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As imagens da cura no mundo português do século XVII
Bernardo Manoel Monteiro Constant1 bernardoconstant@hotmail.com
Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal Fluminense
Introdução Nas últimas décadas do século XVII, foram produzidos os primeiros tratados médicos
sobre a América portuguesa em língua vernácula. Simão Pinheiro Morão, médico licenciado
pela universidade de Coimbra e cristão-novo perseguido pela inquisição, fez de suas
observações durante estada em Pernambuco a matéria da primeira obra escrita em português
sobre medicina na América.
Finalizada em 1677 e intitulada Queixas repetidas em ecos dos arrecifes de
Pernambuco contra os abusos médicos que nas suas capitanias se observam tanto em dano
das vidas de seus habitadores, a obra trata em primeiro lugar das tais queixas – lançadas,
afirmou o autor, pelo povo pernambucano contra os “empíricos”, ou seja, os leigos que
aprendiam a arte de curar por meio da prática. Ao criticar como tal abordagem poderia
agravar a saúde dos já enfermos, Morão se ocupou também de justificar as prerrogativas dos
médicos licenciados, afirmando serem eles os que eram plenamente capacitados a
diagnosticar e tratar os males.
Discurso similar consta na obra de João Ferreira da Rosa, o Trattado unico da
constituiçam pestilencial de Pernambuco..., publicado em Lisboa em 1694. Outro ponto que
as obras de Morão e Rosa têm em comum é a abordagem de fenômenos próprios da colônia,
tais como o trato de doenças tropicais e o uso de técnicas e substâncias nativas nos processos
curativos. Os dois autores fazem de suas obras, assim, veículos de transmissão de
conhecimentos sobre a arte de curar no contexto do mundo português.
Morão e Rosa podem ter sido os primeiros a produzir tratados médicos em português
sobre a América, mas não são os únicos a observar e medicar nos territórios coloniais de
1 Trabalho financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Agradeço também o apoio financeiro concedido pelo PPGH-UFF/Proex/Capes.
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Portugal. O mesmo é feito por outros médicos licenciados e também por leigos praticantes da
cura, comerciantes, viajantes, jesuítas, sujeitos cujas atividades os punham em contato com
seres, substâncias e modos de fazer próprios das regiões nas quais transitavam. Múltiplos
eram os fluxos nos quais se inseriam, e disso resulta que se estabeleciam rotas não só de
pessoas e bens, mas também de conhecimentos e práticas, que eram levadas de um território a
outro do império português.
É sobre este tema que o presente artigo se debruça: a produção e circulação de
conhecimento médico e curativo no mundo português na segunda metade do século XVII.
Especificamente, interessa observar o uso dos conhecimentos produzidos e apreendidos para a
construção de imagens da cura.
Explica-se: em sua obra O Nascimento da Ciência Moderna na Europa, Paolo Rossi
propõe como perspectiva metodológica norteadora de seu trabalho o estudo das imagens da
ciência. O historiador italiano define-as como aquilo que se entende culturalmente que é e
deve ser a ciência, enquanto conjunto de conhecimento, técnicas e práticas (ROSSI, 2001: 19-
20). Aplicando esta orientação metodológica geral à investigação específica do campo da arte
da cura tal como se constituiu, era praticada e vista no XVII em territórios portugueses, é
possível observar a construção de imagens da cura que se desenvolviam no contexto.
Esta expressão não é utilizada aqui, portanto, para tratar da produção iconográfica
sobre a cura, mas sim em referência aos esforços individuais e coletivos para definir aquilo
que era reconhecido como a legítima arte de curar. Assim, a análise focará não em observar os
processos de produção de conhecimento, mas sim no uso desses conhecimentos na defesa de
imagens da cura próprias de cada grupo que as busca delinear, bem como na identificação
destes.
Para tanto, parte-se da hipótese de que sujeitos ao redor do mundo português
mobilizavam conjuntos distintos de conhecimentos, discursos e técnicas para mostrarem-se
aptos não somente a restaurar a saúde, mas também a responder questões tidas como
relevantes naquele contexto, tais como: o que causa a doença? Como se manifesta? Do que
dispomos para curar? Quem está apto a diagnosticar e prevenir os males?
