Trabalho

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PROJETO DE PESQUISATrabalho e maternidade no cotidiano de professoras do

ensino superior

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEEscola de Serviço Social

Trabalho doméstico:"inatividade econômica ou

trabalho não – remunerado?”

Cristina Bruschini, Fundação Carlos Chagas.

São Paulo, 09 e 10 de abril.

Rio de Janeiro, 11 e 12 de abril.2007

Aluna : Liliana Santos Silva.Trabalho apresentado em 08.06.2011

O texto está dividido em três partes :

1. Breve retrospectiva histórica

2. Breve histórico sobre os estudo baseados no uso do tempo das atividades dos indivíduos para a produção e reprodução

3. Oferece uma nova atribuição ao tema

Introdução

O presente artigo pretende oferecer um apoio ao tema do trabalho doméstico tendo por base os resultados de um estudo sobre o tempo semanal médio gasto na realização de afazeres domésticos

Entende-se por afazeres domésticos, na PNAD (Pesquisa nacional de Amostra por domicílio), a realização no domicílio de residência de tarefas que não se enquadravam no conceito de trabalho como: arrumar ou limpar toda ou parte da moradia;cozinhar ou preparar alimentos, passar roupas ...

ou ainda :

lavar roupa ou louça, utilizando, ou não, aparelhos eletrodomésticos para executar estas tarefas para si ou para outro(s)

morador(es); orientar ou dirigir trabalhadores domésticos na execução das

tarefas domésticas; cuidar de filhos ou menores moradores; limpar o quintal ou

terreno que circunda a residência.

O estudo foi viabilizado pela introdução, nos questionários da PNAD/IBGE1*, de perguntas sobre afazeres domésticos, que passaram a constituir quesitos específicos sobre o tema

*Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A primeira pesquisa, realizada em 1992, acrescentou uma questão sobre afazeres domésticos, apresentada a todos os respondentes, independentemente de sua condição de atividade

Ou seja, a categoria “afazeres domésticos” deixa de ser apenas uma alternativa de resposta apresentada aos que afirmavam “não trabalhar”, como ocorria anteriormente

A segunda pesquisa, já em 2001, acrescentou um quesito sobre o número de horas gastas por semana com essas atividades, possibilitando um estudo sobre o uso do tempo no trabalho doméstico, antiga demanda de pesquisadoras feministas

1. Retrospectiva Histórica:

O trabalho feminino foi a porta de entrada dos estudos da mulher na academia brasileira. No final dos anos 60 e inicio dos anos 70, pesquisas abordando as questões do trabalho da mulher torna-se clássicas como a de Saffioti(1969) e de Blay(1978), tornando se leitura obrigatória nas universidades.

Em 1975 a reflexão sobre o tema ganhou mais fôlego com o reflorescimento do movimento de mulheres criou as condições necessárias para a legitimação da condição feminina como objeto de estudo

A partir dos estudos pouco a pouco foi-se revelando os fatores que subordinavam as mulheres

Primeira geração de estudo focalizou-se exclusivamente na ótica da produção, sem levar em conta o fato de que a mulher ocupa um determinado papel na reprodução social.

Com o passar do tempo esta condição da mulher passa ter peso considerável na produção do tema.

Nos levantamentos censitários, a categoria inativos abriga indivíduos que:

não trabalham, porque vivem de alguma renda, seja porque são aposentados, pensionistas, doentes ou inválidos, estudantes e os/as que realizam afazeres domésticos.

Ou seja, apesar do considerável volume de atividades que se escondem sob a rubrica afazeres domésticos e que mantém ocupadas mulheres de todas as camadas sociais, o trabalho doméstico não é contabilizado como atividade econômica nesse tipo de levantamento

Além disso, em virtude da maior divulgação e aceitação social da função reprodutiva das mulheres, a atividade de dona de casa costuma ser declarada como a principal ocupação da respondente

Na nova PNAD, as principais alterações se deram em relação ao conceito de trabalho e desemprego.

A definição de trabalho é a de ocupação econômica remunerada em dinheiro, produtos ou mercadorias, ou somente benefícios.

A jornada de trabalho não-remunerado considerado como ocupação passa a ser considerada pelo menos 1 hora por semana. A partir disso houve mudanças importantes nos questionários

Ao longo da década, outras modificações foram sendo introduzidas, muitas delas em respeito as demandas de grupos e movimentos sociais

2.Estudos sobre o tema:

Os estudos sobre o uso do tempo não são novidade, estão presentes desde a 1ª metade do século XX, principalmente nos países desenvolvidos como na Europa e nos Estados Unidos

Segundo Szalai (1972) muitos aspectos interessantes da vida social estão associados com a distribuição temporal das atividades humanas, como a regularidade de ritmo, a duração etc

Ainda segundo Szalai, o tempo apurado neste estudo serve apenas de referência estruturante das proporções das atividades diárias, ou seja, não é o tempo em si mesmo, mas sim o uso que as pessoas fazem dele

A maior parte dos estudos de orçamento tempo antes da 2ª guerra, foi realizada na Grã-Bretanha, União Soviética e Estados Unidos, alguns na França e na Alemanha.

