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O Corpo
Página 1
04.08.2013
ISSN: 2236-8221
Edição n. 35, de Agosto Vitória da Conquista, Bahia.
ocorpoediscurso@gmail.com http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm
O corpo é discurso
Nesta edição, O Corpo é Discurso apresenta o grupo de pesquisa LINSP - Linguagem,
Sociedade e Produção de Conhecimento. Além disso, o corpo traz um artigo escrito pela
Profª. Dr. Ivânia dos Santos Neves e pela Mestranda Vívian de Nazareth Santos Carvalho,
da Universidade Federal do Pará, um artigo escrito por Gesiel Prado, da Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara, e um artigo escrito pela Profª Dr. Leticia Tavares de
Faria e pelo Prof. Dr. Alexandre Ferreira da Costa, da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho e da Universidade Federal de Goiás. Ainda, o Corpo inaugura sua
seção de crônicas de terror trazendo uma crônica por Daniel Lemos, da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia. O Corpo é Discurso traz também Pocket Comix por Rena-
to Lima, da Escola de Belas Artes - UFRJ, a cobertura dos últimos encontros acontecidos
no Seminário “Foucault e o Cinema” e notícias ligadas ao universo acadêmico e da Análi-
se do Discurso, no Brasil.
ISSN: 2236-8221
EXPEDIENTE DE O CORPO
Editores
Nilton Milanez
George Lima
Organizador
Nilton Milanez
George Lima
Bianca Oliveira
Editoração eletrônica
(MARCA DE FANTASIA)
Henrique Magalhães
CONSELHO EDITORIAL
Dr. Elmo José dos Santos
(UFBA)
Dra. Flávia Zanutto (UEM)
Dra. Ivânia Neves
(UFPA)
Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB)
Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)
Dr. Nilton Milanez
(UESB)
Dra. Simone Hashiguti
(UFU))
Jornal de popularização científica
Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco
Criado em 2009, o LINSP configu-
ra-se como um grupo de natureza trans-
disciplinar, que estuda a linguagem e seu
funcionamento nos diversos espaços de
produção de conhecimento, esse entendido
como um modo de fazer cotidiano
(CERTEAU), tomando referenciais teóricos
do campo de estudos do texto e do discur-
so, bem como da história e da cultura. Está
vinculado ao Núcleo de Leitura Multimeios
e ao Núcleo de Estudos do Sertão, ambos
do Departamento de Letras e Artes, bem
como ao Programa de Pós-graduação em
Estudos Linguísticos (PPGEL) da UEFS.
O LINSP busca o entendimento da
natureza dialógica da linguagem (BAKHTIN)
na sociedade, em seus modos de produzir
conhecimento, em setores diversos, inclu-
indo aqueles distintos das instituições
formais de produção de conhecimento.
Contribui para o fortalecimento de linha de
pesquisa sobre práticas textuais/
discursivas, interface linguagem, cotidiano
e poder, numa perspectiva interdiscipli-
nar/interinstitucional na
UEFS, promovendo discus-
sões acerca da interface
entre estudos da linguagem,
sociedade, cultura e identi-
d ade /s u je i t o (HA LL/
FOUCAULT), com outros
grupos de pesquisa da UFBA (LINCE E
NELT) e UNEB.
Por fim, ressalta-se que o grupo
vem constituindo um banco de dados de
práticas textuais-discursivas, em sua
natureza multimodal/multissemiótica,
que favoreçam o estudo das relações
linguagem, sociedade e produção de co-
nhecimento. Também já realizou duas
edições do SELINSP (Seminário do LINSP),
seminário no qual tanto divulga as produ-
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Nome das linhas de pesquisa
Práticas textuais-discursivas na mídia
Práticas textuais-discursivas na escola
Práticas textuais-discursivas no cotidiano
ções de sues integrantes, como dialo-
ga com pesquisadores de outras ins-
tituições/grupos de estudo. O grupo
vem sendo divulgado nas redes soci-
ais, nos seguintes endereços:
Groups Yahoo:
https://br.groups.yahoo.com/neo/
groups/linspuefs/info
Facebook:
h t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m /
groups/159820727510023/
O grupo está organizando
sua primeira publicação em livro,
com artigos de vários integrantes,
bem como construindo sua página
oficial na internet.
