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Qualidade do Conselho de Administração e Internacionalização de Empresas
1 INTRODUÇÃO
Na Teoria da Agência Jensen e Meckling (1976) analisaram problemas decorrentes da
separação da propriedade e controle e apontaram que administradores e proprietários dos
negócios possuem interesses e objetivos diferentes; e que custos de monitoramento
decorrentes da separação entre a propriedade do negócio e o controle do capital desencadeiam
problemas de assimetrias informacionais e risco moral, conturbando o ambiente de negócios.
De acordo com o IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (2013) as
empresas buscam reduzir desequilíbrios e problemas de assimetria da informação por meio da
adoção de boas práticas de Governança Corporativa. O Conselho de Administração como
órgão encarregado da tomada de decisão deve agir em conformidade com o planejamento
estratégico da empresa (IBGC, 2015) representando uma potencial solução para os problemas
de agência das organizações decorrentes de complexidades e imperfeições de contratos
(Hermalin and Weisbach, 2003).
Treiger (2009) argumenta que as características e atribuições do Conselho de
Administração denotam maior credibilidade à gestão e fomentam o desenvolvimento da
responsabilidade compartilhada, multiplicando a transparência corporativa. De acordo com o
IBGC (2015) o maior comprometimento dos agentes internos e externos, contribui para
adoção das melhores práticas de gestão que incrementam a governança corporativa e a
constituição do Conselho de Administração contribui para a prosperidade do negócio. Isto
sugere que as empresas que possuem Conselhos de Administração com determinadas
estruturas, composições e características têm maior potencial para influenciar as ações em
busca da internacionalização.
Apesar da crescente importância do Conselho de Administração sobre os resultados
organizacionais, ainda são escassos estudos que relacionam o Conselho de Administração
com a internacionalização das empresas (Barroso, Villegas & Calero, 2011; Rivas, Hamori &
Mayo, 2009). Dessa forma, este estudo tem por objetivo analisar a influência da qualidade do
conselho de administração na internacionalização das empresas brasileiras que possuem
níveis diferenciados de governança corporativa. Busca-se responder a seguinte questão: Qual
a influência da qualidade do Conselho de Administração na internacionalização de
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companhias brasileiras de capital aberto que apresentam níveis diferenciados de governança
corporativa?
Sanders e Carpenter (1998) explicam que ações de internacionalização e o Conselho
de Administração estão profundamente interligados. Defendem que quanto maior o
entrosamento do Conselho de Administração maior serão as ações de internacionalização,
uma vez que as competências dos conselheiros na compreensão dos mercados interferem
decisivamente nestes aspectos. Para se internacionalizarem, as empresas devem globalizar
suas estratégias de atuação em mercados estrangeiros e, isto decorre do quanto os players
empresariais estão motivados para prosperar no negócio e das orientações profissionais que
recebem dos membros do Conselho de Administração.
A internacionalização da empresa requer maior participação do Conselho de
Administração, pois este desempenha um papel estratégico na internacionalização
desenvolvendo políticas com ênfase competitiva nos mercados globalizados. Assim, com a
internacionalização as empresas são pressionadas a reformular estratégias e a adotar práticas
de governança que sejam refletidas em medidas relacionadas à internacionalização.
2 TEORIA DA AGÊNCIA NO CONTEXTO DA SEPARAÇÃO ENTRE A
PROPRIEDADE E O CONTROLE E INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS
Os primeiros estudos que serviram como alicerce para a Teoria da Agência (Jensen
and Meckling, 1976) foram realizados por Spence e Zeckhauser (1971), Alchian e Demsetz
(1972) e Ross (1973). O foco principal destes estudos foi analisar a estrutura de remuneração
dos gestores, denominados de agentes e o relacionamento de seus interesses com os
proprietários ou acionistas, nominados de principal, relatando que o agente e o principal
compartilham as mesmas crenças e buscam vantagens comparativas. Há então, nesse cenário,
uma tendência de que ambos adotem atitudes idênticas em relação às utilidades esperadas,
frente às restrições impostas por suas escolhas. Por isso, há dificuldade em monitorar as
escolhas que permeiam as relações entre o agente e o principal.
Apesar da importância dos trabalhos anteriores, foram Jensen e Meckling (1976) que
formalizaram a Teoria da Agência e a apresentaram de forma mais detalhada. Ressalta-se que
os estudos de Berle e Means (1932) serviram de alicerce para os estudos de Jensen e
Meckling (1976) culminassem na elaboração e divulgação da Teoria da Agência para área de
finanças, contabilidade e gestão. Outra inovação do trabalho desenvolvido por Jensen e
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Meckling (1976) foi a utilização do termo estrutura de propriedade em substituição a estrutura
de capital.
Jensen e Meckling (1976) aprofundaram a Teoria da Agência a partir de problemas
decorrentes da separação da propriedade e controle, apontando que os administradores das
empresas e os proprietários dos negócios possuem interesses e objetivos muito diferentes.
Nesse contexto, a Teoria da Agência (Jensen and Meckling, 1976) analisa os conflitos e os
custos decorrentes da separação entre a propriedade do negócio e o controle do capital, o que
origina assimetrias informacionais e riscos morais que se desenvolvem nesse ambiente de
relação conturbada entre o principal e o agente.
Para Jensen e Meckling (1976) a assimetria da informação ocorre quando uma das
partes não possui toda a informação indispensável para compreender o contrato, e o risco
moral quando os agentes colocam seus interesses acima do interesse do principal, a partir de
atitudes assumidas e diferentes preferências e perspectivas que permeiam as relações entre
agente e principal. Nesse sentido, o risco moral é uma forma oportunista, difícil de prever nos
contratos formais ou informais, e que prolifera devido à dificuldade de se verificar as ações
dos agentes.
