Post on 05-Feb-2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Ps-graduao em Arquitetura e Urbanismo
Ana Laura de Freitas Rosas Brito
O metal na arquitetura contempornea paraibana 1990-2002
Natal RN 2005
Ana Laura de Freitas Rosas Brito
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
rea de concentrao Forma Urbana e Habitao
Linha de Pesquisa Cidade, Habitao e Contemporaneidade
OrientadoraDra. Nelci Tinem
Diviso de Servios Tcnicos
Catalogao da Publicao na Fonte / Biblioteca Central Zila Mamede
Brito, Ana Laura de Freitas Rosas.
O metal na arquitetura contempornea paraibana: 1990-2002 / Ana
Laura de Freitas Rosas Brito. Natal, 2005.
Orientadora: Nelci Tinem.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo.
1. Metal na arquitetura Dissertao. 2. Arquitetura Joo Pessoa
(PB) Dissertao. 3. Contemporaneidade Dissertao. I. Tinem, Nelci.
II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.
RN/UF/BCZM CDU 72.023:624.014
Ana Laura de Freitas Rosas Brito
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Hlio Costa Lima
Profa. Dra. Gleice A. Elali
Profa. Dra. Nelci Tinem
Dissertao defendida em 25 / 11 / 2005.
La arquitectura ayuda a entender mejor una civilizacin, ya que los edificios revelan los centros de
inters de la sociedad, las dotes organizadoras, la riqueza y la indigencia, el clima y la posicin ante
la tcnica y las artes. La estructura general que la sociedad presenta en pueblos y ciudades se
comprende a travs del espejo ms escudriador de la presencia humana: la arquitectura
Geoffrey H. Baker, 1991.
Aos meus pais, Hlio e Lda, e ao meu marido, Alisson, pelo incentivo e amor.
Agradecimentos
No se chega a lugar nenhum sozinho. Esse estudo chega at aqui carregando a orientao, a
colaborao, o incentivo, a amizade de muitos, ao longo de mais de dois anos. Agradeo:
Ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU da UFRN, por ter acolhido
minha pesquisa nesse digno programa. E ao CNPq pelo auxlio financeiro, sem o qual seriam inviveis meus
estudos.
s professoras Snia Marques e a Nelci Tinem, pela orientao em dois tempos, pela elucidao de
minhas idias, pelo acompanhamento paciente e pelo exemplo no estudo da arquitetura.
Ao professor Engenheiro Argemiro Brito pelas orientaes e disponibilidade de sua biblioteca aos
meus estudos em torno das estruturas metlicas.
A todos aqueles que colaboraram dando informaes sobre o acervo dessa pesquisa, proprietrios e
funcionrios dos estabelecimentos pblicos e privados, que forneceram os registros grficos oficiais e permitiram
minha deambulao pelos ambientes internos e aos telhados, para a obteno de imagens fotogrficas e
montagem dos esquemas a mo livre.
Aos meus familiares e amigos que, por serem tantos, no me atrevo a list-los, pelo apoio e
compreenso por minha ausncia em tantos momentos.
amiga Kaline, pela amizade, pelas contas rachadas e estudos compartilhados. E aos novos amigos
Larissa, Jairson, Izabel e Nilberto, Alexandra e Andr.
Ao meu marido, Alisson, pelo seu amor, pelo incentivo e calma nos momentos mais difceis. Aos meus
sogros, Graa e Sergio, pelo amor e carinho e por toda a nova famlia que ganhei.
Ao meu pai, Hlio, pelo apoio e incentivo constantes. Aos meus irmos, Rodolfo e Wilson e amiga
Cleide, pelo apoio, companheirismo e momentos felizes.
mame, Lda, que tanto carinho, amor e fora no conseguirei retribuir nessa vida.
A Deus fora maior; A Jesus exemplo maior e Maria Santssima auxlio maior.
Resumo
Esta uma pesquisa sobre a arquitetura contempornea da cidade de Joo Pessoa, capital
da Paraba, e que analisa a utilizao do metal, especificamente o ao e o alumnio, na composio
da produo edilcia entre os anos de 1990 e 2002, perodo de significativo crescimento dessa
utilizao. Tomou-se como referencia a anlise de arquitetura enquanto objeto construdo e as
classificaes estruturais de Engel para analisar 40 obras selecionadas com o objetivo de agregar
subsdios para a compreenso dessa produo contempornea que se utiliza do metal como
elemento estrutural e esttico-formal.
Abstract
This essay studies about contemporary architecture in Joo Pessoa, capital city of Paraiba
State, which analyzes the utilization of steel and aluminum materials from 1990 to 2002, period when
significant increase of this utilization is seen. As references, the architectural analysis and Engel
structures definitions were used to analyze 40 built buildings, universe researched, to bring together
subsidies to comprehend the contemporary production, especially which use the metal as structural
and esthetic-formal element.
Sumrio
Introduo Construo do objeto.............................................................................................................. As Construes em ao e alumnio em Joo Pessoa (Contextualizao do Objeto)................... Justificativa.............................................................................................................................. Objetivos................................................................................................................................. Etapas e Procedimentos.........................................................................................................Estrutura do trabalho...............................................................................................................
Captulo 1 Procedimentos Metodolgicos............................................................................. 1.1. Definio do universo da pesquisa...................................................................................
1.1. 1. Recorte temtico.................................................................................................... 1.1.2. Amplitude e Escolha dos casos para anlise..........................................................1.1.3. Recorte temporal.....................................................................................................
1.2. Fundamentao da estratgia de anlise........................................................................1.3. Estratgia de anlise adotada..........................................................................................
Captulo 2 Anlise do Grupo Corpo......................................................................................2.1. Anlise Geral - Grupo 1....................................................................................................2.2. Anlise Especfica - Grupo 1............................................................................................. 2.3. Anlise Geral - Grupo 2....................................................................................................2.4. Anlise Especfica - Grupo 2............................................................................................ 2.5. Outras utilizaes no estruturais em Joo Pessoa........................................................
Captulo 3 Anlise do Grupo Cabea....................................................................................3.1. Anlise Geral - Grupo 3....................................................................................................3.2. Anlise Especfica - Grupo 3............................................................................................. 3.3. Anlise Geral - Grupo 4....................................................................................................3.4. Anlise Especfica - Grupo 4............................................................................................. 3.5. Anlise Geral - Grupo 5....................................................................................................3.6. Anlise Especfica - Grupo 5............................................................................................. 3.7. Anlise Geral - Grupo 6....................................................................................................3.8. Anlise Especfica - Grupo 6.............................................................................................
Captulo 4 Anlise do Grupo Esqueleto................................................................................4.1. Anlise Geral - Grupo 7....................................................................................................4.2. Anlise Especfica - Grupo 7............................................................................................
Consideraes Finais..................................................................................................................
Referncias Bibliogrficas..........................................................................................................
Apndice Os Sistemas Estruturais e as Estruturas Metlicas
ndice de Imagens e Quadros
010812121313
15151516172229
363646546068
7272839095103110119126
135135143
150
159
Introduo __________________________________________________________________
1
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Introduo
Construo do Objeto
A utilizao do metal, sobretudo o ao e o alumnio, nas edificaes
contemporneas da cidade de Joo Pessoa, capital da Paraba, vem ganhando fora no
panorama arquitetnico da cidade. Esse processo foi iniciado com a obra do Espao
Cultural Jos Lins do Rego no incio dos anos de 1980 e retomado no incio dos anos de
1990 atravs de edificaes, geralmente de destinao comercial, de servios e
institucional.
O emprego desse material na arquitetura de Joo Pessoa no um fato isolado, a
sua difuso uma realidade corrente tanto na arquitetura nacional quanto internacional, o
que proporciona diferenas, peculiaridades e sintonias na utilizao desses materiais,
conforme o lugar, a cultura, a economia e o desenvolvimento tecnolgico. Para essa
difuso concorrem fatores relacionados ao potencial construtivo do material, sobretudo
aqueles que dizem respeito leveza da edificao, ao alvio de cargas nas fundaes, a
amplitude dos vos e a maiores alturas, geralmente embasados por tecnologias de ponta.
Outro fator que incentiva o uso desse material a propaganda divulgada por entidades
privadas e estatais1 ligadas a produo do ao e do alumnio que, fazendo um paralelo com
outras tecnologias construtivas existentes, defendem outras vantagens: aumento do
desempenho na construo, planejamento mais preciso das etapas de trabalho, facilidade
de estocagem, rapidez de montagem, facilidade na organizao do canteiro de obras e
maior quantidade de solues para reformas e ampliaes. Alm dessas questes, pesam
tambm valores subjetivos tais como o carter de contemporaneidade, que est vinculado
ao material.
No Brasil, essa utilizao foi impulsionada pelos primeiros investimentos nos anos
de 1930 quando da criao das primeiras siderrgicas, dando incio ao processo de
industrializao em larga escala voltada para a construo civil. Em decorrncia da
herana corbusierana e da farta utilizao do concreto pela arquitetura moderna brasileira2,
as primeiras edificaes realizadas com o novo material no pas so do incio da dcada
de 1950 como afirma DIAS (2002). Apesar da tecnologia, mo de obra e instrumentos
1 Um exemplo disso a ABCEM-Associao dos Construtores em Estruturas Metlicas, que publica e envia ao pblico interessado, um jornal eletrnico mensal a respeito de cursos, vantagens e incentiva a utilizao do material construtivo.2 SEGAWA (1998), TINEM (2002), DIAS (2000), REIS FILHO (2002), BRUNA (2002), FICHER & ACAYABA (1982), e NASLAVSKY (1998).
Introduo __________________________________________________________________
2
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
ainda incipientes conseguiu-se certo arrojo estrutural, alcanando grandes alturas e vos. A
proposta esttico-formal, porm, estava ainda muito ligada a linguagem do racionalismo
moderno3: geralmente se restringia a edificaes prismticas com estrutura modulada em
ao recoberta por placas de concreto, que perduraram at meados da dcada de 1970.
