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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
As possibilidades de articulação do planejamento escolar em educação física por meio da construção coletiva
Autor: José Carlos Winkler
Orientador: Prof. Dr. Miguel Arcanjo de Freitas Junior
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo principal discutir, refletir e apontar sugestões sobre a importância da organização dos conteúdos, do espaço e dos materiais disponíveis na disciplina de educação física. A simples prática dessas atividades não caracteriza a existência de Educação Física.” Entretanto, a regulamentação da prática da atividade física escolar mais conhecida como Disciplina de Educação Física, no âmbito nacional sofreu várias mudanças com o passar dos anos, desde a promulgação do Decreto Lei 4.244 de 9 de abril de 1942, denominada Lei Orgânica do Ensino Secundário, sendo que a educação física tornou-se obrigatória nos estabelecimentos de ensino porém na prática isso demorou muitas décadas para se concretizar, primeiro pela falta de profissionais habilitados e segundo pela oneração do sistema educacional. Segundo as DCEs “O conceito de Cultura Corporal tem como suporte a idéia de seleção, organização e sistematização do conhecimento acumulado historicamente, acerca do movimento humano, para ser transformado em saber escolar” (DCEs Educação Física, Paraná 2008), as Diretrizes fundamentaram um grande avanço da educação como um todo no Estado do Paraná, principalmente para a educação física através da elaboração dos conteúdos estruturantes por série/ano organizando através dos conteúdos básicos uma sequência pedagógica na qual o profissional tivesse um ponto de apoio para modelar seu planejamento de acordo com as características culturais da sua região.
Palavras chave: Planejamento, educação física, cultura corporal, regulamentação, processo
pedagógico.
ABSTRACT
This study aimed to discuss, reflect and point suggestions about the importance of organization of content, space and materials available in the discipline of physical education. The simple practice of these activities does not characterize the existence of Physical Education. "However, the regulation of the practice commonly known as the Department of Physical Education at the national level school physical activity has undergone several changes over the years since the enactment of Decree Law 4244 to April 9, 1942, called the Organic Law of Secondary Education, and physical education became compulsory in schools but in practice it took many decades to realize, first by the lack of qualified professionals and according to the assignment of educational system. According to DCEs "The concept of Body Culture is supported by the idea of selection, organization and systematization of accumulated knowledge historically, about human movement, to be transformed into school knowledge" (DCEs Physical Education, Parana 2008), the Guidelines justifying one great advance in education as a whole in the State of Paraná, mainly for physical education through the preparation of structuring content by grade / year organizing through the basic content pedagogical sequence in which the business was a fulcrum to model their planning according with the cultural characteristics of their region.
Keywords: Planning, physical education, physical culture, regulation, pedagogical process.
INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo é socializar e apresentar os resultados obtidos a
partir da implementação da pesquisa, na qual se destaca como tema principal a
organização pedagógica dos conteúdos curriculares da disciplina de educação
física por meio da construção coletiva. A organização pedagógica expressou-se
no planejamento escolar, adequando os conteúdos trabalhados na disciplina de
educação física ao Projeto Político Pedagógico da escola, relacionando os
materiais necessários com o espaço disponível, buscando assim alcançar os
resultados almejados na elaboração do Plano de Trabalho Docente.
A pesquisa teve início no ano de 2013 no Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) que contemplou as seguintes etapas: no primeiro semestre
foi elaborado o projeto de pesquisa para ser implementado no ano seguinte
com os professores da disciplina de Educação Física do Colégio Estadual Dom
Alberto Gonçalves, no município de Palmeira, PR; a partir da definição dos
objetivos e da metodologia foi elaborado o material didático para ser utilizado
no Grupo de Trabalho em Rede (GTR), no qual a idéia do projeto foi
apresentada aos professores da rede estadual de ensino e discutida
amplamente durante a formação. No GTR foi debatida a questão da educação
física escolar enquanto disciplina, considerando que o ponto de vista de cada
pessoa depende de suas experiências profissionais, do conhecimento teórico e
prático com a disciplina, porém, a visão do professor, desta área, deve ser
cristalina e com objetivos definidos que nortearão a sua prática pedagógica, de
forma crítica e interdisciplinar. Na sequência foi elaborada a produção didático-
pedagógica para ser trabalhada com o grupo de professores da escola. Após o
desenvolvimento da pesquisa verificou-se a importância da formação
continuada junto aos professores visando a melhoria do processo de ensino e
aprendizagem.
