Post on 10-Jul-2015
Aumento
Demográfico do
Século XVIII
Um dos grandes indicadores do
desenvolvimento da Europa ao
longo do século XVIII é o
aumento demográfico aliado às
rápidas mudanças no campo
social e político, cujas maiores
manifestações se enquadram na
França e na Inglaterra. De facto,
o século XVIII é o século das
Revoluções e entre elas é
também considerada a
"Revolução Demográfica".
Salienta-se, no entanto, a
dificuldade com que se defronta
a historiografia quando se
depara com a irremediável
carência de dados estatísticos e,
mesmo quando existem, é
necessário ter em conta a sua
fiabilidade. Para além disso, as
pesquisas através dos registos
paroquiais de nascimentos,
óbitos e casamentos nem
sempre abrangem a totalidade
da população devido às
diferentes opções religiosas
verificadas nesses territórios,
excluindo naturalmente os
grupos minoritários. O acto de
recensear a população só se
generalizou a partir do século
XIX - os primeiros conhecidos
ocorreram na Áustria, em 1695.
A partir de 1748, os Suecos
foram os primeiros a realizar
este tipo de recolha de dados
anualmente, tendo em conta o
número de casamentos, óbitos e
nascimentos. A contagem por
cabeça só se realizou muito mais
tarde, por dificuldades e falta de
conhecimentos técnicos. Só em
1801 é que se realizou o
primeiro censo regular na França
e na Grã-Bretanha.
Assim, os cálculos oficiais
variavam muito. Até 1700 a
Europa apresentava-se pouco
povoada, pois era raro que os
países ultrapassassem os dez
milhões de habitantes.
Caracterizava-a uma
mortalidade elevada,
principalmente a infantil (entre 1
e 10 anos), e uma natalidade
também elevada. As populações
eram atingidas por calamidades
frequentes como a peste, a fome
e a guerra. O celibato era muito
comum, pois era uma forma de
evitar a dispersão do património
familiar, principalmente entre os
membros da nobreza, que
enviavam os seus filhos e filhas
mais jovens para os conventos.
Regra geral, os casamentos
eram realizados em idades
tardias. O século XVIII foi
desigual no crescimento
populacional, porque se verificou
a ocorrência de alguns períodos
de fome e de carência de
produtos alimentares nas suas
primeiras décadas. A explosão
demográfica verificou-se apenas
a partir de 1750, mas a
tendência para o crescimento já
se vinha desenhando muito
lentamente desde o século XVII,
nomeadamente na Alemanha
(após a Guerra dos Trinta Anos),
em Inglaterra e no País de Gales
(a partir dos anos noventa).
Segundo George Rudé, a
população da Europa teria
passado de 100-120 milhões de
habitantes em 1700 para 120-
140 milhões em 1750, atingindo
os 180-190 milhões em 1800. O
maior contributo para este
aumento vem da Rússia, que
triplicou o número de efectivos),
da Inglaterra e do País de Gales
que passou de cinco para nove
milhões de habitantes, da
Prússia e do Império dos
Habsburgos. Entre os países
com um crescimento mais lento
salientam-se a Espanha, a
França (com aumento de 30 por
cento), a Itália (com mais 30
por cento) e Portugal (aumentou
em cerca de 50 por cento). A
Europa saía do "Ciclo
Demográfico Antigo" e entrava
no "Ciclo Demográfico Moderno".
A resposta às causas deste
enorme crescimento poderá
procurar-se em vários factores,
que diferem segundo a opinião
dos historiadores que têm
tratado este fenómeno. Uma das
controvérsias é a atribuição de
uma maior importância ao
aumento de nascimentos ou à
diminuição dos óbitos,
dependendo do ponto de vista
dos investigadores. Quais seriam
então as razões para a
ocorrência de uma ou de outra
hipótese: a melhoria do nível de
vida das populações? O aumento
de cuidados higiénicos? A
diminuição de doenças, de
epidemias, de guerras e de
fomes? O matrimónio de
pessoas mais jovens e com
maiores níveis de fertilidade? A
imigração? Ou a uma revolução
agrária ou industrial? Consoante
o país em análise, deve-se ter
em conta a sua própria
diversidade. Por isso, uma causa
que serve a uma nação já não
será relevante para outra,
dependendo das conjunturas
vividas por cada uma delas no
período em análise.
É possível que a tendência geral
tenha sido uma diminuição da
taxa da mortalidade como a que
se verificou em Inglaterra, na
Suécia e na França. No entanto,
na Noruega a manutenção dos
mesmos índices de alta
mortalidade foi constante e na
Europa de Leste os registos
revelaram um aumento. No que
diz respeito à esperança média
de vida, verificaram-se também
diferenças quando são
comparadas as ocorrências nos
vários países, nos diferentes
extractos sociais e na população
feminina e masculina - se para
alguns países a média se situava
nos 47,6 (Genebra), noutros era
ultrapassada; na Suécia o limite
médio de idade para os homens
era de 33,7 anos e de 36,6 para
as mulheres entre 1750 e 1800.