Imagem 1. As primeiras obras com estrutura em ao realizadas por arquitetos brasileiros.
a) Pavilho da CSN, So Paulo, 1954, Srgio Bernardes (DIAS, 2002); b) Pavilho Brasileiro na Expo de Bruxelas, 1958, Srgio Bernardes (www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp034.asp); c) Edifcio Garagem Amrica, SP, 1957. Arquiteto Rino Levi (DIAS, 2002); d) Edifcio-Sede do IPERJ, Rio de Janeiro, 1965. Affonso
E. Reidy (DIAS, 2002).
Nas dcadas de 1960 e 1970, as realizaes mais exemplares, observadas em
DIAS (2002), do continuidade a vertente corbusierana do movimento moderno.
recorrente a utilizao de volumes prismticos sobre pilotis, de brises-soleil nas fachadas,
vedaes independentes e de estruturas metlicas recobertas com alvenaria e placas de
concreto.
A partir da dcada de 1980 possvel perceber mudanas na linguagem da
arquitetura produzida com estruturas metlicas, possivelmente reflexo4, por um lado, das
tendncias contemporneas internacionais5 e, por outro, por fatores internos tais como: o
aprimoramento do material, gerando maior flexibilidade para moldagem de novos perfis, o
aumento da vida til e resistncia do metal, novos softwares e solues para o clculo das
estruturas e o aperfeioamento dos processos de soldagem e das solues de combate a
incndio.
A variedade de linguagens fomenta a exposio dos componentes metlicos como
um todo e produz desde experimentaes em torno da exposio da estrutura at
elementos exclusivamente ornamentais. tambm nesse perodo que as trelias e
estruturas espaciais expostas, experimentadas no mbito internacional, do um carter
inovador s propostas arquitetnicas, muito embora estas obras no desfrutem de toda a
3 Apesar de no dirigido para esse fim, Dias (2002) consegue apresentar as mudanas de linguagem da arquitetura feita em ao no Brasil entre as dcadas de 1950 e 1990. 4 Um consenso a partir de meados da dcada de 1980 foi a existncia de um pluralismo de expresses arquitetnicas, fruto de diversos caminhos de pesquisa e indagao... (BASTOS, 2003:122). 5 MONTANER expe justamente sobre a importncia que adquiriu a produo metlica a partir da dcada de oitenta e que, de certa forma, aconteceu no Brasil: Ao longo dos anos oitenta, apesar das crticas que uma parte do pensamento contemporneo de raiz ecolgica, alternativo ou ps-moderno lanou contra o poder totalitrio e destrutivo da tecnologia, voltou a aflorar esta confiana na racionalidade e capacidade de sntese que o mundo da tecnologia pretende possuir intrinsecamente (MONTANER, 1993:147).
Introduo __________________________________________________________________
3
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
tecnologia mundialmente disponvel em torno de tais sistemas6, o que diretamente
influenciado pelo nvel de desenvolvimento econmico e de pesquisa cientifica do pas.
Obras de maior relevncia so observadas, sobretudo, nos estados de So Paulo e Minas
Gerais7, as quais destacam arquitetos como Aflalo e Gasperini, Siegbert Zanettini, Joo
Walter Toscano, Gustavo Penna, Joo Diniz, olo Maia e Silvio Podest.
Imagem 2. Produo brasileira contempornea em ao. a) Escritrio de Arquitetura. Zigbert Zanetinni, So Paulo, 1988; b) Edifcio Capri. Joo Diniz, Belo Horizonte,
1992; c) Instituto Cultural Ita. Mange, Saturni & Belpiede, So Paulo, 1992. (DIAS, 2002)
Especificamente na regio nordeste, as obras de relevncia so em menor
nmero, mas desde a dcada de 1970 so observadas algumas obras de grandes
dimenses como o Palcio de Congressos (1979) e o Edifcio Casa do Comrcio (1987) na
Bahia, o Novo Mercado Central de Fortaleza (1994) e as recentes reformas nos aeroportos
de Fortaleza-CE, Natal-RN e Recife-PE, alm do Espao Cultural Jos Lins do Rego em
Joo Pessoa - PB, (1982), comentado mais adiante. Na maioria dessas construes o
metal utilizado como um chamariz de novidade, de alta tecnologia edilcia (mesmo que
essa no seja a realidade de grande parte dos edifcios citados), a estrutura metlica
exposta torna-se elemento de destaque visual no novo projeto ou nos anexos realizados
nas reformas.
Sobre essa produo arquitetnica metlica no pas alguns autores e arquitetos
comentam o impacto causado pelas novas tecnologias e pela importncia que a expresso
do metal adquiriu na arquitetura brasileira:
Parte da produo nacional manteve a preocupao de refletir, por meio da expresso formal, as possibilidades tecnolgicas da construo civil. No mais o arrojo estrutural, permitido pelo clculo do concreto armado, mas as novas possibilidades fornecidas pelo desenvolvimento da indstria siderrgica, que tornou vivel a construo em ao no Brasil (BASTOS, 2003:211).
A esse respeito, o arquiteto Joo Walter Toscano comenta:
Este fenmeno no se reveste exatamente de um carter de revival em relao a tantas obras espalhadas pelo Brasil construdas em ferro - nos fins do sculo XIX (...) mas, surge em funo do prprio desenvolvimento da indstria siderrgica no Brasil, que abre um caminho no seu mercado interno (capacidade de produo), incentivando possibilidades de novos usos para o ao na
6Tal retardo tecnolgico pode ser observado no Apndice dessa pesquisa, no sub-captulo sobre as Estruturas Espaciais. 7 Estados-sede de algumas das principais siderrgicas do Pas, tanto no que se refere ao ao quanto ao alumnio.
Introduo __________________________________________________________________
4
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
construo. Novamente o papel da arquitetura aqui da maior importncia, uma vez que como no caso do concreto armado, se renova e cria uma tecnologia. Na construo civil em ao, as novas conquistas tero tambm como chefe a arquitetura (Toscano apud BASTOS, 2003:213).
Percebemos que existe uma troca: se o desenvolvimento da indstria siderrgica
foi a base que sustentou as novas formas de utilizao do ao, a produo arquitetnica foi
responsvel pela conquista de novas solues tecnolgicas e de linguagem.
O crescimento do consumo do ao pela construo civil brasileira ratificado pelos
dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia IBS que confirmam o setor como o maior
consumidor do ao produzido no pas, ficando a frente inclusive da produo de mquinas
e equipamentos (ver tabela abaixo). Esses dados so reforados pelos do II Congresso
Internacional de Construo Metlica CICOM de 2002, que afirmam que, por um lado, o
consumo do ao nas edificaes subiu 68% nos ltimos seis anos e, por outro, a
participao das estruturas metlicas no conjunto das obras do setor da construo civil
de 18% (http://www.IIcicom.com.br).
Imagem 3. A utilizao do ao na Construo Civil. Setores Consumidores do ao (IBS, 2004) e Consumo Regional por produo (IBS, 2004).
No panorama internacional, o uso do metal na arquitetura no recente, pois
mesmo sem considerar as primeiras utilizaes em larga escala em fins do sculo XIX,
pode-se citar o Movimento Moderno na Europa e nos Estados Unidos, no incio do sculo
XX, com nomes importantes como Mies van der Rohe e Buckminster Fuller, como uma fase
que impulsionou a utilizao do ao na arquitetura. Entre os anos de 1950 e 1960 foram
alcanadas conquistas importantes para esse emprego, pois foram aperfeioadas tcnicas
construtivas relacionadas com as tenso-estruturas e as estruturas espaciais8, bem como as
propostas de impacto urbano com o emprego do metal nas Mega-estruturas do grupo
ingls Archigram e do hngaro Yona Friedman.
8 Ligadas aos trabalhos de pesquisa de vrios arquitetos e engenheiros, tais como o alemo Frei Otto, no campo das tenso-estruturas e o francs Le Ricolais e Richard Buckminster Fuller no campo das estruturas espaciais. Ver Anexo 01 Os Sistemas Estruturais e as Estruturas Metlicas.
Introduo __________________________________________________________________
5
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Essas idias influenciaram e orientaram uma linha de arquitetura baseada na alta
tecnologia e na expresso estrutural de vrias realizaes na dcada de 1970. Segundo
Frampton (2000), o Centro Cultural Georges Pompidou, na Frana, em 1977, de Rogers &
Piano a obra paradigmtica desse perodo, na qual possvel perceber a expresso
intrnseca da estrutura' metlica.
Imagem 4. Centro Georges Pompidou de Rogers & Piano. (www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/arch/pompidou.html)
ENGEL fazendo um paralelo entre a arquitetura produzida inicialmente com o
emprego do metal no sculo XIX e a tendncia da dcada de 1970, afirma:
En el pasado, el sistema estructural de un edificio desempeaba slo una parte menor
e indirecta en la experiencia esttica de la Arquitectura. Una estructura sin ornamentar
era raramente empleada como forma esttica pre se o experimentada como tal.
En la actualidad, el hombre deriva cada vez ms l sensacin esttica de la pura
comprensin intelectual de un sistema lgico, y de ah que experimente la lgica de la
forma estructural como fuente de sensacin esttica. (ENGEL, 1977:12,13)
Assim, o metal acompanha essa tendncia de exposio da estrutura como meio
de alcanar a expresso arquitetnica, tornando-se um material usual.
Atualmente, so diversas as vertentes arquitetnicas que caracterizam o
panorama da arquitetura9 e dentre esse pluralismo de tendncias so utilizados na
construo, tanto esquemas construtivos tradicionais quanto mais avanados, ligados
tecnologia de novos materiais. Em relao linguagem encontramos as vertentes que
resgatam as premissas modernas, as que buscam a metfora e o simbolismo e as que
procuram o mimetismo e o ecletismo do repertrio da arquitetura. Nesse quadro, o gosto
pelo ornamento voltou a ser discutido pela chamada cultura ps-moderna e influenciou a
maneira de utilizar o metal na construo.