Desta forma, o presente texto tem como objetivo apresentar os
resultados das intervenções realizadas, cuja intenção foi a de possibilitar a
discussão dos conteúdos disciplinares relacionados a área da educação física
e articulá-los com as necessidades e objetivos definidos no Projeto Político-
Pedagógico da instituição escolar.
REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com a história da educação e as influências que perpassaram
a sua organização, concepção e ideiais pedagógicas, assim também a
educação física sofreu alterações conforme os determinantes históricos de
cada período. Pode-se citar, por exemplo, o predomínio da concepção
higienista até a militarista quando assumiu uma postura prática, renegando a
sua postura epistemológica e teórica. Neste período histórico,
Os objetivos da Educação Física na escola eram vinculados à formação de uma geração, capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra, por isso, era importante selecionar os indivíduos perfeitos fisicamente, excluindo incapacitados, contribuindo para uma maximização da força e do poderio da população (TAFFAREL, 1992, p.32).
Este caráter seletista permaneceu durante o período da ditadura militar e
expressou-se na Lei nº 4.024/1961, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, que tornou obrigatória a educação física nos cursos
primário e médio até a idade de 18 anos (BRASIL, 1961). Desta forma,
caracterizou-se como um grande avanço para o desenvolvimento dos esportes
e promoção da saúde, e confirmou-se com a re-edição em 1971, com a Lei
5.692, que garantiu a obrigatoriedade da educação física nos currículos plenos
dos estabelecimentos de ensino que ofertavam o ensino de 1º. e 2º. Graus,
como era denominado neste período.
Um passo importante para a implantação da disciplina de educação
física foi com a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942,
onde no capítulo IV, art. 19 determinou que a educação física deveria ser uma
prática educativa obrigatória a todos os alunos matriculados no ensino de nível
secundário até a idade de vinte e um anos.
Entretanto, a regulamentação da prática da atividade física escolar mais
conhecida como Disciplina de Educação Física, no âmbito nacional sofreu
várias mudanças com o passar dos anos, desde a promulgação do Decreto Lei
4.244/1942, denominada Lei Orgânica do Ensino Secundário, na qual a
educação física tornou-se obrigatória nos estabelecimentos de ensino.
Entretanto, na prática isso demorou muitas décadas para se concretizar,
primeiramente deu-se pela falta de profissionais habilitados e segundo pelo
ônus financeiro que causaria ao sistema educacional.
Apesar das diversas tentativas legais para implementar a prática da
atividade física no espaço escolar a disciplina restringiu-se a “[...] uma atividade
destituída da sistematização do conhecimento” (CASTELLANI, 1988, p.220),
visivelmente expressa no Decreto 69.450/71 que depois de publicado tinha em
seu texto ideias equivocadas sobre a prática da atividade física:
Art. 5º Os padrões de referência para orientação das normas regimentais da adequação curricular dos estabelecimentos, bem como para o alcance efetivo dos objetivos da educação física, desportiva e recreativa, são situados em:
I - Quanto à seqüência e distribuição semanal, três sessões no ensino primário e no médio e duas sessões no ensino superior, evitando-se concentração de atividades em um só dia ou em dias consecutivos.
II - Quanto ao tempo disponível para cada sessão, 50 minutos, não incluindo o período destinado à preparação dos alunos para as atividades.
III - Quanto à composição das turmas, 50 alunos do mesmo sexo, preferencialmente selecionados por nível de aptidão física.
IV - Quanto ao espaço útil, dois metros quadrados de área por aluno, no ensino primário, e três metros quadrados por aluno, no ensino médio e no superior. (BRASIL, 1971).
