Post on 10-Jul-2020
ISSN 2176-1396
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA PARA O
RECONHECIMENTO, PREVENÇÃO E COMBATE DO Aedes aegypti
Henrique José Polato Gomes1 - PUCPR
Keila Renê Bastos2 - PUCPR
Eixo – Didática
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
Com o intuito de levar a conscientização sobre os perigos oferecidos pelo Aedes aegypti às
crianças da Educação Municipal em Pinhais – PR, esse projeto de pesquisa foi desenvolvido
objetivando uma atividade lúdica eficiente, voltada para a educação infantil. Inicialmente, um
questionário foi realizado com docentes da unidade escolar para verificar as ações planejadas
pela prefeitura e/ou realizadas dentro da autonomia da própria escola, além de buscar verificar
se ações dessa natureza foram trabalhadas na formação inicial dos/das docentes. Com base
nessas respostas, especialmente na identificação de uma formação inicial falha, foi planejada
e aplicada uma atividade lúdica sobre a dengue baseada na brincadeira tradicional “polícia e
ladrão”, com a intenção que a mesma despertasse o interesse e trabalhasse o tema com os
estudantes desse nível de ensino. Após a atividade, foi entregue um folder educativo para os
alunos e, depois de algumas aulas, uma pesquisa a ser entregue para os pais, buscando
verificar se a atividade foi efetiva em provocar a sensibilização, mudando os comportamentos
inclusive fora do ambiente escolar. A análise dos dados recolhidos através das entrevistas com
professores e com a direção da escola, bem como a dos questionários respondidos pelos pais
dos estudantes e observação das aplicações, foi possível perceber que, embora algumas
atitudes sejam desconhecidas e/ou pouco tomadas, a comunidade escolar demonstra
conhecimento da importância do combate ao vetor e da estimulação das crianças nesse
sentido. A atividade também surtiu impacto nas crianças, visto que os pais relataram a
mudança de comportamento e a “fiscalização” por parte deles nas atitudes familiares no
cuidado e prevenção à Dengue.
Palavras-chave: Atividade lúdica. Dengue. Ensino Fundamental I.
1 Doutorando em Genética. Biólogo e Mestre em Genética pela Universidade Federal do Paraná. Professor
Assistente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: henrique.polato@pucpr.br 2 Formada em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
E-mail: keila.bastos@outlook.com.
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Introdução
O Aedes (Stegomyia) aegypti (descrito por Linnaeus em 1762) pertence ao Reino
Animalia, Filo Arthropoda, Classe Insecta, Ordem Diptera, Família Culicidae, grupo este
grande e abundante da ordem citada. Gênero Aedes, Subgênero Stegomyia, Espécie Aedes
aegypti, exótico invasor originário do continente africano (MONTEIRO, 2014), sua dispersão
pelo mundo ocorreu da África indo da costa leste do continente em direção as Américas e
depois do oeste sentido Ásia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016b). O Aedes (Stegomyia)
albopictus (descrito por Skuse em 1894) é responsável pela transmissão da dengue na Ásia,
porém, até então, não havia associado aos casos de dengue no Brasil (MONTEIRO, 2014).
Foi provavelmente durante o período da escravatura que ocorreram os primeiros
registros do Aedes aegypti no Brasil. A primeira epidemia de febre amarela foi registrada no
Brasil em 1685 no Recife, e, no ano seguinte, o Aedes aegypti foi identificado na Bahia como
provável vetor da doença, sendo responsável por cerca de 25.000 doentes e 900 óbitos. 164
anos mais tarde, novos registros são feitos em Salvador onde foi responsável por 2.800 mortes
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
Posteriormente, o mosquito instalou-se no Rio de Janeiro e provocou a primeira
epidemia de Febre Amarela no estado, causando mais de 9.600 doentes e 4.160 óbitos no
total. Entre 1850 e 1899, se dispersou pelo país levando a epidemia consigo do Rio Grande do
Sul até o Amazonas, seguindo o rumo da navegação marítima. Apenas em 1881 o médico
Carlos Finlay comprovou que o Aedes aegypti era realmente o transmissor da Febre Amarela
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011; MONTEIRO, 2014).