9 Ver NESBITT (1996), DE FUSCO (1992), PORTHOGUESI (1985), RAGON (1996) e FRAMPTON (2000).
Introduo __________________________________________________________________
6
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Esse retorno e a defesa do ornamento na arquitetura10, movido pelo debate ps-
moderno, possuem influncias do Pop Art e sua proposta a maquiagem e a cenografia
das edificaes, atravs de citaes. Apesar de seu poder de seduo comercial e de seu
charme em uma sociedade consumista, esse um movimento que tende a gerar crticas.
Framptom (2000: 370) hesita em chamar essa produo de corrente porque no se pode
defini-la em termos de um conjunto especfico de caractersticas ideolgicas e estilsticas e pelo fato de
que ela tende a proclamar sua legitimidade em termos exclusivamente formais para no dizer superficiais e
no em termos de consideraes construtivas, organizacionais ou socioculturais. E acrescenta que nesse
caso, os edifcios so construdos mediante imperativos econmicos, em que o
empreendedor determina os princpios essenciais da obra e reduz o arquiteto a desenhista
de uma mscara convenientemente sedutora.
Outra corrente que tende a utilizar o metal com maior freqncia ou concedendo-
lhe mais status a que valoriza a utilizao da estrutura metlica de alta tecnologia e
prope a flexibilizao mxima do edifcio, a exposio da estrutura e a informatizao dos
sistemas que servem ao edifcio. As razes conceituais dessa vertente esto fortemente
ligadas ao movimento moderno, especialmente no que se refere questo da estrutura e
da flexibilizao dos espaos.
O Desconstrutivismo, outra dessas tendncias em que o metal o material usual,
busca a libertao das restries formais impostas pelo iderio moderno e a forma livre das
linhas ortogonais, exaltando as inclinaes dos planos. Como obras importantes para a
compreenso das estratgias desconstrutivistas da dcada de 1980, so lembrados
arquitetos como Tschumi, Frank Gehry, Peter Eisenman, Daniel Libeskind, Rem Koolhass e
a arquiteta Zaha Hadid.
Imagem 5. Estratgias deconstrutivistas. a) Parc de la Villete, Bernard Tschumi. Paris, 1993. (http://www.galinsky.com/buildings/villette/); b) Museu
Guggenheim, Frank Gehry. Bilbao, 1997. (http://www.greatbuildings.com/buildings/Guggenheim_Bilbao.html);c) Biblioteca Publica de Seattle, Rem Kolhaas. EUA, 2001. (http://slate.msn.com/id/2098574/)
Na onda das inquietaes ambientais surgem movimentos preocupados com o
impacto do progresso sobre o meio ambiente, com o consumo exagerado de energia do
10 A esse respeito ver os dois livros do arquiteto e escritor Robert Venturi: Aprendendo com Las Vegas e Complexidade e contradio em arquitetura.
Introduo __________________________________________________________________
7
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
mundo moderno e com a preservao de recursos no-renovveis, ou seja, com o perigo
de provvel esgotamento dos recursos naturais do planeta. Para a Revista AU (2004),
Norman Foster se encaixaria em um desses grupos, propondo espaos construdos em
harmonia com o meio ambiente, enquanto Santiago Calatrava e Nicholas Grimshaw, nessa
mesma direo, estariam realizando estruturas inspiradas em organismos vivos. O
interessante a ser observado nessas correntes citadas acima, e preocupadas com os
impactos em relao ao entorno e ao meio ambiente natural, que utilizam frequentemente
para a conformao estrutural de seus projetos, os metais, que so matrias esgotveis na
natureza.
Imagem 6. Outras tendncias Contemporneas. Edifcio St. Mary Axe, Londres, 2004. Norman Foster (A&U, 2004: 57); b) Museu da Cincia Prncipe Felipe,
Espanha, 1996. Calatrava (www.calatrava.info/); c) Estao Waterloo, Inglaterra. 1993. Nicholas Grimshaw. O projeto e estrutura ssea da mo humana (fonte: www.uni-koblenz
.de/anglistik/subjects/as/papers/kfischer-hs/architecture)
No que se refere utilizao do metal importante salientar que o termo high
tech, no se refere apenas s estruturas metlicas expostas ou recursos visuais que
sugerem uma aparncia de alta tecnologia ao edifcio, mas aponta tambm mudanas
profundas no seu funcionamento, provendo-o de um crebro (sistema informatizado), que
controla desde a pele (fachadas) at seu esqueleto (estrutura). Nesse contexto,
MACINNES (1994:108) comenta a importncia tanto dos recursos estruturais e
informatizados como da tendncia cosmtica: ... queremos que alm de inteligentes, os edifcios
paream inteligentes.
A questo comentada acima aparece, ainda que com certa distoro, nessa
pesquisa: impulsionados pela onda da alta tecnologia, pelo desejo de que os edifcios
paream inteligentes, alguns arquitetos so seduzidos a utilizar o metal de maneira
falaciosa e tal utilizao observada com maior freqncia em locais onde no
disponvel a alta tecnologia para a informatizao dos servios (o crebro), nem mesmo
aquela necessria realizao de uma estrutura (esqueleto) em metal. Tal tendncia
observada na cidade de Joo Pessoa, comentada a seguir.
Introduo __________________________________________________________________
8
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
As construes em ao e alumnio em Joo Pessoa.
Contextualizao do objeto
Na cidade de Joo Pessoa, no incio da dcada de 1980 foram inauguradas trs
obras modernas expressivas, que marcaram o panorama da arquitetura na cidade. Duas
delas utilizaram em abundncia o ao e o alumnio: o Espao Cultural Jos Lins do Rego,
construdo entre 1980 e 1982 e o aeroporto Castro Pinto, concludo em 1982, ambos
projetados pelo arquiteto carioca Srgio Bernardes11. A terceira obra a rodoviria da
cidade, realizada em concreto aparente pelo arquiteto paraibano Glauco Campelo, formado
no Rio de Janeiro. Esse fato, de alguma maneira, j sinalizava uma mudana na forma de
construir onde a estrutura em concreto armado j no era a soluo hegemnica.
O aeroporto possui uma estrutura simples, racional e modulada, que permite fcil
manuteno, e possveis ampliaes. Isso justifica suas pequenas dimenses, em relao
s similares das capitais vizinhas, que eram coerentes com o tamanho da cidade no
momento em que foi realizado. Trata-se de uma ampla coberta em estrutura espacial
elevada do solo por pilares tubulares em ao, que protege uma estrutura em concreto
armado de dois pavimentos, tambm suportada por pilares tubulares em ao, cuja estrutura
abriga as funes aerovirias.
Imagem 7. Aeroporto Castro Pinto. a) Vista Geral do Aeroporto (Web site do Governo da Paraba: 2005); b) Vista da coberta e da rampa de acesso ao pavimento superior, percebem-se a trama da estrutura espacial metlica da coberta na cor azul, os tubos de queda das guas pluviais na cor amarela e as luminrias de lmpadas fluorescentes; os pilares metlicos e os
tubos para as instalaes eltricas aparentes; c) Vista do setor trreo do check-in12.
Atualmente o aeroporto est em fase de ampliao dos ambientes para
passageiros, funcionrios e para acomodao dos servios aerovirios. A peculiaridade
dessa reforma que ela destoa da tendncia observada nas reformas de outros aeroportos
nordestinos, como os de Fortaleza, Recife e Natal que utilizaram estruturas metlicas. A
11 Sergio Bernardes foi um dos pioneiros na utilizao do metal na arquitetura brasileira. O Pavilho do Brasil para a Exposio de Bruxelas, de 1958 e o Pavilho da CSN de 1954 em So Paulo esto entre suas obras de metal que mais se destacam. (DIAS, 2002) 12 Todas as imagens, cuja fonte no estiver citada, foram obtidas pela pesquisadora dessa dissertao.
Introduo __________________________________________________________________
9
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
ampliao do Castro Pinto despreza a possibilidade de expanso com estrutura metlica
espacial, prevista pelo projeto original e utiliza uma estrutura em concreto armado,
revestida em alguns trechos com placas de alumnio e exibe uma marquise em ao.
Imagem 8. Reforma Aeroporto Castro Pinto. a) Vista Geral do edifcio da ampliao, observam-se as placas de revestimento em alumnio na lateral do
edifcio; b) Vista Posterior do novo edifcio; c) Fachada do novo edifcio com marquise metlica, ainda em fase de concluso. (data da imagem: Outubro, 2005).
O Espao Cultural possui amplas dimenses e um grande fluxo de usurios, pois
alm de estar plenamente inserido na malha urbana da cidade, prximo a Avenida Epitcio
Pessoa, possui um forte carter simblico, de reunir e apoiar a cultura da cidade, em
contraponto a pequenas e dispersas manifestaes da cultura local. (ver Imagens 9, 10 e 11)
Imagem 9. Foto area do Edifcio e Mapa de localizao do Espao Cultural prximo Av. Epitcio Pessoa (Mapa digital da PMJP modificado).
Foi pensado como um grande equipamento pblico para abrigar grandes e
pequenos espetculos musicais, peas teatrais e feiras, em ambientes como: a Praa do
Povo, uma praa central com 6.480 m2 e capacidade para 10.000 pessoas, o teatro Paulo
Pontes de 810 lugares e o teatro de Arena para 1.500 pessoas. Conferncias e cursos de
lnguas e de musica (como corais e ensaios da orquestra infanto-juvenil de Joo Pessoa)
utilizam as instalaes de trs auditrios para cerca de 150 pessoas cada um e cinco salas
de apoio.
