Post on 11-Feb-2019
PROFESSOR FRANCISCO DE PAULA XAVIER DE TOLEDO E O COLLEGIO DO LAGEADO DO CAMPO LARGO DE SOROCABA1
Dagoberto Mebius/UNISO
I – O “Lageado”, a tapera e a Vila de Sorocaba.
Distante da vila de Sorocaba cerca de 2,5 léguas2 erguia-se à direita da antiga
estrada do Jundiaquara - um dos mais conhecidos caminhos das tropas, uma enorme tapera.
Ao lado um ribeirão, inquieto serpenteava entre os tufos de mata e atravessava a antiga
estrada, poeirenta nas épocas de seca e de difícil caminhar nas épocas de chuva. Conhecido
por todos os viajantes e tropeiros como o ribeirão do “Lageado” onde se fazia uma breve e
talvez última parada antes de chegar aos campos do Itinga, já em Sorocaba. Sobre esse
córrego muitos anos antes já haviam passado tropas paulistas com destino ao Iguatemi em
São Pedro do Rio Grande3 e mais antiga ainda serviu de passagem aos primeiros grupos
humanos iriam povoar o sul do continente.
O sítio e a tapera há muito estavam abandonados.4
No entre meio das décadas de 40 até 90 do século XIX, tem na Vila de Sorocaba
um cenário propício ao desenvolvimento não só comercial com o intenso comércio de
muares e seus anexos, como de expansão cultural e político que vai diversificar em muito
as suas características.
É nesse período que Sorocaba se vê como centro da Revolução Liberal de 1842, um
episódio da constante disputa entre Liberais e Conservadores, que tanto atraso provocou ao
país no Império. Terminada a disputa, retoma a vila a sua lida – a pequena agricultura
familiar e as “feiras de animais”. Acomodada a política da província de São Paulo, a vila
de Sorocaba passa se modificar e tomar as configurações sócio-urbana e arquitetônica que 1 Algumas vezes a grafia de alguns nomes de pessoas ou lugares irá ser encontrada destoante da grafia atual. Isso será normal no texto. Procurou-se manter algumas delas no seu original. 2 “... léguas”.- A légua é uma antiga medida de extensão que foi muito utilizada tanto em Portugal onde equivalia a 5.572 metros e no Brasil até fins do século XVIII equivalia a 6.600 metros. 3 É muito intensa a movimentação de tropas paulistas que constantemente ocorriam ao sul do país a chamado da coroa portuguesa. É também a partir dessa ligação que vamos ter uma grande identidade entre famílias paulistas e famílias gaúchas, principalmente de Sorocaba, onde o maior número de “voluntários” eram arregimentados. 4 O sítio e a tapera faziam parte de uma das sesmarias da família Mascarenhas Camello desde 1767 aproximadamente, quando aqui chegaram. Começava no antigo Engenho (bairro do Barreiro) e ia além do Jundiaquara e chegava ao atual município de Iperó. No centro dessa sesmaria surgiu a Vila de Campo Largo de Sorocaba, hoje Araçoiaba da Serra (1826). Presume-se também que a propriedade tenha sido amealhada durante o exercício do cargo de Administrador do Registro de Animais de Sorocaba. Mas sobre essa questão há uma controvérsia, uma vez que O tenente coronel Antônio Mascarenhas Camelo, membro do vitorioso partido Conservador, só irá ser investido no referido cargo ao fim da revolução Liberal de 1842.
atravessará todo o final do século XIX. Construções de enormes casas e sobradões de
comércio começam a transformar o visual das principais ruas. São lojas, armazéns, oficinas
de artesãos de couro e metais, rendeiras e pequenas tecelagens, botequins e outras coisas
mais. Inúmeras trupes com seus “circos de cavalinhos” traziam diversão e cultura a
população flutuante que se estabelecia nos meses da “feira”. Os inúmeros contingentes de
peões com suas maneiras diferentes de falar vão mesclar e dar uma característica quase que
final ao linguajar popular.
Sorocaba tornava-se ponto de concentração dos negociantes de animais, os
vendedores procedentes das províncias do sul e compradores, vindos das províncias do
centro e do norte do país5. Certamente esse encontro não ficaria tão somente nas coisas
ligadas ao comércio dos animais. Com a conseqüente acumulação dos resultados
financeiros do rico mister, muitas famílias sorocabanas começam a vislumbrar expectativas
diferentes para seus filhos. Esse pensar diferente canalizado muitas vezes por uniões de
famílias locais ou com famílias de fora pelas alianças matrimoniais como comerciais ou
ainda “estudar fora”. Antes já existiam algumas células de poder no estrato social
sorocabano6. Este poder passa a ser sentido também nas grandes mudanças culturais.
As insipientes escolas régias que funcionaram em Sorocaba não eram suficientes
agora para dar conta do afluxo de alunos e formação das novas elites. Dessa forma a
Câmara de Sorocaba, em fevereiro de 1842 oficiava ao governo da província solicitando
uma cadeira de Latim e Francês para a vila. Tal solicitação só irá ser atendida cinco anos
depois, quando no dia 18 de janeiro de 1847, é examinado, aprovado e nomeado para o
cargo de professor de Latinidade e Língua Francesa o professor Francisco de Paula Xavier
de Toledo, recebendo para tanto o ordenado de 400$000 pelas aulas de latim e mais
300$000 pelas aulas de francês7.
5 Os animais aqui comercializados eram utilizados nos serviços de transportes principalmente e tinham um alto custo final. As terras de Sorocaba por suas características de cerrado e campos, com excelente quantidade de córregos e riachos facilitavam a parada e a engorda dos animais. 6 Sorocaba até o final do século XVIII era apenas mais das inúmeras típica vila colonial, praticamente desabitada na maior parte do tempo. Viajantes, entre eles Saint-Hilaire, que assim registrou a vila de Sorocaba em sua viagem à província de São Paulo: “... as pessoas se aborrecem sozinhas e se aborrecem juntas. Não há festas públicas, não há passeios pelo campo – nada que desperte alegria e animação. As pessoas ficam estiradas preguiçosamente, conversam interminavelmente sobre assuntos banais, cochilam...”. É, portanto com a atuação de algumas famílias ligadas ao comércio dos animais que irão surgir as primeiras fortunas e a conseqüente dicotomia social dos pobres e ricos. Enquanto o grosso da população permaneceria na lida da terra como forma de subsistência. 7 Se dividirmos pelos 12 meses do ano, poderemos verificar que o salário oferecido na época era de 58$333, uma quantia irrisória e não muito atraente também, com esse dinheiro era praticamente impossível levar-se uma vida tranqüila. Isso levava a maioria dos mestres-escolas e professores a boemia ou uma vida um tanto irregular. Quanto às mulheres esse salário não oferecia tantos problemas, pois a maioria delas viviam as expensas da família, esse motivo levava a um contingente maior de mulheres no magistério.
A tramitação do exame até a nomeação foi feita pelo presidente da província de São Paulo,
Conselheiro Manoel da Fonseca Lima e Silva. Porém é quase certo que o jovem professor
Toledo com apenas 22 anos de idade tivesse tido alguma dúvida, pois nomeado em janeiro,
só comparece a Câmara Municipal de Sorocaba para apresentar sua carta de nomeação de
professor público de gramática latina e francesa e tomar posse do seu cargo em 22 de
março de 1847, quando presta juramento e é registrado. Isso contrariava os regulamentos
do ensino de então, mas esse detalhe não era importante para os nobres cidadãos que
comandavam a Câmara.
Para entender um pouco a situação do ensino na então província de São Paulo por essa
época, nada melhor do que o Relatório do 1° Inspetor Geral, Dr. Diogo de Mendonça Pinto
em 1851. Nesses documentos relacionam-se mais de 220 escolas primárias de ambos os
sexos, 24 cadeiras de Latim e Francês, das quais apenas 14 estavam providas, 2 Liceus –
um em Taubaté e outro em Curitiba, além da Escola Normal.