Em função de seus desdobramentos, o trabalho de Jensen e Meckling (1976) serviu
como um ponto de ligação para um conjunto de relacionamentos contratuais entre os agentes
econômicos individuais e o mercado. A solução para a complexidade organizacional das
firmas, segundo Fama e Jensen (1983) consistem em intensificar a separação durante o
processo da tomada de decisões, isto é, vincular as decisões de controle ao Conselho de
Administração, que trata da previsão e direcionamento dos negócios e as questões de gestão a
um agente responsável por conduzir os procedimentos gerenciais cotidianos que possibilitem
a sobrevivência do negócio.
Dessa forma, as atribuições do Conselho de Administração não são apenas
formalismos, tampouco obrigações previstas em lei, a serem seguidas exclusivamente pelas
empresas que possuem negócios em Bolsas de Valores. Existe uma série de vantagens às
companhias que optam por negociar em Bolsas de Valores, sejam para a organização,
acionistas, colaboradores, mercado e aos stakeholders.
O alinhamento dos interesses entre os administradores e os acionistas, por meio da
criação de um mecanismo de controle denominado Conselho de Administração são
importantes como parte da solução dos problemas de agência. Dessa forma, delimitar o papel
do Conselho de Administração tem por objetivo estabelecer uma ponte entre os direitos dos
sócios proprietários, dos acionistas e dos administradores responsáveis pela gestão, buscando
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a manutenção e maximização dos interesses dos envolvidos no negócio. O Conselho de
Administração representa uma solução de mercado que ameniza os problemas de agência das
organizações, decorrentes da complexidade e do caráter defeituoso e incompleto dos contratos
(Jensen and Meckling, 1993).
O Conselho de Administração é um órgão que se reúne para refletir e decidir sobre
questões que envolvem a vida da organização. Os integrantes são eleitos pelos acionistas e
deve ser composto tendo em vista a diversidade de conhecimentos, experiência dos membros
e gênero, permitindo que a organização se beneficie da pluralidade de argumentos na tomada
de decisão, sendo o processo de seleção dos conselheiros condizente com os valores da
organização (IBGC, 2015). Assim, a constituição de um Conselho de Administração eficaz, e
que apresenta qualidade de atuação e atributos relacionados aos princípios das melhores
práticas de governança corporativa, contribui para a prosperidade do negócio e ajuda a
garantir o atendimento das necessidades de capital.
Estudos anteriores argumentam que os resultados da empresa podem estar
relacionados à qualidade da atuação do Conselho de Administração. Zahra e Pearce (1990)
argumentam que a qualidade da atuação dos conselhos pode ser mensurada a partir de
atributos relacionados: (1) a estrutura da organização, a divisão do trabalho e a formação de
comitês de assessoramento; (2) a composição que trata do tamanho do conselho, tipos de
conselheiros e representação dos acionistas minoritários; (3) as características que informam
sobre a experiência, formação acadêmica, independência e o desempenho dos conselheiros;
(4) aos processos de tomada de decisões e a formalidade dos procedimentos de
monitoramento das relações entre conselheiros e executivos. Barroso, Villegas e Calero
(2011) defendem que as características do Conselho de Administração, representada pela
experiência dos conselheiros é decisiva para elevar o índice de internacionalização da
organização, e que a forma de controle exercida pelos conselheiros apresenta relação positiva
com o volume de investimentos em outros países.
Outros estudos sobre internacionalização das atividades das empresas têm ocupado
diversos espectros e, especificamente na área de Ciências Contábeis, as pesquisas têm
utilizado a internacionalização como proxy para identificar o seu desempenho econômico e de
mercado das empresas. Nesse sentido, pesquisas utilizaram diferentes medidas de
internacionalização para identificar suas associações com a qualidade do conselho de
administração (Ihlenffeldt, 2018); com a estrutura organizacional das empresas (Honório,
2009), com o perfil exportador (Santos, Vasconcelos & De Luca, 2013; Platchek & Floriani,
2013), com as práticas de governança corporativa (Souza, Murcia & Marcon, 2011; Maia,
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Vasconcelos & De Luca, 2013; Santos, Vasconcelos & De Luca, 2015), e com a autonomia
estratégica e operacional (Fundação Dom Cabral, 2016). Os resultados dessas pesquisas
apresentaram evidências de que a excelência da estrutura de governança viabiliza
investimentos e pode alicerçar a construção de empresas mais propensas a se lançarem à
novos mercados via internacionalização.
Assim, entende-se que o Conselho de Administração apresenta atribuições que
propiciam maior credibilidade e responsabilidade à gestão corporativa, maior
comprometimento dos agentes envolvidos em adoção de boas práticas de gestão e que o
Conselho de Administração se constitui no pilar estrutural da governança corporativa
interferindo nas ações estratégicas das corporações. Isto sugere que empresas que possuem
Conselhos de Administração constituídos, observando-se determinadas estruturas,
composições, características e processos teriam maior potencial para influenciar no índice de
internacionalização das empresas. Dessa forma, apresenta-se a seguinte hipótese de pesquisa:
Hipótese 1: O índice de qualidade do conselho de administração é positivamente relacionado
com a internacionalização de empresas brasileiras que possuem níveis diferenciados de
governança corporativa.
3 METODOLOGIA
Este estudo investiga empiricamente as relações a Qualidade do Conselho de
Administração (QCA) e medidas de Internacionalização (INTER) sob a lente teórica da
Teoria Agência. Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva e causal, na medida em que
mapeia e avalia as características de empresas brasileiras que negociam suas ações na [B]3
(Brasil, Bolsa, Balcão) para identificar relações confirmatórias da influência do QCA na
INTER. Nesse sentido, o estudo, ex-post facto, está delimitado às empresas que possuem
alguma política de internacionalização relacionada à destinação de parte de seus ativos em
investimentos no exterior, receitas operacionais derivadas de transações com o mercado
externo ou parte de capital humano exercendo atividades em subsidiárias situadas no exterior.