Disso decorre da primeira a percepção de que os sujeitos e grupos envolvidos na
produção de imagens da cura não podem ser analisados somente pela ótica das instituições
formais. Considerando que a legitimação de saberes envolvia também fatores como a
mobilização de conhecimento prático, a medição de relações de força estabelecidas e a
capacidade de difusão dos discursos, propõe-se que as dinâmicas das imagens da cura
desenvolvem-se em um universo mais amplo que o das ideias intelectuais ou científicas
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(motivo pelo qual não se tratam exclusivamente de imagens da medicina); e que, mesmo que
não consciente ou deliberadamente, os diversos agentes da cura que atuavam no mundo
português agiam, por força mesmo de sua prática, em favor da construção de imagens da cura.
Explorando as imagens da cura
Seguindo a já citada premissa metodológica lançada por Paolo Rossi, entende-se aqui
que não são os contextos históricos ou sociais nos quais o saber curativo se desenvolve que
determinam como este será percebido socialmente; mas é a ação discursiva e política dos
sujeitos e grupos que se envolvem na disputa pelos modos de fazer e pensar que determina as
imagens da cura. É este esforço, por sua vez, que informa as escolhas dos produtores de
conhecimento, bem como orienta também a percepção da sociedade sobre as artes do curar.
Ao longo da condução da pesquisa, foi possível identificar algumas linhas de força a
explorar nos processos de construção das imagens da cura. Uma delas diz respeito às
dinâmicas que se estabeleciam entre médicos acadêmicos e curadores leigos. Embora as
práticas e conhecimentos próprios da filosofia natural e das tradições populares (com seu
arcabouço de práticas empíricas e de crenças mágicas) fossem universos em maior parte
intelectualmente distintos, que se desenvolviam em função de elaborações e preocupações
diversas, é cabível observar seus contrastes e aproximações.
Isto porque se entende aqui que nenhuma dessas correntes de pensamento e prática se
desenvolve isolada das demais2; e mais que isso, todas são maneiras de orientar e de
apresentar ao público a busca por soluções para alguns dos problemas mais básicos da
existência humana, o combate aos males do corpo e a tentativa da manutenção da saúde.
Ademais, tendo em conta a carência de médicos profissionais para atender às necessidades de
saúde do mundo português, fica claro que não basta considerar o conhecimento médico
acadêmico – pois neste contexto, boa parte dos sujeitos que faziam do curar sua profissão
eram leigos que mobilizavam técnicas e saberes distintos daqueles da filosofia natural
Condição propiciada, entre outros fatores, pela extensão territorial do mundo português; pela
baixa oferta de licenciados em relação à demanda; e pela ausência de instituições acadêmicas
de ensino de medicina nas colônias3.
2 Pelo contrário, como afirma Carlos Ziller Camenietzki, “Frequentemente, o ‘cientista’ desse período [o meio do século XVII] incorporava elementos de várias fontes em seu trabalho, formatando suas teses, proposições e metafísica a partir de ingredientes diversos. Hoje, sabemos bem que o trabalho da maioria dos homens da ciência desse período foi mais próximo de uma colagem heterogênea de programas de pesquisa e procedimentos metodológicos do que uma marcha coerente e unificada em direção ao conhecimento do mundo.” (CAMENIETZKI, 2004: 311). Tradução nossa. 3 Cf. VIOTTI, 2012.
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Diante disso, vale questionar-se sobre como eles influenciavam a formação de
conhecimento e de imagens da cura. A historiografia sobre o tema demonstra como os
saludadores, curandeiros e curadores4 orientavam-se ora por conhecimentos baseados na
tradição popular, ora pelo arcabouço das práticas mágico-religiosas ou espirituais – cujas
elaborações sofrem modificações e sincretismos na América portuguesa, circunstância que
deve ser levada em conta5. Havia ainda os agentes da cura caracterizados pelos intelectuais
como empíricos, os sangradores, barbeiros, cirurgiões leigos, entre outros6.
