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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O PEDAGOGO E A EDUCAÇÃO SEXUAL – UM LAÇO
POSSÍVEL?
Edna Massue Hossaka1 Zuleika Aparecida Claro Piassa2
RESUMO
A temática Educação Sexual foi selecionada para compreender quais são os pressupostos teóricos que a orientam, quem é o profissional que trabalha esse tema dentro da escola e com que finalidade é abordado o tema. Os estudos tiveram como referencial teórico fundamental os trabalhos de FIGUEIRÓ (2001; 2009, 2013), FURLANI (2008), LOURO (2000). O desenvolvimento do projeto se deu, inicialmente, através da análise das propostas educacionais para a Educação Sexual e da aplicação de um questionário para identificação das fragilidades em relação ao tema. Após, foram realizadas oficinas com o intuito de aprimorar os conceitos sobre sexualidade e adolescência e as questões sobre gênero, por meio da exploração dos dados apresentados na pesquisa e utilização de vídeos educativos. O público-alvo da implementação foram os profissionais da educação, que atuam no Colégio Estadual Professor Izidoro Luiz Cerávolo, de Apucarana. Concomitantemente, ocorreu o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), que se destinou aos professores e pedagogos da rede estadual de ensino. Os resultados, em ambas situações, demonstraram que o tema deve ser discutido amplamente no espaço escolar, com vistas à formação de uma comunidade cidadã e inclusiva.
Palavras-chaves: Pedagogia; Diversidade; Educação Sexual
1 INTRODUÇÃO
Este material foi fruto de estudos desenvolvidos no decorrer do ano de
2013, enquanto educadora da Rede estadual de Ensino do Estado do Paraná –
através do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE cujo qual
consistiu contribuir para o aprofundamento do referencial teórico e prático dos
1 Pedagoga do Colégio Estadual Professor Izidoro Luiz Cerávolo da cidade de Apucarana, Pr. E-mail: ednahoss@gmail.com. 2 Professora Orientadora do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) da UEL- Universidade Estadual de Londrina).
professores, nos aspectos específicos de sua área/disciplina de formação em
parceria com a UEL – Universidade Estadual de Londrina.
A temática selecionada foi Pedagogia e Diversidade, com enfoque na
Educação Sexual, foi possível compreender quais os pressupostos teóricos
que a orientam este estudo, quem são os profissionais que trabalham a
temática dentro da escola e com que finalidade este tema é trabalhado. Para
tanto, foram realizados estudos tendo como referencial teórico fundamental, os
trabalhos desenvolvidos por FIGUEIRÓ (2001; 2009), FURLANI (2008),
LOURO (2000).
O desenvolvimento do trabalho se deu inicialmente através da análise
das propostas educacionais para o ensino da Educação Sexual e da aplicação
de um questionário para identificação das fragilidades em relação ao tema.
Após, foram realizadas oficinas com o intuito de aprimorar os conceitos sobre
sexualidade e adolescência, as questões sobre gênero, por meio da exploração
dos dados apresentados na pesquisa e com a utilização de vídeos educativos e
dinâmicas.
A estrutura do trabalho foi dividida em temas, a saber: Temática I –
Glossário de Conceito; Temática II – Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCNs; Temática III – Aprofundamento de Problemas e Conceitos sobre
Sexualidade na Adolescência e, por fim, Temática IV – A minha Escola e o
Trabalho com Educação Sexual.
O público-alvo deste trabalho foram os profissionais da educação –
Agentes Educacionais e Pedagogos, que atuam no Colégio Estadual Professor
Izidoro Luiz Cerávolo – Ensino Fundamental, Médio e Educação Profissional,
do município de Apucarana.
