Post on 16-Jan-2015
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RELAÇÃO ENTRE EXISTENCIALISMO E MARXISMO SEGUNDO SARTRE
Para se discutir a relação entre existencialismo e marxismo de
acordo com Sartre é necessário compreender inicialmente a concepção que o
filósofo francês tinha do que era a existência humana. Desse modo, a
existência é percebida como a relação do homem consigo mesmo e com o
universo que o rodeia, ou seja, que a existência é uma maneira de ser de
acordo com determinado momento ou situação.
Compreendendo a situação como uma realidade sólida em que o
homem está inserido, influenciando sua forma de agir nesse mundo o qual ele
foi "lançado", uma vez que, por não acreditar em uma existência divina, para
Sartre o homem não existiria por intermédio da mão de Deus, como pensam os
religiosos cristãos, mas fruto do próprio acaso. E o acaso seria senão a sorte
de acontecimentos o qual o homem vivenciaria, mas que estariam também
ligados as próprias escolhas feitas por cada indivíduo.
Assim, um dos principais contrapontos e polêmicas existentes na
filosofia de Sartre sobre o existencialismo se encontra no fato de que para ele
não existe um Ser divino, denominado de Deus, criador do universo, infinito e
com poderes sobrenaturais. Entretanto, há apenas uma existência que se
completa no próprio existir, ou seja, é a essência dos homens destituídos de
um racionalismo que o faz diferente dos outros seres vivos, que possibilita que
o mesmo possa entender a existência como algo que ocorre justamente pela
interferência do homem na natureza, e pelos próprios fenômenos que
ocorreram mesmo antes do ser humano surgir a milhões de anos.
Não seria também a existência humana um conceito criado pelo
próprio homem, a fim de validar a busca pelo sentido de sua presença neste
mundo? Busca pelo sentido esse que o inquieta, afinal por possuir o dom da
razão o homem sente-se privilegiado, mas ao mesmo tempo perturbado
perante os outros seres vivos que não cogitam sobre seu existir, apenas
existem, e os homens sem um Deus sentem-se incapacitados por não
conseguirem dominar essa angústia interior de não haver um nada que os guie
e que os levem ao que se almeja que seria a felicidade e a vida eterna.
O existencialismo de Sartre se torna repudiável para a ampla maioria
das pessoas, justamente por seu caráter ateísta, onde nega a existência de um
Deus guiando o destino do homem e, por conseguinte da humanidade. Isso
acaba transformando o conceito de existência em algo ainda mais complexo,
afinal sem um ser divino, para ordenar os fenômenos existentes e guiar a sina
humana como compreendê-la através do espectro da mera casualidade e
sorte?
Outro fator que faz com que a filosofia sartriana da não existência de
Deus seja tão dura é o fato de que ela acaba por tornar a vida humana em algo
ainda mais vazio e sem sentido, já que sem um fator motivador e uma crença
em uma vida eterna, toda existência humana se encerra em uma gama de
acontecimentos sem nexo algum e que se finda de forma abrupta, de modo
mais sem sentido ainda. Isso abriria precedentes para o aumento de atos dito
como "desumanos" e "pecaminosos", ou seja, que iriam contra a natureza
divina, mas que por justamente não serem considerados errados, já que não
haveria Ser Superior algum para condená-los, poderiam ser amplamente
praticados.
Desse modo, o homem responsável por suas próprias ações, é
detentor do livre-arbítrio, conceito presente também no Cristianismo, mas que
analisado conforme a filosofia de Sartre, se mostra como algo mais forte. Uma
vez, que as escolhas que o homem faz mudam e interferem não apenas em
sua história, mas pode trazer consequências para todo o planeta. Por não
haver mais um Deus responsável pela vida, pelos fenômenos naturais e por
tudo o que ocorre na vida humana e natural, a responsabilidade do existir
humano se torna maior, visto que ela seria crucial no futuro de todos, já que
não estaria mais traçado como se imagina nas religiões Cristãs.
O marxismo como uma doutrina que percebe o ser humano como um
indivíduo social histórico e que tem a aptidão de trabalhar e desenvolver a
produtividade do trabalho, o que distingue os homens dos outros seres e
possibilita o avanço de sua emancipação perante sua fragilidade biológica,
proporcionando o desenvolvimento de suas potencialidades, possui grande
conexão com o existencialismo sartriano.
Inicialmente essa interligação se daria pelo fato de que o marxismo
assim como o existencialismo de Sartre atribui ao próprio homem a
responsabilidade pelas suas ações, e, por conseguinte o rumo de sua história,
seus progressos ou infortúnios. Diferentemente do existencialismo cristão e da
lógica protestante de prosperidade, onde Deus é que provê tudo e ele é que
seria o único capaz de dar ao homem a sabedoria necessária para seu
progresso, ou o castigo por sua desobediência.
O Cristianismo ao ser levado e desenvolvido na Europa ajudou a
propagar a ideia de que o homem é o único ser capaz de dominar a natureza,
de modo que o homem europeu em especial, pôde se valer da ideia de que por
ser superior, e cristão tinha como missão salvar os povos pagãos que
desconheciam a Deus, e desse modo se acharam no direito de tomar suas
terras e até mesmo escravizá-los, dando início a séculos depois a uma nova e
desigual divisão do trabalho.
Essa divisão do trabalho surgida pós-revolução industrial foi a base
para que Marx desenvolvesse suas ideias, de que a concepção materialista e
dialética da História, interpreta a vida social conforme a dinâmica da base
produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. Marx por
ser ateísta como Sartre possuía também a crença de que o homem aceitaria o
sofrimento como algo natural e divino na esperança da recompensa de uma
vida eterna em um paraíso extraterreno, dizia que a religião era o ópio do povo,
já que o alienava e fazia com que as pessoas não se indignassem diante das
injustiças.
Portanto, o marxismo e o existencialismo de Sartre embora sejam
visões filosóficas que tentam explicar coisas diferentes no caso a situação do
homem enquanto ser individual e sua situação enquanto ser social, acabam se
completando. Visto que, promovem o encontro de dois grandes filósofos que
embora tenham encontrado no Ateísmo uma fonte de inspiração e, por
conseguinte grande rejeição por parte das pessoas, possibilitaram o
desenvolvimento de uma nova concepção de enxergar a vida humana e sua
interação entre a dominação, o medo e a existência.
Embora, particularmente eu na função de escritor não seja ateísta,
acredito que muitas vezes a religião aliena as pessoas, e que melhor do que
acreditar em um Deus que castiga ou que rege o nosso destino, prefiro crer em
um Ser Divino que promove a paz interior e possibilita a harmonia e o amor
verdadeiro entre os próprios homens e entre estes e a natureza.