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7/28/2019 Raizes Do Brasil Fichamento.
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Aluna: Mayara Freitas de Oliveira Queiroz.
Trabalho & Aventura (pp. 43 70) segundo capituloHOLANDA, Srgio B. Razes do Brasil. Jos Olympio, 1936.
Pioneiros da conquista do trpico para a civilizao, tiveram os portugueses, nessa proeza,
sua maior misso histrica. E sem embargo de tudo quanto se possa alegar contra sua obra,
foroso reconhecer que foram no somente os portadores efetivos como os portadores
naturais dessa misso. (p.43)
Essa explorao dos trpicos no se processou, em verdade, por um empreendimento
metdico e racional, no emanou de uma vontade construtora e enrgica: fez-se antes com
desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. (p.43)
Existe uma tica do trabalho, corno existe uma tica da aventura. Assim, o indivduo do tipo
trabalhador s atribuir maior moral positivo s aes que sente nimo de praticar e,
inversamente, ter por imorais e detestveis as qualidades prprias do aventureiro audcia,
imprevidncia, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem tudo, enfim, quanto se
relacione com a concepo espaosa do mundo, caracterstica desse tipo. (p.44)
Na obra da conquista e colonizao dos novos mundos coube ao "trabalhador", no sentido
aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A poca predispunha aos gestos e
faanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grandes vos. E no foi fortuita a
circunstncia de se terem encontrado neste continente, empenhadas nessa obra,
principalmente as naes onde o tipo do trabalhador, tal como acaba de ser discriminado,
encontrou ambiente menos propcio. (p.45)
Essa pouca disposio para o trabalho, ao menos para o trabalho sem compensao prxima,
essa indolncia, como diz o deo Inge, no sendo evidentemente um estmulo s aes
aventurosas, no deixa de constituir, com notvel freqncia, o aspecto negativo do nimo
que gera as grandes empresas. Como explicar, sem isso, que os povos ibricos mostrassem
tanta aptido para a caa aos bens materiais em outros continentes? "Um portugus",
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comentava certo viajante em fins do sculo xvm, "pode fretar um navio para o Brasil com
menos dificuldade do que lhe preciso para ir a cavalo de Lisboa ao Porto." (p.46)
No certo que a forma particular assumida entre ns pelo latifndio agrrio fosse uma
espcie de manipulao original, fruto da vontade criadora um pouco arbitrria dos colonos
portugueses. Surgiu, em grande parte, de elementos adventcios e ao sabor das convenincias
da produo e do mercado. (p.47)
Aos portugueses e, em menor grau, aos castelhanos, coube, sem dvida, a primazia no
emprego do regime que iria servir de modelo explorao latifundiria e monocultora
adotada depois por outros povos. E a boa qualidade das terras do Nordeste brasileiro para a
lavoura altamente lucrativa da cana-de-acar fez com que essas terras se tornassem o cenrio
onde, por muito tempo, se elaboraria em seus traos mais ntidos o tipo de organizao agrria
mais tarde caracterstico das colnias europias situadas na zona trrida (p.48)
O que o portugus vinha buscar era, sem dvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia,
no riqueza que custa trabalho. A mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcanar na
ndia com as especiarias e os metais preciosos. Os lucros que proporcionou de incio, o
esforo de plantar a cana e fabricar o acar para mercados europeus, compensavam
abundantemente esse esforo efetuado, de resto, com as mos e os ps dos negros , mas
era preciso que fosse muito simplificado, restringindo-se ao estrito necessrio s diferentes
operaes. (p.49)
Quando lamentamos que a lavoura, no Brasil, tenha permanecido to longamente aferrada a
concepes rotineiras, sem progressos tcnicos que elevassem o nvel da produo, preciso
no esquecer semelhantes fatores. E preciso, alm disso, ter em conta que o meio tropical
oferece muitas vezes poderosos e inesperados obstculos implantao de tais
melhoramentos. (p.50)
O contraste entre as condies normais da lavoura brasileira, ainda na segunda metade do
sculo passado, e as que pela mesma poca prevaleciam no sul dos Estados Unidos bemmais aprecivel do que as semelhanas, to complacentemente assinaladas e exageradas por
alguns historiadores (p.52)
Essa modalidade de seu carter, que os aproxima das outras naes de estirpe latina e, mais
do que delas, dos muulmanos da frica, explica-se muito pelo fato de serem os portugueses,
em parte, e j ao tempo do descobrimento do Brasil, um povo de mestios. Ainda em nossos
dias, um antroplogo distingue-os racialmente dos seus prprios vizinhos e irmos, os
espanhis, por ostentarem um contingente maior de sangue negro. (p.53)
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preciso convir em que tais liberalidades no constituam lei geral; de qualquer modo, o
exclusivismo "racista", como se diria hoje, nunca chegou a ser, aparentemente, o fator
determinante das medidas que visavam reservar a brancos puros o exerccio de determinados
empregos (p.55)
Nos ofcios urbanos reinavam o mesmo amor ao ganho fcil e a infixidez que tanto
caracterizam, no Brasil, os trabalhos rurais (p.58)
O que sobretudo nos faltou para o bom xito desta e de tantas outras formas de labor
produtivo foi, seguramente, uma capacidade de livre e duradoura associao entre os
elementos empreendedores. (p.59)
Outros costumes, como o do muxiro ou mutiro, em que os roceiros se socorrem uns aosoutros nas derrubadas de mato, nos plantios, nas colheitas, na construo de casas, na fiao
do algodo, teriam sido tomados de preferncia ao gentio da terra e fundam se, ao que parece,
na expectativa de auxlio recproco, tanto quanto na excitao proporcionada pelas ceias, as
danas, os descantes e os desafios que acompanham obrigatoriamente tais servios. (p.60)
influncia dos negros, no apenas como negros, mas ainda, e sobretudo, corno escravos,
essa populao no tinha como oferecer obstculos srios. Uma suavidade dengosa e
aucarada invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial. (p.61)
Esse progresso urbano era ocorrncia nova na vida brasileira, e ocorrncia que ajuda a
melhor distinguir, um do outro, os processos colonizadores de "flamengos" e portugueses.
(p.63)
No pouparam esforos, os holandeses, para competir com seus predecessores na vida da
lavoura. Apenas os elementos de que dispunham no se adaptavam a essa vida. (p.64)
Importante, alm disso, que, ao oposto do catolicismo, a religio reformada, trazida pelos
invasores, no oferecia nenhuma espcie de excitao aos sentidos ou imaginao dessa
gente, e assim no proporcionava nenhum terreno de transio por onde sua religiosidade
pudesse acomodar-se aos ideais cristos (p.65)
A essas inestimveis vantagens acrescente-se ainda, em favor dos portugueses, a j aludida
ausncia, neles, de qualquer orgulho de raa. Em resultado de tudo isso, a mestiagem que
representou, certamente, notvel elemento de fixao ao meio tropical no constituiu, na
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Amrica portuguesa, fenmeno espordico, mas, ao contrrio, processo normal. Foi, em parte,
graas a esse processo que eles puderam, sem esforo sobre-humano, construir uma ptria
nova longe da sua. (p.66)