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Carla Luzia Carneiro Borges é Doutora em Linguística
(UNICAMP), professora Adjunta da Universidade Estadual de Feira de
Santana, atua como docente e vice-coordenadora no Mestrado em Lin-
guagem e Sociedade da UEFS, lidera o LINSP, no Núcleo de Leitura Mul-
timeios, é coordenadora do Programa de Pós-graduação
(Especialização) em Estudos Linguísticos e Literários. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Clovis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira é Doutorado
em História (UNB), professor da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) , atua como colaborador do Mestrado em História da Universi-
dade Estadual de Feira de Santana. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Pesquisadores Titulação máxima
Carla Luzia Carneiro Borges Doutorado
Clovis Frederico Ramaiana Moraes Olivei-
ra
Doutorado
Graciely Cândido Macêdo Mestrado
Luciana de Araújo Pereira Mestrado
Luziane Amaral de Jesus Mestrado
Úrsula Cunha Anecleto Doutorado
Estudantes Nível de Treinamento
Adriana dos Reis
Agenilda França
Aretuza Pereira dos Santos
Mestranda
Mestranda
Mestranda
Flávia Rodrigues dos Santos Mestranda
Hudson José Soares da Silva Graduação
Mayane Amorim Mestranda
Matheus Santos Oliveira Mestrado
2º SELINSP – Seminário do LINSP
APRESENTAÇÃO
As datas nos levam no tempo e
marcam nosso corpo no espaço. Neste
2014 reafirmamos nossos laços com o
pensamento de Michel Foucault. Pensar
com Foucault e falar a partir de Fou-
cault é ter a oportunidade de compre-
ender que as teorias se movimentam e
os estudiosos circulam. O Colóquio “30
anos com Foucault: Corpo e Heteropi-
as” toma um dos temas do pensador
como problemática. Como se constitu-
em nossos corpos hoje? De que manei-
ra nossos corpos dizem quem somos?
Em que espaços tais corpos se circuns-
crevem? Mais do que a pluralidade em
“corpos” e “espaços” consideramos a
relação corpo-espaço como possibili-
dades inumeráveis de modos de se ver,
de ser e de viver. Essas políticas de
vida e de espaço vão se materializar
por meio da discussão entre Grupos de
Pesquisa em Análise do Discurso no
Brasil que colocam Michel Foucault no
centro de suas discussões. Este Coló-
quio faz parte de uma rede de eventos
no Brasil que se iniciou na UNESP de
Araraquara, passando pela Federal de
Uberlândia, Federal de São Carlos, Fe-
deral do Pará e, agora, na UESB de Vi-
tória da Conquista, na Bahia. Nosso
foco é discutir, em específico, as heter-
ogeneidades do corpo e do espaço co-
mo também, de maneira mais ampla,
acolher trabalhos em andamento nos
domínios do universo dos estudos do
discurso da maneira como o com-
preendemos no Brasil. Este Colóquio é
uma ação dos Projetos de Extensão e
de Pesquisa realizados pelo Laboratório
de Estudos do Discurso e do Corpo, o
Labedisco/CNPq, desenvolvidos na Uni-
versidade Estadual do Sudoeste da Ba-
hia.
TODAS AS INSCRIÇÕES SÃO GRATUI-
TAS
As inscrições se iniciam no dia
14 de setembro e se encerram no dia
04 de novembro de 2014, um mês antes
do evento, visando a publicação dos
trabalhos nos Anais antes do início do
Colóquio “30 anos com Foucault: Corpo
e Heterotopias”.
As formas de participação se
dividem em modalidades de apresenta-
ção de trabalhos e ouvintes.
