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V ENCONTRO DA SPA A Pedra do Ingá foi o tema central do V Encontro da Sociedade Paraibana de Arqueologia, no último dia 05 de março, durante o XX Encontro da Nova Consciência. O monumento arqueológico que na mesma semana esteve coberto pelas águas do Rio Bacamarte, foi dissecado sob várias perspectivas. A mesa contou com o Prof. Pós-Doutor Juvandi de Souza Santos, Prof. Vanderley de Brito, Prof. Thomas Bruno Oliveira e o Pe. João Jorge Rietveld que discorreram sobre este patrimônio arqueológico que infelizmente passou por um longo processo de abandono nos últimos anos. Segundo Juvandi: “não há uma política de integração turística que englobe a Pedra do Ingá com o mínimo de infra-estrutura”. Para Vanderley: "é melhor que este testemunho fique intacto, temo que possamos ter ainda mais vandalismos caso ela seja explorada turisticamente, melhor ficar lá, do jeito que está." A novidade do Encontro ficou por conta do Historiador Prof. Thomas Bruno, que trouxe um estudo sobre outras inscrições existentes no pedregal do Ingá, inclusive afirmando que: "há na Pedra do Ingá uma série de inscrições que só são visíveis à noite. Denominamos estas de Mesa do V Encontro da SPA

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A Pedra do Ingá foi o tema central do V Encontro da Sociedade Paraibana de Arqueologia, no último dia 05 de março, durante o XX Encontro da Nova Consciência. O monumento arqueológico que na mesma semana esteve coberto pelas águas do Rio Bacamarte, foi dissecado sob várias perspectivas.

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V ENCONTRO DA SPA

A Pedra do Ingá foi o tema central do V Encontro da Sociedade Paraibana de Arqueologia, no último dia 05 de março, durante o XX Encontro da Nova Consciência. O monumento arqueológico que na mesma semana esteve coberto pelas águas do Rio Bacamarte, foi dissecado sob várias perspectivas.

A mesa contou com o Prof. Pós-Doutor Juvandi de Souza Santos, Prof. Vanderley de Brito, Prof. Thomas Bruno Oliveira e o Pe. João Jorge Rietveld que discorreram sobre este patrimônio arqueológico que infelizmente passou por um longo processo de abandono nos últimos anos. Segundo Juvandi: “não há uma política de integração turística que englobe a Pedra do Ingá com o mínimo de infra-estrutura”. Para Vanderley: "é melhor que este testemunho fique intacto, temo que possamos ter ainda mais vandalismos caso ela seja explorada turisticamente, melhor ficar lá, do jeito que está."

A novidade do Encontro ficou por conta do Historiador Prof. Thomas Bruno, que trouxe um estudo sobre outras inscrições existentes no pedregal do Ingá, inclusive afirmando que: "há na Pedra do Ingá uma série de inscrições que só são visíveis à noite. Denominamos estas de

Mesa do V Encontro da SPA

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„inscrições noturnas‟ que são gravuras rupestres que só podem ser vistas através de iluminação artificial (lanterna ou tocha). Esta particularidade seria intencional dos executores das gravuras?”. Este é um estudo original, uma novidade que poderá trazer novas reflexões para os estudos das inscrições rupestres.

No V Encontro da SPA, houve também a transmissão de cargo da responsabilidade pela guarda da Presidência da SPA, do

sócio professor Vanderley de Brito ao seu substituto, o consócio Prof. Thomas Bruno Pereira de Oliveira (conforme eleição realizada entre os dias 24 e 30 do mês de novembro do ano passado, que elegeu o supracitado sócio para presidente e o Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos para exercer o cargo de vice-presidente da entidade).

A cerimônia de posse foi realizada com o ritual de Passagem do Maracá da SPA, entrega dos diplomas aos empossados, lavro da ata e discursos de aceitação do cargo, onde os empossados declararam sua vontade de tomar posse, prestando o compromisso de exercer com probidade e cumprir, fielmente, todos os deveres que lhes foram atribuídos, os quais exercerão a partir desta data, assumindo, dessa forma, todos os encargos do mandato de que se investem, velando pela defesa dos sítios arqueológicos da Paraíba, bem como pelo meio ambiente e desenvolvimento científico da arqueologia regional.