As escolas primárias, chamadas ainda de escolas régias, conservavam ainda o ranço
e a rotina dos tempos coloniais, vegetavam numa rotina emperrada, em ambiente hostil e
repleto de veleidades. Eram “instituições” escolares que estavam distantes de se constituir
um conjunto hierarquizado, formando sucessivos degraus para as escolas superiores.
Faltava-lhes tudo.
As cadeiras de Latim e Francês eram uma regalia concedida só as cidades e vilas
que possuíssem certa distinção. Sorocaba possuía todos os requisitos para isso. Suas “feiras
de animais” eram conhecidas em todo o Brasil e daqui saiam grande parte dos impostos
recolhidos pelo Tesouro Provincial e Imperial.
Empossado para o seu cargo, o professor Toledo instala sua “sala de aula”, na rua
das Flores entre o antigo largo do Rosário e a rua Direita – hoje rua Monsenhor João
Soares. Seus primeiros alunos não são crianças, presume-se já estarem na faixa dos atuais
adolescentes, pois as aulas de Latim e Francês são destinadas na época para esses jovens,
inclusive alguns já taludos. Isso não o desanima, nem tão pouco o intimida. O traço mais
marcante do professor Toledo é o caráter firme que o reveste até o final da vida.
Os seus primeiros alunos, segundo as atas da Câmara – que se encontra perdida, são
em número de 37. São filhos das mais importantes famílias da vila. Nota-se com
freqüência o sobrenome Mascarenhas em virtude da ascendência e predomínio social desse
tronco familiar na época.
Eis a lista dos alunos:
1. Américo Brasiliense de Almeida Mello8
2. Antônio Augusto Lessa
3. Antônio de Mascarenhas Camello Neto
4. Antônio Mascarenhas
5. Antônio Moreira da Silva
6. Bento de Mascarenhas Jequitinhonha
7. Bento de Mascarenhas Martins
8. Bernardo de Mascarenhas Martins
9. Cypriano de Mascarenhas Oliveira
10. Eduardo de Mascarenhas Oliveira
11. Francisco Ignácio de Arruda
12. Francisco de Assis Penteado
13. Frederico de Mascarenhas Oliveira
14. Gustavo de Mascarenhas Oliveira
15. João Bicudo de Almeida
16. João Martins de Araújo
17. Joaquim Bicudo de Almeida
18. Joaquim Mariano Corrêa de Moraes
19. Joaquim Martins de Araújo
20. José Dias de Arruda
21. José Mariano Corrêa de Moraes
22. José Martins de Araújo
23. José Rubino de Oliveira9
24. Lúcio de Mascarenhas Mastins
25. Otto Langard
26. Ubaldino do Amaral Fontoura10
Em 1849, dois anos o número de matrículas das aulas do professor Toledo
passavam para 48 alunos, o que lhe valeu uma referência e elogio do Conselheiro Pires da
Motta na Assembléia Provincial em 1850. Nos anos seguintes outras referências aparecem
8 Américo Brasiliense de Almeida Mello, irá se destacar na vida pública da província de São Paulo. 9 José Rubino de Oliveira, filho de um seleiro, fabricante de guaiacas, era mulato e boêmio, tinha tudo para dar errado, no entanto tornou-se um dos mais respeitados jurisconsultos paulistano. 10 Ubaldino do Amaral Fontoura, um rapazola vindo do sul com a família, foi advogado, juiz, deputado, senador e ministro do Império.
nos relatórios da Inspetoria Geral da Instrução Pública. Em 1853 a citação da queda para
22 alunos matriculados nas aulas de Latim e 4 para as de Francês, em 1857 apenas 33
alunos matriculados, onde somente 28 compareciam e a pior em 1858, com 35 onde
compareciam somente 24.
E não era para menos, pois ainda em 1857, o Governo Provincial estabelecendo a
freqüência média de 15 alunos por escolas de Latim e Francês, fecharia mais da metade das
então 51 escolas, depois reduz para 7 e finalmente fica apenas com 4 escolas dessa matéria.
A de Sorocaba, do professor Toledo era a melhor e com mais freqüência. Ela foi referência
por três vezes consecutivas nos Relatórios da Instrução Pública.
Após 10 anos de exercício, em 1857, aos 32 anos e com excelente fé de ofício, o
professor Toledo requer sua jubilação. Seus vencimentos que eram de 800$000 fica
reduzido a título declaratório para 20$000 mensais.
Essa atitude do professor Toledo tinha uma razão muito importante. Por essa época
já estava casado com Delfina Mascarenhas Toledo, filha rico e conceituado tenente-coronel
Antônio Mascarenhas Camelo, o Administrador dos Registros de Sorocaba11. Esse
matrimônio, visto com bons olhos pela família Mascarenhas Camello, ocorreu em 9 de
janeiro de 1848, Delfina tinha então 15 anos de idade.12
Com o casamento o professor Toledo passa a residir na casa do sogro13, pois o
minguado salário de professor público não lhe oferecia muita condições de assumir a
responsabilidade de chefe de família, agora bastante aumentada.14
É bem certo que o professor Toledo mantivesse alguns alunos externos, com aulas
particulares e sua esposa Delfina ainda o ajudasse com uma espécie de pensionato para
suas sobrinhas Custodia, Januária, Athanásia e Robertina Mascarenhas Camello, todas da
11 Administrar o Registro de Animais era uma função cedida pelo governo imperial a um cidadão de expoência e principalmente de posses, pois este deveria recolher os impostos sobre os animais que passassem pelas barreiras, essa cessão era paga por estimativa antecipadamente, ficando o administrador com um percentual de cobrança, nada modesto para época. Essa função foi motivo do enriquecimento de muitas famílias sorocabanas. A própria família dos Tobias de Aguiar entre outras foram administradoras de registro de animais. Haviam barreiras de cobrança de impostos sobre animais em muitas cidades na rota dos tropeiros. Por essa razão um animal de bom porte era vendido pela incrível quantia de 350$000 a 400$000, muito mais que o salário de um professor. 12 Casamentos com mulheres novas eram muito comuns por essa época. Vários motivos levavam as famílias aceitarem essas uniões. Haja visto que o professor Toledo era um jovem sem muitos recursos financeiros, mas em contra partida era um jovem bastante culto e dotado de muita energia. 13 O professor Toledo quando chegou a Sorocaba, foi morar na casa de sua irmã Benedita Carolina de Toledo, então casada com Francisco de Assis Penteado, que moravam na rua da Ponte – atual rua 15 de Novembro. 14 Primeiros cinco filhos foram: Joaquim Caiuby – 03/11/1848; Bento – 07/04/1850; Antonio Carlos – 11/02/1851; Frederico Guanabara – 21/11/1852; Luiza Engracia – 01/11/1854; e Firmino Tamandaré – 02/03/1856.
cidade de Castro no Paraná. O movimento de aulas extras e o pensionato será a célula
geradora do futuro Collégio do Lageado.
O livre trânsito do professor Toledo pela sociedade sorocabana da época, embalou
ainda mais o sonho da sua própria escola, e mais ainda, em regime de internato e instalado
em um edifício adequado para tal. Cujas instalações pudesse receber, alunos e alunas de
outras localidades. Tal projeto baseava-se no grande movimento de famílias que vinham
para Sorocaba durante as “feiras de animais” e aqui chegando alugavam casas, chácaras ou
então adquiriam seus próprios imóveis para estadia e acabavam ficando.
Era uma utopia realizar tal projeto no perímetro de Sorocaba. Pois todos os campos
e cantos eram ocupados pelo movimento do comércio de animais.15
Não havia mais como retroceder. Seu sogro a par do projeto propôs ceder-lhe por
doação, a propriedade do “sítio da Tapera”, na vila de Campo Largo de Sorocaba.