Para distinguir-se dos leigos, os médicos acadêmicos faziam uso da autoridade
conferida por sua educação, que por um lado lhes dava acesso ao discurso calcado nos
ditames da filosofia natural; por outro, lhes concedia também distinção social: o status de
licenciados, que os marcava como praticantes de uma arte liberal tida por superior ao ofício
mecânico de cirurgião, por exemplo. Essa combinação informa sua inserção nos debates sobre
as imagens da cura, nos quais mobilizavam as ferramentas dos letrados para fazer valer suas
posições.
Assim, escrever era, para estes sujeitos, tomar parte em debates que se desenrolavam
no âmbito mais amplo do império7, nos quais podiam promover-se e executar suas estratégias
para angariar prestígio e patronagem8. Ao fazê-lo a partir de suas experiências vividas na
América, faziam dessa região, de seus fenômenos e povos parte ativa nos círculos intelectuais
do império, ainda que por meio de sua mediação.
Ao observar a produção tratadística médica sob o aporte metodológico oferecido por
Cyril Lemieux para a análise de controvérsias e processos de disputa9, pode-se inquirir, por
exemplo, se Morão, ao redigir o Queixas..., agiu, com suas críticas aos empíricos e defesa das
prerrogativas dos licenciados, por um lado para fortalecer a imagem exclusivista de
autoridade pretendida pelos acadêmicos, e por outro para, dirigindo-se aos leigos, pautar-lhes
4 Embora não houvesse rigor terminológico, José Pedro Paiva aponta o uso da designação “curador” como termo genérico para os indivíduos que realizavam práticas populares e tradicionais de cura em Portugal, com variações como “saludador” e “curandeiro” associadas a práticas mágico-religiosas. Todos estes eram termos geralmente utilizados para se referir a indivíduos das classes populares. Cf. PAIVA, 1997. 5 Sobre as práticas mágicas realizadas em Portugal no século XVI, cf. BETHENCOURT, 2004. Para os séculos XVII-XVIII, cf. PAIVA, 1997. E para análise dos processos de sincretismo que tais práticas portuguesas passam a compor, em conjunto com as de origem indígena e africana na América portuguesa, cf. SOUZA, 2009. 6 Tanto Fabiano Bracht quanto Georgina Santos apontam a importância dos leigos para a construção do conhecimento médico no império português. Cf. BRACHT, 2015; SANTOS, 2005. 7 Cf GRUZINSKI, 2014. 8 Embora seu estudo seja focado na trajetória de Garcia da Orta, portanto concernente ao século XVI, as observações de Teresa De Carvalho sobre a questão são em geral aplicáveis também ao contexto do XVII. Cf. DE CARVALHO, 2015. 9 A abordagem que interessa a este trabalho propõe analisar uma controvérsia como meio para visualizar um conjunto de relações que se desenvolvem em uma dada sociedade, viabilizando traçar a trajetória dos sujeitos envolvidos na disputa e os quadros institucionais nas quais ela se insere. Cf. LEMIEIUX, 2017.
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a ação segundo os entendimentos dos acadêmicos; ou se a escolha feita por Rosa de escrever
seu Trattado unico... em português ao invés de latim – a língua franca da circulação de ideias
intelectuais na Europa da época – indicaria o surgimento de uma preocupação com o dar
acesso mais amplo de sua obra ao público do mundo português.
As disputas pelas imagens da cura não se realizavam somente no âmbito das
produções intelectuais, no entanto. Timothy D. Walker corrobora este entendimento ao
salientar a importância dos saberes dos nativos da América portuguesa no processo de
incorporação de conhecimentos sobre produtos medicinais (e dos próprios produtos) no
“sistema independente e compreensivo” 10 que constituía o Império português entre os séculos
XVI-XVIII.
