Post on 24-Jul-2016
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O TEMPLO - Ruy Kirshniev
Duas mulheres levando uma garotinha emtrajes bastante suspeitos para o interiordaquela casa de oração que se instalou faziapouco tempo onde antes funcionava umaconcessionária de veículos?As amigas acharam aquilo estranho! Muitoestranho! E resolveram investigar. Passaram afazer parte do culto. Os fieis ficavam com orosto coberto por panos brancos e issoaumentava o mistério.Quem eram aquelas duas? O que estavaacontecendo ali? O que estavam fazendo coma menina? Por que a levavam para aquela sala,no final do corredor, à esquerda do altarimprovisado?Destemidas, elas invadiram o aposento,resgataram Matiko e, sem saber, interferiramno Processo, algo muito maior, que agia econtinua agindo submerso, sorrateiro, com oobjetivo de aliciar os membros daquelafamília. Um verdadeiro “iceberg”, em cujaponta aparente está o templo...
RPK1
O TEMPLOVol. 1 da Série “O PROCESSO”
Ruy Kirshniev
São Paulo2015
1a Edição
MAR DE LIVROS
Editor:Preparação de originais:
Revisão editorial:Capa - criação:
Editoração:Foto da capa:
Ilustrações (miolo):
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Kirshniev, Ruy - 1975 O Templo -- São Paulo : Mar de Livros, 2015.
76 p.
1. Ficção I. Título
00-1605 CDD 869.3B
Índices para Catálogo Sistemático
1. Ficção: Século 21869.3B
2. Século 21 : Ficção869.3B
Marcos MeneghessoAnita KlausbergOswaldo AranhaHelenita ManfrimEduarda RigolimRenato ParisiDegas
MAR DE LIVROS©
é selo da Mar Editorial Livraria e Distribuidora(11) 2836-2606 e 2506-4689
www.mardelivros.com
Códito MAR DE LIVROS - RPK1
Dedico este livroàs pessoas
sinceramentecomprometidas em
construir umasociedade mais
acolhedora, menoshipócrita e
preconceituosa.
O que as próximas páginas revelam não é nem o começo nem o fim deuma arrumação, de um acordo – em muitos momentos tácito – do qualparticipam seres desta e de outra dimensão. Também não é possíveldeterminar sua exata localização na linha dos acontecimentos.
Sabe-se apenas que é um dos muitos episódios que fazem parte de umlongo e bem urdido processo, com foco numa família de classe média,formada no século passado e que permanece viva, operante, presente, ativaem pleno século 21, se bem que modificada, acrescida de novos integrantes.
Família essa que enfrenta seus problemas particulares num país cheiode outros problemas. Família à primeira vista tradicional, que sofremudanças ao longo do tempo, mas que continua crepitando, estalandocomo as faíscas que saltam da madeira incendiada, em brasa. Todos quepertencem a ela vivem num brasil.
Mauro é o chefe dessa familia. Chefe? Aparentemente, sim.Interesseiramente, sim.
Por que as forças daqui e do além fizeram esse pacto e elegeram Mauroe sua família como alvo? Quando, em torno de que mesa as negociaçõestiveram vez? Quem ganha quanto com isso, o quê? Mauro também ganha?
Uma combinação dessas perdura há décadas, avança, atrai novospersonagens ao longo dos anos porque traz vantagens, inclusive para quemvive o papel de vítima.
Difícil estabelecer quem é o vilão e quem é o mocinho neste relatohumano. Talvez você, que aceitou o convite para desvendar o que há portrás dessa torpe trama lendo as linhas desta espécie de diário, traga a luznecessária para que se separe o joio do trigo em meio a tamanha escuridãode alma.
Leia e ajude-nos a entender o que se passa dentro e fora do Templo.
