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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
LITERATURA E INTERTEXTUALIDADE EM JOÃO MANUEL SIMÕES: leituras
e diálogos poéticos
Manoel Pedro Madeira1
Antonio Donizeti da Cruz2
Resumo: Este artigo apresenta os resultados do estudo da obra do escritor João Manuel Simões, com vistas à intertextualidade e interação em movimentos literários, com base nas à análise de como o educando reconhece essas práticas literárias, no intertexto da literatura, da leitura, da poesia, do conto, da arte, bem como oportunizar aos alunos o contato e a socialização da obra poética do escritor João Manuel Simões. Dentro da intertextualidade em diferentes linguagens, há um trabalho relevante de textos de João Manuel Simões com artistas brasileiros – a exemplo de Carlos Drummond de Andrade, Pablo Picasso, Van Gogh, Da Vinci, entre outros. Como em todas as outras artes, a literatura reflete as relações do homem com o mundo e com os seus semelhantes, a obra literária recria a realidade, a vida. Na literatura, como um todo abrangente, Visa-se a intertextualidade envolvendo a leitura, o jogo intertextual, poemas e contos, ao analisar as obras literárias poéticas do escritor português, João Manuel Simões, interagindo também com as obras de arte. A intenção da intertextualidade é introduzir a um novo modelo de leitura que faz estalar a linearidade do texto. Palavras-Chave: literatura, intertextualidade, transversalidades, João Manoel Simões.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo abordar as inter-relações da
Literatura e da Intertextualidade em obras literárias de João Manuel Simões, bem
como uma reflexão sobre a leitura e os diálogos poéticos, na interação da poesia,
do conto e das artes plásticas e escultura, interagindo com outros poetas, pintores,
autores e escritores.
A literatura, bem como qualquer outra arte, é uma criação humana existente
há alguns milênios. O homem, como ser histórico, tem anseios, necessidades e
valores que se modificam constantemente, a literatura reflete o modo de ver a vida
e de estar no mundo. Ao longo da história, foi concebida de diferentes maneiras.
1 Professor da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná - Cascavel, Paraná. 2 Professor Associado da Unioeste - Campus de Cascavel, Paraná.
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Dentro da linha de estudo “Literatura e escola: concepções e práticas” leva
a uma relação dialógica da Literatura com outras linguagens artísticas, outras
áreas do conhecimento e com os temas sociais contemporâneos.
Na literatura, como um todo abrangente, trabalhar-se-á a intertextualidade
envolvendo a leitura, o jogo intertextual, poemas e contos, analisando-se as obras
literárias poéticas do escritor português, João Manuel Simões, interagindo também
com as obras de arte. A intenção da intertextualidade é introduzir a um novo
modelo de leitura que faz estalar a linearidade do texto. De fato, só se aprende o
sentido e a estrutura de uma obra literária e o relacionamento com outros pontos
estratégicos interagindo dentro da intertextualidade, tendo uma visão ampla de
conhecimentos. Literatura é a arte que utiliza a palavra como matéria-prima de
suas criações. A literatura reflete as relações do homem com o mundo e com os
seus semelhantes. Se transforma a cada época os modos de como encarar a vida,
de problematizar a existência, de questionar a realidade, de organizar a
convivência social. Em maior parte, o fascínio pela literatura vai, gradativamente,
dando lugar a indiferença depois à aversão. Na fase do 6º ano escolar, já não é
tão comum encontrar aqueles leitores compenetrados. Ao longo dessa fase, que
vai até o 9º ano do Ensino Fundamental, estudos mostram que há um declínio
constante do interesse pela leitura literária, que continua ao longo do Ensino
Médio.
A escola necessita ter uma proposta pedagógica transformadora e
humanista, com vistas às concepções de língua, literatura, texto e leitura, voltadas
para as necessidades dos alunos e às práticas sociais. A literatura, nesse sentido,
visa atender às necessidades de experiências estéticas que todo ser humano
precisa. Um aspecto a ser destacado nessa vivência é a importância da leitura e
da literatura oral e escrita, bem como a contação de histórias.
