Relatório Atividades Exitosas CEA 2009 2012 (1)

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Relatório atividades exitosas.

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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSOSECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

ASSESSORIA PEDAGÓGICA DE CÁCERESCENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS “PROF. MILTON MARQUES CURVO”

CEJA “PROF. MILTON MARQUES CURVO” E O QUADRIÊNIO DE MUDANÇAS (2009 A 2012)

FLORES, Claudinéia Marinho das1 - neiaflores7@gmail.comFRANCO, Rosângela Antonini2 - rosangela_antonini@hotmail.com

OLIVEIRA, Edileuza da Silva3 - edileuzasoliveira@hotmail.comSANTOS, Edinéia Natalino da Silva 4 - edineianatalino@gmail.com

SOUZA, Maria Domingas de5 - mariads.moraes@gmail.comVILASBOAS, Heliz Marinna Marques6 - helizmarinna@hotmail.com

RESUMO

O objetivo deste artigo é descrever as experiências que obtiveram êxito desde que este Estabelecimento de Ensino, em 2009, tornou-se Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) e como tal, passou por um processo de transformação em suas práticas pedagógicas passando a oferecer oficinas, aulas culturais e a desenvolver projetos com temáticas sobre: Educação Ambiental, Direitos Humanos, História e Culturas: Indígena, Afro-Brasileira e Africana e Artes em múltiplas variações e com uma identidade metodológica respaldada especialmente em Paulo Freire, de modo a reconhecer as especificidades dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos e dos diferentes tempos e espaços formativos, oferecendo formas diferenciadas de atendimento que compreenda a educação formal e informal integrada ao mundo do trabalho ao longo da vida (Decreto nº 1.123, de 28 de janeiro de 2008), transformando o conhecimento empírico do aluno em conhecimento científico para que este possa interagir mais efetivamente e transformar o ambiente em que vive.

INTRODUÇÃO

O sonho pela humanização, cuja concretização é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica etc., que nos estão condenando à desumanização. O sonho é assim uma exigência ou uma condição que se vem fazendo permanente na história que fazemos e nos faz e refaz. (FREIRE, 2011 p.137)

1 Profª. Espª.em PROEJA/IFMT – lotada no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”.2 Profª. Espª em PROEJA – lotada no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”. .3 Profª. Espª em PROEJA/IFMT – lotada no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”.4 Profª Mestranda em Educação / UNEMAT – Espª em PROEJA / IFMT – lotada no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”.5 Profª. Ma. em Estudos de Linguagem / UFMT - lotada no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”. 6 Profª graduada em Letras / UNEMAT. lotada no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”.

Toda mudança assusta, causa medo, intranqüilidade, tensão. Com a criação e implantação dos Centros de Educação de Jovens e Adultos (CEJAs7), em 2008, as escolas que se tornariam CEJA ficaram um pouco temerosas, pois junto com os Centros vinha uma proposta pedagógica e metodológica diferenciadas com as quais não se estava acostumada ou que se fazia, mas sem ter um respaldo epistemológico norteador. Enquanto escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA8), trabalhar os conteúdos estabelecendo conexões com a realidade do educando, tornando-o mais participativo, esta já era comum, pois conforme Freire (2002) diz em Pedagogia da Autonomia, na educação de adultos, professor e educando aprendem juntos:

ensinar não é transferir conhecimento – não apenas precisa de ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também precisa de ser constantemente testemunhado, vivido.

Por sua proposta, os CEJAs trabalham – desde a sua implantação – com os Complexos Temáticos – mesmo antes das Orientações Curriculares para o Estado de Mato Grosso serem oficializados:

[...] o Complexo Temático caracteriza-se por fazer-se produção coletiva, respeitadas as especificidades locais e regionais, por ser significativo para toda uma comunidade, por apontar situações-problema para seus atores, por propor-se gerador de ação, por ajudar o aluno a compreender a realidade atual, por respeitar os sujeitos que na escola e na sociedade interagem e por ser representativo de uma dada leitura do real (Goroditch; Souza, 1999 apud Orientações Curriculares / SEDUC-MT, 2010).

Materiais didáticos pensados e voltados para a EJA – que estão em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais – como Coleção Cadernos da EJA, Coleção Viver Aprender e Coleção Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos também contemplam o trabalho por temas e complexos temáticos.