Exposies de artistas plsticos, artesos e feiras cientficas se utilizam de um
Mezanino para exposies de 2.400 m2, da galeria de Arte Archidy Picado, de um Museu
com acervo permanente sobre a histria da cidade. Uma biblioteca pblica, especialmente
Introduo __________________________________________________________________
10
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
utilizada por estudantes secundaristas, um cinema de 648 lugares cujas exibies de filmes
nacionais e estrangeiros so oferecidas a preos reduzidos e um planetrio com 135
lugares. Como suporte desses servios, existem banheiros nos pavimentos superior, trreo
e subsolo, reas de comercializao particular permanentes, com lanchonetes e lojas de
antiqurios, artesanato e cursos de pintura e fotografia, e estacionamento para 400
automveis. (Folheto da FUNESC)
Imagem 10. Espao Cultural. a) Vista externa da torre isolada ainda sem uso e do estacionamento (Parahyba, 1991); b) Vista posterior,
voltada para o local do estacionamento; c) Acesso principal, destaque para um dos pilares de suporte da coberta;
Imagem 11. Espao Cultural. a) Vista da praa do povo. Em destaque pilares de sustentao da cobertura, tubos de descida de guas pluviais e canais em concreto para conduo das guas; b) Vista do teatro de Arena, onde se podem observar as placas acsticas na cor vermelha fixadas cobertura metlica, a arquibancada em concreto aparente e a entrada (no nvel do palco) para os camarins e sanitrios; c) Vista da Praa do Povo, onde pose-se observar a estrutura
espacial com faixas de iluminao zenital e o vo liberado de pilares, proporcionado pela estrutura espacial. Ao fundo, o palco e duas rampas laterais, esquerda e a direita. (Folheto da FUNESC)
notvel a forma como o arquiteto utiliza ao mximo o potencial tecnolgico
disponvel para criar amplos espaos necessrios ao edifcio. Sua grande cobertura
metlica protege no s o edifcio, mas os beirais gerados por balano avanam at a
calada, alm dos limites do lote. Essa conformao ressalta sua monumentalidade, sua
condio de grande equipamento pblico e transmite a impresso de que o edifcio no
cabe no terreno a ele destinado, o que no deixa de ser verdade.
Destaca-se por valorizar a expresso plstica e capacidade estrutural dos
elementos metlicos, materializadas na vasta cobertura espacial de alumnio e nos
robustos pilares em ao que partem do piso trreo em um s ponto de apoio e alcanam a
estrutura da cobertura em quatro pontos distintos. Reforando o carter moderno e racional
do espao, observa-se a disposio modular da estrutura, com os pilares na periferia do
edifcio, liberando o espao interno central (ver Imagem 11). Destaca-se tambm a
Introduo __________________________________________________________________
11
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
delimitao dos espaos reservados a administrao e aos cursos, atravs de divisrias
em madeira e a exposio dos dutos das instalaes eltricas, hidrulicas e coletores das
guas pluviais, alm das passarelas metlicas do piso tcnico que esto acima da trelia
espacial da coberta.
Muito embora seja procurado pela populao, que utiliza seus servios, o Espao
Cultural no possui um programa de manuteno adequado nem para a sua idade, nem
para suas dimenses. So facilmente encontrados exemplos de descaso com a estrutura e
com as instalaes eltricas, hidrulicas e sanitrias, nesse ltimo caso com vlvulas,
aparelhos, pias e portas quebradas. Alm da torre de servios e do restaurante (destacada
no primeiro quadro da Imagem 10) que se encontra desprovida de qualquer uso e
manuteno.
Aps a construo do Espao Cultural, foi observado um perodo de estagnao
desse tipo de produo arquitetnica na cidade de Joo Pessoa, aparentando ser um caso
isolado, se desconsiderarmos as usuais coberturas de postos revendedores de
combustveis, de ginsios esportivos e de galpes industriais, exemplares que no so
objeto dessa pesquisa.
Apenas no incio da dcada de 1990, surgiram obras de destaque tanto devido ao
tamanho, expressividade e representatividade no panorama da cidade, bem como por
apresentar maior diversidade de solues estruturais e propostas estticas. A observao
aponta que essa quantidade vem se intensificando e demonstra que existem
especificidades na utilizao do metal na arquitetura pessoense, que tanto apontam para
sintonias quanto dissonncias frente aos panoramas nacional e internacional.
As sintonias percebidas pela observao so, mais que no campo da linguagem
arquitetnica, no mimetismo visual direcionado ou influenciado pelas imagens de visual
high tech" das revistas de arquitetura e dos sites da internet, que tm no uso do metal, de
maneira explcita, aparente e no exterior da edificao, uma de suas formas mais usuais de
manifestao. As dissonncias se apresentam essas sim, no terreno da linguagem
resultante dessa produo que no possui nem os meios, nem a tecnologia que a suporte.
Assim, existem indcios de que os arranjos construtivos observados expem, dentre outros
fatores, principalmente a deficincia da mo de obra local e a falta de domnio da tcnica,
por parte dos projetistas, dos que detm o desgnio sobre a obra, e ficam a merc dos
profissionais que, apesar do seu conhecimento a respeito dos materiais e tcnicas, orbitam
em esfera distinta do projetar arquitetnico.
Introduo __________________________________________________________________
12
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Justificativa
A escolha desse tema foi fortemente marcada por estudos realizados desde a
graduao no curso de Arquitetura da UFPB. Pelo trabalho de iniciao cientfica
desenvolvido junto ao Departamento de Mecnica, que estudava as divisrias metlicas
utilizadas para instalao de controle ativo de rudo atravs de sensores eletrnicos. Este
projeto era direcionado para plataformas off-shore de petrleo da Petrobrs, construdas
em ao e forneceu informaes importantes a respeito da instalao de equipamentos para
o controle das vibraes e rudos existentes em um equipamento de grande porte
construdo em metal. Essa experincia teve continuidade com o trabalho final de
graduao, cujo projeto previa uma estrutura em ao, que determinou uma pesquisa ampla,
tanto bibliogrfica, quanto das solues estruturais utilizadas pelo seleto grupo de
profissionais que trabalham nessa rea na cidade de Joo Pessoa. A utilizao desse
material em algumas oportunidades, na experincia profissional posterior, aliada a
observao do crescimento da utilizao do material na arquitetura da cidade, aguou
nossa curiosidade em relao a esse tema e incentivou a pesquisa sobre essa produo
em termos de proposta e execuo.
Acreditamos ser pertinente uma pesquisa das caractersticas da produo
arquitetnica em ao e alumnio na cidade de Joo Pessoa. Constatar como este material
est sendo consumido nessa regio, verificar que solues, estruturais ou no, esto
sendo propostas, analisar a adequao das decises de projeto as possibilidades do
material e examinar se esto sendo exploradas s caractersticas do material que
proporcionam qualidades arquitetnicas e construtivas (como leveza, altura, grandes vos,
visibilidade e limpeza estrutural); so os questionamentos que norteiam este estudo, cujo
produto um panorama da produo na cidade de Joo Pessoa.
Objetivos
Nesses termos, o objetivo principal dessa dissertao traar o perfil da utilizao
do metal, mais especificamente o ao e o alumnio, na arquitetura da cidade, no que diz
respeito aos aspectos esttico-formais, funcionais e s solues tcnicas adotadas, ou
seja, quais as formas de uso mais comuns, como elementos ornamentais, funcionais,
estruturais ou mistos. Como objetivos decorrentes, enumeramos dois: a) identificar os tipos
estruturais e as formas de utilizao mais freqentes do metal e b) avaliar as contribuies
qualitativas para a obra arquitetnica obtida atravs dos empregos mais recorrentes do
metal.
Introduo __________________________________________________________________
13
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Etapas e Procedimentos
Para alcanar os objetivos propostos foram percorridas as seguintes etapas:
1) Reviso Bibliogrfica:
Coletar informaes tcnicas sobre o funcionamento das estruturas metlicas para
reunir subsdios para a compreenso dos projetos a serem analisados e sobre a atualidade
das principais utilizaes encontradas na pesquisa;
Reunir informaes sobre o estado da arte em relao ao tema;
Agregar informaes sobre as correntes arquitetnicas contemporneas que tm
no metal recursos de linguagem.
2) Observao e coleta de dados dos possveis exemplares a serem analisados:
Definir os exemplares escolhidos para compor o universo (mostra) da pesquisa;
Classificar esses exemplares em grupos e caracteriz-los a partir dos estudos
tcnicos sobre as estruturas e os sistemas estruturais (Anexo 1) e da fundamentao
terica das estratgias de anlise
Coletar as informaes pertinentes ao estudo: registro grfico e fotogrfico, data
de construo e/ou de reforma relativa instalao de componentes metlicos, autoria do
projeto e uso da edificao. As fontes de pesquisa foram: jornais e revistas, arquitetos e
engenheiros autores das obras, a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa e outros rgos
como o Frum Civil da Capital e o CREA- PB;
Realizar esboos e esquemas de organizao espacial, solues estruturais e
arranjos metlicos com outras destinaes, quando da ausncia de registros oficiais.
3) Fundamentao das estratgias de anlise das obras baseada em estudos
especficos e diretrizes gerais;
Verificar as funes (estrutural, ornamental, funcional ou mista) dos elementos
metlicos;
Verificar a influncia qualitativa dos elementos metlicos nas obras analisadas;
4) Anlise da mostra escolhida.
5) Sistematizao dos resultados obtidos e elaborao das concluses.
Estrutura do Trabalho
A exposio do material pesquisado bem como as consideraes a que chegamos
sobre a produo arquitetnica metlica na cidade de Joo Pessoa, est estruturada da
seguinte maneira:
Introduo __________________________________________________________________
14
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002
Na Introduo esto expostos a definio do tema, a construo do objeto, a
justificativa, os objetivos, um resumo dos procedimentos adotados e a estrutura do
trabalho;
No captulo 01 esto detalhados os procedimentos metodolgicos: a amplitude do
universo da pesquisa, os recortes temtico e temporal, a fundamentao sobre o tema, os
procedimentos de anlise e um mapa parcial da cidade de Joo Pessoa com a localizao
das obras arquitetnicas pesquisadas;
No captulo 02 esto expostas as anlises referentes aos exemplares classificados
na categoria denominada de Corpo, constando de anlises gerais e anlise especfica;
No captulo 03 esto expostas as anlises referentes aos exemplares classificados
na categoria denominada de Cabea, constando de anlises gerais e anlise especfica;
No captulo 04 esto expostas as anlises referentes aos exemplares classificados
na categoria denominada de Esqueleto, constando de anlises gerais e anlise especfica;
Ao termino do captulo 04, sero expostas as consideraes finais e, em seguida,
as referencias bibliogrficas e documentais. Por fim, tem-se o Apndice 1 Texto de
referncia sobre os sistemas estruturais e as estruturas metlicas, elaborado com base na
pesquisa bibliogrfica e nas experincias observadas, que foi utilizado para subsidiar as
anlises dos projetos escolhidos; e o ndice de imagens e quadros vistos no trabalho.