Com a decisão de aceitar a oferta, irrecusável por sinal, o professor Toledo toma a
primeira medida para iniciar o projeto. Desliga-se da cadeira e dos últimos proventos de
professor jubilado de Latim e Francês, a qual dirigira com extremo brilho, pois a sua fora a
melhor em toda a província de São Paulo. Comunica a sociedade de então a instalação do
“Collégio” e muda-se com toda a família para o sítio da Tapera.
II – A Primeira Fase do Collégio do Lageado
Ainda no começo de 1859 tem início as modificações na arquitetura da velha casa,
acrescentando-se duas novas alas, financiadas por empréstimos conseguidos junto a
algumas entidades16 e famílias que adiantaram o dinheiro necessário para o
empreendimento.
Uma das alas serviria de residência para a família e o pensionato de Delfina. No centro
ficava: biblioteca, salão de música e na parte posterior além de um grande dormitório
masculino a pequena capela de São João,17 embora o professor Toledo não tivesse com a
15 Só para se ter uma idéia da quantidade de animais que passavam por Sorocaba: 1847 foram 29.333, nos anos seguintes chegou a duplicar; Em 1857 foram 51.485, chegando ao maior número em 1869 com 67.811 animais passando por Sorocaba. Esses números eram apenas do animais registrados, considere-se ainda uma fuga de registro e impostos que era superior a 12% em alguns anos e teremos o número final. O maior valor de imposto recolhidos foi de 1857 com 19:649$380 – dados do Livro de Barreira – Sorocaba - DAESP 16 Esses empréstimos, conseguidos junto à sociedade sorocabana vem principalmente de um loja maçônica e de uma comunidade religiosa católica – fatos e detalhes ainda não muito bem esclarecidos, irá criar uma dualidade de interesses para a qual o professor Toledo não estaria preparado anos mais tarde. 17 Por tantos e bons relacionamentos com pessoas ilustres da sociedade sorocabana, o professor Toledo certamente tenha sido filiado à maçonaria local. Pois era raro que cidadãos influentes e de certa cultura não fossem maçons, muito embora a religião oficial fosse o catolicismo.
religião senão um breve deismo. Na ala direita situava-se a primeira sala de aula para os
meninos.
Os agregados e serviçais, arranchava-se em pequenas construções nos fundos.
O Collegio começou a funcionar já no segundo semestre de 1859. Essa questão é
comprovada pelo conhecimento que tivemos18 de três trabalhos de caligrafia com data de 7
de outubro de 1859, esses folhas soltas tinham as iniciais dos seguintes alunos: Antônio
Carlos Alberto de Mascarenhas Camelo, Benedito Estevam Cordeiro e Francelino Dias
Batista. Foi um primeiro momento muito difícil para que se adequasse todo o projeto do
professor Toledo. Dois longos anos seriam precisos ainda para que o Collegio do Lageado
tomasse a forma que conservou até o fim.
Talvez a fama de “escola rural”, tenha nascido da simplicidade e rusticidade do
empreendimento. Mas foi essa característica que fugia totalmente aos padrões das escolas
particulares existente de então, que alçou sua fama além dos limites da vila e da província.
O currículo baseava-se principalmente no ensino de línguas, sobretudo o Latim. O
português apenas girava em torno da gramática latina. Francês e Inglês eram os maiores
pesos nas matérias19, não havia ainda um “museum” de história natural, nem “gabinete de
physica e chimica” – tais matérias figuravam nos programas de ensino como “lições de
cousas”.
Nesse começo, o professor Toledo era o único docente em razão do exíguo número
de alunos. O pensionato tivera nesse final de 1859 o acréscimo de mais três meninas:
Olympia, Maria Joaquina e Anna Angelina, filhas do Dr. Olivério Pilar, importante
advogado de Sorocaba.
No início do ano de 1860, 62 alunos já estão matriculados no Collegio, sendo 12
alunas do pensionato e 50 meninos do Collegio. Com esse número de alunos e alunas, o
18 Esses documentos foram os mesmos que o professor João Lourenço Rodrigues deve ter visto, pois a pessoa que os detinha conheceu tanto o professor Toledo como o professor João Lourenço Rodrigues. Era José Bueno, morava na estrada Raposo Tavares, na altura da estrada de Araçoiabinha. Um dos mais antigos moradores da região. Em 1983, foi através desse senhor que tive o meu primeiro contato com a história do Collegio e de seu idealizador. Infelizmente desapareceram esses últimos documentos referentes ao Collegio e uma das maiores provas de sua história. Com o falecimento de José Bueno, pessoa de poucos estudos, a vida inteira fora lavrador, os documentos desapareceram. Familiares de José Bueno estão dispersos pela região, mas pouco ou nada sabem. 19 Em virtude das “feiras de animais” e da reativação da Fábrica de Ferro de Ipanema em 1860, era muito grande a presença de estrangeiros nesta região, na vila de Campo Largo de Sorocaba, havia até um bilhar para esses estrangeiros. E tais presenças não eram novidade, havia grande número de alemães, franceses, suíços, ingleses e suecos, que na maioria vieram em busca de trabalho nas fundições reais da Fábrica de Ferro de Ipanema. Muitos estavam aqui desde o início da Fábrica em 1810 e já haviam constituído famílias, cujos filhos estudavam em duas escolas públicas – a de Campo Largo, que quase não funcionava pela constante ausência do mestre-escola e a de São João do Ipanema, cuja oficialização só vai ocorrer em 1884, até então era mantida pela Fábrica de Ferro, cujo mestre-escola era alemão.
Collegio contrata o professor Luiz Gonçalves da Rocha para lecionar no curso de primeiras
letras. Para as aulas de do curso secundário que compreendia Latim, Francês, Inglês,
Aritmética, Geometria, Desenho e Música fora contratado o professor Adolpho Augusto
Bassano20.
O Collegio do Lageado recebe entre seus alunos nesse período os dois filhos do Dr.
Júlio Galvão de Moura Lacerda, diretor do Atheneu na capital da província de São Paulo, o
que demonstra claramente a qualidade do ensino e da austeridade do Collegio do Lageado.
No ano de 1863 o corpo docente do Collegio do Lageado era o seguinte:
Pe. Francisco de Assumpção Albuquerque – era professor e capelão
Marcolino Ribas
Joaquim Belchior Martins – professor de primeiras letras
Joaquim Caiuby de Toledo21
Ignácio Firmino de Albuquerque
Adolpho Augusto Bassano – Francês, Inglês, Gramática e Caligrafia
Salustiano Zeferino de Sant’Anna – Música
Os proventos dos professores eram de 50$000 por mês. Considerando-se que
tinham cama e comida, não era de todo ruim. Considerando-se que os professores públicos
ganhavam pouco mais que isso, e a seco...
A parte física do Collegio foi bastante aumentada para poder abrigar, o corpo
docente, os agregados, serviçais e a númerosa família do Diretor e mais de 120 alunos e
alunas. O levantamento da área construída final dá mostra de aproximadamente 2.500m²,
20 Adolpho Augusto Bassano, é talvez uma das figuras mais controvertidas e estranhas da história do Collegio do Lageado. Depois do Diretor, era a principal figura do Collegio do Lageado, seu contrato data de 12 de julho de 1860 e seus primeiros ordenados eram de 50$000 mensais. Ninguém sabia sua origem, envolta em mistério e segredos, apesar do sobrenome italiano – por sinal muito comum na época, era um poliglota com extremada habilidade. Era hábil no ensino das línguas estrangeiras e possuía um raro conhecimento de “calligraphia e gymnastica”. Era admirado pela suas maneiras finas e pelo rara distinção pessoal. Mas havia um defeito nessa figura: era alcoólatra. Quando ficava alcoolizado, retirava-se para um canto ou desaparecia por dias. O que certamente escandalizava a todos. Uma das hipóteses para Adolpho Augusto Bassano, é a de ter vindo fazer a vida como “jogador de carteado”, por estas paragens no auge do tropeirismo ou ainda ter sido um dos muitos aventureiros estrangeiros que aqui chegaram para fazer fortuna às atividades paralelas das “feiras de animais” ou até mesmo da Fábrica de Ferro de Ipanema, que tantos europeus trouxera para esta região. Com tudo isso Adolpho Augusto Bassano casa-se em 1862 com uma das internas do Collegio, Maria Angélica Baillot, filha do franco-holandes, Charles Leon Baillot, comerciante da vila de Campo Largo de Sorocaba, assassinado por questões de terra. Adolpho Augusto Bassano, retira-se para Tatuí em 1864 junto com a mulher. Um ano depois em 1865 desaparece e é dado como morto ao desaparecer nas águas do rio Tietê. 21 Joaquim Caiuby de Toledo, filho mais velho do professor Toledo, que aos 17 anos incompletos já dava sua parte de colaboração no corpo docente como substituto. Em 1865, casa-se com sua prima Custódia, uma das primeiras alunas do internato de D. Delfina.
incluindo salas de estudos, biblioteca, salas de estar, sala do diretor, dormitórios, cozinhas
e outras tantas dependências.22
Abaixo a relação dos alunos e alunas desse período por seção e origem – 1859 a
1864.
