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Escola Superior de Educao Joo de Deus
Mestrado em Cincias da Educao na Especialidade em Domnio Cognitivo-Motor
Atitudes dos professores do ensino pblico face Sndrome Alcolica Fetal, em funo
da idade e do tempo de servio em Educao Especial
Neuza Maria Jesus da Costa
Lisboa, Julho de 2012
ii
iii
Escola Superior de Educao Joo de Deus
Mestrado em Cincias da Educao na Especialidade em Domnio Cognitivo-Motor
Atitudes dos professores do ensino pblico face
Sndrome Alcolica Fetal, em funo da idade e do
tempo de servio em Educao Especial
Neuza Maria Jesus da Costa
Dissertao apresentada Escola Superior de Educao Joo de
Deus com vista obteno do grau de Mestre em Cincias da
Educao na Especialidade de Educao Especial: Domnio
Cognitivo e Motor sob a orientao da
Professora Cristina Gonalves
Lisboa, Julho de 2012
iv
Resumo
A presente investigao tem como tema principal a Sndrome Alcolica Fetal
(SAF). O lcool ingerido pela mulher grvida espalha-se na corrente sangunea e entra
em contacto com o feto atravs da troca de nutrientes na placenta. Este ainda no tem
os rgos preparados para este tipo de aco nem mecanismos de defesa, portanto, a
quantidade de lcool e a fase da gravidez podem contribuir para o aumento de risco de
aparecimento da SAF. Esta caracteriza-se pela manifestao de irregularidades
neonatais singulares de desenvolvimento, intelectuais e corporais associados ao
consumo de lcool pela me durante a gravidez.
Vrios autores estudaram este assunto em variadas vertentes, chegando a
diversificadas concluses. O principal objectivo deste trabalho analisar o conhecimento
que os professores tm sobre a problemtica da SAF, desde caractersticas fsicas,
cognitivas e sociais, passando por estratgias de interveno e condies de apoio nas
escolas a esta situao; analisar as atitudes dos professores do ensino pblico
relativamente SAF e verificar de que forma as mesmas variam em funo da idade e
do tempo de servio em Educao Especial.
Os resultados permitem verificar que o conhecimento dos professores com idade
igual ou inferior a 30 anos mais alargado quando comparado com o dos professores
mais velhos. Da mesma forma as atitudes variam em funo da idade e do tempo de
servio em EE. Os professores mais novos e os que tm experincia na EE revelam
atitudes mais conscienciosas da problemtica apresentada.
Conclumos que imperativa a aposta na formao dos profissionais da educao,
por forma a potenciar as suas estratgias e metodologias com vista a intervir
objectivamente e com resultados positivos junto dos alunos com SAF.
Palavras-chave: lcool, Sndrome Alcolica Fetal, atitude, professor, idade e
tempo de servio.
v
Abstract
The present investigation has as main subject the Fetal Alcohol Syndrome (FAS).
The alcohol ingested by the pregnant woman spreads in the bloodstream and it enters in
contact with the fetus by the exchange of the nutrients in the placenta. The fetus hasnt
got the organs ready for this kind of action neither defense mechanisms, so the amount
of alcohol and the stage of pregnancy can increase the risk of appearing FAS. This is
characterized by the manifestation of singular neonatal irregularities of development,
intellectual and body associated to the alcohol consumption by the mother during the
pregnancy.
Several authors studied this subject in many aspects, coming to diversified
conclusions. The main objective of this work is to analyse the knowledge that teachers
have about the problematic of FAS, not only the physical, but also the cognitive and
social characteristics using the intervention strategies and support conditions in schools.
Another important aspect is to analyse the teachers attitudes in the public education
relatively to FAS and to verify how they change according to age and the time in the
school in Special Education.
The results verify that the teachers knowledge with 30 years old or less is more
extended compared with the knowledge of older teachers. The same way the attitudes
vary in function of the age and the time in school in Special Education. Younger teachers
and the teachers that have more experience in Special Education show more
conscientious attitudes of this problematic.
We can conclude that it is imperative to have excellent educational professionals
developing their strategies and methologies in order to achieve the best results among
FAS students.
Key words: alcohol, Fetal Alcohol Syndrome, attitude, teacher, age, experience.
vi
Dedicatria
pessoa que me segura pela mo
s pessoas que simplesmente me vem crescer
s pessoas que me permitem crescer
s pessoas que crescem comigo
s pessoas que me fazem voar mais longe, num tempo sem asas
A todas as crianas que me indicam o caminho
queles que edificam a minha vida
s estrelas da terra
que outrora partiram
e agora me iluminam
e mostram o caminho
vii
Agradecimentos
Aos meus Pais, ANTNIO e MARIA, pelo apoio incondicional
Ao amor da minha vida, MANUEL, pelo amor e carinho, pela fora e compreenso, pela
pacincia e companhia, pela brincadeira e distraco
Ao meu irmo, CARLOS, pela moderao e incentivo
Marisa, pela ajuda, afecto e preocupao
Ana Cristina e Olga, pela amizade, disponibilidade e colaborao
Ao Doutor Professor Horcio Saraiva, pelo conhecimento que partilha
Doutora Professora Cristina Gonalves, pela orientao
Ao Doutor Professor Jorge Castro, pela inspirao e por mostrar que o ideal possvel
E a todos que de alguma forma colaboraram no desenvolvimento deste trabalho
Obrigada!
viii
ndice
Introduo ..........................................................................................................................................1
Captulo 1 Quadro terico e reviso da litratura ............................................................................4
1. As atitudes ................................................................................................................................5
1.1. Formao e desenvolvimento das atitudes ..........................................................................5
1.2. Funes das atitudes ............................................................................................................5
1.3. Componentes das atitudes ...................................................................................................6
1.4. Mudana de atitudes ............................................................................................................6
1.5. Medida das atitudes .............................................................................................................7
2. O lcool .....................................................................................................................................8
2.1. O lcool no organismo ..........................................................................................................8
2.2. Eliminao do lcool .............................................................................................................9
2.3. Alcoolemia e taxa de alcoolmia ....................................................................................... 10
2.4. Efeitos do lcool ................................................................................................................ 11
2.5. O lcool no contexto social ................................................................................................ 12
2.5.1. Dependncia do lcool como pecado ..................................................................... 13
2.5.2. A dependncia do lcool como doena .................................................................. 14
2.5.3. A dependncia do lcool como comportamento inadaptado ................................ 15
2.6. Portugal no contexto europeu do consumo de lcool ...................................................... 15
2.7. Quadro legal portugus no domnio do lcool .................................................................. 16
2.8. Critrios de diagnstico da dependncia do lcool........................................................... 17
2.8.1. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV) .......................... 17
2.8.2. Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados
Sade Dcima Reviso (CID-10) ........................................................................... 18
2.9. O lcool e o consumo precoce .......................................................................................... 19
2.10. O lcool e os factores de risco ....................................................................................... 20
2.10.1. Factores de risco individuais ................................................................................... 20
2.10.2. Factores de risco scio ambientais ......................................................................... 22
2.11. Abordagens explicativas das causas da iniciao aditiva do lcool ............................... 23
2.11.1. Abordagem cognitivo-comportamental ................................................................. 23
2.11.2. Abordagem biopsicossocial .................................................................................... 23
2.11.3. Abordagem psicobiolgica ...................................................................................... 24
ix
2.11.4. Teoria da inverso psicolgica ................................................................................ 24
2.11.5. Modelo de gesto hedonista .................................................................................. 24
2.11.6. Modelo do sistema de aces ................................................................................. 25
2.12. Preveno para os efeitos da adio do lcool .............................................................. 25
2.12.1. Modelos de preveno do comportamento aditivo ............................................... 26
2.12.1.1. Modelo proscritivo .................................................................................... 27
2.12.1.2. Modelo sociocultural ................................................................................. 27
2.12.1.3. Modelo do comportamento interpessoal (MCI)........................................ 27
2.12.1.4. Modelo scio afectivo................................................................................ 28
2.12.1.5. Modelo de inoculao ............................................................................... 28
2.12.1.6. Modelo humanista: educao e valores .................................................... 28
2.12.1.7. Modelo biopsicossocial .............................................................................. 28
2.12.1.8. Modelo das alternativas ao consumo de lcool ........................................ 29
2.12.1.9. Modelo da comunicao-persuaso (MCP) ............................................... 29
2.13. O papel do professor no cintexto do lcool ................................................................... 30
3. Alcoolismo feminino .............................................................................................................. 31
3.1. Diagnstico precoce do consumo de lcool na gravidez ................................................... 31
3.1.1. Tolerance, Annoyed, Cut down Eyeopener (T-ACE) ............................................... 33
3.1.2. TWEAK ..................................................................................................................... 34
3.2. Efeitos do lcool na gravidez ............................................................................................. 34
3.3. Efeitos do lcool na amamentao ................................................................................... 35
4. A Sndrome Alcolica Fetal (SAF) ........................................................................................... 36
4.1. Caractersticas da SAF ........................................................................................................ 37
4.2. reas afectadas no crebro com SAF ................................................................................ 39
4.3. Exames mdicos ................................................................................................................ 40
4.4. Diagnstico da SAF ............................................................................................................ 40
4.4.1. Critrios de diagnstico da teratogenia do cool ................................................... 42
4.4.2. Critrios de diagnstico das Desordens do Espectro Alcolico Fetal (DEAF) ......... 43
4.4.3. O Cdigo de Quatro Dgitos (4-DIGIT Diagnostic Code) .......................................... 46
4.4.4. Diagnstico diferencial ........................................................................................... 46
4.5. Tratamento e interveno ................................................................................................. 47
5. Interveno educativa ........................................................................................................... 48
5.1. Avaliao da SAF ................................................................................................................ 48
x
5.1.1. Perfil de funcionalidade do aluno com SAF, com referncia CIF ......................... 49
5.2. O contexto escolar ............................................................................................................. 51
5.2.1. O bom professor ..................................................................................................... 52
5.2.2. O professor e as suas atitudes face SAF ............................................................... 55
5.2.3. Gesto inclusiva das adaptaes curriculares ........................................................ 58
5.2.4. Projecto TRIUMF ..................................................................................................... 60
Captulo 2 Metodologia de investigao ..................................................................................... 63
1. Objectivos .............................................................................................................................. 64
2. Justificao dos objectivos ..................................................................................................... 64
3. Hipteses e variveis ............................................................................................................. 64
4. Instrumentos ......................................................................................................................... 65
5. Procedimento ....................................................................................................................... 65
6. Tratamento da informao .................................................................................................... 65
7. Amostra ................................................................................................................................. 65
Captulo 3 Apresentao dos resultados ..................................................................................... 63
1. Caracterizao da amostra .................................................................................................... 67
2. Caracterizao da atitudes no trabalho com a SAF ............................................................... 71
3. Caracterizao das atitudes face s caractersticas da SAF ................................................... 74
4. Caracterizao das atitudes dos professores em funo da idade ....................................... 78
5. Caracterizao das atitudes dos professores em funo do tempo de servio em EE ......... 84
Captulo 4 Discusso dos resultados ............................................................................................ 91
Captulo 5 Concluso .................................................................................................................... 97
Captulo 6 Referncias bibliogrficas ......................................................................................... 100
ndice de Tabelas
Tabela 1 reas afectadas do crebro e respectivas funes. ............................................................ 39
ndice de Ilustraes
Ilustrao 1 Caractersticas fsicas da criana com SAF .................................................................... 37
Ilustrao 2 Crebro normal e crebro de um sujeito com SAF. ....................................................... 39
xi
ndice de Grficos ..............................................................................
