrói e extingue a fauna e a flora, em todas as suas potências e possibilidades; que não se intimida com restrições porque se julga ser capaz de superá-las (NAGALLI, 2014).

Portanto, modernidade e capitalismo comungam entre si a partir do momento em que o sujeito, devoran-do o planeta, superou o limite físico natural e intelectual a ponto de conseguir extrapolar as barreiras entre tempo e espaço, segregando os povos a viver no enredo o qual deram o nome de globalização. Essa “globalização tan-to divide como une; divide enquanto une” (BAUMAN, 1999), no mesmo tempo em que dita a velocidade com que a humanidade deve ou não evoluir, de acordo, é cla-ro, com a sagacidade do capital.

CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESENVOL-VIMENTO SUSTENTÁVEL: A EMERGÊNCIA DE UM PARADIGMA

O conceito de desenvolvimento sustentável surge como sendo uma nova matriz discursiva e interdiscipli-nar no campo das ideias. Assim sendo, revela-se como resultado das contradições apresentadas pela experiên-

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cia prática do processo de desenvolvimento econômico que, como tal, constitui-se como ponto de inflexão no diálogo entre desenvolvimento e meio ambiente, com a introdução de dimensões de caráter social e ambiental no conceito de desenvolvimento econômico (CASTE-LO-BRANCO, 2010).

A Revolução Industrial favoreceu para que hou-vesse um crescimento econômico acelerado nos países, especialmente os do primeiro mundo, uma vez que elevando as variáveis econômicas, estimulou, também, o acréscimo na exploração dos recursos naturais, carac-terizados como um verdadeiro ecocídio3. No entanto, vale ressaltar que esse “progresso”, disfarçado por entre a depredação dos recursos naturais, reservou aos países desenvolvidos a primazia na maior fatia do bolo, o que evidencia a desigualdade nessa relação metrópole-colô-nia, centro-periferia ou desenvolvimento-subdesenvol-vimento no atual Sistema-mundo-moderno-colonial4 (PORTO-GONÇALVES, 2012). O que se pode verifi-car com isso é que houve uma globalização na explora-ção da natureza, que se faz de forma unânime, por meio de uma espécie de distribuição desigual dos rejeitos en-tre as partes envolvidas, em especial com aqueles países menos desenvolvidos e beneficiados com esse pacto no Sistema-mundo-moderno-colonial.

O que emerge sobre isso é a degradação que o cres-cimento econômico vem causando ao planeta, uma vez 3 Ver Porto-Gonçalves (2012) em A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização.4 Idem, ibdem.

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que, a partir do surgimento da moeda como acelerador no processo de trocas e, da Revolução Industrial na me-dida em que possibilitou ao homem a dinamização dos processos produtivos e produzir mais em menos tempo, aumentou o uso e a apropriação dos recursos naturais industrializados (LEONARD, 2011; PORTO-GON-ÇALVES, 2012; NAGALLI, 2014).

Porto-Gonçalves (2012) chama atenção para a questão que emerge com o período de globalização neo-liberal, quando afirma que este já nascera sob o signo do desafio ambiental, desafio esse que não se colocara para nenhum dos períodos anteriores da globalização. Igual-mente, o desafio ambiental está no centro das contradi-ções do mundo moderno-colonial, pois este se tornou a via obrigatória pelo qual todos os países teriam que passar para poder sofrer os sinais do progresso, lembran-do que essa roupagem mais atual de desenvolvimento, o qual se nomeia de “progresso”, nada mais é do que sinônimo de dominação da natureza.

A princípio, o termo sustentável tem origem do latim, sustentare, que significa sustentar, conservar, favo-recer. A palavra sustentável passou a ser difundida, mun-dialmente, em 1972, quando foi realizado em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambien-te e Humano – United Nations Conference on the Hu-man Environment (UNCHE). Com base nesse aconte-cimento, sustentabilidade passou a fazer parte do dialeto e dos debates em torno da problemática relacionada à conservação do planeta e à preservação da humanidade.

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Ainda sobre a sustentabilidade, o que se pode notar é que, apesar de ser um termo ainda recente, já alcançou um vasto campo no conjunto das ideias e das ciências sociais. Uma vez que, apesar de seu significado estar estreitamente relacionado ao meio ambiente, também está relacionado a outros setores, como o da economia, política, cultura, educação etc. Assim sendo, o que se sabe é que a palavra sustentabilidade surgiu há pouco e já é parte trivial no discurso das entidades, dos órgãos, das empresas e da sociedade em geral. Contudo, mesmo sendo tão difundida e discutida a sua relevância, o modo como o capitalismo está sendo gerido nunca foi tão in-sustentável (LEONARD, 2011).

Partindo da definição anterior do termo susten-tabilidade, voltamos a atenção para o desenvolvimento sustentável como ferramenta moderna e imprescindível para a sustentação do capital. Ou será do planeta? Por enquanto, o desenvolvimento sustentável ainda não foi alcançado na sociedade em sua forma mais precisa e no-tória; não se conhece suas vestes, tão pouco sua face. Po-rém, sabe-se que o mesmo é benéfico e precisa de aten-ção o quanto antes, dado o ritmo que a humanidade está reverberando no planeta.

Sobre isso, aponta Veiga (2005) que é necessário criar um desenvolvimento sustentável para o século XXI que construa paradigmas e ajude a quebrar o domínio do discurso político dos países centrais sobre os países periféricos. A força do capital se revela mais voraz e pas-

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sível de realização do que aquele. Seu arranque imita a força de um trator, sua devastação, a de um foco de in-cêndio em uma floresta.

Dessa maneira, apesar do ceticismo que rodeia as teorias contrárias ao desenvolvimento sustentável (ou qualquer outra nomeação que resigne a este), o mesmo emerge como preenchimento da lacuna entre cresci-mento, de modo a acender a via que conduz à preser-vação e otimização dos recursos naturais, propondo o caminho mais recomendado para se alcançar a defesa do meio ambiente, o que desnuda, por conseguinte, no bem-estar humano a partir do instante em que se pensa nas consequências futuras oriundas dos danos causados sobre o meio, no presente.

CONCLUSÕESComo foi mostrado, é nítido que o homem foi su-

cumbido por um processo que veio conjunto à moder-nidade. A possibilidade de almejar melhorias em todos os quesitos da vida, seja social, econômico ou político, trouxe aos indivíduos que vivem em sociedade, a capaci-dade de lograr – principalmente em termos econômicos – uma mobilidade social que lhes fosse, imediatamente, mais favorável. Sendo difícil imaginar como seria tudo que os cerca se não fosse os atributos advindos com a modernidade, como a possibilidade de assistir televisão, usar o aparelho de celular, roupas da moda, consumir

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enlatados, viajar em transportes aéreos ou terrestres... entre uma enésima variedade de possibilidades que só foram possíveis devido ao alcance do homem à tecnolo-gia. Modernização ou morte!

Com a modernidade veio e o anseio do homem pelo consumo extravagante e supérfluo. Consumo em grande escala, que alimenta a matriz industrial. Aliás, é com a industrialização que um país sobrepuja o cresci-mento econômico e, consequentemente, populacional. Mas, também, é neste processo, que mazelas sociais co-meçam a surgir – como foi destaque nesta pesquisa – a exemplo, da falta de acuidade ambiental.

O crescimento que nos acompanhou até hoje, po-de-se dizer que foi uma espécie de crescimento que se mostrou mais preocupada com as variáveis econômicas, do que propriamente com o homem, longe, mais ainda, da natureza. Diga-se de passagem: crescer não é desen-volver.

Na ótica econômica, o crescimento é entendido como sendo um processo de sistemática acumulação de capital e de incorporação do progresso técnico ao tra-balho e ao capital que leva ao aumento sustentado da produtividade ou da renda por habitante. Enquanto que o vocábulo desenvolvimento remete à ideia de transfor-mação, crescimento, progresso; evolução de um status para outro, um estado novo caracterizado por ser qua-litativamente, e não apenas quantitativamente, superior ao anterior.

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Ainda assim, mesmo após os inúmeros debates em torno da definição de um termo pelo outro, o proble-ma persiste em continuar na forma de degradação am-biental, dilapidação dos recursos naturais, poluição das águas e dos solos, excesso de constructos e dispersão de resíduos sólidos e orgânicos, entre outros. Foi aí que o Desenvolvimento sustentável surgiu como “caminho do meio” entre aqueles dois, se mostrando a mais “correta”, no entanto, a mais difícil operação a ser realizada em se falando de pleno auge da modernidade, da urbanização, do crescimento, por fim, do capitalismo. Percebe-se com isso que o homem, julgando-se dotado de razão, não al-cançou razões suficientes para diminuir o passo na trilha que é preciso regredir para progredir.

Em síntese, notando que o capitalismo ganhou força não somente pela facilidade com que o homem encontrou nele chances de acumular, o mesmo foi re-forçado desde a modernidade, sendo conduzida aos li-miares do crescimento econômico por meio da explosão populacional, o qual ganhou bastante força e ajudou a reforçar a exaustão ambiental. Então, todos os pon-tos abordados na presente reflexão, foram entrelaçados como forma de sincronizar o percurso inicial do capital até chegar à forma que o concebemos hoje, onde é la-tente o risco que tem o homem colocado à sua espécie, ao passo que põe ao fio da espada o planeta. Até chegar a forma que temos hoje, o capitalismo se refez várias vezes, inclusive, se trajou de verde para passar por entre os que

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achavam que era impossível ser magnata e sustentável. É preciso saber distinguir, sobretudo, mudar o rumo do barco em busca de um estilo de vida que traga de fato qualidade de vida para a geração atual e vindoura.

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JOVEM RURAL: FICAR OU SAIR DO CAMPO?

Francier Simião da Silva JuniorCláudia Araújo MarcoVanessa Oliveira Teles

Silvério de Paiva Freitas JuniorFrancisco Gauberto Barros dos Santos

Verônica Salgueiro do Nascimento

INTRODUÇÃODurante a realização de assembleias da ONU, na

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-mento, em 1987, o termo desenvolvimento sustentável tornou-se uma nova perspectiva do conceito de desen-volvimento, formalizado no Relatório de Brundtland (1991). O Relatório considera como desenvolvimento sustentável “atender às necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das futuras gerações em prover suas próprias demandas”.

As organizações da sociedade civil desenvolvem inúmeros projetos, nas mais variadas temáticas e cam-pos: na educação, geração de renda, captação de água, beneficiamento da produção, bancos de sementes, assis-tência técnica agroecológica etc. Muitos projetos são fi-nanciados por organizações de apoio do exterior, outros pelo governo brasileiro, por empresas ou pelo próprio grupo que o desenvolve, buscando, principalmente,

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atender às classes de baixa renda e vulnerabilidade (Arti-culação no Semiárido Brasileiro, 2011).

Entre os diversos estudos sobre a temática abor-dada no trabalho, dois são de grande recorrência nessa questão, um deles é a tendência imigratória dos jovens, em grande parte justificada por uma visão relativamente negativa da atividade agrícola e dos benefícios que ela propicia e outra se refere às características ou problemas existentes na transferência dos estabelecimentos agríco-las familiares à nova geração (BRUMER, 2006).

Em 1996, Paulo Freire, no livro Pedagogia da Au-tonomia, destaca a utilização do diálogo como meio da socialização de ideias capazes de gerar nos indivíduos uma mudança comportamental, ou seja, a ação. Eviden-temente, o diálogo é uma alternativa de aproximação com esses jovens, é uma comunicação bidirecional na qual todos os envolvidos têm direito à voz. Esse tipo de voz é o que buscamos dentro da pesquisa, chamamos de participativa aqueles envolvidos dentro da constru-ção da experiência, em que cada um/uma entra com a importante parcela dos resultados de sua produção no campo, ou seja, unindo teoria e prática com participa-ção integral dos envolvidos, trazendo o fazer “conjunto”. Descartando a frase: “Eu te ensino e tu tentas fazer”. E outras que ainda encontramos em uma assistência mol-dada na voz opressora.

Considerando a complexidade da agricultura atual e a relevância dos jovens enquanto atores fundamentais

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para o processo de desenvolvimento desta, verifica-se que a comunicação é a alternativa para interação e construção de um fazer diferenciado para obter mu-danças significativas nesse cenário, entre permanecer no meio rural, e dar continuidade nas atividades agro-pecuárias desenvolvidas pela família. Essa alternativa de diálogo é uma forma de troca de saberes entre faci-litadores (técnicos) e os atores principais (agricultores) e, assim, é constituído a construção do conhecimento, com base no diálogo e o fazer coletivo (CARNEIRO e CASTRO, 2007).

As discussões acerca da juventude rural vêm sen-do retratadas há décadas e provocaram várias reflexões. Segundo Carneiro e Castro (2007), a trajetória de vida desses jovens até a formação de suas raízes familiares no seu meio é sempre impreciso, sendo referida ao fim dos estudos, ao início da vida profissional, à saída da casa pa-terna ou à constituição de uma nova família ou, ainda, simplesmente a uma faixa etária.

Em 2004, em colocação de Zagury, a juventude é considerada como uma fase do desenvolvimento huma-no que requer direito e deveres específicos. Para Abramo et al. (2000), são bem mais específicos, a juventude ca-racteriza-se por dois períodos: adolescência e juventude relativa à maioridade. O marco da adolescência inicia-se aos 15 anos de idade e estendem-se até os 19 anos, aos 20 anos há início de uma nova fase de decisões e incerte-zas que vai até 24 anos chamados de fase “adulta”.

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O Brasil segue o padrão de análise da Organização Ibero-Americana da Juventude (OIJ), considerando jo-vens as pessoas que se encontram na faixa etária de 15 a 29 anos. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera jovens as pessoas em idades entre 10 a 24 anos.

Em outros aspectos mais tradicionais, a juventu-de parte de cinco abordagens: faixa etária, ciclo de vida, geração, cultura ou modo de vida e representação social (OLIVEIRA, 2006). Para esta pesquisa, estes aspectos tornam-se imprescindíveis, juntamente aos quintais agroecológicos. Somado a isto, apresenta-se a aborda-gem da agricultura familiar, na qual o jovem do meio rural tem a oportunidade de evidenciar o seu fazer dian-te do mundo que está inserido e, assim, ressignifican-do suas decisões de permanecer ou não no campo. Tais representações, no resgate de seus contextos sociais, na relação entre o campo e a cidade, como também em seus projetos de vida, passam a ser tema de investigações quanto ao futuro desses sujeitos (JÚNIOR, 2007).

As limitações que ainda persistem com raízes em várias dimensões da vida das comunidades afetam di-retamente a juventude. A agricultura com todas as difi-culdades que tem e praticada de forma tradicional não consegue responder aos anseios de uma vida com mais dignidade no campo. A reação da juventude diante des-ses problemas está diretamente ligada à capacidade de enfrentar ou não os desafios do tempo presente. Sem ex-pectativas, alguns terminam enveredando por caminhos

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nem sempre saudáveis, envolvendo-se com o uso abusi-vo de álcool e de drogas na maioria das vilas e povoados rurais, aumentando com isso os índices de violência e criminalidade.

As relações dessa faixa etária perante esse paradig-ma e os questionamentos da juventude rural supõem o entendimento de dupla dinâmica social. Por um lado, a dinâmica territorial que relaciona a sua família, a vizi-nhança da comunidade e a cidade, colocando em vista a zona urbana – industrial. Além de espaços distintos e sobrepostos, trata-se fundamentalmente dos espaços de vida que se entrelaçam e que dão substância à experiên-cia dos jovens rurais e à sua inserção na sociedade (CAR-NEIRO e CASTRO, 2007).

Carneiro e Castro (2007) colocam em suas falas, que por outro lado, nestes espaços, a vida cotidiana e as expectativas para o futuro são constituídas de uma dinâmica temporal: o passado das tradições familiares, que inspira práticas e as estratégias do presente e do en-caminhamento do futuro; o presente da vida cotidiana, focalizado na educação, no labore e na sociabilidade lo-cal; e o futuro, que se proclama, sobretudo, por meio das preferências práticas de herança, sucessão e das estraté-gias de migração temporária ou definitiva.

Dentre as dificuldades encontradas para a formação de novas unidades produtivas estão o desejo de muitos jovens de não dar continuidade ao processo reprodutivo social das propriedades semelhante ao de seus pais nas

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atividades rurais. Isso significa dizer que o êxodo rural em que predomina a agricultura familiar hoje, atinge as populações jovens com muito mais ênfase que em mo-mentos anteriores (JÚNIOR, 2007).

Em decorrência do processo de êxodo rural está o processo de envelhecimento da população. Percebe--se recentemente um severo processo de masculinização do campo, já que as moças estão deixando a zona rural antes e numa proporção maior que os rapazes (ABRA-MOVAY et al., 1998).

Dentre as principais implicações dos processos su-pracitados que vêm se agravando nos últimos anos está o que se pode denominar de “problema da questão suces-sória” na agricultura, que acontece quando a formação de uma nova geração de agricultores perde a naturali-dade com que era vivida até então pelas famílias e pelos indivíduos envolvidos nos processos sucessórios.

Percebe-se, em vários estudos, que quem perma-nece no campo é o filho que possui menor grau de es-colaridade (SILVA, 2006). Essa estimativa tem pontos positivos, que é habilidade dos mesmos em lidar com a terra, faltam apenas as técnicas que potencializem seus plantios.

Com tais considerações, ficar ou sair do campo constitui um assunto complicado e polêmico, já que tra-ta de indivíduos em fase de mudança psicossocial, isto é, pessoas que estão deixando de ser criança e partindo para a fase adulta. Abordando-se os jovens no meio rural, sur-

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gem questionamentos quanto à permanência na proprie-dade e consequente continuidade dos afazeres da família ou ao abandono da propriedade rural familiar com vistas à mudança do modo de vida nas cidades. Elementos que remetem ao entendimento das “novas” ruralidades.

Durante essa mudança de estágio, muitas vezes, sem motivação para continuar estudando, os jovens abandonam a escola antes de concluir o ensino médio e apenas poucos destes chegam à universidade. Os jovens que se desafiam a permanecer em suas comunidades de origem estão cientes do seu papel social, procuram par-ticipar dos espaços de decisão política tais como sindica-tos de trabalhadores/as rurais, associações comunitárias, grupos de jovens e das pastorais das igrejas. Uma de suas tarefas tem sido enfrentar a cultura de massa que forta-lece o capitalismo e o individualismo, em detrimento dos valores humanos construídos e difundidos há sécu-los pelas famílias e grupos de tradição popular na região (Associação Cristã de Base, 2013).

Para Champagne (1986), o termo migração pode ser entendido como rejeição às atividades no campo. Assim, filhos não sucedem as atividades cotidianas dos pais, ou seja, recusa do modo de vida dos pais. Desvalo-rizando tanto a si como, também, aos seus semelhantes por estar em um ambiente indesejado por eles.

Dessa forma, as estratégias familiares voltadas para a reprodução da atividade agrícola centram-se na aquisi-ção de novas terras, para que haja a instalação dos filhos

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homens na agricultura. É detectado que os filhos mais jovens, da segunda geração, são influenciados pelos pais a buscarem novas alternativas.

É importante a inversão da questão do êxodo rural, principalmente da juventude, procurando examinar as condições que favorecem sua permanência, ganha rele-vância os estudos que analisam o modo de vida, as rela-ções sociais, as condições estruturais, as oportunidades de lazer e acesso a atividades agrícolas e não agrícolas, para jovens de ambos os sexos (BRUMER, 2006).

Na perspectiva da participação conjunta e constru-ção do conhecimento, se reflete em uma metodologia da teoria-prática valorizando os saberes dos agricultores/as em seu fazer cotidiano. O conhecimento da realidade é necessário a partir da visão dos atores envolvidos. Cada pessoa carrega consigo seu saber e este deve ser valoriza-do para que se sensibilize o ator inserido, a fim de que se estabeleça a comparação, a construção de experiência, a troca e o crescimento de cada ser, no contexto que possa debater sobre as questões de melhorias (Associação Cris-tã de Base, 2011).

A nossa fala e a daqueles e daquelas que conosco dialogam deve ser instigante, ao invés de apassi-vadora. “[...] quem tem o que dizer deve assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda” (FREIRE, 1996, p.117). É preciso que falemos para obter respostas pelo desafio expresso em nossa fala, e não para provocar reações meramente submissas ou impostas.

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O enfoque sobre a realidade dos jovens e suas fa-mílias de agricultores/as em cada comunidade ou espaço inserido, problematizando os fatos concretos vivenciados nas comunidades e ao seu redor. Na região do Cariri, cada jovem de muitas das comunidades rurais em desenvol-vimento, busca uma interação dentro da comunicação, focando cada vez mais na ação participativa de temas so-ciais e ambientais, a maneira em que eles/elas estão son-dando melhorias para seu meio, de fato, explica cada vez mais a presença do jovem dentro das associações comu-nitárias, sindicatos de trabalhadores rurais, cooperativas e grupos de mulheres. Nessa metodologia de comunicação, a ênfase maior é dada na prática constante do diálogo que facilita a animação, os processos coletivos de construção do conhecimento, a elevação da autoestima das famílias e a criação de grupos de jovens nas comunidades.

Cada vez mais eles/elas ganham espaços nos de-bates de decisões dentro das comunidades, um avanço muito satisfatório dentro do diálogo entre líderes comu-nitários. Freire (1996) ressalta a importância do silêncio no espaço da comunicação, quando envolvemos essa questão do jovem no seu meio, na conquista de seu es-paço, pois quem ouve como sujeito e não como objeto, a fala de quem comunica, virando linguagem e de outra forma, torna possível a quem fala escutar a indagação, a dúvida e a criação de quem escutou. Assim, para Freire (1996) o diálogo nesses meios de debates só é possível quando se dá espaço à resposta para construção das ex-periências.

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Essa metodologia teoria-prática, através do diálogo aberto entre jovens os/as agricultores/as, possibilitando a abordagem de temas sociais, de gênero, e políticas públicas de que trata a proposta de convivência com o semiárido.

Objetivou-se observar neste estudo as questões li-gadas à juventude rural em cima do dilema “ficar ou sair do campo” de quatro municípios do Cariri cearense.

PERCURSO METODOLÓGICO A metodologia da pesquisa baseia-se no conheci-

mento popular por meio de entrevista e avaliação visual, com o envolvimento de mais de 124 famílias com par-ticipação de 132 jovens com idades variando entre 14 a 29 anos, em 26 comunidades rurais.

As comunidades foram selecionadas em quatro municípios: Crato; Cariri Central, Nova Olinda; Cariri Leste, Santana do Cariri e Milagres; Cariri Oeste, sen-do essas escolhidas por representar tanto o projeto de ATER, como também, permitiu uma pesquisa diversifi-cada do Território da Cidadania do Cariri cearense.

Os dados qualitativos buscaram comparar as vivên-cias da juventude na atual conjuntura da zona rural. As comunidades estudadas são beneficiadas com políticas públicas de convivência com o semiárido, que frisam bons resultados na preservação do meio ambiente, no ge-renciamento dos recursos hídricos, segurança alimentar

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e geração de renda através das produções dos quintais, questão social dos jovens e suas relações com a sociedade.

Para primeira coleta de dados, foram aplicadas fichas para seleção das comunidades e das famílias que fizeram parte dos projetos de Assistência Técnica Rural - ATER e Políticas Públicas de convivência com o semiárido.

As informações das fichas e critérios adotados para seleção das comunidades e das famílias foram: (I) Dados pessoais (Nome, idade, quantidade de pessoas morando na casa, escolaridade), tipo de moradia (casa de taipa ou alvenaria), renda familiar, endereço etc.; (II) Quantida-des de jovens inseridos na família com idades de 14 a 29 anos; (III) Possuir água para produção ou tecnologia social de produção (cisterna de placas); (IV) Situação da terra (posseiro/a, arrendatário/a ou proprietário/a), ta-manho (tarefas ou hectares), culturas plantadas, criações de animais, entre outros aspectos da propriedade; (V) Participação em capacitações; (VI) Acesso a outras po-líticas públicas.

Os principais métodos de coleta de dados empre-gados nas atividades de campo foram as entrevistas, os questionários e as análises visuais e/ou fotográficas. Esses questionários denominados de Diagnóstico Participati-vo Familiar (DPF) podem ser interpretados como uma tentativa de maximizar as coletas de informações da ju-ventude em seu envolvimento com as atividades rurais, buscando uma relação ao conhecimento da realidade, especialmente quando envolve a realidade socioeconô-

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mica e ambiental desses jovens em suas comunidades e municípios.

O trabalho utilizou o método da triangulação que pode combinar métodos e fontes de coleta de dados qualitativos e quantitativos (entrevistas, questionários, observação e notas de campo, documentos, além de outras), assim como diferentes métodos de análise dos dados: análise de conteúdo, análise de discurso, méto-dos e técnicas estatísticas descritivas e/ou inferenciais etc. Seu objetivo é contribuir não apenas para o exame do fenômeno sob o olhar de múltiplas perspectivas, mas também enriquecer a nossa compreensão, permitindo emergir novas ou mais profundas dimensões. Ela con-tribui para estimular a criação de métodos inventivos, novas maneiras de capturar um problema para equili-brar com os métodos convencionais de coleta de dados (DUARTE, 2009).

Para cada DPF coletou-se as assinaturas de atesto de participação na pesquisa com a disponibilidade da livre publicação de falas e dados coletados de cada caso estudado.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO estudo nos municípios envolvidos destaca repre-

sentações dos jovens agricultores nas três partes do ter-ritório da cidadania do Cariri cearense; Oeste, Centro e Leste. O que nos permitiu um bom diagnóstico sobre as ações, e que tratou de fato a construção das identidades

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desses jovens, tal como elas se mostram com suas arti-culações nos “modos de ser, de sentir e de se represen-tar” nesse novo fazer agroecológico. A partir dos depoi-mentos e “observação participante” foi possível verificar como a juventude está cada dia em dinâmica com seu seio familiar e no ambiente rural, atribuindo cada vez mais sentido às suas vidas mediante os cruzamentos de expectativas e frustrações.

Quando nos referimos ao ambiente familiar dos jovens favoráveis a permanência no campo, várias são as questões que envolvem a dimensão do papel social, a relevância de ser homem ou mulher de bem, íntegro/a. A família exerce uma função educativa que está muito além da dimensão exclusivamente produtivo-econômi-ca, pois tem no presente o projeto de reprodução fa-miliar. O seio familiar exerce influências sobre ações de todos os membros, em todas as decisões dos mesmos e, em geral, refletem nas estratégias de decisão buscando a perpetuação da unidade doméstica (LENOIR, 1998).

A participação direta e os avanços nas produções diversificadas agrícolas e não agrícolas na zona rural, em todos os aspectos, semeia importantes visões na juven-tude, gerando opiniões e reflexões sobre seu papel na sociedade e nas suas perspectivas de permanência no campo. A panorâmica da comunidade na antiga con-cepção destaca-se a devastação das matas, uso do fogo e a degradação do solo, ano após ano, é a mesma cultura agrícola que faz presente. A observação através do envol-

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vimento dos jovens à frente dos projetos comunitários é, de fato, o ponto importante e impacta uma mudança repentina de opinião dos atores envolvidos e no cenário da comunidade.

A juventude dos municípios de Milagres e Crato se mostraram bem mais envolvidos nos projetos exe-cutados na sua comunidade e são atores principais no fomento de ações que envolvem a preservação do meio ambiente e produção de alimentos mais saudáveis. Nos dados e depoimentos coletados, esse fato está inteira-mente relacionado com o grau de instrução dos pais, ou seja, as famílias em que tiveram um estudo ou capa-citações formativas de opiniões estão incentivando seus jovens a participarem mais das atividades comunitárias.

A fala do agricultor Zé Abílio, no sítio Oitis em Milagres-CE, marca uma reflexão que ajuda a entender o caminho para incentivar seus filhos e filhas a sentir essa atração pela permanência no campo:

[...] tudo que nasce na terra e para ficar na terra, a vegetação em volta à minha casa segura o molhado da terra por mais tempo, minhas cabras estão gor-dinhas e minhas galinhas estão pondo bastante [...] quando quero mel, vou ali em minha abelhas. [...] quando quero uma fruta vou lá e pego no pé de laranja, goiaba, banana, limão e até coco [...] quan-do preciso de uma estaca tem as de sabiá ou faço uma poda nas outras que estão maiores [...] fogo na minha terra faz tempo que não uso. Minha horta estou plantando de tudo, pois a diversidade é que o segredo. Até minha água que sai da pia serve para aguar minhas canas caianas e fitas [...] sim, e tudo

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que produzo uma parte fica em casa, outra parte eu levo para feira da ACB em Milagres e ainda estou vendendo aqui na comunidade [...] e quando tenho um tempo chamo amor (a esposa) e os parentes para uma voz de violão [...].