Segundo o historiador norte-americano, aplicações de ervas curativas e técnicas de
tratamento de doenças próprias da terra foram assimilados por sujeitos como jesuítas,
comandantes marítimos, administradores coloniais, agentes da cura e mercadores. A partir dos
movimentos destes, também os saberes e produtos teriam sido postos a circular no âmbito do
Império português, salientando-se assim os fluxos de produção e comunicação de
conhecimento que conectam as áreas coloniais à Europa e afirmando-se o papel das
populações locais nesses processos de “interações interculturais” (WALKER, 2013: 404,
427).
Em análise sobre o tema, Walker identifica uma tendência à valorização da
experiência direta por parte dos portugueses no processo de produção de conhecimento
médico-curativo durante o século XVI, e afirma o caráter utilitário deste. Segundo o autor,
isso seria em boa parte motivado por pressões demográficas geradas pelos esforços de
colonização. Assim como Walker, Serge Gruzinski e Germano de Souza chamam atenção
para as exigências de manutenção de pessoal qualificado para as empreitadas marítimas
portuguesas, que se traduziam nas demandas por tratar e prevenir doenças, reduzir
complicações ou mortes por ferimentos nos quadros administrativos, militares e de mão-de-
obra essencial (GRUZINSKI, 2014: 213-218; SOUZA, 2013: 111-116).
Estes fatores levam os envolvidos nas operações dos primeiros séculos de colonização
da América a demonstrar interesse nas práticas terapêuticas dos indígenas, voltada não só para
o tratamento de ferimentos, mas também para o combate às doenças tropicais com que os
europeus tinham seus primeiros contatos. No desenrolar destas interações, em meados do
10 Noção que deve ser temperada pelas observações de Gruzinski relativas à integração entre Espanha, Portugal e seus territórios coloniais durante o período da União Ibérica (WALKER, 2013: 404).
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Seiscentos, o uso de plantas locais estava disseminado nas zonas de ocupação colonial
permanente.
Para ter em conta como o dinamismo – e as demandas – que se faziam presentes nos
territórios coloniais tinham efeito sobre a produção de saber curativo, cabe observar a
afirmativa de Walker de que nos territórios coloniais portugueses se observa um ambiente
mais propício para a produção de novos saberes curativos do que no próprio Reino:
Graças aos recursos médicos tradicionais europeus serem severamente limitados no Brasil e à continuada exposição aos métodos indígenas, a prática médica nas colônias era menos rígida do que aquela ensinada de acordo com o currículo inflexível da Universidade de Coimbra, lar da única faculdade acadêmica de medicina de Portugal durante a primeira época moderna. Até as reformas, tardiamente introduzidas por compulsão real em 1772, racionalizarem e revitalizarem a instrução médica em Coimbra, a administração da universidade, rigidamente conservadora, dominada pelos Jesuítas, reduzia os professores a entoar comentários estagnados e desprovidos de imaginação sobre os escritos das autoridades antigas e medievais [...]11 (WALKER, 2013: 409).
Se em Portugal se entravava a recepção de novos saberes por imposição institucional,
na América, por outro lado,
[...] a necessidade premente sobrepujava o preconceito e o conservadorismo religioso; longe da vigilância institucional restritiva, a experimentação médica floresceu em Goa, Macau e no Brasil. Por meio do fluxo colonial normal de comércio e de pessoal, tais práticas inovadoras gradualmente fizeram seu caminho à metrópole.12 (WALKER, 2013: 409).
Assim, Walker apresenta a noção de "empirismo colonial" que Júnia Ferreira Furtado
propõe que surge por meio das trocas intelectuais e materiais entre cirurgiões e boticários
luso-brasileiros, nativos indígenas e escravos africanos (WALKER, 2013: 409). Essa seria a
marca do processo de produção de saber medicinal na América portuguesa, caracterizado pelo
aprendizado gerado pelo contato direto com o novo e pelo experimentalismo que disso surge.
