Post on 18-Apr-2015
Teoria / Poética da imagemimagens e as visões
Imagens, imagem
• A imagem tem inúmeras atualizações potenciais (sentidos/intelecto).
• A leitura pode produzir “imagens”.• Quando pensamos, imaginamos coisas (imagens
mentais).
• Trataremos apenas das imagens visuais (aquelas que possuem uma forma visível).
• As imagens visuais são apenas uma modalidade particular das imagens em geral.
Imagens, imagem
• Há elementos comuns a todas as imagens visuais, independente das diferenças de natureza, de forma, de uso, de produção.
• Além de cada vez mais diversificadas, as imagens visuais são também intercambiáveis (intertextualizáveis).
• É praticamente impossível estudar um tipo de imagem visual sem fazer referência a outros (cruzamentos, citações, trocas, passagens).
Percepção visual
• A percepção visual é um dos modos de relação entre o homem e o mundo que o cerca.
• Esse campo tem sido estudado pelo menos desde 300 aC (Euclides, pai da óptica), passando por artistas, teóricos, físicos e filósofos de todos os tempos.
• A visão é um processo que mobiliza operações ópticas, químicas e nervosas, sem falar de parâmetros psicológicos, sociológicos, ideológicos, etc.
Percepção visual
• O olho humano está equipado para ver a luminosidade, a cor e as bordas dos objetos.
• Nossos olhos estão em constante movimento (movimento irregular, de perseguição, de compensação, de deriva).
• A percepção não é instantânea: certos estágios são rápidos e outros lentos.
• O olho não percebe as distâncias e a idéia de espaço está vinculada ao corpo e ao seu deslocamento.
Percepção visual
• A existência de elementos invariáveis (tamanho dos objetos, formas, localização, orientações, superfícies) faz com que tentemos encontrar uma constância perceptiva.
• A estabilidade perceptiva permite que nossa percepção interprete os vazios, os desfoques e outras “falhas”.
• Nossa percepção natural é binocular, mas as imagens visuais são produtos de uma óptica monocular.
Percepção visual
• A atenção visual varia entre a atenção central (aspectos importantes do campo visual) e atenção periférica (fenômenos novos na periferia do campo).
• Olhamos as imagens não de maneira global, mas por fixações sucessivas.
• A imagem requer tempo e exploração (motivada).
Percepção visual
• Quando estamos diante de uma imagem, percebemos ao mesmo simultaneamente:
• É um fragmento de superfície plana (ou não)
• É um fragmento de um espaço tridimensional.
• É a dupla realidade perceptiva das imagens: ao mesmo tempo bi e tridimensional.
Percepção visual
• A percepção da forma depende das bordas visuais e da separação figura/fundo.
• Toda forma é percebida em seu ambiente (ou contexto).
• Por isso, mesmo que a percepção das imagens seja comum a toda espécie humana, ela pode ser mais ou menos aprimorada em certas sociedades.
O espectador
• Além da capacidade perceptiva (comum entre todos os humanos) nossa relação com as imagens visuais é definida pelos:
• Afetos• Crenças• História• Posição social
• Mas existem constantes trans-históricas e interculturais.
O espectador
• A produção, distribuição e recepção de imagens visuais nunca é gratuita.
• Todas as imagens são fabricadas, divulgadas e consumidas para atender a determinados usos, individuais ou coletivos.
• Imagens para informar, para vender, para atrair, para revelar, para elevar...
• A imagem se relaciona com o simbólico e propõe uma mediação entre o espectador e a realidade.
O espectador
• Toda imagem tem um valores diferentes:
• Pode ser um valor de representação, quando ocupa o lugar de coisas concretas.
• Pode ser um valor de símbolo, ao evocar coisas abstratas.
• Pode ser um valor de signo, quando as características do que ela substitiu não estão na imagem.
• A maioria das imagens apresenta mais de um valor.
O espectador
• As imagens têm ainda diversos modos:
• O modo simbólico, como no caso ‘das imagens religiosas, permitindo acesso à esfera do sagrado.
• O modo epistêmico, quando a imagem propõe informações visuais sobre o mundo, como uma prancha de botânica.
• O modo estético, quando a imagem é voltada para oferecer sensações (aisthésis) específicas.
• Muitas imagens operam em vários modos.
O espectador
• A imagem tem como função primeira explicitar nossa relação com o mundo visual.
• Ou seja: a imagem serve, antes de tudo, para ser imagem.
• O espectador é parceiro ativo: constrói e é construído pela imagem.
• Trabalho de reconhecimento (ver nas imagens “a mesma coisa da realidade”) e trabalho de rememoração (ao produzir um saber sobre o real).
O espectador
• Não há olhar fortuito (expectativas / hipóteses / verificação).
• A percepção visual é um processo experimental.
• Regra do etc.: o espectador supre a imagem daquilo que ela não possui.
• O êxtase: a imagem pode colocar o espectador para “fora de si” (ek-stasis).
• A imagem pode iludir, quando encontra condições psicológicas e sociais para tal.
O espectador
• A representação é um processo onde a imagem pretende tomar o lugar daquilo que ela representa.