A devida atenção em relação a esse “quero ficar no campo” que resgata um olhar de esperança sobre os avanços na zona rural. Segundo Silva (2006), a dimi-nuição da dependência afetiva/decisória dos jovens se dá paralelamente a uma maior “autonomia de circulação”, isso revela a existência de uma nova visão sobre seu meio.

Nas opiniões fornecidas nas entrevistas, o jovem conquista um papel de destaque no processo decisório à medida que se envolve mais intensamente nas atividades dos projetos da comunidade em suas várias etapas.

Foi observada uma valorização da opinião (que tem o caráter de recomendação técnica) dos jovens. No campo político e ideológico, a experiência participati-va possibilitou uma dinâmica de autorreconhecimento dos jovens em sua identidade, enquanto agricultores se identificavam como agricultores e filhos de agricultores.

Entre esses jovens foi despertado um sentimento de valorização do meio rural e dos saberes dos pais. A opção pela continuidade do estudo é a expectativa mais forte da maioria dos envolvidos, vem por meio de melhorar cada vez mais o seu meio de convivência e permanência no campo. Isso mostrou o bom desempenho das relações e das entrevistas participativas de todos/as envolvidos/as.

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Para Passador (2006), quando tentarmos entender como a experiência participativa dos pais na conjuntura rural se reflete na formação dos jovens, observou que as influências mudam conforme quem as descreve. Exemplo disso ocorre quando os pais falam das influências da for-mação técnica/universitária, mas muitas vezes, eles repu-diam sua própria atividade como última opção para seu filho, sendo que essa influência é transformada inversa-mente pelo próprio entendimento dele sobre a realidade.

É importante assinalar que para os que não que-rem ficar no campo, em dados coletados na comunidade Catolé no município de Santana do Cariri e sítio Sol-zinho em Nova Olinda, frisaram algumas conjunturas culturais de resistência à mudança e de incertezas sobre a tensão entre ficar e sair do campo. Isso apareceu como uma espécie de “disputa” não revelada, mas que pôde ser caracterizada, muitas vezes, pelo desinteresse por parte dos pais na continuidade dos filhos no próprio campo. Sendo que, em determinadas áreas do rural, esteve mais presente entre os pais com pouca escolaridade e dos que não participam dos projetos envolvimento comunitário e de assistência. Esses revelaram o seguinte raciocínio:

[...] Sofremos muito no campo, não quero essa vida para meu filho [...]. Ou entre os filhos (jovens) que abandonaram a zona rural:[...] se meu pai ou minha mãe sofreram tanto aqui, então devo buscar outro caminho [...]. Ou entre alguns jovens que nunca mi-graram, mas que também não conseguiram avançar nos estudos, em que se observa o sentimento mútuo de vergonha entre pais e filhos. Como no dizer de uma mãe: [...] meu filho não dá para os estudos [...].

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Isso ocorreu com alguns agricultores entre 25 a 29 anos, que não aceitaram participar dos projetos na comunidade, mas aceitaram participar do estudo em questão.

Em outro contexto, mas na mesma sequência de “sair do campo”, para alguns jovens a saída para estudar constitui-se em projeto para ascensão financeira e profis-sional. Alguns parecem perceber que o trabalho na terra da família não tem condição de gerar o dinheiro necessá-rio para o investimento numa mudança de atividade. É preciso estudar fora, conseguir um emprego para inves-tir na terra. Muitas vezes essa estratégia é compartilha-da com os pais. Esses, por outro lado, apresentam certa frustração, pois o que de fato almejam é ter a família reunida (estratégia de recomposição).

Seria oportuno e urgente investigações mais apro-fundadas sobre o desempenho de projetos, por exemplo, em diferentes regiões de um mesmo estado, de tal sor-te que se refletisse sobre o “sucesso” e o “insucesso” em determinadas localidades, com vistas a uma análise dos “alfabetizados” que estão sendo gerados no Brasil e os alfabetizados que não estão; assim como pensar projetos vinculados a iniciativas sociais e tecnológicas, a escola e a família, uma vez que em regiões como a que foi estuda-da ou que sejam pouco desenvolvidas (socioambiental), econômico e a educação informal tem um grande peso para o encaminhamento dos estudos.

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CONSIDERAÇÕES FINAISAo refletirmos sobre o papel dos jovens na unidade

familiar, vimos que não existem papéis prontos e/ou aca-bados, mas papéis que estão sendo ou que podem vir a ser, conforme as expectativas dos sujeitos. Constatou-se, ainda, que os jovens rurais nos municípios de Santana do Cariri, Nova Olinda, Crato e Milagre, sobretudo aqueles cujas trajetórias de vida se dão entre o rural e o urbano, estão vivendo experiências de elaborar e reela-borar práticas, valores dos dois universos culturais.

Para os que pretendem “sair do campo”, como ob-servamos em alguns casos, os jovens estão sendo agri-cultores num contexto de instabilidade, de não identifi-cação com a identidade rural. Não podemos pensar em influências dos pais como se elas existissem por si mes-mas. As influências emergem de interações com outros aspectos, seja da estrutura familiar, seja das condições socioeconômicas do meio envolvente, das relações so-ciais, dentre outros.

Enfim, com a influência das políticas públicas e ar-ticulação das ONGs nas comunidades rurais do Cariri cearense, em conjunto com vários parceiros da socieda-de civil vêm transformando o “Sair do Campo” em uma perspectiva de vida cada vez mais digna e valorizada, buscando meios sustentáveis de permanência no campo.

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REFERÊNCIAS

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TERRITORIALIZAÇÃO E MATRICIAMENTO EM SAÚDE

COLETIVA: PROCESSO DE TRABALHO ECOSSISTÊMICO COM BASE NA

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO

Lívia Monteiro RodriguesNara Juliana Santos Araújo

Valmir Wanderson Tomé da SilvaEdilma Gomes Rocha Cavalcante

Alissan Karine Lima MartinsFrancisco Elizaudo de Brito Junior

INTRODUÇÃOA Atenção Primária à Saúde (APS) constitui-se

no sistema público de saúde, como principal porta de entrada dos usuários, assumindo, assim, a coordenação do cuidado, responsabilizando-se por um conjunto de ações de caráter individual e coletivo voltado para pro-moção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tra-tamento e reabilitação.

Nesse sentido, destaca-se o caráter estruturante que a APS tem na constituição das Redes de Atenção à Saúde (RAS), visto que, segundo Mendes (2011), as RAS dependem que a APS seja efetiva desde o primeiro contato, assumindo particularidades como a integrali-dade, coordenação, centralização na família, orientação

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comunitária, como também exercendo as funções de responsabilização, coordenação dos fluxos e resolução dos problemas da população.

Contudo, apesar de mostrar-se fundamentada nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), o modelo de gestão da oferta de serviços na APS, tem se mostrado deficitário, por ter seu foco na oferta de serviços e não nas necessidades de saúde da população, onde ela resume-se a uma soma de indivíduos sem vín-culo e responsabilização dos profissionais com os usuá-rios (CEARÁ, 2017).

Assim, para que ocorra o fim desse modelo, é ne-cessário que um novo processo de trabalho se estruture a partir do conceito de promoção da saúde da população vinculada a APS, reforçando, assim, alguns macropro-cessos básicos como territorialização, cadastramento de famílias, classificação de risco, onde torna-se possível a identificação dos determinantes individuais, biopsicos-sociais, como também a estratificação de risco das con-dições crônicas, envolvendo, então, intervenções sobre os determinantes sociais da saúde (CEARÁ, 2017).

Partindo do conceito de território que se configu-ra no espaço geográfico que agrega tanto o espaço fí-sico como características socioeconômicas, ambientais, culturais e de vida das pessoas, fica clara a importância de explorá-lo na APS, visto que este é o cenário onde serão desenvolvidas as atividades da estratégia de saúde da família (ESF) e proporciona a caracterização da po-

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pulação e seus problemas de saúde, bem como permite a compreensão do contexto social, econômico, político, cultural e ideológico (MATOS, et al., 2013).

Assim, a territorialização permite a identificação de prioridades em saúde através da compreensão dos deter-minantes sociais do processo saúde-doença, avançando, desse modo, na efetivação de uma atenção programada e sustentável, voltada para as necessidades de saúde da população (TEIXEIRA; PINTO, 1993).

Reconhecendo o quanto as condições de vida e trabalho dos indivíduos e grupos populacionais relacio-na-se com sua situação de saúde, torna-se relevante um conhecimento mais aprofundado sobre os Determinan-tes Sociais de Saúde, que são fatores exatamente através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que estes podem ser modificados por meio de ações baseadas em indicadores de vigilância em saúde (BUSS; PELLEGRI-NI FILHO, 2007).

Na perspectiva de um melhor conhecimento so-bre o território, determinantes, condicionantes sociais e ambientais como estes influenciam no desenvolvimento dos agravos de saúde da população, surgem novos mo-delos epidemiológicos de abordagem ecossistêmica asso-ciados a geotecnologias com a finalidade de reconhecer indicadores e estabelecer prioridades em saúde no con-texto da atenção básica.

Diante do exposto, propomos um modelo para reorganização do processo de trabalho em vigilância à

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saúde no âmbito da atenção básica, tendo como referên-cia o trabalho das equipes de estratégia da saúde da famí-lia e seus territórios adscritos, com o intuito de instituir uma atenção programada voltada para as prioridades de saúde da comunidade. Esse modelo parte da territoriali-zação e classificação de risco dos sistemas familiares, com a construção de mapas georeferenciados e geoprocessa-dos discutidos por grupos de trabalho intersetoriais, onde são elencadas as prioridades de cada território, a partir das quais são construídas matrizes ecossistêmicas de dados e indicadores conforme a metodologia propos-ta pela OMS (modelo FPEEEA). A partir desse modelo são estruturados planos de trabalho com o planejamen-to de intervenções que possam suprir as prioridades na atenção à saúde da comunidade.

Para fortalecer o arcabouço teórico do tema aborda-do no presente trabalho, faz-se necessário levantar jun-to à literatura, definições e especificações importantes sobre os temas: Determinantes Sociais em Saúde, Indica-dores em Saúde, Modelo Ecossistêmico e Matriz FPEEEA.

ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO ECOSSISTÊMI-CO EM SAÚDE

Entende-se ecossistema como sendo uma comuni-dade de organismos que interagem e mantêm relações entre si e que são capazes de construir redes de convi-vência harmoniosa. Esse conceito também é aplicável ao

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espaço/território de práticas ecológicas urbanas (SAN-TOS, et al., 2009).

É consenso bem difundido que os fatores am-bientais afetam a saúde humana. Essa é uma demanda complexa que necessita de uma integração de disciplinas para sua compreensão completa, e precisa de profissio-nais completos, capazes de promover corretamente essa integração, avançando na transdisciplinaridade e esti-mulando a prática de estudos com abordagens ecossis-têmicas (WEIHS; MERTENS, 2013).

O conceito epidemiológico clássico parte da ideia de que para cada doença existe um agente específico (unicausal). Este princípio foi útil para prevenção e tra-tamento de doenças. Porém, o aumento na complexida-de do modo de vida, das relações sociais e de trabalho exigiu a necessidade de ampliação do entendimento do processo saúde-doença fortalecendo as teorias multicau-sais, onde fatores ambientais e sociais são indispensáveis na análise epidemiológica. Nesse contexto, a ideia de causa é substituída pelo conceito de fator de risco.

A multicausalidade passa a ser entendida como uma rede de causalidade, sob uma perspectiva mais ampla e abrangente da relação saúde-doença, acolhen-do fatores sociais e ambientais mais complexos e, com isso, dando origem a uma concepção ecossistêmica para a vigilância epidemiológica (AUGUSTO et al., 2014).

É no âmbito das comunidades, usualmente, que a dimensão ecossistêmica do setor saúde é percebida com

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maior clareza, na forma dos binômios: saúde-saneamen-to, saúde-ambiente, saúde-economia e saúde-sustenta-bilidade. A saúde, nesta perspectiva, está diretamente relacionada à problemática do acesso à água e ao sanea-mento; à saúde dos trabalhadores; ao manejo sustentável dos resíduos sólidos; às condições de habitação; ao uso e ocupação do território; ao controle dos riscos de saú-de relacionados com o ambiente e à condição de vida e hábitos relacionados ao estilo de vida individual (GRI-SOTTO, 2011).

O paradigma ecológico sugere que o estudo inte-grado dos determinantes socioambientais, econômicos, institucionais e políticos – e, com efeito, da distribui-ção geográfica das doenças, dos fatores etiológicos e so-cioambientais – é de grande relevância para as ações de vigilância à saúde, planejamento intersetorial e proposi-ção de estratégias para promoção da saúde no contexto dos territórios.

Estudos dessa natureza baseiam-se na transdiscipli-naridade, na participação social e na igualdade de gêne-ro. São frutos da inquietação prática e conduzem a uma estratégia integrativa (GOMÉZ; MINAYO, 2006). Eles denotam a importância do trabalho social a ser desen-volvido junto com a comunidade, apoiando-se em ações coletivas, nas trocas entre pessoas, no convívio, no res-peito e no cuidado (WEIHS; MERTENS, 2013).

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DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDEAs condições socioeconômicas influenciam decisi-

vamente na saúde da população e são responsáveis por grande parte das condições que afetam a vida humana durante todas as suas fases. Essas condições são agrupa-das em fatores que são chamados de determinantes so-ciais de saúde e possuem importância variável na análise de saúde. É essa diferença de importâncias que geram a estratificação social e demonstram a necessidade de tratamentos distintos para os indivíduos (CARVALHO, 2003).

No Brasil, a Comissão de Determinantes Sociais em Saúde (CNDSS), utiliza os determinantes sociais como base para a realização de estudos para o combate à iniqui-dade. Estes estudos devem ser baseados na conscientiza-ção e na mobilização social, de forma que obriguem os diversos setores do governo a fazerem parte do processo. O modelo de estudo adotado pela CNDSS é o modelo de Dahlgren e Whitehead (Figura 1), elaborado em 1991. A escolha deve-se a fatores como a sua simplicidade e facilidade de compreensão. Esse modelo é disposto em camadas, que representam desde os determinantes indi-viduais, até os macrodeterminantes. (BRASIL, 2008a).

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Figura 1: Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (1991)

Fonte: Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais em Saúde

CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE IN-DICADORES EM SAÚDE

Definimos indicadores sociais como instrumentos que organizar, sintetizar e utilizar informações, úteis ao planejamento, ao estabelecimento de metas e ao con-trole do desempenho, viabilizando, assim, a análise de decisões estratégicas e a tomada de decisão (KLIGER-MAN, et al., 2007).

A construção de um sistema de indicadores é es-sencial para a vigilância à saúde e, principalmente, numa perspectiva ecossistêmica. Os indicadores subsidiam o processo de definição de estratégias e prevenção de controle de riscos, bem como de promoção de saúde. Eles devem voltar-se para aspectos específicos de políti-

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cas (OLIVEIRA; FARIA, 2008). Essa construção varia desde uma contagem direta de fatores até o cálculo de proporções, de taxas e de índices sofisticados como a ex-pectativa de vida ao nascer de um indivíduo (SOARES, et al., 2005).

Os indicadores são classificados em seis subconjun-tos temáticos: demográficos, socioeconômicos, mortali-dade, morbidade e fatores de risco, recursos e cobertura. Cada um é caracterizado na matriz pela sua denomi-nação, conceituação, método de cálculo, categorias de análise e fontes de dados e sua qualidade dependem da qualidade dos componentes usados em sua formulação e da precisão do sistema empregado. Sua excelência é definida por sua validade, confiabilidade, sustentabili-dade, mensurabilidade, custo-efetividade e relevância (BRASIL, 2008B).

MATRIZ FPEEEAPinto e colaboradores (2012) definem a matriz

FPEEEA como sendo uma ferramenta que analisa pro-blemas originados na relação saúde/ambiente/trabalho e que identifica indicadores e propõe ações que possam resolver os problemas identificados. O modelo consiste da construção de uma matriz, em seis estágios que são a força motriz, a pressão, a situação, a exposição, o efeito e a ação e tem como precursores os modelos PER (pres-são-estado-resposta) e o PIER (pressão-estado-impacto-

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-resposta) muito utilizados anteriormente (OLIVEIRA; FARIA, 2008).

O Ministério da Saúde do Brasil, utiliza esse mode-lo para desenvolver estratégias de vigilância ambiental. Ele auxilia o gestor a conseguir uma visão macro para iniciar o processo produtivo até os efeitos no indivíduo (QUINTINO, 2009).

Entre as vantagens que o modelo apresenta, uma das mais importantes é o fato dele permitir flexibilida-de para análise de inter-relações dos diferentes níveis da matriz e ao mesmo tempo, incorpora indicadores de saúde na avaliação ambiental (BRASIL, 2011).

O modelo aqui descrito apresenta algumas limita-ções. A principal delas é relacionada à utilização do mé-todo em si, tendo em vista que a falta de familiaridade com o mesmo pode levar o mediador a conduzir o grupo de forma errada e gerar uma construção inadequada de problemas e indicadores (QUINTINO, 2009).

METODOLOGIATrata-se de um relato de experiência da aplicação

de um modelo ecossistêmico de vigilância em saúde na atenção básica, por meio da territorialização, classifica-ção de risco familiar e construção participativa de matri-zes ecossistêmicas e indicadores.

A área de estudo do presente trabalho foi o mu-nicípio do Crato-CE. Ele situa-se na microrregião do

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Cariri e é a segunda cidade mais importante da mesma. Possui uma população estimada em aproximadamente 130 mil habitantes. Destaca-se no comércio e na agri-cultura (MENDONÇA, 2017). Possui uma ampla rede de saúde composta por hospitais, clínicas, laboratórios e unidades básicas de saúde distribuídas em pontos estra-tégicos de sua extensão. Dentre os programas de qualifi-cação de profissionais de saúde, pode-se citar a Residên-cia Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universida-de Regional do Cariri (URCA).

A residência é um programa de Pós-Graduação latu sensu caracterizada por ensino em serviço. Ela é desen-volvida em parceria com gestores e trabalhadores dos serviços de saúde do município e conta com a colabora-ção de componentes do corpo docente da Universidade. Tem como objetivos principais o aperfeiçoamento pro-gressivo do padrão profissional e científico dos residen-tes e a melhoria da assistência à saúde da comunidade nas áreas profissionalizantes.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ECOSSISTÊ-MICA: PROCESSO DE TRABALHO

Os discentes do Programa de Residência em Saú-de Coletiva da URCA realizaram, em parceria com as Unidades Básicas de Saúde onde estão desenvolvendo suas atividades, um processo de trabalho epidemiológi-co de caráter ecossistêmico, a partir da territorialização

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associada ao georreferenciamento, seguido de uma es-tratificação e classificação de risco familiar e o posterior desenvolvimento de matrizes ecossistêmicas de dados e indicadores (Figura 2).

Figura 2. Representação esquemática da metodologia

Fonte: elaboração própria

O processo de territorialização deu-se mediante re-união prévia com os membros da equipe da Estratégia em Saúde da Família, que com ajuda de mapas dispo-nibilizados na base Google Earth Pro, demarcaram os limites do território que foi posteriormente visitado para identificação das unidades de sistemas familiares e equi-pamentos sociais, de lazer e de saúde. Os dados obtidos foram agrupados de forma a montar um mapa estático, que serviu como base para traçar as estratégias das próxi-mas etapas da metodologia.

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Paralelo a esse processo, utilizou-se da ferramenta do georreferenciamento para a localização espacial dos determinantes identificados e que possibilitou a confec-ção de um mapa dinâmico, com informações sobre o território. O termo georreferenciamento refere-se a uma tecnologia que utiliza técnicas matemáticas e computa-cionais para o tratamento da informação geográfica. No âmbito da saúde, tem sido importante para investigar e sugerir hipóteses de causalidade. Os estudos de agravos em saúde se enriquecem com esse tipo de descrição, po-dendo fornecer informações fundamentais para a com-preensão, previsão, busca etiológica, prevenção e moni-toramento de doenças e avaliação do impacto de inter-venções em saúde de uma população (CAVICCHIOLI NETO et al., 2014).

Na etapa de estratificação do risco familiar foi uti-lizado um questionário para coleta de dados das famílias do território adscrito das equipes de ESF. Este instru-mento foi composto por uma parte para agrupar dados socioeconômicos e outra com dados de condições clí-nicas relacionadas aos membros das famílias em todas as faixas etárias. Ele foi acompanhado de um protocolo operacional padrão que possui os códigos referentes a todas as informações a serem registradas e a pontuação a ser atribuída para cada condição, e de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi assinado pelo entrevistado, a quem foi cedida uma cópia. Os da-dos obtidos pelos questionários permitiram a identifica-ção do grau de risco familiar.

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Para modelagem das matrizes, foram realizadas ofi-cinas com os residentes, ministradas por tutores da Uni-versidade Regional do Cariri, objetivando uma melhor compreensão do processo, em seguida houve a formação do grupo focal para apresentação do perfil epidemioló-gico para com isso apontar as prioridades e, finalmente, elaborar as matrizes a serem apresentadas à gestão atra-vés de um seminário intersetorial.

RESULTADOSO estudo foi baseado na experiência realizada na

cidade de Massaranduba-SC (BOGER et al., 2007). Os idealizadores do projeto utilizaram um instrumento de classificação de risco construído pelas redes de saúde lo-cal e composto por fatores socioeconômicos e clínicos que receberam pontuações que classificam a família con-forme o risco que elas apresentam.

O referido instrumento foi adaptado para ade-quar-se à realidade do território a ser analisado. Entre as modificações realizadas pode-se citar: a inclusão de uma análise referente a condições crônicas presentes na sociedade e a avaliação de ocorrência de arboviroses. A renda familiar foi atualizada com base na definição do banco mundial (EBC, 2017) que estabelece a linha de pobreza ou hipossuficiência constituída por pessoas que vivem com renda mínima inferior a US$ 1,25 por dia. Esse valor foi convertido para reais e o divisor de linha

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de pobreza adotado no presente trabalho ficou definido como R$ 125,00/mês.

No aspecto socioeconômico foram avaliados fato-res que coloquem a família em situação de risco, como: a escolaridade do cuidador, a renda, a qualidade da água e o tipo de destinação de dejetos humanos. Nos aspectos clínicos foram englobadas condições clínicas diversas de risco elencadas de acordo com a faixa etária dos indi-víduos em grupos de crianças, adolescentes, adultos e idosos.

A classificação das famílias foi realizada com base na pontuação obtida após o preenchimento do questio-nário, que na primeira parte é representada pelos fatores socioeconômicos e foi atribuída da seguinte maneira: 0 para nenhum fator de risco, 1 para um fator de risco, 2 para dois ou três fatores de risco e 3 para quatro fatores de risco socioeconômico. Nos fatores clínicos, a pontua-ção obedeceu aos seguintes critérios: 0 para nenhuma condição, 1 para famílias em que apenas um compo-nente tem uma condição clínica, 2 para famílias no qual dois ou mais componentes têm uma condição clínica e 3 para famílias onde um ou mais componentes têm, concomitantemente, duas ou mais condições clínicas.

Para avaliação do resultado final somou-se os fato-res socioeconômicos e os clínicos e a classificação obede-ceu à pontuação final que variou de 0 a 6, definida da seguinte maneira: 0-sem risco, 1-baixo risco, 2 a 3- mé-dio risco, 4 a 5- alto risco e 6- altíssimo risco.

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No processo de estratificação, as informações foram agrupadas em categorias e depois tabuladas. A primeira categoria foi a de informações gerais sobre os partici-pantes, onde se registraram a quantidade de membros de cada família, as porcentagens de sexo masculino e fe-minino, a idade, a escolaridade e a profissão. A segunda categoria de análise foi composta pelos determinantes socioeconômicos, onde se avaliou a percentagem de fa-mílias que recebe auxílio do programa Bolsa Família, a renda geral e a renda per capita, a escolaridade do cui-dador da família e a qualidade de água e esgoto do do-micílio. A terceira categoria foi composta pela análise de critérios clínicos que foram subdivididos de acordo com a faixa etária (criança, adolescente, adulto e idoso). Essa categoria foi seguida pela análise de outras patologias. Esse segundo grupo refere-se a situações clínicas que não constavam no instrumento e que foram menciona-das durante a entrevista. A última categoria de estudo é destinada à quantificação de casos de arboviroses que ocorreram nos últimos dois anos dentro do território.

Além dessas categorias, as famílias foram agrupadas conforme o risco que apresentavam. Essa informação foi adicionada ao mapa do território em que constam o número da casa, o número de cadastro da família na unidade de saúde, o risco que a família apresenta, repre-sentando pela cor e quais os preditores que levaram à identificação desse risco.

Os mapas foram construídos no programa de Google Earth®. Os dados nele inseridos constavam de informações

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cartográficas georreferenciadas pelo aplicativo de celular SW MAPS®. O mapa elaborado é dinâmico, inteligente e passível de modificações. Muller e colaboradores (2010) definem o Sistema de Informação Geográfica (SIG) como uma ferramenta de processamento de dados que permite a captura, o armazenamento, a manipulação, a análise, a demonstração e o relato de dados referenciados geograficamente.

No mapa, pode-se encontrar o número do cadastro da família, compatível com o que consta na unidade de saúde, o risco que ela está sujeita e os preditores que originaram esse risco.

O processo de elaboração das matrizes se deu nas seguintes etapas: definição de um grupo de trabalho composto por membros da Estratégia de Saúde da Famí-lia, atores sociais (membros do conselho local de saúde e/ou moradores influentes do território) e os membros da residência, com número de participantes variando entre 10 e 20 pessoas. Após a formação do grupo, foi organizada uma apresentação com todos os dados ob-tidos na estratificação de risco das famílias e com base nos resultados apresentados, prioridades em saúde fo-ram elencadas evidenciando os determinantes sociais e clínicos responsáveis pelo risco.

Em seguida, foram selecionadas as problemáticas para elaboração da matriz ecossistêmica (Figura 3), ten-do como metodologia o modelo FPEEEA da OMS. O grupo de trabalho de construção da matriz elencou os

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determinantes que foram organizados e distribuídos nos níveis de complexidade, conforme o modelo FPEEEA, a saber: Forças Motrizes (FM); Pressão (P); Estado/Situa-ção (Es); Exposição (Ex) e Efeitos (E).

Depois de selecionados e dispostos na matriz, os determinantes foram descritos e analisados, e também foram relacionadas ações de atenção e vigilância para controle da ocorrência dos agravos.

Os dados obtidos durante a pesquisa, desde a análise individual de informações até a classificação de risco fami-liar e matrizes elaboradas, foram apresentadas e discutidas num seminário intersetorial de pactuação de ações, que objetiva o planejamento intersetorial junto à Secretaria de Saúde Municipal de Saúde e demais setores da admi-nistração municipal acerca da realidade das áreas estuda-das e firmar parcerias para a realização das intervenções. As intervenções junto aos mecanismos de estratificação social são de grande importância para ajudar no comba-te às iniquidades em saúde, listar e aplicar políticas que sejam capazes de diminuir os diferenciais de exposição a riscos (BRASIL, 2008a).

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Figura 3. Representação esquemática da Matriz FPEEEA/OMS

Fonte: OMS(1994)

CONSIDERAÇÕES FINAISCom vista aos novos processos de qualificação da

atenção à saúde, o modelo desenvolvido neste estudo ganha uma maior visibilidade visto que tudo o que foi realizado apresenta um alinhamento com as políticas de saúde atuais, como exemplo, o QualificaAPSUS, que objetiva, prioritariamente, a qualificação da Atenção Primária à saúde, reorganizando o modelo de atenção dando ênfase a alguns processos básicos, como a territo-rialização, cadastramento e diagnóstico local.

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O modelo utilizado, FPEEEA (OMS), visto como modelo ecossistêmico e de planejamento participativo, permite a contribuição dos atores sociais como forma de revelar a problemática que vivenciam, dá subsídio para a contextualização das relações entre meio ambiente e saúde, possibilita intervenções no âmbito da promoção da saúde e prevenção de doenças, abrangendo todas as dimensões.

No entanto, trata-se de um estudo com muitos desafios a enfrentar, visto que relata uma experiência pioneira no sentido de associar territorialização, classi-ficação de risco das famílias e geotecnologias no âmbito da saúde. Concomitantemente, tem muito o que acres-centar, uma vez que esse modelo elabora indicadores a partir de determinantes sociais e se apresenta como fon-te para elaboração de ações de vigilância em saúde.

Sob um olhar ecossistêmico, outro ponto a ser en-fatizado é a intersetorialidade, pois ao serem identifica-das as prioridades em saúde de uma forma abrangente, é possível trabalhá-las de forma a propiciar o comparti-lhamento de ações e saberes.

Experiências como esta podem contribuir na ela-boração de políticas públicas na saúde uma vez que per-mitem o conhecimento dos agravos que afetam as pes-soas e possibilitam que as ações sejam programadas para o que realmente necessita de intervenção.