Para a análise dos resultados emprega-se o software Gretl®, aplicando-se a
metodologia de Regressão Linear com Dados em Painel. Com relação à distribuição das
empresas da amostra por setor econômico, optou-se por seguir a classificação disponibilizada
pela [B]3 que divide as empresas em dez setores econômicos.
A população foi composta por todas as empresas listadas na [B]3 que apresentam
algum índice de internacionalização, incluindo instituições financeiras e fundos de pensão.
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Para a coleta dos dados financeiros utilizou-se o banco de dados do Bloomberg®; e para os
itens relacionados à qualidade do Conselho de Administração, as informações oriundas dos
Formulários de Referências disponibilizados no website da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM). Em maio de 2019, o banco de dados reunia 488 empresas brasileiras com registro
ativo.
Na Tabela 1 apresentam-se os critérios adotados para a definição da amostra da
pesquisa.
Tabela 1 - Processo de seleção da amostra
Critério Empresas
População das empresas com registro ativo na [B]3 entre o ano de 2012 a 2018 488
(-) Empresas que não possuem qualquer nível de internacionalização no período -383
Empresas que possuem internacionalização no período (pelo menos um ano) 105
Empresas que não eram internacionalizadas no período 2012 até 2018 -20
Amostra Final 85
Fonte: Dados da pesquisa
Após analisar as 488 empresas ativas na [B]3 encontrou-se 105 empresas que
apresentaram algum índice de internacionalização no período de 2012 a 2018. Na sequência
descartou-se 20 empresas que não apresentavam os dados para a maioria dos anos do período
pesquisado, resultando uma amostra final de 85 empresas, constituindo um painel balanceado
com 595 observações.
Na Tabela 2 apresentam-se os setores econômicos comtemplados pelo estudo, com a
participação percentual das empresas que pertencem a cada setor.
Tabela 2 - Empresas da amostra classificadas por setor econômico
Setor Econômico Número de Empresas %
Bens Industriais 23 27,06
Consumo Cíclico 17 20,00
Consumo não Cíclico 11 12,94
Materiais Básicos 15 17,65
Petróleo, Gás e Biocombustíveis 4 4,70
Saúde 3 3,53
Tecnologia da Informação 3 3,53
Utilidade Pública 1 1,18
Financeiro 6 7,06
Telecomunicações 2 2,35
Total 85 100
Fonte: Dados da pesquisa.
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A literatura aponta atributos que fundamentam a atuação e a função do Conselho de
Administração que podem impactar na continuidade das empresas. Zahra e Pearce (1990)
definem como atributos que afetam o desempenho do Conselho de Administração: a estrutura;
a composição; as características; e os processos.
Este estudo propõe mapear a Qualidade do Conselho de Administração utilizando um
índice que será denominado de Índice de Qualidade do Conselho de Administração (IQCA)
(Ihlenffeldt , 2018) para contemplar os atributos sugeridos por Zahra e Pearce (1990). Estes
atributos estão dispostos no Quadro 1.
Quadro 1 - Métrica para o Índice de Qualidade do Conselho de Administração
Itens Descrições Fonte
ESTRUTURA DO CONSELHO
1 CEO e presidente do Conselho são pessoas diferentes item 2.10
2 CEO não participa do Conselho de Administração item 2.10
3 Conselheiros independentes representam 50% ou mais do Conselho de Administração item 2.16
4 O Controlador Acionário elege o Presidente do Conselho de Administração item 5.2
5 Renovação dos mandatos dos Conselheiros ocorre a cada 2 anos item 2.7
6 Eleição de todos os membros do Conselho de Administração ocorre na mesma Assembleia item 2.7
7 Conselheiros independentes não possuem vínculo empregatício algum com a companhia item 2.16
8 O Conselho Fiscal está instalado em caráter permanente item 2.34
9 Comitê de Gestão de Riscos Corporativos está estruturado e em funcionamento item 2.3.1
10 Comitê de Divulgação de Fatos Relevantes está estruturado e em funcionamento item 3.3
11 Estão bem definidas as atribuições dos Conselheiros Independentes item 2.16
12 Comitê de Compliance está estruturado e em funcionamento item 3.3
COMPOSIÇÃO DO CONSELHO
13 Conselho de Administração possui entre 5 e 11 membros item 2.14
14 Comitê de Remuneração é composto por Conselheiros Independentes item 2.24
15 Comitê de Auditoria é composto por Conselheiros Independentes item 2.28
16 Existem membros estrangeiros no Conselho de Administração item 2.4
17 Não existem conselheiros internos empregados da empresa item 2.15
18 Não há a figura de Conselheiros Suplentes item 2.13
19 Presidente do Conselho de Administração não possui sobrecarga (máximo 2 empresas) item 2.8.1
20 Membros do Conselho de Administração não possuem sobrecarga (máximo 5 empresas) item 2.8.1
CARACTERÍSTICAS DO CONSELHO
21 A maior parte dos conselheiros possuem especialização Lato Sensu item 2.5
22 A maior parte dos conselheiros possuem especialização Stricto Sensu item 2.5
23 Pelo menos um conselheiro possui experiência profissional em finanças e contabilidade item 2.4
24 Há um especialista no setor do negócio que pertence ao Conselho item 2.4
25 Há Conselheiros com comprovado conhecimento e experiência no mercado internacional item 2.4
26 Conselheiros já foram CEO's de outras empresas item 2.10
27 O Comitê de Auditoria possui pelo menos um membro da área contábil item 2.30
28 Há programa de treinamento de membros do Conselho de Administração item 2.2
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PROCESSO DO CONSELHO
29 O Conselho de Administração segue Código de conduta segundo os valores da empresa item 6.3
30 Existem mecanismos interno/externo de avaliação dos conselheiros item 2.18
31 Existem canais de atendimento aos minoritários para inclusão de propostas na Assembleia item 2.32
32 Há mecanismos para identificação de conflitos de interesse entre os conselheiros item 6.2
33 Há mecanismos para avaliação de projetos com impactos socioambientais item 2.3.2
34 Há alinhamento interno dos pronunciamentos públicos para divulgação aos investidores item 2.3.3
35 Há avaliação dos conselheiros com base no envolvimento ou participação nas reuniões item 2.18
36 Existe Ouvidoria ou Canais de Denúncia item 2.32
37 As reuniões do Conselho de Administração são presenciais item 2.38
38 As Assembleias Gerais Ordinárias são transmitidas por teleconferências item 1.4.2
39 O Conselho de Administração avalia o CEO item 3.8
40 Conselheiros são avaliados anualmente por especialistas externos independentes item 2.18
Fonte: Elaborado pelos autores com base no IBGC (2015)
Para atender aos objetivos do estudo e analisar a influência da qualidade do Conselho
de Administração sobre as medidas de internacionalização, utiliza-se da regressão linear com
a utilização de dados em painel balanceado. São testados como variável dependente o Índice
de Internacionalização (INTER) e como variável independente o Índice de Qualidade do
Conselho de Administração (IQCA). São utilizados como variáveis de controle: o número de
países em que a empresa atua; o tempo de internacionalização; o tamanho da empresa; os
níveis de governança corporativa e a alavancagem. Nesse estudo foi utilizado a regressão
descrita na Equação 2.