• A representação permite ao espectador ver por procuração (a vida vicária) uma realidade ausente.
• A representação no tempo (presente, duração, futuro, sincronia, assincronia) varia nas imagens temporalizadas (vídeo, cinema) e nas imagens não-temporalizadas (pintura, fotografia).
O espectador
• A imagem pode produzir dois efeitos diferentes:
• Um efeito de realidade, quando propõe ao espectador uma série de indícios que imitam a percepção natural.
• Um efeito de real, quando o efeito de realidade é tão forte que induz no espectador a sensação de que o que ele vê na imagem existe de fato, ou pôde existir, na realidade.
• É isso que institui a dupla conceitual documentário/ficção e suas variações.
O espectador
• O trabalho de quem vê uma imagem é duplo: de um lado, empregando atividades perceptivas e cognitivas, o espectador compreende a imagem.
• Por outro lado, empregando o saber (ou as modalidade de saber), determina um modo de usar aquela imagem.
• Exemplo: o poder de convicção da imagem fotográfica vem de um saber implícito sobre a gênese dessa imagem (traço automaticamente produzido).
• Exemplo: superposição = conhecimento do dispositivo.
O espectador
• O espectador é um sujeito com afetos, pulsões, emoções que intervem na sua relação com as imagens.
• A imagem “contém” o inconsciente e, inversamente, o inconsciente “contém” a imagem.
• O imaginário (domínio da imaginação) permite a produção de imagens interiores passíveis de serem externadas.
• Toda imagem provoca redes identificadoras do espectador consigo mesmo e com os outros.
O espectador
• As imagens provocam processos emocionais incompletos, já que não permitem a passagem da emoção à ação.
• Não há uma verdadeira comunicação entre espectador e imagem.
• Mas as imagens podem produzir emoções “fortes” (de sobrevivência, estressantes: medo, susto, ansiedade) e emoções “sociais” (tristeza, afeição, desejo).
O espectador
• O espectador apresenta um tipo particular de “instinto”, ou melhor de pulsão.
• Trata-se da pulsão escópica, que aciona a necessidade de ver.
• Essa pulsão compõem-se de um objetivo (ver), uma fonte (o sistema visual) e um objeto (o olhar);
• O olhar é um objeto do desejo.
O espectador
• A pulsão escópica pode gerar um tipo específico de perversão: o voyeurismo.
• Trata-se de uma exacerbação da pulsão escópica.
• Se a imagem é feita para ser olhada, deve proporcionar algum tipo de prazer.
• Não apenas acreditamos na imagem (na realidade representada), mas a imagem produz uma revelação sobre o objeto representado.
O espectador
• A imagem é sempre modelada por estruturas profundas.
• Essas estruturas são ligadas ao exercício de uma linguagem.
• São ainda vinculadas a uma organização simbólica (cultura, sociedade).
• Imagem é um meio de comunicação e de representação do mundo.
O dispositivo
• Há elementos propriamente plásticos nas imagens.
• Esses elementos caracterizam as imagens como formas visuais.
• A superfície da imagem (organização, composição, relações geométricas entre as diversas partes da imagem).
• A gama de valores (maior ou menor luminosidade de cada região da imagem).
• A gama de cores (e suas relações de contraste).• Os elementos gráficos.• A matéria da imagem (pincelada, grão...)
O dispositivo
• Todo dispositivo de imagens regula a distância entre o espectador e os valores plásticos.
• Através do dispositivo, o espectador percebe o que está representado na imagem mas também a forma plástica que é a própria imagem.
• Por exemplo: as principais fontes atuais de imagens (revistas, livros, TV, DVD) fazem parecer que todas as imagens têm dimensões médias e nos levam a privilegiar relações especiais fundadas em distâncias médias.
O dispositivo
• O sucesso de certos dispositivos provém da relação especial que propõem para as imagens.
• Exemplo: o sucesso do cinema é em grande parte devido ao tamanho da imagem projetada.
• Há efeitos de ampliação e redução que transformam o sentido da distância e levam o espectador a se aproximar ou se distanciar psicologicamente da representação.
O dispositivo
• Os dispositivos acentuam a relação entre as molduras concretas e as molduras abstratas.
• Toda imagem tem suporte material porque é, em si, um objeto.
• A moldura-limite é o que interrompe a imagem e define o seu domínio.
• A moldura separa a imagem do que não é imagem, instituindo um dentro e fora do campo visual.
O dispositivo
• As molduras tem funções diferenciadas:
• Funções visuais, ao isolar um pedaço do campo visual, tornando a percepção mais nítida.
• Funções econômicas, ao realçar o valor da mercadoria-imagem.
• Funções simbólicas, ao indicar ao espectador o que deve ser olhado.
• Funções narrativas, ao designar o mundo imaginário que é contado, a diegese.
• Funções retóricas, ao proferir um discurso sobre a própria representação.
O dispositivo
• Os dispositivos permitem que as imagens estabeleçam relações de centramento ou de descentramento.
• Há, numa imagem, vários centros: geométrico, de gravidade visual, de composição, diegéticos.