Espera-se que este estudo possa estimular no-vas pesquisas mais aprofundadas, e contribua para dar

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maior visibilidade a experiências como esta que vêm cada vez mais explorando as relações entre saúde hu-mana, ambiente e trabalho, subsidiando conhecimento para definição de prioridades em saúde e intervenções efetivas de atenção, promoção da saúde e prevenção de agravos como também intervir nos causadores de danos ambientais.

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202Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

INTERFACE ENTRE AMBIENTE, PROMOÇÃO DA SAÚDE E

SUSTENTABILIDADE NOS CURSOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE

Antonia Priscila PereiraSamyra Paula Lustoza Xavier

Maria de Fátima Antero Sousa MachadoMaria Rosilene Cândido Moreira

INTRODUÇÃOÉ crescente a inclusão do tema sustentabilidade nas

discussões em todo o mundo e, especialmente, no am-biente de formação das profissões, pode ser compreendi-do como um novo paradigma a ser implementado para a valorização do trabalho e do trabalhador (CIRINO, 2014). Nesse sentido, compreende-se que a sustentabi-lidade deve ser o objetivo comum, que reúne esforços e ações de todos em prol de um mundo melhor, podendo constituir uma estratégia curricular formadora de atitu-des por parte dos profissionais que a praticam, na dire-ção do bem-viver.

No cenário mundial, as discussões em torno do Desenvolvimento Sustentável, provocadas pela Orga-nização das Nações Unidas (ONU), resultaram em um documento intitulado Agenda 2030, na qual foram elencados 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentá-

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203Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

vel (ODS), dispostos em 169 metas que versam sobre o fim da pobreza e da fome; promoção da vida saudável; educação inclusiva e de qualidade; igualdade de gênero e empoderamento; trabalho digno; redução das desigual-dades e preservação da biodiversidade. Esses objetivos estimularão a ação de vários países em áreas de impor-tância crucial para a humanidade e para o planeta nos próximos 15 anos (ONU, 2016).

No Brasil, tais assuntos foram inicializados durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre De-senvolvimento Sustentável (CNUDS) ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992, conhecida como Cúpula da Terra, quando inseridos diretamente na agenda pública do país. Mais recentemente, foi realizada a Conferência denomi-nada de Rio+20, ocorrida vinte anos depois, objetivando identificar os progressos alcançados e os novos desafios para a promoção do desenvolvimento saudável e susten-tável (BRASIL, 2011; CNUDS, 2012). Nessa direção, a Rio+20 abordou o reconhecimento de que a saúde é condição sine qua non para o desenvolvimento econô-mico, social e ambiental do indivíduo e da coletividade, realçando que políticas de proteção, promoção e atenção à saúde representam prioridade para a sustentabilidade no cenário nacional e internacional (BRASIL, 2011).

Com efeito, a Promoção da Saúde, enquanto polí-tica transversal, integrada e intersetorial, na qual é pos-sível articular sujeito/coletivo, público/privado, estado/sociedade, clínica/política, setor sanitário/outros setores, emerge como estratégia fundamental para o desenvol-

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204Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

vimento saudável e sustentável, priorizando, entre suas diretrizes, a formação e a educação permanente para ampliar o compromisso e a capacidade crítico-reflexiva dos gestores e trabalhadores de saúde, bem como o in-centivo ao aperfeiçoamento de habilidades individuais e coletivas, voltando-se para o fortalecimento do desen-volvimento humano sustentável (BRASIL, 2014).

Nesse sentido, e considerando as discussões nacio-nais e mundiais sobre Saúde e Desenvolvimento Susten-tável, emerge a premência de que o processo de formação do profissional de saúde assegure o desenvolvimento de competências, com mobilização de conhecimentos, ha-bilidades e atitudes, redirecionando suas práticas na bus-ca de um trabalho integrado, voltado para a promoção da saúde e a sustentabilidade. Para isso, é fundamental que durante o processo formativo em saúde esses con-ceitos sejam conhecidos e amplamente discutidos, com vistas a capacitá-los a enfrentarem problemas complexos em sua futura práxis, na lógica da intersetorialidade e interdisciplinaridade, do trabalho digno, da consciência global e da preservação do planeta (BRASIL, 2014).

Face ao exposto, o presente estudo pauta-se nas se-guintes questões norteadoras: durante o processo de for-mação do profissional de saúde, os conteúdos relacionados ao ambiente, promoção da saúde e sustentabilidade estão contemplados em seus currículos? Há expressão de suas interfaces nas disciplinas que a contemplam? Tais conteú-dos corroboram com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a Política Nacional de Promoção da Saúde?

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205Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Considerando que um ambiente saudável constitui requisito para a promoção da saúde individual e coleti-va, e que ambos se coadunam na interface estruturante dos processos formativos de trabalhadores da saúde para agirem em prol do desenvolvimento e da sustentabilida-de global, o presente estudo teve como objetivo central averiguar como se estabelecem as interfaces entre os con-teúdos relacionados ao ambiente, promoção da saúde e sustentabilidade nos currículos dos cursos de graduação em saúde.

Pretende-se, com este trabalho, contribuir para cla-rificar as discussões em torno das relações entre saúde e desenvolvimento sustentável/sustentabilidade nos am-bientes de formação de trabalhadores de saúde, vislum-brando que tais debates auxiliarão na formulação de es-tratégias cada vez mais alinhadas ao que prevê os planos de ação existentes nos documentos temáticos mundiais, que orientam os países a buscarem um planeta mais sau-dável e sustentável, na direção do melhor viver.

MÉTODOTrata-se de uma pesquisa documental, com abor-

dagem mista e natureza descritiva.Para responder aos questionamentos norteadores, a

pesquisa teve início com a verificação, no site do Ministé-rio da Educação (MEC), de quais universidades públicas federais oferecem cursos na modalidade presencial, com

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206Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

sede nas capitais no país. Em seguida, foram seleciona-das aquelas que possuíam projetos pedagógicos de curso disponíveis em meio eletrônico (site da universidade). O próximo passo foi a leitura das matrizes curriculares dos cursos, com vistas a identificar disciplinas/módulos que abordassem os temas ambiente, saúde e sustentabilidade em seus enunciados e/ou ementas.

A coleta de dados ocorreu no mês de agosto de 2017. Durante a construção do banco de dados, foram capturadas as informações quanto às seguintes variáveis: região do país na qual está sediada a universidade, nome do curso de graduação, nome da disciplina/módulo e modalidade da disciplina (obrigatória ou optativa). As-sim, os dados coletados referem-se ao estudo das emen-tas de 40 disciplinas, sendo 25 delas obrigatórias e 15 optativas, distribuídas em 38 cursos de graduação.

As ementas foram transcritas na íntegra no Pro-grama LibreOffice Writer, versão 5.4, sendo codificadas conforme a linha de comando indicada para possibilitar análise com o auxílio do software IRAMUTEQ (Interfa-ce de R pour L Analyses Multidimensionnelles de Textes L de Questionnaires), versão 0.7 alfa 2, desenvolvido por Ratinaud no ano de 2009 e introduzido em pesqui-sas brasileiras no ano de 2013 (CAMARGO; JUSTO, 2013). Esse programa informático viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais, desde aquelas bem simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequên-cia de palavras), até análises multivariadas (classificação hierárquica descendente e análise de similitude).

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207Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

A análise interpretativa das ementas se deu pela classificação hierárquica descendente e análise de si-militude, apoiadas pela análise de conteúdo temática (MINAYO, 1996), à luz da Agenda 2030 e da Política Nacional de Promoção da Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃODentre as 62 universidades federais brasileiras lista-

das no site do MEC, que oferecem cursos na modalidade presencial, optou-se por eleger somente aquelas que car-regam os nomes dos estados nos quais estão localizadas (26 universidades). A partir disso, foram consultadas suas respectivas páginas oficiais, e listadas aquelas que detinham cursos na área de saúde, cujos currículos es-tavam disponíveis para domínio público, compondo o elenco das 18 universidades listadas no Quadro 1.

As universidades que concentraram maior núme-ro de cursos foram: Universidade Federal de São Paulo (cinco cursos), Universidade Federal de Pernambuco (quatro cursos) e as Universidades Federais do Acre, do Tocantins, de Sergipe e do Rio de Janeiro (três cursos em cada). Dos 38 cursos identificados, o que teve maior destaque foi o de Nutrição (nove cursos), seguido de Medicina (sete cursos), Enfermagem (seis cursos) e Edu-cação Física (cinco cursos).

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208Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Quadro 1 – Universidades federais e respectivos cursos de graduação em saúde que compuseram a análise deste estudo.

REG

IÃO

UNIVERSIDADECURSOS

TO

TAL

EF N SC E M BM F O GS TO FT

NO

RTE

Univ. Federal do Acre x x x 3Univ. Fed. de Roraima x x 2Univ. Fed. de Rondônia x 1Univ. Fed. de Tocantins x x x 3

NO

RD

EST

E

Univ. Federal do Piauí x x 2Univ. Federal do Ceará x 1Univ. Fed. do R.G. do Norte x 1Univ. Fed. do Pernambuco x x x x 4Univ. Federal de Sergipe x x x 3Univ. Federal da Bahia x 1

CEN

-T

RO-O

-ES

TE Univ. Fed. de Brasília x 1

Univ. Fed. do Mato Grosso x 1Univ. Fed. do M.G. do Sul x x 2

SUD

ES-

TE

Univ. Fed. de São Paulo x x x x x 5Univ. Fed.do Rio de Janeiro x x 3Univ. Fed. de Minas Gerais x x 2

SUL Univ. Fed. do Paraná x 1

Univ. Fed. de S. Catarina x 1TOTAL 5 9 3 5 7 1 2 1 1 2 1 38

Legenda: EF (Educação Física); N (Nutrição); SC (Saúde Coletiva); E (Enfermagem); M (Medicina); BM (Biomedicina); F (Farmácia); O (Odontologia); GC (Gestão em Saúde Pública); TO (Terapia Ocupacional); FT (Fisioterapia).Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

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209Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

As disciplinas analisadas foram: Saúde e Meio Am-biente (seis); Direitos Humanos e Meio Ambiente; Saú-de ambiental (quatro); Natureza, Cultura e Sociedade (quatro); Educação ambiental (duas); Gestão Ambien-tal (duas); Ecologia e Qualidade de Vida na Amazônia; Gestão ambiental em saúde; Higiene, Saúde e Meio Am-biente; Saúde, Cultura, Ambiente e Trabalho; Desenvol-vimento, Meio Ambiente e Poder Local; Saneamento Ambiental e Saúde; Direito Ambiental; Doenças resul-tantes da agressão ao Meio Ambiente; Epidemiologia e Saúde Ambiental; Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador; Ecologia; Educação Física Escolar e Meio Ambiente; Ecologia e Saúde Humana; Saúde, Ambiente e Sociedade; Sociedade, Meio Ambiente e Sustentabili-dade; Ciências do Ambiente; Ecologia Humana; Gené-tica e Ambiente; Vídeo e Meio Ambiente; Saúde, Socie-dade e Meio Ambiente; e Patologia Ambiental.

2. Análise do conteúdo das ementasO processamento do corpus textual reconheceu 40

unidades de textos, correspondendo às ementas obtidas na análise dos projetos pedagógicos de curso, com 1.775 ocorrências e 645 formas, das quais 528 eram ativas, com 82,50% de retenção.

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210Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Figura 1. Dendrograma da CHD do corpus Ambiente, Promoção da Saúde e Sustentabilidade.

O dendrograma da CHD ilustra que o corpus foi dividido em cinco classes, sendo, em um primeiro mo-mento, a repartição em dois subcorpus (de um lado a classe 5 em oposição ao outro lado - classes 1, 2, 3 e 4); em seguida, a classe 1 foi separada das classes 2, 3 e 4; no terceiro momento, foram geradas as classes 2 e as futuras classes 3 e 4; e por último, houve a repartição entre essas últimas.

A leitura das classes na CHD possibilitou identifi-car e categorizar, conforme a literatura revisada, a exis-tência de cinco categorias, que apontam para as inter-faces temáticas deste estudo, proporcionando, assim, a análise de conteúdo temática proposta neste trabalho.

Considerando a polissemia dos termos – desen-volvimento sustentável e sustentabilidade – associada à má compreensão destes conceitos, além da confluência sinonímica destes para muitos autores (SARTORI; LA-TRONIO; CAMPOS, 2014), nesta análise serão ado-tados ambos os termos como a taxonomia mais difun-

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211Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

dida no campo da saúde e dos processos formativos dos profissionais da área, sendo o objeto central na interface deste trabalho.

Categoria 1 – Interface Ambiente e Desenvolvimento sustentável

A classe 3, que obteve maior representatividade do conteúdo estudado, com 24,2% das ocorrências, evidencia o grau de importância que os cursos confe-rem à temática do desenvolvimento sustentável, que emergiu como vertente principal, tendo ocorrência ex-tremamente significativa (x2=22,92; p<0,0001), seguido dos termos ecológico (x2=14,22; p=0,00016), impacto (x2=6,39; p=0,011), meio ambiente (x2=4,59; p=0,032) e desenvolvimento (x2=4,1; p=0,042).

Essa categoria trata dos aspectos relacionados ao meio ambiente e a preocupação com o processo de de-gradação ambiental no contexto brasileiro, buscando, desta forma, um perfil de egressos conscientes da im-portância da gestão e preservação dos recursos naturais, necessários ao desenvolvimento sustentável, sinalizando ainda quais medidas devem ser tomadas para amparar a natureza das ações antrópicas. Incita uma maior reflexão sobre a evolução das práticas da sociedade enquanto de-pendentes da interação com a natureza.

Isto expresso, verifica-se que os cursos consideram o ambiente e o desenvolvimento sustentável como fun-damentais para preservação da saúde e da vida e, dessa

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212Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

forma, buscam formar profissionais que corroborem com essa compreensão. O texto a seguir apresenta a preocupação em construir uma consciência crítica e re-flexiva nos alunos, subsidiando decisões assertivas para preservação dos recursos naturais e, consequentemente, para melhoria da sua qualidade de vida e da coletividade:

Esta disciplina visa à construção do conhecimento sobre as relações entre o homem e o meio ambiente, enfocando particularmente o impacto deste último sobre a saúde e qualidade de vida da população, pretende-se despertar no graduando a consciência ambiental, propiciando a reflexão crítica sobre a importância do desenvolvimento sustentável e a necessidade de monitoração dos recursos naturais renováveis (Disciplina 6, curso 3).

Verifica-se, a partir o exposto, que os cursos estão direcionados a atingir o objetivo sete da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNaPS), que trata, especifica-mente, da importância de “promover o empoderamento e a capacidade para a tomada de decisão e a autonomia de sujeitos e coletividades por meio do desenvolvimento de habilidades pessoais e de competências em promoção e defesa da saúde e da vida” (BRASIL, 2014, p.13). Alinha-do a isso, promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável constitui um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).

Considera-se, portanto, que esta abordagem nos cursos de formação dos profissionais de saúde conduz a um processo de ressignificação e ampliação conceitual entre ambiente e sustentabilidade, provocando a opor-

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213Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

tuna revisitação epistemológica que esta interface requer, e desperta para um processo de mudança de paradigma em relação à visão ampliada da interface ambiente e de-senvolvimento sustentável.

Categoria 2 – Interface Ambiente e Promoção da SaúdeA classe 2, com 24,2% das ocorrências, traz

como termos mais significantes o humano (x2=22,92; p<0,0001), saneamento (x2=18,42; p<0,0001), in-teração (x2=14,22; p=0,0001), promoção da saúde (x2=10,31; p=0,001), políticas públicas (x2=6,39; p=0,01) e interdisciplinaridade (x2=6,39; p=0,01), evi-denciando, principalmente, fatores sanitários que inter-ferem no processo saúde e adoecimento, e a necessidade de políticas públicas de desenvolvimento sustentável, que venham a promover ambientes limpos e saudáveis, com saneamento básico e manejo adequado de resíduos, trazendo bem-estar social:

Abordam os conceitos gerais de saúde ambiental, suas elaborações teóricas e sociais, discutindo a in-terdisciplinaridade desse campo de estudo, assim como conceitos de promoção da saúde humana e meio ambiente, estímulo à saúde, ecologia social e à cultura de paz, saneamento e manejo ambiental para a promoção da saúde e suas interações com o meio ambiente, as condições sanitárias e as políticas públicas relacionadas e princípios de sustentabilida-de, educação permanente e do educador à preser-vação do meio ambiente e da vida (Disciplina 2, curso 8).

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214Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Nesse sentido, importante destacar o disposto na Constituição Federal de 1988, no Art. 225, no qual está assegurado que todos têm direito ao meio ambiente eco-logicamente equilibrado, bem de uso co mum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá--lo para as atuais e as futuras gerações (BRASIL, 1988).

Sob este ponto, sinaliza-se, ainda, a importância da Promoção da Saúde e da educação ambiental como estratégias imprescindíveis para garantir o potencial de saúde da população, considerando que a PS, ao capaci-tar a comunidade para atuar na melhoria da sua saúde e qualidade de vida, estabelece que os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessida-des e modificar favoravelmente o meio ambiente (OMS, 1986). Sob outro olhar, assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos constitui um dos Ob-jetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).

A análise desta categoria permite inferir, portanto, que as propostas curriculares analisadas neste estudo buscam incorporar, em seu arcabouço, o conceito de promoção da saúde, e apresentam o ambiente e o desen-volvimento sustentável como agentes determinantes do processo saúde e doença.

Categoria 3 – Interface Saúde e AmbienteA classe 1, com 21,2% das ocorrências, mantêm

maior proximidade com a classe 2, trazendo um conjun-

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215Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

to de palavras, tais como doença (x2=16,91; p<0,0001), método (x2=12,26; p=0,0004) e ambiental (x2=6,82; p=0,009), que embora semelhantes e complementares, sinalizam para a abordagem investigativa do enfoque interdisciplinar entre saúde e ambiente. Assim, a explo-ração dessas temáticas, sob o marco da sustentabilidade, compreen de a multiplicidade de forças interativas ge-radas em torno da promoção do bem-estar e da saúde humana, considerando a interferência do ambiente na sociedade como um todo: saúde, política, educação, eco-nomia, cultura, entre outros (BRASIL, 2007), disparan-do a premência do olhar científico sobre suas interfaces:

Introdução à questão ambiental, instrumentos de gestão e suas implementações, conceitos e prática, planejamento e gestão ambiental, estudo de impac-to ambiental como instrumento de planejamento e gerenciamento de riscos ambientais, sistemas de gestão ambiental, estudos aplicados à gestão am-biental (Disciplina 32, Curso 4).

Sinaliza-se, assim, a importância de uma formação que habilite os profissionais de saúde a exercerem ati-vidades de pesquisa, como capacidade diagnóstica para identificar o impacto da ação humana sobre o ambiente e as questões de saúde, fomentando ações estratégicas e políticas públicas para o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade, assim como ações gerenciais que promovam a redução de danos ao planeta.

Essa categoria aponta, também, que as disciplinas estão alinhadas à preocupação mundial em proteger, re-cuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas

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216Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

terrestres, do combate aos processos de desertificação e, assim, reverter a degradação da terra, com vistas a pre-servar sua biodiversidade, alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).

Sob esta ótica, no processo de formação dos profis-sionais da saúde os cursos devem contemplar o raciocínio científico como requisito para o adequado planejamento e gerenciamento das questões emergentes que envolvem o planeta, considerando suas ferramentas específicas de estudos de impacto geoambientais, cujos diagnósticos possibilitem conferir competência para o planejamento e a tomada de decisões dos futuros atuantes em saúde.

Categoria 4 – Interface Educação ambiental e Pro-moção da Saúde

Fazendo uma análise da classe 4, com 15,2% das ocorrências, é possível identificar, através dos termos as-pecto (x2=19,28; p<0,0001), comunidade (x2=12,68; p=0,0003) e educação ambiental (x2=4,3; p=0,03), que os cursos buscam abranger a integralidade dos seres, ao compreenderem que o indivíduo vive em comunidade, dentro de um contexto social, ecossistêmico, político e cultural, necessitando de educação e saúde, dentre outros pontos. Esta preocupação está contemplada na PNaPS, como um tema transversal, no qual busca-se reforçar a ação comunitária, a participação e o controle social, promovendo reconhecimento e diálogo entre as

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217Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

diversas formas do saber (populares e científicos), cons-truindo, desse modo, práticas pautadas na integralidade do cuidado e da saúde (BRASIL, 2014).

Os cursos, portanto, vislumbram uma formação com vistas à interdisciplinaridade e à integralidade em saúde, possibilitando aos profissionais uma visão mais global do que seja o conceito de saúde e de ambiente:

Conservação ambiental, aspectos da lei de educação ambiental, a educação física e o meio ambiente, sua história e seus atores, o que são problemas ambien-tais no Brasil, a temática ambiental, a educação e a escola, a comunidade e o meio, interdisciplinarida-de, meio ambiente, ética e cultura, consumo, meio ambiente e educação (Disciplina 21, Curso 2).

A abordagem desses temas na formação dos profis-sionais de saúde conduz a um olhar ampliado da condi-ção humana e possibilita ações que valorizem o controle social, corroborando para o alcance de um dos Objeti-vos do Desenvolvimento Sustentável que é o de assegu-rar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, me-diante condições favoráveis de aprendizagem para todos (ONU, 2016), consistindo requisito indispensável ao desenvolvimento sustentável e sobrevivência humana.

Categoria 5 – Interface Saúde, Sociedade e AmbienteA classe 5, com 15,2% das ocorrências, com as pala-

vras modo (x2=33,0), etnocentrismo (x2=33,0), cultura (x2=26,52), sociedade (x2=21,89), natureza (x2=21,89), diferença (x2=19,28), cultural (x2=19,28), ambiente

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218Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

(x2=18,42), relação (x2=11,79) e vida (x2=9,98), todas extremamente significantes para esta classe (p<0,0001), foi a que mais se distanciou das demais, porém, mantém relações próximas, haja vista que, quando das palavras evidenciadas, compreende-se o olhar diferenciado para os sujeitos, que devem ser vistos de forma integral, imer-sos em uma sociedade multicultural.

Assim, a expressão dos termos etnocentrismo, rela-tivismo cultural, diferença, cultura, sociedade, relação, vida, possibilita a compreensão da diversidade social, e que isto implica em uma postura ética e humana para com o outro, devendo o profissional estar sensível a es-sas possibilidades, contemplando no cuidado à saúde, as diferenças culturais, étnicas, sociais, espirituais, entre outras e, ao mesmo tempo, estar sensível, no sentido de perceber a singularidade do indivíduo. A expressão des-ses termos confirma que essas questões já constam como preocupações curriculares dos cursos de saúde:

Formação sociopolítica e econômica de sociedades, cultura e saúde, relação natureza, cultura e socieda-de, etnocentrismo e relativismo cultural, organiza-ção capitalista da sociedade contemporânea, modo capitalista de produção ideologia, as relações de gênero e a saúde, ambiente e sustentabilidade (Dis-ciplina 26, Curso 8).

Vale destacar que os cursos se aproximam dos ob-jetivos propostos pela PNaPS e pela ONU, no tocante à busca de se construir uma sociedade livre de discri-minação, com respeito às diferenças de classe social, de

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219Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

orientação sexual e identidade de gênero, entre gerações, étnico-raciais, culturais, territoriais e relacionadas às pes-soas com deficiências e necessidades especiais (BRASIL, 2014). Além disso, alcançar a igualdade de gênero cons-titui um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).

Coadunando os aspectos abordados nas categorias temáticas, a análise de similitude possibilitou identificar a estrutura, o núcleo central e o sistema periférico da interpretação sobre o contexto semântico relacionado ao tema sob estudo.

O diagrama oferecido no formato de árvore (Fi-gura 2), oriundo da interface dos resultados, tornou possível a identificação da coocorrência entre as pala-vras, bem como seus indicativos de conexidade entre os termos: ambiental, meio ambiente, saúde, ambiente e relação, auxiliando na identificação de conceitos que melhor representam os assuntos abordados nas ementas analisadas.

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220Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Figura 2. Análise de similitude do corpus Ambiente, Promoção da Saúde e Sus-tentabilidade.

Verifica-se que a palavra saúde é o léxico agregador que emerge no eixo central da árvore de similitude e in-dica que esta sofre e provoca uma variedade de interfe-rências no ambiente e nas relações com a natureza. Sua maior centralidade na árvore e sua relação com outros elementos dão suporte para a compreensão de que a co-munidade, o humano e o social, também dão sustenta-ção à sua interface com a sustentabilidade.

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221Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Sendo a saúde um completo bem-estar físico, men-tal e social, a doença se manifesta como uma desarmonia ocasionada por diferentes fatores, dentre eles, o ambien-te. A relação entre a saúde e o ambiente afeta diretamente o processo saúde-doença no indivíduo, que deixa de ser um fator externo ao homem e passa a ser uma condição de interdependência com as demais dimensões da vida do ser humano (BUSATO, FERRAZ, FRANK, 2015).

Para uma melhor compreensão da relação saúde e meio ambiente, é necessário conhecer o conceito de meio ambiente, que segundo Jacobi (1995) apud Bu-sato, Ferraz e Frank (2015, p. 461), “é o espaço físico alterado pela atividade humana”. O documento do Ministério do Meio Ambiente sobre Vulnerabilidade Ambiental, também conceitua meio ambiente como o resultado das ações passadas e, como esta sofre constan-tes mudanças, será diferente no futuro (BRASIL, 2007).

De acordo com Meira e Carvalho (2010), a inte-ração entre ambiente e saúde é muito mais íntima do que o que se imagina, estima-se que 20% das doenças nos países industrializados sejam decorrentes de fatores ambientais, o que torna cada vez mais intensa a preo-cupação dos cidadãos com os potenciais impactos do ambiente sobre a saúde.

A relação entre saúde e ambiente vem sendo cada vez mais frequente e ganhando mais espaço em even-tos científicos, como exemplo a I conferência Nacio-nal de Saúde Ambiental, que teve como tema central

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222Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

“a saúde ambiental na cidade, no campo e na floresta: construindo cidadania, qualidade de vida e territórios saudáveis” (BRASIL, 2010). Além deste, vários outros eventos aconteceram e tiveram como foco principal dis-cutir as temáticas de saúde ambiental, educação ambien-tal como foco para o redirecionamento das ações que melhorem o ambiente e a saúde (BUSATO, FERRAZ, FRANK, 2015).

Os problemas ambientais também podem ser con-siderados como problemas de saúde por afetarem dire-tamente a qualidade de vida e saúde dos seres humanos, tanto individual quanto coletivamente. A crise ambiental e os debates em torno desta têm ganhado cada vez mais espaço nos últimos 40 anos, tendo em vista as ameaças dela advindas que colocam a manutenção da vida no pla-neta em risco (PERES, CAMPONOGARA, 2015).

Nessa perspectiva, compreender e promover deba-tes sobre saúde e ambiente é de fundamental importân-cia na promoção da saúde do indivíduo e da coletivida-de, tal como na construção de ambientes e sociedades mais sustentáveis. No entanto, para que isso aconteça, é preciso que os profissionais estejam preparados para intervir nesses aspectos, na medida em que ao incorpo-rarem uma visão integradora e ampliada sobre a saúde, possam executar ações com vistas a diminuir os proble-mas de saúde e melhorar a qualidade de vida.

Neste sentido, é preciso incorporar a dimensão am-biental à saúde, a qual devem estar presentes desde a for-

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223Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

mação do profissional de saúde. De acordo com os dados apresentados na árvore de similitude, a saúde permeia a formação dos profissionais de saúde como eixo central no tocante às questões relacionadas às relações entre ho-mem e ambiente, na dimensão das práticas saudáveis que visam à sobrevivência humana e à sustentabilidade.

A relação dos aspectos que envolvem saúde e am-biente deve acontecer de forma integrada, tendo em vista a transdisciplinaridade do conhecimento que estas áreas envolvem, e que deve ser baseada no diálogo entre os di-versos saberes, com vistas a superar as diferenças e adver-sidades. Dessa forma, a capacitação profissional é impres-cindível para a consolidação de práticas em saúde que atendam às atuais exigências sociais e políticas no país.

Bruzos et al. (2011) apud Busato, Ferraz e Franco (2015) afirmam que é fundamentalmente importante discutir a temática ambiental entre os profissionais de saúde para que eles se empoderem desse conhecimento e consigam intervir na vida da população, a partir da identificação de questões do ambiente que estejam in-terferindo na qualidade de vida da população cuidada, propondo ações resolutivas e preventivas, amenizando os riscos a que estes estão expostos.

Os profissionais de saúde devem, portanto, estar aptos para trabalharem de forma multiprofissional e in-terdisciplinar na mobilização de práticas educativas em saúde que capacitem os indivíduos para compreenderem a relação entre o ambiente e a saúde, com vistas à sua cons-cientização na adoção de práticas saudáveis e sustentáveis.

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224Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

CONSIDERAÇÕES FINAISO ambiente é, indubitavelmente, um vetor na re-

lação entre saúde e sustentabilidade. O trabalho e seus agentes executantes só poderão promover o desenvolvi-mento sustentável se esta articulação com a questão am-biental for incorporada nas políticas e práticas cotidianas.