11 No original: “Due to severely limited conventional European medical resources in Brazil and sustained exposure to indigenous methods, Portuguese medical practice in the colonies was less rigid than that taught according to the inflexible curriculum of Coimbra University, home to Portugal's sole academic faculty of medicine during the early modern period. Until long-overdue reforms, introduced by royal compulsion in 1772, rationalized and revitalized medical instruction at Coimbra, the university's rigidly conservative, Jesuit-dominated administration reduced professors to intoning stagnant, unimaginative commentary on the writings of the ancient and medieval authorities [...]”. Tradução nossa. 12 No original: “[…] pressing need overcame prejudice and religious conservatism; far from restrictive institutional oversight, medical experimentation flourished in Goa, Macau and Brazil. Through the normal flow of colonial commerce and personnel, such innovative practices gradually made their way to the metropôle”. Tradução nossa.
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O resultado desses contatos é a formação de um saber híbrido13, combinando elementos e
referências originários das culturas envolvidas. Para melhor observar tal processo, a seguir
será feita análise de fonte de modo a abordar de modo empírico as discussões até aqui
realizadas.
As imagens da cura no tratado de Morão
A leitura da obra de Morão permite obter indícios sobre os saberes e práticas de cura
difundidos na sociedade urbana de Pernambuco no final do século XVII. Em contrapartida, é
possível perceber também o emprego do discurso intelectual como estratégia, parte da reação
de Morão contra uma circunstância social que ele percebe como indesejada – do ponto de
vista profissional, epistemológico e prático.
Uma análise do Queixas... com foco nestas questões é capaz de oferecer alguns
apontamentos necessários para o estudo que pretende-se realizar neste trabalho. Observando
as evidências que Morão traz da existência de duas vertentes de produção de conhecimento
médico-curativo no Pernambuco do Seiscentos – uma ligada às bases epistemológicas da
filosofia natural, outra voltada ao aprendizado prático -, pode-se começar a delinear um
quadro das imagens da cura que se desenvolviam no contexto analisado.
Como se viu, nele as tensões se estabeleciam entre os licenciados, estrangeiros que
mobilizavam o conhecimento acadêmico, e curadores locais, munidos de seu saber híbrido
composto a partir do encontro de agentes e saberes europeus e nativos da América. A disputa
não é somente epistemológica, mas também de espaço de inserção social: se dá pelas
possibilidades de fazer-se autoridade, de projetar-se socialmente como competente para curar
e pautar a ação dos concorrentes, pela atenção da clientela.
Morão inicia sua obra com uma lista de ampla gama do que percebe como
procedimentos médicos impróprios, erros procedimentais, prescrições de produtos curativos
ineficazes, tratamentos prejudiciais e falhas de entendimento que teria observado entre os
empíricos que atuavam na Capitania de Pernambuco de fins do Seiscentos. Estes e outros são
os “abusos médicos” denunciados pelo licenciado já a partir do título de sua obra devido ao
alegado potencial danoso que teriam à saúde e às vidas dos pacientes.
No entanto, como já foi estabelecido, na época a maior parte das novas informações e
saberes sobre as curas eram obtidas e postas a circular pelos leigos14. Do mesmo modo, eram
13 Tanto por parte dos europeus quanto dos indígenas, como observa Gruzinski. Cf. GRUZINSKI, 2014: 216-217. 14 Tanto no contexto da América em específico quanto nos circuitos imperiais mais amplos.
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estes que realizavam a maioria dos diagnósticos, prescrições e tratamentos para as
enfermidades que acometiam a população da América portuguesa, não os licenciados. Esta
circunstância não escapa a Morão. Em dada altura de sua obra, ele diz que teve acesso a
“cartas de alguns magnates destas capitanias, que escreviam a seus amigos, em que os
acautelavam, que nas tábuas e nos pains15 se não curassem com médicos nem cirurgiões,
senão com as curandeiras porque aqueles o ignoravam e estas só o entendiam”, com o que
completa: “quebrantando com isto as leis da razão” (MORÃO, 1965: 10).