A PEDRA DO INGÁ SUBMERGE NOVAMENTE NO INVERNO

No dia 02 de março, o consócio Historiador Vanderley de Brito foi até a Pedra do Ingá para ver os possíveis estragos que este monumento tenha sofrido devido a forte chuva que assolou a região no período noturno do dia anterior. Ao chegar, Vanderley presenciou uma paisagem desoladora. O rio ainda estava revolto e um filete de água, que excedia a capacidade de fluência do Bacamarte, passava defronte do painel vertical, mudas de plantas foram arrancadas, as águas, em barrentas corredeiras, se chocavam violentamente contra as pedras do riacho, galhos de matos estavam emaranhados nos obstáculos e a grade de proteção, que limitava o acesso dos visitantes à Pedra, foi arrancada e levada pela força dos enxurros.

No local, o consócio Dennis Mota informou ter estado na pedra na noite anterior e testemunhou o monumento lítico totalmente submerso nas águas, com o alargamento do riacho em aproximadamente 15 metros. As marcas do dia seguinte denunciavam com clareza que o Bacamarte chegou perto da rampa de acesso ao prédio de apoio e, de acordo com esta situação, a topografia local denuncia que, de fato, a Pedra do Ingá submergiu nas aluviões. Felizmente, nenhum dano aparente foi verificado nos painéis da Pedra do Ingá.

A última vez que se registrou fenômeno semelhante no Bacamarte foi no inverno do ano de 2004. Ocasião que foi registrada em fotos e filmagem pelo então prefeito local Antônio de Miranda Burity, cujos documentos hoje servem de referência para se conhecer a voracidade deste riacho nos primeiros meses dos periódicos invernos na região.

A Pedra do Ingá depois de submersa

Passagem do Maracá - SPA

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Na oportunidade da visita de Vanderley e Dennis, se encontrava também na Pedra do Ingá uma equipe gravando cenas da Pedra e recolhendo depoimentos para o documentário Lithium, que trata da liberdade na América Latina, dirigido por Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira. O longa Lithium, segundo informações dos diretores, estreará ainda esse ano nas salas de cinema e em 2012 será exibido na TV Brasil.

LIVRO ‘A PEDRA DO INGÁ: itacoatiaras na Paraíba’ terá 4ª edição

No dia 09 de março, o Historiador Vanderley de Brito deixou na gráfica o protótipo da quarta edição do livro “A Pedra do Ingá: itacoatiaras na Paraíba”. A nova versão deste livro, que vem sendo um sucesso de vendas no gênero, traz alguns novos capítulos com os resultados das mais recentes pesquisas do historiador neste célebre “documento lítico” da Paraíba. Um dos quais, trata da descoberta deste pesquisador de possíveis rastros de animais da fauna sul-americana representados entre os sinais ao longo do painel vertical da Pedra do Ingá. Fator que, caso comprovado, reforça ainda mais a teoria nativa destas inscrições milenares.

Uma 4ª edição de um livro cujo tema é a arqueologia regional é muito comemorada pela SPA e pela comunidade acadêmica, fato inédito no estado da Paraíba. A nova edição, cuja capa segue de antemão, contará com 152 páginas e deverá ser lançada em Campina Grande em data a ser definida.

A Pedra do Ingá depois de submersa

A Pedra do Ingá no dia seguinte a grande chuva - SPA

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Carlos Azevedo foi submetido a intervenção cirúrgica

O Antropólogo Carlos Alberto Azevedo vinha sentindo ultimamente sintomas semelhantes a depressão e dificuldades de coordenação motora. Já havia procurado auxílio médico e estava tomando medicamentos. Porém, no dia 12 de março os sintomas se agravaram e Carlos foi até o Hospital da Unimed, em João Pessoa, e um exame de tomografia computadorizada acusou que Carlos já havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral e na ocasião estava sofrendo um segundo. Com a gravidade do caso, Carlos ficou internado e na manhã seguinte foi submetido a uma intervenção cirúrgica cerebral. Nosso consócio ficou na UTI depois da operação e só teve alta hospitalar no dia 18 de março e no dia 28 tirou os pontos. Toda a comunidade arqueológica e intelectual da Paraíba ficou apreensiva e solidária e, no dia 29 de março, o presidente da SPA Prof. Thomas Bruno Oliveira e o consócio Vanderley de Brito saíram de Campina Grande com destino à capital do Estado para uma visita ao consócio Carlos Azevedo em sua residência no bairro de Tambaú. Chegando a João Pessoa, o sócio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Adauto Ramos, se uniu à equipe da SPA para a visita. Felizmente, Carlos Azevedo, apesar de uma grande cicatriz na cabeça, está se recuperando muito bem da cirurgia e, aparentemente, não ficou com nenhuma seqüela. Muito bem humorado e com o raciocínio em excelente forma, Carlos conversou com os solidários amigos por horas sobre assuntos diversos e, claro, a arqueologia foi o principal assunto em pauta, nesta visita que durou a tarde inteira e ainda avançou pelas primeiras horas da noite. Na oportunidade, Carlos doou o livro de seu filho para a Biblioteca da SPA: AZEVEDO FILHO, Carlos. A voz da infância: e outras vozes. Campina Grande: Latus, 2010.