Os processos formativos em saúde necessitam am-pliar seus modus operandis no sentido de tornarem coti-dianos os debates em prol da sustentabilidade, trazendo às discussões de sala de aula algo que supere a lógica tri-dimensional do desenvolvimento sustentável, posto que este raciocínio teórico não é suficiente para contemplar as demandas contemporâneas.

No presente estudo, foi possível vislumbrar que os cursos de graduação em saúde das universidades públi-cas federais estudadas já atentam para alguns aspectos desta interface; entretanto, ainda foram identificados currículos tradicionais, que reduzem as abordagens da sustentabilidade a aspectos já esgotados pelas novas dis-cussões mundiais, especialmente quando se considera a multidimensionalidade do desenvolvimento sustentável.

Entretanto, é importante salientar que as emen-tas analisadas neste trabalho possibilitam uma reflexão inicial sobre a temática estudada, mas não esgotam as inúmeras possibilidades formativas existentes, tão pouco seus aspectos pormenorizados, que não são possíveis de serem visualizados nos documentos pedagógicos utiliza-dos nesta análise.

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225Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Almeja-se que os programas de formação dos profissionais da saúde consigam alcançar o debate am-pliado, com foco na interface existente entre ambiente, promoção da saúde e sustentabilidade, com vistas a em-ponderá-los na direção de que os mesmos sejam atores, mediadores e protagonistas de ações que visem a melho-ria das condições de vida das gerações futuras, condições necessárias a um desenvolvimento humano sustentável.

REFERÊNCIAS

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226Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

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227Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

DIABETES E SUSTENTABILIDADE: GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS

PROVENIENTES DA INSULINOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA

Sofia de Moraes ArnaldoEloíza Barros Luciano Rolim

Emiliana Bezerra GomesAna Maria Parente Garcia Alencar

INTRODUÇÃOO diabetes mellitus consiste em um importante

problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Em 2015, a prevalência de adultos com diabetes no mundo era de 8,8% e em 2040 estima-se que chegará em 10, 4%. O Brasil ocupa o quarto lugar dentre os dez primei-ros países com maior número de adultos com diabetes com um total de 14,3 milhões de pessoas com a doença e uma prevalência de 10,2%, ficando atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos da América (INTERNA-TIONAL DIABETES FEDERATION - IDF, 2015).

As principais abordagens terapêuticas para o diabetes mellitus consistem na mudança no estilo de vida, medica-mentos orais e insulina. O uso de insulina é imprescin-dível no tratamento do diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e deve ser instituído assim que o diagnóstico for realizado.

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228Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

A utilização da insulina no diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é menos frequente do que deveria e seu início tende a ser tardio, devido ao receio infundado, por parte de médicos e pacientes, quanto a alguns dos possíveis efeitos colaterais da insulina, como a hipoglicemia e o ganho de peso. To-davia, essa abordagem pode se tornar necessária a qualquer momento durante a evolução natural do DM2, quando se constatar um descontrole glicêmico acentuado com o tratamento apenas com os medicamentos orais (SOCIE-DADE BRASILEIRA DE DIABETES - SBD, 2017).

Dessa forma, como consequência do tratamento com insulina, em ambos os tipos de diabetes mellitus, originam-se resíduos de origem biológica, química e perfurocortantes, classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como Resíduos de Ser-viços de Saúde (RSS), decorrentes de ações de cuidado à saúde (BRASIL, 2004).

Todos os perfurocortantes e contaminantes resul-tantes da aplicação de insulina, dos testes de glicemia, bem como dos insumos usados na bomba de infusão de insulina (cateter, cânula e agulha guia) gerados no do-micílio, devem ser descartados em coletores específicos para perfurocortantes, como os utilizados nos serviços de saúde. Na ausência desse coletor, o profissional deve orientar o uso de recipiente com características seme-lhantes (material inquebrável, paredes rígidas, resisten-tes à perfuração, boca larga e tampa) e a sua devolução às unidades básicas de saúde (UBS) quando atingirem a capacidade recomendada (SBD, 2017).

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229Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

No entanto, o que se observa na realidade é que esses resíduos acabam sendo descartados junto com o lixo doméstico, sem nenhum cuidado específico, mui-tas vezes indo parar em lixões (STACCIARINI; HAAS; PACE, 2008). A ausência de diretrizes ou orientação técnica e legal favorece o acondicionamento e disposição final inadequados, colocando em risco a saúde da co-munidade e contribuindo para a degradação ambiental (SILVA-ANDRÉ; TAKAYANAGUIB, 2015).

Ademais, o descarte incorreto pode expor pacientes, familiares, vizinhos, e trabalhadores ligados à coleta de lixo, à contaminação com agentes biológicos envolven-do perfurocortantes. Além de lesões propriamente ditas, a grande preocupação em um acidente dessa natureza é a possibilidade de infecção com um patógeno de transmis-são sanguínea, especialmente o vírus HIV e da hepatite B e C (GOLD; SCHUMANN, 2007). Além disso, desta-cam-se, também, os agravos provocados ao meio ambien-te como a contaminação da água, do solo, da atmosfera e a proliferação de vetores que apontam para uma questão de maior importância com a biossegurança e a sustentabi-lidade (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004).

Diante dessa problemática, o foco de algumas dis-cussões atuais está pautado na questão da saúde ambien-tal, em especial sobre a geração de lixo e seu manejo adequado. O lixo produzido em serviços de saúde repre-senta uma peculiaridade importante, pois quando ge-renciados inadequadamente oferecem risco potencial ao ambiente. Essa problemática vem sendo cada vez mais

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230Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

objeto de preocupação de órgãos de saúde, ambientais, prefeituras, técnicos e pesquisadores da área, tendo em vista a quantidade de legislações e referências existen-tes, que preconizam condutas de gerenciamento dos resíduos nos locais onde são prestados serviços à saú-de (TAPIA, 2009; GOVENDER; ROSS, 2012). Nesse sentido, surge o seguinte questionamento que norteou a realização desta pesquisa: Como acontece o geren-ciamento dos RSS provenientes da insulinoterapia na Atenção Básica (AB)?

Assim, compreendemos que o estudo desta temá-tica é relevante para o campo da saúde, especificamente para a AB, uma vez que poderá suscitar reflexões por parte dos profissionais de saúde sobre a necessidade de garantir o acondicionamento e destino adequado dos RSS. Ademais, poderá subsidiar futuras investigações, visto que ainda é pouco explorada no âmbito da acade-mia e da prática assistencial. Dessa forma, o estudo ob-jetivou analisar a produção científica acerca do gerencia-mento dos RSS provenientes da insulinoterapia na AB.

MÉTODOSTrata-se de uma revisão integrativa da literatura, se-

guindo-se o percurso metodológico subdividido em seis fases: escolha e definição do tema seguida da seleção da questão de partida; amostragem ou busca na literatu-ra; critérios para categorização dos estudos para coleta

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231Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

de dados; avaliação dos estudos incluídos; interpretação dos resultados e síntese do conhecimento ou apresen-tação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Para nortear o estudo, elegeu-se a seguinte ques-tão norteadora: Como acontece o gerenciamento dos RSS provenientes do uso de insulina na AB?

Adotou-se como critério de inclusão: estudos ori-ginais e revisões, disponíveis eletronicamente na ínte-gra, publicados após janeiro de 2004 até maio de 2017, nos idiomas espanhol, inglês e português, realizados na Atenção Básica. Foram excluídos capítulos de livros, te-ses de doutorado, dissertações de mestrado, relatórios técnicos, notas informativas e estudos relativos a outras áreas temáticas.

Realizou-se a busca nas bases de dados Scopus, CI-NAHL, LILACS, BDENF, Medline via Pubmed, Web of Science, na respectiva ordem de acesso, utilizando os descritores controlados: diabetes mellitus (diabetes mel-litus), insulina (insulin), resíduos de serviços de saúde (medical waste), eliminação de resíduos de serviços de saúde (medical waste disposal), gerenciamento de resí-duos (waste management) e eliminação de resíduos (refu-se disposal); e não controlado: diabetes (diabetes), inter-calados com os operadores booleanos AND e OR.

O levantamento foi realizado no mês de maio de 2017, obtendo-se 76 estudos na Scopus, 18 na CI-NAHL, 02 na LILACS, 01 na BDENF, 54 na Medline e 06 na Web of Science, totalizando 157 publicações. Desses, foram incluídos 52 artigos para a seleção, consi-

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232Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

derando potencialmente elegíveis os estudos após a lei-tura dos títulos e resumos que continham informações sobre os descritores mencionados; 16 publicações foram eleitas e seguimos com a leitura integral do manuscrito. Após esta etapa, 01 estudo foi excluído por repetição e foi considerado apenas uma vez, 06 estudos foram ex-cluídos, pois foram realizados em hospitais e fugiram da temática central, selecionando ao final e incluído na amostra desta revisão nove estudos, sendo dois da Sco-pus, dois da CINAHL, dois da LILACS e três da Medli-ne. O processo de seleção das publicações foi desenvol-vido de forma pareada e independente.

Na obtenção dos dados, foi utilizado um formu-lário de coleta elaborado pelas autoras, contendo infor-mações sobre o título, ano de publicação e país que foi realizado o estudo; base de dados e periódicos; objetivos, resultados e conclusões. A síntese de apresentação final desenvolveu-se na forma descritiva, no que se refere aos objetivos, resultados e conclusões obtidos de cada um dos estudos. Tais dados foram agrupados por semelhan-ça, organizados em categorias temáticas e interpretados com base na literatura.

RESULTADOSO universo do estudo foi composto por 52 pu-

blicações referentes à temática investigada, das quais 9 compuseram a amostra. Não houve predominância em

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233Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

relação ao ano de publicação dos estudos, com exceção de 2011 que tiveram duas publicações, comparado aos demais que tiveram apenas uma. A maioria dos estudos era de origem internacional (77,8%), com predomínio das publicações americanas (três) e britânicas (duas). Dois dos estudos têm origem nacional. Com relação ao periódico, observaram-se seis periódicos diferentes, des-tacando-se a Revista Baiana de Saúde Pública, o Journal of Diabetes Science and Technology e o British Journal of Community Nursing, que publicaram dois artigos cada. O Quadro 1 mostra a síntese dos estudos incluídos nesta revisão.

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234Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Quadro 1 – Síntese dos estudos incluídos sobre gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde provenientes da utilização de insulina – Juazeiro do Norte, CE, 2017.

Título Ano/país Base/Periódico Objetivos Resultados Conclusões

Gerenciamento de resíduos de cuidados de

saúde (GRCS) em cuidados ba-seados na comu-nidade (CBC): experiências de profissionais de saúde comuni-

tários (PSC) em comunidades

de baixa renda (CBR) na África

do Sul

2017/África do Sul

Scopus/BMC Public Health

Explorar como o RCS é geren-ciado na CBC da perspectiva

dos PSC

As atividades de cuidador rea-lizadas por PSC na CBC geram RCS. Os membros da família realizam práticas inadequadas de GRCS. Alguns PSC usaram suas mãos nuas para lidar com

RCS devido à falta de luvas. Os PSC não segregaram o RCS nas casas, conforme estipulado pelos padrões nacionais da África do Sul. O treinamento fornecido

aos PSC está limitado à segrega-ção dos RCS de resíduos domés-ticos e nenhum treinamento foi fornecido sobre como segregar RCS de acordo com o risco que

ele representa

Necessidade de incorporar o desenvolvimento da capacidade

dos trabalhadores comunitários de saúde no GRCS na atual iniciativa de cuidados de saúde primários na África do Sul. Os resultados têm implicações mais amplas para os programas nacionais de saúde da comunidade em CBR. Para que as CBR desenvolvam programas efetivos de PSC, há necessidade de sinergias nas políticas de APS

e GRCS

Resíduos clínicos na comunidade: gerenciamento

local de resíduos clínicos de insta-

lações locais

2008/Reino Unido

Scopus/Else-vier-Journal of the Royal Institute of

Public Health

Avaliar os arranjos para coleções de

resíduos clíni-cos resultantes de cuidados domiciliários

Foram analisados 526 sites acessíveis ao público. Apenas

262 (50%) das autoridades locais forneceram informações em seus sites sobre a coleta de resíduos clínicos de instalações

domésticas

Os sites de autoridades locais foram notáveis pela falta geral

de informações sobre os arranjos para a coleta de resíduos clínicos de instalações domésticas. Muitas

autoridades locais não apresen-taram informações com precisão ou completamente. Há evidências claras da necessidade de melhoria substancial nos padrões de coleta e disposição de resíduos clínicos

pelas autoridades locais

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235Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Novas reco-mendações para

a segurança da injeção do

diabetes

2013/Europa

Cinahl/British Journal of Healthcare

Management

Implementar e manter

uma cultura e ambiente de trabalho

seguro para os profissionais de saúde cuidando

pessoas com diabetes

Reconhecem a necessidade de me-lhorar a segurança dos trabalhado-res de saúde e fornecem recomen-dações seguras com o manejo dos

dispositivos perfurocortantes

Injeções subcutâ-neas: prevenção

de lesões por agulha na comu-

nidade

Reino Unido Cinahl/British Journal of

Community Nursing

Os funcionários que administram injeções subcutâneas na comuni-dade precisam garantir que sejam

atualizados sobre os últimos desenvolvimentos em dispositivos de agulhas de segurança, a fim de fornecer cuidados seguros, efica-zes e individualizados para seus

pacientes

Orientações so-bre o descarte de resíduos gerados em domicílios de usuários de

insulina

2015/Brasil

Lilacs/ Revista Baiana de Saú-

de Pública

Identificar as orientações

recebidas pelos usuários de

insulina sobre o descarte dos diferentes tipos de resíduos em seus domicílios

Maior porcentagem de descarte inadequado foi das fitas reagen-tes e frascos de insulina, coinci-dindo com o número de usuários que não receberam orientações sobre o descarte desses tipos de

resíduos

A falta de orientação influencia no descarte dos RSS. Importância

do estabelecimento de um pro-tocolo sobre o manejo dos RSS em domicílio para direcionar as ações e orientações aos usuários

de insulina

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236Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Resíduos gerados em domicílios de indivíduos com diabetes melli-tus usuários de

insulina

2009/Brasil

Lilacs/

Revista Baianade Saúde Pública

Conhecer a realidade do manejo de

resíduos perfu-rocortantes e de origem química e biológica em domicílios de pessoas com DM, usuários

de insulina

Há uma inadequação do manejo e descarte dos resíduos oriundos do tratamento e monitoramento do DM no domicílio de usuários

de insulina

Necessidade de ampliar as ações educativas em saúde no sentido de minimizar riscos de exposição aos

agentes ambientais

Eliminação de resíduos no

século XXI e tecnologia do diabetes: um pouco de café

(copo) ou cerveja (pode) com essa infusão de insuli-

na (conjunto)

2011

Medline/Journal of Di-abetes Science

and Technology

Abordam a questão do cres-cente interesse pelo impacto

dos produtos de saúde descar-tados no meio ambiente com sua avaliação do impacto

ambiental dos conjuntos de infusão de

insulina com base na perda

de recursos com resíduos

A sustentabilidade ambiental tornou-se parte do processo de avaliação de muitos produtos,

sua avaliação arroja alguma luz interessante sobre o impacto de um grupo de dispositivos

quando comparada e contrastada com outros tipos de insumos

produzidos

Como isso afeta o meio ambiente, é necessária uma análise mais

aprofundada e uma avaliação das variações regionais na prestação de cuidados de saúde, bem como nas práticas de gerenciamento de resíduos em regiões específicas

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237Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Análise: o im-pacto da agulha,

da seringa e da eliminação de lancetas na comunidade.

2011

Medline/Journal of Di-abetes Science

and Technology

Analisar o impacto da eliminação

inadequada das agulhas, serin-gas e lancetas

na comunidade.

Existem mais de 7,5 bilhões de agulhas e seringas usadas fora do sistema de saúde a cada ano por indivíduo. Quando gerados em casa, esses insumos não têm eliminações reguladas. Os resí-duos médicos gerados em casa são rotineiramente colocados

no lixo da calçada, aumentando o risco pessoal de lesão por

agulha.

A Coalition for Safe Community Needle Disposal está trabalhando

para estabelecer uma solução satisfatória para todas as partes

interessadas

Perigos de agu-lhas usados no lixo doméstico: implicações para cuidados domici-liários

2007/EUA Medline/ Home Healthcare

Nurse

Discutir melho-res alternativas para ajudar a

mudar a forma como os objetos perfurocortan-

tes provenientes do manejo

com o diabetes mellitus são descartados

Formação de organizações sem fins lucrativos com parcerias

entre empresas, comunidade e governos.

Conscientização dos governos, dos profissionais de saúde e dos usuários na manutenção de práti-cas de gerenciamento adequadas dos RSS. Modelos de orientação

comunitários e individuais

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238Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

DISCUSSÃOApós leitura criteriosa dos estudos selecionados,

análise e agrupamento das informações, emergiram duas categorias temáticas: Categoria temática I - Manejo dos RSS provenientes da insulinoterapia; Categoria temática II - Modelos de orientação e Educação em saúde.

Manejo dos RSS provenientes da insulinoterapiaOs resíduos provenientes da insulinoterapia in-

cluem os frascos de insulina, as seringas, agulhas e cane-tas utilizadas para a aplicação e as fitas reagentes e lance-tas utilizadas para a monitorização glicêmica. O descarte inadequado desses resíduos acarreta inúmeros riscos não só aos pacientes, mas também a qualquer outra pessoa que possa vir a entrar em contato com eles e ao ambiente onde são incorretamente depositados.

O local recomendado para o depósito desse mate-rial no domicílio é em recipientes industrializados apro-priados e, na falta desses, em recipientes rígidos, com boca larga e tampa (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004). Mesmo assim, ainda há o problema do descarte em lixo doméstico, o que faz esse material ir para os li-xões e continuar a oferecer riscos à população e ao meio ambiente (STACCIARINI; HAAS; PACE, 2008).

Bidone (2001, p. 35) intensifica a questão afir-mando também que os RSS são fontes potenciais de disseminação de doenças, e Gold e Schumann (2007, p.

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239Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

604) potencializam exemplificando que “as agulhas in-devidamente descartadas podem espalhar patógenos de doenças infecciosas, representando um grave risco para a saúde”.

Um estudo realizado na Europa, que traz novas re-comendações para a injeção segura em diabetes, aponta que as lesões por agulhas são um dos riscos ocupacionais mais frequentes enfrentados por enfermeiros, médicos e outros profissionais de saúde, bem como aqueles que trabalham em outras funções como limpeza e elimina-ção de resíduos. Tais lesões são particularmente perigo-sas, tendo em vista o seu potencial de transmissão de mais de 30 patógenos pelo sangue, incluindo hepatite B (HBV), hepatite C (VHC) (STRAUSS, 2013).

Somam-se a esses riscos à saúde dos seres humanos, os riscos ao meio ambiente. Outro estudo sobre o geren-ciamento dos resíduos de serviços de saúde cita vários problemas ambientais decorrentes do destino inadequa-do desses resíduos como a contaminação da água, do solo, da atmosfera e a proliferação de vetores que também afe-tam a saúde da população e apontam para uma questão de maior importância com a biossegurança (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004).

Tanto a questão humana como a ambiental pos-suem seus devidos norteamentos de necessidades, entre-tanto, trabalhar em conjunto e produzir normatizações e orientações corretas para tal manejo com os RSS garan-tirá a manutenção da saúde, a diminuição das doenças

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240Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

infectocontagiosas e a preservação do meio ambiente, aspectos que são favoráveis à vida em sociedade.

É notável, nas pesquisas, o aumento da preocupa-ção com o gerenciamento dos RSS provenientes do uso da insulina no contexto da AB, pois além das conhecidas abordagens à saúde ambiental e à sustentabilidade co-munitária, com o passar dos anos a tendência da geração desses insumos será apenas crescente, tendo em vista o envelhecimento populacional e, consequentemente, o aumento das doenças crônicas não transmissíveis e den-tre elas o diabetes mellitus, florescendo a necessidade de uma atenção diferenciada.

Um estudo abordando a eliminação dos resíduos relacionados ao diabetes promove a discussão da temáti-ca relacionada ao século XXI, afirmando que a questão do crescente interesse pelo impacto dos produtos de saú-de específicos do tratamento ao paciente com diabetes que são descartados no meio ambiente converge com a avaliação do real impacto ambiental que os mesmos provocam. Os autores ainda pontuam essa atenção aos países de alta renda, sendo esses responsáveis pela in-trodução e implementação de programas relacionados à coleta desses resíduos (KRISIUNAS, 2011).

Na Europa, foram lançadas recomendações com objetivo de implementar e manter uma cultura e am-biente de trabalho seguro para os profissionais de saúde que cuidam de pessoas com diabetes. Nessas, os focos principais são a educação e a formação na criação de

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241Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

uma cultura de segurança, a responsabilidade dos fabri-cantes dos materiais em oferecer treinamento com seus dispositivos, bem como a importância da realização fre-quente de campanhas de conscientização contra lesões para melhorar a segurança dos profissionais de saúde e dos usuários (STRAUSS, 2013).

Os governos têm papel fundamental na dissemina-ção das práticas corretas no gerenciamento desses RSS, assim, observamos que os de alguns países aprovam guias instrucionais de como realizar esse manejo adequa-do, desde sua utilização primária até o descarte e disposi-ção final, demonstrando que a visão política referente ao assunto está na agenda das necessidades globais. Apesar de cada país ter seus próprios regulamentos relativos à eliminação de resíduos potencialmente perigosos, todas as pessoas em contato com os mesmos devem assumir a responsabilidade de garantir sua eliminação segura.

Nesse cenário, a conscientização deve partir tanto dos profissionais envolvidos como também dos usuá-rios, validando o quanto que as visões desses dois com-ponentes devem convergir de conhecimentos para se trabalhar melhor o assunto. Assim, um estudo realizado no Brasil permitiu entender que as orientações ofertadas pelos profissionais aos usuários de insulina em domicílio apresentam falhas no quesito descarte dos RSS, uma vez que as autoras observaram uma maior porcentagem de descarte inadequado das fitas reagentes e frascos de insu-lina. Além disso, as mesmas verificaram uma diversidade

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242Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

no conteúdo das orientações recebidas pelos usuários, suscitando a importância do estabelecimento de um protocolo sobre o manejo de RSS em domicílio para direcionar as ações e as orientações (SILVA-ANDRÉ; TAKAYANAGUIB, 2015).

Outrossim, pesquisadores internacionais indaga-ram: “Você está dando a informação correta aos seus pacientes?”. Esse questionamento foi tópico inicial do estudo realizado nos Estados Unidos sobre perigos de agulhas usadas no lixo doméstico: implicações para cui-dados domiciliários, no qual apontaram que o interes-se para melhorar as disposições sobre a temática deve partir de todas as partes, focando nos profissionais de saúde em ajudar a mudar a forma como esses objetos potencialmente perigosos e outros objetos afiados são descartados. Os autores salientam, ainda, sobre a im-portância do envolvimento desses profissionais no papel vital da promoção da conscientização sobre a eliminação segura de perfurocortantes, a formulação de parcerias e a mudança de leis, políticas e regulamentos para aumen-tar o acesso a programas de eliminação segura (GOLD; SCHUMANN, 2007).

Na África do Sul, apesar de receberem orientações, os profissionais ainda sentem necessidades constantes de atualizações e um reforço maior de orientações, apon-tam as autoras de um estudo sobre o gerenciamento dos RSS em uma comunidade (HANGULU; AKINTOLA, 2017).

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243Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Nas UBS, o maior contato dos pacientes se dá pelo profissional de enfermagem. O binômio enfermeiro-u-suário dispõe um link direto entre as partes e potenciali-za a educação na prática do descarte adequado dos RSS. Portanto, essa relação torna-se ainda mais oportuna ao conselho/orientação consciente que deflagrará em ações ambientalmente corretas e saudáveis, valendo-se aqui da necessidade de que cada profissional deste nível detenha conhecimento acerca da legislação específica de seu país, estado e município.

Vários estados e/ou municípios possuem legislações próprias específicas sobre o gerenciamento dos RSS, es-tabelecendo normas para a classificação, segregação, ar-mazenamento, coleta, transporte e disposição final dos mesmos. Contudo, algumas legislações em vigor não são claras e muitas vezes são conflitantes, o que provoca dú-vidas e impossibilita a adoção de normas práticas efica-zes para o gerenciamento correto nos países (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004).

As legislações existentes são gerais e também es-pecíficas para seus determinados lugares de ação e tra-zem as reais preocupações que devem ser tomadas com a questão do lixo proveniente do manejo na utilização da insulina e nos cuidados com o DM, porém suas dis-cordâncias apontam como uma das dificuldades de se trabalhar com os RSS.

Em 2013, algumas recomendações globais para ga-rantir o uso seguro de injeções no tratamento do diabetes foram publicadas pelo WISE (Workshop sobre Injeção

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de Segurança em Endocrinologia), da União Europeia, para a segurança de pacientes, profissionais e todas as pessoas em contato potencial com objetos afiados uti-lizados no tratamento da condição (STRAUSS, 2013).

No Brasil, os serviços de saúde devem seguir as recomendações técnicas e legais definidas pela Agên-cia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Porém, não há definição técnica e legal sobre o mane-jo de resíduos gerados nos domicílios (SILVA-ANDRÉ, 2012). A fragilidade de articulação entre algumas polí-ticas destinadas a esses assuntos gera impasses e brechas nos trâmites legais que envolvem o gerenciamento des-ses resíduos. Muitas vezes, a inexistência de protocolos torna debilitado o assunto e fomenta maiores riscos à saúde da população, dos profissionais de saúde, dos tra-balhadores e do ambiente.

O estudo sobre resíduos clínicos na comunidade: gerenciamento local de resíduos clínicos de instalações locais, realizado no Reino Unido (Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales) verificou que as informa-ções disponibilizadas em sites governamentais apresenta-ram notáveis falhas gerais sobre os arranjos para a coleta de resíduos clínicos de instalações domésticas, sendo que muitas autoridades locais não apresentaram informações completas ou precisas (BLENKHARN, 2008). Na África do Sul, como em muitos outros países africanos, os RSS são gerenciados indevidamente, também devido a falhas nos processos legais (HANGULU; AKINTOLA, 2017).

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A não existência ou a falha de regulamentos federais, estaduais e municipais que regem a eliminação segura dos RSS iminentemente perigosos, corroboram nas intenções de que as legislações devem ser congruentes para se defi-nir quais são as reais necessidades, como se trabalhar esse gerenciamento, sempre definindo os papéis de cada ser envolvido no processo de geração desses resíduos.

Modelos de orientação e Educação em saúdeAs pesquisas, principalmente as internacionais,

apontaram iniciativas que ajudam na manutenção cor-reta do gerenciamento dos RSS em duas categorias: com programas comunitários e individuais por paciente, que trabalham com governos locais, estaduais e federais dis-postos a alterar leis, regulamentos e políticas para garan-tir que a segurança da eliminação de objetos cortantes es-teja disponível e que não sejam mais descartados no lixo ou em locais públicos (GOLD; SCHUMANN, 2007).

Pesquisa realizada nos Estados Unidos postula as principais necessidades exigidas pela temática: políticas federais que incentivem a eliminação segura de objetos cortantes por indivíduos; leis estaduais e locais que for-neçam programas seguros de eliminação de objetos afia-dos à comunidade; soluções de disposição disponíveis, acessíveis e discretas baseadas na comunidade; e educa-ção pública efetiva sobre a disposição segura de agulhas para todos os usuários domiciliares (GOLD, 2011).

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Outro estudo realizado nos países do Reino Uni-do propõe que a eliminação correta de objetos cortantes seja parte integrante do processo de administração de insulina e é essencial para evitar lesões de agulhas. Ao descartar as agulhas e seringas usadas, estas devem ser colocadas diretamente em uma caixa de objetos perfu-rocortantes, uma vez que esse compartimento esteja no máximo de sua capacidade, deve ser fechado, assinado e substituído (AZIZ, 2011). Acredita-se que um dire-cionamento resolutivo à questão dos RSS é à prática do bom senso, convergindo com a educação e o treinamen-to dos profissionais de saúde.

O setor da enfermagem tem papel fundamental no gerenciamento dos RSS, considerando-se que está diretamente envolvido na sua geração, sendo frequente-mente designado para a gestão administrativa das UBS por compreender a complexidade e a organização desses serviços. Conhecimentos sobre os aspectos normati-vos referentes à gestão dos RSS são fundamentais para que o enfermeiro possa avaliar as condições do local de trabalho, treinar sua equipe e alertar todos os demais profissionais envolvidos quanto aos riscos inerentes e à necessidade do descarte adequado dos diferentes tipos de RSS (MOREIRA; GUNTHER, 2016).