Com base nos achados de Finlay, Emílio Ribas inicia na cidade de Sorocaba, em 1901,
a primeira campanha contra a Febre Amarela, adotando medidas específicas contra o Aedes
aegypti; em 1903 Oswaldo Cruz, nomeado Diretor-Geral de Saúde Pública, criou o Serviço de
Profilaxia da Febre Amarela e então a mesma foi eliminada do Rio de Janeiro em 1909, antiga
capital federal. Contudo, entre 1928 e 1929 uma nova epidemia de Febre Amarela apareceu
no Rio de Janeiro com 738 casos, levando o professor Clementino Fraga a organizar uma
campanha contra a doença, visando o combate do mosquito transmissor durante a fase larval.
O Serviço de Profilaxia da Febre Amarela só foi estendido a todo o território nacional em
1931 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011; MONTEIRO, 2014).
É descoberto no ano de 1938 que outros mosquitos silvestres como Haemagogus
(Conopostegus) capricornii (descrito por Lutz em 1904) e Haemagogus (Conopostegus)
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leucocelaenus (descrito por Dyar e Shannon em 1924) podem ser transmissores naturais da
Febre Amarela. Também se comprova os Haemagogus spegazzinii (descrito por Brethes em
1912), Aedes scapularis (descrito por Rondani em 1848), Aedes fluviatilis (descrito por
Meigen em 1818) e Sabethes cloropterus (descrito por Humboldt em 1819) como
transmissores silvestres da doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011; MONTEIRO, 2014).
Após a erradicação do Anopheles gambiae (descrito por Giles em 1926) – mosquito
transmissor da malária e que infestava grande parte do nordeste – foi proposta a erradicação
do Aedes aegypti, a qual foi presumivelmente alcançada em 1955. Em 1958, na Conferência
Sanitária Pan-americana, nosso país declara o Aedes aegypti erradicado de seu território
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
Em 1967, houve uma nova constatação da presença do Aedes aegypti em 24
municípios do Estado do Pará; mas em 1973, o vetor foi novamente considerado erradicado.
Três anos mais tarde, 1976, foram descritos novos registros, desta vez no estado da Bahia,
com o mosquito se disseminando entre 1978 e 1984 por grande parte do país. Os únicos locais
não atingidos nesse momento foram o estremo sul e a região amazônica (MONTEIRO, 2014).
Em 1986, pela primeira vez no Brasil, foi registrado foco de Aedes albopictus, no
estado do Rio de Janeiro. Oito anos depois, dos 26 estados brasileiros, 18 estavam infestados
por Aedes aegypti e 6 por Aedes albopictus, estando apenas o Amapá e o Amazonas livres
desses vetores. Porém, cerca de quatro anos mais tarde, todos os estados brasileiros já
possuíam registros de Aedes aegypti, enquanto Aedes albopictus estava presente em 12
estados. Dos 5.507 municípios brasileiros existentes, 3.535 estavam infestados, sendo que
1.946 Municípios apresentaram transmissão da dengue (MONTEIRO, 2014).
A Diretriz Nacional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009) cita a dengue como um dos
principais problemas de saúde pública do mundo. A Organização Mundial da Saúde estima
que 2,5 bilhões de pessoas estejam sob o risco de contrair dengue e que ocorram
aproximadamente 50 milhões de casos por ano, sendo que cerca de 550 mil casos deste total
necessitem de hospitalização e 20 mil morram em consequência da doença. A dengue nas
Américas tem mostrado uma tendência ascendente nas últimas décadas o que acarretou ao
governo de um grande número de programas de erradicação ou de controle.