Grfico 1 Distribuio da amostra em funo do gnero. __________________________________ 67
Grfico 2 Distribuio da amostra em funo da idade. ___________________________________ 67
Grfico 3 Distribuio da amostra em funo do nvel de ensino . __________________________ 68
Grfico 4 - Distribuio da amostra pelas disciplinas que lecciona. ___________________________ 68
Grfico 5 - Distribuio da amostra face s habilitaes acadmicas. ________________________ 69
Grfico 6 - Distribuio da amostra face ao tempo de servio total. ___________________________ 69
Grfico 7 - Distribuio da amostra pelo tempo de servio em Educao Especial _____________ 70
Grfico 8 - Distribuio da amostra face ao meio onde leccionou. ____________________________ 70
Grfico 9 - No presente ano lectivo est a trabalhar com alunos com SAF? ___________________ 71
Grfico 10 - J trabalhou anteriormente com alunos com SAF? ______________________________ 71
Grfico 11 - Nmero de alunos com SAF com os quais j trabalhou. _________________________ 72
Grfico 12 - Tempo de servio com alunos com SAF. ______________________________________ 72
Grfico 13 - Distribuio da amostra por formas de participao adoptadas com alunos com SAF.
______________________________________________________________________________________ 73
Grfico 14 - Distribuio da amostra face razo de no trabalhar com alunos com SAF. ______ 73
Grfico 15 - Distribuio da amostra de acordo com o grau de concordncia sobre ter
conhecimentos suficientes para lidar com as necessidades educativas dos alunos com SAF. ___ 74
Grfico 16 - Distribio da amostra de acordo com o grau de concordncia sobre ser capaz de
remediar dfices de aprendizagem dos alunos com SAF. ___________________________________ 75
Grfico 17 - Distribuio da amostra de acordo com o grau de concordncia sobre ser capaz de
controlar o comportamento de alunos com SAF. ___________________________________________ 75
Grfico 18 - Distribuio da amostra face ao grau de concordncia sobre a afirmao Gosto de ter
alunos com SAF na minha aula. _________________________________________________________ 76
Grfico 19 - Distribuio da amostra de acordo com o grau de concordncia sobre a acessibilidade
dos materiais didcticos especficos. _____________________________________________________ 76
Grfico 20 - Distribuio da amostra de acordo com o grau de concordncia sobre ter os servios
adequados disponveis para a apoiar. ____________________________________________________ 77
xii
Grfico 21 - Distribuio da amostra segundo o grau de concordncia sobre se o oramento
escolar sufuciente para adquirir materiais de apoio. ______________________________________ 77
Grfico 22 - Distribuio da amostra segundo o grau de concordncia sobre frequentar formao
complementar acerca da educao de alunos com SAF, no futuro. __________________________ 78
Grfico 23 Grau de concordncia relativo afirmao A SAF deve-se ao consumo de lcool por
parte da me durante a gravidez e amamentao, em funo da idade. _____________________ 79
Grfico 24 Grau de concordncia relativo afirmao O aluno tem dificuldade em completar
tarefas, em funo da idade. ____________________________________________________________ 79
Grfico 25 Grau de concordncia reltivo afirmao Um aluno com SAF pode apresentar
dificuldade na fala e na comunicao, em funo da idade. _________________________________ 80
Grfico 26 - Grau de concordncia com a afirmao "O desempenho escolar do aluno com SAF
pobre", em funo da idade. _____________________________________________________________ 80
Grfico 27 - Grau de concordncia com a afirmao "A SAF pode caracterizar-se ficamente por
malformaes no corpo, rgos internos e parte dos sentidos e representa risco de morte", em
funo da idade. _______________________________________________________________________ 81
Grfico 28 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF beneficiaro da
interaco proporcionada pela incluso numa sala regular", em funo da idade. ______________ 81
Grfico 29 - Grau de concordncia rlativo afirmao "as alunos sem SAF beneficiaro com a
integrao dos alunos com SAF nas suas turmas", em funo da idade. ______________________ 82
Grfico 30 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF devem beneficiar de
uma difernciao pedaggica, ainda que includos no grupo turma", em funo da idade. ______ 83
Grfico 31 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF so socialmente
aceites pelos seus pares sem SAF", em funo da idade. ___________________________________ 83
Grfico 32 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF so humilhados na
sala de aula por parte dos colegas sem SAF", em funo da idade. __________________________ 84
Grfico 33 - Grau de concordncia relativo afirmao A SAF deve-se ao consumo de lcool por
parte da me durante a gravidez e amamentao, em funo do tempo de servio em EE. ____ 85
Grfico 34 Grau de concordncia relativo afirmao um aluno com SAF tem dificuldades em
completar tarefas, em funo do tempo de servio em EE. _________________________________ 85
Grfico 35 Grau de concordncia reltivo afirmao Um aluno com SAF pode apresentar
dificuldade na fala e na comunicao, em funo do tempo de servio em EE. _______________ 86
Grfico 36 - Grau de concordncia com a afirmao "O desempenho escolar do aluno com SAF
pobre", em funo do tempo de servio em EE. ____________________________________________ 86
xiii
Grfico 37 - Grau de concordncia com a afirmao "A SAF pode caracterizar-se ficamente por
malformaes no corpo, rgos internos e parte dos sentidos e representa risco de morte", em
funo do tempo de servio em EE. ______________________________________________________ 87
Grfico 38 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF beneficiaro da
interaco proporcionada pela incluso numa sala regular", em funo do tempo de servio em
EE. ___________________________________________________________________________________ 87
Grfico 39 - Grau de concordncia rlativo afirmao "as alunos sem SAF beneficiaro com a
integrao dos alunos com SAF nas suas turmas", em funo do tempo de servio em EE._____ 88
Grfico 40 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF devem beneficiar de
uma difernciao pedaggica, ainda que includos no grupo turma", em funo do tempo de
servio em EE. _________________________________________________________________________ 89
Grfico 41 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF so socialmente
aceites pelos seus pares sem SAF", em funo do tempo de servio em EE. _________________ 89
Grfico 42 - Grau de concordncia relativo afirmao "os alunos com SAF so humilhados na
sala de aula por parte dos colegas sem SAF", em funo do tempo de servio em EE. _________ 90
1
Introduo
Desde sempre, o lcool consumido por homens e mulheres em todo o tipo de
ocasio, sendo considerado at como estimulante, mas o seu consumo pode causar
dependncia em sujeitos com predisposio a situaes depressivas ou por factores
motivacionais individuais para consumir.
O lcool faz parte da histria da humanidade, sendo a droga mais consumida
(Rodrigues V. , 2003).
Estando o consumo do lcool generalizado nas sociedades ocidentais, o mesmo
potencia tanto nos jovens como nos adultos a adopo de comportamentos de risco, mas
no primeiro grupo h frequentemente a procura de novas experincias e maior sensao
de invulnerabilidade, patentes num egocentrismo prprio da juventude.
O desenvolvimento da dependncia do lcool, entre outras drogas, potenciado
pelo incio precoce de consumo. Para os indivduos que no encontram apoio e
orientao no seio familiar ou nos grupos e na escola, muitas vezes vm a rua no como
espao de companheirismo e socializao mas como espao alternativo de liberdades.
De acordo com Arago & Sacadura (2002), em Espanha, mais de metade (55,7%)
dos adultos com mais de 18 anos consomem lcool preferencialmente e um nmero
elevado de adolescentes do ensino secundrio (34,6%) consomem lcool com
regularidade. A prevalncia de consumo no Brasil de 82% e nos EUA, relativa aos
alunos universitrios, de 87%.
Os factores de risco individuais (genticos, biolgico evolutivos e psicolgicos) so
de origem cognitiva e moldados pelos estados emocionais como a afectividade, a
frustrao, a ansiedade, a raiva, a tenso, a depresso, resultantes da interpretao e
adaptao individual s presses scio ambientais (Rodrigues, 2006).