Visita ao IPHAN

No dia 29 de março, o novo presidente da SPA, Prof. Thomas Bruno Oliveira, acompanhado do Prof. Vanderley de Brito, esteve em João Pessoa onde visitaram o 20ºSR IPHAN, sendo recebidos pelo Chefe da Divisão Técnica Sr. Kléber Sousa. O objetivo da visita foi, devido a recente mudança administrativa da SPA, reafirmar os laços de parceria que vigoram entre a SPA e o IPHAN desde 2006. Na oportunidade, a Biblioteca da SPA recebeu como doação a publicação: IPHAN, Patrimônio Arqueológico: Paraíba. João Pessoa: IPHAN, 2010.

Encontro com Carlos em João Pessoa - SPA

Thomas e Kleber no IPHAN

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resenha _____________________________________________

GOMES, Luiz Carlos. O primeiro registro das pinturas rupestres de Serra Branca. In: Boletim Informativo da SPA. Ano V. no 51. C. Grande: SPA, 2010.

Por: Vanderley de Brito*

Sendo um dos membros do Conselho Editorial do Boletim da SPA, não pude deixar de ler de antemão o artigo “O primeiro registro das pinturas rupestres de Serra Branca” de nosso amigo e consócio Luis Carlos Gomes. Escrito de forma simpática e envolvente, ele narra a sua visita, no ano de 1976, às pinturas rupestres de Vieirópolis, registradas pelo saudoso arqueólogo Francisco Paccelli como sítio Serra Branca I.

O texto é muito interessante porque, além de refletir fatos muito comuns do cotidiano de quem vive à cata de dados arqueológicos, nos traz informações históricas da arqueologia paraibana. Por exemplo, o odontólogo paraibano radicado em São Paulo que lhe aconselhou registrar o achado no IPHAEP, sem dúvidas foi o nosso amigo e consócio Francisco Faria, que posteriormente publicaria o livro “Os astrônomos pré-históricos de Ingá” (1986). Já o seu conterrâneo que à época trabalhava num ministério em Brasília, e em visita ao sertão fez as fotografias slides e lhe teria doado, sem dúvidas foi o nosso também amigo e também consócio Gilvan de Brito, que também, posteriormente, ganhou notoriedade no meio arqueológico com o livro “Viagem ao desconhecido: os segredos da Pedra do Ingá” (1988).

Já a Mali Trevas, que lhe teria levado emprestado os slides e não mais devolvido (fato corriqueiro para todos que negligenciam a regra de não emprestar livros ou materiais originais), também confirmam o fato histórico de que esta pesquisadora, em fins da década de 90, acompanhou o jornalista Pablo Villarrúbia até o Vale dos Dinossauros, a serviço da PBTur, para suas investigações ufológicas na Paraíba.

No mesmo dia em que li o texto de Luiz Carlos, fui imediatamente à casa de Mali para lhe questionar sobre estes slides, se, por ventura, ainda estariam em seu poder. Mas a mesma me informou que sua atividade em Souza foi à última que fez antes de abandonar a arqueologia por quase uma década. E que todo o material que dispunha foi esquecido, em desuso numa caixa, e, nas constantes mudanças de endereço ao longo dos anos, desapareceram sem que ela se desse por conta. Fato lamentável, pois certamente muita coisa de valor documental de nossa arqueologia deve ter perecido sem receber o devido processamento.