Modalidade I
Nesta modalidade, recebere-
mos para debate apresentação de
dissertações e teses em andamento. A
habilidade de síntese do participante é
essencial para o bom andamento desta
modalidade. O participante terá cinco
minutos (duas laudas com espaço 1,5)
para apresentar em linhas gerais o
tema de sua pesquisa. Não necessari-
amente a apresentação deve ser lida.
O trabalho já terá sido avaliado pela
leitura do resumo expandido (enviado
para inscrição) por uma bancada de
quatro professores dentre os convida-
dos do Colóquio, em auditório a ser
designado. O debate acontecerá em
grupo após a apresentação de cada
cinco trabalhos. Nosso objetivo é que o
maior número possível de trabalhos
possa ser ouvido por uma grande por-
ção de participantes.
Modalidade II
Nesta modalidade acolhere-
mos trabalhos de Iniciação Científica,
resultados de TCC, trabalhos de Espe-
cialização e apresentação de Projetos
de Extensão/Projetos de Pesquisa em
formato de painel, com ampla divulga-
ção desses trabalhos no Colóquio. A
inscrição deve ser feita mediante re-
sumo expandido.
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Modalidade III
Desta modalidade participam todos os ouvintes no Colóquio sem apresentação de trabalho.
De 04 de setembro a 04 de novembro (uma vez que o caderno de resumo estará disponível online até, pelo menos,
um dia antes da data do evento)
PROFESSORES PARTICIPANTES
Página 5 O Corpo
Introdução
Em nossa pesquisa de Mestra-
do, desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação Comunicação, Cultura e Amazô-
nia, na Universidade Federal do Pará, anali-
samos a circulação de discursos sobre as
sociedades indígenas nas teledramaturgi-
as brasileiras. Tomamos o estudo dessas
ficções televisivas em uma perspectiva
histórica com base foucaultina, o que sig-
nifica que atribuímos o aparecimento de
discursos sobre as sociedades indígenas
nestas produções às condições de possibi-
lidades históricas.
Entendemos a teledramaturgia
brasileira como produções híbridas que
estabelecem um intercâmbio entre vários
campos, como o cinema, o teatro, o rádio,
e demais categorias televisivas (MALCHER,
2009) e que tem na telenovela o seu prin-
cipal expoente.
A telenovela é o produto de
maior rentabilidade e popularidade da tele-
visão brasileira (MALCHER, 2009) e um dos
mais importantes espaços de problemati-
zação do Brasil (LOPES, 2009). De acordo
com Lopes (2009) a telenovela consegue,
como nenhum outro produto televisivo,
discutir tanto as intimidades privadas co-
mo os problemas públicos. Mais do que nos
telejornais “é nas telenovelas que o país se
relata e se deixa ver” (MARTIN-BARBERO,
2001, p.161).
As telenovelas fazem parte da
matriz cultural brasileira e, como produtos
inseridos na história do país, essas produ-
ções não podem falar de qualquer coisa
em qualquer lugar, portanto “o que nos
interessa é saber o que torna possível uma
escolha e não outra, é determinar por que
foi possível empregar um conjunto de
relações no lugar de outro” (MILANEZ,
2006, p.26).
Diante do grande número de
telenovelas que foram exibidas desde 1963
– ano em que as telenovelas começaram a
ser diárias – até os dias atuais, foram
poucas as produções que trouxeram per-
sonagens indígenas em papéis de desta-
ques. Em nossa pesquisa, identificamos
três momentos da história do Brasil que
legitimaram a irrupção de discursos so-
bre as sociedades indígenas nas teleno-
velas brasileiras: o final da década de
1970, a virada para o século XXI e o mo-
mento atual.