INTERi,t = β0 + β1 IQCAi,t + β2 PAISi,t + β3 TEMPi,t + β4 TAMi,t + β5 GOVi,t + β6ALAVi,t + εi,t ( 2 )
Em que,
INTERi,t = índice de Internacionalização obtido por meio da Metodologia UNCTAD que determina os resultados
para empresa i no período t;
IQCAi,t = índice de Qualidade do Conselho de Administração capturada através da métrica;
PAISi,t = Número de países em que a empresa i atua no período t;
TEMPi,t = Tempo de internacionalização da empresa i no período t;
TAMi,t = Tamanho da empresa i no período t;
GOVi,t = Nível de Governança Corporativa, segmentos diferenciados [B]3 (NM, N1 e N2) da empresa i no
período t;
ALAVi,t = Alavancagem da empresa i no período t;
β0 = constante, intercepto do modelo; período t; empresa i;
β1 , β2 , β3 , β4 , β5 , β6 = Coeficientes estimados da regressão;
εi,t = Estimativa de erros aleatórios da regressão.
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Espera-se que o INTERit seja influenciado positivamente pelo IQCAit. Dessa forma, as
quatro categorias que compõem a métrica estão fundamentalmente inspiradas nas
recomendações do Código das melhores práticas de Governança Corporativa do IBGC (2015)
que procuram agrupar, por natureza de interesse, os assuntos que são abordados, servindo
com uma forma de direcionar a busca pelos objetivos da pesquisa.
O Índice de Qualidade do Conselho de Administração (IQCA) foi codificado a partir
das informações disponibilizadas pelas 85 empresas da amostra nos Formulários de
Referência nos anos de 2012 a 2018, disponíveis no site da [B]3. Para codificação do IQCA o
estudo utiliza a metodologia de Ihlenffeldt (2018). Foram atribuídos 2 pontos se a afirmativa
proposta na métrica for “Sim”; 1 ponto se a afirmativa for “Não”; e 0 (zero) pontos quando a
empresa não declarar as informações propostas para cada um dos itens do índice. Em função
desses critérios para codificação, as empresas receberão uma pontuação individual absoluta
que pode variar entre 0 e 80 pontos, que são os 40 itens da métrica vezes a pontuação máxima
de dois pontos. Para o cálculo do IQCA será dividida a pontuação absoluta de cada empresa,
pela pontuação absoluta máxima da métrica, resultando em um índice que varia em uma
escala de 0 a 1. Valores mais próximos de 1 representam melhor Qualidade do Conselho de
Administração.
O Índice de Internacionalização (INTER) foi codificado a partir das informações
disponibilizadas pelas empresas da amostra nos Formulários de Referência nos anos de 2012
a 2018, e mensurado utilizando as três dimensões da internacionalização: mercado (receitas
no exterior); recursos humanos (colaboradores no exterior); e investimentos (ativos no
exterior). Esses dados foram levantados a partir das informações disponíveis nos Formulários
de Referencia: item 7.6 - receitas provenientes do exterior; item 14.1 - colaboradores no
exterior e item 9.1.a – relação dos ativos no exterior, com os valores identificados a partir dos
Relatórios da Administração e Notas Explicativas. As 85 empresas da amostra realizaram
exportações e, portanto, relataram possuir receitas no exterior, sendo essa, a principal forma e
o primeiro contato das empresas com a internacionalização. Além disso, 44 empresas também
apresentam a dimensão recursos humanos caracterizados pela presença de funcionários no
exterior. Para mensurar o INTER o estudo utiliza a metodologia da United Nations
Conference on Trade and Development [UNCTAD] (1996).
A metodologia UNCTAD (1996) é empregada para verificar o grau de expansão de
investimentos das empresas no exterior. O INTER resulta da média simples de indicadores
observados em três dimensões: investimentos diretos, observado a partir da análise dos ativos
da empresa no exterior; mercado consumidor, capturado a partir do volume de receitas no
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exterior; e capital humano, resultante da proporção de funcionários no exterior, conforme
apresentado na Equação 1.