Contudo, o que eu quero frisar nesta minha meia resenha é a importância da publicação no nosso Boletim destes textos memorativos dos agentes da arqueologia paraibana, onde informações valorosas que jaziam no ineditismo, embora singelas como estas trazidas pelo amigo e consócio Luis Carlos, venham a público para tornarem-se fonte histórica e ajudar a elucidar a marcha da arqueologia em terras paraibanas.

* Historiador, sócio da SPA.

Doações para a Biblioteca da SPA

Em João Pessoa, a SPA recebeu como doação para sua Biblioteca as Revistas do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano - IHGP nº: 30, 31, 32, 33, 34, 35,36,37,38,39 e 40, doadas pelo escritor Adauto Ramos em nome do IHGP. O escritor também doou uma de suas últimas publicações: RAMOS, Adauto. Os "França Ramos" de Cruz do Espírito Santo. João Pessoa: Sal da Terra, 2010.

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Expedição à São Sebastião de Lagoa de Roça-PB

No último dia 30 de março, uma equipe composta pelo arqueólogo Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos e o acadêmico em Geografia Dennis Mota Oliveira foi recebida em São Sebastião de Lagoa de Roça pela Historiadora Rosinilda Porto. O objetivo da expedição foi verificar a existência de vestígios indígenas na zona rural do município, a partir de informações da Historiadora. A equipe se dirigiu para o sítio Furnas, às margens do rio Mamanguape, e encontrou vários fragmentos cerâmicos. Foi prospectado aproximadamente 250m2 nas duas margens do rio e, segundo informações preliminares, o lugar pode abrigar um sítio acampamento. “A área é tomada pela agricultura e certamente, pelo menos 20cm de solo foi revolvido. Uma intervenção arqueológica seria necessário para dar-nos maiores informações acerca da potencialidade arqueológica desta região que possuía uma relativa densidade de grupos indígenas Cariri” afirmou o Prof. Juvandi.

Expedição IPHAN/SPA à Itacoatiara dos Macacos

Dia 24 de março, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) enviou a Campina Grande o técnico Luciano de Souza e Silva para realizar a vistoria técnica no sítio arqueológico Itacoatiara dos Macacos, no município de Queimadas, com objetivo de apurar a denúncia da SPA referente a depredação antrópica cometida contra painel de gravuras rupestres deste sítio.

A SPA designou o historiador Vanderley de Brito para acompanhar e guiar a diligência até o sítio depredado, que se encontra a 11 quilômetros a sudeste da sede municipal de Queimadas. A equipe de campo, depois de verificar o sítio e fazer os registros da depredação sofrida, se encaminhou até a sede da fazenda mais próxima para tentar obter informações junto a comunidade local sobre quem poderia ter sido o autor da subtração de parte do painel, que configura crime contra o patrimônio.

Segundo o técnico do IPHAN não há dúvidas de que a subtração verificada em parte do painel rupestre se trate de uma ação criminosa e premeditada. Contudo, vamos aguardar o laudo oficial do órgão e as subseqüentes providências que, certamente, serão adotadas.

Fragmentos de cerâmica e equipe nas mrgens do Mamanguape

Equipe na Itacoatiara dos Macacos, Queimadas-PB

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IPHAN quer modernizar políticas de tombamento

De tudo o que está sendo construído atualmente, o que será preservado daqui a 50 anos? “Está na hora de os brasileiros se fazerem esta pergunta”, afirma o arquiteto mineiro Luiz Fernando de Almeida, de 48 anos,

presidente do Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional (Iphan) desde 2006. O órgão tem a responsabilidade de proteger, preservar e divulgar os principais cartões-postais do país: Ouro Preto e Congonhas (MG), Corcovado (RJ), Pelourinho (BA) e a arquitetura de Brasília, por exemplo – acervo que orgulha os brasileiros. Tarefa nada simples, sujeita a polêmicas, poucos recursos e cobranças. Como o tombamento é política da década de 1930, explica Luiz Fernando de Almeida, há bens apropriados pela sociedade que já são parte do imaginário do brasileiro e desfrutam de grande legitimidade junto à população. Ouro Preto é exemplo disso. “Qualquer coisa que ocorre lá, todo mundo – e não só o Iphan – protesta”, observa. Por outro lado, há bens alvo de discórdia. “O tombamento do encontro das águas dos rios Solimões e Negro, em Manaus, patrimônio paisagístico, foi bastante polêmico. Como havia a intenção de construir um porto no local, o processo gerou embate entre os valores simbólico e econômico”, conta. O presidente do Iphan avisa: patrimônio é conceito de valor, está ligado à qualidade de vida. “Pode-se, com políticas patrimoniais, intervir no processo de desqualificação das cidades, o que significa desarticulação da vida urbana, ausência de espaços públicos que congreguem as pessoas”, acrescenta. Reverter isso se dá, primeiramente, como exemplo. Ou seja, mostrando que cidades do período colonial têm qualidade de vida, observa Luiz Fernando. “Depois, a construção do patrimônio do futuro é tema colocado para toda política pública. Se temos de erguer uma ponte, por que ela não pode ter qualidade arquitetônica?”, questiona.