A crescente complexidade e diversidade social exige da parte dos professores uma
preparao profissional mais abrangente e de maior autonomia para fazer face aos
problemas emergentes como a adio.
de conhecimento global, desde os tempos primitivos, que o lcool consumido por
mulheres durante a gravidez produz efeitos prejudiciais no feto, efeitos nocivos
(embriotoxidade), intervindo de tal forma no desenvolvimento fetal de modo a produzir
deformaes (teratogenicidade), transformando-se num srio problema de sade pblica.
Antes de uma gravidez, a histria gentica da me e o seu comportamento
relativamente ao lcool so factores relevantes a considerar, pois mulheres com
2
antecedentes familiares de alcoolismo e uma histria individual de excessos,
normalmente, apresentam maior risco para o feto.
O alcoolismo na gravidez pode dever-se tambm a condies socioeconmicas
difceis, ao baixo nvel escolar, desnutrio, doenas infecciosas e uso de outras drogas.
Para que a mulher grvida no ingira lcool necessrio que alguns factores de
apoio se mobilizem no decorrer da gravidez, como o apoio familiar, o ambiente
harmonioso onde esteja inserida, colaborao por parte de quem contacta com a mulher
diariamente, companhia, so estes requisitos fundamentais para evitar o risco de
consumo de lcool nesta fase to crucial.
Segundo Fiorentin & Vargas (2006), na formao profissional dos enfermeiros, os
quais mantm contacto directo e permanente com as grvidas, tem sido dada pouca
relevncia ao problema do alcoolismo feminino em idade reprodutora.
Consequentemente, estes profissionais nem sempre esto preparados para actuar face
ao exposto.
O lcool ingerido pela mulher grvida espalha-se na corrente sangunea e entra em
contacto com o feto atravs da troca de nutrientes na placenta. Enquanto o organismo da
mulher elimina o lcool duas vezes mais rpido que o feto, este ainda no tem
mecanismos de defesa nem os rgos preparados para este tipo de aco, portanto, a
quantidade de lcool e a fase da gravidez podem contribuir para o aumento de risco de
aparecimento da Sndrome Alcolica Fetal (SAF).
A SAF caracterizada por atraso no desenvolvimento pr ou ps nascimento, pelo
perigo que representa ao nvel do sistema nervoso central, complicaes no
desenvolvimento cognitivo e social, problemas ao nvel da comunicao e da fala, no
cumprimento de tarefas, na capacidade de ateno e concentrao, entre outras que
veremos mais frente neste trabalho.
Esta problemtica actual e emergente e as investigaes j feitas sobre o tema
so insuficientes para que haja respostas adequadas, atempadas e eficazes no
diagnstico, avaliao e interveno junto dos indivduos com SAF e das prprias
grvidas, relativamente permanncia de factores de risco potenciadores da existncia
destes casos.
Apesar dos vrios estudos sobre as envolventes da SAF, ainda no possvel
encontrar unanimidade sobre todas as caractersticas possveis, sobre as melhores
formas de diagnstico, avaliao e interveno.
3
Devido dificuldade no diagnstico e s falhas do mesmo ao nvel de todas as
reas envolventes da criana (famlia, sade, escola), muitas vezes estes indivduos
vivem muito tempo sem que sejam correctamente diagnosticados.
Perante a SAF necessrio que os profissionais de educao estejam conscientes
da sua realidade, identificando as caractersticas, reconhecendo as dificuldades,
desenvolvendo sistemas de trabalho e interveno diversificados e diferenciados, para
facultar um processo de ensino e aprendizagem funcional e integrador.
O professor o elemento crucial para fazer face s necessidades e limitaes
destes alunos, desde que adoptem as atitudes mais correctas que visem a diferenciao
pedaggica sem esquecer a incluso. Para que tal acontea imperativa a aposta na
formao inicial sobre o trabalho a desenvolver perante as necessidades educativas
especiais.
Neste sentido, achamos pertinente estudar as atitudes dos professores em relao
a esta sndrome e analisar de que forma esto conscientes e preparados para lidar com
esta realidade. Pretendemos perceber se estas atitudes variam em funo da idade e da
experincia na Educao Especial. Estes factores dependem em grande parte do tipo de
formao adquirida.
Este estudo revela-se pertinente porque apresenta ideias cruciais como a
necessidade de formar mais e melhor todos os profissionais de educao, para que
sejam capazes de responder s necessidades dos alunos com SAF.
4
Captulo 1
Quadro Terico e Reviso da Literatura
5
1. As atitudes
1.1. Formao e desenvolvimento das atitudes
As atitudes expressam a posio individual ou grupal, construda a partir da sua
histria, referindo-se a experincias subjectivas. Seja qual for o grupo ou subgrupo em
que o indivduo se insere, ele tem a necessidade intrnseca de interiorizar normas
culturais a vigentes. em funo dessas normas que o indivduo vai formando as suas
ideias, sentimentos, gostos, preferncias e modos de actuao num determinado
momento. Em suma, no processo de socializao, na interaco social, na
comparao, identificao e diferenciao sociais que cada um vai construindo o seu
sistema de atitudes.
Assim, podemos assumir atitudes face a ideias, a situaes, a instituies, a
objectos materiais e a pessoas. Esta dimenso avaliativa est sempre presente, pois as
atitudes expressam um posicionamento face a um determinado objecto social traduzido
atravs de um afecto positivo ou negativo.
As atitudes no so, portanto, directamente observveis. Inferem-se a partir dos
comportamentos, ou seja, daquilo que o indivduo faz ou diz. A correspondncia entre
uma atitude e um comportamento manifesto no se revela simples ou perfeita, uma vez
que o comportamento produto das atitudes e da situao imediata simultaneamente e
as atitudes podem ser mltiplas mesmo que relativas mesma situao.
Geralmente, na infncia as atitudes so moldadas de acordo com as ideias e
valores dos progenitores ou familiares, como por exemplo, relativamente poltica e
religio. medida que o desenvolvimento intelectual avana, estas influncias familiares
vo diminuindo e o adolescente tende a assumir as atitudes em consonncia com os
seus prprios ideais.
1.2. Funes das atitudes
Podemos analisar as atitudes em termos das suas funes, dividindo-as: as
funes motivacionais englobam a necessidade de expresso de valores (sentido de
identidade), de defesa (proteco do eu) e de adaptao (relacionadas com a
gratificao); as funes cognitivas envolvem os padres ou pontos de referncia que
facilitam a atribuio de sentido ao mundo conceptual interior; as funes sociais aludem
6
influncia que o posicionamento de terceiros assume na formao das atitudes e a sua
respectiva funo nos grupos sociais.
1.3. Componentes das atitudes
Em qualquer atitude possvel distinguir trs componentes: intelectual ou cognitiva,
que corresponde ao que sabemos ou acreditamos saber acerca de algo (ideias e
crenas); emocional ou afectiva, que inclui o que sentimos acerca de algo (sentimentos,
sistemas de valores); comportamental, que diz respeito ao que estamos dispostos a fazer
em relao a algo (conjunto de respostas do indivduo face ao objecto social).
O elemento intelectual tem a ver com aquilo que pensamos, sabemos ou
acreditamos saber. Se o homem dispusesse apenas de estruturas racionais, este
elemento bastaria para determinar as suas atitudes. Assim, o comportamento humano
seria a expresso exacta e directa do seu modo de pensar. Mas, por exemplo, todos
sabemos que praticar alguma actividade fsica saudvel, mas nem todos a praticam.
O elemento emocional de carcter afectivo ou valorativo, constitudo pelos
sentimentos que nutrimos relativamente aos objectos, pessoas, situaes e ideias.
O elemento comportamental o resultado dos elementos cognitivos e afectivos e
trata-se daquilo que tencionamos fazer ou dizer, ou seja, da predisposio para reagir e
actuar em face das pessoas ou das mais diversas coisas.
No entanto, nem sempre os nossos comportamentos so consonantes com as
atitudes. Psiclogos sociais falam de dissonncia cognitiva a propsito da existncia
simultnea de cognies que no se ajustam entre si.
As atitudes expressas nem sempre resultam da conjugao harmoniosa dos
factores intelectuais e afectivos. H casos em que o factor emocional dominante. H
casos em que os actos influenciam as atitudes e no o contrrio. Para reduzir a tenso
psicolgica, as pessoas tendem a racionalizar ou distorcer a realidade, adoptando uma
nova atitude em consonncia com o comportamento.
1.4. Mudana de atitudes
A mudana de atitudes depende sobretudo de novas informaes relativas ao
objecto social. O indivduo possui variadas formas de reagir a estas informaes em
7
funo das atitudes em causa. Se estiver em causa uma situao, uma pessoa ou um
objecto que faam parte de uma experincia distante do indivduo, sobre os quais haja
menor informao, mais fcil se desencadear a mudana de atitude relativamente ao
mesmo. Por outro lado, uma experincia traumtica pode conduzir formao ou
mudana de atitude.
A publicidade assume-se como um meio de extrema importncia para influenciar as
atitudes e comportamentos, uma vez que atravs dela o indivduo recebe mensagens
persuasivas com vista formao de atitudes e manifestao de comportamentos
conforme a mensagem que pretendida transmitir. Para que esta situao se verifique
imperativo que a mensagem se apresente de forma credvel, com prestgio e poder, com
aspectos em comum com o receptor e de carcter atraente. Por exemplo, nos anncios
est bem presente a associao de determinado produto a uma personalidade conhecida
do pblico; nas campanhas polticas existe o hbito de prometer aplicar medidas que
podero agradar o pblico; outra forma de persuadir consiste no recurso ao factor medo,
em que o indivduo se sente motivado se a ameaa apresentada nas campanhas for real,
alertando-o para certas medidas preventivas.