A partir da concepção da leitura como interação e da leitura literária como
prática social, voltada para a formação humana dos educandos. A teoria literária
só existe em função da leitura e da literatura; esse é outro aspecto a ser
considerado quando se trabalha o texto literário em sala de aula.
A leitura e a literatura sofrem um processo de escolarização, no qual o
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artificialismo revela-se de modo recorrente por meio de atividades, exercícios
escolares isolados, sem que o aluno perceba a leitura como ação cultural
historicamente constituída.
Na perspectiva de Zilberman (2001), a escola, a crítica literária, a academia
e a imprensa são instituições capazes de conferir e legitimar o estatuto de certas
produções artísticas em detrimento de outras. Segundo a autora:
Essas entidades estabeleceram e fixaram a concepção de literatura enquanto ‘belas letras’ operada a partir da consolidação da sociedade burguesa e do capitalismo, garantindo sua permanência. A seguir, passaram a pôr normas e exigências aos criadores, que eles devem adotar ou não para serem reconhecidos pelo meio e aceitos enquanto artistas. (ZILBERMAN, 2001, p.82)
Quando se discute a presença da literatura na escola, é pertinente
considerar as ideias de alguns autores. Início do Século XX Saussure explicou a
constituição da língua como um sistema de signos, em que interagem a langue
(língua) e a parole (fala), e centrou seus esforços no estudo da langue concebida
como um sistema ou estrutura, um código virtual comum aos integrantes da
mesma comunidade linguística. Dessa concepção de língua derivam certos
encaminhamentos pedagógicos: o ensino da língua por meio de estudo de sua
estrutura, da classificação e nomenclatura dos elementos linguísticos, da
dissecação dos termos da oração e suas funções, tendo em vista um único
conjunto de regras para o uso da língua. O ensino da literatura por sua vez, por
ser do mesmo professor de Língua Portuguesa, é orientado pela mesma
concepção estruturalista. A partir da década de 1980, essas concepções de língua
e literatura e seus respectivos encaminhamentos pedagógicos e ideologia passam
a ser questionados.
Na área de estudos linguísticos e literários um marco é a introdução no
Brasil do pensamento de Mikhail Bakhtin (1895-1975), cuja primeira tradução de
Marxismo e filosofia da linguagem, de 1979, pelo rompimento com as concepções
estruturalistas e a valorização das relações dialógicas entre leitor e texto
(dialogismo) na produção de sentidos que valoriza o discurso como prática social.
No lugar do ensino sobre literatura, focamos análise literária com o fim
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exclusivo de identificar e classificar os elementos da estrutura narrativa ou as
particularidades da linguagem poética, em autores selecionados com o critério do
cânone, o objetivo passa a ser a profunda experiência estética do leitor. Dentro
das concepções e práticas para o ensino da literatura na escola, deve se embasar
todas as ações envolvidas na formação do leitor, é fundamental, que a escola
possua uma proposta pedagógica, com concepções de educação claras,
discutidas por toda a comunidade escolar, e filiadas a elas, coerentes concepções
(teoria) e encaminhamentos metodológicos (prática) de arte, de literatura, de
leitura, de produção de textos, de uso e funcionamento da biblioteca escolar,
dessa forma, onde interage a intertextualidade. No sentido de estabelecer
distinções entre a leitura da literatura e o ensino da literatura. A compreensão
desses dois níveis implica posturas distintas em face do objeto literário, o que,
consequentemente, influenciará a interação texto-leitor na escola.
O estudo da arte busca detectar suas referências a outras obras ou a
aspectos da realidade circundante. A intertextualidade não só condiciona o uso do
código, como também está explicitamente presente ao nível do conteúdo formal
da obra. O dogma da imitação, própria do Renascimento, é também um convite a
uma leitura dupla dos textos e à decifração de sua relação intertextual com o
modelo antigo.