O aumento de prováveis casos de dengue de 2014 para 2015 foi aproximadamente de
280%, passando de 589.107 casos para 1.649.008 com o aumento de óbitos indo de 473 para
863. O Paraná registrou 22.701 casos com 12 falecimentos em 2014 para 49.726 casos com
25 óbitos em 2015 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016a), mesmo com a incidência da
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sazonalidade e com a temperatura do estado não sendo as ideais para proliferação do Aedes
aegypti (SERPAL et al., 2006). Nos locais com essas características, a incidência maior de
casos costuma estar entre dezembro e maio, pelas questões climáticas um pouco favoráveis
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016a).
Há várias leis de combate ao vetor da dengue. Pinhais conta com duas leis de caráter
municipal: a lei 1.485 de 2013 (PINHAIS, 2013), institui a semana de combate à dengue na
penúltima semana do mês de novembro; a lei 1.611 de 2014 (PINHAIS, 2014), dispõe sobre a
prevenção à proliferação do mosquito no município de Pinhais. Já o estado do Paraná dispõe
da Lei 17.675 de 2013 (BRASIL, 2013), que estabelece mensalmente (todo dia nove) o dia
“D” de combate contra a dengue e, em âmbito nacional, temos a Lei 12.235 de 2010 (Brasil,
2010) que instituiu o dia 19 de novembro como dia nacional de combate à dengue.
A Educação Ambiental que precisa ser feita para prevenção e profilaxia dessa doença
deve, para ter alguma valia, ser concomitantemente analisada com as medidas de prevenção
citadas na Diretriz Nacional para a Prevenção e Controle de Epidemias de Dengue
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009, p. 90):
O objetivo é incentivar a divulgação de medidas de prevenção de dengue, como
forma de incentivar a população a adotar hábitos e condutas capazes de evitar a
proliferação do mosquito transmissor. Dessa forma, recomenda-se que as mensagens
de comunicação para esse cenário envolvam conteúdos educacionais e informativos.
Pode-se concluir que fazer um trabalho de conscientização sobre a profilaxia de uma
doença considerada letal já é uma forma de Educação Ambiental, pois preza a qualidade de
vida além de conservar o meio ambiente, tendo em vista que ambos os mosquitos citados não
são naturais de nosso país.
A larva deste inseto é aquática, a fêmea, hematófaga, põe os ovos muito próximos a
linha d'água, tanto em locais naturais quanto artificiais. Os ovos eclodem quando submersos,
as larvas se alimentam de algas e resíduos orgânicos e as pupas deste espécime são aquáticas
e ágeis assim como as larvas. Os indivíduos adultos não se deslocam longe do local de
origem, raramente se afastando mais que algumas centenas de metros do local de onde
emergiram (Triplehorn & Jonnson, 2011).
A proliferação e disseminação do Aedes aegypti foi e continua sendo facilitada devido
às condições atuais da vida urbana, que levaram a redução de áreas naturais e a criação de
focos propícios para o seu desenvolvimento; além disso, o combate contra ele apresenta
inúmeras limitações. A abordagem do assunto pelos meios de comunicação e pelas
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instituições de ensino deve mudar para práticas habituais e facilitadoras a ajudar a sensibilizar
sobre como evitar a proliferação do mosquito (TAUIL, 2002).
A intenção desse projeto de pesquisa foi estimular os alunos dos anos iniciais do
ensino fundamental I à prevenção de possíveis criadouros de Aedes aegypti através de uma
atividade lúdica, além de mostrar aos pais a necessidade de tornar essa atividade um hábito.
Essa modalidade foi escolhida pelo fato de ser um artifício que possibilite uma posição ativa
dos/as estudantes; isto é, que sejam participativos em relação à sua aprendizagem, visto que
atividades lúdicas são um ótimo recurso do educador para estimular seus alunos na construção
de novos conhecimentos (SHOREDER & PRUNER, 2010). Esse tipo de implementação de
projetos se justifica porque visa o incentivo aos cuidados contra a proliferação de um
mosquito causador de uma doença grave e porque tem intenção de sensibilizar que alunos
para que os mesmos, juntamente com seus pais, sejam responsáveis nos cuidados de sua
residência.