• Observar uma imagem é analisar e organizar estes diversos centros e relacioná-los ao centro absoluto (o próprio espectador).
O dispositivo
• A noção de enquadramento designa o processo mental e material pelo qual se constitui uma imagem de um determinado campo sob determinado ângulo.
• Enquadrar é estabelecer uma relação entre um olho fictício (autor/câmera) e o conjunto de objetos do campo visual.
• Disso derivam técnicas de superenquandramento (quadro no quadro, janelas, espelhos).
• Nesse sentido, o desenquadramento é um enquadramento desviante.
O dispositivo
• A noção de ponto de vista faz equivaler o olho do produtor da imagem ao olho do espectador da imagem.
• Um local, real ou imaginário, a partir do qual uma imagem é olhada.
• Um modo particular de considerar um problema.• Uma opinião, um sentimento, uma posição ideológica.
O dispositivo
• Todo dispositivo define para as imagens uma dimensão temporal.
• Há imagens não-temporalizadas, idênticas a si próprias no tempo (pinturas, fotografias).
• Há imagens temporalizadas, que se modificam ao longo do tempo (cinema, vídeo).
• Por isso consideramos as relações entre imagens fixas/móveis, únicas/múltiplas, autônoma/seqüencial.
O dispositivo
• Há ainda uma relação variável entre o tempo da imagem e o tempo do espectador.
• A percepção da imagem única pressupõe um scanning, já uma tira de quadrinhos é lida imagem por imagem mas também no conjunto.
• Há um tempo que pertence à imagem e um outro que pertence ao espectador.
• Oposição discurso/história.
O dispositivo
• Mesmo as imagens de base fotográfica, antes de serem reproduções da realidade, são um registro de tal situação luminosa em tal lugar e em tal momento.
• Certas imagens embalsamam o passado: “isso foi” (Barthes).
• Mesmo um desenho, essa múmia do passado aponta para um momento de um traço que não retornará mais.
O dispositivo
• Nas imagens seqüenciais, agenciam-se blocos de espaço-duração, em certas condições de ordem e duração.
• A montagem é resultado da seqüencialização de blocos de tempo, entre os quais há apenas relações temporais implícitas.
• No caso das imagens não-temporalizadas seqüenciais (quadrinhos) as relações de tempo são marcadas de modo muito mais codificado.
O dispositivo
• Todo dispositivo implica num aparato tecnológico.
• Todo aparato tecnológico implica numa ideologia (uma forma determinada de intervenção no mundo).
• “A câmera veicula uma ideologia do visível” (Comolli).
• Assim, as imagens devem ser percebidas de maneira diferente se nascem de dispositivos diferentes.
O dispositivo
• O dispositivo, portanto, é aquilo que regula a relação do espectador com a imagem.
• Produz, necessariamente, efeitos sobre este espectador.
• O dispositivo induz tipos particulares de espectador: o cinéfilo, o amante da pintura, o viciado em quadrinhos...)
A imagem
• A imagem existe (e só existe) para ser vista por um espectador historicamente definido por certos dispositivos.
• Toda imagem é produzida de maneira deliberada, calculada, para atingir certos efeitos.
• Tudo, na imagem, é produzido, distribuído e recebido como um processo (social, comunicacional, artístico...).
A imagem
• A noção de analogia indica a existência de uma relação de semelhança entre a imagem e a realidade.
• Mas a analogia é relativa, pois toda representação é convencional.
• Há convenções mais ou menos naturais, ou seja, mais ou menos parecidas com as propriedades do sistema visual natural.
A imagem
• A noção de mimese vem do grego mimesis, que significa imitação.
• É sinônimo de analogia, mas designa um ideal de semelhança absoluta.
• Toda imagem é, de um lado, fruto de uma necessidade de ilusão e, de outro lado, da necessidade de expressão concreta do mundo.
• A analogia faz parte do processo de referência (o referente é o modelo da realidade que se pretende representar.
A imagem
• A imagem é mais analógica quando fornece o máximo de informação possível sobre a realidade.
• Não há realismo absoluto.
• O realismo é uma tendência, uma concepção particular da representação.
• Em certas épocas, as representações não visava o realismo (as representações do além).
A imagem
• Na observação da imagem, uma das principais tensões se dá entre campo e cena.
• O campo é o espaço representado nos limites da imagem onde se passa uma cena.
• Mas ele admite um fora-de-campo: elementos que estão invisíveis mas que são admitidos pelo espectador.
• O campo dá acesso potencial às parte não vistas da cena.
A imagem
• Falamos de narração quando a imagem representa um acontecimento.
• Narrativa é um conjunto organizado de significantes cujos significados continuem uma história.
• A imagem propõe uma narrativa do tipo mimético: a mostração.
• A representação imagética é quase sempre determinada por uma intenção maior, de ordem narrativa.
A imagem
• Se a imagem contém sentido, este pode ser “lido” pelo espectador.
• A imagem é lida num trabalho de interpretação.
• A interpretação semiológica pretende detectar os códigos mobilizados na representação.
• A interpretação iconográfica pretende situar a representação num contexto determinado.