As normas foram regulamentadas na década de 1970, período da
ditadura militar e atendia as necessidades bem como as características da
sociedade daquela época. Já para o contexto histórico atual o Inciso III é
considerado extremamente excludente e preconceituoso. Contudo, o decreto
de 1971 delimitou os objetivos e características da educação física
assegurando a distribuição de aulas semanal e a sua duração. Por outro lado,
contemplou em todos os níveis de ensino a prática da educação física,
desportiva e recreativa, porém, dispensou das atividades os alunos
trabalhadores; os maiores de 30 anos; os que estivessem prestando o serviço
militar; as alunas que já tivessem filhos e os alunos portadores de doenças
infecto-contagiosas (BRASIL, 1971).
É necessário que os professores compreendam a história da educação
e as influências que marcaram a educação física, enquanto disciplina escolar e
área do conhecimento. Mais ainda, discutam a regulamentação da disciplina,
tanto na esfera federal quanto na estadual e municipal, para que haja um
consenso entre os profissionais, o poder público e a sociedade, evitando assim
prejuízos na formação do educando como pessoa, como cidadão responsável
e consciente da importância de se praticar atividades físicas periódicas e bem
orientadas.
Além da legislação que norteia a organização da disciplina há ainda, as
orientações curriculares que se expressam, no caso do Paraná, nas Diretrizes
Curriculares da Rede Pública de Educação Básica – DCE que auxiliam e
orientam os professores quanto ao planejamento anual de suas atividades
ministradas na escola. Entretanto, na prática existem alguns empecilhos que
tornam certos itens das diretrizes improváveis de serem executados em uma
parte das escolas públicas devido ao espaço disponível para a prática
desportiva, bem como a escassez ou falta de material necessário, fazendo que
o professor se limite a repassar o conteúdo por meio de fotos, slides e vídeos
de maneira superficial e possivelmente em determinadas circunstâncias nem
mesmo abordar o assunto. Esta situação pode ser exemplificada com os
conteúdos relacionados às lutas, aos esportes aquáticos e aos esportes
radicais que não são trabalhados na escola devido a precária estrutura física e
falta de materiais adequados. Fato esse que não deve ser encarado como
limitação, mas sim como desafio ao profissional bem como a equipe gestora de
encontrar a melhor solução para esta situação. Os conteúdos citados acima
estão relacionados nas DCEs que possui uma orientações teórico-
metodológica embasa na Pedagogia Histórico-crítica, enfatizando a cultura
corporal a partir do conteúdos supra citados. A Pedagogia Histórico-crítica,
proposta pelo professor Dermeval Saviani, traduz-se no “[...] empenho em
compreender a questão educacional a partir do desenvolvimento histórico
objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão da Pedagogia
Histórico-Crítica é o materialismo histórico, ou seja, a compreensão da história
a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais
da existência humana”. (SAVIANI, 2000, p. 102).
Já na DCEs expressa-se o conceito de cultura corporal “[...] como
suporte a idéia de seleção, organização e sistematização do conhecimento
acumulado historicamente, acerca do movimento humano, para ser
transformado em saber escolar” (PARANÁ, 2008, p. 44). Este documento
fundamentou a atividade desportiva e provocou um grande avanço da
educação no Estado do Paraná, principalmente para a educação física por
meio da elaboração dos conteúdos estruturantes, por série e ano. Possibilitou
ainda, aos professores a organização, por meio dos conteúdos básicos, de
uma sequência pedagógica na qual o profissional tivesse um ponto de apoio
para elaborar seu planejamento de acordo com as características culturais da
sua região.
O plano é o lugar da criação pedagógica do professor, onde os conteúdos receberão abordagens contextualizadas histórica, social e politicamente, de modo que façam sentido para os alunos nas diversas realidades regionais, culturais e econômicas, contribuindo com sua formação cidadã. (Paraná, 2008, p 83).