No primeiro semestre de 2014 foi realizado o Grupo de Trabalho em
Rede – GTR, (uma modalidade de capacitação online), onde o mesmo abordou
temas relacionados à formação de educadores sexuais, bem como a
socialização do Projeto de Intervenção Pedagógica, oportunizando interação
entre os participantes e sugestões de melhoria no ensino e possíveis
orientações relacionadas à sexualidade. Inscreveram-se para este momento 20
educadores, porém apenas 16 participaram ativamente do processo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O estado de alheamento dos pedagogos e demais profissionais da
educação em relação aos problemas da sexualidade tem sido motivo de
preocupação. A influência das mídias alimentadas pela indústria cultural, na
(in)formação sobre o tema, pressupõe que os estudantes e mesmo os
educadores, estejam recebendo conceitos muitas vezes errôneos e vulgares
sobre sexualidade, o que tem alterado o cotidiano da escola.
A possibilidade de utilizar a ação do professor pedagogo e dos agentes
educacionais na educação sexual como mediadores na construção dos
conhecimentos nessa área, poderá ajudar a desenvolver um olhar crítico e
sensível, onde o aluno irá estabelecer um novo saber, num exercício reflexivo
sobre a descoberta de seu próprio corpo e a formação de sua identidade. A
experiência de um trabalho junto aos profissionais da escola pode apontar os
caminhos para este projeto. Com isso, o objetivo da unidade temática aplicada
aos educadores foi discutir as concepções da educação sexual e as
implicações para a ação pedagógica destes profissionais, orientando-os de
forma a aprimorar seus conhecimentos e desempenho profissional.
Atualmente observa-se que o discurso sobre as questões relativas à
diversidade, em especial as referentes à orientação sexual, vem ganhando
espaço na mídia e também em debates que, posteriormente, se desdobram
nas políticas sociais/educacionais. Portanto, a necessidade de pesquisar as
práticas da educação sexual no âmbito escolar decorre da existência da
demanda de problemas encaminhados ao professor pedagogo inclusive, os
que envolvem orientação sexual. Considerando que este profissional é um
articulador das ações pedagógicas na escola, ele pode abrir um canal para
discutir e provocar estudos sobre este tema, pois “A escola tem a
responsabilidade de não contribuir para o aumento da discriminação e dos
preconceitos [...]” (CEPESC, 2009, p.29).
Com as oficinas desenvolvidas sobre a temática, acreditamos que os
participantes poderão despertar o ato reflexivo dos alunos e o aprimoramento
do que o discente já conhece sobre o tema, valorizando a discussão aberta e
crítica sobre o mesmo. A ideia é que os educadores estimulem os alunos a
pesquisar sobre o tema e indicar a eles diferentes recursos de aprendizagem.
Dentro da escola, observa-se que as discussões sobre orientação
sexual não são trabalhadas intencionalmente, pois o que se chama Educação
Sexual ocorreu e ainda ocorre “[...] de forma bastante limitada e com ênfase na
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis” (FERREIRA; LUZ, 2009, p.
33). Este trabalho, na maioria das vezes, é realizado pelo professor de
Ciências ou de Biologia, em razão do conteúdo da sua disciplina, adotando
uma abordagem fisiológica ou médica. A influência da Medicina nos assuntos
referentes à Educação Sexual é preponderante e se justifica pelo fato de ter
sido “[...] a área que concreta e pioneiramente assumiu o trabalho que envolve
a sexualidade das pessoas.” (FIGUEIRÓ, 2001, p.57).
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
O Projeto de Intervenção Pedagógica foi aplicado no Colégio Estadual
Professor Izidoro Luiz Cerávolo, envolvendo 07 (sete) participantes, sendo uma
Pedagoga e 06 (seis) Agentes Educacionais. Os encontros ocorreram aos
sábados, no período matutino e o projeto foi desenvolvido através de oficinas e
palestras, durante 08 (oito) encontros.
O primeiro encontro foi realizado com a presença da Profª Ms. Zuleika
Aparecida Claro Piassa, que proferiu palestra aos participantes sobre a
importância e pertinência das discussões acerca da Educação Sexual, este
momento foi de grande enriquecimento intelectual aos participantes, pois
promoveu a reflexão conjunta dos participantes.