A intertextualidade está essencialmente ligada à poeticidade e à evolução
literária, a sua compreensão enquanto tal é relativamente nova. Fala uma língua
cujo vocabulário é a soma dos textos existentes. Para alguns educadores é
impossível fazer a intertextualidade, mas em contrapartida podemos sim, interagir
a literatura, a leitura, a arte, a música, a poesia, levando tudo isso a um intertexto,
ou seja, a intertextualidade. A verdade literária, como a verdade histórica, só pode
constituir-se na multiplicidade dos textos e das escritas, na intertextualidade. Ela
deixa de ser aproveitamento bem educado e torna-se estratégia de mistura a todo
o discurso social. Um novo modo de leitura vai caracterizar a intertextualidade.
De acordo com as Diretrizes Básicas (2008), a interdisciplinaridade é
importante, usando conceitos, teorias ou práticas, buscando-se quadros
conceituais de outras disciplinas referências que possibilitem uma abordagem
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mais abrangente, o mesmo acontece na Literatura com a intertextualidade.
O Colégio onde foi aplicado o projeto e o estudo da obra de João Manuel
Simões – com base na intertextualidade mostrando a importância de interagir
literatura, leitura, conto, arte e poesia –, é o Colégio Estadual Mário Quintana –
Ensino Fundamental e Médio e localiza-se à Rua Eden Luiz Figueiredo, 305, no
Conjunto Paulo Godoy. Em 1997, funcionava como uma extensão do Colégio
Estadual Jardim Santa Cruz, na UNIVEL. Em 04/02/1998 ocorreu o
desmembramento do Colégio Estadual Jardim Santa Cruz, pela Resolução 374/98
a qual autorizou o funcionamento do Colégio Estadual Mário Quintana. Tem como
patrono, o poeta Mário Quintana, nascido em Alegrete - RS, aos 30 de Julho de
1906 e falecido em Porto Alegre - RS, aos 05 de maio de 1974.
Sempre se admitiu a participação da poesia vinculada ao sagrado porque
eleva o espírito humano submetendo a aparência das coisas aos desejos da alma,
enquanto a razão pode constranger e submeter o espírito à natureza das coisas. A
experiência poética é criação do homem pela imagem e pela linguagem. A teoria
sobre a literatura objetiva-se a estudar a obra, o autor, o leitor e todo o processo
que envolve as obras literárias. É com base na teoria que se fazem as resenhas,
as análises, as críticas literárias, sendo uma base de dados que permitem
construir-se um método de reflexão e análise dos textos literários. Sendo a
literatura uma manifestação artística, cujo material é a arte que se manifesta por
meio do verbo. Sabe-se que as especulações acerca do fato literário surgiram na
Antiguidade grega, e na época do grande desenvolvimento de sua filosofia,
ocorrido nos séculos IV e V a. C.; lembrando da Arte Retórica e a Arte Poética de
Aristóteles, desde sempre e ainda hoje são obras fundamentais.
O leitor comum, ao desfrutar de uma obra, dificilmente pensará em teorizar
sobre ela. Mas na verdade, desde a era dos antigos gregos havia uma
preocupação em compreender a literatura e seus meandros. Pode-se dizer que
com as obras de Homero, Odisseia e Ilíada, nos séculos IV e V a. C.; nasceu a
necessidade de construir a Teoria da Literatura. Essa Teoria estuda a literalidade,
a evolução literária, os períodos da literatura, os gêneros, a narratividade, os
versos, sons e ritmos, as influências exteriores sobre a produção literária.
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A área de Teoria Literária e literatura comparada começaram a integrar
curso de Letras em 1961. Literatura e Educação voltam se para os estudos das
relações entre problemas educacionais e literários, tanto do ponto de vista teórico,
quanto pedagógico.
Não resta dúvida de que a obra do teórico russo Mikhail Bakhtin tem sido
alvo de leituras um tanto equivocadas em nosso meio intelectual. Quando suas
reflexões sobre a poeticidade do discurso literário não são confundidas com os
princípios da análise do discurso, desenvolvidas pela linguística, as categorias
básicas de seu método crítico - por exemplo, a carnavalização e o dialogismo -
são submetidas a simplificações e generalizações assustadoras.
Literatura pode significar ainda conhecimento organizado do fenômeno
literário. Trata-se de um sentido caracteristicamente universitário da palavra e
manifesta-se em expressões como literatura comparada, literatura geral.