Faz-se importante ressaltar que o metal, sobretudo o ao e o alumnio, torna-se
cada vez mais, um material construtivo importante no contexto da construo civil
brasileira, apesar de necessitar ainda de uma srie de fatores especiais como, por
exemplo, a mo de obra especializada ou os conhecimentos especficos demandados pela
nova tecnologia para que a sua utilizao seja bem sucedida.
Este trabalho cria uma fonte de dados a respeito das atuais prticas projetuais
com o material especfico, sinalizando a situao da obra arquitetnica realizada na cidade.
Espera-se que estes dados possibilitem o surgimento de ensaios crticos que induzam a
uma prtica reflexiva, favoream possveis investidas para a melhoria dessa produo e
possibilitem, em outra esfera, aes no sentido de incentivar a melhoria na formao de
pessoal qualificado nos setores acadmico e de servios.
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 15
Captulo 1 - Procedimentos metodolgicos
1.1. Definio do universo da pesquisa
1.1.1. Recorte temtico
Interesses despertados por estudos anteriores1 ligados a estruturas metlicas e a
arquitetura contempornea, especialmente em relao participao do metal2 nas obras
de arquitetura, geraram o interesse em pesquisar o tema na cidade de Joo Pessoa.
Atualmente essa produo pode ser encontrada em diversos pontos da cidade,
porm observa-se uma concentrao de edifcios deste tipo em reas comerciais e de
poder aquisitivo mais elevado, como os principais corredores virios e as reas prximas
faixa litornea: por exemplo, a Avenida Presidente Epitcio Pessoa, o trecho da BR-230
que corta a cidade, a Avenida Governador Renato Ribeiro Coutinho e a Avenida Edson
Ramalho. Em bairros perifricos e locais prximos ao centro da cidade tambm podem ser
encontrados, ainda que em menor nmero, alguns exemplares que foram trazidos para o
universo estudado. (ver MAPA 01: Mapa de localizao das obras que compem o
universo de anlise)
A observao emprica sinalizou que a utilizao do metal nas obras objeto da
pesquisa vo desde pequenos elementos restritos as fachadas, dissociados da proposta
arquitetnica e de carter mais decorativo at componentes mais abundantes e de maior
porte como as coberturas e elementos estruturais, de sustentao dos corpos das
edificaes. A destinao destes edifcios so em geral instituies pblicas e privadas, de
comrcio e servio.
Os postos revendedores de combustveis, apesar de sua utilidade e presena
obrigatria na cidade devido a sua funo, no integraram a pesquisa, porque no
apresentam um interesse contundente e diferenciado na cidade. Esse tipo de utilizao em
geral estrutural, com pilares e vigas de ao treliadas e associado a uma cobertura de
telhas de alumnio, que protege uma edcula em alvenaria solta da coberta e que abriga
servios administrativos, loja de convenincias, local para lavagem de automveis e outros
servios mecnicos. Eventualmente surgem platibandas em metal, com logotipos das
empresas distribuidoras, que encobrem a cobertura de alumnio.
1 Estudos j comentados na Introduo. 2 O termo metal utilizado nesta pesquisa refere-se s ligas metlicas de ao e alumnio, as mais freqentes nos exemplares arquitetnicos pesquisados.
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 16
O recorte temtico foi, portanto, resultado das buscas acima relatadas e da
exceo estabelecida. A amostra resultou significativa das destinaes mais freqentes do
metal na arquitetura contempornea de Joo Pessoa.
1.1.2. Amplitude e Escolha dos casos para anlise
A identificao das obras que pudessem compor o universo da pesquisa deu-se
atravs da observao, onde contaram decises como a forma de utilizao do metal, se
estrutural e/ou como recurso formal, as dimenses da obra, as suas peculiaridades como
objeto arquitetnico e o seu significado para a cidade. Inicialmente registrou-se um nmero
amplo de exemplares que atendiam aos pontos fixados para iniciar a pesquisa.
A observao atenta desses exemplares mostrou a incidncia de certos
elementos, estruturais, funcionais ou ornamentais, recorrentes de utilizao do material
estudado. Decidimos assim classific-los eliminando as repeties, respeitando certas
nuances especficas. Assim de um grupo de 97 exemplares chegamos a uma quantidade
de 40 obras que traduzem, de certa forma, o uso do metal em Joo Pessoa.
A coleta de informaes sobre essas obras contemplou: a) o registro fotogrfico
cujo objetivo era obter para cada obra, as imagens necessrias para identificar onde, como
e em que quantidade o metal se fazia presente; b) as informaes sobre a sua destinao
para identificar as atividades as quais a edificao atenderia; c) o registro grfico
plantas, cortes e perspectivas que alm dos dados de projeto, fornecem data de
construo, autoria do projeto e execuo dos elementos metlicos.
No caso das instituies pblicas escolhidas para anlise, os projetos foram
conseguidos nas prprias instituies ou rgos competentes, como no caso do Complexo
Judicirio Desembargador Marcos Antnio Souto Maior, cujo registro grfico foi conseguido
no Frum Civil de Joo Pessoa.
Tambm foram coletadas informaes atravs de artigos e reportagens obtidas em
jornais e revistas especializadas, como o caso do MAG Shopping, do Pronto Socorro de
Fraturas de Mangabeira e da Vitrine de Manara.
Algumas situaes dificultaram, e no raro, limitaram a coleta de informaes. Por
exemplo, os edifcios que estavam fechados por estar venda ou para alugar ou ento as
obras cujos donos no eram os construtores, mas ocupantes posteriores que
desconheciam a histria do imvel.
Para casos como estes, os caminhos percorridos para a obteno dessas
informaes foram: o setor de arquivo de projetos da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa
e o CREA-PB. No primeiro caso, para obter esses dados era necessrio: ou o nome do
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 17
autor da obra, ou o ano de construo ou o nmero do processo, o que, em alguns casos,
impossibilitou a pesquisa. No segundo caso, tornou-se mais facilitada a pesquisa porque
era apenas necessrio o endereo do imvel, entretanto algumas obras no constavam no
cadastro do CREA-PB.
Nem todas as obras possuam registros grficos oficiais (plantas, cortes, fachadas,
perspectivas, detalhes e especificaes). Nesses casos, foram realizados croquis e
esquemas de volumes, plantas, cortes e principalmente dos detalhes construtivos em
metal.
1.1.3. Recorte temporal
A delimitao do perodo a ser estudado foi feito inicialmente atravs de
observaes empricas, posteriormente confirmadas pelas informaes, principalmente
datas, coletadas sobre as obras. Constatamos que o incio da utilizao do metal na
arquitetura da cidade deu-se no incio da dcada de 1980, de forma pontual e materializada
nas construes do aeroporto Presidente Castro Pinto e do Espao Cultural Jos Lins do
Rego, ambos projetadas entre 1979 e 1980 e inauguradas em 1982, cuja significao para
a cidade j foi comentada na introduo dessa pesquisa.
A retomada dessa produo ocorreu no incio da dcada de 1990, com o edifcio
da concessionria Promac, representante Volkswagen, cujo projeto arquitetnico de
1976, mas que foi includa por ser uma ampla estrutura de trelia metlica espacial
inaugurada em 1990. A partir da surgem outras obras de porte mdio e grande,
significativas no contexto da cidade, como a Fundao de Assistncia ao Portador de
Deficincia (FUNAD) e o Banco do Nordeste, construdos em 1993. A intensificao dessa
produo observada a partir do ano 2000, com predominncia de edificaes destinadas
ao comrcio e ao servio.
As buscas iniciais demonstraram que as obras realizadas entre meados da dcada
de 1990 at aproximadamente 1996, apresentam uma utilizao mais abundante e mais
estrutural dos elementos arquitetnicos executados em metal - pilares, vigas, trelias
espaciais, pisos e marquises. A partir da, h uma profuso de elementos no estruturais:
revestimento de fachadas, marquises vazadas que no fornecem proteo solar nem
pluvial, entablamentos para a composio esttica de fachadas, falsos pilares adossados
ao corpo das edificaes ou envolvendo e encorpando pilares em concreto, entre outros.
De forma que at aproximadamente meados da dcada de 1990, a produo era mais
escassa e direcionada para uma utilizao mais estrutural, a partir do momento que essa
produo intensificada, de certa forma banaliza-se o emprego do metal na arquitetura,
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 18
surgindo uma srie de aplicaes mais superficiais e menos expressivas. Entretanto a
produo de carter mais estrutural ou que prope um emprego do metal mais associado
proposta esttica no cessa, proporcionando inclusive o aparecimento de novas
disposies estruturais.
O recorte temporal definido para esta pesquisa abarca o perodo que se inicia com
a intensificao dessa produo em 1990 e estende-se at o ano de 2002, incio dessa
dissertao.
