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SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO PARANÁ
POLO DE ROLÂNDIA
CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
GERSON BENEDITO DE MEDEIROS
O QUE É O COMPLEXO DE ÉDIPO PARA A PSICANÁLISE
DR. EMERSON LUIS COBIANCHI
ROLÂNDIA-PR
Fevereiro-2015
O QUE É O COMPLEXO DE ÉDIPO PARA A PSICANÁLISE
Complexo de Édipo é um conceito fundamental para a psicanálise, entendido por esta como
sendo universal, e, portanto, característico de todos os seres humanos.
“Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais.” (Laplanche & Pontalis)
“O complexo de Édipo é a representação inconsciente pela qual se exprime o desejo sexual ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo. Essa representação pode inverter-se e exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o ódio pelo do sexo oposto.” (Roudinesco & Plon)
“O Édipo é a experiência vivida por uma criança de cerca de quatro anos que, absorvida por um desejo sexual incontrolável, tem de aprender a limitar seu impulso e ajustá-lo aos limites de seu corpo imaturo, aos limites de sua consciência nascente, aos limites de seu medo e, finalmente, aos limites de uma Lei tácita que lhe ordena que pare de tomar seus pais por objetos sexuais.” (NASIO, J. D.)
Para construir o conceito de Complexo de Édipo, Freud utilizou-se da mitologia grega, mais
especificamente do teatro escrito por Sófocles chamado “Édipo Rei”.
O mito conta a história de Laio, rei de Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre
seu futuro maldito: ele seria assassinado por seu próprio filho, que se casaria com sua
mulher, ou seja, a mãe deste. Para evitar que isso se concretizasse, Laio decide abandonar
a criança num lugar distante, colocando-lhe pregos nos pés, para que morresse. Um pastor
encontra a criança e lhe dá o nome de Edipodos (pés-furados). Essa criança, mais tarde é
adotada pelo rei de Corinto. Ao consultar o oráculo, Édipo recebe a mesma mensagem que
seu pai Laio recebera anos antes, mas, acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo
foge de Corinto. Em sua fuga, se depara com um bando de negociantes e seu líder e acaba
por matá-los todos em uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai. Ao chegar a
Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge e livra a cidade de suas ameaças, assim recebe o
trono de rei e a mão da rainha Jocasta, agora viúva. Os dois se casam e têm quatro filhos.
Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam o oráculo para
tentar resolver essa questão e acabam por descobrir que são mãe e filho. Jocasta suicida-se
e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter reconhecido a própria mãe.
Há três momentos principais de conceituação da obra de Freud: carta a Fliess de outubro de
1897, e “Morte de entes queridos” na interpretação dos sonhos onde se fala do desejo
amoroso pelo progenitor do sexo oposto e o desejo hostil em relação ao progenitor do
mesmo sexo. Surge então o mito de Édipo, para formular a ideia de que existia na relação
da tríade (pai-mãe-criança) um desejo incestuoso. Em seguida, no texto “Um tipo especial
de escolha de objeto” (1910), Freud utiliza pela primeira vez o termo complexo e não por
acaso. Jung e Bleuler haviam-no cunhado significando um conjunto de ideias carregadas
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afetivamente capazes de influenciar o curso associativo e, portanto, o próprio pensamento.
As associações estariam determinadas por um conteúdo ideacional, cujo estímulo
desencadearia respostas associativas.
Já em Psicologia dos Grupos e Análise do Ego, Freud nos apresenta um segundo momento
do Édipo, a identidade sexual não é dada, ela pode assumir forma contrária à biológica. Há
um processo de identificações com os objetos. Na saída do complexo de Édipo, dá-se a
identificação com um objeto a identificação com um objeto e nasce o “supereu”, é um
substituto das catexias de objeto pelas identificações. Aqui, então, o Édipo aparece como
formador, não só das características do inconsciente, mas do caráter. O sujeito se constitui
como tal no seio da situação edípica.