A década de 1950, na literatura brasileira, pode ser considerada como da
crítica literária. É o momento em que se adquire a consciência exata do papel
relevante da crítica em meio à criação literária e aos gêneros da literatura
imaginativa, função da disciplina do espírito literário. A era da crítica corresponde à
terceira fase do modernismo brasileiro, como se sabe, esse movimento iniciado
em 1922 com a Semana de Arte Moderna, em seguida a um período percursos e
de preparação. A literatura não deveria realizar-se pelos modelos absolutos das
formas tradicionais, mas sim estar condicionada ao meio onde se produzia,
recolhendo aos usos e costumes, as tradições populares, as peculiaridades
idiomáticas, os temas e os tipos que constituem a cultura do povo.
A literatura e a prática intertextual
Enquanto a presença da literatura na escola parece decrescer, intensifica-
se o debate sobre a formação do leitor literário e sobre o papel da escola nessa
formação. Destituída de seus poderes tradicionais na escola e no mundo, a
literatura precisa ser justificada como bem cultural relevante para a aquisição de
uma consciência estética, histórica e moral.
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Estudando literatura, também se aprende formas de conhecimentos: estudo
das paixões e dos movimentos do espírito, analisando a poesia, inspiração mais
profunda; veículos de educação e de difusão de modos de comportamentos
adequados; cristalização de modelos de língua culta, tendo acesso ao diferente,
ou seja, a outros ambientes sociais; outros tempos – o romance histórico ou o de
atualidades envolventes de outro período quando lido hoje –; outras formas de o
homem se relacionar com a palavra, com a poesia; outros costumes; outras
culturas, no campo literário. Para que a literatura mereça ser objeto de um grande
investimento social, como é a sua inserção no currículo escolar, é preciso que ela
tenha um diferencial, enquanto forma de conhecimento: cultural, poético e artístico
dentro da intertextualidade ou elemento formativo do cidadão. É preciso acreditar
que uma pessoa educada na literatura obtenha uma perspectiva e uma formação
que não seja dada integralmente pelo estudo de nenhuma das outras disciplinas,
nem pelo conjunto delas.
Percurso poético e social de João Manuel Simões
O escritor JOÃO MANUEL SIMÕES nasceu em Portugal. É filho de pai
beirão, de Mortágua, e de mãe paraense, de Belém. Reside em Curitiba, PR. Autor
de cerca de meia centena de livros de poesia, crítica, ensaios, contos, crônicas e
pensamentos. Proferiu palestras e conferências e obteve diversos prêmios, entre
os quais “Fernando Chinaglia”, da União Brasileira de Escritores, com o livro Suma
Poética. É membro da Academia Paranaense de Letras do Centro de Letras do
Paraná, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e do Círculo de Estudos
Bandeirantes. É um exemplo de intelectual que trabalha a sua obra. Ensaísta,
contista e, especialmente, poeta, desde 1959 vem publicando seus livros e tem
merecido justos elogios de críticos na área da literatura. A literatura do Paraná a
cada dia se enriquece com as produções espirituais desse poeta de linguagem
pura, com sabedoria comunicativa, tal como no poema:
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OFERENDA O que preferes, meu amor? Magnólias ou alvos, puros lírios virginais vergados pelo som de harpas eólias soltas nas longas tardes outonais? Jasmins, hortênsias, rosas amarelas? Cravos de sangue, meigas açucenas? Girassóis da família das estrelas? Agapantos beijados por falenas? Crisântemos serão de teu agrado? Que preferes, amor? Por que não falas? Que outras flores há que não possuas? Miosótis e gerânios, lado a lado? Leves glicínias para as tuas salas? Num ramo imenso, amor, são todas tuas... (SIMÕES, Suma Poética, 1979)
Referindo-se ao gênero conto, ele sempre foi abordado pelo escritor João
Manuel Simões. Leituras, exposições, ilustrações, onde a arte também faz parte
da literatura. Quanto ao conto, para usar um conceito do próprio conto, a
intertextualidade, o uso que o autor faz de seu alto grau de conhecimento literário,
opera como uma segunda obra, incitando no leitor a curiosidade e enriquecendo o
texto.
