OTELO – O MOURO DE VENEZA William Shakespeare Adaptação de Hidegard Feist.

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OTELO – O MOURO DE

VENEZA

William ShakespeareAdaptação de Hidegard Feist

"Você ainda descobrirá que há poetas que tomam emprestado sua vida. Outros a possuem, como Shakespeare." (mãe de Canetti em A língua absolvida, de Elias Canetti)

O autor

WILLIAM SHAKESPEARE (1564-1616)

• Inglês

• De família abastada. O pai morre e ele passa a ser arrimo de família

• Com 23 anos, muda-se para Londres

• É o maior poeta do Renascimento

RENASCIMENTO CULTURAL

• Europa, (século XIV ao XVI)

• Retomada da Antiguidade Clássica greco-romana, após a Idade Média, quando essa cultura foi preterida.

• Por meio dessa retomada, buscou-se a valorização das capacidades do homem e do estudo e conhecimento da natureza.

• Shakespeare inicia sua carreira como ator

• Passa a adaptar textos alheios para o teatro

• Começa a escrever suas próprias peças

Raul Cortez interpretando

Rei Lear

Romeu e Julieta, de Franco Zeffirelli

(EUA, 1996)

CONTEXTO HISTÓRICO de produção da obra

• Centralização do poder na figura dos reis

• Intensa atividade do comércio

• Crescimento populacional das cidades

• Enriquecimento dos comerciantes

• Declínio da nobreza

REPRESENTAÇÃO DA BURGUESIA ASCENDENTE

• Nova classe social: a burguesia

• Acumula poder com o tempo

• Precisa de uma forma de arte que a represente

• Prosa (romance) e teatro (tragédia e comédia)

O teatro grego

TRAGÉDIA

Tragos, “bode” + oidé, “canto” = “canto do bode”;

COMÉDIA

Komos, “procissão jocosa” + “oidé”

ORIGEM DO TEATRO

GRÉCIA ANTIGA

– Festas em homenagem a Dionísio, o deus do vinho;

• realizadas a cada nova safra de uvas, como

agradecimento;

• fertilidade;

• procissões;

• mulheres;

• cantos conhecidos como “ditirambos”.

Dionísio“Exagero”

Apolo“Equilíbrio”

Baco (1597), de

Caravaggio

As bacantes (1996) – Teatro

Oficina

Teatro grego antigo

Encenação de Romeu e Julieta

Otelo – a obra

• Escrita entre 1602 e 1604

• Elementos potenciais em tragicidade:

- União de uma branca com um mouro

- Posição elevada de um mouro na sociedade europeia

TEMAS PRINCIPAIS

• Preconceito contra o “negro” e o mouro

• Vingança

• Ciúme

OS MOUROS

Os mouros (também chamados de mauros) são um povo árabe-berbere que conquistou a Península Ibérica, oriundos principalmente da região do Saara ocidental e da Mauritânia.

África – PolíticoFonte: Google Mapas (adapt.)

Na linguagem comum, os mouros são muitas vezes associados aos seguidores do Islã. Isso se deve ao fato de terem sido esses povos os não cristãos que mais recentemente ocuparam os territórios da Península Ibérica. De resto, a palavra surgiu em latim tardio na forma mauri, bem antes do nascimento do profeta Maomé.

Na literatura: em novelas de cavalaria, em Os lusíadas (1556), de Luís Vaz de Camões e em Otelo (1622).

TRAMA - Causas

• Otelo é general do exército veneziano(antes da ação da peça)

• Casa-se com Desdêmona, filha de um rico mercador veneziano, homem também muito influente no governo

• Nomeia Cássio como tenente, em vez de Iago (antes da ação da peça)

TRAMA - consequências

• Repúdio de Iago em receber ordens de um mouro

• Repúdio da sociedade em relação ao casamento de Otelo e Desdêmona

• Despeito e vingança de Iago

CIÚMES

Segundo a psicóloga clínica Mariagrazia Marini, esse sentimento apresenta caráter instintivo e natural, sendo também marcado pelo medo, real ou irreal, de se perder o amor da pessoa amada. O ciúme está relacionado com a falta de confiança no outro ou em si próprio e, quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão.

Nesse tipo de paranoia, a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade do parceiro e passa a procurar “evidências” da traição. Nas formas mais exacerbadas, o ciumento passa a exigir do outro coisas que limitam a liberdade deste.