1.Distribuição entre categorias de atividade (como trabalho pago, afazeres domésticos, cuidado

pessoal, tarefas familiares, sono e recreação)

2. Característica de gasto de tempo por grupo ou estrato social (trabalhadores industriais, estudantes, homens, desempregados, etc.)

3. Uso do tempo livre (prinipalmente lazer).

Esses primeiros estudos tiveram por foco:

No Brasil estudos com este método foram incorporados ao trabalho feminino nos anos 70, com o intuito de tornar visível e valorizar a atividade doméstica, assim como outras formas de atividades sem remuneração desempenhadas sobretudo pelas mulheres

Nos anos 80 com esta mesma metodologia, foi feita uma pesquisa com chefes de família da Bahia (camadas populares) que mostrou que somando as atividades remuneradas e não- remuneradas, as mulheres de 30 a 45 anos trabalham 95 horas por semana

Já pesquisas feitas em São Paulo, com mulheres das classes médias constou que o tempo gasto nas atividades diárias domésticas variava de 7 a 9h (49 a 66 horas semanais)

Pesquisas também nos mostram que nos países industrializados, 66% do total de tempo do trabalho dos homens é gasto por eles em atividades remuneradas e 34% em não remuneradas, enquanto nos países em desenvolvimento essa relação é de 76% para 24%.

Enquanto as mulheres tantos nos países em desenvolvimentos como nos industrializados, consomem 34% do tempo em atividades remuneradas e 66% em trabalho não pago

3. Uma nova atribuição ao tema:

Nesta parte do texto são apresentados os resultados de um estudo realizado com dados da PNDA/2002 sobre o tempo semanal médio de dedicação aos afazeres domésticos.

As informações foram obtidas a partir da pergunta:

Quantas horas são dedicadas normalmente porsemana aos afazeres domésticos?

Ao analisar o tempo gasto nas tarefas domésticas com a presença de filhos, os estudos vem afirmando que o cuidado com os filhos é uma das atividades que mais consome o tempo de trabalho doméstico das mulheres

(Bruschini e Lombardi, 2003)

Segundo os dados da pesquisa as mães dedicam aos afazeres domésticos quase 32 horas do seu tempo semanal, número muito superior ao da média geral e mais ainda ao das mulheres que não tiveram filhos.

Enquanto 95% das mulheres que tiveram filhos responderam que cuidavam de afazeres domésticos, 82% das que não tiveram filhos deram resposta semelhante.

Ao introduzir na análise a idade dos filhos, os dados confirmam o que os estudos de gênero tem apontado seguidamente:

os filhos pequenos são aqueles que consomem o maior número de horas de

dedicação aos afazeres domésticos

Ao considerar a idade do último filho vivo no domicílio, constatou-se que as mães dedicavam aos afazeres domésticos – aí incluído o cuidado com os filhos pequenos e outros menores, conforme a definição da PNAD:

quase 35 horas semanais, quando os filhos tem menos de 2 anos e pouco mais de 32 horas quando estes estão na idade de 2 a 4 anos, cifras muito superiores à encontrada para a população feminina em geral

Ao analisar o número de horas dedicadas aos afazeres domésticos, segundo a atividade remunerada, constatou-se que mulheres que tinham ocupação remunerada fora do domicílio, dedicavam aos afazeres domésticos quase 8h a menos do que aquelas que não estavam trabalhando fora do domicílio.

Em relação aos homens constatou-se que os desempregados (categoria desocupados) dedicaram quase 4 horas a mais do seu tempo semanal anterior à pesquisa aos afazeres domésticos, em comparação aos ocupados e à média da população masculina.

Considerações finais

Os dados analisados comprovam inúmeras afirmações feitas nos estudos de gênero: a de que as mulheres, muito mais do que os homens, dedicam parte significativa de seu tempo ao trabalho para a reprodução social

Dentre elas, são as cônjuges e, principalmente as mães, aquelas que dedicam número mais elevado de horas aos afazeres domésticos e...

Dentre as que tiveram filhos, são as mães de filhos pequenos aquelas cujo tempo semanal de dedicação aos afazeres domésticos é o mais elevado

A segunda consideração que deve ser feita, é a do avanço significativo do órgão oficial responsável pelo levantamento de dados, dando continuidade àqueles mencionados

Defende-se agora, a proposta de que o trabalho doméstico, que consome dos que dele se ocupam (maioria mulheres, donas de casa e mães de filhos pequenos) parte considerável do seu tempo, passe a ser considerado um trabalho não remunerado, e deixe de ser inatividade econômica.

Grupo de pesquisa:

Profª Drª Virginia Paes Coelho

Alunas pesquisadoras:

Camilla de Alvarenga Silva Christiane Silva Bitencourth Débora Cristina Bahia Fortes Liliana Santos Silva Rebecca de Oliveira Costa da Silva