Seção Masculina
1. Antônio Mascarenhas Camello Netto Sorocaba Sobrinho
2. Bento Mascarenhas Jequitinhonha “
3. Belarmino Mascarenhas “ Idem
4. Antonio Carlos Alberto de Toledo “ Filho
5. Frederico Guanabara de Toledo “ Idem
6. Firmino Tamandaré de Toledo “ Idem
7. Joaquim Firmino de Toledo “ Idem
8. Francisco de Mattos “
9. Antonio de Mattos “
10. Elias da Costa Passos “
11. Elias Lopes Monteiro “
12. Antonio Lopes Monteiro “
13. Antonio Lopes Guimarães “
14. Francisco Xavier de Oliveira “
15. Francisco Lopes “
16. Francisco Lopes de Oliveira “
17. Elias Lopes de Oliveira “
18. Joaquim Lopes de Oliveira “
19. Leonel José Abreu Sandoval “
20. Odorico Americano Gauycuru “
21. Brasílico Paes de Barros “
22. Carlos Paes de Barros “
23. Fernando Paes de Barros “
24. Francisco Paes de Barros “
25. Benedicto Estevão Cordeiro “
22 Os trabalhos de levantamento arqueológico realizado no local mostra com exatidão as proporções desse imenso prédio, que infelizmente foi totalmente destruído pelo tempo e pelo homem. Uma apresentação em multimídia realizada com técnicas de AutoCad com o levantamento arqueológico e arquitetônico do conjunto tem sido apresentado a comunidade universitária e interessados para divulgação de tão importante personagem e sua obra.
26. José Pereira Chagas “
27. José Rogich “
28. Bento Bicudo “
29. Pedro Bicudo “
30. João Bicudo “
31. José Bicudo “
32. Jeronymo Rodrigues de Moraes “
33. José Dias de Arruda “
34. Francelino Dias Baptista “
35. Bernardo de Assis Mascarenhas Campo Largo
36. Francisco de Mascarenhas Martins “
37. Verissímo de Mascarenhas Martins “
38. Antonio Martins de Araújo “
39. Francisco Carlos Baillot “
40. Francisco de Assis Mascarenhas “
41. João Lycio Gomes da Silva “
42. José Joaquim de Camargo “
43. Francisco José Ribeiro “
44. Ismael de Toledo23 “
45. Casemiro de Toledo “
46. Francisco Ignácio de Toledo Barbosa São Paulo
47. Firmino Ignácio de Toledo Barbosa “
48. José Augusto de Toledo Barbosa “
49. Joaquim Floriano de Toledo Barbosa “
50. João Floriano de Toledo Barbosa “
51. João Baptista Dias de Toledo “
52. Benedito Dias de Toledo “
53. Julio M. Galvão Moura Lacerda “
54. Manoel Augusto Galvão Tatuí
55. Joinvile José Seabra “
56. Joaquim José Seabra “
23 Tanto Ismael como Casemiro eram filhos de escravos mas estavam regularmente matriculados no Collegio do Lageado, pois o professor Toledo acreditava que um dia chegaria quando todos os homens seriam livres e deveriam estar preparados para isso.
57. Antonio Vieira Branco Ibiúna
58. Joaquim Belchior Martins Sta. Bárbara
59. Martim Francisco Graça Martins “
60. José Ribeiro Graça Martins “
61. Fernando Prestes de Albuquerque Itapetininga
62. Ignácio Prestes de Albuquerque “
63. Firmino Pinto de Camargo “
64. Cesário Motta Junior Capivari
65. Fernando Nogueira da Motta “
66. Francisco de Assis Oliveira Bueno Campinas
67. Joaquim de Toledo “
68. Manoel de Moraes “
69. José Teodoro de Andrade “
70. Alfredo Bueno de Andrade “
71. Antonio de Barros Dias “
72. João de Barros Dias “
73. José de Barros Dias “
74. Joaquim de Toledo Malta Jacareí
75. Laudelino José Fiusa Itapeva
76. Manoel Caetano Martins “
77. Theophilo Carneiro Paraná
78. Teotônio Marcondes Marques “
79. Theophilo Mascarenhas Garcez Castro
80. Silvério de Mascarenhas Oliveira “
81. Roberto de Mascarenhas Oliveira “
82. José Gomes Pinheiro Machado R.G. do Sul
83. Antonio Gomes Pinheiro Machado “
84. Caetano Padilha “
85. Nuno Lago “
86. Elyseu Ayres do Amaral “
Seção Feminina – Internato de moças de D. Delfina
1. Olympia Pilar Sorocaba
2. Maria Joaquina Pilar ”
3. Anna Angelina Pilar “
4. Honorina Martins Campo Largo de Sorocaba
5. Vitalina “
6. Maria Angélica Baillot24 “
7. Ana Angelina ”
8. Evangelina de Mascarenhas Martins ”
9. Elvira de Mascarenhas Martins ”
10. Luiza Engracia de Toledo ”
11. Januária Mascarenhas Camello Castro - Paraná
12. Custodia Mascarenhas Camello25 ”
13. Robertina Mascarenhas Camello ”
Nesse período de 1859 até 1864, o Collegio do Lageado adquiriu fama graças a
excelente qualidade do seu currículo e do seu Diretor, o Professor Toledo, por outro lado
com o início da malfadada guerra do Paraguai, em 1864, o Collegio do Lageado perde
alguns dos seus professores, incluindo Adolpho Augusto Bassano, que mesmo com a
elevação de seu cargo para a vice-diretoria do empreendimento, deixa o Lageado.
Tem início então uma série de problemas, de um lado as despesas de manutenção
crescem dia-após-dia.26 Por que além dos gastos normais de pessoal e material, havia a
necessidade cada vez mais imperiosa de amortizar as dividas contraídas por ocasião de
criação do Collegio. Pois aquelas entidades e instituições e outros credores exigiam o
pagamento imediato de juros e retorno de capitais. Muitas dessas pessoas, cujos filhos já
haviam passado pelo Lageado e agora cursavam as Escolas Superiores de Direito em São
Paulo, Engenharia e Medicina no Rio de Janeiro, consideravam já terem esperado demais e
as “entidades e instituições” ignoravam um dos maiores segredos do Collegio do Lageado
– a instrução gratuita.
Com os tempos cada vez mais complicados, a guerra no sul, muitos comerciantes
escondiam as “burras” e deixavam de pagar as anuidades.
24 Maria Angélica Baillot – aluna do pensionato de Delfina Mascarenhas Toledo, de aluna passa a professora de primeiras letras, prepara-se com o professor Toledo e presta exames na Escola Normal de São Paulo, formada recebe a primeira cadeira na cidade de Tatuí. Casada com o Augusto Bassano, e mãe de Augusto Baillot, foi uma mulher extraordinária para o seu tempo. A minha admiração por essa personagem, que em sua época foi uma das grandes mulheres desta província pela sua disposição em aprender e ensinar. Lamentavelmente, são também exíguos os registros sobre ela. Mas continuamos a procurar incessantemente. 25 Custódia Mascarenhas Camello, casa-se com Joaquim Caiuby em 1865. 26 Mesmo com uma anuidade por volta dos 400$000 por aluno, estava difícil manter o Lageado.