1.5. Medida das atitudes
As atitudes podem ser alvo de medio atravs das escalas de atitudes. Estas
medem a qualidade, o grau de intensidade e a sua direco. importante definir
indicadores adequados para medir determinada atitude. A escala mais comum a escala
de Lickert, a qual se fundamenta na ideia de que a atitude depende das crenas sobre o
objecto e dos valores relacionados com o mesmo. constituda por um conjunto de
afirmaes relativas ao objecto da atitude; a cada resposta atribudo um nmero que
indica a direco da atitude do sujeito relativamente a cada afirmao, sendo ela positiva
ou negativa, e a pontuao total da atitude de cada sujeito obtida atravs do somatrio
das pontuaes verificadas em cada afirmao; uma escala confivel, simples de
construir e permite obter informaes sobre o nvel de sentimentos dos sujeitos, os quais
se deparam com liberdade para responder de acordo com o grau de concordncia.
O procedimento desta escala o seguinte: para determinado item so reunidas
diversas informaes apresentadas ao sujeito e este indica se est completamente de
acordo, moderadamente de acordo, no concorda nem discorda, moderadamente em
desacordo ou completamente em desacordo. Para cada sujeito feita uma anlise final
8
reunindo as respostas numa escala de 5 a 1. Para conhecer a maior pontuao possvel
basta multiplicar o maior nmero utilizado pelo nmero de respostas; e a menor
pontuao possvel basta multiplicar o menor nmero utilizado pelo nmero de respostas
desfavorveis. A pontuao individual pode ser comparada pontuao mxima,
mostrando a atitude relativa ao problema apresentado.
2) O lcool
2.1. O lcool no organismo
O lcool uma substncia lquida, incolor, obtida a partir da fermentao de
cereais, razes e frutos (como, por exemplo, cerveja e vinho) ou por destilao, ou adio
de lcool resultante desse processo (como, por exemplo, aguardente, licor, rum, vodka).
Cientificamente, o lcool tem o nome qumico de etanol e apresenta a forma qumica de
CH3 CH2 OH. uma droga comercializada e consumida legalmente. Droga, segundo
Ganeri (2002:9),
uma substncia medicinal, orgnica ou inorgnica, que usada sozinha ou como
ingrediente actua no corpo podendo alterar o estado de esprito, a forma de
compreender, ver e ouvir as coisas, modificar a maneira de sentir e o comportamento.
Segundo Peters & McMahon (1996), a dependncia corresponde adaptao do
organismo a um novo equilbrio hemeosttico atingido quando o consumo se prolonga
por um perodo de tempo necessrio para tal.
De facto, inicialmente a bebida alcolica pode conduzir desinibio, euforia,
segurana ilusria e, possivelmente, comportamentos sexuais mais agressivos ou
desinibidos. O problema est o facto de que, progressivamente, o lcool poder provocar
sonolncia, relaxamento, viso turva, diminuio da capacidade de reaco,
descoordenao ao nvel muscular, diminuio da capacidade de raciocnio e de
interaco social, alteraes de humor, irritabilidade, entre outros.
Quando um indivduo ingere uma bebida alcolica, este lquido tem uma aco
rpida e temporria e a absoro processa-se facilmente atravs das mucosas do tubo
digestivo e do trato respiratrio. O processo de absoro inicia-se na mucosa oral e
completa-se pela mucosa do estmago e dos intestinos.
9
Em jejum, o lcool absorvido essencialmente pelo jejuno e duodeno, mas quando
consumido juntamente com a comida absorvido em grande parte pelo estmago (mais
de 70% do lcool). Aps uma hora da ingesto, encontrar-se- na corrente sangunea,
aumentando a taxa de alcoolemia nos 60 a 90 minutos prximos, seguindo-se um
decrscimo num perodo de 9 a 24horas (Petrantoni & Kruppel, 1991).
Como o etanol solvel em gua, distribui-se pelos tecidos e secrees de acordo
com esse teor hdrico. Uma grande parte do etanol (90%) oxida-se enzimaticamente pelo
citocromo P4502E1, no fgado, o grande purificador que procede sua decomposio a
uma mdia de 0,1g/litro por hora. Alm da oxidao, o etanol (2 a 10%) pode associar-se
a outras molculas atravs de variadas enzimas, entre as quais o cido graxo etil ster
sintetase, produzindo cido graxo etil ester e a glucoronil transferase, originando o etil
glucorondio.
Inicialmente, o lcool etlico sofre a aco da enzima ADH (lcool desidrogenase),
com interferncia do NAD (nicotinamidoadeninadinucleotdio), dando origem ao
acetaldedo. Neste vai agir a ALDH2 (acetaldedo desidrogenase), com a colaborao do
NAD e do NADH2 (nicotinamidoadeninadinucleotdio reduzido), transformando-se em
cido actico que, entrando na corrente sangunea dar origem ao O2 e CO2 nos tecidos
perifricos.
2.2. Eliminao do lcool
Os rgos essencialmente responsveis pela eliminao do lcool etlico so os
rins e os pulmes e o ar expirado caracteriza-se por um odor particular conferido pelo
acetaldedo. Pode ainda encontrar-se no suor, no suco intestinal e no leite. Uma vez que
a absoro digestiva completa, no h vestgios de lcool nas fezes.
Apenas uma nfima parte ( volta dos 5%) do lcool ingerido eliminado
directamente atravs da urina, do suor, da saliva e da respirao. A outra grande parte
passa repentinamente para a corrente sangunea atravs do estmago e do intestino
delgado sem que ocorra qualquer transformao qumica (Barrias, Mello, & Breda, 2001).
A eliminao do lcool do organismo decorre atravs de um processo lento. Seno
vejamos que, em condies normais, um indivduo que ao meio dia tenha uma taxa de
alcoolemia no sangue (TAS) de 2,0g/litro s conseguir que o lcool seja eliminado
totalmente do sangue s oito horas do dia seguinte (Goodwin, 2000).
10
Da mesma forma que impossvel acelerar o processo de eliminao do lcool do
sangue, os seus efeitos no so passveis de ser eliminados. No entanto, h factores que
podem retardar o processo, entre os quais definimos os problemas de funcionamento do
fgado e a conjugao com a ingesto de outras substncias potenciadoras do efeito
nocivo do lcool (caf, ch, medicamentos, entre outros).
2.3. Alcoolemia e taxa de alcoolemia
Alcoolmia a presena de lcool no sangue e a forma habitual de medir a
intensidade da concentrao alcolica num organismo numa determinada altura em
gramas de lcool puro por litro de sangue. Esta medida designa-se por Taxa de
Alcoolmia no Sangue (TAS), a qual sofre interferncia de vrios factores.
H um conjunto de factores pessoais que interferem na TAS. Normalmente, uma
pessoa com ndice de Massa Corporal (IMC) maior apresenta menor TAS se comparada
com outra pessoa cujo IMC seja inferior, quando ingerida a mesma quantidade de
lcool na mesma situao e de igual forma.
Por outro lado, a idade e o sexo so mais duas variveis que condicionam
expressivamente a TAS, uma vez que se caracterizam por diferenas hormonais e
enzimticas no processo de metabolizao do lcool. Assim, em geral, a capacidade
metablica que envolve o lcool ser significativamente superior nos adultos quando
comparada com crianas e adolescentes. De igual forma, os homens detm maior
capacidade metablica que as mulheres devido sua maior dotao para a defesa
enzimtica e ainda pela maior quantidade de gua que o organismo masculino contm.
O estado de fadiga, determinados estados emocionais, alguns medicamentos, as
mudanas repentinas de temperatura, ser filho de pais alcolicos ou sofrer de certas
doenas aumenta a sensibilidade ao lcool.
Em suma, a mesma pessoa que ingira a mesma quantidade de lcool em situaes
e condies psicofisiolgicas diferentes pode apresentar TAS diferentes. De igual forma,
a mesma bebida com a mesma quantidade de lcool ingerida por pessoas diferentes
pode originar TAS diferentes.
A TAS igualmente condicionada pelas diferentes formas de absoro que o
organismo faz do lcool, se ingerido em jejum ou s refeies, num curto espao de
tempo ou em grandes intervalos temporais. Quando a ingesto feita em jejum, a sua
absoro acelerada e aumenta o valor da taxa em cerca de 1/3. Por outro lado, o
11
estmago cheio apenas atrasa o processo de absoro no alterando em nada os seus
efeitos. A ingesto de forma rpida aumenta a taxa em comparao com a ingesto da
mesma quantidade da mesma bebida dividida em grandes intervalos de tempo.
Visto que o processo de metabolizao do lcool substancialmente distinto se
nocturno ou diurno, tambm o momento do dia em que a bebida ingerida pode alterar a
TAS.
A bebida possui caractersticas prprias capazes de provocar diferenas na TAS:
quantidade, maior ou menor teor alcolico, aquecida ou gaseificada. Com as duas ltimas
caractersticas a absoro acelera-se.
2.4. Efeitos do lcool
O lcool em excesso pode causar acidez no estmago, vmitos, diarreia, sede, dor
de cabea, desidratao, perda de equilbrio e vertigens e baixa de temperatura corporal.
Uma vez que bloqueia o funcionamento do sistema nervoso central, o lcool um
desinibidor e depressor. Aparentemente estimula o organismo, mas na realidade essa
estimulao fruto da depresso de mecanismos de controlo de inibio do crebro.
Em primeiro lugar so afectados os centros superiores (o que se repercute na fala,
pensamento, cognio e juzo) e posteriormente deprimem os centros inferiores
(afectando a respirao, os reflexos e, em casos de intoxicao aguda, provocando
coma) (S/autor, 2008).