Materiais e métodos
Foram necessários para a realização deste projeto de pesquisa o total de cento e
cinquenta termos de ciência, enviados aos pais/responsáveis dos alunos envolvidos antes da
execução da atividade juntamente com mais cento e cinquenta questionários que buscavam
identificar, inicialmente, o conhecimento dos mesmos acerca das atividades relacionadas ao
Aedes aegypti fornecidas pelo município e escola para as crianças; posteriormente, buscava
verificar como a atividade lúdica aplicada repercutiu no cotidiano da família.
Ainda antes das aplicações da atividade, seis professores/as da unidade de ensino
escolhida receberam questionários na forma de entrevistas impressas, com o objetivo de
identificar medidas educacionais da escola e do município sobre o assunto, além de aspectos
relacionados à sua formação universitária. Também foram entregues a todos os estudantes
dois itens: um folder sobre os lugares de reprodução do mosquito e um adesivo semelhante ao
folder, mas que caracterizava o aluno como agente mirim.
A primeira etapa de desenvolvimento do projeto consistiu em executar entrevistas com
o intuito de conhecer como ocorrem e quais são as atividades educativas relacionadas à
prevenção de possíveis criadouros de Aedes aegypti disponibilizadas para as crianças pela
prefeitura e pela escola. Inicialmente, foi feito um levantamento das políticas públicas
realizadas pelo município de Pinhais, PR. Posteriormente, ocorreram as entrevistas com os/as
professores/as que atuam no ensino fundamental I das turmas em que esse projeto foi
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aplicado. Essas entrevistas foram realizadas e, em um momento seguinte, analisadas e
tabuladas. Seus resultados utilizados como base para a realização de uma atividade que
buscava uma ligação eficiente entre as áreas educação e saúde, e, que pode ser efetivamente
aplicada às crianças.
A atividade lúdica desenvolvida e aplicada, uma variante do tradicional “polícia e
ladrão”, tinha por objetivo levar o movimento contra o Aedes aegypti para algumas turmas
das escolas. Os materiais necessários para a execução da mesma são: 20 pares de asas de EVA
ou material semelhante, que são usadas para identificar as crianças que atuarão como
mosquitos; seis pneus; um vaso de planta; um pote de ração de cachorro e duas garrafas pet.
A aplicação requer uma área em que as crianças possam correr e se divertir. Por isso, a
mesma ocorreu na área externa das instituições escolhidas, com turmas de cerca de 30 alunos
e funcionando da seguinte forma:
1. Os alunos participantes foram divididos em dois grupos – cerca de seis alunos
atuavam como os mosquitos Aedes aegypti e o restante como os moradores da cidade –
equivalente aos policiais e ladrões, respectivamente, da brincadeira clássica. Na brincadeira
original, uma vez que o policial captura o ladrão, este fica preso temporariamente em uma
“cadeia”. Na adaptação proposta, os mosquitos perseguem os moradores e os mandam para o
hospital – análogo à cadeia da brincadeira base – quando os pegam;
2. Três alunos foram escolhidos aleatoriamente dentre os “moradores da cidade” para
representaram os agentes de saúde, cuja função é pegar os mosquitos. Se um mosquito é pego
ele sai da brincadeira temporariamente.
3. Haviam “piques” para ambos os grupos; isto é, locais onde os mosquitos não
poderiam ser pegos (pneus, vasos, potes e garrafas) e locais onde as pessoas não poderiam ser
picadas (uma casa “protegida”, representada por uma casinha própria da Escola).
4. Cada aluno “picado” por um o Aedes aegypti vai para o “hospital” e fica uma
rodada lá. O mesmo voltava na próxima rodada como mosquito, que se destacavam dos outros
alunos por usarem asas feitas em EVA.
5. A atividade foi planejada para levar em média 45 minutos desde a explicação inicial
sobre o funcionamento e regras da brincadeira, atividade propriamente dita, até o desfecho da
mesma após uma discussão para levar em conta o que as crianças acharam e se elas chegaram
a conclusão esperada e a entrega do folder.