No segundo encontro, foi aplicado um questionário para coleta de
dados cujo qual visou observar os possíveis anseios, dúvidas e dificuldades
trazidos pelos educadores. A análise dos dados contidos no questionário,
determinaram o desencadeamento de ações nos encontros posteriores.
O grupo foi composto por pessoas do sexo feminino, com faixa etária
de 45 anos a 60 anos. Das sete participantes, cinco eram casadas, uma
solteira e uma com união estável. Somente as casadas tinham filhos. A média
de tempo de atuação na função exercida era de 20 anos.
Em relação a questão “como é trabalhada a Educação Sexual na
escola?”, a maioria respondeu que era nas disciplinas de Ciências/Biologia, e
que a mesma só seria trabalhada em outras circunstâncias quando surgia
algum problema na escola ou em uma turma específica. As metodologias
utilizadas para esta abordagem geralmente são em forma de palestras ou
encontros informais.
Foram através das indagações obtidas através do questionário, que
pudemos observar indícios de que para o grupo, a Educação Sexual refere-se
ao aspecto biológico, deixando de lado suas múltiplas dimensões, ou seja, a
sexualidade não tratada de maneira transversal.
Quando indagados acerca das dificuldades pessoais encontradas para
abordar o tema, os respondentes referiram, em ordem decrescente de
importância, a falta de conhecimento sobre o assunto, a resistência dos alunos
e famílias, principalmente os que possuíam religiões pentecostais; dificuldades
pessoais para lidar com o tema, já que muitos não haviam também sido
educados sexualmente nem pela família e nem pela escola; falta de tempo
para aprimorar seus conhecimentos; necessidade de metodologia específica e
por fim, falta de materiais específicos/adequados.
Quando questionados acerca de como percebem a sexualidade no
ambiente escolar, os educadores relataram que percebem ao observarem o
modo como os alunos se relacionam entre si, bem como pela vestimenta e
comportamentos públicos.
Para a questão “como a sexualidade é tratada pedagogicamente em
sua escola”, observou-se que na maioria das vezes, ocorrem através de
esclarecimentos de dúvidas, conversas particulares com aluno e
posteriormente, em casos considerados graves, com os pais. Nenhum dos
educadores consideram-se preconceituosos e admitem ser necessária a
adaptação ao mundo da sexualidade atual, para poder lidar e conviver com a
realidade, dificuldade e os conflitos que esse assunto pode vir a apresentar.
Observou-se então, a receptividade para a discussão dos temas propostos e a
necessidade de se fundamentar teoricamente os aspectos apresentados no
questionário. Diante disso, foram trabalhados no terceiro encontro o Glossário
de Conceitos, os trabalhados foram os seguintes:
Assédio Sexual: É um tipo de coerção de caráter sexual,
caracterizado por uma ameaça praticada por pessoa em posição hierárquica
superior em relação a um/a subordinado/a. As principais vítimas são as
mulheres que recebem propostas de favores sexuais em troca de favores
profissionais.
Bissexualidade: Atração afetiva, sexual e erótica tanto por pessoas do
mesmo gênero quanto do gênero oposto.
Estereótipos: Consiste na generalização e na atribuição de valor
(geralmente negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a
elas e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização
de julgamentos subjetivos feitos em relação a um determinado grupo, impondo-
lhes o lugar de inferior e o lugar de incapaz, no caso de estereótipos negativos.
Gay: Homem que tem desejos, práticas sexuais e/ou relacionamento
afetivo-sexual com outras pessoas do seu mesmo sexo, podendo ser do
gênero masculino ou feminino.
Gênero: Conceito formulado nos anos 1970 com profunda influência
do pensamento feminista. Para as ciências sociais e humanas, o conceito de
gênero refere-se à construção social do sexo anatômico. Ele foi criado para
distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio
de que há machos e fêmeas da espécie humana, no entanto, a maneira de ser
homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim, gênero significa que
homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da
anatomia de seus corpos.