Dessa forma, pontua-se a necessidade urgente de adequação nas orientações ofertadas nas atividades de educação em saúde realizadas com as pessoas dependen-tes de insulinoterapia. O sucesso dessa educação exige a capacitação e sensibilização de equipes multiprofissio-

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nais de modo a atender às reais necessidades e possibi-lidades desses sujeitos, no intuito de oferecer melhora à sua condição de vida (ARAÚJO et al., 2009).

A institucionalização de uma cultura educativa nos es paços de trabalho significará a reorientação do proces-so de trabalho. Assim, as capacitações, na figura da edu-cação permanente em saúde, são de suma importância para o desenvolvimento dos trabalhadores que, estando em posse de uma cultura edu cativa de qualidade, po-dem propor e implementar ações educativas perenes aos usuários, com vistas à prevenção de doenças e agravos e, de igual modo, à promoção da saúde e preservação do ambiente (SILVA et al., 2017). Potencializar essas atividades configuram a robustez das informações di-fundidas, garantindo redimensionamento adequado dos processos que envolvem o gerenciamento dos RSS.

O enfermeiro, dispondo de capacitação para essa questão, poderá preencher a lacuna do déficit de infor-mações, pela educação continuada dos pacientes com diabetes e pelo exercício do bom senso, sempre instruin-do o cliente sobre o fato de que a seringa e a agulha devem ser descartadas em recipientes adequados. O processo educativo possibilita um maior nível de conhe-cimento e promove esclarecimentos importantes sobre a forma adequada de descarte, proporcionando a pre-venção de danos ao meio ambiente e mais qualidade de vida aos indivíduos que estão envolvidos nesse processo (SILVA et al., 2013).

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Desse modo, acreditamos que as mudanças dese-jadas em nível nacional, podem ser captadas diante das exitosas experiências internacionais com relação ao ge-renciamento dos RSS, provenientes da utilização de in-sulina e dos cuidados com o DM. Apontamos, também, a necessidade de uma releitura nas legislações vigentes com a finalidade de especificar tais demandas para que seus respectivos atores possam direcionar as orientações corretas e com qualidade.

CONCLUSÃOAs abordagens que os estudos dessa revisão trou-

xeram apontam para a importância de realizar um ge-renciamento adequado com os RSS provenientes da insulinoterapia e dos cuidados com o diabetes mellitus agrega potencialidades tanto à crescente preocupação mundial com a temática ambiental como aos governos, profissionais de saúde, pessoas com a doença e todos os envolvidos. Nesse sentido, as experiências exitosas de-monstradas nos estudos como modelos de orientação também são válidas, porém urge a necessidade do desen-volvimento de novas pesquisas que abordem como está sendo realizado o gerenciamento desses resíduos nas suas específicas localidades, angariando maior conhecimento e expansão das boas práticas.

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REFERÊNCIAS

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SAÚDE, TRABALHO E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO

CIVIL: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA

Maria Iderlania de Freitas SousaAna Patrícia Nunes Bandeira

Otávio Rangel de Oliveira e CavalcanteJosafá Justino Barbosa

Maria Gorethe de Sousa Lima BritoPaula Hemília de Souza Nunes

INTRODUÇÃODesde os tempos mais remotos da história da huma-

nidade o homem edifica espaços para o desenvolvimento de suas atividades: moradia, trabalho, desenvolvimento da espiritualidade, manutenção da saúde e locais de lazer. Essas atividades requerem espaços adequados e, indepen-dente da tecnologia utilizada, toda edificação é um pro-duto da construção civil, esta é uma das atividades mais antigas que remete à própria evolução do homem.

A construção civil apresenta-se como um grande gerador de empregos, com expressiva contribuição para o desenvolvimento econômico do país, sendo caracte-rizada como um setor estratégico para o crescimento nacional pelas suas características estruturais e os efeitos favoráveis sobre a geração de renda, emprego e tributos (IPECE, 2013).

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De acordo com o IPECE (2013), a economia cea-rense teve um crescimento de 8% em 2010, ficando um pouco acima da média nacional (7,5%), tendo como responsáveis por este aquecimento, as atividades de co-mércio, construção civil e alojamento/alimentação.

Além da importância econômica, a indústria da construção civil tem relevante papel social, especialmen-te em função de sua capacidade de geração de empre-gos com a utilização massiva de mão de obra, sobretudo aquela de baixa qualificação formal (SILVEIRA et al., 2005). O salário médio dos trabalhadores da constru-ção civil é em torno de 2,6 salários mínimos mensais para serventes e pedreiros, no entanto a remuneração é bastante variável pela rotatividade do setor e de acordo com a atividade exercida na própria obra (IBGE, 2010).

A construção civil promove emprego para grande parte da população masculina das camadas mais po-bres. Por ser uma atividade que expõe constantemente os trabalhadores a diversos riscos, ela é responsável pela elevação nas taxas de acidentes de trabalho letais, não le-tais e anos de vida perdidos (SANTANA e OLIVEIRA, 2004). No Brasil, são registrados, em média, 700 mil casos de acidentes de trabalho todos os anos. O país gas-ta por volta de R$70 bilhões com esse tipo de acidente, estando fora desses registros os acidentes não notificados (INSS, 2013).

O trabalho na construção civil é uma atividade que possui tarefas árduas e complexas, com um gasto

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energético elevado, aliado às ferramentas pouco ergonô-micas para a realização das tarefas, tornando o trabalho exaustivo e expondo o operário a diversos tipos de lesões (KROEMER e GRANDJEAN, 2005). De acordo com o IBGE (2011), a construção civil apresentou quase 60 mil acidentes ocupacionais durante o ano de 2011; e 957 doenças do trabalho. Este quadro reflete a imen-sa necessidade de atuação de medidas preventivas neste setor da indústria para a promoção da saúde laboral. O reconhecimento dos riscos inerentes ao trabalho levou a formulação de normas regulamentadoras, que tem sua existência jurídica no inciso I do artigo 200 da CLT, que obriga o Ministério do Trabalho a estabelecer medidas de caráter protecionista.

Devido aos grandes índices de acidentes e doenças laborais, com repercussão aos cofres públicos, houve um empenho do governo federal em estabelecer normas de segurança relacionadas à construção civil, como a NR 6, NR 9, NR 17, NR 18, a CIPA e, mais recentemente, a portaria 1.823, de 23 de agosto de 2012, na qual institui uma política nacional de saúde do trabalhador, buscan-do, entre outros objetivos, fortalecer a vigilância em saú-de do trabalhador; identificar as necessidades, demandas e problemas de saúde no território; realizar a análise da situação de saúde dos trabalhadores e intervenção nos processos e ambientes de trabalho (BRASIL, 2012).

A Ergonomia é contemplada na NR 17, presente na CLT pelos artigos 198 e 199 e estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições ocupacionais

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às características psicofisiológicas dos trabalhadores, vi-sando proporcionar conforto, segurança e eficiência no processo do trabalho. De acordo com esta norma, cabe ao empregador realizar análise ergonômica do trabalho, incluindo aspectos voltados ao levantamento, transpor-te e descargas de material, o mobiliário, equipamentos, condições ambientais e também a organização do traba-lho (BRASIL, 1978).

A ergonomia é uma ciência relativamente nova, para Iida (2005) é o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivan-do intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficiência das atividades humanas.

Os objetivos básicos da ergonomia situam-se na saúde, segurança e satisfação do trabalhador. Delibera-to (2002) afirma que, conforto, segurança e eficiência representam uma tríade indissociável, pois qualquer estudo ergonômico que privilegie um ou dois em de-trimento do terceiro resultará numa concepção ergonô-mica inadequada.

Para a ergonomia, o ambiente de trabalho represen-ta um conjunto interdependente de fatores que atuam sobre a qualidade de vida e no próprio resultado do trabalho. A análise ergonômica busca compreender não apenas as características do posto de trabalho ou do am-biente (ruído, temperatura, ventilação etc.), mas procura conhecer as peculiaridades de cada atividade, o método de trabalho e os resultados esperados (ABERGO, 2013)

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Os acidentes no setor produzem grande impacto social, econômico e sobre a saúde pública, mostrando a necessidade da adoção de políticas públicas voltadas à prevenção e proteção contra os riscos relativos às ativi-dades laborais, de maneira a contribuir de forma signi-ficativa para o desenvolvimento sustentável de uma re-gião. Sendo assim, o estudo da interface saúde, trabalho e sustentabilidade neste setor é, sem dúvida, essencial, pois trata-se de um conjunto de medidas adotadas que visa prevenir acidentes e doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do profissional; implicando em esforços para melhorar a saúde tanto no ambiente de trabalho como na comuni-dade como um todo.

Diante da necessidade de entender a saúde laboral dos trabalhadores da construção civil, o estudo apre-sentado neste capítulo possui grande importância, por se tratar de um estudo pioneiro na Região do Cariri, podendo contribuir para o desenvolvimento de políti-cas mais eficazes na prevenção de acidentes na Região e em outras localidades, concedendo melhores condições de trabalho e reduzindo a possibilidade de desenvolver doenças relacionadas ao trabalho.

A adoção de medidas preventivas busca reduzir os riscos e evitar acidentes, afastamentos, absenteísmo, alta rotatividade e os serviços executados inadequadamente; favorecendo a disposição e a motivação para o trabalho e reduzindo os gastos públicos com aposentadorias por

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invalidez ou pagamento de benefícios sociais por aciden-tes laborais, agregando às empresas, valores humanos tão requisitados atualmente. Essas medidas facilitam a dinâ-mica organizacional do trabalho e culminam para um processo de desenvolvimento sustentável.

O estudo apresentado neste capítulo teve como objetivo estimar o risco de desordens corporais que os trabalhadores da construção civil se expõem e recomen-dar maneiras de adequação do ambiente ao trabalhador, com vista na sustentabilidade.

MÉTODOA pesquisa seguiu um modelo analítico, transver-

sal, de natureza quantitativa (APPOLINÁRIO, 2012). O estudo foi realizado durante os meses de agosto de 2012 a setembro de 2013, em canteiros de obras da construção civil que estavam instalados nos municípios de Crato e Juazeiro do Norte, no sul do Ceará, para fins do desenvolvimento da dissertação de mestrado de Sou-sa (2014). Foram analisados trabalhadores que se encon-travam em atividade nas obras de edificações de grande porte e também de pequeno porte, como moradias, fo-calizando apenas a etapa de elevação das edificações, ou seja, a etapa de levantamento de alvenaria.

A amostra foi composta por 100 trabalhadores que obedeceram aos seguintes critérios de inclusão: sexo masculino, idade superior a 18 anos, mínimo de 01 ano

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de serviço prestado na construção civil e realizar ativida-des de pedreiro. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Cariri sob o parecer 251.742.

Para a realização deste trabalho utilizaram-se os seguintes materiais: câmera fotográfica semiprofissional 14 megapixels, tripé, questionário para avaliação de can-saço e dor ao final da jornada de trabalho e o software Er-golândia, cuja ferramenta de análise foi o método Rapid Entire Body Assessment (REBA).

O método Rapid Entire Body Assessment (REBA), foi criado por Hignelt e McAtamney (2000) para esti-mar o risco de desordens corporais que os trabalhadores se expõem. Atualmente, é encontrado como uma fer-ramenta do software Ergolândia. Trata-se de um instru-mento para avaliar a quantidade de posturas forçadas nas tarefas envolvendo carga.

A avaliação do risco é feita a partir de uma obser-vação sistemática dos ciclos de trabalho e pontuam-se as posturas do tronco, pescoço, pernas, braços, antebra-ços e punho. Gera-se, então, uma pontuação final para determinação dos níveis de risco (numa escala variando de 0 a 4) e tomadas de ação, onde corresponde a uma intervenção posterior à análise e indica a necessidade da intervenção. É útil na prevenção de riscos, alertando sobre as condições inadequadas do trabalho (SHIDA E BENTO, 2012). O Quadro 1 mostra o nível de ação e intervenções possíveis pelo método REBA.

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Quadro 1- Ações e intervenções pelo método Reba.Nível de

açãoValor REBA

Nível de risco

Descrição da ação e investigação

0 1 Muito baixo Não necessária

1 2-3 Baixo Pode ser necessária2 4-7 Médio Necessária

3 8-10 Alto Necessária brevemente

4 11-15 Muito alto Necessária e urgente: imediata

Fonte: Adaptado de Hignett e Mcatamney (2000).

Neste estudo foi verificada a postura do trabalha-dor durante a execução efetiva da atividade do trabalho e, para isso, utilizou-se a câmera fotográfica na modali-dade de filmagens para capturar imagens do homem em seu processo produtivo. Cada trabalhador foi filmado por dois minutos e observou-se a postura em que eles executavam sua atividade e os instrumentos que utiliza-ram para tal.

As filmagens foram lançadas e analisadas através do software Ergolândia 3.0, onde se utilizou a ferramenta análise de vídeo e o método REBA para aferir o risco de desordens corporais a que os trabalhadores estavam expostos. Após averiguar as filmagens, os resultados fo-ram discutidos com base na postura dos trabalhadores, cinesiologia e biomecânica do movimento, tendo como base a literatura específica do profissional fisioterapeuta, associado ao contexto ergonômico local e às possibilida-des de intervenção.

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RESULTADOS E DISCUSSÃOPara avaliação do posto de trabalho, no intuito de

analisar os riscos ergonômicos que os funcionários estão submetidos, foi utilizado o método REBA, sendo levado em consideração o tipo de bloco utilizado (cerâmico ou de concreto) e a altura da parede.

Sobre o tipo de bloco manuseado pelos indivíduos na etapa de levantamento de alvenaria, foram verificados dois tipos básicos: o bloco cerâmico de 08 furos, com dimen-sões 9 x 19 x 19cm, que tem peso aproximado de 2,2kg, e o bloco de concreto com dimensões 14 x 19 x 34cm, que tem peso aproximado de 11,5kg. No manuseio dos blocos foi constatado que 89% dos trabalhadores estive-ram utilizando bloco cerâmico e 11% o bloco de concreto. Essa observação é importante, pois quanto maior a carga manuseada na execução do trabalho, maiores serão as so-brecargas articulares impostas sobre a coluna vertebral, o que eleva o risco de distúrbios posturais (HALL, 2005).

Durante a execução do trabalho, foram observados cinco tipos de posturas assumidas pelos pedreiros e que se repetem ao longo da fase de alvenaria, como repre-sentadas na Figura 1 (A, B, C, D, E) e descritas a seguir.

a) Postura A: o indivíduo encontra-se agacha-do, com tronco flexionado. A parede está em baixa altura, sendo construída por blocos de concreto (Figura 1A). Nessa situação, o valor obtido pelo método REBA foi 6,0, classifican-do a situação como de risco médio, sendo ne-cessária uma intervenção;

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b) Postura B: o indivíduo encontra-se em posição ortostática com tronco fletido. A parede está em altura média, sendo construída por blocos de concreto (Figura 1B). Nessa situação, o valor obtido pelo método REBA foi 10,0, classifican-do a situação como de risco alto, sendo necessá-ria uma intervenção o quanto antes;

c) Postura C: o indivíduo encontra-se em posição ortostática, com tronco em flexão, com suporte nas duas pernas, embora o peso esteja concen-trado apenas em uma. A parede está com altura baixa, sendo construída por blocos cerâmicos (Figura 1C). Nessa situação, o valor obtido pelo método REBA foi 12, classificando a situação como de risco muito alto, sendo necessária uma intervenção imediata;

d) Postura D: o trabalhador encontra-se com per-nas e tronco em total flexão. A parede encon-tra-se em média estatura, erguida por blocos cerâmicos (Figura 1D). Nessa situação, o valor obtido pelo método REBA foi 5,0, classificando a situação como de risco médio, sendo necessá-ria uma intervenção;

e) Postura E: o indivíduo se encontra em posição ereta, com membros inferiores em extensão, om-bros e braços elevados. A parede está alta, sendo elevada por meio de blocos cerâmicos (Figura 1E). Nessa situação, o valor obtido pelo método REBA foi 6,0, classificando a situação como de risco médio, sendo necessária uma intervenção.

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As posturas assumidas durante a execução da al-venaria representam um grau de risco classificado de médio a muito alto, indicando que o trabalhador está sob elevado risco de acidente e de desenvolvimento de doenças laborais. A intervenção se faz imediatamente necessária nesta situação.

A análise de risco também revela que há movi-mentos repetitivos mais que quatro vezes por minuto, além de assumirem uma postura instável. O Quadro 2 descreve as posições de cada segmento corpóreo assumi-do durante a etapa de levantamento de alvenaria. São analisados: cabeça, tronco, braços, antebraços, punhos, pernas e a carga submetida ao corpo.

De acordo com Deliberato (2002), se um trabalho é realizado numa postura inadequada, que requeira um alto gasto energético, então haverá sobrecarga articular e muscular, desencadeando afecções músculo esqueléti-cas conhecidas de DORTs (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Através da análise dos riscos ocupacionais, foi observado que o ambiente se encon-tra extremamente propício à ocorrência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, como DORT e LER.

De acordo com Deliberato (2002), se um trabalho é realizado numa postura inadequada, que requeira um alto gasto energético, então haverá sobrecarga articular e muscular, desencadeando afecções músculo esqueléti-cas conhecidas de DORTs (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Através da análise dos riscos

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ocupacionais, foi observado que o ambiente se encon-tra extremamente propício à ocorrência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, como DORT e LER.

Iida (2005) afirma que o posto de trabalho é a configuração física do sistema homem-equipamento, é a unidade produtiva. O enfoque ergonômico é basea-do na análise biomecânica da interação homem-siste-ma-ambiente e busca reduzir as exigências energéticas e cognitivas, procurando colocar o trabalhador numa posição que facilite seu trabalho, que seja confortável e promova eficiência na tarefa.

A organização do trabalho encontrada na constru-ção civil é um ambiente propício à ocorrência de aci-dentes e lesões incapacitantes, desencadeado por vários fatores, entre eles posturas antiergonômicas, ferramentas pouco programadas, desconhecimento dos riscos ine-rentes a cada estágio de uma obra, em cada situação de trabalho, como também a maneira de preveni-los.

Com vistas a contribuir com as políticas de saúde para o desenvolvimento econômico e social da Região do Cariri cearense e de outras regiões, são recomendadas algu-mas maneiras de adequação do ambiente ao trabalhador.

A porta de entrada para sustentabilidade é a edu-cação que não é apenas inclusiva, mas preventiva. A educação precede a saúde e esta reflete a condição física, mental e psicossocial do indivíduo. Neste aspecto, pro-gramas de prevenção ensinados aos operários; medidas protetivas; treinamentos e aperfeiçoamentos para a tría-de produção, qualidade e segurança se fazem necessárias.

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Figura 1 - Posturas assumidas durante a etapa de alvenaria e análise de risco pelo REBA.

e

a

c

b

d

Fonte: Sousa (2014).

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A fim de evitar os riscos ergonômicos é imprescindí-vel a orientação de medidas preventivas aos funcionários, tais como: evitar que o tronco fique em flexão com torção e/ou agachado através de uma postura inadequada; evitar pegar peso em excesso; ao levantar cargas, sustentá-las em pequenas quantidades por vez e próximo ao tronco; usar um suporte como cavaletes ou mesmo as pilhas de tijolos para apoiar os instrumentos menores e os materiais como a argamassa, com isso evitariam abaixar-se e levantar-se repetidas vezes; acrescentar uma tábua ao cavalete a fim de melhorar a mobilidade (ver Figura 2).

Quadro 2 - Descrição dos segmentos corpóreos para cada postura assumida durante a alvenaria.

Posições do corpo

POSTURA

A B C D E

PescoçoEntre 0 e 20º de flexão

Entre 0 e 20º de flexão

Mais que 20º de flexão, com rota-ção para o lado

Entre 0 e 20º de flexão

Em extensão com rotação para o lado

Tronco0 a 20º em flexão Rotacionado e inclinado lateralmente

De 20 a 60º em flexão, rotacionado e inclinado para o lado

Em flexão maior que 60º rotacio-nado e inclinado lateralmente

0 a 20º em flexão com rotação einclinação lateral

Ereto com rotação

BraçosEm flexão de 20 a 45º

Entre 45 e 90º, com ombro elevado

Entre 45 e 90º de flexão com ombro elevado

Em flexão de 20 a 45º

Em flexão maior que 90º, com ombro elevado

Antebraços De 60º a 100º em flexão

Fletidos de 60 a 100º

De 60º a 100º em flexão

Fletidos de 60 a 100º

Em extensão entre 0 a 60º

Punhos Fletidos até 15º Até 15º de flexão

Até 15º de flexão Até 15º de flexão

Até 15º de flexão

Pernas

Joelhos fletidos entre 30 e 60º em apoio bipodal

Joelhos fletidos entre 30 e 60º em apoio bipodal

Flexão de joelho entre 30 e 60º em apoio bipodal

Flexão entre 30 e 60º em apoio bipodal

Em extensão e apoio bipodal

Carga Maior que 10 kg

Maior que 10 kg

Menor que 5Kg Menor que 5Kg

Menor que 5Kg

Pontuação 6,0 10,0 12,0 5,0 6,0

Fonte: Sousa (2014)

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No caso do empregador seria importante incenti-var as modificações no ritmo de trabalho, ensinando ao operário a fazer pequenas pausas durante a realização da atividade pelo menos, a cada duas horas, para alongar a musculatura dos membros superiores e inferiores, mobi-lizar a coluna cervical e fazer exercícios de flexibilidade. Essas atividades são rápidas e eficientes, pois relaxam os grupos musculares mais solicitados, melhoram a circu-lação e facilitam o recrutamento de outras fibras muscu-lares, além de preparar a musculatura para suportar as cargas de trabalho (BARBOSA, 2009).

Figura 2- Adaptações para redução de riscos ergonômicos

Fonte: Sousa (2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os trabalhadores da construção civil estão expostos

a riscos ocupacionais destacando-se o risco ergonômico como fator predisponente ao afastamento precoce do trabalho. O risco ergonômico é extremamente acentua-

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266Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

do, devido à própria organização do trabalho, da carga manuseada, pouca organização do ambiente, da repeti-tividade e postura inadequada.

A execução incorreta do trabalho ou do movimen-to é um dos fatores contribuintes no processo de adoe-cimento humano e, consequentemente, de interferência no processo saúde-doença. O direito à saúde representa uma consequência constitucional indissociável do direi-to à vida, não se constituindo uma proteção ao traba-lhador em si mesmo, mas sim uma proteção ao cidadão.

Para mitigar o possível adoecimento são sugeridas maneiras de adequação do ambiente ao trabalhador, com vista na sustentabilidade econômica e social regio-nais sendo elas: educação continuada em saúde e segu-rança do trabalho; instrução ao trabalhador em como pegar peso e distribuir cargas; utilização de suportes da própria construção, como cavaletes e tijolos, utilizando uma postura segura e confortável sem prejuízo ao tempo de execução da obra.

A intervenção ergonômica na construção civil é mais difícil do que nas outras indústrias, devido a vários fatores como: mudança constante do local de trabalho; grande rotatividade dos trabalhadores; muitos operários são contratados por empreiteiras e os proprietários da obra alegam não terem condições de contratarem um especialista em ergonomia.

O desenvolvimento sustentável é possível e neces-sário na construção civil, mas envolve as relações sociais

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267Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

entre o trabalhador, a empresa e a sociedade, requeren-do compreensão do processo político e social que deve pensar conjuntamente o processo de desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

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268Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

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INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL RELACIONADOS ÀS CONDIÇÕES DE

EXTRAÇÃO DO CALCÁRIO LAMINADO NO SUL DO CEARÁ

Paula Hemília de Souza NunesMaria Gorethe de Sousa Lima

Flavio Cesar Brito NunesMaria Iderlania de Freitas Sousa

Ana Patrícia Nunes Bandeira

INTRODUÇÃOA relação homem-ambiente-saúde faz parte dos

antigos registros da humanidade, no entanto, somente no final do século XX iniciaram-se as discussões técnicas sobre as relações entre o meio ambiente e outros seto-res da sociedade (NUNES, 2015). Foi a partir dessas discussões que surgiu o conceito de Saúde Ambiental, que tem como premissa básica conhecer os reflexos das condições ambientais na saúde humana.

A análise da saúde ambiental é muito importante em diversas atividades realizadas pelo homem. A ati-vidade de mineração, por exemplo, causa considerável impacto ao meio ambiente e afeta diretamente a saúde dos seus trabalhadores e indiretamente a população cir-cunvizinha à área de mineração. Por muitas décadas, a atividade mineral tem se destacado como uma atividade

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270Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

que, apesar de gerar empregos e ser fonte extra de renda para pequenos proprietários rurais, sobretudo nos locais onde não há expectativa de outras formas de renda para melhoria de sua qualidade de vida, causa grandes impac-tos ambientais, muitos deles irreversíveis (BACCI et al., 2006 apud CABRAL; PEREIRA; ALVES, 2012, p. 02).

Dentre os principais impactos gerados pela mine-ração, destaca-se: a remoção da vegetação em todas as áreas de extração, poluição dos recursos hídricos (super-ficiais e subterrâneos), contaminação dos solos por ele-mentos tóxicos, sedimentação e poluição de rios e cór-regos pelo descarte indevido do material produzido não aproveitado, poluição do ar, da terra e sonora e evasão forçada de animais (NUNES, 2015). O conhecimento da relação entre as condições ambientais e a saúde hu-mana é, portanto, indispensável para o desenvolvimento sustentável.

Diante do exposto, percebe-se a importância de de-senvolvimento de pesquisas sobre indicadores de saúde ambiental nas atividades de mineração, na busca de ob-ter parâmetros técnicos para subsidiar o gerenciamento e a implantação de políticas públicas, auxiliando a tomada de decisões. Nesse sentido, apresentam-se neste traba-lho os resultados de uma pesquisa que objetivou definir indicadores de saúde ambiental, utilizando os escopos ambiental, socioeconômico e de saúde, nas áreas de ex-tração de calcário laminado, nos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri, no interior do Ceará.

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271Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

MÉTODOPara a realização da pesquisa utilizou-se instrumen-

tos de coleta de dados quantitativos e qualitativos. Os dados quantitativos foram obtidos por meio de entre-vistas estruturadas realizadas com os trabalhadores da extração do calcário laminado; e os dados qualitativos foram obtidos através de observações diretas da paisa-gem geográfica e de registros fotográficos.

O número de trabalhadores entrevistados foi cal-culado por meio da Equação 1, recomendada por Mar-tins (2002) quando o universo da população é finito e quando os dados coletados excedem 5% da população da área estudada.

𝑛=𝑍².𝑝.𝑞.𝑁𝑑2(𝑁−1)+𝑍².𝑝.𝑞

Onde: N = Tamanho da população; Z = Abscissa da distribuição normal padrão; Se o nível for de 95,5%, Z = 2; Se o nível for de 95%, Z = 1,96; Se o nível for de 99%, Z = 2,57; p = Estimativa da verdadeira proporção de um dos

níveis da variável escolhida. Será expresso em decimais. De forma convencional admite-se p = 0,50, gerando, as-sim, o maior tamanho de amostra possível.

q = 1 – p; d= Margem de erro, expresso em decimais; n= Tamanho da amostra aleatória simples a ser re-

tirada da população.

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272Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Nesta pesquisa, o tamanho da população foi obtido a partir dos dados censitários do IBGE, o nível de con-fiança foi de 95% e a margem de erro de 5%. A partir desse método de cálculo, verificou-se que o tamanho da amostra foi de 272 mineradores, correspondente a 42,5% do total de mineradores.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará/PROPESQ, através do Sistema Plataforma Brasil, com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética com o número CAAE 17881814.3.0000.5054.

Para seleção dos indicadores de saúde ambiental, foi feita, inicialmente, uma análise dos indicadores de escopo ambiental, socioeconômico e de saúde; que me-lhor representassem a área de estudo. A partir dessa aná-lise prévia, constatou-se que deveriam ser considerados os indicadores de qualidade do ar, qualidade das águas e as condições de trabalho. Os resultados apresentados neste capítulo tratam dos indicadores relacionados ape-nas às condições de trabalho. Esses indicadores foram baseados no modelo proposto pela OMS, que considera a estrutura FPSEEA (Força motriz, Pressão, Estado, Ex-posição, Efeito e Ação).

Para Covarlan et al. (1996, p. 19-56 apud OLIVEI-RA; FARIA, 2008, p. 04), a estrutura FPSEEA baseia-se nos conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentá-vel, legados pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e nos princípios e

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273Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

compromissos estabelecidos na Carta de Ottawa para a promoção da saúde, na medida em que indica a necessi-dade de integração entre as várias políticas relacionadas com o desenvolvimento e as necessidades sociais, de pre-servação ambiental e de saúde.

De acordo com a OMS, este é o modelo através do qual as forças motrizes geram pressões que modificam a situação do ambiente e, em última análise, a saúde hu-mana, por meio das diversas formas de exposição (MA-CIEL FILHO et al., 1999, p. 59-65 apud CASTRO; GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003, p. 137).