𝐼𝑁𝑇𝐸𝑅𝑖𝑡 = (
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠
+𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎𝑠 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎𝑠 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠+
𝐹𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟𝐹𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠
)
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(1)
O índice UNCTAD (1996) emprega dimensões que permitem comparações entre
empresas de setores distintos e de países de diversas origens, variando de 0 a 1. Valores mais
próximo de 1 representam melhores índices de internacionalização, decorrente da média
simples dos itens da Equação 1. O índice é adequado para realizar comparações entre
empresas de setores diferentes, tendo em vista que cada setor possui peculiaridades em
relação à conquista do mercado e a permanência no exterior. Assim, a utilização de três
indicadores, é justificada por promover o equilíbrio das diversificadas formas de
internacionalização e valoriza as atuações globais de empresas de todos os setores, o que
viabiliza uma análise multisetorial (Fundação Dom Cabral, 2016).
As variáveis de controle são utilizadas para avaliar de forma mais eficiente, as relações
entre as variáveis independentes e dependentes, aumentando a potência explicativa da
regressão linear. Trata-se de variáveis para amenizar, anular ou neutralizar qualquer efeito
colateral que possa vir aumentar a estimativa de erro e distorcer os resultados obtidos. As
escolhas das variáveis de controle são: número de países em que as empresas atuam; tempo de
internacionalização; tamanho da empresa, níveis de governança corporativa da [B]3; e
alavancagem. No Quadro 2 apresentam-se as variáveis dependente, independente e de
controle empregadas no modelo estatístico.
Quadro 2 - Variáveis da Pesquisa
Variável Código Classificação Definição Operacional Mensuração Relação
Esperada Índice de
Internacionalização INTER Dependente
Grau de relacionamento
da empresa no exterior Índice UNCTAD
Índice de Qualidade
do Conselho de
Administração
IQCA Independente
Melhores práticas do
Conselho de
Administração
Métrica IQCA +
Países onde atua PAIS Controle Países onde a empresa
realiza seus negócios Número de países +
Tempo
Internacionalização TEMP Controle
Experiência da empresa
atuando no exterior
Tempo em número de
meses +
Tamanho TAM Controle Porte da empresa Logaritmo natural (Ln)
do Ativo Total +
Níveis Governança GOV Controle Classificação da [B]3 Níveis Governança
NM, N1, N2 +
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Alavancagem ALAV Controle Captação de recursos em
relação aos investimentos
Razão entre Capital
Terceiros e Ativo Total +
Fonte: Elaborado pelos autores.
O número de países em que a empresa atua (PAÍS) descreve a lógica de estudos
anteriores que afirmam que o maior número de países em que as empresas atuam, propiciam
maior conhecimento do mercado e do comportamento cultural da sociedade do país de destino
(Ietto-Gillies, 2013; Johanson and Vahlne, 1977).
O tempo de internacionalização (TEMP) é compreendido como um conjunto de
relações formadas por players, com maior ou menor inserção internacional e do número de
ligações que a empresa desenvolve com outros países (Johanson and Vahlne, 1977; Ietto-
Gillies, 2013, e esse fator tempo possibilita entender o impacto da internacionalização no
desempenho econômico e financeiro das empresas (Maia, Vasconcelos and De Luca, 2013;
Cazurra, 2012; Andrade and Galina, 2013).
O tamanho (TAM) descreve que as empresas maiores possuem uma tendência mais
elevada a se internacionalizarem, em função do volume de transações que realizam no
mercado interno e com outros países, quando comparadas às de menor porte, e que as
complexas estratégias de internacionalização são influenciadas fortemente pelo tamanho da
firma (Honório, 2009; Maia, Vasconselos and De Luca, 2013).
Os níveis de governança (GOV) examinam se os segmentos diferenciados de
governança corporativa pode influenciar o índice de internacionalização de empresas
brasileiras de capital aberto, se apresentando como importante variável na relação com a
internacionalização (Maia, Vasconcelos e De Luca, 2013; Souza, Murcia and Marcon, 2011;
Correia, Amaral and Louvet, 2011).
A alavancagem (ALAV) é formado pela razão da soma do exigível de curto e longo
prazos ou o total do capital de terceiros pelo valor contábil do ativo total, sugerindo que
organizações com alta alavancagem podem ser pressionadas pelos acionistas e sócios
investidores a conquistar níveis de excelência em governança corporativa (Black, Jang and
Kim, 2006).
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A apresentação e discussão dos resultados foram divididas em dois momentos
distintos. Primeiro, apresenta-se a descrição do INTER (variável dependente), do IQCA
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(variável independente) e a descrição das variáveis de controle. Na sequência, demostram-se
as inferências estatísticas cotejadas com a literatura que embasou o estudo.
Na Tabela 1 apresentam-se as estatísticas descritivas do Índice de Qualidade do
Conselho de Administração (IQCA) no período. A média do IQCA no período foi de 0,67658,
sendo o valor mais alto de 0,76765 em 2018 e o menor valor de 0,66765 em 2012, indicando
que um aumento gradativo desse índice ao longo do tempo.
Tabela 1 – Estatística descritiva do Índice de Qualidade do Conselho de Administração
Medidas Estatísticas Período
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2012-2018
Média 0,66765 0,68426 0,71588 0,72412 0,75265 0,76397 0,76765 0,67658
Desvio Padrão 0,12175 0,09742 0,06188 0,10105 0,10403 0,09999 0,80308 0,19846
Coeficiente de Variação 0,18235 0,14237 0,08644 0,13955 0,13822 0,13088 0,13203 0,13598
Mediana 0,68750 0,68750 0,72500 0,73750 0,77500 0,77500 0,78750 0,73929
Mínimo 0,00000 0,00000 0,53750 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,07679
Máximo 0,82500 0,82500 0,82500 0,83750 0,86250 0,88750 0,90000 0,85179
Fonte: Dados da pesquisa.