Heterossexualidade: Atração afetiva, sexual e erótica por pessoa de
outro gênero.
Homofobia: Ódio, aversão e desprezo contra homossexuais ou
homossexualidade.
Intersexuais: Que apresentam sexo biológico ambíguo no nascimento.
LGBT: Sigla referente ao movimento de Lésbicas, gays, bissexuais,
travestis, transexuais e transgêneros. [...] o Movimento LGBT empenha-se em
sensibilizar a população de modo geral para as formas de discriminação por
orientação sexual, as quais têm levado estudantes a abandonarem as escolas
por não suportarem o sofrimento causado pelas piadas e ameaças cotidianas
dentro e fora dos muros escolares. Esses mesmos movimentos têm apontado a
urgência de inclusão no currículo escolar da diversidade de orientação sexual,
como forma de superação de preconceitos e enfrentamento da homofobia. [...]
Orientação Sexual: Refere-se ao sexo das pessoas que elegemos
como objetos de desejo e afeto. Hoje são reconhecidos três tipos de orientação
sexual: a heterossexualidade (atração física e emocional pelo “sexo oposto”); a
homossexualidade (atração física e emocional pelo “mesmo sexo”) e a
bissexualidade (atração física e emocional tanto pelo “mesmo sexo” quanto
pelo “sexo oposto”).
Sexismo: Atitude preconceituosa que prescreve para homens e
mulheres papéis e condutas diferenciadas de acordo com o gênero atribuído de
cada um, subordinando o feminino ao masculino.
Sexo: Indica um conjunto de atributos fisiológicos, órgãos e
capacidades reprodutivas que permitem classificar e definir categorias distintas
de pessoas – como “do mesmo sexo”, “do sexo oposto” – segundo
características específicas atribuídas aos seus corpos, às suas atitudes e aos
seus comportamentos.
Sexualidade: Refere-se às elaborações culturais sobre os prazeres e
os intercâmbios sociais e corporais que compreendem desde o erotismo, o
desejo e o afeto até noções relativas à saúde, a reprodução, ao uso de
tecnologias e ao exercício do poder na sociedade. As definições atuais da
sexualidade abarcam, nas ciências sociais, significados, ideais, desejos,
sensações, emoções, experiências, condutas, proibições, modelos e fantasias
que são configurados de modos diversos em diferentes contextos sociais e
períodos históricos. Trata-se, portanto, de um contexto dinâmico que vai
evolucionando e que está sujeito a diferentes usos, múltiplas e contraditórias
interpretações e que se encontra vinculado a debates e disputas políticas.
Travesti: Pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que
tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis
de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis (do sexo
masculino) modificam seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de
silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso não é regra para
todos.
Transexuais: Pessoas que se identificam com um gênero diferente
daquele que lhe foi imposto desde o momento de seu nascimento, a ponto de
muitas delas – mas nem todas – desejarem e efetuarem modificações
corporais radicais, como no caso da cirurgia reparadora de mudança de sexo.
As palavras “transgênero” ou “trans” são usadas por algumas pessoas para
reunir, numa só categoria, travestis e transexuais como sujeitos que realizam
um trânsito entre um gênero e outro.
Os conceitos aqui apresentados foram retirados do caderno de
atividades do Projeto Gênero e Diversidade na Escola – Formação de
Professoras/es em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações
Étnico-Raciais – Caderno de Atividades (SPM/PR, SEPPIR/PR, MEC, 2012).
Ao serem abordados os conceitos, percebemos que os mesmos
provocaram grande curiosidade e até risos. Todas disseram que inúmeros
conceitos foram novidades, pois nunca haviam ouvido falar. Com isso cremos
que houve a disseminação necessária de informações, bem como sua reflexão
e opinião.
No quarto momento, o foco foi o que dizem os Parâmetros Curriculares
Nacionais - PCNs e dos motivos para se retomá-los. Consideramos válido
começarmos este tópico abordando como os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) propõem que se ensine a sexualidade nas escolas.