Ainda, num terceiro momento, Freud diferencia o Édipo para o homem e para a mulher e
dispõe a castração no centro da situação edípica. No entanto, Freud realiza um processo de
interpretação a partir do que ocorre com o menino e tira suas conclusões sobre a menina: a
menina se vê castrada e ao amor pela mãe substitui um ódio porque ela a teria feito
incompleta. Procura o pai que pode dar-lhe o sentimento de completude, mas também é
castrada quando o sentimento incestuoso lhe é interditado. A mulher passaria por dois
tempos de castração que, de mais a mais, seria simbólica e não literal. Ela não passaria por
um medo físico da castração como o menino, pois já se sabe castrada.
Uma das características marcantes dessa evolução conceitual é a atribuição, cada vez
maior, de valor à fantasia. Isso porque a formulação edípica foi justamente a saída de Freud,
quando decide abandonar a Teoria do Trauma, que colocava no plano do real a origem da
neurose. A mudança na teoria freudiana a partir disso é significativa: atribui-se grande valor
ao conflito psíquico e admite-se a ambivalência de sentimentos das crianças na relação com
os pais.
Esses sentimentos são ambivalentes ou, em outras palavras, contraditórios porque a criança
também ama a figura que hostiliza. A diferenciação do sujeito é permeada pela identificação
da criança com um dos pais. Na identificação positiva: o menino identifica-se com o pai e a
menina com a mãe. O menino tem o desejo de ser forte como o pai e ao mesmo tempo tem
“ódio” por ciúme da mãe. A menina é hostil com a mãe porque ela possui o pai e ao mesmo
tempo quer se parecer com ela para competir e tem medo de perder o amor da mãe, que
sempre fora tão acolhedora. Na identificação negativa, o medo de perder aquele a quem
hostilizamos faz com que a identificação aconteça com a figura de sexo oposto e isto pode
gerar comportamentos homossexuais.
Nesta fase, a repressão ao ódio e à vontade de permanecer em “berço esplêndido” é muito
forte e o sujeito desenvolve mecanismos mais racionais para sua inserção cultural.
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Com o aparecimento do complexo de Édipo a criança sai do reinado dos impulsos e dos
instintos e passa para um plano mais racional. A pessoa que não consegue fazer a
passagem da ilusão de superproteção para a cultura pode apresentar problemas na vida
psíquica ou até mesmo se tornar psicótico.
Segundo Freud, a resolução do Complexo de Édipo é responsável pela inserção da criança
na realidade, pela quebra das relações simbióticas, através do reconhecimento das
interdições, ou seja, pelo reconhecimento do pai na relação. Essa figura paterna,
inicialmente percebida como mero obstáculo à realização dos desejos é aos poucos
introjetada.
Assim, podemos concluir que o complexo de Édipo é estruturante da personalidade, e a
dificuldade em ultrapassar esse momento e identificar-se a figura paterna pode ser a
explicação de muitos comportamentos de dependência e imaturidade de indivíduos adultos.
Por outro lado, a inserção da figura paterna depende, entre outros elementos, da postura da
mãe em relação ao pai.
Não se pode falar em uma idade exata para que o complexo de Édipo se manifeste ou se
dissolva. Freud falava em uma fase entre três e os seis anos de idade. Para outros
psicanalistas como Melanie Klein, a introjeção da figura paterna ocorre bem antes, logo nos
primeiros anos de vida.
Todavia, devido ao conceito de Complexo de Édipo ter sido trabalhado diversas vezes
durante a construção da teoria Freudiana e posteriormente por diversos seguidores da
psicanálise, o torna uma formulação ainda em construção ao qual se dedicam inúmeros
autores ao redor do mundo.
“Permito-me pensar que, se a psicanálise não tivesse em seu ativo senão a simples descoberta do complexo de Édipo recalcado, isso bastaria para situá-la entre as preciosas novas aquisições do gênero humano.” (FREUD, S.)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund A Interpretação dos Sonhos, Vol. IV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. Obras Completas. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. Cinco lições de psicanálise, Vol. XI. Rio de Janeiro: Imago, 1996
ZIMERMANN, David E. Fundamentos Psicanalíticos – Teoria, técnica e clínica: uma
abordagem didática: Artmed, 1999
ZIMERMANN, David E. Psicanálise em Perguntas e Respostas. Verdades, mitos e
tabus. Porto Alegre: Artmed, 2005.
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro:
Zahar, 1998
LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
SEGAL, Hanna Introdução a obra de Melanie Klein, Imago, 1975
NASIO, Juan-David Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de
Janeiro: Zahar, 2007.
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