Quando o sujeito se sente desinibido, com sensao de segurana em si prprio,
pode adoptar comportamentos perigosos para a sociedade, como por exemplo, acidentes
de viao, violncia, desorganizao familiar, alterao de conduta, entre outros; e para
si prprio no que respeita a doenas.
Atravs do lcool operam-se interferncias na fluidez das membranas cerebrais,
tais como o aumento da serotonina e aumenta o efeito sobre a aco de alguns
receptores dependentes.
Geralmente, quando a dosagem srica atinge 0,05% provoca perda de ligao
entre a capacidade de julgar e a de controlar os impulsos. Entre 0,1 e 0,2% j provoca
depresso nas funes motoras e condiciona a expresso das emoes.
12
O aparelho gastrointestinal pode ser amplamente afectado em termos de gastrite,
pancreatite, dificuldade de absoro intestinal de algumas substncias importantes ao
organismo, cancro da boca, esfago, estmago, intestino e clon.
As enzimas hepticas podem subir em funo da ingesto alcolica, pois cerca de
90% deste metabolizado atravs do fgado.
Em suma, relativamente a um consumo crnico, a nvel fsico, os rgos vitais
sero prejudicados a longo prazo: degradao e atrofia do crebro, cancro, debilidade do
sistema imunitrio e do pncreas, anemia, lceras, cirrose heptica, entre outros. Ao
nvel psicolgico e neurolgico poder verificar-se a insnia, irritabilidade, psicose, mania
da perseguio, entre outros.
2.5. O lcool no contexto social
Os primatas j dominavam o processo de fermentao das frutas. Mais tarde,
seguindo-se revoluo neoltica, verifica-se nas diferentes culturas um avano
sistemtico na produo das matrias-primas e tecnolgico no processo de fermentao
das mesmas.
O consumo de lcool est presente desde muito cedo na histria da humanidade.
H registos de trs mil anos antes de Cristo que fazem aluso a este tema; ou peas
encontradas da mesma altura que indicam que as mulheres em fase de amamentao
eram induzidas a beber cerveja; na Babilnia, o rei amparava os que bebiam lcool; os
egpcios adoravam deuses como forma de agradecimento pela ddiva da cevada, pois
possuam destilarias h muito tempo; os gregos ofereciam bebidas alcolicas a deuses e
soldados; os romanos reconheciam a Baco, deus do vinho, a graa do vinho divino e
contriburam em muito para a regulao da produo de vinho e respectiva difuso pela
Europa.
Ao nvel religioso existiu desde sempre um papel importantssimo para o vinho: na
bblia, por exemplo, encontram-se muitas referncias ao lcool, entre outras religies,
excepo de religies como o Islamismo que probe o seu consumo.
A partir do sculo XII, foram os cristos mediterrnicos que comandaram o
desenvolvimento industrial da produo. Depois de esta tcnica estar bem desenvolvida,
no sculo XIV, que ter sido implantada pelo resto da Europa
13
Durante a Idade Mdia, esta substncia esteve associada ao bem-estar e sade,
mais conhecida por vitae. A partir do sculo XVI adoptada a terminologia de lcool, com
origem na palavra grega alkuhl.
A bebida alcolica revelou-se um produto extremamente importante na altura das
colnias, em que era utilizada nas trocas entre colonizadores e colonos e os
comerciantes recolhiam lucros avultados com o negcio.
No sculo XX, aquando da revoluo industrial expandiu-se este mercado,
aumentou o consumo e, consequentemente, os problemas a este relacionados. desta
situao que decorrem as leis de proibio nos Estados Unidos, nos anos vinte, e as
campanhas de preveno nos anos sessenta, nos pases mais desenvolvidos.
Historicamente, a dependncia do lcool comeou por ser considerada um
pecado, passando mais tarde a ser encarada como uma doena. Posteriormente tem
sido tentada a abertura para um novo enfoque que interprete esta situao como uma
inadaptao comportamental (Gonalves, 2008: 15, referindo Thombs, 1994).
2.5.1. A dependncia do lcool como pecado
A dependncia encarada como um pecado traduz a negao em aceitar alguns
cdigos ticos e morais de conduta. O indivduo que dependesse do consumo de lcool
s o faria porque atravs das suas capacidades de livre arbtrio assim decidira, criando
sofrimento a si prprio, aos outros e sociedade em geral, pelo que deveria ser
responsabilizado. De acordo com este pensamento, o alcolatra no devia ser auxiliado
ou tratado, pelo contrrio, deveria ser punido atravs de sanes legais, por forma a
corrigir o comportamento e prevenir o futuro. A recada era interpretada como a maior
prova de que a dependncia um pecado, de forma que se revelava necessrio corrigir o
deslize.
Como a dependncia era vista como produto de mau comportamento, o qual
deveria ser punido e corrigido, era desnecessria a investigao sobre a natureza do
problemas e respectiva procura de solues.
A sociedade actual reflecte um declnio moral e os actuais mtodos relativos
dependncia evidenciam-se inadequados e ineficazes do ponto de vista dos defensores
do modelo tpico de adio como pecado, pelo que bradam pelo regresso da famlia e
dos valores tradicionais para minimizar o problema.
14
2.5.2. A dependncia do lcool como doena
Do ponto de vista da dependncia do lcool como doena, o consumo excessivo
estar dependente de uma doena cuja origem no estar ainda inteiramente percebida,
que levar ao uso compulsivo da substncia alcolica. Alguns adeptos deste
entendimento defendem que a base deste processo gentica, logo, se no houver
predisposio gentica a dependncia no evoluir independentemente da quantidade
ingerida.
Nesta lgica, o doente no ter qualquer responsabilidade no acto de consumir
excessivamente, uma vez que perde o controlo sobre si mesmo, causa da dita doena.
Assim, a lgica desta perspectiva a de que os indivduos precisam de ajuda social,
cuidados mdicos e tratamentos especializados. Este apoio baseia-se objectivamente em
controlar as doenas causadas pela dependncia e educar o doente sobre as mesmas e
respectiva recuperao.
Na sociedade contempornea esta doena definida distintamente por diferentes
grupos. H quem veja o campo da medicina com o intuito de chamar utentes para os
seus servios; no que diz respeito aos agentes ligados directa ou indirectamente ao
comrcio das bebidas alcolicas, estes defendem a perspectiva de doena identificando
o problema nos indivduos e no no lcool, para que sociedade e governo imponham
restries ou entraves indstria desta substncia; por outro lado, o grupo composto
pelos indivduos em recuperao e respectiva famlia opta por esta perspectiva como
forma de minimizar o seu grau de culpa e vergonha, como meio de ser mais respeitado
em detrimento da rotulao de sofrer de problemas morais.
Nesta perspectiva podemos identificar algumas vantagens: deixa de haver um
julgamento moral e os indivduos so ajudados, cuidados e tratados, h um enfoque de
grande dimenso em direccionar os indivduos para o interesse pelo trabalho como forma
necessria de se manterem livres da dependncia e assim, a sociedade est mais
preparada e disponvel para desenvolver recursos com vista a auxiliar os doentes do que
se fossem encarados como detentores de uma fraqueza moral.
15
2.5.3. A dependncia do lcool como comportamento inadaptado
O entendimento de que a dependncia do lcool aprendida conduz ideia de que
esta se justifica por uma desordem comportamental que est claramente sobre o controlo
do contexto ambiental, familiar, social e composies cognitivas. Assim, nesta
perspectiva, o indivduo fruto de determinadas condies de aprendizagem disruptiva;
esta situao de dependncia no resultado de uma opo deliberada livremente e sim
de um conjunto de contextos envolventes de aco que provocam comportamentos
destrutivos.
Nesta abordagem comportamentalista, o tratamento passa por proporcionar ao
indivduo novos processos de aprendizagem com o objectivo de desenvolver nele
competncias eficazes na preveno da iniciao ou da recada. O recurso a tratamento
mdico pode ser feito mas s em ltimo recurso e como medida complementar, pois o
fundamento da interveno meramente comportamental.
O aumento da procura desta interveno poder conduzir as cincias do
comportamento ao investimento na descoberta e implementao de novas metodologias
de abordagem a este fenmeno.
2.6. Portugal no contexto europeu do consumo de lcool
Portugal um dos pases em que o consumo de bebidas alcolicas mais elevado.
Em 1994, comparando os pases da Unio Europeia em termos de consumo
semanal de lcool, a Itlia surgia no topo com maior prevalncia do lcool no grupo etrio
dos 11 aos 15 anos. Portugal assegurava o 4 lugar, mas no ano seguinte passou para 3
lugar respeitante ao conjunto da populao consumidora, com um consumo de 11 litros, e
relativo ao consumo mdio de vinho, com 58,4 litros ao ano por pessoa (Arago &
Sacadura, 2002).
Em 1997, Portugal passou para a liderana ao nvel europeu e mundial para o
consumo de lcool com 11,3 litros e para o consumo de vinho com 61 litros. Apesar que,
em 2000, a Produo Industrial do Comrcio atribuu o terceiro lugar a Portugal,
antecedido da Romnia e do Luxemburgo.
Os resultados do Inqurito Nacional de Sade realizado em 1998/99 revelaram que
em Portugal o consumo era maior no sexo masculino e na faixa etria entre os 35 e os 44
anos (Dias, Vieira, & Neto, 2003). Comparando com os dados do mesmo estudo
16
efectuado trs anos antes, houve uma diminuio em todas as regies do pas,
exceptuando a regio do Alentejo, e nos dois gneros. Houve ainda a reduo de
bebidas vitcolas e aumento no consumo de cerveja, passando esta bebida a ser a mais
consumida no nosso pas, com 63,5 litros per capita ao ano (Matias, 2007).