Se a consciência da prevalência numérica dos empíricos e a rejeição aos licenciados
são motivos de indignação (e pressão econômica) para Morão, também são as próprias razões
para a elaboração de seu tratado. Ele o fez plenamente ciente da futilidade de tentar
desacreditar por completo a atuação dos empíricos: não era ingênuo o suficiente para esperar
que simplesmente decretá-los inaptos a curar em seu tratado seria o suficiente para diminuir
seu espaço de atuação social. Recorreu, então, à tentativa de deslegitimá-los, e no mesmo
golpe de pena, afirmar a superioridade de sua razão diante da empiria pura.
Sob esta ótica, o tratado pode ser visto como instrumento de disputa cultural. Ao
desacreditar a ação dos empíricos por um lado, mas por outro oferecer-lhes subsídios para
retificar sua atuação, ele reafirma a primazia tanto de seu saber quanto da sua prática e
oferece suas críticas como o primeiro passo para a correção dos erros que identifica. Mais que
isso, as apresenta como demonstração de generosidade, pois se dispõe a dividir seus
conhecimentos de bom grado em benefício tanto dos empíricos quanto de seus pacientes,
ainda que preveja punições e reprovações por parte de seus pares acadêmicos. Mostra-se
disposto “ainda à custa da repreensão dos doutos e do castigo que espera [a] dar algumas
regras gerais [para a cura das doenças] a estas capitanias de que me não poderão escapar os
empíricos” (MORÃO, 1965: 18).
O próprio termo que Morão usa para se referir aos agentes da cura leigos é um indício
significativo da posição que o licenciado atribuía em sua hierarquia do saber à experiência
empírica, resumida na afirmativa de que “a experiência sem ciência é errada, incerta e cheia
de perigos.” (MORÃO, 1965: 7). Mais que um elemento inútil para a construção do saber
legítimo, esta seria deletéria, à medida que levaria a um conhecimento infundado, incorreto e,
portanto, prejudicial ao paciente. Por outro lado, o valor que Morão dá à educação formal
pode ser percebido em sua defesa dos licenciados, categoria que não incluía somente médicos,
mas também boticários, por exemplo.
15 Nomes locais para o que Morão identifica como a formação de tumores estomacais e cirrose hepática, respectivamente.
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Está aí estabelecido como Morão concebe a medicina em seu tratado: ela teria suas
bases alicerçadas no conhecimento dos Antigos, preconizando a rejeição da empiria e a
observância do método apropriado, do que decorre a adoção da experiência corrigida pela
razão como critério da verdade. Era somente com tal filtro que a filosofia natural abria espaço
para a vivência, através do experimentalismo16.
Considerações finais
Vale dizer que as críticas aos empíricos não eram uma exclusividade da obra de
Morão. Encontram-se críticas em tom mais contundente no Trattado único..., por exemplo, e
não somente advindas de Rosa – também por parte do censor responsável pela autorização da
impressão da obra se vê discurso similar (ROSA, 1694: imprimatur).
Ainda que os leigos tivessem um maior espaço de atuação dentro das sociedades do
império português (até por questões numéricas) durante o século XVII, tendo em conta as
possibilidades comunicativas representadas pelo impresso, percebe-se que há uma relação de
forças intelectuais desbalanceada em favor dos acadêmicos. Isto dito, embora os leigos, por
força da natureza de sua formação, não tivessem incentivos ou condições comparáveis às dos
acadêmicos para deixarem manuais ou outros registros escritos sobre seu aprendizado ou
prática, os próprios livros médicos trazem informações sobre sua atuação.
O tratado de Rosa fornece exemplo disto, com a narrativa do testemunho dado pelo
cirurgião francês Antônio Brebon, em que se descreve a autópsia do corpo de um acometido
pela epidemia de febre amarela que assolava a costa da América portuguesa entre as décadas
de 1680-90. Após concluir sua operação, realizada a bordo do navio em que operava
profissionalmente, Brebon credita a pestilência às lombrigas que encontra infestando o corpo
dissecado. Diante de seus achados, o cirurgião se declarou o descobridor da causa da doença e
propôs também o que considerava ser o tratamento adequado, o uso de emplastros e
preparados vermífugos para contra-atacar a ação e o estabelecimento dos parasitas no corpo17.