Dúvidas iniciais
Dúvidas Iniciais ....................... 07Capítulo 1 - ............................ 11Capitulo 2 - ............................ 15Capítulo 3 - ............................ 18Capítulo 4 - ............................ 23Capítulo 5 - ............................ 26Capítulo 6 - ............................ 29Capítulo 7 - ............................ 32Capítulo 8 - ............................ 41Capítulo 9 - ............................ 44Capítulo 10 - ............................ 47Capítulo 11 - ............................ 49Capítulo 12 - ............................ 57Capítulo 13 - ............................ 60Capítulo 14 - ............................ 67Capítulo 15 - ............................ 71Dúvidas Finais ......................... 75
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Saí pra trabalhar logo após o feriadoprolongado. Não estava muito anima-do. Cruzar esta cidade não é brinque-
do. Prefiro pegar o transporte público do queficar por horas no trânsito engarrafado. Ven-cer em fila indiana os 20 quilômetros queseparam minha casa do emprego me dá umasensação de pura perda de tempo. No me-trô, a sensação é outra. Pareço uma sardi-nha na lata. Por pouco tempo, felizmente.
Antes de subir a rampa que me leva àbilheteria, compro o jornal do dia. Não prame manter informado. Nossa imprensa é umacomédia. Leio pra rir.
Passo pela catraca, desço à plataformae me assusto. As composições estacionamlotadas. Não dá pra entrar. O jeito é esperarpela próxima, pela próxima, pela próxima.As escadas rolantes foram trazendo gente emais gente. Até que um trem cem por centovazio abriu suas portas e a multidão podeentão seguir rumo a seu destino.
Fui um dos primeiros a entrar e, apesar
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do empurra-empurra, consegui sentar-me aolado da mulata que me atraiu desde o mo-mento em que passou distraída pelo pontode escape do ar encanado e o vento fortelevantou sua minissaia rodada com baba-dinhos na barra.
Abri o jornal, varri a primeira páginacom os olhos à procura de algo interessan-te. Nada. Instintivamente fui passando paraas páginas internas, até que parei na que tra-tava de assuntos policiais. O título de umapequena nota, quase no rodapé, chamouminha atenção.
Casal que prostituíafilhos menores é preso
Usei a nota para puxar assunto com amoça de pele jambo, de coxas bem tornea-das, sentada ao meu lado. O rosto da mu-lher, inicialmente, demonstrou uma curiosi-dade comum, nada especial, mas foi se trans-formando à medida que eu fui relatando osucedido.
— Veja só esta notícia! A polícia acabade prender um casal acusado de aliciar paraa prostituição cinco dos seus seis filhos, to-dos menores!
— Nossa! Onde foi isso? Na Índia?— Não, aqui no Brasil, numa cidadezi-
nha de Goiás chamada Piracanjuba.— Quanta crueldade! Quantos filhos?— Cinco. Eles têm entre 5 e 14 anos
de idade. Só uma menina.
cor de jambo -pele bronzeadae de brilhonatural, detom morenomeioavermelhado.Lembra a cordo jambo-rosa,fruto dojamboeiro.
O Templo 13
— Uma menina e quatro meninos!? Naprostituição? Pai e mãe prostituindo os pró-prios filhos?
— É o que diz aqui. Eles cobravam de14 a 100 reais, dependendo do programa.
— Meu Deus! A que ponto chegamos...— Verdade... O delegado que cuida do
caso explica que tudo acontecia depois queos pequenos voltavam da escola. Os doisrecebiam o dinheiro e saíam para dar umavolta pela vizinhança enquanto quem pagouficava fazendo sexo com elas na casa, nacama do casal...
— Que barbaridade!A garota ia ficando cada vez mais im-
pressionada. A conversa ia render. Continuei.— E não era só na casa deles, não. Eles
permitiam que os menores fossem levados aoutras casas e chácaras da região, para se-rem violentados.
A garota estava visivelmente horrori-zada. Olhava para a página como se duvi-dasse, procurando confirmar com os própri-os olhos o que eu lhe dizia.
A matéria informava ainda que o casaljá havia sido preso antes, mas que o juiz man-dou soltar por falta de provas e que...
Não consegui ler mais nada. Minha vozficou trêmula. Do nada apareceu um nó nagarganta. Dobrei o jornal rápido. Esquecida mulata. Ela ainda comentou alguma coi-sa. Parece que aquilo a deixava desiludidacom o futuro da humanidade, mas não pres-tei atenção. Viajei.