IDENTIDADE O especialista lembra que o conceito de patrimônio surgiu na virada do século 19 para o 20, na Europa, regido pelo tema da identidade nacional, procurando proteger a excepcionalidade do artístico ou de bens alusivos a fatos históricos. “Atualmente, o processo está ligado a indicadores de qualidade de vida das comunidades, não se volta apenas para a história e o passado. Patrimônio cultural deixou de se ater às exceções para se tornar política pública”, pondera. “Toda comunidade tem seu patrimônio, ele agrega uma população e cria identidade coletiva compartilhada”. Esse conceito vem sendo ampliado. “É o modo como a sociedade produz e usufrui de bens culturais. Não é algo estático, mas dinâmico e vem se expandindo”, reforça Luiz Fernando de Almeida. Em análise no conselho do Iphan estão grandes inventários do conhecimento de caráter regional, caso das embarcações tradicionais do litoral brasileiro, da marcha empreendida pelo marechal Rondon ou da rede ferroviária brasileira. “Conhecemos pouco esses bens. As análises vão gerar propostas de proteção que darão origem a novos patrimônios e a novas referências para políticas patrimoniais de estados e municípios”, explica Na opinião de Luiz Fernando, a política de patrimônio cultural de Minas é bem consolidada. “Mas há desafios a serem enfrentados. É preciso ir um pouco além da onipresença do período colonial, do barroco e do rococó, compreender o patrimônio em dimensão mais ampla, de forma que incorpore todo o território do estado”, defende. Outro desafio: superar a setorialidade. “Patrimônio ambiental não pode ser só ambiental. Ele deve

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contribuir para o desenvolvimento urbano, industrial e econômico”. Um tema que conquista os holofotes, durante megaobras, são os sítios arqueológicos, lembra o presidente do Iphan. VERBA Defesa do patrimônio remete à consciência cidadã ou a verbas? “As duas coisas andam juntas. A legitimidade política constrói a legitimidade para se conseguir mais recursos”, responde Luiz Fernando. Ele não esconde um paradoxo: “Todos dizem que o patrimônio cultural é importante, mas, quando se deparam com os recursos disponíveis, notam que são pequenos diante do muito a ser feito”, conclui.

Por Walter Sebastião, do Estado de Minas

Audiência no MPF discute

situação da Pedra do Ingá

O Ministério Público Federal promoveu uma audiência em Campina Grande para discutir assuntos referentes à Pedra do Ingá. Foi no último dia 29 e foram convocados a Prefeitura Municipal de Ingá, que esteve representada pela Secretária de Turismo Karla Rafaela O. Nascimento e pelo Advogado Dr. Alberto; o IPHAN, que esteve representado pelo Diretor Umbelino Peregrino de Carvalho; o IBAMA; a Promotora de Justiça do Ministério Público Estadual Dra. Cláudia Cabral Cavalcante; o Procurador José Moraes de Souto Filho representando o Governo do Estado e o Procurador da República Marcos Alexandre Queiroga. Ficou decidido que a Prefeitura de Ingá continua com o direito de gerir aquele patrimônio arqueológico. Alguns projetos específicos também foram discutidos, além da situação legal dos proprietários das terras que circundam o sítio arqueológico. Até o mês de agosto, um projeto orçado em 250 mil Reais deverá ser executado e segundo a Secretária de Turismo: “Há algumas novidades que não podemos divulgar para não atrapalhar a sua execução”, afirmou Rafaela.