2.7. Quadro legal portugus no domnio do lcool
Sendo Portugal um dos pases que apresenta maior nmero de consumidores de
bebidas alcolicas, este problema conduziu, em 1997, formao da Comisso de
Combate ao Alcoolismo.
Quando a Organizao Mundial de Sade (OMS) Europa convidou Portugal a
integrar o Collaborative Study on Community Response to Alcohol releted problems,
surgiu a primeira investigao sobre o assunto, a qual conduziu produo de legislao
sobre o mesmo (Mello, Barrias, & Breda, 2001).
De acordo com a mesma fonte, o Plano de Aco Contra o Alcoolismo surgiu em
Portugal como primeira legislao estruturada que abrange o consumo, venda e
interveno nos problemas ligados ao lcool. Este tem por base a proposta de uma
comisso interministerial criada pela Resoluo do Conselho de Ministros n40/1999 de
8/5, a qual adoptou como referncia o 1 Plano Europeu sobre o lcool de 1992/1999 e o
Plano aprovado posteriormente em Florena, em 1999, pela 49 Assembleia Regional da
OMS Europa, para o perodo de 2000/2005.
O Plano de Aco Contra o Alcoolismo foi aprovado pela Resoluo do Conselho
de Ministros n166/2000 de 29 de Novembro e abrange vrias vertentes de interveno,
entre as quais a promoo e educao para a sade, a regulamentao e fiscalizao de
combate ao consumo inconveniente ou em excesso do lcool e a vertente clnica e de
investigao.
O Decreto-Lei n 9/2002 de 24 de Janeiro estabelece num dos seus artigos a
proibio de venda de bebidas alcolicas e colocao disposio em estabelecimentos
pblicos ou abertos ao pblico, a indivduos menores de 16 anos, a quem se aparente
embriagado ou portador de alguma anomalia psquica; igualmente proibida a venda ou
disponibilizao de bebidas alcolicas em mquinas automticas e estabelecimentos de
sade, em estabelecimentos de ensino e em servios da administrao central e local;
por outro lado, estas indicaes devem estar expostas em qualquer estabelecimento ou
local de venda ou acesso das mesmas.
17
2.8. Critrios de diagnstico da dependncia do lcool
Existem determinados critrios que auxiliam os profissionais competentes no
diagnstico da dependncia alcolica, os quais so apresentados de seguida, com
base em Cruz (2008).
2.8.1. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, da American
Psychiatric Association (DSM-IV)
A dependncia um padro mal adaptativo do uso do lcool provocando um
prejuzo significativo ou sofrimento, manifestado por trs ou mais dos seguintes critrios,
ocorrendo a qualquer momento no mesmo perodo de 12 meses:
Tolerncia definida por qualquer um dos seguintes aspectos:
1) Necessidade de substncia em quantidades progressivamente maiores;
2) Acentuada reduo do efeito com a ingesto das mesmas quantidades de
substncia;
Abstinncia
1) Abstinncia substncia;
2) Uso para aliviar ou impedir sintomas de abstinncia;
A mesma substncia frequentemente consumida em quantidade ou por um
perodo maior do que o pretendido;
Existe um desejo persistente ou esforos mal sucedidos no sentido de reduzir ou
controlar o uso da substncia;
Muito tempo despendido em actividades necessrias obteno da substncia;
Importantes actividades sociais, ocupacionais ou recreativas so abandonadas ou
reduzidas em funo do uso da substncia;
O uso da substncia continua apesar da conscincia de ter um problema fsico ou
psicolgico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela
substncia.
18
2.8.2. Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas
Relacionados Sade Dcima Reviso (CID-10)
O diagnstico indicador de envolvimento alcolico definido com recurso a critrios
e directrizes diagnsticas de intoxicao aguda, uso nocivo e sndrome de dependncia.
A intoxicao aguda uma condio transitria em que a ingesto de lcool
resulta em perturbaes ao nvel de conscincia, cognio, percepo, afecto ou
comportamento. Estes sintomas diminuem de intensidade com o tempo e cessam se no
se verificar consumo posterior (Fabbri, 2002).
O uso nocivo designa-se como sendo um padro de consumo causador de danos
para a sade.
A sndrome de dependncia , de acordo com o mesmo autor (Fabbri, 2002), um
conjunto de fenmenos fisiolgicos, comportamentais e cognitivos, em que o consumo
do lcool se impe de tal forma importante em detrimento de outros comportamentos que
antes eram mais relevantes.
De seguida apresentamos os critrios da CID-10:
1) Forte desejo ou senso de compulso para consumir a substncia;
2) Dificuldade em controlar o comportamento de consumir a substncia, em
termos de incio, trmino e nveis de consumo;
3) Estado de abstinncia fisiolgico, quando o uso da substncia cessou ou foi
reduzida, como evidenciado por sndrome de abstinncia caracterstica para
a substncia, ou o uso da mesma substncia com a inteno de aliviar ou
evitar sintomas de abstinncia;
4) Evidncia de tolerncia, de tal forma que doses crescentes da substncia
psicoactiva so requeridas para alcanar efeitos originalmente produzidos
por doses mais baixas;
5) Abandono progressivo de prazeres e interesses alternativos em favor do uso
da substncia psicoactiva, aumento da quantidade de tempo necessria
para obter ou ingerir a substncia ou para se recuperar dos efeitos;
6) Persistncia no uso da substncia, a despeito de evidncia clara de
consequncias manifestamente nocivas, tais como: dano no fgado, por
consumo excessivo de bebidas alcolicas, estados de humor depressivos
consequentes a perodos de consumo excessivo da substncia, ou
comprometimento do funcionamento cognitivo, relacionado droga. Nesse
19
caso, deve-se fazer esforo para determinar se o consumidor estava
realmente consciente da natureza e extenso do dano.
2.9. O lcool e o consumo precoce
Os dados do Ministre de L'ducation National de L'Enseignement Supreur et de
la Recherch (MENESR, 2006) indicam que na Unio Europeia, por volta dos 12 anos j
70% dos rapazes e 63% das raparigas vivenciaram experincias com o lcool. Os
respectivos valores sofrem uma evoluo no sentido de atingir os 90% aos 16 anos.
Em Portugal, num estudo registado no concelho de Matosinhos e referido por
Arago & Sacadura (2002) conclui-se que, entre 1994 e 1996, a idade mdia de iniciao
ao consumo ronda os 13,1 anos; por outro lado, entre jovens ao nvel do 3ciclo e
secundrio 47% j consumira lcool. Dos factores que favorecem o consumo destaca-se
o grupo de amigos (39,6%) e o seio familiar (25,6%). Entre os jovens no incio do ensino
secundrio, 79,1% j tinham consumido lcool pelo menos uma vez na vida e o sexo
masculino assume uma prevalncia mais elevada ao longo da vida (80,2%).
Os dados do inqurito do European School Surverey Project Alcohol and Drugs
(ESPAD) obtidos em 1999 e publicados pelo Instituto Portugus da Droga e da
Toxicodependncia indicam que 3% dos jovens inquiridos confessam ter episdios de
embriaguez 20 vezes ou mais ao longo da vida enquanto 4% revelam que estes
episdios se repetiram trs ou mais vezes nos ltimos trinta dias.
Relativamente idade mdia de iniciao ao consumo de bebidas alcolicas como
a cerveja, o vinho e bebidas espirituosas, constata-se no mesmo inqurito que se situa na
faixa dos 13 anos.
Visto que a formao do crebro humano s acaba por volta dos 21 anos de idade,
a exposio ao lcool antes desse processo terminado pode conduzir a alteraes
irreversveis que interfiram no desenvolvimento intelectual e na predisposio a
desenvolver dependncia (Tapert, Ph.D., Caldwell, & Burke). Esta situao demasiado
preocupante tendo em considerao todos os dados anteriormente apresentados.
O ser humano dotado de um mecanismo cerebral designado como sistema de
recompensa, o qual formado por circuitos neurais que integram estruturas especficas
do crebro, sendo estas comandadas por neurotransmissores como a dopamina. A
funo deste sistema o reconhecimento de estmulos prazerosos para o indivduo,
provocando a sensao de prazer e armazenando essa memria no crebro. O
20
desenvolvimento deste sistema decorre de forma natural desde o nascimento idade
adulta e, quando o processo no est acabado, estmulos externos podem condicionar a
forma como o mesmo ir formar-se. Assim, quando a criana ou adolescente, em fase de
desenvolvimento do crebro, faz ingesto de lcool, a substncia chega ao sistema
nervoso central (SNC), actua no sistema de recompensa referido anteriormente e
provoca alteraes no seu funcionamento, tornando-o mais sensvel a situaes
prazerosas.
Quanto mais lcool o jovem consumir, mais alteraes ocorrem na produo de
neurotransmissores, nas conexes neurais e na sensibilizao do sistema. Chegando
idade adulta, tendo o crebro sido formado com a necessidade de receber a substncia
qumica que o lcool, poder precisar mais tarde de estmulos muito maiores, quando
comparado com outros indivduos, para ser capaz de sentir prazer, o que conduzir
tristeza, desmotivao e desinteresse.
Assim sendo, um indivduo que entra em contacto com o lcool apenas na idade
adulta v o risco de dependncia muito mais reduzido, uma vez que a formao do
crebro j se efectuou e o sistema de recompensa no est to sensibilizado. Em
contrapartida, uma criana ou adolescente em contacto com o lcool aumenta
consideravelmente o risco de desenvolver dependncia da substncia.
2.10. O lcool e os factores de risco
A designao de factores de risco refere-se ao conjunto de causas responsveis
pela iniciao ao consumo do lcool, substncia central deste trabalho entre outras
possveis, mas tem vindo a ser substituda por outros termos como factores de
vulnerabilidade, factores de susceptibilidade, predictores ou indicadores de risco.