A ideia central do combate ao vetor da dengue é a eliminação de possíveis criadouros
do mosquito. Com o tempo, os alunos perceberiam que os mosquitos sempre estariam em
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maior número, visto que os agentes de saúde nunca conseguiriam pegar todos e as pessoas
infectadas voltavam como mosquitos na próxima rodada, representando a sua rápida
proliferação. Assim, esperava-se que os alunos percebessem que apenas fugir dos mosquitos
não é a melhor estratégia.
Assim, com o número de mosquitos aumentando a cada rodada e os agentes de saúde
sobrecarregados, esperava-se que as crianças, após algumas rodadas, percebessem sem
orientação que só seria possível ganhar o jogo acabando com os focos de criadouro; visto que,
sem eles, os mosquitos perderiam o esconderijo e poderiam ser pegos pelos agentes. A
brincadeira só seria acabada quando todos os moradores estivessem contaminados ou quando
todos os mosquitos e os locais em que estes poderiam ficar a salvo estivessem eliminados.
Caso algumas rodadas se passassem e os agentes não percebessem que precisavam acabar
com os “piques” dos mosquitos ao invés dos mesmos, a brincadeira poderia ser pausada para
uma reflexão que pudesse leva-los até esse entendimento.
Ao encerramento da atividade cada participante recebeu dois itens: um folder
preparado especificamente para despertar o interesse das crianças com a intenção de fixar a
necessidade de evitar que o mosquito Aedes aegypti se prolifere; e, um adesivo (semelhante
ao mosquito do folder) do agente mirim que prova a participação dos alunos.
Com a intenção de avaliar as aplicações da atividade, foram enviados questionários de
cunho qualitativo (SILVA & MENEZES, 2005) aos pais dos alunos participantes. Os mesmos
tinham como função permitir o melhoramento de futuras atividades com o mesmo interesse.
As indagações presentes buscaram saber os comentários e a vontade das crianças em repetir
as ações referentes ao combate do mosquito em suas casas, sendo elas e seus responsáveis os
agentes de saúde.
Resultados e discussão
Inicialmente, foram feitas 6 entrevistas com alguns professores da escola, sendo quatro
com professoras regentes de turma, uma com o professor de educação especial, que
acompanha os alunos de inclusão, e outra com a diretora da instituição.
Essa entrevista consistiu em um levantamento de um breve perfil do profissional e do
seu conhecimento sobre atividades que a escola ou a prefeitura tenham desenvolvido a
respeito do tema em questão. Ela foi complementar a aplicação de um questionário com
perguntas referentes ao tema.
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Na média, os professores entrevistados têm 12,83 ± 4,17 anos de atuação nessa escola.
Nenhum dos docentes entrevistados afirmou ter algum contato com essa temática em seus
cursos de graduação e todos afirmaram que a abordagem mudou de 2015 para 2016. Os
demais resultados mais relevantes e quantificáveis da entrevista estão compilados nos gráficos
abaixo.
Gráfico 1 - Respostas para pergunta sobre campanhas e /ou orientação da prefeitura ou da escola.
Fonte: Os autores. 2016.
Gráfico 2 - Respostas para a pergunta sobre as campanhas e projetos dos/as docentes.
Fonte: Os autores. 2016.