A experiência profissional como docente da disciplina de Educação
Física da rede pública do Paraná permitiu observar e indagar o papel e a
importância da educação física no contexto escolar. Os comentários que
surgem nas escolas no início do ano letivo, durante a semana pedagógica é
que as DCEs são flexíveis e que cada um pode adaptar conforme suas
características. Provavelmente por que a Lei 9.394/1996 destaca em seu texto
no parágrafo 3º. do art. 26, no segundo capítulo, que a educação física deve
estar integrada a proposta pedagógica da escola, porém, cada estabelecimento
de ensino tem autonomia para elaborar a sua Proposta Pedagógica. A
elaboração dessa proposta deve ser feita por meio da ação coletiva e
participativa de professores e da comunidade escolar. Para isso, se faz
necessário, que os professores se organizem e planejem suas ações
pedagógicas para que possa “[...] propiciar situações que permitam aprender a
pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente” (VEIGA, 1995, p.
15). Caso contrário, a disciplina de educação física escolar vai continuar sendo
relegada ou considerada como um momento de lazer na escola. Por isso,
entende-se que o planejamento e as ações têm a necessidade de serem
coletivas, envolvendo professores, equipe pedagógica e direção. “É importante
ressaltar, ainda, que os três pilares da dinâmica curricular (trato com o
conhecimento, organização e normatização) estão em descompasso na escola
[...]” (Coletivo de autores 1993, p. 42).
Com a aprovação da LDBEN de 1996 a lei explicitou em seu 26º. artigo,
parágrafo 3º, capitulo 2, Seção I, que trata da Educação Básica, que a
educação física é componente obrigatório do currículo escolar, ou seja, a
legitimidade da educação física enquanto disciplina é incontestável no que diz
respeito a legislação vigente durante décadas. É preciso entender e discutir a
maneira com que os profissionais de área vem desenvolvendo os conteúdos
necessários para que os objetivos propostos sejam realmente atingidos.
Para tanto, as ações precisam ser articuladas e realizadas coletivamente
a partir das Diretrizes Curriculares e da Proposta Pedagógica da escola que se
corporificam por meio do planejamento do professor.
Quais as principais dificuldades que um professor encontra para que os
objetivos da aula sejam atingidos? Considerando que o objetivo principal é a
manutenção da saúde conforme o que determina a lei 6.251, de 8 de outubro
de 1975, que “Institui normas gerais sobre desportos, e dá outras
providências.” onde considera a conservação da saúde como responsabilidade
do setor educacional, expresso nas Diretrizes Gerais para a educação física e
desportos 1980/85. Reitera-se que na década em que a lei promulgou a prática
da atividade física principalmente na escola essa já estava em decadência.
Portanto, é de longa data a convicção de que a atividade física é geradora de
saúde, sendo assim a relevância da sua prática estar incluída nos conteúdos
escolares é de extrema importância. O fator primordial para a permanência da
disciplina nos currículos escolares é a “saúde” um direito do cidadão e um
dever do estado, considerando também que a prática de atividade física regular
e orientada por um profissional favorece como medicina preventiva, preceito
amplamente explorado em países bem desenvolvidos. Segundo dados do
Ministério da Saúde os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) chegam a
488 milhões por ano nos tratamentos de doenças associadas a obesidade.
A inatividade física na América Latina seria a causa de 7,1% dos casos de doenças cardíacas, 8,7% dos casos de diabetes tipo 2, 12,5% dos casos de câncer de mama e 12,6% dos casos de câncer de cólon. No Brasil, ela é a causa de 8,2% dos casos de doenças cardíacas, 10,1% dos casos de diabetes tipo 2, 13,4% dos casos de câncer de mama e 14,6% dos casos de câncer de cólon.( Dra. I-Min Lee, BBC Brasil, 18/07/2012).
Cada grupo de profissionais assume uma postura diferenciada,
entretanto, toda prática pedagógica deve ter como base a Lei de Diretrizes e
Bases e as Diretrizes Curriculares da Educação, que são documentos
norteadores da educação e trazem subsídios para que os professores tenham
um ponto de partida para a elaboração do seu Plano de Ação Docente ou
Planejamento Anual.