De acordo com os PCNs, a Educação Sexual deve ser aplicada como
um tema transversal, ou seja, como um assunto ministrado dentro das várias
áreas de conhecimento, perpassando cada uma delas (FIGUEIRÓ, 2009).
A sexualidade faz parte do desenvolvimento humano e tem sofrido
grandes avanços em matéria de estudos e pesquisas. Na área da Educação,
somente no final de 1990, ao serem implantados os PCNs, a educação sexual
na escola “[...] alcançou resultados normativos culminando com o
desenvolvimento de projetos e aulas de Educação Sexual” (SILVA;
CARVALHO, 2005 p.73).
Observa-se que o foco da educação sexual a ser implementada pela
escola estava ocorrendo:
em virtude do crescimento de casos de gravidez indesejada entre adolescentes e do risco da contaminação pelo HIV, o tema Orientação Sexual foi criado como um dos temas transversais a ser trabalhado ao longo de todos os ciclos de escolarização. Cabe, portanto, à escola – e não mais apenas à família – desenvolver uma ação crítica, reflexiva e educativa que promova a saúde das crianças e dos adolescentes (ALTMANN, 2001, p. 576).
Os PCNs, ao instituir a transversalidade, acarretaram uma nova
necessidade, que é a formação do docente. Quem realmente desempenhará o
trabalho? É importante salientar que os professores também carregam seus
tabus e medos de falar sobre a sexualidade, são também frutos de uma
educação repressora.
Torna-se claro então, a importância de qualificação profissional, ou
melhor, de formação continuada, pois a sexualidade nos remete à intimidade,
que, por sua vez, implica em relações afetivas. Portanto, para se fazer
Orientação Sexual, da forma posta pelos PCNs, é preciso que o aluno sinta
que um canal de comunicação está aberto, e que é confiável e o professor se
sinta confortável na situação.
O que se percebe é que o trabalho é desenvolvido por professores das
disciplinas de Ciências ou de Biologia e que, portanto, a transversalidade não
ocorreu e nem ocorre nas escolas. Importante ressaltar que o foco estava nas
questões referentes à prevenção de DSTs/AIDS e gravidez na adolescência,
sendo que, somente um eixo, dos três propostos pelos PCNs, é contemplado
nas escolas.
Importante lembrar que os PCNs tratam a sexualidade como resultante
cultural e a aborda nas suas dimensões biológicas, psíquica e sociocultural,
vinculando-a aos direitos humanos, cidadania, ética e saúde.
É pertinente recordar que os temas transversais foram instituídos a partir
de questões emergentes e urgentes, em particular, a urgência social. O
vivenciar a sexualidade fez com que ela fosse contemplada no currículo das
escolas e, portanto, pode interferir no processo de ensino das questões sobre
sexualidade.
Portanto, a formação do profissional para trabalhar Educação Sexual é
altamente relevante, pois conceitos carregados de preconceitos, limitados e de
extremo conservadorismo atrelados a uma formação inadequada do educador,
torna o ato de ensinar, um verdadeiro repasse de informações impregnadas de
valores pessoais.
No Projeto Político Pedagógico – PPP do Colégio onde foi realizada a
implementação, ainda se tem a visão apenas biológica da Educação Sexual,
porém, observou-se nos relatos verbais, que a prática está adiante do posto
nos documentos, isto é, as discussões sobre o tema ocorrem na escola
envolvendo diversos segmentos. É preciso que se compreenda a Educação
Sexual para além da prevenção e promoção da saúde. É urgente que o
trabalho pedagógico rompa as amarras do pecaminoso, perigoso, proibido e
olhe a sexualidade como pertencente ao sujeito, auxiliando-o na construção do
conhecimento e na desmistificação/desconstrução de tabus.