Quanto ao trabalho da leitura literária de um conto, da poesia e, até mesmo
da literatura, das artes plásticas, da escultura, presentes na intertextualidade, a
motivação da turma é uma etapa essencial, pois a partir dela é que o professor
prepara os alunos para entrarem no universo da leitura. Um recurso eficaz para
entrar neste universo é trazer para a realidade do aluno aquilo que se passa
dentro da narrativa, aproximando mais o texto do leitor, fazendo-o adentrar-se no
mundo narrativo e interagir com ele. Após essa leitura é importante o debate e a
discussão sobre os produtos mais relevantes do intertexto.
Antonio Candido (1987) coloca que a experiência literária é um direito
básico, faz parte do bem-estar, dos direitos humanos e que parece estranho em
um primeiro momento, falar da literatura como um direito básico: nem todo mundo
quer literatura, nem todo mundo gosta. Candido (1987) reflete sobre a vida do
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sujeito sem literatura, como sua percepção do mundo é limitada, como os livros
são fontes de experiência de vida, experiência emocional sem precisarmos viver o
que está ali.
Quanto ao conto ainda, o que vale para os gêneros ficcionais é o estilo, a
linguagem, a forma e também o próprio conteúdo. Fases do conto: a) Oral: onde o
conto se origina num tempo em que nem sequer existia a escrita e as histórias
eram narradas oralmente ao redor das fogueiras das habilitações dos povos
primitivos; b) Escrita: aquela em que o s egípcios registraram O livro do mágico
(cerca de 4000 a. C.) Passa para a Bíblia, vê-se a história de Caim e Abel (2000 a.
C.) tem a precisa estrutura de um conto, essa é a primeira fase e a segunda
começa no século XIV com as primeiras preocupações estéticas de Giovanni
Boccaccio (1313-1375) aparece com seu Decameron, que se tornou um clássico.
Chegando ao século XIX, o conto "decola" através da imprensa escrita, toma força
e se moderniza.
Em relação ao conto, Mempo Giardinelli tece a seguinte afirmação:
"Sustento sempre que o conto é o gênero literário mais moderno e que maior
vitalidade possui, pela simples razão que as pessoas jamais deixarão de contar o
que se passa, nem de interessar-se pelo que lhes contam bem contado."
(GIARDINELLI, 1994, p. 24). A autonomia do conto, seu êxito social, o
experimentalismo exercido sobre ele, deram ao gênero grande realce na literatura.
O sucesso do conto nos últimos tempos (anos 1960-70) deve ser atribuído em
parte, à expansão da imprensa. O conto é uma obra de ficção, cria uma série de
seres e acontecimentos de ficção, fantasia ou imaginação, como texto de ficção
apresenta narrador, personagem, ponto de vista e enredo. O conto, mais curto que
a novela ou o romance. No romance, a trama desdobra-se em conflitos
secundários, o que não acontece com o conto. O conto e conciso.
Por outro lado, o conto é um gênero literário que apresenta uma grande
flexibilidade, podendo se aproximar da poesia e da crônica. Os críticos e
historiadores afirmam que os ancestrais do conto são: o mito, a lenda, a parábola,
o conto de fadas e mesmo a anedota.
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Intertextualidades: Arte, cultura e beleza
Segundo a autora Tiphaine Samoyault (2008), a intertextualidade reúne
propriedades opostas que permitem desfazer oposições estanques de críticos
para os quais a literatura se refere a si mesma ou ao mundo. Com base na análise
de diferentes fatores, demonstra que a intertextualidade faz da literatura um
campo autônomo e a realiza mais diretamente ao mundo.
Com base na análise de diferentes fatores, demonstra-se que a
intertextualidade faz da literatura um campo autônomo e o realiza mais
diretamente ao mundo, numa interação globalizada, onde se interage a literatura
com o conhecimento histórico, a leitura a produção textual, o conto, a poesia, a
arte e a cultura, envolvendo uma grande reflexão no intertexto. A linguagem, em
seu aspecto artístico, estrutural ou pratico, torna-se parte integrante de nossas
vidas.