Pelo fato dos CEJAs atenderem por área de conhecimento em: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (Língua Portuguesa, Língua Inglesa/Espanhola, Educação Física e Arte); Ciências Humanas, Sociais e suas Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia) e Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (Matemática, Ciências (ensino fundamental), Física, Química e Biologia), isso vem facilitando a interdisciplinaridade e, em alguns casos, a transdisciplinaridade e o desenvolvimento de projetos, oficinas e aulas culturais. Compreendendo a interdisciplinaridade como uma tentativa de não-fragmentação do conhecimento, de modo que este estabeleça relações com a realidade e os problemas deste mundo globalizado.

Berger (1972) define interdisciplinaridade como a interação que existe entre duas ou mais disciplinas, podendo integrar mútuos conceitos diretivos até a uma simples comunicação das idéias. Já para Piaget (1972), interdisciplinaridade é o intercâmbio mútuo e integração recíproca entre várias ciências, tendo com resultado um enriquecimento recíproco. Com a divisão por área com disciplinas afins, os professores puderam (e podem) planejar atividades interdisciplinares que, além de unir as áreas favorece também o diálogo

7 Doravante sigla todas as vezes que se referir ao(s) Centro(s) de Educação de Jovens e Adultos.8 Doravante sigla todas as vezes que se referir a Educação de Jovens e Adultos.

com as outras áreas, como por exemplo, numa aula sobre a erosão do solo da Piraputanga9, pode-se fazer um trabalho interdisciplinar envolvendo todas as áreas do conhecimento. Daí pode-se abstrair a historicidade, crônicas do lugar, a geografia, o modo de vida dos moradores, fonte de renda, exploração da gruta e escavação em busca de possíveis fósseis arqueológicos, poluição da água e do solo, principais doenças que acometem as pessoas oriundas da poluição do solo entre outros. Como se pode perceber nessa exemplificação, pode existir a transdisciplinaridade, uma vez que há interação entre outras ciências, por exemplo, a Arqueologia. Transdisciplinaridade que Piaget (1972) define como uma etapa superior a interdisciplinaridade que não só atingiria as interações ou reciprocidades, mas situaria essas relações no interior de um sistema total. E mais: a interação global das várias ciências.

O Centro de Educação de Jovens e Adultos “Prof. Milton Marques Curvo” (que se tornou escola exclusiva para atendimento de Jovens e Adultos, desde a sua criação, em 1981), de Cáceres, quando em 2009 deixou de ser Escola para ser Centro de EJA, com a orientação da SEDUC e formação continuada de todo o seu corpo docente, administrativo, apoio e gestão, vem buscando, ao longo desses quatro anos, ser um Centro de excelência, tendo sempre em mente o principal objetivo dos CEJAs, muito bem definidos no Art. 2º do Decreto nº 1.123, do Diário Oficial de 28 de janeiro de 2008, sancionado pelo ex-Governador Blairo Borges Maggi:

Os Centros de Educação de Jovens e Adultos-CEJAS, têm por objetivo constituir identidade própria para a modalidade Educação de Jovens e Adultos e oferecer formas diferenciadas de atendimento que compreenda a Educação Formal e Informal integrada ao mundo do trabalho ao longo da vida e a necessidade de reconhecer as especificidades dos sujeitos da educação de jovens e adultos e dos diferentes tempos e espaços formativos.

No decorrer desses quatro anos, o CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”, passou por um processo de transformação em suas práticas pedagógicas passando a oferecer oficinas, aulas culturais e a desenvolver projetos com temáticas sobre: Educação Ambiental, Direitos Humanos, História e Culturas: Indígena, Afro-Brasileira e Africana e Artes em múltiplas variações.

A pedagogia de projetos tornou-se a principal metodologia utilizada por este Centro, por acreditar que com essa prática, a interação interdisciplinar se dá mais facilmente porque nele educador-educando-educador-educando fundem-se e os papéis se invertem, não há um ser que só ensina e nem o outro que só aprende, mas sim, vive-se o conhecimento e esse conhecimento é exercido e compartilhado numa relação dialógica constante. Todavia, além da interdisciplinaridade, este CEJA busca algo que para muitos é impossível na sala de aula, a transdisciplinaridade, que pode ser um sonho, mas que jamais se deixará de ir em busca para que ele se torne uma realidade possível.