Em se tratando da disciplina de Educação Física as DCEs tem o “[...]
currículo como configurador da prática, produto de ampla discussão entre os
sujeitos da educação, fundamentado nas teorias críticas e com organização
disciplinar [...]” (PARANÁ, 2008, p. 19). As diretrizes não foram elaboradas
verticalmente, mas, pensadas e discutidas a partir do envolvimento dos
professores da área e propostos como possibilidade de formar indivíduos que
participem efetivamente da sociedade.
A implementação do projeto na escola
O objetivo do estudo centrou-se na organização pedagógica dos
conteúdos curriculares da disciplina de educação física por meio da construção
coletiva dos professores em consonância com as necessidades e objetivos
expressos na proposta pedagógica da escola. Portanto, o ponto de partida
deste estudo foi conhecer a proposta pedagógica e as metas e objetivos
propostos pela comunidade escolar, pois se entende que a proposta constitui-
se em uma “[...] metodologia de trabalho que possibilita resignificar a ação de
todos os argentes da instituição” (VASCONCELLOS, 1995, p. 143).
No primeiro encontro com os professores do Colégio Estadual Dom
Alberto Gonçalves (CEDAG), em Palmeira, foram explicados os objetivos do
projeto de pesquisa e discutido alguns pontos importantes, entre eles a
construção do Projeto Político Pedagógico do estabelecimento de ensino
principalmente, no que tange aos conteúdos específicos da disciplina de
educação física, quais as contribuições e as possibilidades de reformulação
possíveis e necessárias e que atendem as necessidades expressas na
proposta pedagógica.
Nos encontros que se seguiram foi feito uma retrospectiva histórica da
legislação que norteia a Educação Física enquanto disciplina escolar. Dentre
os documentos estudados estão as Diretrizes Gerais para a Educação
Física/Desportos 1980/85 do Ministério da Educação, os Parâmetros
Curriculares Nacionais e as DCEs, que permitiram estabelecer um comparativo
com a LDBEN e os dispositivos que regulamentam a Educação Física escolar,
afim de visualizar os objetivos que a disciplina pretende alcançar no âmbito
escolar. Para isto tornou-se essencial um estudo aprofundado da obra do
Coletivo de Autores, Metodologia do Ensino de Educação Física, a qual ajudou
a esclarecer muitos pontos que são primordiais para o entendimento do
profissional da área e a sua prática docente.
Destacando a função social da Educação Física no contexto escolar ou
seja “[...] a função social do currículo é ordenar a reflexão pedagógica do aluno
de forma a pensar a realidade social desenvolvendo determinada lógica.
(Coletivo de Autores, 1993, p.48)”. Sendo assim, a organização da disciplina e
dos espaços pedagógicos, juntamente com o currículo e seus conteúdos, são
de suma importância para a reflexão e compreensão do aluno no ambiente
social ao qual ele está inserido.
Durante a implementação do projeto no Colégio Estadual Dom Alberto
Gonçalves de Palmeira, entre os encontros e diálogos com os professores e
equipe pedagógica e direção, também foi estabelecido um diálogo com os
alunos, principalmente aqueles que frequentam o ensino médio. Estes alunos
têm uma certa resistência aos conteúdos trabalhados em sala de aula, haja
vista que a maioria deles tem preferência pelas aulas práticas das modalidades
coletivas, sendo que os conteúdos sugeridos nas Diretrizes Curriculares estão
também os esportes individuais, os jogos de tabuleiro, as danças, a ginástica e
as lutas (PARANÁ, 2008).
Os encontros foram divididos em dezesseis momentos, de quatro horas
cada, onde foram discutidos os temas propostos no projeto de implementação
por meio do caderno pedagógico que serviu como suporte teórico dos
encontros.
Ao analisar a proposta pedagógica da instituição, pode-se compreender
que existem algumas lacunas que podem ser preenchidas a fim de melhorar o
desempenho dos alunos durante os anos de estudo que ali forem dedicados.
