Raizes Do Brasil Fichamento.

download Raizes Do Brasil Fichamento.

of 4

Transcript of Raizes Do Brasil Fichamento.

  • 7/28/2019 Raizes Do Brasil Fichamento.

    1/4

    Aluna: Mayara Freitas de Oliveira Queiroz.

    Trabalho & Aventura (pp. 43 70) segundo capituloHOLANDA, Srgio B. Razes do Brasil. Jos Olympio, 1936.

    Pioneiros da conquista do trpico para a civilizao, tiveram os portugueses, nessa proeza,

    sua maior misso histrica. E sem embargo de tudo quanto se possa alegar contra sua obra,

    foroso reconhecer que foram no somente os portadores efetivos como os portadores

    naturais dessa misso. (p.43)

    Essa explorao dos trpicos no se processou, em verdade, por um empreendimento

    metdico e racional, no emanou de uma vontade construtora e enrgica: fez-se antes com

    desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. (p.43)

    Existe uma tica do trabalho, corno existe uma tica da aventura. Assim, o indivduo do tipo

    trabalhador s atribuir maior moral positivo s aes que sente nimo de praticar e,

    inversamente, ter por imorais e detestveis as qualidades prprias do aventureiro audcia,

    imprevidncia, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem tudo, enfim, quanto se

    relacione com a concepo espaosa do mundo, caracterstica desse tipo. (p.44)

    Na obra da conquista e colonizao dos novos mundos coube ao "trabalhador", no sentido

    aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A poca predispunha aos gestos e

    faanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grandes vos. E no foi fortuita a

    circunstncia de se terem encontrado neste continente, empenhadas nessa obra,

    principalmente as naes onde o tipo do trabalhador, tal como acaba de ser discriminado,

    encontrou ambiente menos propcio. (p.45)

    Essa pouca disposio para o trabalho, ao menos para o trabalho sem compensao prxima,

    essa indolncia, como diz o deo Inge, no sendo evidentemente um estmulo s aes

    aventurosas, no deixa de constituir, com notvel freqncia, o aspecto negativo do nimo

    que gera as grandes empresas. Como explicar, sem isso, que os povos ibricos mostrassem

    tanta aptido para a caa aos bens materiais em outros continentes? "Um portugus",

  • 7/28/2019 Raizes Do Brasil Fichamento.

    2/4

    comentava certo viajante em fins do sculo xvm, "pode fretar um navio para o Brasil com

    menos dificuldade do que lhe preciso para ir a cavalo de Lisboa ao Porto." (p.46)

    No certo que a forma particular assumida entre ns pelo latifndio agrrio fosse uma

    espcie de manipulao original, fruto da vontade criadora um pouco arbitrria dos colonos

    portugueses. Surgiu, em grande parte, de elementos adventcios e ao sabor das convenincias

    da produo e do mercado. (p.47)

    Aos portugueses e, em menor grau, aos castelhanos, coube, sem dvida, a primazia no

    emprego do regime que iria servir de modelo explorao latifundiria e monocultora

    adotada depois por outros povos. E a boa qualidade das terras do Nordeste brasileiro para a

    lavoura altamente lucrativa da cana-de-acar fez com que essas terras se tornassem o cenrio

    onde, por muito tempo, se elaboraria em seus traos mais ntidos o tipo de organizao agrria

    mais tarde caracterstico das colnias europias situadas na zona trrida (p.48)

    O que o portugus vinha buscar era, sem dvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia,

    no riqueza que custa trabalho. A mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcanar na

    ndia com as especiarias e os metais preciosos. Os lucros que proporcionou de incio, o

    esforo de plantar a cana e fabricar o acar para mercados europeus, compensavam

    abundantemente esse esforo efetuado, de resto, com as mos e os ps dos negros , mas

    era preciso que fosse muito simplificado, restringindo-se ao estrito necessrio s diferentes

    operaes. (p.49)