METODOLOGIA

Este Centro como todos os outros segue a metodologia proposta aos CEJAs: Busca da interdisciplinaridade, de forma que a área e/ou áreas se entrelace(m) em um

só caminho. Oficinas Pedagógicas e aulas culturais;

9 Localidade que fica a 15 quilômetros do centro de Cáceres, muito freqüentada, por possuir três cachoeiras para banho e uma gruta que se pode explorar.

Seminários; Palestras sobre temas diversificados conforme o interesse da comunidade escolar, com

profissionais competentes que podem ser da área de educação e/ou de outras, conforme a necessidade;

Atividades extra-salas como aulas-campo e outras; Trabalho com projetos, temas geradores, complexo temático; Identidade metodológica baseada nas teorias de Paulo Freire.

ALGUMAS ATIVIDADES DE DESTAQUE – 2009 A 2012

Desde o início das suas atividades como CEJA – este Estabelecimento que sempre se destacou no município de Cáceres por priorizar a qualidade de ensino – passou a desenvolver muitas ações, projetos, oficinas que, além de trabalhar as dificuldades na construção do conhecimento encontradas em salas de aulas, através de jogos, aulas práticas, situações-problema, mapas conceituais, construção de portfólio, preocupa-se em inserir o aluno no mercado de trabalho, para que este, além de abstrair o conhecimento prático e teórico, aprender algo rentável, que não raro, faz com que se sustente e a sua família ou como forma de garantir um extra para ajudar nas despesas de casa, como: fuxico; chinelos; bordados; bonecas de pano; chaveiros; pinturas em tecidos; pinturas em telas; tranças e tranças afro; máscaras em bexigas; telhas decorativas; pinturas em cerâmicas; pães e bolos; produtos de limpeza: sabão líquido, sabão em barra, desinfetante e detergente (parceria com o SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Além das oficinas e projetos, as atividades históricas, culturais, científicas e recreativas são, também, uma constante no CEJA “Prof. Milton Marques Curvo”. Tudo isso sem contar as aulas extra-salas com visitas a museus (municipal e museu do índio/UNEMAT), estação de tratamento de água, margens do Rio Paraguai (Baía do Malheiros); aterro sanitário (lixão); centro histórico de Cáceres às casas tombadas pelo patrimônio histórico mato-grossense; aulas-campo num trabalho inter e trandisciplinar envolvendo todas as áreas do conhecimento em lugares como: Fazenda Jacobina, Fazenda Descalvados, Fazenda Facão, Fazenda Progresso, Dolina Água Milagrosa e Serra das Araras. O projeto “Canto Coral” possibilitou aproximação entre o os alunos e entre professores e alunos, além disso, houve ocorresse um incentivo direto voltado para a produção artística e musical de nossa cidade e região. Através do projeto “A Língua Espanhola e a Cultura Hispano-Americana” os alunos foram incentivados a se engajarem no processo de ensino aprendizagem da Língua Espanhola, destacando a sua importância no contexto atual. Com esse projeto houve intercâmbio entre os alunos deste CEJA e os alunos do Colégio Mariscal Andrés de Santa Cruz, de San Mathias (Bolívia). Com o projeto Diversidade Cultural: Povos Chiquitanos e suas Representações selecionado pela SEDUC e desenvolvido em 2011 – teve como objetivo pesquisar elementos pertinentes aos aspectos sócio culturais, históricos, estudo da espacialidade e da geografia da região Sul de Mato Grosso na fronteira com a Bolívia. Esse projeto teve grande sucesso e com ele também houve a interação e intercâmbio cultural entre esses dois países vizinhos: Brasil e Bolívia. Em 2012, um outro projeto foi aprovado pela SEDUC, na seleção de projetos pedagógicos, também enfocando a história e a cultura afro-brasileira: Crônicas da Vida Real: Memórias da Comunidade Quilombola “Campina de Pedra” de Poconé-MT – com a finalidade de conhecer as histórias de vida da comunidade quilombola Campina da Pedra Poconé-MT, os hábitos, a cultura, fontes de renda, formas de organização da comunidade e coletar narrativas dos moradores locais. Outras atividades que fizeram grande sucesso no decorrer desses quatro anos foram: o Concurso de Quadrilha (cuja finalidade é valorizar, difundir e incentivar uma das mais populares manifestações culturais do Brasil, bem como, estabelecer a integração entre toda a comunidade escolar de todos os períodos: matutino, vespertino e noturno tanto da