Os factores de risco determinam o risco e a proteco, ambos presentes na
sociedade, escola, famlia e indivduo.
2.10.1. Factores de risco individuais
As marcas determinantes da adolescncia, um perodo do desenvolvimento
humano que comea cronologicamente entre o fim da infncia e o incio da puberdade e
finda com o comeo da juventude, resumem-se a alteraes fsicas, psicolgicas,
21
cognitivas, sociais e culturais. Esta fase crucial na construo e formao da
personalidade, com reflexos na imagem de si mesmo, na credibilidade perante os outros
e nas experincias vivenciadas. De igual forma se revela um perodo frgil na vida do
indivduo no sentido em que fica exposto a todos os factores circundantes que
futuramente iro influenciar positiva ou negativamente todos os seus comportamentos.
Quanto maiores forem os factores de risco maior a probabilidade do adolescente
se envolver em problemas comportamentais.
Em contrapartida, h que considerar os factores de proteco: actividades em
famlia, religiosas, desportivas ou culturais podem abrir o caminho para que os
adolescentes se tornem mais resilientes e com maior capacidade para resistir e enfrentar
as influncias adversas (Reininger, 2003).
Garmezy concebe a resilincia como a capacidade de recuperar o padro de
funcionamento aps experienciar uma situao adversa, sem que, no entanto, deixe de
ser atingido por ela. Esta concepo est associada ideia de que a pessoa resiliente,
mesmo vivendo uma situao de ameaa ao seu bem-estar, pode perder as foras mas
recuperar-se de novo (Silva, 2007).
A dependncia um problema do ser, isto , devemos analisar as causas nas
necessidades de gerar uma iluso de bem-estar em que se entra nela por aco do
lcool.
As pesquisas apontam que indivduos com parentes em primeiro grau portadores
de alcoolismo esto trs a quatro vezes mais propensas a desenvolver alcoolismo; em
geral, aqueles que possuam alteraes ligadas ao alcoolismo e com historial familiar com
as mesmas alteraes tm ndices superiores de consumo alcolico; no caso de gmeos,
os monozigticos mostram ndice maior de predisposio para o alcoolismo quando
comparados com os dizigticos; indivduos cujos pais biolgicos no tenham quaisquer
problemas de alcoolismo e sejam criados por outras pessoas com esses transtornos, no
apresentam risco aumentado de entrar no alcoolismo; em contrapartida, indivduos cujos
pais sofram de perturbaes do alcoolismo, mesmo que sejam criados por figuras
parentais isentas desses problemas, continuam em risco de desenvolver perturbaes
relacionadas com o lcool.
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2.10.2. Factores de risco scio ambientais
Estes factores referem-se a estruturas de organizao e funcionamento colectivos,
tais como a famlia, o grupo de pares ou o pequeno e grande grupo de amigos, as
actividades escolares, os contextos comunitrios na ocupao dos tempos livres, o
contexto social e econmico, a publicidade, os meios de comunicao, o contexto jurdico
e normativo (Rodrigues, 2006).
A famlia um importante suporte na formao do ser, mas na actualidade
deparamo-nos com uma crise profunda desta instituio insubstituvel, em termos de
valores e orientao, em que todos se demitem das suas responsabilidades na educao
e crescimento do ser. Quando um ambiente familiar se caracteriza por discusses
constantes, dificuldades econmicas, desemprego, divrcio, ausncia de dilogo entre
pais e filhos, violncia, permissividade ou inflexibilidade, o ser muito facilmente
conduzido para o consumo do lcool. Por outro lado, se no seio familiar houver a
capacidade e o discernimento de resolver os conflitos e qualquer problema atravs da
comunicao, colaborao e respeito, o indivduo em desenvolvimento vai adquirir
competncias sociais e de gesto das relaes que o munem para que futuramente
resolva os prprios problemas, baseado nos mesmos pressupostos.
Logo a seguir famlia, o par ou o grupo servem de modelo para o prprio
comportamento e desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e equilbrio
emocional e adaptativo. Sendo assim, experincias negativas dentro do grupo como a
excluso, rejeio, frustrao e desiluso, nesta fase sensvel que a adolescncia pode
traduzir-se na vulnerabilidade perante perigos como o lcool e na imaturidade de
enfrentar as adversidades.
Na cidade, devido sua organizao habitacional dirigida para a massificao, os
indivduos crescem sem identidade e sem saber ser. um espao propcio a estados
disruptivos como a solido, falta de laos afectivos, ausncia de personalidade, entre
outros.
A sociedade actual abafa a construo do ser antes direccionado para as relaes
responsveis e com respeito, apresentando uma imperatividade exacerbada de
competio, individualismo e materialismo, cultivando o isolamento.
A moda e a publicidade so formas de conduzir o indivduo numa busca incessante
pela afirmao e imposio aos outros, definindo os estilos de vida, inferiorizando o ser
atravs da nfase dada ao parecer.
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2.11. Abordagens explicativas das causas da iniciao aditiva do lcool
A Psicologia partilha seis modelos tericos para facultar uma compreenso
psicopatolgica do processo de iniciao da adio, os quais sero sinteticamente
abordados de seguida.
2.11.1. Abordagem cognitivo-comportamental
Esta teoria tem como base a aprendizagem e o estudo do processamento da
informao no crebro em que os domnios comportamental, cognitivo e emocional so
condicionados.
Pavlov desenvolveu o princpio do condicionamento correspondente, atravs do
qual um estmulo cria uma resposta, logo um estmulo condicionado induz a uma
resposta condicionada.
Skinner produziu o conceito de condicionamento respondente instrumental,
fundamentado pela ideia de que os comportamentos so reforados pelas respectivas
consequncias. Neste processo existe o reforo negativo, atravs do qual a repetio do
comportamento inibida, e com resultado oposto o reforo positivo, que induz repetio
do acto.
Bandura elaborou a teoria da aprendizagem social, cuja base a antecipao, ou
seja, antes da execuo do comportamento h um raciocnio que, de acordo com a
conscincia do indivduo, permite que a execuo no decorra de forma mecnica. A
adaptao do indivduo a estmulos efectua-se ou no atravs dos processos de
conscincia emergentes da sociedade.
As teorias cognitivas indicam que a relao entre o comportamento e o crebro
gera determinada informao que tratada e armazenada para ser reutilizada sempre
que necessrio.
2.11.2. Abordagem biopsicossocial
Nesta perspectiva, a adio o reflexo dos problemas do indivduo, tais como o
desemprego, divrcio, stress, cansao, isolamento, entre outros. Embora o lcool faa
no lembrar dos problemas acabar tambm por minimizar a auto-estima. Na lgica
24
desta abordagem, os agentes responsveis pela adio so os erros da sociedade, o
egosmo e o individualismo.
Os factores de proteco contra a adio so o desenvolvimento de aces sociais
favorveis auto-estima, ao autocontrolo, por aco de factores de personalidade,
cognitivos, sociais e culturais.
2.11.3. Abordagem psicobiolgica
Quando as sensaes no so estimuladas, o indivduo vai procurar substncias ou
comportamentos que sejam capazes de ampliar essa actividade neurobiolgica. Ou seja,
a estimulao cortical conduz necessidade de sensaes.
2.11.4. Teoria da inverso psicolgica
Michael Apter fundou a teoria baseada na ideia de pares de estados psicolgicos
opostos que determinam a interpretao que o indivduo d sua vida. Por exemplo, se
um indivduo se encontrar num contexto de estimulao e estiver receptivo procura de
activao ficar eufrico, por outro lado, se estiver num estado desfavorvel de
evitamento da activao acabar por se tornar ansioso (Richard & Senon, 2005). A
adio pode surgir a partir dos estados de activao.
2.11.5. Modelo de gesto hedonista
Esta doutrina, desenvolvida por Iain Brown, obedece ao princpio do prazer. Neste
sentido, a adio um fenmeno ligado a motivaes, expectativas e valores definidos
pela prpria aprendizagem social cognitiva. Em determinadas circunstncias, a gesto
entre os estados psicolgicos e os nveis de activao aprendida durante a infncia pode
originar necessidades secundrias artificiais, a adio.
A adio inicia-se com a fase da descoberta, podendo seguidamente evoluir e
prolongar-se atravs de fortes condicionamentos como hbitos, rotinas e distores
cognitivas. Nesta lgica sempre possvel a recuperao atravs de uma nova
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distribuio de actividades. No entanto, devido diminuio do estado de vigilncia,
haver o risco da recada, sendo necessrio ento um controlo permanente.
2.11.6. Modelo do sistema de aces
Neste modelo, proposto por Eric Loonis, as tarefas da vida quotidiana, as aces,
assumem duas funes distintas: adaptar-se s vivncias reais e adaptar-se a si prprio.
Neste pressuposto, a adio tem duas faces: adies da vida quotidiana e adies
patolgicas (Richard & Senon, 2005). Na primeira face temos um conjunto de aces
equilibrado com pouco investimento, uma diversidade de aces disponveis e enorme
facilidade de substituio. Na face oposta temos as actividades compulsivas com um
forte investimento na adio, falta de diversidade de aces e dificuldade na substituio
das mesmas.
O sistema de aces dos contextos pessoais, sociais e culturais so herana do
sistema de aces formado no perodo da infncia.
A forma frgil como o indivduo possa desenvolver o seu sistema de aces ou a
sua desorganizao, conduzi-lo- a condies cerebrais que determinam o sofrimento
intrnseco como os estados depressivos, reduo da auto-estima e aumento da
necessidade de segurana.