A partir dos resultados, é possível perceber que os cursos de graduação não
contemplam esse tipo de temática e que o desenvolvimento de projetos ainda ocorre de forma
muito latente. Contudo, esse dado não é completamente inesperado, tendo em vista que esse
tema entrou em voga recentemente. É possível perceber também que, mesmo alguns
professores estando na escola há cerca de 12 anos, há discordância sobre perguntas em que
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não deveria ocorrer respostas divergentes, como nas perguntas relacionadas à existência de
orientações ou campanhas da prefeitura e da escola; enquanto alguns professores alegam a
existência de instrução da escola ou do município, outros apontam o contrário. No entanto, a
maior parte alega que sim, houve alguma espécie de instrução sobre o assunto. Ainda assim,
ela não parece suficiente para sensibilização dos professores, visto que metade deles não fez,
ao menos até o momento da aplicação do questionário, algum trabalho relacionado a este
tema. Da mesma forma, quatro professores alegaram que a escola/prefeitura oferece estímulo
para a aplicação deste conteúdo, mas existem palestras educativas promovidas pelos agentes
de combate a endemias do Município, que buscam a sensibilização dos estudantes sobre o
tema. Após essas palestras, professores e alunos comumente realizam pesquisas nos
laboratórios de informática e produzem folders, cartazes e desenhos. Os pais também estão
envolvidos neste processo (PINHAIS, 2015a). E estes trabalhos ficam expostos na sede da
Secretaria de Saúde do município na semana de combate à dengue (PINHAIS, 2015b).
Os docentes também concordaram em unanimidade que a abordagem sobre o assunto
mudou de 2015 para 2016, principalmente devido à epidemia na cidade de Paranaguá no
começo de 2016. O fato de, mesmo com todas essas informações, o número de trabalhos e
atividades realizadas ser baixo, justifica mais uma vez a realização do presente trabalho; além
disso, o professor de educação especial demonstrou-se preocupado com a futura abordagem às
crianças com microcefalia quando as mesmas entrarem em idade escolar.
Após a realização das entrevistas, a diretora permitiu a efetuação da parte lúdica deste
projeto com as turmas de 2º e 3º ano, pois as turmas de 4º e 5º ano já estavam elaborando
atividades sobre o assunto, usando o tema da dengue como assunto para a criação de textos no
estilo carta e confeccionando mosquiteiros de garrafas pet.
A aplicação se deu da seguinte maneira: foi desenvolvida numa turma do 2º ano
(crianças de 7 a 8 anos, em média) e seguiu conforme a metodologia já descrita. Antes da
aplicação prática, foram feitas algumas perguntas sobre o assunto em sala de aula para
verificação dos conhecimentos prévios. Os alunos demostraram conhecimentos fundamentais
sobre aspectos básicos da prevenção dos criadouros do Aedes aegypti, como por exemplo que
ele se desenvolve em água parada e que o ovo é pequeno, que o mosquito praticamente não
faz barulho ao voar e que é diurno. Depois do diagnóstico da turma, foi usado um momento
para a explicação das regras da brincadeira.
A turma possuía 32 alunos, os quais se dividiram inicialmente da seguinte maneira: 6
mosquitos e 3 agentes de saúde. A escola possuía uma “casinha de boneca” na área gramada
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próxima à quadra coberta, que foi usada como casa protegida; escorados nas árvores próximas
foram colocados objetos que acumulavam água – pneus, vasos de plantas, garrafas pet e
vasilhames diversos (figura 1); na primeira rodada os mosquitos venceram, isto é, pegaram
todos os moradores e não foram pegos pelos agentes. Após a esta rodada, a turma foi reunida
(figura 2) e foram feitas perguntas aos agentes sobre a dificuldade da brincadeira e se não
haveria algum jeito fácil de eliminar os mosquitos. Disseram, sem orientação, que era preciso
acabar com a água parada. Após isso foi iniciada a segunda rodada e algumas tentativas de
eliminar o mosquito depois, as crianças perceberam que eliminando os focos de água parada o
mosquito não teria mais onde se esconder e eventualmente seria pego pelos agentes de saúde.
Figura 1 - “Pique” do mosquito.
Fonte: Os autores. 2016.
Figura 2 - Pausa entre rodadas para perguntas as crianças-agentes sobre a dificuldade de eliminar os mosquitos.
Fonte: Os autores. 2016.