O coeficiente de variação do IQCA apresentou média de 0,13598 no período, sendo o
valor mais alto de 0,18235 em 2012 e o menor valor de 0,08644 em 2014. O menor desvio
padrão foi de 0,06188 em 2014, verificando que para todos os anos analisados essa tendência
de proximidade da série estatística se manteve com a média. Nota-se uma tendência de
manutenção dos índices em torno de um valor médio, sem grandes alterações bruscas, e é
possível visualizar o crescimento do índice com a passar dos anos, sendo que o valor máximo
de 0,900 ocorreu no ano de 2018.
No início da série em 2012 os valores dos índices são inferiores e com o passar do
tempo, vão sofrendo representativo aumento, na medida em que as curvas que definem a
tendência vão se distanciando em relação ao centro, evidenciando o aumento da qualidade do
Conselho de Administração ao longo do período. Verifica-se no ano de 2018 valores mais
elevados da série, tendo em vista que as empresas tendem a buscar melhorias contínuas em
seus padrões administrativos para atender as crescentes demandas do mercado.
Na Tabela 2 apresentam-se as estatísticas descritivas da variável dependente INTER.
A média do INTER é 0,19925 no período, sendo o valor mais alto de 0,42754 em 2018 e o
menor valor de 0,11724 em 2012, evidenciam uma tendência de crescimento do INTER ao
longo do período.
13
Tabela 2 – Estatística descritiva do Índice de Internacionalização
Medidas Estatísticas Período
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2012-2018
Média 0,11724 0,13035 0,13825 0,14891 0,14780 0,28466 0,42754 0,19925
Desvio Padrão 0,13081 0,14296 0,14709 0,15082 0,14800 0,45849 0,80308 0,28304
Coeficiente de Variação 1,11570 1,09670 1,06390 1,01280 1,00140 1,61060 1,87840 1,25421
Mediana 0,08165 0,08550 0,07627 0,10278 0,09407 0,10467 0,10067 0,09223
Mínimo 0,00000 0,00194 0,00167 0,00100 0,00000 0,00000 0,00000 0,00066
Máximo 0,58900 0,54700 0,56000 0,57800 0,60700 1,60700 2,60700 1,01357
Fonte: Dados da pesquisa.
O coeficiente de variação da variável INTER representa a dispersão homogênea dos
dados, mensurado pelo quociente entre o desvio padrão da amostra e a média dos dados,
sendo que quanto menor melhor, representando assim maior precisão dos dados. Para o
período de 2012 a 2018 o coeficiente de variação apresentou o valor mais alto próximo a
1,8784 em 2018 e menor de 1,06390 em 2014.
O valor mínimo para o INTER (zero) foi verificado em alguns períodos e esse fato é
em função de que as empresas deixaram de atuar ou não eram internacionalizadas naquele
período. Nota-se uma tendência de manutenção dos índices em torno de um valor médio, na
medida em que as empresas buscam por novos mercados. Na Tabela 3 apresentam-se os
valores para a matriz de correlação de Pearson entre as variáveis do estudo.
Tabela 3 - Matriz de correlação para as variáveis do estudo
Variáveis INTER IQCA PAIS TEMP TAM ALAV GOV
INTER Coef.
1
Sig.
IQCA Coef. 0,241**
1
Sig. 0,000
PAIS Coef. 0,244** 0,095*
1
Sig. 0,000 0,021
TEMP Coef. 0,086* -0,013 0,336**
1
Sig. 0,018 0,756 0,000
TAM Coef. 0,236** 0,481** 0,166** 0,013
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,749
ALAV Coef. -0,001 0,075 0,111** -0,127** 0,139**
1
Sig. 0,978 0,068 0,007 0,002 0,001
GOV Coef. 0,210** 0,329** 0,016 -0,162** 0,162** -0,144**
1 Sig. 0,000 0,000 0,692 0,000 0,000 0,000
Nota. Fonte: Elaborado pelos autores. As significâncias entre as variáveis são representadas da seguinte forma:
* e ** indicam significância de 5% e 1%, respectivamente. Salienta-se que os dados desta tabela permitem a
aferição sobre o nível de significância para todos os resultados apresentados. Variáveis da Matriz de Correlação:
14
INTER – Índice de Internacionalização; IQCA – Índice de Qualidade do Conselho de Administração; TAM é o
tamanho da empresa medido pelo Logaritmo natural (Ln) do ativo total da empresa; PAIS é o número de países
com os quais a empresa se relaciona; TEMP é a quantidade de anos em que a empresa desenvolve atividades no
exterior; GOV são os segmentos de listagem da empresa na [B]3; e ALAV é a alavancagem financeira da
empresa. Número de observações por variável: 595 no período compreendido entre 2012-2018.
Fonte: Dados da pesquisa.
Destaca-se a relação entre IQCA e GOV que é positiva e significativa ao nível de 1%,
confirmando os estudos que enfatizam que empresas onde é evidenciada a maior qualidade da
governança corporativa, atraem mais investimentos, sinalizando que a governança
corporativa, por meio de seus princípios e instrumentos, exerce um importante papel no
processo de internacionalização de empresas. Assim, maiores índices de internacionalização
exigem maiores índices de qualidade de governança corporativa (Correia, Amaral and Louvet,
2011). Esses resultados confirmam os estudos que analisaram e identificaram a relação
positiva existente entre o percentual de capital social estrangeiro proxy para
internacionalização, e sua associação com o ao alto índice de governança, capturada através
da listagem das empresas nos níveis diferenciados de governança corporativa da
BM&FBovespa (Souza, Murcia and Marcon 2011).
A relação entre INTER e PAIS é positiva e significativa ao nível de 1%, confirmando
os estudos que defenderam que existem variáveis relacionadas aos países de destino, para os
quais a empresa direciona seus esforços exportadores, que podem explicar o sucesso das
empresas nas operações que levam a internacionalização, e ainda, o próprio número de países
com os quais a empresa desenvolve suas redes de relacionamento, os aspectos culturais e as
estratégias de entrada nos mercados desses países (Carneiro, 2007).