Otelo é uma obra literária que trata, além do preconceito, do ciúmes.

Ciúmes – o que são?

Os casos mais graves podem ser curados através da psicoterapia, que exerce um reforço da autoestima e da valorização da autoimagem.

Outros casos mais leves podem ser tratados através da ajuda do parceiro, estabelecendo-se um diálogo franco e aberto de encontro, com a reflexão sobre o que sentem um pelo outro e sobre tudo o que possa levar a uma melhoria da relação, para que esse aspecto não se torne limitador e perturbador.

Iago tinha ciúmes...Iago tinha ciúmes...

Iago: (...) mas também em parte por um igual desejo de vingança, pois que suspeito que o lascivo mouro andou a cavalgar na minha sela.

E plantou os ciúmes em Otelo.E plantou os ciúmes em Otelo.

Iago: Meu senhor, livrai-vos do ciúme! É um monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto de que se alimenta. Que felizardo é o corno que, cônscio de que o é, não ama sua infiel! Mas que momentos infernais padece o que, amando, duvida e, suspeitando, adora!

Iago: Nem papoula nem mandrágora, nem todas as poções soporíferas do mundo podem restituir-te ao sono calmo em que ontem te embalavas!

Em nossa literatura, temos Dom Casmurro (1899), em que Machado de Assis estabelece com William Shakespeare o que chamamos de diálogo ou

intertextualidade

CAPÍTULO CXXXV / OTELO

Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço. —um simples lenço!—e aqui dou matéria à meditação dos psicólogos deste e de outros continentes, pois não me pude furtar à observação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo e compor a mais sublime tragédia deste mundo. Os lenços perderam-se. Hoje são precisos os próprios lençóis; alguma vez nem lençóis há e valem só as camisas. Tais eram as ideias que me iam passando pela cabeça, vagas e turvas, à medida que o mouro rolava convulso, e Iago destilava a sua calúnia. Nos intervalos não me levantava da cadeira- não queria expor-me a encontrar algum conhecido. As senhoras ficavam quase todas nos camarotes, enquanto os homens iam fumar. Então eu perguntava a mim mesmo se alguma daquelas não teria amado alguém que jazesse agora no cemitério, e vinham outras incoerências, até que o pano subia e continuava a peça. O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

— E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo; — que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro? Um travesseiro não bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção...

Vaguei pelas ruas o resto da noite. Ceei, é verdade um quase nada, mas o bastante para ir até à manhã. Vi as últimas horas da noite e as primeiras do dia, vi os derradeiros passeadores e os primeiros varredores, as primeiras carroças, os primeiros ruídos, os primeiros labores, um dia que vinha depois do outro e me veria ir para nunca mais voltar. As ruas que eu andava como que me fugiam por si mesmas. Não tornaria a contemplar o mar da Glória, nem a serra dos órgãos, nem a fortaleza de Santa Cruz e as outras. A gente que passava não era tanta, como nos dias comuns da semana, mas era já numerosa e ia a algum trabalho, que repetiria depois; eu é que não repetiria mais nada.

Cheguei a casa, abri a porta devagarinho, subi pé ante pé, e meti-me no gabinete, iam dar seis horas. Tirei o veneno do bolso, fiquei em mangas de camisa, e escrevi ainda uma carta, a última, dirigida a Capitu.

Nenhuma das outras era para ela; senti necessidade de lhe dizer uma palavra em que lhe ficasse o remorso da minha morte.

Escrevi dous textos. O primeiro queimei-o por ser longo e difuso. O segundo continha só o necessário, claro e breve. Não lhe lembrava o nosso passado, nem as lutas havidas, nem alegria alguma; falava-lhe só de Escobar e da necessidade de morrer.

http://www.fuvest.br/download/livros/casmurro.pdf

A INFOEDUCAÇÃO RECOMENDA

Textos originais de Shakespeare

Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis

Dom, de Moacyr Goés (BRA, 2003)

TRAGÉGIAS GREGAS

Prometeu (525 a 456 a.C.), de Ésquilo

Édipo rei (496 a 406 a.C.), de Sófocles

As troianas (484 a 406 a.C.), de Eurípedes

Medeia (431 a.C), de Eurípedes

BOA LEITURA!