O Quadro 1, na pgina seguinte, apresenta o total de obras escolhidas, divididas
por ano de construo, destinaes e quantidades. De acordo com esse quadro,
percebemos que o universo pesquisado composto de quatro Instituies Privadas, quatro
Instituies Pblicas e 32 estabelecimentos de Comrcio e Servios, dos quais doze so
destinadas exclusivamente ao comrcio. Na seqncia, apresentado no Mapa 01 com as
localizaes das obras arquitetnicas que compem o acervo da pesquisa. (pg. 20 e 21)
Resumindo, nosso objetivo o estudo da arquitetura que se utiliza do metal,
especialmente o ao e o alumnio, para a realizao de suas obras e nosso objeto de
pesquisa a produo arquitetnica em ao realizada na cidade de Joo Pessoa, entre os
anos de 1990-2002, destinadas a abrigar Instituies Pblicas e Privadas e atividades
comerciais e de servio. Definido o tema, construdo o objeto com suas delimitaes,
especificidades e amplitude e estabelecido o perodo a ser estudado, determinamos o
universo da pesquisa.
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 19
Quadro 1 - Ano de construo, destinaes e quantidades.
Destinao Ano de construo Instituies
Privadas InstituiesPblicas
Edifcios Comerciais e de Servios
N de Obras por ano
1990 1- Promac Automveis. 01 1991 1- FUNAD 01 1992 -
1993 1- Banco do Nordeste. 01
1994 1- Braz Motors.
2- Nissan. 3- Cavalcanti Primo
03
1995 1- Revenda de Veculos Via Norte
2- FIORI Fiat (antiga Autovesa). 3 antiga KIA automveis.
03
1996 1- Honda Motos. 01 1997 -
1998 1- Telemar. 2- Padaria Vitria 02
1999 -
2000
1- Parque Aqutico Pio X 2-Condomnio Unimed
1- 3D Som. 2- Stiluz. 3- Loja Verona 4- Cartrio C. Ulisses. 5- Lav. Bela Vista. 6- Bella Casa Recepes
08
2001 1- Hospital de Traumas 1- Moroni Bertoline 2- antiga academia Moby Dick. 03
2002
1- Complexo Judicirio.
1- O Amarelinho. 2- House & Design. 3- Zodaco. 4- Loja J. Carlos. 5- Sacolo Casa Tudo. 6- Vasp. 7- Honda Automveis. 8- Novo Mercado Tamba. 9- Pronto Socorro de Mangabeira. 10- Prodem.
11
2003 1- Anexo do Sistema Correio
1- CINEP. 1- Vitrine de Manara. 2- MAG Shopping. 3- Cleumy Design. 4- Ornato.
06
Totais 04 04 32 40 Obras
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 20
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 21
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 22
1.2. Fundamentao da Estratgia de Anlise
Tendo em vista nosso objetivo geral de analisar a arquitetura pessoense para
traar o perfil da produo que utiliza o metal como material construtivo, percebidas quando
da observao da obra realizada, no que tange aos elementos esttico-formais, estruturais
e funcionais, surgiu a necessidade de definir no que consiste o nosso objeto de trabalho.
Lemos (1980), seguindo a Costa (1980), define a arquitetura como uma
construo erguida com inteno plstica e fruto de realizao erudita, ou seja, feita por
arquitetos. No nosso caso, a definio de Lemos fica prejudicada pela questo da autoria.
O nosso universo de pesquisa, a produo arquitetnica que utiliza as ligas metlicas como
material construtivo em Joo Pessoa, por sua especificidade, no realizada
exclusivamente por arquitetos, mas tambm por engenheiros e tcnicos especializados,
que geralmente detm o conhecimento e a experincia com esse tipo de material. Desse
modo, a restrio de autoria projetiva para a escolha das obras, eliminaria uma quantidade
considervel de obras importantes, prejudicando a anlise.
Em relao inteno plstica, partimos do princpio de que toda obra busca, de
algum modo, a beleza, a harmonia e a qualidade da forma, mas tambm sabemos que
estes fatores no so mensurveis e o julgamento do gosto geralmente acaba em
apreciaes arbitrrias e subjetivas. Para Zevi:
Dizer, como hbito, que a arquitetura a edificao bela e a no arquitetura, a edificao feia no tem qualquer sentido esclarecedor, porque o belo e o feio so relativos e porque de qualquer maneira, seria necessrio dar antes uma definio analtica da edificao... (ZEVI, 1978: p. 24).
BOUDON (2000), da mesma maneira, entende que no o conceito de beleza
que diferencia a arquitetura da no arquitetura. Para ele, todo espao arquitetnico um
espao construdo, mas nem todo espao construdo arquitetnico. Entende que para
definir uma edificao como arquitetura, deve-se considerar uma variedade de fatores
como os materiais construtivos, o conforto ambiental, a solidez, funcionalidade, alm de
daqueles ligados ao significado e as relaes scio-culturais. Ou seja, acredita que devem
ser observados no apenas os fatores relacionados ao material construtivo em uma viso
tecnolgica da obra, mas tambm as questes relacionadas ao espao arquitetnico e o
uso do material, procurando perceber como essa relao rebate sobre a qualidade do
espao.
No nosso caso no se pretende um estudo extensivo que demandaria tempo e
outros direcionamentos de pesquisa (tais como medies de nveis de conforto trmico,
lumnico, de rudos, anlises APO), dessa maneira esse tipo de estudo, nesta pesquisa,
ser limitado a algumas consideraes mais facilmente percebidas e despertadas atravs
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 23
das nossas anlises embasadas na fundamentao direcionada para compreenso da obra
construda, exposta na sequncia.
Uma outra linha de definio tende a considerar arquitetura o projeto, a idia
geradora e o prprio processo de concepo3. A arquitetura potencial de Chupin (2003) e
a arquitetura de papel de Perez-Gomez (NESBITT, 1996) caminham nessa direo. No
obstante, a importncia da anlise do projeto e do processo criativo para o entendimento
de caractersticas arquitetnicas da obra, no nosso caso, as informaes desse tipo (sobre
o projeto e o processo criativo) so apenas coadjuvantes4, o nosso estudo est centrado
nas obras construdas, tendo como objetivo a avaliao do produto final.
Para fundamentar uma estratgia de anlise adequada ao nosso objeto de
pesquisa, estudamos alguns autores que se dedicam ao tema. Em uma anlise
arquitetnica existem os elementos mensurveis e estritamente tcnicos, como os
dimensionamentos e as solues estruturais, mas existem tambm aqueles de carter
subjetivo como os referentes linguagem e ao processo de criao e composio da obra
arquitetnica. A respeito desse carter subjetivo da anlise em arquitetura, Baker comenta
a "liberdade que cada pesquisador tem de direcionar seu estudo, desde que haja
coerncia de idias e argumentos pertinentes na base da interpretao:
Creio que a arquitetura tem um papel cultural exclusivo, que seu contedo prtico e simblico e sua relao com o contexto exigem muito do arquiteto e do analista. No obstante, a situao complicada por causa do carter intuitivo do processo de projetao, que nega o enfoque cientfico que se d na anlise do projeto. () Como uma modalidade da interpretao, preciso que a anlise seja subjetiva e, em certa medida, especulativa. O componente subjetivo to intuitivo como o prprio ato de projetar, ao qual pode ser comparado () A anlise arquitetnica compreende muitos gneros: cada analista dar uma nuance a sua interpretao (BAKER, 1991: XI-XII).
A pesquisa bibliogrfica5 a respeito de anlise arquitetnica sinalizou duas formas
de abordar esse universo, uma relacionada metodologia de projeto e outra em relao
teoria do projeto6, essa ltima subdividindo-se em estudos que abordam o processo de
criao e estudos que abordam o resultado desse processo.
3 Mies entendia que a essncia da arquitetura estava na idia, no pensamento, muito antes de transformar-se em desenho. Alberti defendia o processo de concepo como a fase mais importante da arquitetura. 4 Os registros relativos ao projeto serviro como fontes de informao a respeito da disposio dos ambientes, dos detalhes estruturais, das solues tcnicas e outros elementos que possam contribuir para o entendimento da obra. 5 MARTINEZ (2000); BOUDON (2000); MAHFUZ (1995); QUARONI (1987); BAKER (1991) e CHING (2002) compem a bibliografia do referencial terico dessa dissertao. 6 As questes relacionadas Teoria do projeto so bem menos exploradas pela bibliografia, especialmente no ambiente de pesquisa brasileiro. AMARAL (2005) constata que dos treze artigos que compem o livro Projetar: Desafios e Conquistas da Pesquisa e do Ensino de Projeto (LARA & MARQUES, 2003), nove dedicam-se ao estudo da metodologia de ensino do projeto de arquitetura, um versa sobre o mtodo de projetao e somente dois so sobre teoria do projeto.
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 24
Os estudos que fundamentam esta parte do trabalho referem-se metodologia no
processo de projetao e forneceram instrumentos importantes para a apreenso das
etapas, operaes e recursos utilizados pelo autor, que proporcionaram o entendimento de
que elementos esto sob o desgnio do autor.
MARTINEZ (2000) trata da concepo, do programa e do partido. Destaca a
diferena entre os elementos da arquitetura7 e os elementos da composio8 e analisa
como eles so articulados para formar a proposta arquitetnica. Em seus comentrios
sobre a composio na histria atenta para o fato de que o movimento moderno trouxe
para a arquitetura, enquanto disciplina, novas tcnicas e elementos (vigas e colunas de
ao, curtain-walls e maquinrios para circulao vertical e horizontal, ventilao, exausto e
iluminao), que acarretaram mudanas na composio arquitetnica atravs de
expressionismos tcnicos e construtivos. As questes apontadas por MARTINEZ, afetam
diretamente nosso objeto de anlise, no momento em que tais expressionismos e
elementos de composio so identificados ou como instrumentos que contribuem para a
melhoria da qualidade da edificao ou como solues cenogrficas.
Atravs das questes apontadas por MARTINEZ foram identificadas questes
pertinentes, tais como elementos de arquitetura e de composio da arquitetura, freqentes
e repetidos entre as obras do acervo, e que compem algumas das especificidades da
produo arquitetnica com o metal em Joo Pessoa. Essas questes so expostas na
etapa das anlises.
BOUDON (2000) tambm aborda questes relativas criao e concepo
arquitetnica e refora que todo espao arquitetnico analisvel, apesar de interessar-se
pelo Objeto Virtual como define o edifcio no projeto, antes da edificao realizar-se.