A relação entre IQCA e TAM é positiva e significativa ao nível de 1%, argumentando-
se, assim, que empresas maiores possuem mais recursos disponíveis e maiores possibilidades
de entrar em mercados internacionais mais distantes que exigem esforços adicionais, e podem
dispender e comprometer recursos para fins de se posicionarem em outros países,
estabelecendo relacionamentos profundos com um número cada vez maior de parceiros
internacionais (Cazurra, 2012).
4.1 ANÁLISE INFERENCIAL
A verificação da relação entre os dados coletados são analisados a partir da regressão
linear múltipla descrito na equação 2 com a utilização de dados em painel balanceado. A
partir da geração dos dados em painel no modelo MQO agrupado executam-se os
15
diagnósticos do painel que permite identificar, a partir dos testes de Chow, Breusch-Pagan e
Hausman, qual o modelo é mais adequado para o estudo, o MQO agrupado para dados em
painel empilhados, os efeitos fixos ou efeitos aleatórios, em função das características dos
dados coletados. Na Tabela 4 apresentam-se os resultados dos testes de diagnóstico do painel.
Tabela 4 - Diagnóstico do Painel
Teste Coeficiente p-valor
Teste de Chow 4,33883 0,0001
Teste de Breusch-Pagan 152,47 0,0000
Teste de Hausman 50,7978 ,0,0000
Fonte: Dados da pesquisa.
O Teste de Chow define se o modelo mais adequado é o MQO agrupado ou efeitos
fixos. Com base nas informações da Tabela 4, infere-se que se o nível de significância do
Teste de Chow for menor que 0,05 se aceita a hipótese alternativa da existência de efeitos
fixos. A significância conjunta da diferenciação das médias de grupo foi de F(7, 581) =
4,33883 com p-valor 0,0001. Nesse caso, o p-valor 0,0001 descartou a utilização do MQO
agrupado e apontou a utilização do modelo de Efeitos Fixos.
O Teste de Breusch-Pagan aponta se o modelo mais eficiente é o MQO agrupado ou
efeitos aleatórios. O teste apresentou a estatística de Breusch-Pagan LM = 152,47 com p-valor
0,0000, sendo que um p-valor menor que 0,05 contraria a hipótese nula de que o modelo
MQO agrupado (pooled) é o mais adequado, validando a hipótese alternativa da existência de
efeitos aleatórios. Nesse caso, o p-valor 0,0000 descartou a utilização do modelo MQO
agrupado apontando os efeitos aleatórios como o modelo mais apropriado.
O Teste de Hausman decide entre efeitos fixos ou efeitos aleatórios, nos casos em que
os testes de Chow e Breusch-Pagan apontaram cada um para um tipo de efeito. O teste
apresentou a estatística do teste de Hausman H = 50,7978 com p-valor 0,0000, sendo que um
p-valor menor que 0,05 contraria a hipótese nula de que o modelo de efeitos aleatórios é mais
consistente, dessa forma, valida-se a hipótese alternativa da existência de efeitos fixos. Assim,
em função de que os testes de Chow e Haunsman confirmaram a consistência da utilização do
modelo de efeitos fixos, utiliza-se esse modelo no estudo.
O teste de normalidade dos resíduos apresentou um p-valor 0,000, assim, se aceita a
hipótese nula de que o erro tem distribuição normal. O teste de Durbin Watson com valor de
0,334233 e p-valor de 0,0000 insere a amostra em uma zona de ausência de autocorrelação. O
16
Teste de White para heterocedasticidade apresentou coeficiente 80,353892 e p-valor 0,00000
aceitando a hipótese nula da não existência de heterocedasticidade.
Em função de que os testes apontaram que os dados da pesquisa não são
heterocedásticos, aliada a confirmação de que o modelo de efeitos fixos é a forma mais
adequada para se analisar as variáveis da regressão, apresenta-se na Tabela 5, os resultados da
regressão utilizando dados em painel no modelo de efeitos fixos, contendo 595 observações
distribuídas em 85 unidades de corte transversal e com comprimento de série temporal igual a
7 períodos (anos), relacionando as variáveis (dependente, independente e de controle)
totalizando 4.165 observações.
Tabela 5 – Análise da regressão em painel de dados no modelo de efeitos fixos
Variável Coeficiente Erro-padrão razão -t p-valor
Constante -0,620538 0,123773 -5,014, 0,000000708***
IQCA 0,411752 0,166087 2,479 0,0134**
PAIS 0,00191370 0,000402757 4,751 0,000000260***
TEMP 0,0000704998 0,0000728953 0,9671 0,3339
TAM 0,0230192 0,00806682 2,854 0,0045***
GOV 0,0437473 0,0120750 3,623 0,0003***
ALAV -0,0226616 0,0461658 -0,4909 0,6237
Nota. Fonte: Elaborado pelos autores. As significâncias entre as variáveis são representadas da seguinte forma:
** e *** indicam significância de 5% e 1%, respectivamente. Variável dependente Índice de
Internacionalização (INTER); Variável Independente Índice de Qualidade do Conselho de Administração
(IQCA). Variáveis de Controle: TAM mede o porte da empresa medido pelo Logaritmo natural (Ln) do ativo
total da empresa; PAIS avalia o número de países com os quais a empresa se relaciona; TEMP, mensura a
quantidade de anos que a empresa desenvolve atividades no exterior; GOV indica o segmento de listagem da
empresa na B3; ALAV é a alavancagem financeira da empresa.
Fonte: Dados da pesquisa.
Os resultados permitem afirmar que estatisticamente a relação entre o Índice de
Qualidade do Conselho de Administração (IQCA) e o Índice de Internacionalização (INTER)
das empresas da amostra é significativa ao nível de 1%, apresentando p-valor 0,000000708.