Indicadores de força motriz: Os indicadores neste âmbito estão estreitamente relacionados ao modelo econômico da região. Ele propicia uma visão ma-cro sobre os problemas que possam gerar danos ao ambiente e à saúde. O desenvolvimento econômico funciona como a mola propulsora dos elementos que compõem a força motriz da região (CASTRO; GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003, p. 138).

Indicadores de pressão: os indicadores de pressão são decorrentes dos indicadores de força motriz e são fatores que influenciam em uma escala ampla e que apresentam vínculos indiretos entre os riscos ambientais e efeitos reais de saúde das populações. São definidos em parte pelas opções tecnológicas locais e regionais (CASTRO; GOUVEIA; ESCA-MILLA-CEJUDO, 2003, p. 139 e MACIEL FI-LHO et al., 1999, p. 141).

Indicadores de situação: as mudanças do meio am-biente podem ser complexas e amplas e podem ter consequências em escala local, regional, estadual e nacional. São decorrentes das pressões e podem

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274Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

representar um aumento na frequência e magni-tude do risco natural. Relacionam-se neste item as possibilidades de impactos na saúde e no ambiente decorrente das diversas alterações produzidas no meio ambiente pelas forças motrizes e as pressões (CASTRO; GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003, p. 139; MACIEL FILHO et al., 1999, p. 84).

Indicador de exposições: a exposição é a condição indispensável para que a saúde individual ou cole-tiva seja afetada pelas causas adversas do meio am-biente. Muitos fatores determinam se um indivíduo será exposto, como: a poluição do meio, quantidade de poluentes, tempo de permanência em ambientes contaminados, bem como a forma de contato. Estes fatores estabelecem vínculos fortes e diretos entre os riscos ambientais e os efeitos reais de novos riscos para a saúde (MACIEL FILHO et al., 1999, p. 84).

Indicadores de efeito: os indicadores deste nível re-lacionam-se diretamente com a saúde da população e dos indivíduos. Estão vinculados ao bem-estar e ao padrão de morbimortalidade de uma popula-ção. O impacto na saúde, em geral, é o somatório das diversas exposições a diversos agentes, em mo-mentos diferenciados, nem sempre fáceis de serem expostos nos estudos epidemiológicos (CASTRO; GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003, p. 140).

Indicadores de ação: as ações podem ser de curto prazo e de caráter reparador, outras, em longo prazo e preventivas. Diversas ações podem ser tomadas, baseadas na natureza dos riscos, sua receptividade ao controle e da percepção pública dos riscos. As ações podem ser implementadas em diferentes ní-veis de gestão, como, por exemplo, em nível das for-ças motrizes, das pressões, da situação, de exposição ou dos verdadeiros efeitos sobre a saúde (MACIEL FILHO et al., 1999, p. 85).

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275Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

A construção da lista de indicadores de saúde am-biental relacionados às condições de trabalho de mi-neração na área em estudo se fez essencial por serem considerados os mais indicados para representar a saú-de ambiental da população. Ao todo foram analisados 27 indicadores que foram classificados em uma das 03 seguintes classes (péssimo, regular ou bom). Os indica-dores foram relacionados aos seguintes fatores: uso de EPIs; disponibilidade de água potável para consumo e redução de poeira; proteção para o operador contra exposição ao sol, chuva e vento; tecnologia dos equipa-mentos empregados; jornada de trabalho; geração de resíduos; qualidade das vias de acessos; acesso às áreas de operação de máquinas ou equipamentos; sinalização dos acessos aos depósitos de estéril, rejeitos e produtos; estocagem de materiais; assoreamento de cursos de água; inclinação do plano de deposição do material; habili-dade dos trabalhadores em desempenhar suas funções; princípios ergonômicos dos postos de trabalho; capaci-tação dos mineradores.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAs classificações dos indicadores de saúde ambien-

tal analisados para a atividade de extração do calcário la-minado estão apresentadas na Tabela 1, juntamente com alguns motivos que influenciaram tais classificações. Desta tabela observa-se que aproximadamente 78% dos

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indicadores foram classificados como ‘péssimo’, com destaque à Tecnologia dos equipamentos empregados, à Jornada de trabalho, ao Monitoramento e ao gerencia-mento dos poluentes.

Tabela 1: Classificação dos indicadores ambientais associados a extração do cal-cário laminado.

Indicadores de condições de trabalho Classificação Motivo

Uso de EPIs Regular 78% não usam

Água disponível para consumo BomNão há estudos de qua-lidade da água

Equipamentos com proteção para o operador contra exposição ao sol, à chuva e ao vento.

Bom Protege parcialmente

Imediato atendimento ao acidentado Regular Só os casos graves

Água disponível para amenizar a poeira gerada pelo corte da rocha

BomEm todas as minera-doras

Equipamento com dispositivos para redução da poeira

Regular Insuficiente

Tecnologia dos equipamentos Péssimo Precária

Realizam exames médicos de rotina Péssimo

Apenas 17,6% dos trabalhadores realizam exames médicos roti-neiramente

Jornada de trabalho acima de 6 horas por dia Péssimo De 8 a 10 horas

Volume de resíduos PéssimoMais de 70% da extra-ção vira resíduo

Monitoramento e gerenciamento dos poluentes Péssimo Não há

Concentração de poeira Péssimo Abundante

Exposição a raios solares Péssimo Intensa (céu aberto)

Veículos mantendo distâncias mínimas entre máquinas e equipamentos

PéssimoNão seguem as normas recomendadas

Estradas com largura mínima, duas vezes maior que a largura do maior veículo utilizado.

PéssimoNão seguem as normas recomendadas

Vias de circulação de veículos, não pavimen-tadas, umidificadas de forma a minimizar a geração de poeira

PéssimoNão seguem as normas recomendadas

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Acesso às áreas de operação de máquinas ou equipamentos permitidos a pessoas autoriza-das

Péssimo Acesso livre

Obtém o máximo de aproveitamento do mi-nério

Péssimo Apenas30%

Os depósitos de estéril e rejeitos mantidos sob a supervisão de profissional habilitado

Péssimo Não há supervisor

Os acessos aos depósitos de estéril, rejeitos e produtos devem ser sinalizados e restritos ao pessoal

Péssimo Não há sinalização

A estocagem de materiais é realizada com o máximo de segurança e o mínimo de impacto no ambiente

PéssimoNão seguem as normas recomendadas

Evita o arraste de sólidos para o interior de rios, riachos ou outros cursos de água

Péssimo Não há controle

Observa a inclinação máxima em relação à ho-rizontal para o plano de deposição do material

PéssimoNão seguem as normas recomendadas

Mineradores admitidos encontram-se aptos a realizar as suas funções

Péssimo Não há treinamento

Trabalhadores treinados conforme a legislação vigente e por pessoal habilitado

Péssimo Não há treinamento

Postos de trabalho projetados e instalados se-gundo princípios ergonômicos

PéssimoNão seguem as normas recomendadas

Fonte: Nunes (2015)

Quanto aos demais indicadores, 11% foram clas-sificados como regular e 11% como ‘bom’. Entre os indicadores classificados como regular destacam-se: uso de EPIs; imediato atendimento ao acidentado; e equipamento com dispositivos para redução da poeira. O enquadramento desses indicadores na classe regular mostra o quanto a atividade é desenvolvida de maneira insatisfatória, agravando a saúde ambiental dos trabalha-dores envolvidos.

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278Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Entre os indicadores classificados como ‘bom’ des-tacam-se: a água para consumo; a água disponível para amenizar a poeira gerada pelo corte da rocha; e equipa-mentos com proteção para o operador contra exposição ao sol, à chuva e ao vento. Apesar da água para consumo ser classificado como bom, do ponto de vista de haver a disponibilidade, é necessário examinar a qualidade dessa água.

Apesar do indicador “Equipamentos com proteção para o operador contra exposição ao sol, à chuva e ao vento” ter sido enquadrado na classe “bom”, a maioria dos trabalhadores fica exposta à radiação solar, pois a atividade se desenvolve a céu aberto, no entanto há pro-teção contra chuva e vento. Medidas simples como a uti-lização de roupas adequadas, que protegem os trabalha-dores dos raios solares, reduziriam os riscos de obtenção de câncer de pele.

Segundo DNPM (2002), a atividade de mineração deve seguir algumas recomendações que estão descritas nos seguintes documentos: I) Norma Reguladora da Mi-neração (NRM) para Circulação e Transporte de Pessoas e Materiais e Disposição e Manutenção dos Equipa-mentos; II) NRM para Disposição de Estéril, Rejeitos e Produtos; e III) NRM para Organização de Locais de Trabalho e Proteção ao Trabalhador. Tais NRM têm por objetivo, dentre outros, a segurança e proteção ao meio ambiente, de forma a tornar o planejamento e o desen-volvimento da atividade minerária compatíveis com a

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279Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

busca permanente da produtividade, da preservação am-biental, da segurança e saúde dos trabalhadores.

A NR para Circulação e Transporte de Pessoas e Materiais e Disposição e Manutenção dos Equipamen-tos, que fazem parte da Legislação de Segurança e Saúde do Trabalho, recomenda uma largura mínima para as vias de acesso, sendo no valor de duas vezes a largura do maior veículo utilizado. Outra recomendação se refere ao minério, que deve ser aproveitado ao máximo; e as áreas de operação de máquinas ou equipamentos devem ser de acesso apenas ao pessoal autorizado. Nos locais do desenvolvimento deste trabalho não foi verificado o atendimento desses requisitos, sendo então classificados como péssimo.

No que se refere aos cuidados com os depósitos de estéril e rejeitos, a NRM para Disposição de Esté-ril, Rejeitos e Produtos recomenda uma supervisão de profissional habilitado. Na área de estudo, os depósitos de estéril e rejeitos e a estocagem de materiais foram enquadrados como “péssimo”, pois se verificou que nos locais não há nenhuma supervisão de um profissional habilitado. Os rejeitos ficam lançados nas margens das vias de acesso, sem nenhuma sinalização que proíba a circulação de pessoas não autorizadas. As pilhas de rejei-tos são altíssimas, colocando em risco por desabamento a vida das pessoas que trafegam pelo local (Figura 1). Além disso, os materiais mais superficiais dos rejeitos são transportados, pela ação do vento e da água, para o inte-

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rior dos cursos de água, podendo causar o assoreamento dos rios e canais. Este fato é agravado pela contribuição do fluido de lama produzido nas máquinas de serragem (Figura 2).

Com relação ao atendimento da NRM que trata da Organização de Locais de Trabalho e Proteção ao Traba-lhador, recomendando o treinamento dos trabalhadores conforme a legislação vigente e por pessoal habilitado e sugerindo que os postos de trabalho sejam projetados e instalados segundo princípios ergonômicos, estes fatos não foram constatados na área de estudo; ou seja, não foi encontrado o devido atendimento às NRM, o que fez enquadrar esses indicadores na classe de péssimo.

Figura 1 – Rejeitos nas margens das vias de acesso (Nova Olinda-CE).

Fonte: Nunes (2015)

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Figura 2 – Lama proveniente das máquinas de serragem (Nova Olinda-CE)

Fonte: Nunes (2015)

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282Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Quanto ao indicador “Jornada de trabalho”, classificado também como péssimo, sabe-se que os trabalhadores ganham por produção; ou seja, quan-to maior a produção, maior a remuneração recebi-da. Nesse caso, a remuneração representa um fator de motivação para o aumento da jornada de trabalho, visto que durante o horário regular da jornada de tra-balho não é possível desenvolver uma boa produ-ção. O Trabalho no período diurno tem duração de 8h/dia, podendo se prolongar até para 10h/dia, com uma hora de descanso no almoço, o que caracteriza um grande esforço físico executado pelos mineradores, de-vido à atividade ser exaustiva, árdua e perigosa. Elevar a jornada de trabalho implica, consequentemente, em elevar os riscos a que eles se submetem. Nesse aspecto Kroemer e Grandjean (2005, apud SOUSA, 2014, p. 59) afirmam que o excesso de horas trabalhadas reduz a qualidade do trabalho, gera fadiga, exaustão, torna o ritmo de trabalho mais lento e a produtividade horária se torna menor.

Através dos resultados das análises qualitativas e quantitativas foi possível montar a matriz dos indica-dores de saúde ambiental para o monitoramento das condições de trabalho decorrente da extração de calcário laminado e das ações envolvidas (Tabela 2).

Os indicadores de força motriz foram: Política de vigilância à saúde do minerador; Incentivo à mineração local; e Fiscalização. Tais políticas, de ordem econômica,

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ainda em falta ou parcialmente em falta nos municípios, afetam os diversos processos ambientais que podem, por sua vez, afetar a saúde humana. Esses indicadores, por sua vez, geram pressões, tais como a falta de tecnolo-gia dos equipamentos e a produção de grandes volumes de rejeitos que podem causar riscos ao trabalhador e ao meio ambiente. Esses aspectos contribuem para os indicadores de situação como, por exemplo, a concen-tração de poeira; a poluição ambiental e a ausência do uso do EPI. Tais situações deixam os trabalhadores em exposição aos riscos de adoecimento e de acidentes de trabalho, pois a exposição é uma condição indispensável para que a saúde individual ou coletiva seja afetada pelas causas adversas do meio ambiente. Os efeitos na saúde devido à exposição podem variar em função de alguns aspectos, como: tipo, magnitude e intensidade. Esses as-pectos, por sua vez, dependem: do nível de exposição, da situação de saúde da pessoa, da idade, da formação gené-tica, da poluição do meio, da quantidade de poluentes, do tempo de permanência em ambientes contaminados, bem como da forma de contato. Todos esses fatores en-volvidos causam efeitos nas pessoas, que se revelam em morbimortalidade, associadas a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

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Tabela 2- Matriz dos Indicadores de saúde ambiental para o monitoramento das condições de trabalho decorrente da extração de calcário laminado.

INDICADORES AÇÕESFORÇA MOTRIZ

• Política de vigilância à saúde do minerador;• Incentivo à mineração;• Fiscalização;

• Integração da saúde e do ambiente nas políticas do desenvolvimento;

PRESSÃO • Tecnologia dos equipamentos;• Volume dos rejeitos;

• Intervenção nas políticas públicas na mineração;

SITUAÇÃO • Concentração de poeira;• Poluição;• Ausência do uso do EPI;

• Monitoramento e geren-ciamento de poluentes.

EXPOSIÇÃO • Poluentes químicos;• Acidentes de trabalho;

• Vigilância em saúde am-biental;• Fiscalização

EFEITO • Morbidade;• Mortalidade.

• Tratamento e reabili-tação

Fonte: Nunes (2015)

Quanto às ações indicadas na matriz dos Indica-dores de saúde ambiental (Tabela 2), tem-se para a for-ça motriz, a integração entre os setores da saúde e do meio ambiente, de modo que essa integração seja tanto intrasetorial e intersetorial, quanto multidisciplinar, na construção de uma política voltada a um ambiente de trabalho mais sustentável. Para os indicadores de pres-são, tem-se como ações: a intervenção nas políticas pú-blicas na mineração.

Nesse caso, enquadram-se os órgãos fiscalizadores do meio ambiente, como a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), o Departamento Na-cional de Produção Mineral (DNPM), o Instituto Chico

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Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e outros, já que a tecnologia dos equipamentos e o volume dos rejeitos, tanto degradam o meio ambiente, quanto trazem riscos à saúde.

No âmbito da situação, as ações recomendadas são: redução de volumes de rejeito e monitoramento e gerenciamento de poluentes, que juntas dependem da promoção de ações em nível de força motriz para que os mineradores fossem estimulados a, por exemplo, di-minuir a geração de rejeitos. Quanto aos indicadores de exposição, as ações são: vigilância em saúde ambiental e fiscalização, realizadas por órgãos municipais. Por fim, em nível de efeito, a ação sugerida é o tratamento e a reabilitação para os casos de acidente de trabalho e adoe-cimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados desta pesquisa demonstram a falta de

políticas públicas e de ações de gerenciamento voltados para a atividade de mineração no sul do Ceará. As clas-sificações dos indicadores alertam para a necessidade ur-gente de adoção de medidas preventivas e corretivas na atividade de extração do calcário laminado, de maneira a obter um melhor nível de classificação. Ações simples, como a umidificação das vias de circulação de veículos não pavimentadas, podem reduzir significativamente a geração de poeira. O monitoramento e o gerenciamento

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dos poluentes gerados pela extração do calcário lamina-do constituem ações indispensáveis para a segurança da saúde dos mineradores, das pessoas que trafegam pelo local e das pessoas que moram em seu entorno.

Enquanto houver ausência de ações específicas que proporcionem o conhecimento e a detecção de qualquer alteração nos fatores que determinam e condicionam o meio ambiente e, consequentemente, interfiram na saúde das pessoas, não haverá a garantia da saúde dos trabalhadores.

A matriz dos indicadores de saúde ambiental, cons-truída neste estudo, permitiu uma visão sistêmica dos fatores ambientais, sociais, econômicos, políticos e de saúde pública. Com este instrumento é possível planejar, ao longo do tempo, ações nas etapas de força motriz, pressão, situação, exposição e efeito. Ante ao exposto, infere-se que os programas de saúde ambiental devem contar com ações de ordem interdisciplinar, com mo-vimentos socialmente justos, economicamente viáveis e ecologicamente corretos, visando à perspectiva de uma equidade social, política e econômica. Neste sentido, ressalta-se que o desenvolvimento regional sustentável de uma região está conectado às condições de saúde da população, que, por sua vez, têm aspectos sociais que as determinam e as condicionam, as quais estão articu-lados.

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MARTINS, G. de A. Estatística Geral e Aplicada. 2.ed. São Paulo: Atlas, p.157 - 200, 2002.NUNES, P. H. S. Análise da Saúde Ambiental Vinculada à Extração da Pedra Cariri. 140f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável) - Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, 2015.OLIVEIRA, M. L. C; FARIA, S. C. Indicadores para Desenvolvimen-to Sustentável. Indicadores de saúde ambiental na formulação e avalia-ção de políticas de desenvolvimento sustentável. Revista Brasileira de Ciências Ambientais. n. 11, p. 02-04, 2008.SOUSA, M. I. F. Saúde ocupacional no setor da construção civil: re-alidade e perspectivas no desenvolvimento regional sustentável. 2014. 122f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentá-vel) - Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, 2014.

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PANORAMA DE CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL PELO USO DE

AGROTÓXICOS E SEU IMPACTO NA SAÚDE HUMANA

Geovanna Maria Sales MonteiroEline Mara Tavares Macêdo

INTRODUÇÃOA expansão do agronegócio e o uso de novas tec-

nologias no mundo globalizado provocam impactos de ordem ambiental, com consequências na saúde humana. A força motriz que impulsiona o agronegócio está na hegemonia do capital dentro do modelo de desenvolvi-mento, em detrimento da qualidade de vida do ambien-te e das populações. Grandes são os desafios da atua-lidade, principalmente para a saúde coletiva. A adoção de um sistema capitalista, com a produção de bens e de consumo por meio de uma industrialização na qual se supervaloriza a produtividade, age como um fator con-dicionante desta saúde (ASSUNÇÃO; ROHIFS, 2012).

Nesta lógica a exploração da natureza em sua ple-nitude durante a extração de matéria-prima permite que a agricultura produza de modo acelerado e sem perdas, sem levar em consideração os fatores imprevisíveis da natureza. Para alcançar níveis cada vez mais altos de

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produção vem sendo indiscriminado o uso de produtos químicos, na tentativa de controlar pragas e fertilizar o solo (ARAÚJO, 2010).

O uso desses agrotóxicos tornou-se uma questão preocupante e desafiante. Preocupante quando gera con-sequências impactantes na saúde humana e o risco de de-gradação ambiental. Desafiante quando se percebe a pou-ca visibilidade social do fato e os grandes e distintos inte-resses políticos e econômicos (CARNEIRO et al, 2012).

A contaminação por agrotóxicos se dá tanto du-rante a administração do produto químico nas lavouras, quanto na produção, disposição, armazenamento e des-tino dos resíduos químicos. Em todo esse processo há o contato humano e ambiental (CARNEIRO et al, 2012).

Para a saúde ambiental, o uso de agrotóxicos vem sendo relacionado ao desaparecimento das matas e flo-restas originais, devastação de fauna e flora, solos im-produtivos e contaminação do ar, água e terra (ASSUN-ÇÃO; ROHIFS, 2012).

Nos últimos dez anos, as produções científicas no Brasil sobre agrotóxicos têm aumentado, justificado pela necessidade de aumento da produção agrícola, aumento de casos de cânceres e intoxicações exógenas, inclusive com aumento de óbitos, e aumento de demanda para auxílios diagnósticos (ARAÚJO, 2010).

Pelo cenário exposto, a dependência e o uso indis-criminado de agrotóxicos vêm acarretando consequên-cias nefastas à saúde ambiental e humana, e cada vez mais

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estudos são necessários na busca da compreensão desta relação, o que justifica nosso estudo. Buscamos descrever o estado da arte, do conhecimento publicados na área, por meio de levantamento bibliográfico com o objetivo de discutir as principais manifestações e repercussões do uso de agrotóxicos na saúde do homem e do ambiente, indicando os principais fatores de risco envolvidos.

MÉTODO/PERCURSO METODOLÓGICOTrata-se de um estudo descritivo bibliográfico,

traçando um panorama retrospectivo das principais pu-blicações desenvolvidas no Brasil, relacionadas aos pro-cessos de contaminação por agrotóxicos e seus impactos na saúde ambiental e das populações. Para Gil (2002, p. 42), “as pesquisas descritivas têm como objetivo pri-mordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Quanto aos procedimentos, pode ser dita pesquisa documental, que consiste na coleta, classificação, seleção difusa e na utilização de toda espécie de informações na forma de textos, imagens e outros (FACHIN, 2001).

A amostra da pesquisa foi obtida por uma seleção de periódicos. Foi realizado um levantamento bibliográfico, através de busca eletrônica realizada pela Internet na Bi-blioteca Virtual em Saúde (BVS). Tendo em vista os ob-jetivos do presente artigo, foram selecionados para análi-

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se somente os periódicos em que os títulos apresentassem os termos; “agrotóxicos”, “agrotóxicos e contaminação”, “agrotóxicos e meio ambiente”, “agrotóxicos e saúde hu-mana”, “agrotóxicos e câncer”, utilizando como critérios de inclusão artigos publicados sobre o tema no Brasil, em idioma português entre os anos de 2004 – 2014.

Foram incluídos todos os tipos de estudos descriti-vos e analíticos, como também estudos com uma abor-dagem qualitativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Impactos do uso de agrotóxicos na Saúde AmbientalOs impactos à saúde ambiental causado pelo uso

dos agrotóxicos são de uma complexidade que incorpora incertezas e vulnerabilidades, passando por impactos so-bre o território, desapropriações, desmatamentos e cons-truções, até os impactos sobre as estruturas essenciais para a vida, água, solo e biodiversidade (MARINHO et al., 2011). Segundo Carneiro (2014) é evidente a supe-rexploração dos recursos naturais, associado ao processo de queimadas, a perda da biodiversidade e intensificação do uso de agrotóxicos, o que configura um conjunto de fatores que provocam a morbidade ambiental e humana.

No Brasil, existem 366 princípios ativos, que for-mam 1458 produtos químicos utilizados no agronegó-cio, dentre eles formulações com ações inseticidas, fun-

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gicidas, herbicidas, nematicidas, acaricidas, rodentici-das, moluscidas, formicidas, reguladores e inibidores de crescimento (LONDRES, 2011). Existe uma tendência de formulação de novos produtos químicos pela inserção de novas pragas e resistência, resultando em aumento de consumo e associação com outras substâncias, tornando o agricultor dependente (LONDRES, 2011).

Segundo Augusto (2011), Ghiselli (2001) relatou a adsorção, absorção, retenção, biodegradação físico-quí-mica, dissolução, precipitação, lixiviação, escoamento superficial, volatização e absorção como os principais ti-pos de interação do meio ambiente com os agrotóxicos.

Em um estudo realizado por Costa et al. (2006) no Baixo Jaguaribe para constatação do uso de agrotó-xicos, foi evidenciado que estavam presentes na região os grupos químicos dos organofosforados com 39% de utilização na amostra de irrigantes, derivados do ácido fenoxiacético 14%, piretroides 12%, carbamatos 7%, organoclorados 4% (MARINHO et al., 2011).

Kussumi et al.(2011), realizaram um estudo sobre a contaminação de águas superficiais por agrotóxicos organoclorados em região agrícola. Segundo o estudo, foi encontrada uma possível contaminação de hexaclo-rociclohexano (HCH) nas águas superficiais proveniente de poluição atmosférica e do solo. Contudo, os autores apontam que para a conclusão do estudo de exposição da população, seria necessário realizar o monitoramento do ar (SISAR), do solo (SISOLO) e da água (SISÁGUA).

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Porto e Soares (2012) descrevem um estudo realiza-do no cerrado brasileiro sobre fatores de risco para con-taminação de água e solo por agrotóxico, no qual se con-clui que a cada 10.000 hectares de lavoura temporária há um aumento de 6% de chance de contaminação do solo. Nos casos de poluição do ar por queimadas ou poeiras e pulverização de agrotóxicos, o risco de contaminação para a água aumenta em 57%, e em 7,6 vezes para o solo.

O consumo indiscriminado de químicos agrícolas com a aplicação intercostal, como também a pulverização de agrotóxicos por meio de aviação agrícola são as evidên-cias mais comuns da contaminação ambiental, atingindo diretamente ar, água e solo. Esses têm trazido modifica-ções e efeitos tóxicos nos seres vivos (Tabela 2) e não vivos dos ecossistemas (RIBAS; MATSUMURA, 2009). Se-gundo TEIXEIRA et al. (2011), em um estudo realizado no Baixo Jaguaribe sobre o percentual de uso dos agrotó-xicos por ramo agrícola foi encontrado que em 99,1% no ramo do agronegócio e 93,9% dos agricultores familiares utilizavam agrotóxicos e fertilizantes nos cultivos.

Tabela 2 – Toxicidade e persistência ambiental de alguns agrotóxicos (escala crescente de 1 a 5).

Agrotóxicos Toxicidade Persistência no AmbienteMamíferos Peixes Aves Insetos

Permetrina 2 4 2 5 2DDT 3 4 2 2 5Lindano 3 3 2 4 4Etil-paration 5 2 5 2 2Malation 2 2 1 1 1Carbaril 2 1 1 1 1Metropene 1 1 1 2 2Bacillustharingensis 1 1 1 1 1Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996, apud RIBAS; MATSUMURA, 2009.

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Estudos realizados por Ribeiro, Lourencetti, Perei-ra e Marchi, (2007) revelam que a presença de resíduos de pesticidas em amostras de água subterrânea em baixas concentrações e dos ambientes aquáticos pode ser con-siderada moderada no Brasil. A contaminação do solo pode ser considerada quando existe uma interferência no desenvolvimento de bactérias fixadoras de nitrogênio (RIBAS; MATSUMURA, 2009).

Numa avaliação da contaminação de águas superfi-ciais e de chuva por agrotóxicos na região de Mato Gros-so realizada por Moreira e colaboradores, foi demonstra-do que a contaminação das águas é o início de uma série de eventos que podem estar comprometendo outros es-paços, como a possível contaminação do ar, que vai levar a contaminação para áreas não rurais. O mesmo estudo mostrou alguns impactos na vida animal do entorno das águas, como a má formação de anfíbios, através de análi-ses laboratoriais realizadas (MOREIRA et al., 2011)

Em 2011, foi realizado no estado do Ceará um amplo estudo sobre a contaminação por agrotóxicos na região do Baixo Jaguaribe, no que se refere à água que abastece a região, que é ofertada à população pelo Ser-viço Autônomo de Água e Esgoto com certificação de qualidade. Contudo, esta água passa pelo perímetro do agronegócio da região, sofrendo contaminação provavel-mente advinda da pulverização aérea e do descarte de embalagens. Foi realizado estudo de 24 amostras, das quais 100% apresentaram entre três e dez princípios ati-

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vos, confirmando inclusive uma multiexposição (CAR-NEIRO et al., 2012).

Muitos agrotóxicos utilizados na região do Baixo Jaguaribe possuem baixa volatilidade com alto poder de contaminação das águas, atingindo lençóis subterrâ-neos através das chuvas e da irrigação, e da infiltração no solo, apresentando, assim, o potencial de contaminação ambiental através das águas, cuja proporção ultrapassa o meio ambiente das plantações (MARINHO et al., 2011).

Durante a aplicação dos agrotóxicos nas lavouras, existe a dispersão das partículas que não atingem seu alvo, mas são carregadas pelos ares, contaminando águas e comunidades vizinhas. Esse processo acontece mesmo utilizando todos os cuidados e normas de segurança, apresentando um percentual de dispersão estimado en-tre 30% e 70%. Não haveria, portanto, um “uso seguro” de agrotóxicos (LONDRES, 2012)

Num estudo realizado em 2010 pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) com produtos agrícolas, foi descrito que 63% das amostras de alimentos coletadas apresentavam con-taminação por agrotóxicos, sendo que os demais 37% apresentavam agrotóxicos dentro dos padrões permiti-dos. As culturas que estavam acima dos limites toleráveis são: pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, aba-caxi, beterraba e mamão, principalmente (CARNEIRO et al., 2012).