O quinto e sexto momentos foram marcados pelo aprofundamento dos
problemas e conceitos sobre a sexualidade e a formação de profissionais em
Educação Sexual. Foram apresentados vídeos que enriqueceram os estudos e
discutiu-se a necessidade de se formar o profissional para trabalhar a
Educação Sexual dentro da escola. Dentre as dificuldades de se trabalhar a
temática estão as questões pessoais, como timidez, vergonha em abordar o
assunto e o despreparo teórico.
A adolescência é um período que cientificamente abrange dos 11 anos
completos até os 18 anos incompletos, porém, nos dias atuais, observou-se um
prolongamento na sociedade ocidental moderna, levando alguns autores
considerarem que a adolescência ocorre no período de 10 a 19 anos. Torna-se
um período caracterizado pelo aprimoramento das características sexuais e
desenvolvimento dos processos psicológicos, evoluindo os indivíduos infantes
para a fase adulta (BERLOFI, et al. 2006; BRANDÃO; HEILBORN, 2006).
Considera-se ainda, uma etapa na qual o adolescente reformula seu eu,
deixando a imagem de criança para trás e delineando sua figura adulta. Os
indivíduos que estão nesta fase normalmente são caracterizados pela
impulsividade, ansiedade, insegurança, inquietude, formação da identidade e
auto–estima (HIRATA; CAPELLOTO; SANTOS, 2005; RAMOS, 2000).
As crises, dificuldades e angústias marcadas pela adolescência fazem
com que o adolescente sofra alterações no seu rendimento psíquico devido ao
desenvolvimento biopsicossocial. Isto reflete diretamente no intelecto, haja
vista que o jovem apresenta eficácia, agilidade, altivez, tornando-o
“independente” dos mais velhos, por isso tende a não aceitar as normas,
características rebeldes que constroem a identidade juvenil (FREUD, 1986).
Em relação ao desenvolvimento físico, o amadurecimento sexual
ocorre com o desenvolvimento das características sexuais primárias e
secundárias. As primárias denotam alterações físicas e hormonais
extremamente necessárias à reprodução, e as secundárias diferem os órgãos
genitais masculino e feminino (POTTER, 2006).
Em geral, nessas alterações, observa-se nas meninas o aumento dos
seios, dos quadris, a distribuição dos pêlos e a ocorrência da menarca
(primeira menstruação). Estas alterações físicas ocorrem por partes, devido
aos hormônios sexuais e de crescimento, alterando também o humor, por isso,
os jovens são marcados pela rebeldia, descomprometimento, vivendo em
constante conflito (RAMOS, 2000).
De acordo com FIGUEIRÓ, (2013), a criança e o adolescente têm
direito de saber e conhecer sobre a sexualidade, seu corpo e tudo o que está
relacionado com a vida afetiva e sexual. Entretanto, em que momento os
jovens estão aptos a tomar decisões levando em conta valores? A idade
cronológica pode variar muito, dependendo das influências familiares, sociais
que cada um viveu. Mas, para que eles estejam preparados para, com
segurança e responsabilidade, tomar as decisões relacionadas a sexualidade,
é necessário que uma Educação Sexual esteja presente de forma continuada,
ao longo da vida acadêmica desses jovens adolescentes.
É necessário que se constituam grupos de formação de profissionais
devidamente qualificados que trabalhem a Educação Sexual nas escolas, hoje
deixada a cargo dos professores de Ciências ou Biologia.
Furlani (2008) em sua obra Mulheres só fazem amor com homens? A
Educação Sexual e os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, indaga
que em observação a livros didáticos de Ciências e paradidáticos de Educação
Sexual, tem-se constatado que a maneira como a diversidade de gênero e a
sexualidade estão representadas nestes materiais produz significados que
distinguem e compõem os sujeitos considerados pela sociedade como
“normais” e “anormais”. Para ela,
É imprescindível, a qualquer processo de educação e de formação de educadores (que busca, honestamente, explicitar as desigualdades sociais), duvidar da norma, questionar as hegemonias, pôr em questão a moralidade conservadora, explicitar os mecanismos históricos e políticos que marcam “os diferentes” como significativamente “indesejáveis” (FURLANI, 2008 p.2).