Ao comparar essa narrativa às críticas de Morão aos leigos e às tentativas de Rosa de
produzir uma patologia sobre a epidemia, por um lado percebe-se que há uma variedade de
noções circulantes na sociedade pernambucana do século XVII sobre o que são as doenças,
quais suas causas e como deve ser o tratamento adequado. Por outro, a existência de múltiplas
chaves de explicação sobre a saúde e a doença em circulação na sociedade pernambucana do
16 Noções condizentes com as levantadas por Gruzinski e Viotti. Cf. GRUZINSKI, 2014: 238; VIOTTI, 2012: 34-37, 133. 17 Cf. ROSA, 1694. Juramento do Cirurgião Antonio Berbon.
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Seiscentos não é por si só indício de que todas eram igualmente tidas por legítimas em
qualquer ambiente. É preciso considerar que a argumentação política fazia uso principalmente
da filosofia natural como elemento de elaboração de suas ações e legitimação das mesmas. E
que, ao fim e ao cabo, não foi o saber dos empíricos que conseguiu se impor e oferecer a
patologia que se estabeleceu à época sobre a febre amarela, por exemplo.
Nesse contexto cultural, as obras de Morão e Rosa exibem tendências de uma
produção intelectual que se confirma e consolida ao longo do tempo com um número
crescente de produções posteriores sobre a medicina nos territórios portugueses na América18.
Obras caracterizadas pela preocupação com a comunicação, evidenciada pela escolha do
português como idioma de escrita; dotadas de fins informativos e instrutivos concernentes a
questões próprias da colônia; pautadas pela filosofia natural, mas voltados também aos
saberes da experiência, selecionados ou “revistos pela razão” para encaixar-se nos parâmetros
acadêmicos do contexto em questão; e interessadas na formatação da atuação dos empíricos,
portanto motivadoras de disputas culturais.
As ideias contidas nessas obras influem na construção do saber médico e curativo que
se desenvolve na América portuguesa, como parte do saber mestiço que se desenvolvia no
local. Informam, em certa medida, a ação dos demais agentes da cura: segundo Bruno Boto
Leite, a patologia proposta por Rosa sobre a peste se consolidou entre os curadores da época.
Conseguiu pautar com sucesso a atuação dos empíricos e dos licenciados no que tange o trato
com a peste (LEITE, 2011: 16).
Não somente no âmbito das práticas individuais se percebe a ação dos licenciados.
Rosa, comissionado pelo Marquês de Montebelo, governador de Pernambuco entre 1690-
1693, orientou a bem-sucedida campanha sanitária contra a febre amarela (ANDRADE, 1969:
57). Fez-se referência para iniciativas de saúde de outros administradores coloniais 19 ,
demonstrando sua capacidade de influenciar as políticas da governança20 - e deixando claro o
potencial dos médicos acadêmicos de pautar imagens da cura.
Mas também a prática dos leigos levava à resposta institucional e à disputa entre
imagens da cura concorrentes. A “anatomia” de Brebon inspirou ordem régia para a realização
de novas autópsias com fins de descobrir mais informações sobre a epidemia, bem como
inspirou a resposta de Rosa no Trattado unico.... A ação de ambos levou à ampliação do
debate, como se pode ver pelo fato de as notícias se espalharem ao longo dos territórios
18 Como pode ser visto também nas obras médicas escritas no século XVIII trabalhadas por Viotti. 19 Cf. COUTINHO, 1693. 20 Cf. ANDRADE, 1969.
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afetados pelo contágio, além de suscitar comentários e respostas de autoridades governativas,
como se pode ver na Carta de 19 de julho de 1693 a Mendo de Foyos Pereira, Secretário de
Estado, sobre a informação que fez um estrangeiro sobre o contágio, redigida pelo
governador geral do Brasil à época, Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho
(COUTINHO, 1693: 108).