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Toda a biodiversidade é afetada direta ou indireta-mente, logo, a vida no planeta pode estar sendo seria-mente comprometida pelo uso indiscriminado de quí-micos, que vem sendo apoiado por uma política de de-senvolvimento econômico baseado na exploração de tra-balhadores em busca do lucro para uma pequena parcela da população. A intensidade do uso de agroquímicos e o não monitoramento dos impactos na saúde ambiental são definidos pela prerrogativa da necessidade de garantir alimentos para todos, soberania alimentar. O modelo do agronegócio gera impactos que são pagos por todos.

A contaminação por Agrotóxicos e a Saúde Humana Segundo Londres (2011), os efeitos provocados

por agrotóxicos à saúde humana são variados e podem envolver sequelas muito graves, fatais, defeitos congê-nitos ou doenças de feito crônico. Portanto, os efeitos para a saúde podem ser agudos – causando danos num período de 24 horas após a exposição, geralmente asso-ciados a uma exposição a doses mais altas, ou crônicos – resultando em uma exposição em longo prazo a doses mais baixas, segundo Ribas e Matsumura (2009). Na saúde humana esses efeitos conhecidos se dão através de complexas relações entre determinantes/condicionantes do processo de exposição e os efeitos no corpo humano (CARNEIRO et al., 2012).

Os agrotóxicos possuem uma classificação (Tabela 3) que obedece a estudos realizados em função dos efei-

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tos nocivos causados à saúde humana, com base na dosa-gem letal dos experimentos realizados. Segundo Rieder et al. (2004) apud Rosa (2011) a classificação é feita uti-lizando características de bioacumulação, persistência, transporte, toxicidade a muitos organismos, potencial mutagênico, teratogênico e carcinogênico.

Tabela 3 – Classificação dos Agrotóxicos de acordo com efeitos sobre a saúde humana.

Classe toxicológica Toxicidade DL 50 Faixa colorida

I Extremamente Tóxico < 5mg/Kg Vermelha II Altamente Tóxico Entre 5 e 50 mg/Kg Amarela III Mediamente Tóxico Entre 50 e 500 mg/Kg zul IV Pouco Tóxico Entre 500 e 5000 mg/Kg Verde- Muito pouco Tóxico Acima de 5000 mg/Kg -

Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996, apud RIBAS e MATSUMURA, 2009.

A exposição poderá se dar por contato direto, em trabalhadores na indústria de agrotóxicos e trabalhado-res da agricultura, ou por contato indireto, em popula-ção de comunidades próximas às áreas de aplicação de agrotóxicos e/ou por ingestão de alimentos ou água con-taminados (RIBAS; MATSUMURA, 2009).

Segundo Rosa (2011), as vias de penetração dos agrotóxicos no organismo são: digestiva, respiratória e dérmica, sendo que a via respiratória oferece aumento de disponibilidade pela inalação de ar contaminado; e dérmica pelo contato direto em grandes áreas corpóreas mais relevantes, em exposição ocupacional e ambiental.

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Em estudo realizado por Teixeira e colaboradores sobre a avaliação do tipo de contato com agrotóxico ou fertilizante por segmento, os resultados apontam que no agronegócio 39,6% dos trabalhadores dizem ter contato direto e 60% contato indireto, nos agricultores fami-liares 60,1% dizem ter contato direto e 39,2% contato indireto, no assentamento agroecológico 100% afirmam ter contato direto e indireto (TEIXEIRA et al., 2011).

Segundo Brito et al. (2009), há relatos de expo-sição crônica a agrotóxicos relacionada a patologias de pele, teratogênese, carcinogênese, alterações do sistema imunológico, entre outros. No entanto, os estudos en-volvendo longa exposição em baixas doses, relação cau-sa/efeito, uso de combinações químicas e os dados de intoxicação associados ainda são insuficientes e restritos a grupos de interesse (FARIA; FACCHINI, 2007).

Cerca de um milhão de pessoas são intoxicadas por agrotóxicos no mundo e cerca de três mil a vinte mil vão a óbito. Estima-se que, a cada dois e três minutos um trabalhador se intoxique com agrotóxicos (PORTO;-SOARES, 2012).

Os trabalhadores da agricultura que apresentam risco elevado para contaminação direta são os aplicado-res, preparadores de caldas e responsáveis por depósitos, que tem contato direto com os produtos, e há também os trabalhadores que têm contato com os venenos ao realizar capinas, rocadas, colheitas e afins. Além destes, os moradores das áreas circunvizinhas e os trabalhadores

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das empresas fabricantes de agrotóxicos também for-mam um grupo com grande risco (LONDRES, 2011).

Estudos realizados por Araújo (2000) em Pernam-buco, Soares (2003) em Minas Gerais, Oliveira-Silva (2001) no Rio de Janeiro, Pires, Caldas e Recena (2005) no Mato Grosso do Sul e Bedor (2009) no Vale do São Francisco relatam o quadro de intoxicações provocadas por uso de agrotóxicos em trabalhadores da agricultura espalhado por todo o país (AUGUSTO et al., 2011).

Em se tratando de alimentos contaminados, se-gundo Carneiro et al., (2012), uma vez ultrapassados os limites toleráveis para ingestão diária, pode-se verificar consequências indesejáveis, contribuindo para a insegu-rança alimentar. Sendo assim, os consumidores são um grupo com potencial para desenvolver reações, seja em decorrência do uso de substâncias proibidas, seja devido ao desrespeito do período de carência para a aplicação e/ou a comercialização dos alimentos (LONDRES, 2011).

A classificação descrita na tabela 4 relaciona os agrotóxicos com sintomas observados em intoxicações agudas e crônicas.

Tabela 4 – Classificação de efeitos e/ou sintomas dos agrotóxicos na saúde humana.

Classificação quanto à praga

que controla

Classificação quanto ao grupo

químico

Sintomas de Intoxica-ção aguda

Sintomas de intoxicação crônica

Organofosforados e carbamatos

Fraqueza, cólicas ab-dominais, vômitos, espasmos musculares, e convulsões

Efeitos neurotóxicos retar-dados, alterações cromos-somiais, e dermatites de contato

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Classificação quanto à praga

que controla

Classificação quanto ao grupo

químico

Sintomas de Intoxica-ção aguda

Sintomas de intoxicação crônica

Organoclorados Náuseas, vômitos, con-trações musculares in-voluntárias

Lesões hepáticas, arritimias cardíacas, lesões renais e neuropatias periféricas

Piretróides sin-téticos

Irritações das conjunti-vas, espirros, excitação e convulções

Alergias, asma brônquica, irritações nas mucosas, hi-persensibilidade

Fungicidas Ditioicarbonetos Tonteiras, vômitos, tre-mores musculares, dor de cabeça

Alergias respiratórias, der-matites, Doença de Parkin-son, cânceres

Fentalamidas - TeratogênesesHerbicidas Dinitroferóis e

pentaciclorofenolDificuldade respirató-ria, hipertermias e con-vulsões

Cânceres (PCP- formação de dioxinas) e cloroacnes

Fenoxiacéticos Perda de apetite, enjoo, vômitos, fasciculação muscular.

Indução da produção de enzimas hepáticas, cânceres e teratogênese

Dipiridilos Sangramento nasal, fra-queza, desmaios, con-juntivites

Lesões hepáticas, dermatites de contato e fibrose pul-monar

Fonte: OPAS/OMS, 1996; apud Carneiro et al., 2012.

Segundo Carneiro et al.(2012) não há evidências científicas de quais seriam os efeitos da multiexposição ou exposição combinada de agrotóxicos, mas há a evi-dência da potencialização dos danos quando a exposição tem várias vias de penetração (oral, inalatória e dérmica). A exposição múltipla, segundo Londres (2011), produz interações entre os químicos que possibilitam efeitos mais graves do que em monoexposição. Os efeitos acar-retam quadros sintomatológicos combinados, masca-rando patologias, é o que afirma Rêgo et al. (2001).

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De acordo com Rêgo (2002), a neurotoxicidade e alterações comportamentais são alterações causadas, principalmente pela exposição de organofosforados, e que são mais comuns em exposições crônicas, ou como no caso das paralisias com uma ação neurotóxica retar-dada.

Muitos estudos foram realizados por várias univer-sidades no Brasil (UNISC, UNICAMP, UFRJ, UNI-FESP, UFPR, UFMG), que relatam casos de uso de agrotóxicos e distúrbios/transtornos psiquiátricos com relatos de suicídio (LONDRES, 2011).

Tabela 5 - Efeito da exposição prolongada a múltiplos agrotóxicos.

Órgão/Sistema Efeito

Sistema nervoso

Síndrome asteno-vegetativa, polineurite, radiculite, encefalopatia, distonia vascular, esclerose cerebral, neurite retrobulbar, an-giopatia da retina.

Sistema respiratório Traqueíte crônica, pneumofibrose, enfise-ma pulmonar, asma brônquica.

Sistema cardiovascularMiocardite tóxica crônica, insufuciência coronária crônica, hipertensão, hipoten-são.

Fígado Hepatite crônica, insuficiência hepática, colecistite.

Rins Albuminúria, nictúria, alterações do clea-rence da ureia, nitrogênio e creatinina.

Trato Gastrointestinal

Gastrite crônica, duodenite, úlcera, colite crônica (hemorrágica, epigástrica, forma-ções polipoides), hipersecreção e hiperaci-dez gástrica, prejuízo da motricidade.

Sistema hematopoiético Leucopenia, eosinifilia, monocitose, altera-ções na hemoglobina.

Pele Dermatites, eczemas.Olhos Conjuntivite, blefarite.Fonte: Kaloyanova, Simeovova, 1997, apud. Matos et al.(2001).

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A desregulação endócrina é também descrita nos estudos de Solomon e Schettler (2000) e Romano (2008) como um efeito importante do uso de agrotó-xicos, provocando desequilíbrios fisiológicos a serem le-vados em consideração, principalmente em hormônios estrógenos e tireoideanos. Os efeitos podem ser agudos e crônicos e estão relacionados ao tempo de exposição, concentração no ambiente, modo de contato e tipo de degradação de acordo com estudos realizados por Ro-mano (2008) (ROSA et al., 2011).

O diagnóstico da intoxicação, tanto aguda, su-baguda como crônica, é realizado através de anam-nese, com história ocupacional e exame clínico. Os exames laboratoriais a serem solicitados são a do-sagem de colinesterase, a cromatografia e outros de diagnóstico diferencial (RÊGO, 2002). A dificulda-de do diagnóstico de intoxicação relacionado ao uso de agrotóxico se dá pela própria dificuldade de reco-nhecimento dos sintomas em relação aos químicos. Por outro lado, temos o despreparo das equipes em in-vestigar a causa das intoxicações (LONDRES, 2011).

Souza et al. (2001) realizou um estudo com 298 entrevistados, dos quais 68,4% utilizavam agrotóxicos. Destes, um total de 86,9% apresentavam pelo me-nos uma doença. No estudo se propõe a associação de agrotóxicos com doenças orais, doenças neurológicas, síndromes dolorosas e com inter-relação possível entre exposição crônica e doenças degenerativas do sistema nervoso, câncer, endocrinopatias e outras.

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2.1 Agrotóxicos e a possível relação com o surgimen-to de câncer

Segundo o Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silva (INCA, 2012), câncer é o nome dado ao conjunto de células que tem em comum o cres-cimento desordenado, que perde a sua função normal e penetra em outros tecidos e órgãos, podendo se espalhar pelo organismo (KOIFMAN; HATAGIMA, 2003). Da-dos do INCA referem que, em 2012, 518.510 casos no-vos de câncer foram estimados, dos quais cerca de 80% estavam relacionados a fatores ambientais e que envol-vem, também, o ambiente ocupacional (INCA, 2012).

O processo de formação do câncer, a carcinogêne-se, é um processo complexo que pode ser desencadeada por agentes físicos, biológicos e químicos. A carcinogê-nese química é um processo contínuo de exposição crô-nica, ou seja, de modo geral lenta a produtos químicos genotóxicos ou não genotóxicos presentes, sobretudo no ambiente laboral (INCA, 2012).

Em um estudo realizado por Lichtenstein (2000), foi proposto que as neoplasias têm como fator principal o ambiente em detrimento dos fatores genéticos. O estudo foi realizado com pares de gêmeos (ROSA et al., 2011).

Os agrotóxicos podem atuar como substâncias ca-pazes de alterar o DNA ou estimular a célula alterada a se dividir, ou seja, são agentes químicos com condições de desenvolver câncer. Esses compostos químicos com-plexos são compostos por ingredientes ativos e outros

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componentes, e pouco se sabe sobre sua ação nos casos de exposições combinadas, e de multimisturas (KOI-FMAN; HATAGIMA, 2003).

A Agência Internacional de Pesquisa de Câncer (IARC) classificou alguns agrotóxicos em substâncias potencialmente carcinogênicas, a saber: dichlorodi-phenyl-trichoroethane (DDT), bifenilaspolicloradas, as dioxinas, hexaclorociclohexano e o hexaclorobenzeno (KOIFMAN; HATAGIMA, 2003). Estudos mostram que essas substâncias têm como propriedade o acúmulo no tecido adiposo, leite materno e sangue, e estão asso-ciados ao desenvolvimento de câncer no fígado, de tra-to respiratório e linfomas (KOIFMAN; HATAGIMA, 2003). Refere Araújo (2010) que, existem pelo menos 50 agrotóxicos que atuam com poder carcinogênico au-mentando a possibilidade de relação entre câncer e o uso de químicos na agricultura.

Nos estudos realizados por Pimentel (1996) e Gri-solia (2005), os tipos de câncer com maior incidência em agricultores são: pulmão, estômago, melanomas, próstata, cérebro, testículos, sarcomas e no sistema he-matopoiético: Linfoma não Hodgkin, mieloma múlti-plo e leucemias (ROSA et al., 2011).

Conforme Pignati e Machado (2007), a correlação de consumo de agrotóxicos e as neoplasias foram abor-dadas nos estudos de Koifman (2002), e Stopelli (2005), de acordo com os quais os trabalhadores de zona rural estavam duas vezes mais propensos a desenvolver câncer do que os que moravam em zona urbana.

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De acordo com Curvo et al. (2013), os estudos realizados por Cunha (2006), Moreira (2012) e Dos Santos (2011), descrevem a possível relação entre uso de agrotóxicos e desenvolvimento de câncer nas respectivas regiões estudadas, o que foi demonstrado com signifi-cância epidemiológica. No mesmo estudo, Curvo et al., (2013) concluem que, a exposição aos agrotóxicos desde o nascimento tem relação com os casos de câncer em menores de 20 anos no estado do Mato Grosso.

CONCLUSÃOO presente estudo possibilitou a revisão bibliográ-

fica nos bancos de dados, tendo como foco as repercus-sões do uso dos agrotóxicos para a saúde ambiental e humana. Os agrotóxicos são utilizados em larga escala no Brasil de forma indiscriminada, e legalizados por uma legislação insipiente, carente em outras estruturas de fiscalização. O controle social não consegue, dentro desse sistema econômico hegemônico do capital, exercer seu papel fiscalizador e denunciatório.

Os agrotóxicos são substâncias químicas com efei-tos tóxicos diversos na saúde ambiental e humana, com efeito devastador amplo para a vida nos territórios. Na saúde ambiental, comprovadamente, existe a conta-minação da água, solo e ar em ordem decrescente de ocorrência, o que foi demonstrado nos estudos relatados nesta pesquisa.

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As repercussões no organismo dos seres humanos vão variar pelo contato, tipo de químico, sua toxicidade, levando em consideração a toxicocinética e a toxicodi-nâmica, tempo de exposição e valores de concentração.

Existe um despreparo por parte de todos, profis-sionais de saúde e sociedade em reconhecer a relação do uso de agrotóxicos como determinantes causais de into-xicações agudas e crônicas. No entanto, com o avanço das pesquisas sobre o tema, já é possível ver que muitos estudos realizados no Brasil fazem uma relação direta entre o uso de agrotóxicos e os casos de intoxicação, até mesmo chegando a estabelecer possível correlação com os cânceres, principalmente em trabalhadores agrícolas.

Este estudo apontou algumas limitações para a re-visão e completa abordagem do tema, a saber: muitos dos estudos brasileiros referem-se a estudos mais longos com comprovação de contaminação em outros países, existem muito poucos estudos que avaliam as infor-mações dos sistemas SISSOLO, SISAR e SISÁGUA e a relação com exposição humana. Contudo, esses estu-dos são de extrema relevância, pois suscitam o tema em nossos territórios.

Por fim, vale ressaltar a importância de mais pes-quisas e mais inquietações sobre esta importante matéria de estudo dentro da Vigilância em Saúde, tendo a ne-cessidade de se integrar os setores saúde e ambiente em torno da garantia da qualidade de vida das populações do campo e da cidade, tendo como conceito norteador a sustentabilidade ambiental.

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311Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

AVALIAÇÃO DO PREPARO DE CUIDADORES DE IDOSOS PARA REALIZAÇÃO DO CUIDADO

Simone Santos Sousa MendesAndressa Santos Rodrigues

Lisandra Ravena Veloso da Silva Maria Laíse de Lima Leal

Edina Araújo Rodrigues OliveiraLaura Maria Feitosa Formiga

INTRODUÇÃOO envelhecimento da população é um fator que

vem se consolidando no decorrer dos anos nos países de-senvolvidos em decorrência de inúmeros indicadores de saúde, tais como: a queda na mortalidade, a melhora da qualidade da atenção à saúde, a velocidade na divulga-ção de informações decorrente dos avanços tecnológicos e melhorias nas condições de higiene e do meio ambien-te. A soma desses fatores contribui para o crescimento populacional da terceira idade.

Em decorrência desse processo de envelhecimento, a maior parte dos países do mundo vem experimentando esse aumento na proporção do número de idosos. E como resultado, essa situação interfere em diversos setores, como previdência e assistência social, transportes, edu-cação, consumo de bens e serviços, habitação, segurança pública, saúde e mercado de trabalho (BRASIL, 2017).

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Além das mudanças no perfil demográfico, outro aspecto relevante, relacionado ao envelhecimento, são as alterações biológicas que acontecem ao longo da vida, o organismo humano fica mais vulnerável às agressões do meio externo e interno. O processo de envelhecer está re-lacionado a fatores genéticos e as alterações que ocorrem em nível celular-molecular. Esses fatores levam à dimi-nuição da capacidade funcional e sobrecarga do controle de hemostasia do corpo, acarretando no aparecimento de patologias. Entre essas, observa-se um aumento nas doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes mellitus, doenças pulmonares obstrutivas crôni-cas, mal de Alzheimer, dentre outras. A maioria das pa-tologias apresentadas pelos idosos, não é responsável por sua morte imediata, mas tendem a ocasionar complica-ções e sequelas, que implicam na capacidade funcional do idoso e a qualidade de vida desse, a ponto de impedir o autocuidado, sobrecarregando a família e o sistema de saúde. E, nesse contexto, surge o papel dos cuidadores (OLIVEIRA, 2014).

Os cuidadores são indivíduos que terão a função de auxiliar e/ou realizar a atenção adequada às pessoas ido-sas que apresentam limitações para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, estimulando a indepen-dência e respeitando a autonomia destas. Existem dois tipos de cuidadores: o informal e o formal (CONCEI-ÇÃO, 2010; MONTEZUMA, C. A.; FREITAS, M. C.; MONTEIRO, A. R, 2008).

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Os cuidadores formais de idosos se enquadram na categoria de empregados domésticos, sendo abrangidos, pela proteção da recém-aprovada Lei Complementar nº 150, de 2015, e demais exigências legais. Em decor-rência desse fato, a contratação de cuidador formal de idosos pode comprometer fortemente o orçamento das famílias, inviabilizando a contratação desse tipo de pro-fissional (BRASIL, 2017).

O cuidador informal é aquele que presta cuidados à pessoa idosa no domicílio, com ou sem vínculo fami-liar, e que não é remunerado por exercer essa função. Os familiares costumam assumir esse papel de cuidador informal, influenciados por valores culturais definidos pela sociedade ou por vínculo afetivo. Na maioria das vezes, assume essa incumbência não por opção, mas por força das circunstâncias. Entre os familiares uma única pessoa é eleita como o cuidador principal, sendo que este vai ser o responsável em realizar todos os cuidados necessários ao idoso.

Normalmente, esses não se encontram preparados para assumir todo o cuidado e suas responsabilidades, sendo necessário um devido preparo para assumi-las e, ainda, o apoio para desempenhar essa função. Des-se modo, é pertinente estudar a forma como esses cui-dadores são preparados e orientados. Assim, através da avaliação dos cuidadores, contribui-se para que os pro-fissionais de saúde, de uma forma mais efetiva, prestem assistência a essas pessoas, particularmente durante as

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orientações de cuidado, importantes para o auxílio às fa-mílias, à sua organização cotidiana e à divisão de tarefas de cuidado ao idoso (BORGHI, 2013).

Em virtude dessa grande responsabilidade, o papel do cuidador torna-se difícil e desgastante, por conse-quência do processo de cuidar que requer do cuidador atenção contínua. Portanto, é imprescindível um prepa-ro físico, psicológico para os cuidadores com o objetivo de atenuar o esgotamento e o estresse gerados pela con-vivência com uma pessoa, que cada vez mais precisará de cuidado e atenção (CARDOSO, 2015).

É enfático ressaltar que os trabalhadores informais, de acordo com estudos realizados acerca do tema, en-contram-se desvalidos no que se diz respeito às condi-ções de trabalho que estes são submetidos, fato compro-vado pela falta de contratos de trabalho, não inclusão destes na previdência social, desamparo em planos e acesso à saúde. De acordo com a OMS, as condições de trabalho constituem diretamente os determinantes so-ciais da saúde, visto que estes influenciam no bem-estar e estabilidade, bem como no desenvolvimento humano sustentável (WASHINGTON, 2015).

Mediante as considerações, o presente estudo é de grande relevância para os profissionais da área de saú-de, pois estimula a melhora na qualidade dos serviços prestados aos responsáveis pelos cuidados da saúde do idoso, possibilitando uma maior reflexão sobre as ações e atitudes desempenhadas, que possam ser desenvolvidas

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para a promoção de uma atenção qualificada além de incentivar o desenvolvimento de estratégias de humani-zação e promoção do cuidado.

Desse modo, o objetivo deste estudo é avaliar o pre-paro dos cuidadores de idosos, identificando as necessi-dades de ações da equipe de saúde voltadas para a prepa-ração de cuidadores leigos, tal como investigar as orienta-ções repassadas para os cuidadores, e analisar como eles, os cuidadores, se sentem no processo de cuidar.

Trata-se de um estudo do tipo exploratório-descri-tivo-transversal. Desenvolvido no período de março de 2012 a abril de 2013, com os cuidadores de idosos refe-renciados por duas Unidades de Saúde da Família (USF) localizadas na zona urbana do município de Picos - PI, no sul do estado do Piauí a 325 km da capital.

A população proposta de início seria de 91 cuida-dores de idosos, infelizmente não foi possível alcançar esse número de pesquisados devido à resistência deles em participar da pesquisa, além de alguns cuidadores não atenderem aos critérios de inclusão, ou seja, não ser o cuidador principal do idoso ou não possuir idade igual ou acima de 18 anos. Ficando assim essa pesquisa constituída por 41 cuidadores de idosos de ambos os se-xos selecionados de uma população que foi identificada pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das duas USF eleitas.

A coleta de dados foi realizada nos meses de fe-vereiro e março de 2013, na residência dos cuidadores

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localizados na zona urbana do município de Picos - PI, com horários previamente estabelecidos com o consen-timento dos sujeitos participantes, através dos ACS das USF. As entrevistas foram registradas a próprio punho pelo pesquisador no instrumento de coleta de dados.

Antes de iniciar as entrevistas foi lido para o pes-quisado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual os participantes da pesquisa tiveram todas as informações sobre o intuito da pesquisa, qual a sua importância e os benefícios que a pesquisa trará para a melhoria da qualidade do cuidado que é prestada pelos cuidadores aos idosos.

Os dados foram tabulados no programa Microsoft Office Excel, e transportados para o programa estatístico SPSS (StatiticalPackage for the Social Sciences) versão 17.0, o mesmo foi usado para o tratamento dos dados, sendo a análise efetuada por meio de estatística descri-tiva. A apresentação dos achados foi feita por meio de tabelas ilustrativas e na discussão foi literatura pertinen-te à temática.

A pesquisa foi enviada ao Comitê de Éti-ca da Universidade Federal do Piauí (UFPI) CAAE 03756312.2.0000.5214, para análise dos preceitos éti-co-legais (autonomia, não maleficência, beneficência e justiça) acerca das questões éticas da pesquisa envolven-do seres humanos, respeitando os preceitos estabelecidos segundo as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).

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A seguir, na Tabela 1, serão apresentados os resulta-dos encontrados nessas análises.

Tabela 1. Distribuição dos cuidadores de idosos de acordo com a faixa etária, sexo, estado civil, escolaridade, a relação que tem com a pessoa a quem presta cuidados, Picos-PI, 2013. (N=41).

Variáveis F %Idade20 a 29 12 29,830 a 38 10 24,341 a 46 06 14,552 a 59 09 21,960 a 65 04 09,5SexoFeminino 34 82,9Masculino 07 17,1Estado civilCasado (a) 17 41,5Solteiro (a) 12 29,3Divorciado /separado (a) 09 22,1Viúvo (a) 03 07,3Escolaridade Analfabeto 15 36,6Fundamental Incompleto 15 36,6Fundamental completo 04 09,8Médio Incompleto 04 09,8Médio Completo 03 07,2Tempo presta cuidado ao idosoMais de um ano 33 80,4Menos de um ano 05 12,2Um ano 03 07,4

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Variáveis F %Relação do cuidador com o idoso o qual presta o cuidadoMãe do cuidador 18 43,9Esposo do cuidador 07 17,1Pai do cuidador 04 09,8Avó do cuidador 03 07,3Esposa do cuidador 03 07,3Amigo(a) 02 04,9Vizinho 02 04,9Avô do cuidador 01 02,4Sogra do cuidador 01 02,4Motivo que realiza a função de cuidadorGosta de cuidar 24 58,5É parente do idoso 16 39,0Não tem outra opção 01 02,5

Mediante a amostra total, de 41 cuidadores de ido-sos, e os quesitos apresentados na tabela 1, é possível constatar que, dentre esta, a faixa etária predominante compreende os cuidadores entre 20 e 29 anos, porém não é relevância absoluta, visto que houve uma variação dentre os cuidadores entre 20 até 65 anos e ainda rela-tando acerca dos resultados essa predominância, tam-bém se estende ao gênero do sexo feminino representado por 82%.

Nas considerações quanto à faixa etária, Inuyel (2010) em seu estudo, considerou que a idade média dentre a classe de cuidadores era de 63,8 anos. Quanto à predominância das mulheres como cuidadoras, esta

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é justificada pela influência que as tradições e culturas apresentam sobre a sociedade, em que há uma visão na qual elas são naturalmente intituladas à atribuição do cuidado ao outro, considerando-se tradicional assumi-rem o papel de cuidador.

Pimenta et al. (2008) confirma, em estudo equiva-lente, a grande participação feminina no cuidado com idosos, âmbito também relatado no estudo de Orso (2008).

A maioria dos entrevistados relataram ser casados, fato comprovado pelos 41,5% que esses representam dentro da amostra. De acordo com Silveira et al. (2006), os cônjuges realizam esses cuidados alegando ter obriga-ção de cuidar, em decorrência ao acordo matrimonial que fizeram.

É perceptível discernir também que o grau de es-colaridade enfático é baixo, evidenciado pelos 36,6 % de cuidadores analfabetos e a mesma porcentagem para os que possuem ensino fundamental incompleto. Inuyel (2010) em seu estudo mostra predominância, também, no analfabetismo. A alegação é que esse fator pode in-fluir diretamente sobre a qualidade do serviço prestado ao idoso.

No quesito tarefa do cuidar, a ênfase é relaciona-da ao fato de que 78% dos cuidadores já desempenham essa atividade há mais de um ano, referenciais teóricos como Fernandes e Garcia (2009) trazem que a duração em que os cuidadores permanecem nessa função com-

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porta um índice onde o seguimento dos serviços presta-dos é relativamente longo.