A sexualidade é uma questão pessoal, social e política. É construída ao
longo de toda a vida de modos diferentes e por todas as pessoas. É além de
tudo um processo cultural e plural, onde os corpos ganham sentido socialmente
sendo “moldados pelo poder da sociedade” (LOURO, 2000).
Portanto, observa-se a importância de uma Educação Sexual
estruturada formalmente, isto é, planejada e com intencionalidade, pois
[...] Sabe-se que a escola é um cenário muito apropriado para o desenvolvimento de um programa de educação sexual, por que além de uma ação direta que exerce sobre os educandos, indiretamente incentiva a própria família a desempenhar o seu papel. [...] Para que a educação ocorra é necessário um educador e o professor é o grande agente na integração da orientação sexual na vida escolar. [...] A educação sexual é com certeza uma grande estratégia de prevenção dos problemas relacionados ao desenvolvimento da sexualidade na adolescência, mas a escola apresenta dificuldades em cumprir seu papel, pois este trabalho resulta entre outros fatores, de docentes capacitados previamente para a função (JARDIM, BRÊTAS, 2006, p.158).
Temos que tomar consciência de que a sociedade como um todo é
formada por várias esferas culturais. O pedagogo deve conhecer a realidade da
escola na qual está inserido e demonstrar isso aos professores. O Projeto
Político Pedagógico da escola deve retratar a comunidade escolar e, através
disso, desencadear ações que promovam a igualdade social no ambiente
escolar.
É importante a colaboração de todos para uma educação que valorize
a diversidade, proporcionando a todos uma prática social inclusiva,
promovendo a igualdade de oportunidades.
As discussões sobre as relações entre sexualidade e gênero são
fundamentais para trazer à tona, conceitos baseados no senso comum,
presentes na escola.
O conhecimento de que a sexualidade é resultante dos movimentos da
sociedade e é ressignificada, de acordo com a visão que se tem de homem,
cultura, sociedade, é extremamente importante para iniciar a desconstrução de
tabus existentes tanto para educadores, quanto para alunos.
Através da Educação Sexual, é possível discutir diversos conceitos e
valores (respeito, tolerância, cooperação, aceitação, solidariedade, etc), bem
como os preconceitos. Devemos proporcionar oportunidades para que se
discuta a aceitação do outro, com suas diferenças, levando assim a uma
reflexão e possível diminuição de desigualdades e exclusão social baseadas no
sexo, sexualidade, gênero. A partir da demonstração e constatação de que a
diferença existe e é positiva, contribui-se para que se busque uma convivência
social mais pacífica.
Durante o sétimo encontro a temática foi: “A minha Escola e o Trabalho
com Educação Sexual”. Nesse momento foi possível perceber que as
discussões sobre Educação Sexual são extremamente necessárias dentro do
ambiente escolar, pois observa-se que algumas afirmativas são baseadas no
senso comum, carecendo de fundamentação teórica. Um dado positivo é que
nenhuma delas demonstrou atitudes discriminatórias em relação a orientação
sexual diferente da sua; mostraram-se abertas ao conhecimento, aceitação e
respeito ao outro. No último encontro, foi realizada a apresentação individual
sobre sua percepção em relação aos assuntos discutidos durante as oficinas,
relatando se o tema foi relevante para o seu fazer pedagógico. Todas referiram
ser de extrema pertinência as discussões e estudos realizados. Sugerem a
ampliação do grupo, envolvendo os professores e até pais para que se possa
esclarecer os aspectos da sexualidade do ser humano.
[...] Somos sujeitos de muitas identidades. Essas múltiplas identidades sociais podem ser, também, provisoriamente atraentes e, depois, nos parecerem descartáveis; elas podem ser, então, rejeitadas e abandonadas. Somos sujeitos de identidades transitórias e contingentes. Portanto, as identidades sexuais e de gênero (como todas as identidades sociais) têm o caráter fragmentado, instável, histórico e plural, afirmado pelos teóricos e teóricas culturais (LOURO, 2000 p.6).