Nisso, tanto Rosa quanto Brebon agiram de modo a afirmar a validade e relevância
dos conhecimentos que lograram produzir, cada qual segundo os procedimentos próprios das
bases epistêmicas em que se apoiavam. Ademais, disputaram - ou foram chamados a isso por
Rosa, que tornou público o debate com sua resposta ao depoimento de Brebon - pelo estatuto
de verdade sobre a epidemia, suas causas, evolução e tratamento adequados. Que as
prescrições de ambos fossem ineficazes no tratamento da doença21, apesar de ter sido notado
pelos contemporâneos, como deixa entrever o comentário de Câmara Coutinho, é de menor
interesse a este trabalho. O que importa é observar o desenrolar de uma disputa envolvendo
imagens da cura conflitantes.
Mas é possível também observar situações de coexistência pacífica entre imagens da
cura distintas - como se observa na corte de D. João IV, que sem maiores conflitos mantinha
os serviços de seus médicos da corte ao mesmo tempo em que recorria aos serviços de
Domingos da Madre de Deus, beato que se dizia dotado de dons divinatórios e curativos de
natureza mágico-religiosa (PAIVA, 1997: 11).
Outro exemplo pode ser visto no caso da explicação adotada pelo Marquês de
Montebelo para as causas da epidemia. Esta conciliava a influência dos “astros e elementos”
da filosofia natural – o governador creditava a epidemia à acumulação de dejetos nas ruas da
cidade e aos vapores necróticos vindos de covas mal cobertas - a uma causa moral de natureza
religiosa, dando à doença ares de punição divina a uma coletividade marcada pelo pecado. Tal
noção inspirou os bandos relativos ao controle estrito da prostituição e da vadiagem na
cidade, limitando inclusive o trânsito de quaisquer mulheres desacompanhadas durante a noite
(ANDRADE, 1969: 156-159).
Esta é uma primeira abordagem do problema, parte de um projeto ainda em
desenvolvimento. Com as aproximações até aqui oferecidas, buscou-se iniciar a discussão
sobre o tema, embora seja inviável no momento, e mesmo indesejável, esgotá-la. Há ainda
21 Embora Coutinho afirme que “[...] o tratado que fizera o medico de Pernambuco, ainda que parecera bem aos dessa côrte, nenhuma utilidade recebiam os doentes de se curarem por ele, porque morriam da mesma maneira que os outros;” (COUTINHO, 1693: 108), vale ressaltar que a política sanitária elaborada por Rosa e Montebelo foi bem sucedida em controlar a epidemia no Recife, o que se tornou um dos elementos para o eventual sucesso de Rosa em pautar as abordagens acadêmicas da febre amarela à época.
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análises por fazer que podem esclarecer certas dinâmicas. É possível questionar, por exemplo,
se um indivíduo como Domingos da Madre de Deus, que adquiriu fama pública por suas
práticas mágico-religiosas, e por força desta reputação, foi capaz de transitar na corte de D.
João IV, fortalece a percepção de que os praticantes da magia eram sujeitos competentes para
curar.
Pode-se também observar que a hipótese moral-religiosa de Montebelo para o
contágio tem certo eco no Discurso II da obra Economia Cristã dos Senhores no Governo dos
Escravos, de Jorge Benci – no qual o jesuíta credita as epidemias que assolavam a costa da
América portuguesa nas últimas décadas do XVII às deficiências no ensino religioso
oferecido aos principais da terra, e à consequente inobservância da doutrina cristã por parte
desses (BENCI, 1705).
Aparecem aqui pistas que apontam para a necessidade de exploração futura de
possíveis imagens da cura relacionadas à religiosidade cristã e às crenças mágicas – esforços
que devem ser perseguidos sem descuidar das análises relativas à atuação dos médicos
licenciados e curadores leigos. Observar tais acepções de cura adotadas pelos sujeitos de
finais do Seiscentos revela não só a multiplicidade possível para o que se entendia como
possibilidades legítimas de manutenção e restauração da saúde, mas também serve como
indícios para a melhor compreensão dos processos sociais, relações de força, disputas e
conformações desenvolvidas ao redor de e em função dessas acepções. Estudar imagens da
cura é, portanto, contribuir para elucidar dinâmicas relevantes ao estudo do século XVII.
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