Relação entre existencialismo e marxismo segundo Sartre

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RELAÇÃO ENTRE EXISTENCIALISMO E MARXISMO SEGUNDO SARTRE Para se discutir a relação entre existencialismo e marxismo de acordo com Sartre é necessário compreender inicialmente a concepção que o filósofo francês tinha do que era a existência humana. Desse modo, a existência é percebida como a relação do homem consigo mesmo e com o universo que o rodeia, ou seja, que a existência é uma maneira de ser de acordo com determinado momento ou situação. Compreendendo a situação como uma realidade sólida em que o homem está inserido, influenciando sua forma de agir nesse mundo o qual ele foi "lançado", uma vez que, por não acreditar em uma existência divina, para Sartre o homem não existiria por intermédio da mão de Deus, como pensam os religiosos cristãos, mas fruto do próprio acaso. E o acaso seria senão a sorte de acontecimentos o qual o homem vivenciaria, mas que estariam também ligados as próprias escolhas feitas por cada indivíduo. Assim, um dos principais contrapontos e polêmicas existentes na filosofia de Sartre sobre o existencialismo se encontra no fato de que para ele não existe um Ser divino, denominado de Deus, criador do universo, infinito e com poderes sobrenaturais. Entretanto, há apenas uma existência que se completa no próprio existir, ou seja, é a essência dos homens destituídos de um

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Texto filosófico abordando a intrínseca relação entre o existencialismo e marxismo.

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RELAÇÃO ENTRE EXISTENCIALISMO E MARXISMO SEGUNDO SARTRE

Para se discutir a relação entre existencialismo e marxismo de

acordo com Sartre é necessário compreender inicialmente a concepção que o

filósofo francês tinha do que era a existência humana. Desse modo, a

existência é percebida como a relação do homem consigo mesmo e com o

universo que o rodeia, ou seja, que a existência é uma maneira de ser de

acordo com determinado momento ou situação.

Compreendendo a situação como uma realidade sólida em que o

homem está inserido, influenciando sua forma de agir nesse mundo o qual ele

foi "lançado", uma vez que, por não acreditar em uma existência divina, para

Sartre o homem não existiria por intermédio da mão de Deus, como pensam os

religiosos cristãos, mas fruto do próprio acaso. E o acaso seria senão a sorte

de acontecimentos o qual o homem vivenciaria, mas que estariam também

ligados as próprias escolhas feitas por cada indivíduo.

Assim, um dos principais contrapontos e polêmicas existentes na

filosofia de Sartre sobre o existencialismo se encontra no fato de que para ele

não existe um Ser divino, denominado de Deus, criador do universo, infinito e

com poderes sobrenaturais. Entretanto, há apenas uma existência que se

completa no próprio existir, ou seja, é a essência dos homens destituídos de

um racionalismo que o faz diferente dos outros seres vivos, que possibilita que

o mesmo possa entender a existência como algo que ocorre justamente pela

interferência do homem na natureza, e pelos próprios fenômenos que

ocorreram mesmo antes do ser humano surgir a milhões de anos.

Não seria também a existência humana um conceito criado pelo

próprio homem, a fim de validar a busca pelo sentido de sua presença neste

mundo? Busca pelo sentido esse que o inquieta, afinal por possuir o dom da

razão o homem sente-se privilegiado, mas ao mesmo tempo perturbado

perante os outros seres vivos que não cogitam sobre seu existir, apenas

existem, e os homens sem um Deus sentem-se incapacitados por não

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conseguirem dominar essa angústia interior de não haver um nada que os guie

e que os levem ao que se almeja que seria a felicidade e a vida eterna.

O existencialismo de Sartre se torna repudiável para a ampla maioria

das pessoas, justamente por seu caráter ateísta, onde nega a existência de um

Deus guiando o destino do homem e, por conseguinte da humanidade. Isso

acaba transformando o conceito de existência em algo ainda mais complexo,

afinal sem um ser divino, para ordenar os fenômenos existentes e guiar a sina

humana como compreendê-la através do espectro da mera casualidade e

sorte?