Morre o músico Lula Côrtes, co-autor do disco Paêbirú

Em 26 de março, morreu o compositor Lula Côrtes, aos 61 anos, que juntamente com Zé Ramalho, em 1975, lançou o álbum Paêbirú, disco que trata sobre a Pedra do Ingá numa visão mística. No dia 30 de abril Lula iria a São Paulo prestigiar participar da estréia do documentário Nas Paredes da Pedra Encantada, dirigido por Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim, sobre o disco, que ocorrerá no festival In-Edit - Festival Internacional de Documentário Musical em São Paulo e no Rio de Janeiro. O documentário, que está em produção desde 2009, teve gravações na Pedra do Ingá com entrevistas da SPA cedidas pelo então presidente Vanderley de Brito, e será um road movie que viaja pelas lendas do mítico Paêbirú - Caminho da Montanha do Sol, baseado no disco lançado em 1975 por Lula Côrtes e Zé Ramalho.

Pedra do Ingá – Dennis Mota

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Projeto de Pesquisa em Ingá é aprovado pelo PROPESQ/UEPB

Atividades de Arqueologia e Educação Patrimonial na Paraíba: estudos da Tradição Rupestre Itacoatiara. Este é o nome do Projeto que foi aprovado, no dia 11 de março, pelo Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa – PROPESQ/UEPB, apresentado pelo Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos, professor titular do Campus III da UEPB em Guarabira e Vice-Presidente da SPA. O Projeto visa mapear regiões para a identificação de ocorrências arqueológicas em semelhança técnica e estilística com a Pedra do Ingá. A avaliação ficou por conta de um especialista na área, um consultor ad hoc, que teve os seguintes critérios como julgamento:

Ainda segundo o parecer: “a equipe está preparada para uma atividade de pesquisa desse tipo, envolvendo profissionais doutores e alunos, situação ideal para empreender uma atividade de mapeamento, já que nessas circunstâncias os alunos apreendem com maior facilidade os procedimentos metodológicos da Arqueologia. O Estado da Paraiba tem poucas pesquisas de arqueologia sobre arte rupestre e merece uma atenção especial por parte do órgão financiador estadual. Esta é uma excelente oportunidade para reverter esse quadro”. Assim, o Boletim Informativo da SPA estará divulgando a marcha dessas pesquisas, esperando que o referido projeto possa ser pleno em êxito.

CRITÉRIOS DE JULGAMENTO PONTOS (0 a 10)

Mérito, pertinência e viabilidade de execução da proposta 09

Originalidade científica e tecnológica da proposta 09

Coerência e adequação da metodologia 09

Competência do coordenador e da equipe do projeto e sua coerência e adequação aos objetivos e atividades propostos

10

Experiência da equipe do projeto quanto aos objetivos, atividades e metas propostos

10

Adequação do orçamento aos objetivos, atividades e metas propostos 10

TOTAL 57

Parte do painel principal da Pedra do Ingá - SPA

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artigo _____________________________________________

A cerâmica indígena Cariri dos Sertões da Paraíba

Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos* Prof. Thomas Bruno Oliveira**

A confecção da cerâmica é um forte indicador dos padrões culturais de uma sociedade, pois os artefatos cerâmicos visam suprir a necessidade de armazenamento e transporte de água e mantimentos, bem como para fins cerimoniais, funerários, lúdicos e de adorno (LUNA, 2003. p.69). Assim, o conhecimento tecnológico a partir da análise destes artefatos nos presta uma série de informações acerca da ancestralidade de grupos que viveram em uma determinada região, atestando suas práticas culturais (OLIVEIRA, 2007. p.28).

Neste artigo, abordamos a cerâmica que foi encontrada no interior do estado da Paraíba. Para tanto, consideramos como relevante a espacialidade dos indígenas no Estado defendida pelo etnólogo José Elias Barbosa Borges, pois escavações e coletas de superfície realizadas em regiões diferentes do Estado têm demonstrado a diversidade cultural indígena do Pré e Pós-contato. E mais, baseado em seus ditames, acreditamos existir neste território uma cultura cerâmica indígena Cariri.