Levando em consideração um aspecto diferente, 43,9 % dos cuidadores são filhos do indivíduo a ser cui-dado. Vieira et al. (2011) afirmam que em relação ao grau de parentesco segue a sequência, primeiro as filhas, segundo as esposas. Nascimento (2008) afirma que as esposas assumem esse papel, principalmente por possuí-rem saúde um pouco melhor do que o companheiro, mas que também mesmo estando debilitada, não dei-xam de prestar assistência, e justifica isso relacionando aos fatores, já mencionados nos trechos anteriores, que dizem respeito à relação dos cônjuges com o cuidado, dando ênfase ao compromisso dos votos matrimoniais.

Ao buscar conhecimento acerca dos motivos que impulsionam o cuidador a prestar esse serviço o presente estudo constatou que 58,5% dos pesquisados afirmam prestar esse cuidado devido gostar de cuidar de idosos. Comocho et al. (2012) confirmam essas considerações através do seu estudo, onde obteve que 27% relacionam o cuidado à manifestação de amor. Montezuma; Freitas; Monteiro (2008) contrapõem as considerações anterio-res através de seu estudo no qual revelou que a maioria dos cuidadores assumem esse papel por obrigação.

A tabela 2 mostra o contexto da vivência dos cui-dadores com os profissionais de saúde do serviço básico de saúde das unidades de referência.

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Tabela 2. Distribuição dos dados referentes às ações dos profissionais de saúde voltadas para a preparação do cuidador, Picos-PI, 2013. (N=41).

Variáveis F %Recebeu orientação da equipe de saúde sobre o cuidado no domicílioNão recebeu 27 65,9Sim do enfermeiro(a) 08 19,5Sim do ACS 05 12,2Sim do médico(a) 01 02,4O enfermeiro da USF contribuiu na sua preparação para prestar o cuidado ao idosoNão me orientou 36 80,5Deu poucas orientações 06 14,6Orientou bastante 02 04,9Classificação da visita domiciliar do enfermeiro da USFNão recebeu 21 51,2Boa 13 31,8Regular 03 07,3Ruim 03 07,3Excelente 01 02,4Participação de palestra educativa realizada sobre cuidados ao idosoNão participou 33 80,5Nunca ouviu falar 05 12,2Participou uma vez 02 04,9Já participou de muitas 01 02,4Quando surgem dúvidas, com quem as esclareceACS 26 63,4Médico(a) 09 22,0Enfermeiro(a) 04 09,8Familiares 02 04,8Se houvesse treinamento gratuito sobre cuidados ao idoso teria interesse em participarSim 35 85,5Não 06 14,5

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Segundo as considerações explícitas na tabela 2, as orientações que o cuidador recebeu dos profissionais de saúde, representado pela porcentagem de 65,9%, esta que compreende o não recebimento de informações acerca do cuidado, mostram-se ausentes/ineficazes. Em consonância à pesquisa idealizada por Marques et al. (2013), não obteve relato da presença da equipe de saúde na consolidação de conhecimentos acerca dos cuidados prestados pelos cuidadores incluídos no presente estudo.

Dentre os profissionais de saúde, a enfermagem configura uma classe profissional, principalmente no âmbito da atenção básica, que mais implica diretamente nas orientações de saúde prestadas à comunidade como um todo. Diante de tais considerações percebeu-se que 80,5% dos entrevistados afirmam não ter obtido nenhu-ma orientação do enfermeiro, bem como 51,2% relata-ram não ter recebido visita domiciliar deste profissional, fator que influi diretamente na qualidade da assistência prestada aos usuários desse cuidado.

O nível de participação em palestras educativas, pe-los cuidadores, é praticamente ausente, visto que 80,5% dos pesquisados afirmam nunca terem participado de nenhuma atividade deste gênero, seja ministrada pelo enfermeiro ou por qualquer profissional que integra a equipe multidisciplinar da atenção básica.

Conceição (2010) enfatiza que o treinamento de pessoas que irão desenvolver cuidados direto com os idosos é extremamente relevante e tem por objetivo ên-

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fase ao conhecimento acerca de suas necessidades bási-cas, facilitando e qualificando o cuidado. Martins et al. (2007) reafirmam essa necessidade do desenvolvimento de ações educativas, pois estas, possibilitam a realização do cuidado de forma participativa e integral. Diogo et al. (2006), que realizaram um estudo da satisfação dos cuidadores após a sua participação em programa de trei-namento e aconselhamento/acompanhamento, identifi-caram maior número de aspectos positivos no resultado do programa.

O interesse dos cuidadores em participar de trei-namento ou palestras educativas gratuitas é de equiva-lente relevância às considerações antecedentes, dentre a amostra 85,4 % dos cuidadores apresentam interesse de participar de qualquer atividade que vise o melhoramen-to dos serviços por eles prestados. Seguindo esse mesmo limiar de raciocínio, Comacho et al. (2012) comprova-ram os benefícios do projeto para idosos com demência. Outro estudo consonante com o interesse do cuidador em receber treinamento foi o de Costa et al. (2008), onde dos 84 sujeitos entrevistados, 54% gostariam de receber orientação sobre como lidar com os problemas dos idosos.

Em relação às dúvidas que surgem no decorrer do processo de cuidar do idoso os participantes do estudo com quem eles as esclarecem 61% dos pesquisados ti-ram as dúvidas com os ACS. Porém, no estudo de Mar-tins et al. (2007), a maioria das cuidadoras do estudo

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responderam que quando surgem dúvidas e/ou dificul-dades os dados obtidos revelaram que essas cuidadoras buscam o auxílio da família e dos profissionais enfermei-ros e médicos. Cabe ressaltar que, para essas cuidadoras, bem como para grande parte da população, não há uma distinção entre os níveis profissionais da enfermagem, sendo todos vistos como “enfermeiros”.

Dando continuidade, a tabela 3 traz considerações acerca dos serviços prestados pelos cuidadores aos seus clientes.

Tabela 3. Distribuição dos dados referentes à assistência dos cuidadores prestada ao idoso, Picos - PI, 2013. (N=41).

Variáveis F %Quantas refeições são oferecidas ao idoso durante o dia4 refeições 14 34,25 refeições 11 26,86 refeições 06 14,63 refeições 08 19,52 refeições 02 04,9Como o idoso realiza sua higiene pessoalSozinho 23 56,1Com ajuda do cuidador 15 36,6O cuidador realiza sozinho 03 07,3Conversa com o idoso com que frequênciaPouco 16 39,0Muito 14 34,2Às vezes 10 24,4Quase nunca 01 02,4

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Ao serem questionados sobre quantidade de refei-ções oferecidas ao idoso durante o dia, 34,2% dos pes-quisados oferecem quatro refeições para o idoso. Con-trário a esse dado o estudo de Conceição (2010) afirma que o idoso deve fazer de cinco a seis refeições ao dia, mantendo intervalo de três horas entre elas.

Com isso, o Ministério da Saúde (2011), ressalta que a produção e o acesso aos alimentos em quantidade e qualidade suficientes para proporcionar uma boa nu-trição estão, também, na base da sustentabilidade. As condições laborais são, ainda, um potente condicionan-te social, ambiental e econômico da saúde.

Segundo o Ministério da Saúde (2008), as refeições devem ser ofertadas aos idosos em quantidades e inter-valos menores, o cuidador deve oferecer alimentos sau-dáveis e de sua preferência, incentivando-os a comer. Os idosos com dificuldades em se alimentar aceitam melhor alimentos líquidos e pastosos.

Dos idosos da pesquisa, segundo informações dos cuidadores, 56,1% realizam sua higiene pessoal sozinho. Assim, como no estudo de Andrade (2009) ao avaliar a capacidade funcional das pessoas idosas nas atividades da vida diária verificaram que apenas uma minoria delas necessitava de ajuda.

O estudo de Vieira et al. (2011) fala da importân-cia da realização da higiene corporal, fato que requer do cuidador não apenas conhecimento e orientação de como efetuá-la, mas também preparo e habilidade emo-

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cional para lidar com situações subjetivas inerentes ao processo de cuidar.

Relacionados às conversas com os idosos a maioria, 39%, afirmam manter pouco diálogo com o idoso. San-tana et al. (2005) diz em seu estudo que a ineficiente co-municação entre cuidador e cliente pode estar condicio-nada ao despreparo do cuidador para lidar com o cliente.

Na classificação do cuidador em relação à tarefa de cuidar 48,8% classifica como boa, assim como em re-lação aos sentimentos de cuidar 56,1% se sentem feliz em cuidar do idoso. Como no estudo de Camacho et al. (2012), quanto ao motivo de ter se tornado cuidador, 27% relataram ser por amor.

A tabela 4 consolida os quesitos pesquisados, le-vando em consideração as relações e sentimentos envol-vidos no processo do cuidado.

Tabela 4. Distribuição da análise dos sentimentos do cuidador no processo do cuidar, Picos - PI, 2013. (N=41).

Variáveis F %Como o cuidador classifica a tarefa de cuidar

Boa 20 48,8Ótima 15 36,6Regular 06 14,6Recebe ajuda de outros no cuidado do idoso Sim da mãe 18 43,9Sim do irmão(ã) 15 36,6Não 08 19,5Como o cuidador se sente em relação à tarefa de cuidarFeliz 23 56,1Cansado(a) 15 36,6Estressado(a) 02 04,9Conformado 01 02,4

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Quanto à ajuda de outros no cuidado do idoso 80,5% recebem ajuda de outros no cuidado ao idoso, desses 43,9% dos participantes da pesquisa afirmam re-ceber ajuda da mãe, ou seja, a esposa do idoso cuidado. Marques et al. (2013) mostra que dos participantes do estudo 13 (65%) dividem as tarefas com filhos, netos, esposa, vizinho, genro e bisneto do idoso e 7 (35%) não dividem o exercício dos cuidados, tendo como justifica-tivas: “Porque não tem com quem dividir”.

Washington (2015) ressalta que é importante, tam-bém, ter uma atenção voltada para o profissional cuida-dor, buscando-se implementar atividades de promoção da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida dos pro-fissionais mediante o enfoque de ambientes e locais de trabalho saudáveis e respeitosos, bem como a qualidade de vida no trabalho, para contribuir para a atenção in-tegral do adulto trabalhador, promover os fatores prote-tores das doenças não transmissíveis, e os programas de apoio ao trabalhador e de retorno ao trabalho e ampliar o acesso aos seguros de proteção contra os riscos do tra-balho e da saúde.

Com os resultados obtidos no estudo, conclui-se que há uma necessidade de melhorar o processo de co-municação entre profissionais da saúde e os cuidadores de idosos. Nota-se uma real carência por parte destes profissionais (cuidadores) em estar desenvolvendo pes-quisas e serviços de apoio dirigidos a essa população que possa oferecer uma assistência de suporte que atenda às necessidades integrais dos cuidadores de idosos.

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Considerando os objetivos propostos na pesquisa, os resultados foram esclarecedores onde se percebe que os cuidadores de idosos informais, na maioria das vezes, são familiares leigos que não possuem nenhum prepa-ro para realizar suas atividades de cuidado ao idoso, e observa-se que esses cuidadores sentem necessidade de receber treinamento, pois essa atividade tem especial im-portância para o domínio da tarefa de cuidar.

Porém, este estudo ressalta que existe uma verda-deira deficiência na qualidade da assistência domiciliar que deveriam ser realizadas pela equipe de saúde da atenção primária, com os dados da pesquisa foi identi-ficada uma real necessidade quanto ao desenvolvimento das ações voltadas para a qualificação dos cuidadores.

Em conseguinte, percebeu-se que a assistência ao cuidador familiar requer um redirecionamento do olhar daqueles que planejam e executam ações do cuidado em seu favor, no sentido de programar intervenções que venham minimizar o impacto da condição de depen-dência do idoso sobre o cuidador. Percebemos que os cuidadores se sentem felizes em poder realizar essa tarefa de cuidar.

Diante das evidências, fica comprovado o quan-to é indispensável e urgente uma maior investigação e socialização de pesquisas sobre esta temática, visto que através delas podem surgir contribuições significativas e criativas para a promoção de um cuidado de qualidade ofertado ao idoso.

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REFERÊNCIAS

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ORGANIZADORES

Maria Rosilene Cândido MoreiraEnfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestra em Saúde Coletiva pela UNIFESP. Doutora em Bio-tecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia - nu-cleadora Universidade Federal da Paraíba (Renorbio/UFPB). Pós-doutora pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri (PMAE/URCA). Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Email: rosilene.moreira@ufca.edu.br.

Francisco Elizaudo de Brito Júnior. Fisioterapeuta. Graduado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Especialista em Acupuntura pela Associação Brasileira de Acupuntura (ABA). Mestre em Bioprospecção Molecular pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutor em Bioquímica Toxicológi-ca pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor Adjunto dos Cursos de Graduação e Pós Gra-duação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: naldobritoo2018@gmail.com

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José Auricélio Bernardo CândidoEnfermeiro. Graduado pela Universidde Estadual do Ceará (UECE); Mestre em Saúde da família pela (UECE); Especialista em Saúde da Família pela Uni-versidade Federal do Ceará (UFC); em Formaçao Peda-gógica em Saúde pela ENSP/FIOCRUZ; e em Práticas Clínicas em Saúde da Família. Professor visitante na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Membro do grupo de Pesquisa História, Educação e Saúde pela UECE. Enfermeiro da Emergência do Hospital distrital Governador Gonzaga Mota (HDGMJW). Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família em Horizonte, Ceará.Email: jabcauricelio60@hotmail.com

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AUTORES

Alana Maria Brito LucasGraduada em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA, mestranda em Desenvol-vimento Regional Sustentável – PRODER pela Uni-versidade Federal do Cariri – UFCA. É integrante dos grupos de pesquisa GENUR e ECOS. E-mail: contato.alanalucas@gmail.com.

Alissan Karine Lima MartinsEnfermeira. Mestre em Enfermagem (UFC), Doutora em Enfermagem (UFC), Fellow FAIMER 2013/2014, Especialista em Docência nas Profissões da Saúde (UFC/ FAIMER BRASIL), Especialista em Saúde da Família (FIP). Professora Adjunto da Universidade Regional do Cariri (URCA).Email: alissan.martins@urca.br

Ana Maria Parente Garcia Alencar Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE). Licenciatura plena em Enferma-gem pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Especialista em Diabetes mellitus pela Universidade Federal do Ceará ( UFC). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora associada dos Cur-

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sos de Graduação e Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: anamalencar@hotmail.com

Ana Patrícia Nunes BandeiraEngenheira Civil, Doutora em Engenharia Civil. Do-cente do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Cariri – UFCA.Email: ana.bandeira@ufca.edu.br

Andressa Santos RodriguesEnfermeira. Graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).Email: andressa-96@hotmail.com

Ane Caroline Rodrigues LeiteGraduada em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA, mestranda em Desenvol-vimento Regional Sustentável – PRODER pela Uni-versidade Federal do Cariri – UFCA. É integrante dos grupos de pesquisa GENUR e ECOS. E-mail: Carol.ane@live.com

Antonia Priscila PereiraEnfermeira. Graduada pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Especialista em Saúde da Família pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestra pelo Programa de Mestrado Acadêmico em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA).Email: pryscyla.p_g@hotmail.com

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Célida Juliana de OliveiraDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri, Cra-to-CE, Brasil.Email: celida.oliveira@urca.br

Cicera Aldevania Pereira de OliveiraPedagoga. Graduada pela Universidade Regional do Ca-riri (URCA). Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN). Pedagoga da Universidade Federal do Cariri (UFCA).Email: ciceraldevania@hotmail.com

Cícera Luciana da Silva SobreiraEnfermeira. Mestranda no Curso de Mestrado Acadê-mico em Enfermagem da URCA. Especialista em Ur-gência, Emergência e Cuidados Intensivos pela Faculda-de Integrada de Patos.Email: luciana.sob3@hotmail.com

Cícera Mônica da Silva Sousa MartinsPsicóloga. Graduada pelo Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO). Especialista em Políticas Públicas em Saúde Coletiva pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestranda em Psicologia pela Uni-versidade Federal do Ceará (UFC). Bolsista da Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Pesquisadora vinculada ao Laboratório de

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Pesquisa em Psicologia Ambiental (LOCUS-UFC) e ao Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão So-cial (LIEGS/UFCA).Email monicamartins_sousa@hotmail.com

Cícero Marcelo Bezerra dos SantosGraduado em Direito pela Universidade Regional do Cariri. Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentá-vel, pela Universidade Federal do Cariri. Doutorando no Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade de São Caetano do Sul (USCS). Professor Assistente da Universidade Federal do Cariri.Email: marcelo.bezerra@ufca.edu.br

Cláudia Araújo MarcoEnga. Agrônoma. Mestra em Ciências pela Universida-de Federal de Pelotas (UFPel). Doutora em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora Associada da Universidade Federal do Cariri (UFCA) no curso de Curso Agronomia/CCAB. Coor-denadora do Laboratório de Tecnologia de Produtos da UFCA. Líder do grupo de pesquisa “Produtos Naturais e Biotecnologia” e representante da UFCA no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente do município do Crato, Ceará.Email: claudia.marco@ufca.edu.br

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Edilma Gomes Rocha Cavalcante Enfermeira. Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Espe-cialista em Saúde da Família pela Escola de Saúde Pú-blica do Ceará (ESP/CE). Mestre em cuidados Clínicos em Saúde em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Professora Associada do curdo de Enfermagem da Uni-versidade Regional do Cariri (URCA) Email: edilma.rocha@yahoo.com.br

Edina Araújo Rodrigues OliveiraEnfermeira. Doutoranda em Nutrição em Saúde Públi-ca pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Enfermagem pela UFPI. Professora Adjunto I do Curso de Grauduação em En-fermagem da Universidade Federal do Piaui (UFPI).Email: edinarasam@yahoo.com.br

Eline Mara Tavares MacêdoEnfermeira. Graduada pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Residência em Saúde da Família e Comu-nidade pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Saúde do Trabalhador pela Escola de Saúde Publica do Ceará (ESP/CE). Especialista em Auditoria em Serviços de Saúde Público e Privado pelo Instituto de Educação e Pesquisas (INET). Mestre em Ensino na Saúde pela UECE. Docente da Faculdade In-

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tegrada da Grande Fortaleza (FGF) e ESP/CE.Email: enfer-mara@hotmail.com

Eloíza Barros Luciano RolimEnfermeira. Graduada pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Efetiva da Secretaria de Saúde do muni-cípio de Missão Velha/CE. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Email: eloiza_barros@hotmail.com

Emiliana Bezerra Gomes Enfermeira. Graduada pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Especialista em Saúde Pública pela Uni-versidade Estadual do Ceará (UECE). Mestre em Cui-dados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universi-dade Estadual do Ceará (UECE). Doutora em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Es-tadual do Ceará (UECE). Professora Adjunto vinculada aos cursos de de Graduação e Pós-Graduação em Enfer-magem da Universidade Regional do Cariri (URCA). Email: emiliana.bg@hotmail.com

Flavio Cesar Brito NunesEngenheiro Eletricista, Doutor em Engenharia de Pro-cessos. Docente do Curso de Automação Industrial do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Campus Juazeiro do Norte.Email: flavio@ifce.edu.br

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339Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Francier Simião da Silva JuniorEngº Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável.Email: eng.simiao@hotmail.com

Francisca Laudeci Martins SouzaDoutorado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.Professora Associado da Universidade Regional do Cariri. E-mail: laudecimartins@yahoo.com.br

Francisco Gauberto Barros dos SantosTecnólogo em Recursos Hídricos/Irrigação, Profº. Dr. do Instituto Federal de Ciência e Educação (IFCE)Email: gaubertob@gmail.com

Francisco Elizaudo de Brito Júnior. Fisioterapeuta. Graduado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Especialista em Acupuntura pela Associação Brasileira de Acupuntura (ABA). Mestre em Bioprospecção Molecular pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutor em Bioquímica Toxicológi-ca pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor Adjunto dos Cursos de Graduação e Pós Gra-duação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA).E-mail: naldobritoo2018@gmail.com

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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340Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Geovanna Maria Sales MonteiroEnfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Saúde do Trabalhador, Especialista em Vigilância Epidemiológica, Especialista em Saúde Ambiental. Professora Visitante da Escola de Saúde Pública do Ceará.Email: geovannasales@uol.com.br

Josafá Justino BarbosaFisioterapeuta, especialista em fisiologia do exercício. Formação em terapia manual e postural. Docente do curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA.Email: josafa.barbosa@hotmail.com

José Ferreira Lima JuniorGraduado em Odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pós-Doutorado em Ciências Ambientais, pelo Programa de Pós-graduação em De-senvolvimento Regional Sustentável da Universidade Federal do Cariri. Professor Adjunto da Universidade Federal de Campina Grande.Email: proferjunior@gmail.com

José Micaelson Lacerda MoraisDoutorado em Economia da Indústria e da Tecnolo-gia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bra-sil(2006).Professor Adjunto da Universidade Regional do Cariri, Brasil.E-mail: micaelson_lacerda@yahoo.com.br

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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341Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Karla Jimena Araújo de Jesus SampaioDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri, Cra-to-CE, Brasil.Email: karla.araujo@urca.br

Laura Maria Feitosa FormigaEnfermeira. Doutoranda pela USP. Professora Adjunto II do Curso de Graduação em Enfermagem da Universi-dade Federal do Piauí (UFPI).Email: laurafeitosaformiga@hotmail.com

Liana de Andrade Esmeraldo PereiraProfessora da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Pró-Reitora Adjunta da Assistência Estudantil na Uni-versidade Federal do Cariri (UFCA). Coordenadora da Coordenadoria de Apoio ao Desenvolvimento Discente. Docente. Doutoranda em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UNB). E-mail: liana.esmeraldo@ufca.edu.br

Lisandra Ravena Veloso da SilvaEnfermeira. Graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).Email: ravena_sousa@hotmail.com

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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342Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Lívia Monteiro Rodrigues Enfermeira. Graduada pela Faculdade Santa Maria (FSM /Cajazeiras-PB). Especialista em Saúde da Família pela Faculdades Integradas de Patos (FIP). Especialista em Saúde da Pessoa Idosa pela Universidade Federal do Ceará(UFC)/Universidade Aberta do SUS (UNA – SUS). Residente em Saúde Coletiva pela Universidade Regional do Cariri (URCA).Email: liviamr.ce@hotmail.com

Maria de Fátima Antero Sousa Machado Enfermeira. Graduada pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Especialista em Saúde Pública pela Univer-sidade de Ribeirão preto (UNAERP). Mestre em En-fermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pós-doutora pelo Programa de Pós-gra-duaçã em Educação - PPGE da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Re-gional do Cariri (URCA), Coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde da Família da Universidade Re-gional do Cariri (MPSF/RENASF-URCA). Email; fatimaantero@uol.com.br

Maria do Socorro Vieira LopesDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enferma-gem da Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil.Email: socorrovieira@hotmail.com

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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343Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Maria Gorethe de Sousa LimaEngenheira Química, Doutora em Engenharia de Pro-cessos. Docente do Curso de Engenharia Civil da Uni-versidade Federal do Cariri – UFCA.Email: gorethe.lima@ufca.edu.br

Maria Iderlania de Freitas SousaFisioterapeuta, mestre em desenvolvimento regional sustentável, especialista em saúde da família, formação em terapia manual e postural. Bióloga. Docente do cur-so de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA.Email: iderbio@hotmail.com

Maria Laíse de Lima LealEnfermeira. Graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).Email: laiselile@gmail.com

Maria Rosilene Cândido MoreiraEnfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestra em Saúde Coletiva pela UNIFESP. Doutora em Bio-tecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia - nu-cleadora Universidade Federal da Paraíba (Renorbio/UFPB). Pós-doutora pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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344Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

(PMAE/URCA). Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri (UFCA).Email: rosilene.moreira@ufca.edu.br.

Milena Silva CostaGraduada em Enfermagem pela Universidade de For-taleza. Doutora em Enfermagem pela Universidade Fe-deral da Paraíba. Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri.Email: milena.costa@ufca.edu.br

Mirna Fontenele de Oliveira Graduação em Enfermagem (UFC). Especialista em Uni-dade de Terapia Intensiva (UECE). Mestre em Cuidados Clínicos (UECE). Doutora em Promoção da Saúde (UFC). Enfermeira da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Gerente da Divisão de Saúde e Qualidade de Vida da Pro--Reitoria de Assuntos Estudantis(PRAE) da UFCA.Email: mirna.fontenele@ufca.edu.br

Moema Alves MacedoPsicóloga. Graduada pela Universidade Federal de Per-nambuco. Especialista em gestão em Saúde pela Funda-ção Oswaldo Cruz _ FIOCRUZ. Mestra em educação na saúde pela Universidade Federal de Alagoas _UFAL. Professora do curso de psicologia do Centro Universi-tàrio dr. Leão Sampaio_ UNILEAO. Email : moemaalvmacedo@hotmail.com

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345Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Nara Juliana Santos AraújoBióloga, Residente em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (URCA)Email: narajuliana6@gmail.com

Otávio Rangel de Oliveira e CavalcanteEngenheiro Civil, Doutor em Estruturas e Construção Civil. Docente do Curso de Engenharia Civil daUniver-sidade Federal do Ceará, Campus Russas.Email: otaviorc@ufc.br

Paula Hemília de Souza NunesEnfermeira, mestre em Desenvolvimento Regional Sus-tentável pela UFCA, especialista em saúde da família.Email: paulahemilia@yahoo.com.br

Rayane Moreira de AlencarEnfermeira. Mestranda no Curso de Mestrado Acadê-mico em Enfermagem da URCA. Especialista em Saúde Pública e Saúde da Família pela Faculdade Kurius.Email: rayanealencar@hotmail.com

Rhavena Maria Gomes Sousa RochaMestre em Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri (URCA).Email: rhavena_mgsr@hotmail.com

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346Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Samyra Paula Lustoza Xavier - Enfermeira. Graduada pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Especia-lista em Urgência e Emergência pelo Centro Educacional São Camilo. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem no Curso de Mestrado Acadêmico em En-fermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA).Email: samyralustoza@gmail.com

Selton David Cavalcante SobralGraduado em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA, mestrando em Desenvolvi-mento Regional Sustentável – PRODER pela Universi-dade Federal do Cariri – UFCA.E-mail: Sobralsdc@gmail.com.

Silvério de Paiva Freitas JuniorEngº Agrônomo, Profº. Dr. da Universidade Federal do Cariri (UFCA).Email: silverio.freitas@ufca.edu.br

Simone Maia Pimenta Martins AyresAdministradora. Graduada pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Especialista em gestão de empreendi-mentos turísticos pela FCAP-UPE. Mestre em admi-nistração pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Doutoranda em administração pela Universidade de Évora - UEVORA, em Portugal.Email: simone.maia@univasf.edu.br

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347Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Simone Santos Sousa MendesEnfermeira. Graduada pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.Email: simoneh-tinha@hotmail.com

Sofia de Moraes ArnaldoEnfermeira. Graduada pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (UNILEÃO). Especialista em Políticas Públicas em Saúde Coletiva pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestranda em Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Email: sofiarnaldo@hotmail.com

Suely Salgueiro ChaconGraduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará. Doutorado em Desenvolvimento Sus-tentável pela Universidade de Brasília. Professora Asso-ciada e Pesquisadora do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará.Email: suelychacon@gmail.com

Susana Kramer de Mesquita OliveiraPsicóloga. Graduada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Educação Especial e Problemas de Aprendizagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Psicodrama pela Associação Cearense de Psicodrama (ACEP). Mestre em Psicologia Cogniti-va pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPe). Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Univer-

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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348Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

sidade de Brasília (UnB). PHD em Estudos Transcultu-rais da Família pela SHIATS University. Professora do Curso de Psicologia e Coordenadora do Laboratório de Relações Interpessoais (L’ABRI), do Departamento de Psicologia, da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: susanakmo@gmail.com.

Valmir Wanderson Tomé da SilvaEducador Físico, Residente em Saúde Coletiva da Uni-versidade Regional do Cariri (URCA)Email: wanderson.edf@hotmail.com

Vanessa Oliveira TelesEngª Agrônoma, Mestra em ZootecniaEmail: teles@alu.ufc.br

Verônica Salgueiro do NascimentoGraduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Pós-Doutorado no programa de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará.Email: vesalgueiro@gmail.com

Maria Rosilene Cândido MoreiraFrancisco Elizaudo de Brito JúniorJosé Auricélio Bernardo Cândido

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349Trabalho, Saúde e Sustentabilidade

Victoria Régia Arrais de PaivaDoutorado em Programa de Pós-Graduação em Socio-logia pela Universidade Federal do Ceará, Brasil(2015)Professora da Universidade Federal do Cariri , Brasil. E-mail: victoria.arrais@ufca.edu.br.

Yane Ferreira MachadoPsicóloga. Graduada em Psicologia pelo Centro Univer-sitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO). Especialis-ta em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) e em Psicodiagnóstico: avalia-ção psicológica e testes psicológicos pelo Centro Uni-versitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO). É servi-dora técnico-administrativa na Universidade Federal do Cariri (UFCA), onde atua na assistência estudantil no atendimento psicológico aos discentes. E-mail: yane.ferreira@ufca.edu.br