Entretanto, é necessário que o professor compreenda a área em que atua para
que possa propor práticas pedagógicas significativas e diversificadas. Para o
entendimento a respeito do conhecimento pode ser explicito nos conteúdos das
disciplinas de tradição curricular, como: Arte, Biologia, Ciências, Educação
Física, Ensino Religioso, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua
Estrangeira Moderna, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia.
Em uma perspectiva mais ampla, as disciplinas tem em seus conteúdos
estruturantes, os campos de estudo que a identificam como conhecimento
histórico. Os conteúdos estruturantes são os conhecimentos de grande
amplitude, conceitos, teorias ou prática, que identificam e organizam os
campos de estudo de uma disciplina escolar, fundamental para a compreensão
do seu objeto de estudo, de ensino.
Dos conteúdos estruturantes são organizados os conteúdos básicos a
serem trabalhados por série, compostos tanto por assuntos mais estáveis e
permanentes da disciplina, quanto pelos que se apresentam em função do
movimento histórico e das atuais relações sociais, história da cultura afro-
brasileira, africana e indígena, por e; conteúdos relacionados a problemas
sociais contemporâneos: questão ambiental, enfrentamento à violência,
sexualidade, drogadização, entre outros. Estes conteúdos, articulados entre si
e fundamentados nas orientações teórico-metodológicas integram a Proposta
Pedagógica Curricular desta escola (PARANÁ, 2008).
Ao articular o currículo e a proposta pedagógica espera-se romper a visão
tradicional e racionalista em que os conteúdos foram organizados, para integrar
as práticas corporais de forma mais reflexiva e contextualizada (PARANÁ,
2008). Para que se efetive os objetivos da proposta pedagógica deve-se
entender que ela é “[...] a sistematização, nunca definitiva, de um processo de
Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada,
que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar”.
(VASCONCELLOS, 1995, p. 169). Nesse sentido, são desenvolvidos projetos
como atividades complementares no contra-turno, voltados para o exercício e
aprendizado das técnicas, táticas e regras básicas de modalidades esportivas,
voltados ao esporte. Dentre eles destacam-se:
a) Projeto de Xadrez:
O projeto tem como objetivo desenvolver a criatividade e o raciocínio
lógico-dedutivo por meio de jogos, priorizando o aprendizado de regras, a
contextualização dos conceitos presentes, a criação e a adaptação de novas
formas de jogar. Busca-se ainda, desenvolver a consciência coletiva sobre a
importância da prática do xadrez e, integrar as várias dimensões do
conhecimento para possibilitar ao educando posturas críticas e reflexivas por
meio do jogo de xadrez.
O jogo propicia a descoberta de valores éticos, morais, sociais e
culturais fundamentais para a formação global do educando, além de
desenvolver a capacidade para o processo de tomada de decisões com
autonomia. Permite vivenciar atividades em grupo para aprimorar qualidades
como empenho, organização, flexibilização e tolerância e visualizar
mentalmente as posições e as sequências dos movimentos (treinar a
memória), avaliar as opções e os resultados de suas ações.
Todo o desenvolvimento deste projeto teve como prioridade o
desenvolvimento de diversas habilidades nos alunos, tais como: a atenção, a
autonomia, o auto-controle, a concentração, a imaginação, a memória, a
paciência, o pensamento lógico, tornando-os capazes de repassar seus
conhecimentos aos pais, familiares e amigos.
Além das áreas conceituais do interesse e motivação para a pesquisa,
descobertas e construções de novos conhecimentos, na área de Educação
Física, é necessário ensinar as técnicas do jogo de xadrez, organizar
campeonatos na turma, inter-turmas e inter-turnos. Na área tecnológica podem
ser utilizadas atividades práticas de xadrez no computador e os recursos
disponíveis na tv multimídia. Na área interpessoal favorece o desenvolvimento
do relacionamento cooperativo com os grupos de trabalho e na área
intrapessoal, propicia momentos de análise, avaliação crítica e autocrítica, bem
como o controle de suas emoções, timidez e insegurança quando da
participação nas competições.