Muitos pais também foram retirando seus filhos com receio do “voluntariado do
governo”27 que laçava indistintamente nas zonas rurais as “buchas” que precisava para
manter a guerra contra Rosas no Paraguai. Com esses alunos também deixava de entrar o
numerário suficiente para manter funcionado o enorme Collegio do Lageado.
O Professor Toledo na eminência de fecha o Collegio, mesmo contra sua vontade,
se vê obrigado a enviar para suas casas os alunos gratuitos , cujos pais , não tratavam de
retirá-los...
Começara pobre, e ficara mais pobre ainda, pois endividado, não lhe restou outra
saída senão a de oferecer aos seus credores o pouco que guardara.
Fechando as portas em fins de 1866, o professor Toledo não poderia ficar de braços
cruzados, pois havia uma família numerosa olhando para a mesa.
As dificuldades pelas quais o país passava diante da guerra, a ausência de alunos,
faziam do Lageado um local triste, pois era comum ver grupos de soldados passarem pelo
Lageado em direção ao sul. Passavam cantando. Não raro carretas que retornavam com
notícias ruins da frente de batalha tão distante e tão perto dos corações de muitas famílias
sorocabanas.
Encerra-se assim o que se denomina Primeira Fase do Collegio do Lageado de
Campo Largo de Sorocaba.28
O período que vai de 1866 até 1874, o professor Toledo, se associa a dois cidadãos
franceses, ambos comerciantes na capital da província de São Paulo – eram André Luis
Garraux e Pierre Martin29 para se ocuparem do beneficiamento do algodão.
III – Segunda Fase do Collégio do Lageado
27 O entusiasmo provocado pela propaganda a favor da guerra do Paraguai, também chegara ao Lageado, era geral em todo o país, dessa forma se alistam como voluntários: os professores Padre Francisco Albuquerque e Marcolino Ribas. Alguns alunos também se alistam e dentre eles José Pinheiro Machado e Bento Bicudo. Como era comum o envio de escravos para a guerra, com a promessa de alforria, seguiu Joaquim Corésca de Fraga Neves, carioca, há muitos anos servia ao professor Toledo. Um outro de nome Francisco, cuja história é risível, trocara um paletó velho com um proprietário de terras em Campo Largo, com a condição de substituir o filho deste. Foi e voltou. Consta que anos depois tornara-se vendeiro de frutas no Itinga. 28 A Fase Industrial do Lageado é um capítulo que não será acrescentado a este trabalho, para não alongarmos no interesse primeiro – o Lageado como escola e Francisco de Paula Xavier de Toledo como um dos grandes educadores paulistano. Homem de coragem que ousou ir além de Edmundo Demolins que funda a escola Dês Roches meio século depois. Toledo foi pioneiro da educação nova, nos moldes das escolas inglesas de Bendales, que funcionavam em pleno camppo. 29 André Luis Garraux possuía uma livraria que mais tarde se tornaria famosa como editora na capital de São Paulo e Pierre Martin era seu guarda-livros. Como ambos não poderiam deixar a capital para virem tocar o negócio do algodão, mandam vir da França, Jules Martin, irmão de Pierre. Jules Martin habilidoso com desenho, máquinas à vapor e outros mecanismos e juntamente com o belga Henrique Bouvier, montam uma máquina de descaroçar algodão no Lageado.
A segunda fase do Collegio do Lageado30 tem início no segundo semestre de 1875,
quando uma comissão de homens ilustres e poderosos31 procuram o professor Toledo e lhe
oferecem recursos para tal abertura, uma vez que o pensionato de Delfina, sua mulher já há
algum tempo estava funcionando – desde fins de 1873,32 algumas moças e em 1874 outras
mais.
São trinta e sete meninas e moças oriundas de várias regiões, algumas não se tem o
sobrenome ou a origem.
Eis a listas:
Jorgina Jorgette de Toledo Campo Largo
Abigail Noemi de Toledo “
Alice Rosa da Silva Barros “
Maria Elisa de Arruda “
Lydia Lopes Martins “
Elisa Pires do Amaral “
Benedicta de Mascarenhas “
Francisca Jorgina Martins “
Mariquinha Pires do Amaral “
Escolástica de Mascarenhas Martins Sorocaba
Zelma de Mascarenhas “
Idalina do Amaral “
Maria do Amaral “
Maria das Dores Bastos “
Abigail de Mattos “
Olívia Belchior Martins “
Cyrilla Nogueira “
Carolina Augusta Alves de Lima Tietê
Abigail Assumpção Itapetininga
Maria Illustrina de Carvalho Porto Feliz 30 Quando da abertura da Primeira Fase do Collegio Lageado, havia na província de São Paulo seis Collegios dos quais 4 na capital, 1 em Campinas (Sete de Setembro) e 1 em Pindamonhangaba. Agora na abertura da Segunda Fase do Lageado, contabilizamos mais um na capital (Seminário Episcopal), em Itu (São Luiz) e em Campinas (Culto à Sciência). Um total de nove grandes concorrentes no ensino particular. 31 A comissão compunha-se de José Dias de Arruda, Francisco Ignácio de Arruda, Rafael Aguiar de Barros e Anacleto Dias Batista, todos eles homens ricos e em condições de assumirem o compromisso. 32 É apenas uma suposição pois a aventura do algodão havia acabado 1871 ou 1872. Com a retirada de Jules Martin para São Paulo, onde iria montar a primeira oficina de litografia, chamada de Imperial pelo fato de ter recibdo a visita de D. Pedro II durante a sua inauguração. Jules Martin ainda será o construtor do primeiro viaduto do Chá. Seu nome está muito ligado a história paulistana no último quartel do século XIX.
Carolina de Carvalho “
Gertrudes Teixeira de Carvalho “
Josephina Teixeira de Carvalho “
Terezinha Teixeira de Carvalho “
Jorgina de Toledo Barbosa São Paulo
Maroca de Toledo Barbosa “
Izaura Nóbrega “
Eugenia Martins “
Julia de Mascarenhas Paraná
Francisca da Graça Martins Origens diversas33
Alexandrina da Graça Martins “
Esther Mascarenhas “
Adelina Martins “
Arminda Martins “
Dyonisia34 “
Betica35 “
Constância36 “
Aquiescendo a solicitação de tão ilustres pessoas, o Collegio do Lageado retoma
suas atividades. O valor da pensão anual era de 400$000, um preço módico por assim
dizer, “para recomeçar a escola” e essa foi uma das razões que leva o professor Toledo a
manter alguns de seus filhos como professores:
Joaquim Belchior Martins - Primeiras Letras
Bento de Mascarenhas Jequitinhonha37 – Primeiras Letras
Joaquim Caiuby – Português, Francês e Latim38
Frederico Guanabara – Português e Francês
Henry Brochard39 - Francês e “gymnastica”
33 As irmãs Graça Martins e Martins, muito provavelmente são oriundas de Castro no Paraná, mas há algumas dúvidas ainda, razão pela qual preferimos deixar como origem diversa. 34 Filha de escravos do Lageado. O Lageado chegou a ter a seu serviço cerca de 8 escravos entre homens e mulheres, desse total apenas 1 estava agregado a família – o Corésca, os outros eram “alugados”. 35 idem 36 idem 37 Bento Mascarenhas Jequitinhonha foi voluntário listado e fez a guerra do Paraguai, possuía a patente de capitão. Era autoritário pó ter sido militar era muito era exigente, mas excelente mestre de “analise lógica” da gramática portuguesa. 38 Joaquim Caiuby, o mais velho dos filhos do professor Toledo e D. Delfina tinha pouco mais de 27 anos de idade e ainda respondia como Vice-Diretor do Lageado. 39 Henry Brochard, veio ao Brasil com uma comissão técnica para a Fábrica de Ferro quando de sua restauração para fabricar material bélico para a guerra do Paraguai, terminado seu trabalho, acabou ficando
João Pinto Borba40 – Matemática e Filosofia
Vicente Zeferino Sant’Anna – Música e Piano
O programa curricular desse período é composto de primeiras letras e humanidades
para a seção masculina, nada de “Physica, Chimica e História Natural” , isto porque eram
os paradigmas das escolas particulares que seguiam o currículo do Curso Anexo ao da
Faculdade de Direito. Quanto ao pensionato das moças, a elas era ensinado primeiras
letras, noções de literatura, um pouco de francês, música, piano e prendas domésticas.