Esclarece a diferena entre estudos feitos a partir de casos concretos (para em seguida se
elaborar um conhecimento) e estudos feitos a partir de projetos ainda no construdos, e
que apesar de preferir o segundo mtodo, acredita em uma relao dialtica entre essas
duas correntes de pesquisa.
QUARONI (1987) aborda questes relativas metodologia do processo de
projetao em oito lies, inclusive em relao ao projeto que utiliza o ao em sua
construo. Consideramos pertinentes ao nosso estudo, suas consideraes acerca do
espao arquitetnico:
7... So coisas concretas, tm natureza definida, so encontrados nos livros dos tratadistas. Transladados para o campo da
arquitetura moderna so coisas verdadeiras: janelas que se compram, portas standard, artefatos. (MARTINEZ, 2000: 129)8 Elementos de composio so mais como conceitos: ambientes de certas propores, de dimenses relativamente definidas, porm sempre, por princpio, longe do grau de definio que tm naturalmente os Elementos de Arquitetura. (MARTINEZ, 2000: 129)
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 25
Volmenes, superficies, lneas y sus articulaciones plsticas y cromticas concurren juntas a crear, tanto en el interior como en el exterior del edificio, espacios cuja calidad depender tambin de la relacin dimensional con el hombre () Las superficies externas de un edificio constituyen un sistema de formas de envoltura que dividen los espacios interiores de los exteriores. Dividen e no separan, porque los espacios internos siempre intentaron establecer una comunicacin con los espacios exteriores y las posibilidades que ofrecen las tecnologas modernas son tales que permiten al mximo esta relacin y esta continuidad, a menos que particulares exigencias no obliguen a lo contrario, que por otra parte sigue siendo, en cualquier caso, el modo de establecer una relacin (QUARONI, 1987: 67)
QUARONI, de maneira similar a BOUDON (2002), alerta para a constatao dos
aspectos relacionados entre a integrao e comunicao entre os dois espaos, interior e
exterior, e a tecnologia. Como dito anteriormente, torna-se pertinente expor a questo das
perdas e ganhos de qualidade no espao arquitetnico, bem como tentar relaciona-los ao
uso do metal.
No que tange ao uso do ao, comenta a importncia da dimenso tcnica, ou
seja, afirma que somente com o pleno domnio da tcnica e dos materiais construtivos, por
parte dos autores, possvel dar qualidade ao espao arquitetnico ou alcanar a
essncia da arquitetura:
As pues la tcnica puede y debe dar, explotando ciertas propiedades de los materiales de construccin (propiedad de resistencia a las fuerzas de compresin, traccin, y de cortadura para durar en el tempo), una estructura resistente y de proteccin que tenga en si, constructiva y estticamente hablando, aquella claridad y aquella coherencia interna de que habla Alberti9;claridad e coherencia que, para que se trate de una estructura de naturaleza arquitectnica, debe responder: a) a la lgica del trabajo de cada un de los materiales; b) a la lgica del diseo de cada una de las piezas, visto en relacin al punto 1 e en relacin con la funcin resistente que deben desempear; c) a lgica de los espacios proyectados y en consecuencia a la lgica de las funciones; d) a la lgica de la idea e de la imagen que el proyectista desea para el edificio. (QUARONI, 1987: 67)
Complementa seu pensamento alegando que a obteno de uma obra
arquitetonicamente coerente se d atravs do conhecimento aprofundado dos sistemas
construtivos e de como empreg-los na obra, tomando-se o cuidado para no se restringir
unicamente a lgica tcnica ou adaptar-se servilmente a lgica dos custos.
No que se refere s ligas metlicas, especialmente ao ao, QUARONI frisa a
necessidade de dominar a tcnica para que sua utilizao resulte completa, ou seja, para
que as decises tcnicas sejam coerentes com as decises funcionais e estticas, alm de
9 QUARONI faz meno as observaes feitas por Alberti em sua obra De re aedeficatoria, que entre outros pontos fala da importncia da associao coerente do material e da estrutura, podendo-se observar tais preceitos no trecho que cita da obra de Alberti: El modo de realizar una construccin consiste en obtener de diversos materiales dispuestos en un cierto orden y conjugados con arte una estructura compacta y en los limites de lo posible- ntegra y unitaria. Se dir integro y unitario aquel conjunto que no contenga partes escindidas o separadas de las otras o fuera de su sitio, sino que em toda la extensin de sus lneas demuestre coherencia y necesidad. Por tanto es preciso averiguar, en la estructura, cuales son sus partes fundamentales, cul su ordenamiento y cuales las lneas de que se componen.
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 26
vencer os desafios impostos pelo risco de incndio e desgaste climtico. Tais cuidados
deveriam ser redobrados quando se tratasse de estruturas aparentes, que quando so
mais visveis essas caractersticas e exigncias de coerncia e leveza, tipicamente
associadas ao material.
Em relao qualidade da arquitetura, QUARONI aponta a necessidade de se
integrar as trs componentes vitruvianas, do uso, da tecnologia e do equilbrio esttico,
para se obter um projeto coerente. Mais adiante iremos perceber que muitas das
questes levantadas em relao produo na cidade de Joo Pessoa, so provenientes
do domnio da tcnica (emprego do metal) e das dissociaes feitas entre as trs
componentes vitruvianas, ou seja, existem tanto problemas de concepo e criao, quanto
deficincias na utilizao do material construtivo.
Aps essa exposio acerca das anlises dos processos de projetao, sero
feitas algumas consideraes acerca de anlise de obra construda, objeto dessa pesquisa.
BAKER (1991) e CHING (2002) so as referncias em relao aos recursos e ferramentas
desse tipo de anlise:
BAKER (1991) trata da forma arquitetnica de forma abrangente, abordando
desde a disposio volumtrica at questes como os sistemas estruturais, os materiais
construtivos e a organizao de uma obra arquitetnica, passando pelos modelos de
circulao, pelos eixos ordenadores e funcionais, e pela imagem simblica do edifcio,
onde pesam os fatores culturais, tcnicos e econmicos.
Entretanto o alvo de anlise do autor so as obras primas da arquitetura moderna
que por sua excepcionalidade permitem amplas e profcuas especulaes analticas.
Trazendo seus apontamentos para nosso objeto, percebemos que muitos pontos no se
aplicam aos nossos exemplares. Mesmo assim as questes e os instrumentos por ele
propostos foram importantes na elaborao da estratgia de pesquisa adotada que ser
exposta mais adiante.
CHING (2002), por sua vez, tambm apresenta uma srie de questes, quase um
roteiro de pontos a serem observados em relao ao projeto. A trade vitruviana - solidez,
utilidade e beleza aparece aqui subdividida em vrios temas que percorrem caminhos
relativos forma, ao espao e a ordem. As abordagens relativas ao volume, proporo,
escala, circulao, e interdependncia entre forma e espao foram incorporadas a nossa
estratgia de anlise complementando os instrumentos tomados de BAKER (1991).
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 27
A trade vitruviana, em sua essncia, permanece um instrumento importante de
anlise da arquitetura e sua importncia e abrangncia sublinhada por praticamente
todos os autores estudados10:
Lhistorie des doctrines ou des theories d architecture est faite de valorisations, devalorisations et revalorisations sucessives de lune des trois composantes de la trinit vitruvienne qui a pour nom soliditas et figure ct de la voluptas et e la commoditas. Il en resulte des dfinitions changeantes de larquitecture (BOUDON, 2000: 08).
Assim os trs pontos bsicos dessa trade (Firmitas, Venustas e Utilitas ou solidez,
beleza e comodidade; ou estrutura, beleza e utilidade; ou ainda, tcnica, forma e funo)
conformaro a base das anlises propostas neste trabalho.
Para a identificao dos tipos estruturais, observados para os casos de uma
utilizao mais substancial do metal, foi utilizada a definio de ENGEL (1977) para os
diferentes tipos de sistemas estruturais. Atravs de estudo prvio de suas categorias, foram
identificadas dentro do acervo da pesquisa, duas categorias observadas abaixo:
1. Sistemas Estruturais de Forma-Ativa - So identificados pelo uso do cabo de
suspenso vertical, que transmite a carga diretamente a esse ponto, pelo tracionamento e
pela coluna vertical ou pela sua transformao em arco, que em direo reversa, transfere
a carga diretamente ao ponto da base, mediante compresso. Ambos transmitem cargas
somente atravs de esforos normais simples: trao e compresso.
So estruturas flexveis, suportadas por extremidades fixas que sustentam o seu
peso prprio e so capazes de cobrir um vo. Esses sistemas no podem submeter-se a
uma forma arquitetnica arbitrria, ela resultado do mecanismo sustentador. ENGEL
afirma ainda que so sistemas econmicos e convenientes para alcanar grandes vos e
configurar amplos espaos.
So considerados tambm Sistemas Estruturais de Forma-Ativa as redes de cabos
e as membranas ou cpulas, nas quais as cargas dispersas em mais de um eixo so
transmitidas de forma linear por no possurem mecanismo de esforo cortante. Outros
exemplos, alm dos cabos e das membranas so as tendas e os arcos.
2. Sistemas Estruturais de Vetor-Ativo - So identificados por peas lineares de
seo reduzida em relao ao seu comprimento (barras) e que transmitem somente
esforos no sentido do comprimento: tenses normais de trao e compresso. Esses
sistemas so compostos por peas curtas, slidas e retas que so dispostas
triangularmente formando uma composio estvel e completa em si mesma que, se
apropriadamente apoiada, capaz de receber cargas assimtricas e variveis transferindo-
10 JENCKS (1975), MAHFUZ (1995), MARTINEZ (2000), BOUDON (2000).
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 28
as aos extremos. So compostos por ns articulados que podem dirigir as foras e
transmitir as cargas por grandes distncias sem suportes intermedirios. So assim
denominados, pois as foras externas so divididas em vrias direes por duas ou mais
peas e mantidas em equilbrio por contra-foras apropriadas: os vetores. um sistema
que por seu alto desempenho estrutural, por sua expressividade plstica e pela
possibilidade de expanso nas trs dimenses bastante utilizado para a cobertura de
grandes vos. Fazem parte deste tipo, os sistemas: de planos triangulares, de rguas
planas, curvos triangulados, de rguas curvas e reticulados espaciais.