2.12. Preveno para os efeitos da adio do lcool
A preveno corresponde a um conjunto de estratgias que se conectam em
programas com o objectivo de impedir a evoluo de comportamentos considerados pela
sociedade como perturbadores ou de risco (Gonalves, 2008, fazendo aluso a Richard &
Senon).
Na sociedade actual, a preveno j no se confina ao conjunto de variantes a
evitar, engloba sim o trabalho conjunto de uma equipa multidisciplinar no sentido de
envolver uma variedade de saberes na procura das melhores solues. A famlia, o
consumidor, o psiclogo, o professor, o mdico, so todos agentes de extrema
responsabilidade em direco preveno de comportamentos a evitar e promoo da
sade estimulando todas as potencialidades biolgicas, psicolgicas e sociais do
indivduo consumidor.
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De acordo com a mesma referncia (Gonalves, 2008), a OMS codificou as
estratgias de preveno em trs nveis: a preveno primria, secundria e terciria.
A preveno primria refere-se populao na sua totalidade e estava inicialmente
pensada como forma de impedir o incio de uma patologia que conduzisse a um
comportamento de risco, atravs de vacinao e informao. Actualmente engloba o
problema de forma mais abrangente, promovendo atitudes activas a favor da sade,
prevenindo a evoluo de um consumo espordico para o consumo exagerado e, de
forma mais alargada, prevenir as consequncias desse exagero atravs da aplicao de
polticas de reduo de riscos.
A preveno secundria pretendia simplesmente impor aos consumidores que se
abstivessem antes de entrar na dependncia. Hoje em dia, pauta a sua ateno para os
grupos em risco e tenta operacionalizar objectivos com apoio das equipas de preveno,
equipas de bairro e grupos de acolhimento, entre outros. Visa ainda o fornecimento de
informao aos indivduos em risco para que compreendam melhor o seu problema e
conheam formas de evitar complicaes do mesmo.
A preveno terciria tem como desgnio a preveno de recadas dos indivduos
que j estejam socialmente reintegrados, adoptando medidas de apoio social, econmico
e domicilirio, entre outros. Neste pressuposto recorre-se a um clculo do risco
envolvendo o grau de exposio, a vulnerabilidade em aspectos genticos e psicolgicos,
e as propriedades farmacolgicas do produto (quantidade ingerida, durao e modos de
consumo). Por exemplo, quanto maior o grau de exposio menor vulnerabilidade ser
necessria para que o risco se mantenha num grau elevado.
A preveno organizada e baseada nestes trs agentes resulta na diminuio do
risco, visto que age sobre as propriedades farmacolgicas da substncia, manipula a
exposio ao produto e actua sobre a vulnerabilidade.
2.12.1. Modelos de preveno do comportamento aditivo no domnio do
lcool
O objectivo deste conjunto de mtodos, tcnicas, agentes e teorias produzir
impacto na interveno preventiva atravs do fornecimento ao indivduo de competncias
para a aco, de forma a desenvolver atitudes mais desfavorveis perante a substncia
aditiva que o lcool. O objectivo especfico ideal a atingir seria a diminuio do
consumo at eliminao total da dependncia.
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2.12.1.1. Modelo proscritivo
Este modelo dedica-se principalmente preveno do lcool, adoptando
estratgias de interveno focadas no provimento de informao sobre esta substncia e
respectivos efeitos nocivos, completando esta educao com uma fundamentao tico-
moral, pois o consumo do lcool moralmente condenado.
2.12.1.2. Modelo sociocultural
O foco deste modelo a aco do lcool. A fonte do problema deixa de se centrar
no indivduo e passa para a sociedade, ou seja, o problema do lcool no mais do que
o impacto negativo de aspectos sociais e culturais especficos.
Seguindo este pressuposto, necessrio estipular a distino entre bebida
socialmente aceitvel e socialmente inaceitvel, a partir da qual se parte para a
estruturao social de normas que ditam conceitos como bebida excessiva e moderada,
procedida da adopo de comportamentos de responsabilidade relativos bebida e
alteraes atitudinais perante o lcool.
2.12.1.3. Modelo de comportamento interpessoal (MCI)
Este modelo preconiza fortemente o impacto das vrias influncias sociais e
ambientais na iniciao ao consumo de lcool, tais como a presso do grupo de pares,
amigos e a vulnerabilidade do indivduo a essa presso. Assim, a preveno assenta na
combinao de abordagens focadas no desenvolvimento de competncias sociais
especficas e gerais, orientadas para a aprendizagem de competncias de funcionamento
interpessoal adequadas, recorrendo a tcnicas que combatam e alterem os
comportamentos inadequados. Neste sentido, se as competncias podem ser aprendidas
podem igualmente ser ensinadas aos indivduos que no as possuam (Stacy et al., 2005).
De acordo com este modelo, h um conjunto de variantes a contemplar na
interveno para a preveno: facultar informao sobre o lcool, preconizar aces que
impliquem tomadas de deciso, tcnicas para reduzir a ansiedade, treinar as
competncias sociais, reforar a auto-imagem e apresentar tcnicas de resistncia
presso social para consumir lcool.
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2.12.1.4. Modelo scio afectivo
As influncias socioculturais, os processos interpessoais e as caractersticas
individuais so factores que este modelo considera capazes de contribuir para a
ocorrncia de qualquer predisposio scia afectiva para recorrer ao lcool.
Dependendo da origem positiva ou negativa desta predisposio, revelar-se- um
conjunto de atitudes e comportamentos mais ou menos favorvel ao lcool.
2.12.1.5. Modelo de inoculao
As estratgias preventivas deste modelo baseiam-se nas dimenses psicolgica,
social e cognitiva, em que objectiva por assegurar condies de tornar as atitudes mais
resistentes a exposies apelativas, potenciar os indivduos com maior resistncia a
influncias sociais e munir cada indivduo de capacidades, conhecimentos e atitudes
crticas para que se torne capaz de contrariar as invocaes psicolgicas e sociais para o
consumo do lcool.
2.12.1.6. Modelo humanista: educao e valores
A abordagem humanista de preveno estrutura-se em trs dimenses distintas
mas interligadas: transmisso de informao, postulando a compreenso profunda do
lcool e respectivo consumo, sem esquecer uma avaliao das consequncias para si
mesmo e para a sociedade; aquisio de competncias de tomada de deciso, tomando
conscincia das diferentes fases inerentes tomada de deciso e permitindo que a
informao oriente o indivduo na sua deciso; clarificao de valores, direccionando
consciencializao da importncia dos mesmo, da sua organizao, da diferena de
valores defendidos pelos outros e compreenso de que entre valores e comportamento
existe uma discrepncia.
2.12.1.7. Modelo biopsicossocial
Este modelo defende que entre o lcool e a dependncia do mesmo existe um
vasto conjunto de influncias biolgicas, variveis inerentes ao desenvolvimento
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psicolgico do indivduo, determinantes interpessoais, variveis comunitrias e factores
sociais.
A abordagem a este fenmeno , de acordo com este ideal, fortemente estruturada
e complexa porque envolve uma multidisciplinaridade de cincias e conhecimentos e
interage com sistemas de sade, educao, trabalho, segurana e sociais. Esta
interactividade imperativa no trabalho dirigido para o desenvolvimento psicolgico,
ambiente interpessoal e interaco social, no esquecendo a relevncia das restantes
influncias.
2.12.1.8. Modelo das alternativas ao consumo de lcool
Se forem apresentadas alternativas ao consumo do lcool, o mais provvel que o
indivduo no v recorrer a esta substncia excessivamente.
Sakara e Sussman (2003: 462) indicam que esta abordagem preventiva pressupe
que o consumo de lcool satisfaz determinadas necessidades sociais ou psicolgicas e
de vivenciar novos estados de conscincia; constitui um meio do indivduo se sentir
melhor; apesar da sensao de sentir-se melhor o lcool provoca efeitos fisiolgicos,
psicolgicos e cognitivos nocivos; o indivduo s abandonar o consumo de lcool se
encontrar algo melhor; ao envolver o indivduo em actividades alternativas (actividades
desportivas, culturais, polticas, sociais, religiosas, de distraco e lazer, de aventuras e
camaradagem) este satisfar as suas necessidades e diminuir a tendncia para recorrer
ao lcool.
2.12.1.9. Modelo da comunicao-persuaso (MCP)
Este modelo tenta analisar de que forma as componentes da comunicao (varivel
independente) influenciam o comportamento (varivel dependente). Neste sentido, a
mensagem ser eficaz e conduzir mudana de atitude de acordo com a forma como
apresentada ao indivduo ou grupo. Depois da apresentao da mensagem, o indivduo
precisa prestar ateno ao contedo e compreend-lo. No entanto, para que se verifique
uma mudana de atitude sero necessrias mais trs etapas, entre elas, a adeso ao
contedo, a reteno do mesmo e o novo comportamento concretizado.
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2.13. O papel do professor no contexto do lcool
Na sociedade actual, os professores so encarados como profissionais
empenhados na defesa do profissionalismo docente. Este passa a ser a mgica com a
qual se resolver todos os problemas sociais (famlia, valores, conflitos e adio). Para
que tal suceda os professores necessitam de novos direitos e oportunidades de deciso
sobre o que mais conveniente para os alunos como actores na construo do palco que
a sociedade (Sousa, 2000; Correia & Matos, 2001).
Os programas educativos a colocar em prtica pelos professores tm como suporte
normativo e operativo as orientaes curriculares e os manuais escolares. Os suportes
legais e materiais devem facilitar o desenvolvimento de todos os actos educativos,
incluindo o consumo de lcool. Estes instrumentos de aco devero permitir que o
professor se sinta realizado e conquiste o patamar do bom professor, eficaz e
profissional.
O professor actual necessita ser dotado de um conjunto de conhecimento