A cultura cerâmica indígena Cariri, para nós, seria própria dos grupos indígenas falantes deste tronco linguístico. Sua disposição espacial no estado da Paraíba consiste em uma área que compreende o piemonte sul da Borborema, uma porção do Brejo (sertão do Bruxaxá) e toda a porção meio-sul do atual Cariri paraibano. Este grupo humano também habitou uma vasta região do alto sertão. Recentemente, iniciamos um processo de análise comparativa dos fragmentos de cerâmica encontrada nos Sertões da Paraíba e, em considerações preliminares, entendemos como características da cerâmica indígena Cariri, as seguintes:

1. Fina, entre 4 e 7 mm; 2. Elevado grau de acabamento; 3. Alisada interior e exteriormente; 4. Presença de engobo, com ou sem alça; 5. Predominância de tijelas e “pratos”; 6. Possui pouco aditivo; 7. Pode possuir decoração plástica; 8. Encontradas na espacialidade dos Cariri disposta por Borges (1993).

Figura 1 – Cartograma de José Elias Borges. (BORGES, 1993. p.38)

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A cerâmica indígena não é tosca, possui um fino acabamento, com tempero fino de pouco aditivo, o que demonstra terem os Cariri um elevado grau de conhecimento técnico da cadeia operatória do fabrico de utensílios de argila (SANTOS, 2011. p.180). Os vestígios pesquisados foram coletados em áreas compreendidas por Borges (1993) como sendo de ocupação de índios Cariri.

Nossa hipótese é reforçada pela datação de fragmentos cerâmicos encontrados em duas necrópoles em área Cariri (Furna dos Ossos, em São João do Cariri e Pinturas I, em São João do Tigre, ambas na Paraíba), com datações absolutas que compreendem o momento do contato até o período que esse grupo humano desapareceu da Paraíba, exterminados ou mesclado na população acaboclada interiorana. Assim, possuímos subsídios para atestarmos a existência de uma cultura cerâmica Cariri, que visa identificar a cultura material deste grupo indígena, estabelecendo uma fronteira cultural e um elemento de diferenciação de outros grupos indígenas que também habitaram os sertões da Paraíba. Apresentamos visualmente fragmentos da cultura cerâmica Cariri coletada no interior da Paraíba:

*Arqueólogo, Coordenador do LABAP/UEPB e Vice Pres. da

SPA. **Historiador, Presidente da SPA.

Referências

BORGES, José Elias. Índios Paraibanos: classificação preliminar. In: MELO, José Otávio de A.;RODRIGUES, Gonzaga (Orgs.) PARAÍBA: conquista, patrimônio e povo. 2.ed. João Pessoa: Grafset, 1993. LUNA, Suely. Sobre as origens da agricultura e da cerâmica pré-histórica no Brasil. In: Revista Clio Série Arqueológica, Nº16, Recife: UFPE, 2003. OLIVEIRA, Thomas Bruno. História dos artefatos cerâmicos pré-históricos encontrados na Paraíba. In: OLIVEIRA, Thomas Bruno et all. PRÉ-HISTÓRIA: estudos para a arqueologia da Paraíba. João Pessoa: JRC, 2007. SANTOS, Juvandi de Souza. Escavação arqueológica da necrópole sítio Pinturas I, na APA das Onças, em São João do Tigre: traços indeléveis dos indígenas Cariris nos sertões da Paraíba. João Pessoa: JRC, 2011.

Figura 2 - Cerâmica indígena Cariri. Procedência: sitio Itacoatiara do Ingá, Ingá – PB

Figura 3 - Material lítico e cerâmico coletado na BR-230 nas

proximidades da cidade de Riachão do Bacamarte

Figura 4 - Cerâmica indígena Cariri. Procedência: sítio acampamento Furnas, São Sebastião da Lagoa de Roça – PB

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Centro Sobralense de Pesquisa Ufológica

No dia 25 de março, o Centro Sobralense de Pesquisa Ufológica do Ceará promoveu uma plenária ufológica no município de Sobral.

O evento foi coordenado pelo presidente do CSPU Jacinto Pereira, e tratou de temas diversos, desde a liberação de supostos arquivos secretos das grandes potencias mundiais dos governos da Inglaterra, França, Estados Unidos sobre Ovnis, até questões sobre as grandes potências mundiais e seus projetos sobre o futuro do planeta.

Na reunião se fez presente o Professor Célio Cavalcante (sócio correspondente da SPA), que apresentou na plenária exposições sobre os sítios arqueológicos da região que possuem inscrições rupestres.

- Mapa de atuação da SPA em Março de 2011 -

Plenária em Sobral-CE

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