A segunda aplicação ocorreu em uma turma de 3º ano contendo 31 alunos (em média,
crianças de oito a nove anos). Houve verificação sobre a profilaxia básica contra a
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proliferação do mosquito e novamente as crianças disseram que já sabiam, alegando as
mesmas respostas da turma anterior. Na sequência foi usado um momento para a explicação
das regras da brincadeira, que sofreu algumas modificações em comparação a brincadeira
anterior: o número de mosquitos foi reduzido de seis para três e o número de agentes de três
para um na rodada inicial, para que a brincadeira pudesse durar menos tempo do que na turma
anterior e assim cansar menos as crianças, ter essa flexibilidade em propor alterações para
facilitar a atividade é importante para o melhoramento desta (MACEDO et al., 2000). Foi
utilizada a mesma área na primeira aplicação com os focos estabelecidos nos mesmos locais.
Novamente os mosquitos venceram e, na reunião antes da segunda rodada, a criança
que era o agente, quando questionada se não teria uma outra maneira além de pegar a criança-
mosquito, perguntou se poderia acabar com os piques e, sozinho, explicou para a turma.
Nessa nova rodada o número de mosquitos e agentes voltaram ao original planejado, seis e
três respectivamente. A atividade seguiu mais fluída, mas, assim como na primeira turma,
apenas os agentes acabaram com os focos.
Em uma turma do 2º ano foi feita a terceira aplicação, que seguiu o modelo da segunda
aplicação, começando em sala para saber o nível de conhecimento das crianças, que fora
semelhante aos anteriores. A rodada inicial também seguiu semelhante às anteriores; as
diferenças começaram na reunião antes da segunda rodada, em que a criança que era o agente
de saúde perguntou se poderia ter os amigos dele como agentes também. A iniciativa foi
considerada válida e, assim, o número de agentes subiu para quatro; o grupo de agentes
perguntou se poderiam acabar com a água dos focos-pique e tendo a resposta afirmativa, eles
se reuniram para montar uma estratégia, assim como os mosquitos se reuniram para montar
suas estratégias; a brincadeira recomeçou depois de uma conversa com as outras crianças. Os
agentes de saúde decidiram reunir os pneus em um único lugar, além de virar a água das
garrafas e virar os pratos dos vasos. Quando conseguiram executar a captura dos mosquitos
remanescentes, os alunos se reuniram e comemoraram juntos.
A quarta e última aplicação foi novamente, com uma turma de 3º ano contendo 33
alunos e um professor de educação especial. Após a preparação em sala de aula, na qual as
perguntas para saber o nível de conhecimento prévio dos alunos sobre a profilaxia do inseto
foram feitas, eles foram instruídos das regras e levados para a área externa da escola. A
atividade seguiu muito parecida com a segunda aplicação, a única diferença foi que, ao
termino da brincadeira, o professor de educação especial disse que entre os alunos havia um
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garoto autista e estranhou a presença dele passar despercebida, já que, dentre os mosquitos da
segunda rodada, foi aquele que mais pegou crianças e foi o último a ser pego.
Ao termino de cada aplicação foi entregue um adesivo símbolo do agente mirim e um
folder (figura 3) contendo um desenho para as crianças pintarem e procurarem esses locais em
casa com a ajuda de um adulto. Também foi explicado que seria enviado na agenda um
questionário para os pais responderem sobre a prevenção ao Aedes aegypti e também sobre a
reação da criança em casa depois da aplicação da atividade.
Figura 3 - Folder sobre Aedes aegypti.
Fonte: Os autores. 2016.
Das 131 crianças que participaram da atividade e que levaram o questionário para a
casa via agenda escolar, apenas 33,59% dos questionários, 44 deles, voltaram respondidos
após 1 semana de atividades. Os resultados mais significantes dos questionários estão
dispostos nos gráficos abaixo:
Gráfico 3 - Respostas para a pergunta sobre os hábitos de vistoria da própria residência.
Fonte: Os autores. 2016.
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Gráfico 4 - Respostas dos pais para a pergunta que questionava se ele já havia ajudado em alguma atividade
escolar sobre dengue.
Fonte: Os autores. 2016.
Gráfico 5 - Respostas dos pais referentes ao aprendizado gerado pela atividade, caso a resposta anterior fosse
positiva.
Fonte: Os autores. 2016.