Dizia-se das educandas do Lageado: “são moças de salão e ao mesmo tempo moças de
préstimos, capazes de enfrentar os encargos de futuras donas de casa e tudo graças ao
excelente modelo de mãe e mestra” – Delfina Mascarenhas de Toledo.
De 1875 a 1885 foi este o quadro de alunos matriculados no Collegio do Lageado:
Amparo
1. Francisco Franco da Rocha
2. Joaquim de Paula Cruz
Araraquara
3. Antonio Augusto Alves Coelho
4. Juvenal Alves de Carvalho
5. Octaviano Alves de Carvalho
6. Tito Alves de Carvalho
Avaré
7. Antonio Pires Carneiro
8. Roberto Quirino
Botucatu
9. João Florêncio
10. João Gagliano
Campinas
11. Candido Egydio de Souza Aranha
12. Carlos Egydio de Souza Aranha
13. Joaquim Egydio de Souza Aranha na Vila de Campo Largo de Sorocaba por mais alguns anos e depois desaparece por completo, sem que saiba seu paradeiro. 40 João Pinto Borba, era chamado de “doutor João”, era cego. Dele contou-se que era muito querido, por ser muito alegre e que fora voluntário na guerra do Paraguai e que durante uma batalha perdera a visão, feito prisioneiro, conseguira escapar e depois de uma incrível jornada chegara Campo Largo de Sorocaba. Um personagem que não se tem um único registro e nem se sabe se esse era o seu verdadeiro nome. Recitava longos versos em rima e além de citar preceitos filosóficos sobre o homem e sua natureza. Segundo ainda um relato de Carlos George Oeterer em 1986, João Pinto Borba, o “doutor das almas” divertia tropeiros no Araçoiabinha. Não há nenhum vestígio mais dele. Desapareceu!
14. Joaquim Egydio de Souza Aranha
15. Francisco Nogueira Aranha
16. Joaquim Nogueira Aranha
17. Pedro Nogueira Aranha
18. Joaquim Teixeira
19. Luciano Teixeira
20. Camilo Xavier Bueno Andrade
21. Carlos Xavier Bueno Andrade
22. Armando Pontes
23. João de Andrade Pontes
24. Álvaro Duarte
25. Raphael Duarte
26. Antônio C. de Moraes Bueno
27. Carlos de Moraes Bueno
28. Urbano de Moraes Bueno
29. Alonzo Leite de Barros
30. Arthur Leite de Barros
31. Turíbio Leite de Barros
32. Oscar Leite de Barros
33. Alberto Ferreira Penteado Camargo
34. Arthur Ferreira Penteado Camargo
35. Joaquim F. Penteado Camargo
36. Ignácio Leite
37. Joaquim Teixeira Nogueira
38. Alfredo Penteado Camargo
39. João Bicudo de Almeida
40. João Teixeira Bicudo
41. Ignácio Teixeira
42. Silvano Pacheco e Silva
43. João Coutinho de Lima
44. Alfredo Novaes de Camargo Andrade
45. Antônio da Silva Leite
46. Clodomiro Franco de Andrade
47. Octaviano Franco de Andrade
48. Fernão Pompeu do Amaral
49. Francisco de Paula Teixeira
50. Amador Bicudo Teixeira
51. Antônio Ferraz de Souza Barros
52. Lupercio Leite de Arruda
Campo Largo de Sorocaba
53. Antonio de Mascarenhas
54. Antonino de Mascarenhas
55. Francisco de Mascarenhas
56. Veríssimo de Mascarenhas
57. José Ribeiro
58. Alfredo Madureira
59. João Bernardino Vieira Barbosa
60. Francisco Euclydes da Silva
61. Francisco Pedroso de Campos
62. João Pedroso de Campos
63. Roberto Dias Baptista
64. Sylvio Pellico de Mascarenhas
65. Alfredo de Arruda Loureiro
66. Antonio Silva Pires do Amaral
67. Antonio Pires do Amaral
68. Benedicto Pires do Amaral
69. Zacharias Voltaire de Toledo
70. Plínio Piqueroby de Toledo
71. Péricles de Toledo
72. Coruja (apelido)
73. João Lourenço Rodrigues41
Capão Bonito
74. Epaminondas de Oliveira Martins
Capital
75. Deraldo Pacheco
76. João Oliva
Capivari
77. Carlos Augusto de Souza
41 João Lourenço Rodrigues, um dos últimos a passar pelo Lageado, foi aluno de Maria Angélica Baillot, uma das primeiras alunas formadas pela Escola Normal de São Paulo. Graças a João Lourenço Rodrigues e sua extensa correspondência com Fernando Prestes de Albuquerque que o professor Toledo e o Lageado não se perdeu nas brumas e na memória dos homens – principalmente dos historiadores. João Lourenço Rodrigues entrou para o Collegio do Lageado em fins de 1885 com pouco mais de 8 anos de idade. Chegou a Secretário da Educação de São Paulo em 1935-1936. Católico extremado, escreveu dois livros sobre Catecismo e Primeira Comunhão, que vigoraram até os anos 60 do século XX. Nunca reclamou nenhum direito sobre seus trabalhos, dedicando-os sempre em prol da sua fé.
78. Manoel Anselmo de Souza
79. Lothário Eulálio de Carvalho
80. Firmo Eulálio de Carvalho
81. Theophilo Ottoni Dias Toledo
82. José Lúcio da Silva
Itapeva (Faxina)
83. Antonio Lino
84. Candido Gomide
85. Arthur Vieira de Moraes
Itapetininga
86. Elizeu Ayres do Amaral
87. Benedito Vieira
88. Francisco Bicudo
89. Manoel Prestes de Albuquerque
90. José Leonel Ferreira
91. Thierry Assumpção Albuquerque
92. Egydio Pereira de Moraes
93. Odorico Rodrigues de Arruda
94. Francisco Prestes
95. João Gualberto
96. Procópio do Amaral Mattos
97. Fernando Prestes de Albuquerque42
Itatiba
98. Benedito Passos
99. Bernardo da Silva Damasio
Itu
100. Luiz Prado
101. Josué Prado
102. Miguel Prado
Jundiaí
103. Luiz Martins Cruz
Paraibuna
42 Fernando Preste de Albuquerque foi governador de São Paulo. Exilado logo após o fim da Revolução de 1932, anistiado, volta ao Brasil e retira-se da política. Da sua correspondência com João Lourenço Rodrigues é que irá surgir a maior parte das memórias sobre o Collegio do Lageado. Em 1938 em compilados pelo professor João Lourenço Rodrigues foi editado em forma de um livro, cuja venda serviu para ajudar na construção do Seminário Diocesano São Carlos Borromeu de Sorocaba, feito esse, lamentavelmente pouco reconhecido.