Como complemento do nível de significância, o nível de confiança dessa relação é da ordem
de 99%, indicando os intervalos de confiança que construídos de forma aleatória contêm o
resultado do teste de hipótese do estudo, ou seja, o INTER pode ser explicado pelo IQCA.
Esse resultado ratifica os estudos que afirmam que a qualidade do Conselho de Administração
fundamentada nas melhores práticas de governança corporativa tem importância no processo
de internacionalização, à medida que contribui para reduzir a percepção do risco por parte dos
investidores externos (Souza, Murcia and Marcon, 2011).
A variável de controle PAÍS é medida com base no número de países onde a empresa
realiza seus negócios, apresentando um p-valor de 0,000000260, positivo e estatisticamente
17
significativo ao nível de 1%, reforçando que o processo de internacionalização está
relacionado não apenas com a capacidade da empresa de atuar no mercado interno, mas da
sua inserção e posição no mercado global; e que empresas internacionalizadas encontram
facilidades para conquistar fatias em novos mercados consumidores de outros países
(Andrade and Galina, 2013). A variável TEMP verificou o tempo de experiência da empresa
atuando no exterior, apresentando um p-valor de 0,3339, assim, não é estatisticamente
significativa e não contribui para o entendimento de que o tempo de experiência e
conhecimento auxilia a empresa a fomentar o aumento da rede de relacionamentos externos
no mercado internacional. A variável TAM mede o porte da empresa, apresentando um p-
valor de 0,0045, positivo e estatisticamente significativo ao nível de 1%, verificando que
existe uma relação que determina que empresas de grande porte apresentam INTER mais
elevados em relação às pequenas empresas. A variável ALAV com p-value de 0,6237 não é
estatisticamente significativa e não contribui para explicar o INTER.
A variável de controle GOV analisou o nível diferenciado de governança corporativa
utilizando a listagem da [B]3, apresentando um p-valor de 0,0003, positivo e estatisticamente
significativo ao nível de 1%, contribuindo para explicar a relação do INTER das empresas
estudadas. Esse resultado confirma estudos que sinalizam que a governança corporativa, por
meio de seus princípios e instrumentos, exerce importante papel no processo de
internacionalização de empresas; e que maiores INTER exigem maior qualidade de
governança corporativa (Correia, Amaral and Louvet, 2011; Maia, Vasconcelos and De Luca
2013; Domingues and Muritiba, 2016).
5 CONCLUSÕES
Este estudo teve por objetivo analisar a influência da qualidade do conselho de
administração na internacionalização das empresas brasileiras que possuem níveis
diferenciados de governança corporativa.
Utilizando o Índice de Internacionalização (INTER) e o Índice da Qualidade do
Conselho de Administração (IQCA) para mapear a qualidade do Conselho de Administração
verificou-se que: (1) os dados coletados do IQCA no período analisado de 2012 a 2018
indicam que há consistência interna do instrumento de pesquisa; (2) as inferências estatísticas
confirmam a hipótese do estudo de que o INTER pode ser explicado pelo IQCA, com
significância de 5% e nível de confiança da ordem de 95%; (3) a variável PAÍS e TAM
possuem força estatística para explicar o índice de internacionalização; e a variável ALAV e
18
TEMP não é estatisticamente significativa e não contribui para explicar o índice de
internacionalização; (4) a variável de controle GOV é positivo e estatisticamente significativo
ao nível de 1%, contribuindo para explicar a relação do INTER das empresas estudadas,
sinalizando que a governança corporativa, por meio de seus princípios e instrumentos, exerce
importante papel no processo de internacionalização de empresas; (5) o crescimento do IQCA
no período analisado permite identificar a crescente preocupação das empresas no caminho de
adotar as melhores práticas de governança; (6) a relação entre IQCA e GOV é positiva e
significativa ao nível de 1%, evidenciando que empresas com maior IQCA tem potencial para
influenciar nos INTER das empresas brasileiras internacionalizadas que apresentam níveis
diferenciados de governança corporativa.
O estudo contribui para a discussão dos mecanismos internos de Governança
Corporativa, representados pela busca da excelência na atuação dos Conselhos de
Administração, que colaboram para a amplitude das discussões dessa temática. Em função da
crescente participação no mercado, o investidor tem exigido maior segurança para o capital,
na medida em que incorpora novos aportes de investimentos internos e externos que abrem
novos caminhos para internacionalização das empresas.
Os resultados alcançados ratificam os estudos anteriores que utilizaram diferentes
medidas de internacionalização para identificar suas associações com a estrutura
organizacional e as melhores práticas de governança corporativa e que apresentaram
evidências de que a excelência da estrutura de governança viabiliza investimentos e pode
alicerçar a construção de empresas mais propensas a se lançarem à novos mercados via
internacionalização. Em termos perceptivos, os resultados alcançados evidenciam que
empresas que apresentam melhores índices de Qualidade do Conselho de Administração estão
mais aptas a atuarem em outros países, em função da influência positiva que as ações de
melhores práticas de governança corporativa, aqui representadas pelo IQCA.
Como limitação da pesquisa ressalta-se que o estudo considerou apenas empresas que
possuem certo índice de internacionalização, não sendo levados em consideração empresas
que ainda estão desenvolvendo atividades com a finalidade de se tornarem
internacionalizadas. Outra limitação é a subjetividade na seleção dos itens da métrica para
qualidade do conselho de administração, com base nas melhores práticas de Governança
Corporativa do IBGC (2015).
Para pesquisas futuras sugere-se a ponderação do índice de internacionalização com a
adoção de pesos para as dimensões: mercado, recursos humanos e investimentos, viabilizando
a construção de um índice que atenda às peculiaridades das empresas brasileiras. O Índice de
19
Qualidade do Conselho de Administração pode ser ampliado e avaliado com a identificação
de pesos para cada categoria da métrica.
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