Outro fator que faz com que a filosofia sartriana da não existência de

Deus seja tão dura é o fato de que ela acaba por tornar a vida humana em algo

ainda mais vazio e sem sentido, já que sem um fator motivador e uma crença

em uma vida eterna, toda existência humana se encerra em uma gama de

acontecimentos sem nexo algum e que se finda de forma abrupta, de modo

mais sem sentido ainda. Isso abriria precedentes para o aumento de atos dito

como "desumanos" e "pecaminosos", ou seja, que iriam contra a natureza

divina, mas que por justamente não serem considerados errados, já que não

haveria Ser Superior algum para condená-los, poderiam ser amplamente

praticados.

Desse modo, o homem responsável por suas próprias ações, é

detentor do livre-arbítrio, conceito presente também no Cristianismo, mas que

analisado conforme a filosofia de Sartre, se mostra como algo mais forte. Uma

vez, que as escolhas que o homem faz mudam e interferem não apenas em

sua história, mas pode trazer consequências para todo o planeta. Por não

haver mais um Deus responsável pela vida, pelos fenômenos naturais e por

tudo o que ocorre na vida humana e natural, a responsabilidade do existir

humano se torna maior, visto que ela seria crucial no futuro de todos, já que

não estaria mais traçado como se imagina nas religiões Cristãs.

  O marxismo como uma doutrina que percebe o ser humano como um

indivíduo social histórico e que tem a aptidão de trabalhar e desenvolver a

produtividade do trabalho, o que distingue os homens dos outros seres e

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possibilita o avanço de sua emancipação perante sua fragilidade biológica,

proporcionando o desenvolvimento de suas potencialidades, possui grande

conexão com o existencialismo sartriano.

Inicialmente essa interligação se daria pelo fato de que o marxismo

assim como o existencialismo de Sartre atribui ao próprio homem a

responsabilidade pelas suas ações, e, por conseguinte o rumo de sua história,

seus progressos ou infortúnios. Diferentemente do existencialismo cristão e da

lógica protestante de prosperidade, onde Deus é que provê tudo e ele é que

seria o único capaz de dar ao homem a sabedoria necessária para seu

progresso, ou o castigo por sua desobediência.

O Cristianismo ao ser levado e desenvolvido na Europa ajudou a

propagar a ideia de que o homem é o único ser capaz de dominar a natureza,

de modo que o homem europeu em especial, pôde se valer da ideia de que por

ser superior, e cristão tinha como missão salvar os povos pagãos que

desconheciam a Deus, e desse modo se acharam no direito de tomar suas

terras e até mesmo escravizá-los, dando início a séculos depois a uma nova e

desigual divisão do trabalho.

Essa divisão do trabalho surgida pós-revolução industrial foi a base

para que Marx desenvolvesse suas ideias, de que a concepção materialista e

dialética da História, interpreta a vida social conforme a dinâmica da base

produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. Marx por

ser ateísta como Sartre possuía também a crença de que o homem aceitaria o

sofrimento como algo natural e divino na esperança da recompensa de uma

vida eterna em um paraíso extraterreno, dizia que a religião era o ópio do povo,

já que o alienava e fazia com que as pessoas não se indignassem diante das

injustiças.

Portanto, o marxismo e o existencialismo de Sartre embora sejam

visões filosóficas que tentam explicar coisas diferentes no caso a situação do

homem enquanto ser individual e sua situação enquanto ser social, acabam se

completando. Visto que, promovem o encontro de dois grandes filósofos que

embora tenham encontrado no Ateísmo uma fonte de inspiração e, por

conseguinte grande rejeição por parte das pessoas, possibilitaram o

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desenvolvimento de uma nova concepção de enxergar a vida humana e sua

interação entre a dominação, o medo e a existência.

Embora, particularmente eu na função de escritor não seja ateísta,

acredito que muitas vezes a religião aliena as pessoas, e que melhor do que

acreditar em um Deus que castiga ou que rege o nosso destino, prefiro crer em

um Ser Divino que promove a paz interior e possibilita a harmonia e o amor

verdadeiro entre os próprios homens e entre estes e a natureza.