104. Brasilino Garcia
105. Francisco Ferraz
Piracicaba
106. João Ferraz
Piraju
107. Joaquim Rodrigues Tocunduva
Porto Feliz
108. José Mariano
109. Joaquim Gabriel de Carvalho
110. José Hypólito de Carvalho
111. Antônio Eulálio de Carvalho
112. Luiz Teixeira da Fonseca
113. José Teixeira da Fonseca
114. Mario Teixeira da Fonseca
115. João de Campos
116. Manoel Ribeiro
Santos
117. Laércio Trindade
118. Angelo...
Sarapuí
119. Amador Bueno César
120. João César
Sorocaba
121. Augusto Luiz Pinto Martins
122. Francisco de Barros Vaz
123. Ismael de Barros Vaz
124. Augusto Hack
125. Paulo de Barros
126. Izaltino Dias
127. Luzerne Dias
128. Tiburtino de Barros
129. Antonio Lino Soares
130. Faustino Gutierrez
131. Edmundo Gutierrez
132. Edgard Gutierrez
133. Joaquim Gonçalves Bastos
134. José Gonçalves Bastos
135. Ismael Vaz de Almeida
136. Pedro Vaz de Almeida
137. Antonio Augusto de Andrade
138. Manoel Nóbrega Padilha Sobrinho
139. João Padilha
140. João Eloy Padilha
141. José Rodrigues Costa
142. Achilles Chagas de Toledo
143. Gennaro Dias
144. Rogério Dias
145. Arlindo Dias
146. Adolpho Knippel
147. Pedro Knippel
148. Pedro Knippel
149. Adolpho Exel
150. Heitor Adams43
151. Olivério Pilar Filho
152. Lino Pilar de Mattos
153. Herculano de Almeida
154. Francisco de Barros
155. Francisco de Barros Fleury
156. Francisco de Moura
157. Joaquim Izidoro Marins
158. Joaquim Pantaleão Marins
159. Ovídio Laurentino do Amaral
160. Pedro Ivo de Souza Freire
161. Ramiro de Barros
162. Paulo de Barros
163. Luiz Braga de Mascarenhas
Sta. Bárbara
164. Cavour Belchior Martins
165. Virgilio Belchior Martins
Tatuí
166. Alípio de Mascarenhas
167. Augusto Bassano Baillot
Tietê 43 Heitor Adams, neto de Matheus Maylasky ,fundador da Estrada de Ferro Sorocabana
168. Aldano Pires Corrêa
169. Antônio Pires Corrêa
170. Augusto Pires Corrêa
171. Augusto de Moraes
172. Julio César de Moraes
173. Mariano Alves de Moraes
174. Antônio Alves Correa de Toledo
175. Luiz Alves Correa de Toledo
176. José Luciano
177. José Maria Corrêa de Toledo
178. Jonas de Moraes Aguiar
179. Saul de Moraes Aguiar
180. Jorge Corrêa de Moraes Silveira
181. Herculano Manoel Alves
182. José Pires Fleury
183. José Elias Vaz de Almeida
184. Arlindo de Campos Pacheco
185. João Augusto da Silveira
186. Alberto Carlos de Assumpção
187. Jorge Dias de Aguiar
188. José Dias de Aguiar
189. Antônio Augusto Corrêa
190. Francisco Augusto Corrêa
191. Urbano Augusto Corrêa
Bahia
192. Antonio Pereira Cotrim
193. Aprígio Pereira Cotrim
194. José Pereira Cotrim
195. Manoel Pereira Cotrim
Curitiba
196. João Candido Ferreira
197. Sebastião José Vaz de Carvalho
198. Sizenando Martins de Jesus
199. José Mascarenhas Martins
200. Josino de Mascarenhas Martins
201. João Gualberto
Ponta Grossa
202. Benedito Ribas
203. Nestor Guimarães
204. Horácio Gonçalves Guimarães
205. Inocência Gonçalves Guimarães
206. Bonifácio Gonçalves Guimarães
207. Ovídio Gonçalves Guimarães
Castro
208. Brasilio Pinho Ribas
209. Eugenio Gonçalves Martins
210. Laurindo Gonçalves Martins
211. Izaltino Mascarenhas
212. João Badico Martins
M. Gerais – Poços de Caldas
213. Jonas Candido Teixeira Diniz
S. Catarina
214. Aureliano Ferreira de Almeida
Não tem origem
215. Joaquim Pacheco de Mendonça
O Collegio do Lageado na sua segunda fase terá mais de 252 alunos e alunas
ocupando um mesmo espaço em pleno século XIX num sistema pedagógico pouquíssimo
conhecido mas com grandes resultados.
O Collegio do Lageado, em pleno descampado, casa rústica, terreiro a frente e
pomar no fundo com cercas de pau a pique. Ali o olhar se perdia no horizonte entre as
campinas e lagoas formadas ao longo do ribeirão. Acima um céu azul. Era o ambiente da
roça e os alunos com roupas de brim, camisas sem goma, sem gravatas ou chapéus,
alpargatas de couro sem meias.
Alimentação com pratos simples, mas suculentos e substanciosos.
No pátio do recreio e no pomar, laranjeiras e pessegueiros. Na hora do brincar, as
brincadeiras de roda, o “betty”, a malha, a petéca e outras de procedência francesa como –
soute-mouton, cheval fondu, etc,44
É impossível descrever o cotidiano do Lageado com detalhes e pormenores. Os
relatos que dispomos são insuficientes e não se encontram qualquer outras informações nos
órgãos competentes45
44 “betty” um jogo de tacos cuja bola era feita de trapos e uma espécie de cauchú tirado de um cactos. Havia também uma espécie de jogo de bola sem traves.
O Collegio do Lageado, possuiu sempre dois cursos – o primário (ou primeiras
letras, na qual estavam presentes somente noções de alfabetos e calligraphia na “pedra”46,
números com duas operações – a adição e subtração47. E o secundário, importante curso de
humanidades para que almejasse uma vaga nas Escolas Superiores do Império. Tinha
muito peso o latim e pouca atenção atenção a matemática, na qual aprendia-se aritmética e
geometria plana. No entanto não se deve criticar ou julgar o currículo do Lageado por isso,
uma vez que no chamado “Curral” que era o curso anexo da Faculdade de Direito de São
Paulo, o ensino da “Arithmética” não chegava a logarítimos e a geometria ficava somente
no quadrado da hipotenusa. Saber o teorema de Pitágoras seria o “píncaro” da glória!
Os cursos eram oferecidos sempre para meninos e meninas. Para as educandas do
Lageado havia também uma preocupação em prepará-las para a dupla função de esposas e
mães48.
O Collegio do Lageado, estava sendo um pioneiro na formação de rapazes e moças
meio século antes do que qualquer outra escola no mundo. Pois os alunos procedentes do
Lageado conseguiam sair-se galhardamente nos exames do Curso Anexo, a porcentagem
das aprovações eram maiores que de outros Collegios contemporâneos.
Quando tudo estava em seu lugar, ocorre uma tragédia no Lageado com a notícia de
que um aluno era “morféthico”49. Num momento o Lageado um grande e magnífico
Collegio e no outro um enorme vazio, com suas janelas e portas rangindo ao sabor dos
ventos. Não há mais risos de crianças, nem tão pouco as tertúlias dos alunos mais velhos e 45 No mês de julho de 2004, fizemos uma consulta via correio eletrônico a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, sobre a professora Maria Angélica Baillot, cujo nome foi dado a uma escola em Araçoiaba da Serra. Obtivemos a resposta de que iriam pesquisar na Assembléia do Estado, pois foi dali que partiu a indicação para dar o nome a escola. Ou seja, se exisitir um pequeno histórico que seja, deve estar “guardado” em algum lugarque só Deus sabe... 46 A “pedra” era um acessório muito comum nas escola. Resumia-se em um retângulo de fina ardósia numa moldura de madeira, na qual se escrevia com um “caco de cal” – giz obtido de bloco de cal cozido. Ferramentas de ensino como lápis, cadernos e livros, eram raros e não estavam disponíveis para crianças que se alfabetizavam precariamente. Sobre esse assunto da educação brasileira estamos preparando uma monografia. 47 Carlos George Oeterer, falecido com 93 anos e há mais de 10 anos descendente de ilustre família sorocabana, foi uma grande testemunha da história do Lageado. Apesar de ter estudado em colégios de São Paulo e do Rio de Janeiro, contava que as suas lições na escola primária resumia-se a aprender o “abcedário”, escrevê-lo na “pedra” com um “caco de cal” e cantar a “taboada”. Somente no segundo ano é que vai aprender a adição e subtração. A divisão vai aprender somente no final do período considerado de pleno domínio dos números. 48 As primeiras letras quase sempre era aprendida no seio das famílias, razão pela qual as moças deveriam aprender bem essa tarefa tão enraizada na sociedade antiga. 49 A “morphea” era considerada pelas pessoas comuns como um dos piores castigos e flagelos da humanidade. Não havia tratamento e a pessoa que contraísse a doença apodrecia vivo! Hoje sabemos que a hanseníase, ou lepra não se propaga da forma apregoada e é curável quando diagnostica a tempo. Mas realmente ocorreu um caso de “morphea”, mas não foi no Collégio do Lageado, mas sim num sítio próximo, onde algumas pessoas com a doença se escondiam. Na época isso foi um terror para aos pais dos alunos e alunas do Lageado.