São muitas as relações de intertextualidade, mas os três casos mais
abrangentes são: a) Estrutural: que consiste no emprego de modelos de estrutura
para a produção de modelos de estrutura para a produção de textos; b) Temática:
que refere-se à abordagem de um mesmo assunto; c) Referencial: que diz
respeito à citação de outros textos ou alusão a eles.
Dentro da intertextualidade em diferentes linguagens, há um trabalho
relevante de textos de João Manuel Simões com artistas brasileiros – a exemplo
de Portinari, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, e outros e também
com artistas como Pablo Picasso, Van Gogh, Mondrian, Da Vinci, bem como o
diálogo com o texto-base Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes.
Percebe-se que Miguel de Cervantes trabalha com a linguagem literária em prosa,
Drummond explora os recursos da poesia, Picasso e Portinari se expressam pela
pintura. Como em todas as outras artes, a literatura reflete as relações do homem
com o mundo e com os seus semelhantes, a obra literária recria a realidade, a
vida.
Pretende-se trabalhar as obras de João Manuel Simões, mostrando aos
educandos a importância da interação, ou seja, da intertextualidade. Fazer análise
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de alguns poemas, transformando-os em contos, textos diversificados, exposição
dos poemas, bem como pesquisar a vida do poeta em referência e sobre nomes
referenciados nos poemas interação e pesquisa com escritores literários, poéticos
e artísticos, muitas vezes rotulados por problemas pessoais e ou sociais de uma
forma generalizada. Nosso objetivo nesse trabalho é problematizar as dificuldades
de aprendizagem. A literatura corresponde a uma necessidade universal. Negar a
fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. O contexto epistemológico dos
anos 60 vê nascer uma quantidade de instrumentos destinados a fundamentar o
discurso literário numa linguagem própria e específica.
De acordo com Júlia Kristeva,
O termo intertextualidade designa esta transposição de um ou de vários sistemas de signos em um outro, mas já que este termo tem sido frequentemente estendido no sentido banal de ‘crítica das fontes’ de um texto, preferimos a ele o de transposição, que tem a vantagem de precisar que a passagem de um sistema significante a um outro exige uma nova articulação do tético – posicionamento enunciativo e denotativo. (KRISTEVA, 1974, p. 60 apud JENNY, 1979, p. 13).
A intertextualidade não se reduz evidentemente a um problema de fontes ou
de influências; o intertexto é um campo geral de formas anônimas, cuja origem é
raramente localizável, de citações inconscientes ou automáticas. Assim, buscar-
se-á estudar e analisar algumas intertextualidades presentes na obra de João
Manuel Simões: Fernando Pessoa, Carlos Drummond da Andrade, Luís de
Camões, Pablo Picasso: “Guernica” (que alude à Guerra civil espanhola);
Escultura da “Vitória de Samotrácia”, conhecida também como “Nice de
Samotrácia”, escultura que representa a deusa grega Nice (Níkē ou Niké:
"Vitória"), cujos pedaços da escultura foram descobertos em 1863, nas ruínas do
Santuário dos grandes deuses da Samotrácia; Mona Lisa, Dom Quixote, mito de
Narciso, pinturas de Mondrian, intertextualidade com Van Gogh, entre outros.
A escultura “A VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA”, também conhecida como Niké
de Samotrácia é uma escultura que apresenta a deusa Atena Niké (Atena que traz
a vitória), cujos pedaços foram descobertos em 1863 nas ruínas do Santuário dos
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grandes deuses de Samotrácia, na ilha do mesmo nome, no Mar egeu. Fazia parte
de uma fonte, com a forma de proa de embarcação, em pedra calcária, doada ao
Santuário provavelmente pela cidade de Rodes. Atualmente está em destaque em
uma escadaria do Museu do Louvre, em Paris (França). Acredita-se que foi
confeccionada entre 220a 190 a. C. Acreditou-se que seu patrocinador teria sido o
general e rei Demétrio I da Macedônia, chamado Poliorcetes, após sua vitória em
Chifre entre 295 e 289 a. C., mas evidências encontradas em novas escavações
mostram que o pedestal foi erguido provavelmente perto do ano 200 a. C., para
comemorar uma vitória naval de Rhodes. É considerado um dos grandes tesouros
do Louvre:
Figura 01: “A vitória de Samotrácia” – Anônimo. Fonte: http://www.louvre.fr/routes/chefs-doeuvre-du-musee-0
Simões constrói um mundo poético, interagindo com Carlos Drummond de
Andrade entre outros, procurando descobrir a poesia onde ela se encontra. Carlos
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Drummond de Andrade, poesias mais importantes, temas abordados em seus
poemas, crônicas e contos, etapas dos poemas de Drummond, a vida de um dos
principais escritores da literatura brasileira do século XX.