Gráfico 6 - Respostas dos pais para a pergunta sobre a percepção da possível mudança de abordagem do assunto.
Fonte: Os autores. 2016.
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Gráfico 7 - Respostas para a pergunta sobre o possível comentário das crianças após a atividade lúdica.
Fonte: Os autores. 2016.
Gráfico 8 - Respostas para a pergunta sobre a extensão da atividade que deveria ocorrer na residência com
auxílio dos familiares.
Fonte: Os autores. 2016.
O hábito de vistoriar sua residência aparentemente se faz presente no cotidiano dos
pais/responsáveis dos alunos, pois 42 das 44 respostas foram positivas.
Assim como os professores, os pais/responsáveis também não entraram em acordo
absoluto sobre a existência de atividades escolares relacionadas ao Aedes aegypti e/ou dengue
em momentos anteriores. Das 28 respostas afirmativas para esta questão, 27 relatam ter
aprendido algo de interessante durante o auxílio nas buscas de informações para a atividade;
como, por exemplo, detalhes sobre o inseto, seu ciclo de vida, sua história, além de mais
informações sobre a dengue e as outras doenças que o mesmo também pode transmitir. Sobre
a mudança na abordagem educacional, 38 respostas afirmaram mudanças, mesmo que dos 44
questionários, 16 apontem a ausência de trabalhos escolares sobre o assunto.
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Considerando que apenas 5 (11,36%) crianças não comentaram sobre a atividade em
casa, esta foi considerada produtiva, levando em conta que 39 dos pais/responsáveis
comentaram terem gostado de ter a presença da criança auxiliando na vistoria ou que acharam
importante estimular as crianças a evitarem possíveis criadouros em casa.
Considerações Finais
Após a realização das atividades e análise dos resultados, foi possível perceber que,
mesmo com uma atividade simples e de caráter lúdico, os estudantes demonstraram muitos
conhecimentos a respeito desse tema e conseguiram chegar sozinhos no objetivo da atividade
didática, que era que percebessem que “correr” atrás do mosquito não é a melhor estratégia
para eliminá-lo; isto é, que é mais importante acabar com os focos de reprodução e demais
criadouros, do que adotar estratégias que simplesmente eliminem o vetor já adulto. Vale
ressaltar que atividades lúdicas como esta são de extrema relevância no processo ensino-
aprendizagem, visto que trabalham dentro de um aspecto concreto e desenvolvem o interesse
conhecimento. Além disso, é importante evidenciar que, embora a atividade não tivesse sido
pensada para alunos de inclusão, o aluno autista conseguiu se integrar plenamente.
Com relação aos questionários enviados às famílias, as respostas que voltaram
demonstraram que provavelmente há campanhas efetivas contra a dengue, já que 95,45% das
respostas afirmam que os responsáveis teriam o hábito de vistoriar suas casas. Além disso,
pôde-se perceber que a atividade teve um impacto positivo nas crianças, já que elas
comentaram ter gostado e estimularam os pais a realizarem novas vistorias. No entanto, para
que esse resultado fosse mais confiável, seria interessante que mais respostas voltassem, visto
que o número de questionários respondido foi – e é tradicionalmente – baixo.
O questionário/entrevista aplicado aos professores, embora tenha demonstrado
algumas incongruências, mostra que a abordagem desse tema mudou e que é necessário que
realizem atividades relacionadas a esse assunto. É interessante ressaltar que a contradição das
respostas sobre as campanhas existentes não é perceptível na resposta dos questionários vindo
dos pais e responsáveis, visto que os mesmos disseram ter o hábito de vistoriar sua casa.
Finalmente, usar um assunto da atualidade e montar uma atividade lúdica para
estimular certas ações nas crianças é uma tarefa pedagogicamente válida e de fácil execução,
tendo em vista que faz uso de uma brincadeira comum entre as crianças para desenvolver
capacidades e noções. Métodos de aprendizagem como esse pode e deveriam ser mais
empregados nas escolas, em diferentes níveis de ensino.
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REFERÊNCIAS
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