A baixa da taxa de mortalidade
poderá ter a ver com uma
melhoria geral das condições de
vida e com uma franca
diminuição de fomes e de
epidemias, embora tenham
ocorrido surtos esporadicamente
(varíola em França, malária em
Espanha e tosse convulsa na
Suécia). A menor incidência da
guerra é também considerada
um factor de primeiro plano,
pois teve consequências ao nível
da diminuição da difusão das
epidemias e da frequência de
pilhagens que arruinavam a
economia dos países envolvidos.
As más colheitas do início do
século já não se verificariam
posteriormente, pois houve um
melhoramento significativo das
condições climatéricas, excepto
no contexto da Europa de Leste,
onde as fomes ainda
provocavam grandes
mortandades. Se a melhoria
geral da quantidade e qualidade
dos géneros alimentares foi
importante para o abaixamento
da taxa de mortalidade (torna-
se comum o uso do milho e da
batata e expande-se a produção
de gado), foi igualmente
significativo o facto de estas
populações terem criado
maiores resistências às doenças,
ligadas quer ao desenvolvimento
da agricultura e ao uso de
alimentos mais nutritivos, quer à
preocupação com a saúde e com
a higiene, nomeadamente as
novas concepções no que diz
respeito aos esgotos, aos
enterramentos de cadáveres,
aos diagnósticos médicos e à
utilização de novos
medicamentos. Em traços muito
simples a Inglaterra é bem o
exemplo do abaixamento da
mortalidade a partir de 1740/50,
devido à melhoria significativa
das condições sanitárias, à
diminuição da incidência das
pestes e ao aumento de
produção. O incremento do nível
de vida provocou um aumento
da taxa de nupcialidade e da
esperança de vida. A
impossibilidade de aplicar os
mesmos modelos de análise aos
diferentes países da Europa é
demonstrada pelo caso francês,
cujo crescimento não foi tão
espectacular como o inglês.
Um olhar sobre o aumento das
taxas de natalidade oferece-nos
outra perspectiva do
crescimento. É considerado para
alguns o autêntico motor da
evolução, com as já conhecidas
variações de país para país - se
na Finlândia a taxa de
natalidade aumentou
consideravelmente, na França
diminuiu. Também para este
fenómeno se avançam algumas
teorias: introduziram-se
algumas variáveis como a idade
dos nubentes, a taxa de
matrimónios, a saúde dos
casais, a fertilidade, a incidência
do celibato, as migrações e a
prática de métodos
contraceptivos. Também neste
aspecto se verificaram muitas
variantes e diferentes
explicações para o aumento ou
diminuição das taxas de
natalidade: se na França a idade
de casamento das mulheres se
situava nos 25 anos, já na
Irlanda casavam muito jovens;
em Espanha, o elevado número
de clérigos e a má distribuição
das terras provocou um
abaixamento da natalidade; em
França procedeu-se a práticas
de controlo de natalidade aliadas
à crescente perda de fé e à
necessidade de manter coeso o
património, não o dispersando
por um elevado número de
filhos. A migração foi também
um factor de peso no aumento
ou diminuição da população
(ocasionou a libertação de terras
cultiváveis quando a viagem se
fazia para as colónias
ultramarinas).
Não só é importante conhecer as
causas da Revolução
Demográfica mas também as
suas consequências. Os
contemporâneos como Malthus
auguravam em 1798 um futuro
negro para a Europa,
proveniente do aumento
desmesurado da população. A
sua preocupação fundamentava-
se no pressuposto de que a falta
de guerras, de epidemias, de
fomes e de um controlo
preventivo de nascimentos
provocaria um número crescente
de bocas para alimentar que
rapidamente esgotariam os
recursos de cada nação e,
consequentemente, chegariam
as calamidades. A esta opinião
pessimista contrapunha-se outra
difundida pelos fisiocratas, que
viam no aumento de braços o
motor gerador de maior riqueza
com o fomento de trabalho nos
campos. O aumento de
população era assim uma via
para a prosperidade dos povos.
Com a evolução dos
acontecimentos, a tese de
Malthus não foi totalmente
verificada (as crises de produção
não eram tão frequentes -
contam-se as de 1771, 1772,
1786, 1796 e 1797, que
provocaram consideráveis taxas
de mortalidade), pois o aumento
da população andava de braço
dado com a prosperidade, dando
razão aos fisiocratas, que
defenderam um aumento de
população.
Como referenciar este artigo:
Aumento Demográfico do Século XVIII.
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Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-09-
15].
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http://www.infopedia.pt/$aumento-
demografico-do-seculo-xviii>. Infopédia