    Quando lamentamos que a lavoura, no Brasil, tenha permanecido to longamente aferrada a

    concepes rotineiras, sem progressos tcnicos que elevassem o nvel da produo, preciso

    no esquecer semelhantes fatores. E preciso, alm disso, ter em conta que o meio tropical

    oferece muitas vezes poderosos e inesperados obstculos implantao de tais

    melhoramentos. (p.50)

    O contraste entre as condies normais da lavoura brasileira, ainda na segunda metade do

    sculo passado, e as que pela mesma poca prevaleciam no sul dos Estados Unidos bemmais aprecivel do que as semelhanas, to complacentemente assinaladas e exageradas por

    alguns historiadores (p.52)

    Essa modalidade de seu carter, que os aproxima das outras naes de estirpe latina e, mais

    do que delas, dos muulmanos da frica, explica-se muito pelo fato de serem os portugueses,

    em parte, e j ao tempo do descobrimento do Brasil, um povo de mestios. Ainda em nossos

    dias, um antroplogo distingue-os racialmente dos seus prprios vizinhos e irmos, os

    espanhis, por ostentarem um contingente maior de sangue negro. (p.53)

  • 7/28/2019 Raizes Do Brasil Fichamento.

    3/4

    preciso convir em que tais liberalidades no constituam lei geral; de qualquer modo, o

    exclusivismo "racista", como se diria hoje, nunca chegou a ser, aparentemente, o fator

    determinante das medidas que visavam reservar a brancos puros o exerccio de determinados

    empregos (p.55)

    Nos ofcios urbanos reinavam o mesmo amor ao ganho fcil e a infixidez que tanto

    caracterizam, no Brasil, os trabalhos rurais (p.58)

    O que sobretudo nos faltou para o bom xito desta e de tantas outras formas de labor

    produtivo foi, seguramente, uma capacidade de livre e duradoura associao entre os

    elementos empreendedores. (p.59)

    Outros costumes, como o do muxiro ou mutiro, em que os roceiros se socorrem uns aosoutros nas derrubadas de mato, nos plantios, nas colheitas, na construo de casas, na fiao

    do algodo, teriam sido tomados de preferncia ao gentio da terra e fundam se, ao que parece,

    na expectativa de auxlio recproco, tanto quanto na excitao proporcionada pelas ceias, as

    danas, os descantes e os desafios que acompanham obrigatoriamente tais servios. (p.60)

    influncia dos negros, no apenas como negros, mas ainda, e sobretudo, corno escravos,

    essa populao no tinha como oferecer obstculos srios. Uma suavidade dengosa e

    aucarada invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial. (p.61)

    Esse progresso urbano era ocorrncia nova na vida brasileira, e ocorrncia que ajuda a

    melhor distinguir, um do outro, os processos colonizadores de "flamengos" e portugueses.

    (p.63)

    No pouparam esforos, os holandeses, para competir com seus predecessores na vida da

    lavoura. Apenas os elementos de que dispunham no se adaptavam a essa vida. (p.64)

    Importante, alm disso, que, ao oposto do catolicismo, a religio reformada, trazida pelos

    invasores, no oferecia nenhuma espcie de excitao aos sentidos ou imaginao dessa

    gente, e assim no proporcionava nenhum terreno de transio por onde sua religiosidade

    pudesse acomodar-se aos ideais cristos (p.65)

    A essas inestimveis vantagens acrescente-se ainda, em favor dos portugueses, a j aludida

    ausncia, neles, de qualquer orgulho de raa. Em resultado de tudo isso, a mestiagem que

    representou, certamente, notvel elemento de fixao ao meio tropical no constituiu, na

  • 7/28/2019 Raizes Do Brasil Fichamento.

    4/4

    Amrica portuguesa, fenmeno espordico, mas, ao contrrio, processo normal. Foi, em parte,

    graas a esse processo que eles puderam, sem esforo sobre-humano, construir uma ptria

    nova longe da sua. (p.66)