Os conteúdos trabalhados durante o ano letivo em que o projeto foi
desenvolvido foram: apresentação do tabuleiro, das peças; xeque e xeque-
mate; movimentos especiais; notações. Regulamento internacional do jogo de
xadrez: Primeiros conhecimentos, instrumentos e conceitos para se jogar bem
uma partida; mates elementares; ataques de mates; valor das peças; modos de
conseguir vantagem material; ameaças de ganhar material (noções
elementares de cada fase da partida); abertura, finais, meio-jogo; critérios de
avaliação.
A estrutura utilizada no projeto são os espaços disponíveis no
estabelecimento: auditório, sala de aula, biblioteca, quadra esportiva coberta,
laboratório de informática.
b) Projeto Esportivo-Cultural Olimpíadas Internas
A Olimpíada Esportiva é um evento que acontece desde o ano de 1992
quando ocorreu a “I OLIMPÍADA DO CEDAG”. Em anos anteriores havia os
Jogos Estudantis, promovidos pelos Grêmios Estudantis de cada nível de
ensino.
A partir do ano de 2004, com a finalidade de resgatar o Dia do
Estudante, foi estabelecido pela comunidade escolar que o evento esportivo
seria realizado na semana do dia do estudante – 11 de agosto, conciliando as
comemorações do dia do estudante com o congraçamento da comunidade
estudantil do CEDAG.
O esporte integra um dos Conteúdos Estruturantes da disciplina de
Educação Física devendo propiciar uma leitura do fenômeno esportivo para a
compreensão de sua complexidade social, histórica e política. Busca-se que o
aluno tenha um entendimento crítico das manifestações esportivas, desde sua
condição técnica, tática – seus elementos básicos, até o sentido da competição
esportiva, a expressão social e histórica e sua significação cultural como
fenômeno de massa.
Na escola, o esporte contempla os princípios da competição e deve ser
pensado para a coletividade, conforme as necessidades de toda turma e tem
como objetivos possibilitar aos alunos o direito e o acesso à prática esportiva,
privilegiando o compromisso com a solidariedade, o respeito humano e a
integração dos alunos em suas relações sociais. Propor atividades que
promovam a interação entre os alunos e a comunidade escolar por meio das
competições esportivas.
Despertar o interesse dos alunos para a prática esportiva e fomentar a
prática das mais variadas modalidades, de caráter individual e coletivo, bem
como compensar os efeitos da vida moderna, contribuindo para a preservação
e promoção da saúde humana, propiciando o desenvolvimento integral do
jovem como ser social, autônomo, democrático e participante contribuindo para
o exercício da cidadania.
c) Projeto de Atletismo
O Atletismo é considerado pelos especialistas como o “Esporte Base”,
pois estimula os movimentos naturais de correr, saltar e lançar. Este projeto
tem como objetivos promover a prática do Atletismo; incentivar espaços
educacionais para a pratica e treino; promover a melhoria da prática do
Atletismo; resgatar a prática de atividades recreativas em caráter educacional;
promover a ocupação do menor no seu tempo livre; contribuir com a formação
da cidadania do menor para o futuro.
Os conteúdos são trabalhados durante o ano letivo utilizando os espaços
existentes no estabelecimento de ensino bem como os materiais
disponibilizados.
d) Projeto de Voleibol
Tem por objetivos procurar avançar em propostas metodológicas que
trabalhem a modalidade esportiva voleibol na escola, com a preocupação da
participação e aprendizagem de todos, independente de diferenças de níveis
de habilidades motoras, altura, peso, sexo, etc. O projeto traz à reflexão, o
planejamento, à organização, à prática e o fomento ao esporte como
ferramenta para o desenvolvimento da cidadania, da integração entre as
pessoas, do conhecimento ligado à prática e do esporte em si, a formação de
cidadãos, a saúde e a prática esportiva como meio de socialização.