sede quanto das salas anexas) e o Concurso da Diversidade: Beleza Negra que em 2012 foi inserido como mais uma das ações do projeto acima citado Crônicas da Vida Real: Memórias da Comunidade Quilombola “Campina de Pedra”: que, vale ressaltar, foi pensado e idealizado sob a luz da temática da Diversidade Étnico-Cultural em observância à LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/1996 e a aprovação da Lei nº 10.639/2003 - que determina no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".

Neste Centro teve espaço também para o lúdico, para os jogos, para a recreação, gincanas. Pois atividades lúdicas e recreativas não servem só para crianças, jovens e adultos também gostam. E nesses espaços alegres e de brincadeiras o conhecimento também se faz presente.

Algumas Imagens de Atividades Desenvolvidas

Fotos 1, 2 e 3: Projetos sobre meio-ambiente visando limpeza, preservação, conservação e desenvolvimento sustentável através da reciclagem.

Fotos 4, 5 e 6: Projetos de Língua Espanhola e Diversidade Cultural: Povos Chiquitanos promovendo o intercâmbio cultural entre Brasil / Bolívia

Fotos 7, 8, 9 e 10: 1ª Mostra Científico-Cultural – momentos em que os alunos demonstraram na prática, à comunidade, todo conhecimento adquirido em sala de aula. Aqui houve um trabalho inter e transdisciplinar.

Fotos 11, 12, 13 e 14: Aulas campo à Fazenda Jacobina, Fazenda Progresso, Serra das Araras e Dolina Água Milagrosa.

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Fotos 15 e 16: Concurso de Quadrilha Foto 17: Dança do Maculelê Foto 18: Rei e Rainha do Concurso da Diversidade: Beleza Negra/2012.

Nessa busca incessante pelo conhecimento e sempre procurando fazer o melhor, este CEJA não se esquece de que o ensino deve ser – como diria – Rubem Alves (2011): “saboroso”, no qual o aluno se delicie e o professor tenha prazer em servir os pratos – cada qual com os seus ingredientes, com o seu tempo de preparo, mas que no final todos se deleitem. E se a receita não der certo na primeira tentativa, refaze-la e verificar onde houve as falhas, se dosou a mais ou a menos, mas que sempre é tempo de transformação e de renovação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Planejar atividades, ações, currículo e metodologias diferenciadas para um ensino de qualidade que envolva oficinas pedagógicas, aulas culturais, projetos não é fácil, ainda mais quando se tenta trabalhar interdisciplinarmente, pois conforme Piaget (1972), a principal característica da atitude interdisciplinar é a busca pelo conhecimento, a transformação da insegurança num exercício do pensar. Por isso, o Centro de Educação de Jovens e Adultos “Prof. Milton Marques Curvo” com toda a sua comunidade escolar vive num processo educativo que leva em consideração as experiências de vida do seu corpo discente e que essas experiências sejam transformadas em saberes sistematizados em que prática e teoria caminhem juntas. E, corroborando com Freire (apud Scocuglia – 2005): Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Rubem. Variações sobre o prazer. São Paulo: Editora Planeta, 2011.

BERGER, Guy. Conditions d'une problématique de l'interdisciplinarité. In Ceri (eds.) L'interdisciplinarité. Problèmes d'enseignement et de recherche dans les Université. Paris: UNESCO/OCDE, 1972.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 25 ed., São Paulo: Paz e Terra, 2002.

GORODITCH, Souza, 1999. In: Orientações Curriculares para o Estado de Mato Grosso / SEDUC-MT, 2010.PIAGET, Jean). Epistemologie des rélations interdisciplinaires. In Ceri (eds.) L'interdisciplinarité. Problèmes d'enseignement et de recherche dans les Universités. Paris: UNESCO/OCDE, 1972.

SCOCUGLIA, Afonso Celso. As Reflexões Curriculares de Paulo Freire. In: Revista Lusófona de Educação, 2005, 6, 81-92.

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