A partir da classificao de ENGEL foi possvel observar as preferncias
estruturais utilizadas na arquitetura paraibana, o grau de complexidade de suas estruturas
e de inovao dos seus arranjos estruturais e as partes da edificao que mais empregam
esses recursos. Os pargrafos acima expressos configuram-se em rpido resumo, pois se
pretendeu evitar uma demorada leitura em torno de um material estritamente tcnico e
desviando o foco das atenes das idias centrais dessa pesquisa. O estudo mais
aprofundado, detalhado e ilustrado sobre as categorias de ENGEL (1977) dos sistemas
estruturais est no Apndice.
Como comentado no item anterior, a trade vitruviana, em sua generalidade,
organiza os elementos e instrumentos de anlise tambm desta pesquisa, que pode
classificar o uso das ligas metlicas nas edificaes em trs grupos:
1. O uso do metal na estrutura que envolve a tanto a tcnica quanto os materiais
construtivos e diz respeito solidez e a estabilidade da edificao. No nosso caso, esse
uso pode ter trs alternativas, o metal pode ser usado:
Na estrutura de suporte da edificao
Na estrutura de suporte da cobertura
Em partes independentes da edificao
2. O uso do metal em elementos construtivos que atendem a aspectos funcionais
do edifcio que envolve destinao, programa, circulao e a organizao espacial, que
pode atender a funes de ordem prtica ou culturais e ideolgicas. No caso, esse uso
pode atender casos de:
Circulao
Elementos de proteo climtica
Lajes e mezaninos
3. O uso do metal para atender a aspectos esttico-formais que visam alcanar
aspiraes individuais ou de um grupo que deseja demonstrar certa qualidade ou divulgar
determinado produto, um terreno movedio, onde a habilidade do designer pode fazer
flutuar ou naufragar um projeto. No caso, esse uso pode ter como objetivo atender a:
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 29
Demonstraes de contemporaneidade
Apelos comerciais
Experincias a respeito das possibilidades da linguagem do material
Para que essas questes acima apontadas sejam expostas de maneira mais clara,
tomamos por modelo a forma de expor de CHING (2002) e BAKER (1991), que utilizam
desenhos como texto, como aliados para esclarecer observaes especficas, uma vez que
tal forma de exposio proporciona uma compreenso dinmica do elemento analisado.
BAKER declara que esse recurso de pensamento diagramtico uma ferramenta bsica
tanto para analistas quanto para projetistas:
Os diagramas: so seletivos, buscam a clareza e a comunicao, revelam a essncia, costumam ser elementares, isolam os temas para captar a complexidade, explicitam a articulao geomtrica, podem medir a energia do lugar e do conceito, concedem uma margem de liberta de artstica, podem possuir vitalidade prpria, podem explicar melhor a forma e o espao que as palavras e as fotografias. (BAKER, 1991:66).
1.3. Estratgia de Anlise Adotada
Feitas as consideraes necessrias para fundamentar a estratgia de anlise,
retomamos as 40 obras escolhidas para anlise e resolvemos classific-las em grupos,
levando em considerao as caractersticas dos elementos recorrentes e mais evidentes
nas obras observados. Foram utilizados no agrupamento os seguintes trs pontos
classificatrios:
1) Cobertura (no que denominamos Cabea).
2) Corpo da edificao (no que denominamos Corpo).
3) Estrutura de suporte da edificao (no que denominamos Esqueleto).
A partir dessa diviso inicial, que a princpio geraria trs grandes grupos, outros
pontos de semelhana derivados dos primeiros foram observados, gerando mais divises.
- Classificao - Cabea: Forma de disposio dos elementos metlicos que
participam da conformao da coberta.
Exemplo: Estruturas ocultas, e usando a classificao de ENGEL (1977):
Estruturas de Vetor Ativo, sendo Planas ou Espaciais e/ou Estruturas de Forma Ativa.
- Classificao - Corpo: Forma de disposio dos elementos metlicos no corpo.
Exemplo: Metal usado como revestimento, ou volumes arquitetnicos criados com
o material etc.
- Classificao - Esqueleto: Elementos metlicos que participam no suporte da
edificao como um todo ou em grande parcela desta.
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 30
Exemplo: pilares, vigas e lajes em ao.
Depois de vrios estudos, anlises e tentativas de classificao das quarenta
obras escolhidas, baseando-se nos trs pontos acima listados, chegamos aos sete grupos
listados abaixo:
Grupo 01 (Classificao Corpo) elementos metlicos no estruturais e
decorativos no corpo da edificao apostos a fachada: Cinep, Condomnio Unimed,
Amarelinho, Academia de Ginstica Moby Dick, 3D Som, House & Design, Complexo
Judicirio Desembargador Marcos Souto.
Grupo 02 - (Classificao Corpo) elementos metlicos no estruturais no corpo
da edificao de funo mista (revestimento e decorao): Vasp, Cartrio Carlos Ulisses,
Consultoria Prodem e Dancing Bar Zodaco.
Grupo 03 (Classificao Cabea) elementos metlicos na cobertura (cabea) de
arranjos estruturais planos11, que geram formas de cobertas movimentadas, curvas ou
retilneas: Mveis J. Carlos, Pronto Socorro de Fraturas de Mangabeira, Anexo do Sistema
Correio, Lavanderia Bela Vista, Parque Aqutico Irmo Jlio no Colgio Pio X, Loja Stiluz,
Loja Moroni-Bertolini e Telemar.
Grupo 04 - (Classificao Cabea) elementos metlicos estruturais ocultos na
cobertura (cabea): Loja de Automveis Braz Motors, Fiori (antiga Autovesa), Kia
Automveis, Sacolo Casa Tudo, Vitrine de Manara.
Grupo 05 - (Classificao Cabea) elementos metlicos estruturais aparentes na
cobertura (cabea): Loja de Automveis Honda, Loja de Automveis Cavalcante Primo,
Casa de Recepes Bella Casa, Revendedora de Veculos Via Norte, Mercado Hort/Frut de
Tamba e Loja de Tecidos Verona.
Grupo 06 - (Classificao Cabea) elementos metlicos em arranjos estruturais
espaciais na cobertura (cabea): Banco do Nordeste, Hospital de Traumas Senador
Humberto Lucena, Fundao FUNAD, Padaria Vitria, Loja de Motos Honda e Loja de
Automveis Promac.
Grupo 07 - (Classificao Esqueleto) elementos metlicos na soluo estrutural da
edificao como um todo (esqueleto): MAG Shopping, Loja Cleumy Desing, Loja de
Automveis NISSAN e Loja de Mveis Ornato.
Definidos os sete grupos que renem casos similares decidimos realizar a anlise
em duas etapas: a) em uma primeira etapa trataremos das caractersticas de cada grupo
11 Havia um grupo similar a este que foi eliminado porque no acrescentava muita informao no computo total
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 31
em uma exposio mais geral; b) em uma segunda etapa procederemos a uma anlise
mais aprofundada da obra considerada a mais representativa de cada grupo que ser
apreciada e ilustrada em seus detalhes e especificidades.
As obras escolhidas para esta segunda etapa foram: 1. Complexo Judicirio
Marcos Antnio Souto Maior; 2. Cartrio Carlos Ulisses; 3. Pronto Socorro de Fraturas de
Mangabeira; 4. Braz Motors Automveis; 5. Automveis Honda; 6. FUNAD; 7. Loja de
Automveis NISSAN.
A classificao baseou-se nos tipos construtivos12 existentes na cidade, nos
elementos arquitetnicos13 e nos elementos de composio14. O quadro 2, na pgina
seguinte, apresenta as 40 obras agrupadas nos 07 grupos e os respectivos autores e anos
de construo:
12 Apesar de complexo e polmico, o conceito de tipo adotado o de ARGAN (apud STRETER, 2001) que expe de forma pragmtica que agrupamentos podem ser feitos por tipos funcionais, estruturais, esquemas formais, formas ornamentais, entre outros, no tendo juzo de valor nem de definio histrica: O tipo se configura assim, como um esquema deduzido mediante um processo de reduo de um conjunto de variantes a uma forma-base ou esquema comum. O tipo uma organizao do espao e de pr figurao da forma e em conseqncia de refere sempre a uma concepo histrica do espao e da forma, ainda que se admita que tais concepes mudem com o desenvolvimento histrico da cultura.13 ... So coisas concretas, tm natureza definida, so encontrados nos livros dos tratadistas. Transladados para o campo da arquitetura moderna so coisas verdadeiras: janelas que se compram, portas standard, artefatos. (MARTINEZ, 2000: 129) 14
Elementos de composio so mais como conceitos: ambientes de certas propores, de dimenses
relativamente definidas, porm sempre, por princpio, longe do grau de definio que tm naturalmente os Elementos de Arquitetura. (MARTINEZ, 2000: 129)
Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos
O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 32
Quadro 2 Classificao das 40 obras em 7 grupos
1.1. CINEP (2003) Projeto Geral: arquiteta Jussara Maria Cavalcanti de Arajo (PB). Projeto dos componentes metlicos: arquiteta Sandra Moura (PB). 1.2. UNIMED Condomnio Unimed Norte/ Nordeste (2000) Projeto: arquiteta Katharina Ayres de Moura Macedo. 1.3. Loja o Amerelinho (2002) Projeto: arquiteta Gorete Chaves (PE). 1.4. Antiga academia de Ginstica Moby Dick (2001) Projeto: (?) 1.5. Loja e Equipadora 3D Som (2000) Projeto: arquiteta ris Amorim. 1.6. Loja House & Design (2002) Projeto: arquiteta Betnia Tejo.
Grupo 0