Busca-se promover uma sistematização dos fundamentos do voleibol,
distribuindo-os pelas séries de ensino, os fundamentos básicos da modalidade,
como: saque por baixo, manchete e toque; sétima e oitava séries - utilização
dos fundamentos anteriormente aprendidos e introdução aos movimentos mais
complexos como saque por cima, cortada e bloqueio.
Realizar os jogos reduzidos (mini-vôlei) essencialmente nos primeiros
anos do ensino fundamental II, para além de tornar a aprendizagem mais
prazerosa, propiciar um melhor desenvolvimento do jogo, com alterações nas
regras, tendo um espaço menor e com menos integrantes na equipe, facilitando
os deslocamentos e aumentando a possibilidade do número de contatos de
cada aluno com a bola.
e) Projeto de Basquetebol
Este projeto pretende promover a educação por meio do esporte,
desenvolver a coordenação motora, o raciocínio, a atenção, a oportunidade de
formação de cidadãos com bom caráter e integração ao meio profissional,
incentivo à prática física e mental, promovendo saúde, desenvolvendo
raciocínio, disciplina e perseverança.
Estimular a educação escolar e evolução das crianças e dos
adolescentes por meio de disciplina, concentração e responsabilidade. Desta
forma, incentivar a conquista de respeito a horários e regras, aumento da
responsabilidade, diminuição do tempo ocioso dos alunos e ofertando uma
opção de lazer e integração.
O desenvolvimento destes projetos permite otimizar o espaço disponível
na instituição escolar além, de oferecer aos alunos esportes coletivos e
individuais, jogos e brincadeiras de acordo com as necessidades e demandas
da realidade escolar. Este é um aspecto que merece atenção especial do
professor de Educação Física, ou seja, no momento de planejar e organizar
suas aulas “[...] deve buscar conhecer as experiências individuais e coletivas
advindas das diferentes realidades dos alunos, problematizando-as (PARANÁ,
2008, p. 77-8).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência desenvolvida ao longo do primeiro semestre de 2014, com
a implementação do projeto no Colégio Estadual Dom Alberto Gonçalves,
mostrou que durante as reuniões realizadas a cada encontro, muitos
questionamentos foram respondidos e outros surgiram. Percebeu-se que em
função da grande complexidade da escola é também complexa a tarefa de
organização os espaços para as aulas de educação física e os materiais
necessários para o desenvolvimento das atividades. Entretanto, é necessário
que os objetivos propostos no Plano de Trabalho Docente sejam alcançados
com êxito considerando-se a percepção da realidade e o interesse dos alunos.
O que ficou claro nos encontros foi que existe a possibilidade de um
diálogo colaborativo, feito de forma coletiva entre os professores de educação
física. Todos se mostraram interessados e preocupados em melhorar suas
práticas e contribuir para um aprimoramento da aulas em benefício de toda a
comunidade escolar.
Com isto alguns desafios surgiram, como a necessidade de dosar de
maneira correta a quantidade das aulas teóricas e práticas sem comprometer a
qualidade do trabalho docente, bem como os objetivos propostos para a
educação física escolar.
Portanto, nesta implementação foi possível visualizar vários problemas
aos quais a educação física vem passando enquanto disciplina no município de
Palmeira, e que talvez ilustre também a realidade de outros municípios do
estado, deixando ainda um questionamento: até quando vamos aceitar
trabalhar com os recursos e os espaços limitados? Surgem outras indagações
que nos fazendo refletir a respeito da educação física e suas prioridades, ou
seja, devemos enfatizar o aprimoramento da aptidão física ou destacar a
cultura corporal?
Com tudo não podemos deixar de lembrar da função social da educação
física no contexto escolar, fator este que ficou evidente durante os encontros
de implementação do projeto, a preocupação maior dos professores do Colégio
Dom Alberto Gonçalves do município de Palmeira, sempre foi pauta na reflexão
e construção de conhecimentos relacionados ao corpo, que se movimenta tal
qual a nossa sociedade, baseada na autonomia e liberdade de pensar e agir.
REFERÊNCIAS
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