A intertextualidade pode ser compreendida como uma interação textual, o
poeta incorpora aos seus poemas um recurso de releitura. Co-citações, alusões,
referências, paródias, músicas, poesias e colagens de todas as espécies, as
práticas de intertextualidade se repertoriam facilmente e se deixam descrever.
Noção histórica, criada para se fazer corresponderem o discurso literário e
práticas modernas e assim se poder dar conta das obras com a literatura,
propondo meios para pensar a intertextualidade de maneira unificada.
Interagindo na intertextualidade, um dos grandes gênios da pintura
contemporânea, Pablo Picasso, filho de um professor de Desenho e Pintura,
deslocou-se ainda jovem para Barcelona, onde estudou Belas-Artes e pintou seus
primeiros quadros de tendência acadêmica, entre os quais se destaca a pintura
“Ciência e Caridade” (1897).
No início do século XX, Picasso partiu para Paris, cidade em que se
instalou em 1904 e onde recebeu a influência de Gauguin e Toulouse-Lautrec
(período azul, com obras de tema popular, e período rosa, centrado no mundo do
circo). Um dos diálogos de Simões com Pablo Picasso, diz respeito à “Guernica”:
Figura 02: “Guernica” – Pablo Picasso. Fonte: http://www.museoreinasofia.es/coleccion/obra/guernica
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João Manuel Simões tece um diálogo intertextual com a pintura “Guernica”,
de Pablo Picasso. Na intertextualidade, o poeta faz uma reflexão no canto, o que
há de concreto no mundo e na poesia: humanidade, existência, tempo, memória,
vida e morte:
“Guernica”, de Picasso I
Garrote vil, o desespero adusto estrangulou com método
as derradeiras esperanças: Está incandescente ainda o torniquete. Mutiladas,
as figuras todas gritam, clamam. Despedaçados sobre o chão,
os corpos súplices gritam. Decepadas cabeças de touros
e cavalos, rangendo os dentes, gritam.
II Como no açougue, as vísceras expostas
de homens, mulheres e crianças, dissolvidos no pélago noturno,
gritam. Em preto e branco cinza e sépia e náusea, tela inteira
é um grito de horror inenarrável: uma cidade inteira foi assassinada quando
as primeiras flores de primavera desabrochavam nos jardins cintilantes
de Sevilha, Aranjuez e Granada. (Ó Granada! Foi lá,-, foi lá, como cantou Eluard
que Lorca a été mis à mort.)
III E quanto à patética mulher
que embala ao colo um pedaço do corpo do filho esquartejado,
quem será capaz de enxugar seu pranto?
IV Em vão, em vão se acendem
as lâmpadas nas trevas: como se fora antigo minotauro,
a noite cúmplice as devora, em silêncio, com as podres mandíbulas famintas.
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V Ora pro nobis, pecatoribus.
(SIMÕES, ODES REUNIDAS em louvor de pessoas, coisas, animais, & outras, 2014, p. 104-105)
Na presente ode de João Manuel Simões, a memória textual, as
intertextualidades e o diálogo permanente do poeta com as fontes, as citações, as
“reminiscências” de escritas outras, presentificam-se ao se referir à guerra civil
espanhola e à toda forma de brutalidade, dor e sofrimentos retratados pelo pintor
Pablo Picasso em Guernica. Assim, a construção intertextual do poeta Simões
evoca mediante a (re)apresentação do eu lírico, uma maneira peculiar de
(re)significar as coisas e o mundo, mediante a palavra poética e a memória textual
operacionalizada pelas vozes e imagens dos textos.
Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é persistente. Todo
texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente.
Todo e qualquer tema que se refere a assuntos abordados em outros textos é
exemplo de intertextualidade, que está presente também em outras áreas, tal
como na pintura Leonardo da Vinci, “Mona Lisa”:
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Figura 03: “Retrato de Lisa Gherardini, esposa de Francisco del Giocondo, dita Mona Lisa, La Gioconda ou Jocada”. Pintura Florence. – Leonardo da Vinci (Vinci, 1452 - Amboise, 1519). FONTE:http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/portrait-de-lisa-gherardini-epouse-de-francesco-del-giocondo
Simões em sua poesia tem uma vitalidade metafórica, prévia ao processo
de simbolização; exemplo desta qualidade é o soneto “Pássaro de Cristal”, uma
confirmação existencial:
Fulgor inoxidável tatuado na epiderme fria do cristal, com lucidez de tempo aprisionado na textura de lírio e de vitral. Breve cintilação, brilho encantado (dentro, incolor, o sangue mineral) de sílica e de prata. Ó puro alado
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corpo de vidro aéreo, intemporal! A química sintaxe, canta, ensina: por sob a face lisa fulge a essência do óxido de chumbo e outros metais. (Que os dedos do artesão, na oficina, deram-lhe bico e asas, transparência para vôos imóveis. Nada mais.) (SIMÕES, 1982, p. 53)
Da tendência à simbolização aos recursos místico-poéticos na
caracterização de estilo passa-se naturalmente. Na literatura cubista, na obra de
PICASSO, “As Senhoritas de Avignon”, 1907, mostra cinco mulheres com corpos e
rostos definidos por formas geométricas, a deformação dá ao observador a
impressão de que foram talhadas a golpes de machado. É na ARTE e na POESIA
que essa Literatura ganha forma, tal como constata-se na pintura de Pablo
Picasso:
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Figura 04: “Les Demoiselles d'Avignon” (As senhoritas de Avignon) – Pablo Picasso. Fonte:http://www.moma.org/collection/object.php?object_id=79766
Considerações Finais
A Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,
realizou-se no Colégio Estadual Mário Quintana – Ensino Fundamental e Médio,
localizado à Rua Eden Luiz Figueiredo, 305, no Conjunto Paulo Godoy, Município
de Cascavel, Estado do Paraná. Onde foi aplicada para uma turma do 2º ano do
Ensino Médio. Levando o educando a interagir, dando maior ênfase à leitura, se
inteirar do assunto literário, pesquisar obras poéticas do poeta João Manuel
Simões, fazer um elo entre: leitura, literatura, conto, poesia e arte. Pesquisar
outros autores, bem como suas obras. Visualizar seu mundo e o mundo exterior,
numa perspectiva literária em que consiste na intertextualidade, abrindo novos
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horizontes. Após orientações, pesquisas na escola e trabalhos extraclasse em
casa, fez-se o varal dos trabalhos realizados pelos alunos do 2º ano, turma “A” e
fez-se uma grande exposição organizada pelos mesmos e com orientação do
professor PDE.
As Estratégias de Ação formam desenvolvidas dentro de sala de aula, bem
como fora dela, também na Biblioteca e Laboratório de Informática. Visou-se,
dessa maneira, oportunizar ao educando uma visão global dentro do mundo
literário, num contexto de intertextualidade. Leitura e análise de obras literárias.
Pesquisas sobre literatura, poesia, arte, concepções e práticas. Também foram
realizados varais de exposição de textos – poemas, contos, pinturas, desenhos, e
outros – realizados pelos alunos.
O presente trabalho foi um sucesso e apresentou-se nos três períodos:
Matutino, Vespertino e Noturno a todos os alunos, professores e funcionários da
referida escola. Esteve presente durante o encerramento do Projeto o orientador,
professor Antonio Donizeti da Cruz, a Direção e a equipe pedagógica do Colégio
Estadual Mário Quintana.
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