Diante deste fato, observa-se a seriedade do ensino de sexualidade. A
Educação Sexual é definida como processo informal, pois aprendemos sobre a
sexualidade ao longo da vida “seja através da família, da religião, da
comunidade, dos livros ou da mídia, mas principalmente em escolas” (JARDIM,
BRÊTAS, 2006).
Em relação aos educadores que participaram do GTR, três sínteses
foram apresentadas, a primeira, os levou a discutir que amplitude a Educação
Sexual alcança em nosso trabalho, as discussões foram significativas para
identificar os anseios e necessidades dos educadores, expondo as dúvidas e
até a falta de segurança em abordar o tema, em razão da falta de fundamentos
teóricos para sustentar a prática. Tratando-se do Diário, nota-se nos relatos
que, a necessidade das discussões sobre a sexualidade apresenta-se de forma
emergencial e que na maioria das vezes, não sabemos como dar o
encaminhamento adequado. Isso demonstra que o estudo ainda é a melhor
forma de se preparar para os desafios que se apresentam na escola.
As discussões proferidas nos fóruns demonstraram que os educadores
estão abertos a transformar essa realidade, tendo em vista o fato de que não é
possível fechar os olhos para a diversidade sexual presente em toda a
sociedade. Discutimos que, alguns professores, apresentam maior facilidade
para tratar do assunto e que outros, necessitam da presença de diferentes
profissionais para abordar o tema. O mais importante é que chegamos à
conclusão que precisamos falar sobre Educação Sexual e, com urgência!
Como educadores, é necessário pesquisar, utilizando referenciais teóricos
apropriados, para fundamentação das discussões. Interessante perceber que
ampliamos o foco da Educação Sexual, deixando de focar apenas, a prevenção
da gravidez na adolescência e as DSTs/AIDS; passamos a entender a
sexualidade como parte do desenvolvimento do ser humano, devendo esta ser
exercida com responsabilidade.
No Fórum vivenciando a prática, observou-se que o tema necessita ser
trabalhado dentro das escolas, onde o Professor Pedagogo pode ser o
articulador das ações, seja firmando parcerias com a comunidade, seja fazendo
o enfrentamento junto aos professores e alunos. Durante os relatos, foi
possível observar que muitos já desenvolvem ações junto a pais e alunos, o
que veio a enriquecer as trocas, e as sugestões de trabalho que foram muito
pertinentes e acolhidas com gratidão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizarmos este artigo, fazemos com a certeza de ter recebido
muitas contribuições não só para a implementação deste PDE, mas também
para o desenvolvimento de ações dentro da escola junto aos pais, aos alunos
enfim, para toda a comunidade escolar.
Durante a caminhada, pudemos perceber o quanto o tema sexo e
sexualidade é pertinente dentro das ações pedagógicas, seja pela presença
constante do bulliyng, da homofobia, ou qualquer outra forma de discriminação
envolvendo a temática.
Muito gratificante foi percebermos a preocupação de alguns colegas,
sobre a necessidade de se trabalhar os temas junto ao corpo docente, dado ao
fato de muitos não terem sido educados sexualmente. Hoje, tendo em vista a
dificuldade em se trabalhar a temática, percebemos que ainda são muitos os
educadores com valores difundidos que se negam a falar sobre a sexualidade.
Cabe pontuar que as colaborações do GTR, deixam muito claro que o
momento de falar sobre Educação Sexual, é agora. Não há mais como
deixarmos estas lacunas. É preciso desmistificar, deixar claro as questões de
gênero, de sexo, de sexualidade, de orientação sexual, entre outros, pois esse
seria o primeiro passo para a vida em comunidade, com respeito e
responsabilidade.
REFERÊNCIAS
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