os saraus das moças no grande salão, em menos de um mês o Lageado se vê desabitado,
como numa grande debanda. Ficando somente nele o professor Toledo, D. Delfina, alguns
de seus filhos e serviçais. Não há o que fazer. Acabara o Collegio. Como se uma
tempestade mágica e cruel tivesse desabado e dali varrido tudo...até a memória.
Em 1886, fecha o Lageado definitivamente suas portas, o Professor Francisco de
Paula Xavier de Toledo e sua esposa D. Delfina de Mascarenhas Camelo, não suportariam
novamente tamanho golpe do destino. Lutaram por mais de quarenta anos na lida da
formação de meninos e meninas em sua época, agora, cansados e desanimados rendem-se
ao que a eles estava destinado.
Continuam morando no Lageado, vazio e triste. Ocupavam-se com coisas um tanto
sem importância. O professor Toledo, homem de fibra e muito caráter é indicado, quando
da Proclamação da República a ser o primeiro intendente de Campo Largo de Sorocaba,
apesar de ter sido sempre um conservador, não se deixa envolver pela situação política
local, desempenha seu trabalho para corresponder a indicação. Assim que termina sua
obrigação volta ao Lageado. Por ser muito conhecido no entorno da vila de Campo Largo e
pela sua grande sabedoria, é comum que famílias pobres o procurem para resolver
problemas até de saúde de filhos doentes. O professor Toledo atende a todos os que lhes
procuram e nunca ninguém saiu do Lageado sem um alento que fosse.
Em 1887, o professor Toledo atende a escola da Fábrica de Ferro de Ipanema para
realizar as provas da escola ali existente, tem ainda alguns poucos alunos para aulas
particulares, mas dinheiro e poucos recursos, vive agora uma situação constrangedora, mas
não perde nem um pouco a sua altivez.
Delfina Mascarenhas de Camelo, falece em fins de 1902. Alguns meses depois
desse duro golpe Francisco de Paula Xavier de Toledo, se entrega e morre no dia 17 de
agosto de 1903.
Estava terminada a vida de um dos mais batalhadores e íntegros educadores
brasileiros. Um homem que soube lutar com dignidade, coragem e muita persistência.
Quanto ao Lageado, o enorme prédio que abrigara durante tantos anos centenas de
alunos e alunas, professores, serviçais e escravos, desaba por volta de 1930 e em 2004 é
apenas um enorme pasto sem que se perceba ali que um dia pulsou o saber e a inteligência
de um homem pertinaz em busca de fazer da educação seu mote de vida.
Até o ribeirão do Lageado desapareceu, hoje deram-lhe o nome de Barreiro, nada
significa, corre por dentro de um tubo sob uma estrada vicinal, cujo asfalto induz a
velocidade dos que passam sem parar, desobrigando-se até de uma breve reflexão que seja,
pelo monumento a educação que ali um dia existiu.
.........................
“E se nada disso significar, para quem, sentido tem, resta o sibilar suave da brisa
que nos leva a sonhar com o que ali aconteceu. Então nesse momento, construiremos nós o
monumento a essas memórias...em nossa própria memória”.
Dagoberto Mebius
Sorocaba, 05 de setembro de 2004
................................................................................
FONTES
Documentos, depoimentos e memórias orais, cartas, desenhos e fotografias antigas
Anais da Câmara Municipal de Sorocaba, livros ainda existentes –
5/14/21/28/53/114
Outros documentos interessantes em mãos de particulares
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS
Almanak de Sorocaba 1904
Almanak da Província de São Paulo para 1873
Almanak Laemmert - 1864/1870
Lello Universal – 1930
Secretaria de Obras do Est. de S. Paulo - 3°Congresso Brasileiro de Estradas de
Rodagens – 1923
Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura de S. Paulo – Relatório de
1896
Relatórios da Instrução Pública da Província de São Paulo –
1850/1851/1852/1853
www.crl.edu/almanak
PERIÓDICOS
O Defensor – 1852/1852
O Araçoiaba – 1866
Ypanema – 1872
Diário de Sorocaba – 1880/1889
Tribuna Popular - 1937
BIBLIOGRAFIA
Aleixo Irmão, José. JÚLIO RIBEIRO, São Paulo, Ed. Cupolo, sem data
_______________. RAFAEL TOBIAS DE AGUIAR – O HOMEM, O
POLÍTICO. Fund. Ubaldino do Amaral, Sorocaba, Sp, 1992
Almeida, Aluísio de. A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1842. Liv. J. Olympio Ed.
Rio de Janeiro, 1944
________________. BIOGRAFIAS SOROCABANAS. Rev. do Arq. Mun. de S.
Paulo – 1952
________________. ESTRADAS E IMPOSTOS DO SUL DO BRASIL – Rev.
do Arq. Mun. de S. Paulo – 1952
Baddini, Cássia Maria. SOROCABA NO IMPÉRIO – COMÉRCIO DE
ANIMAIS E DESENVOLVIMENTO URBANO. Ed. Anna Blume – Sp, 2002
Bacellar, Carlos de Almeida Prado. VIVER E SOBREVIVER EM UMA VILA
COLONIAL - SOROCABA, SÉCULOS XVIII E XIX . Ed. Anna Blume – SP, 2001
Floriano de Godoy, Joaquim. A PROVÍNCIA DE SÃO PAULO – TRABALHO
ESTATÍSITICO, HISTÓRICO E NOTICIOSO. Typ. do Diário do Povo, Rio de
Janeiro, 1875
Hypnarowski, Pe. Vicente. CENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO DE CAMPO
LARGO DE SOROCABA. Ed. Católica, SP, 1926
Lourenço Rodrigues, João. UM EDUCADOR DE OUTRORA. Ed. Salesiana,
SP, 1938
Mebius, Dagoberto. A HISTÓRIA DE SOROCABA PARA CRIANÇAS. Ed.
Aguiar, Sorocaba, SP, 2000
Müller, Daniel Pedro. ENSAIO D’UM QUADRO ESTATÍSTICO DA
PROVÍNCIA DE S. PAULO – Gov. do Est. De S.Paulo – SP – 1978
Nardy Filho, Francisco. A CIDADE DE ITU. USP/SP, 1999
Galanti, Pe. Raphael M. LIÇÇÕES DE HISTÓRIA DO BRASIL. Duprat &
Comp. S.Paulo, 1913
Silva Telles, Joao Carlos da. REPERTÓRIO DAS LEIS DA PROVÍNCIA DE
SÃO PAULO DE 1835 A 1875. Typ Correio Paulistano, SP, 1877
Saint-Hilaire, A. de. VIAGEM À PROVÍNCIA DE SÃO PAULO. Edusp, 1976
Vargas, Túlio. SENHOR SENADOR SENHOR MINISTRO. MEC/Inst. Nac. do
Livro, Brasília/DF, 1976
Vergueiro, Nicolau Pereira de Campos. HISTÓRIA DA FÁBRICA DE FERRO
DE IPANEMA. Ed. Senado Federal/Univ. de Brasilia/DF, 1978