1. Os anos 70 e a telenovela Aritana
Nos anos de 1970, a Ditadura
Militar, a construção de rodovias, a Guer-
rilha do Araguaia e a homologação do
Parque do Xingu - a primeira terra indíge-
na homologada pelo governo federal -
faziam parte do contexto histórico brasi-
leiro e repercutiam nos diferentes veícu-
los de comunicação. Esse momento histó-
rico, em que discursos sobre as políticas
voltadas para as sociedades indígenas
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Abertura Telenovela “Aritana”
ganhavam destaque, permitiu que uma
telenovela que teve como protagonista
um personagem indígena fosse exibida. A
telenovela “Aritana”, de autoria de Ivani
Ribeiro, exibida em 1978, pela TV Tupi,
levou para a televisão brasileira, através
do personagem indígena Aritana (Carlos
Alberto Riccelli), a discussão sobre a
importância da homologação de terras
em favor dos povos indígenas.
1.1. Os 500 anos da chegada dos euro-
peus ao Brasil
Já no ano 2000, personagens
indígenas novamente ganharam papéis de
destaque em várias produções televisi-
vas: a telenovela “Uga Uga” (2000) teve
como protagonista o personagem indíge-
na Tatuapu (Cláudio Henrich) e as minis-
séries “A invenção do Brasil” (2000) e “A
Muralha” (2000), ao abordarem a época
da chegada dos europeus ao Brasil, trou-
xeram vários personagens indígenas em
papéis de destaque.
Entendemos que o apareci-
mento de diferentes discursos sobre as
sociedades indígenas, com suas regulari-
dades e dispersões, naquele momento
histórico, foi possível, em grande medida,
porque no ano 2000, o país comemorava
os 500 anos da “chegada” dos europeus
ao Brasil. Esta data marcante para o país
repercutia em diferentes materialidades
midiáticas, entre elas, na teledramaturgia
brasileira. E era impossível falar da época
dos descobrimentos sem falar das socie-
dades indígenas que já habitavam o país.
Falar dos 500 anos de Brasil é contar a
história do contato entre indígenas e euro-
peus.
1.2. A Usina Hidrelétrica de Belo Monte e
a indígena vilã de “Araguaia”
Atualmente, o Brasil vive um
novo momento histórico: as discussões
sobre a construção da Usina Hidrelétrica
de Belo Monte geram inúmeras críticas e
manifestações tanto da população quanto
de organizações voltadas para a defesa
dos direitos humanos de sociedades indí-
genas. As críticas estampam os jornais
impressos, os noticiários televisivos e,
principalmente, repercutem nas redes
sociais. É neste contexto histórico que
surge, em 2010, a telenovela “Araguaia”,
que trouxe como vilã da trama a persona-
gem indígena Estela (Cléo Pires).
Entendemos que estas teleno-
velas e minisséries que trouxeram perso-
nagens indígenas em suas tramas foram
exibidas devido às condições de possibili-
dades históricas propiciadas por esses
três momentos vividos no Brasil. Como
explica Foucault (2008), ao fazermos um
estudo arqueológico, não devemos ater-
nos somente na descrição de um aconte-
cimento discursivo, mas, sim, nos pergun-
tar: por que apareceu um determinado
enunciado e não outro em seu lugar?
(Foucault, 2008). “Por que estes
[discursos] e não outros? Seria necessá-
rio encontrar a lei de todas essas enunci-
ações diversas e o lugar de onde
vêm” (FOUCAULT, 2008, p. 56).
2. Personagens indígenas – Regulari-
dades e dispersões
A irrupção de discursos sobre
os povos indígenas na teledramaturgia
brasileira traduz acontecimentos que se
projetaram na história brasileira, na con-
temporaneidade e sua descontinuidade.
Os discursos que aparecem nestas produ-
Página 7 O Corpo
Cena da telenovela “Aritana”
ções filiam-se a rede de memórias, que
retomam acontecimentos do passado,
atualizam-se e se projetam no futuro.
Embora essas telenovelas e
minisséries que trazem personagens
indígenas em suas tramas apresentem
formatos diferentes, tenham sido escri-
tas por autores diferentes e exibidas em
épocas distintas, há regularidades e dis-
persões na construção das identidades
desses personagens indígenas. Essas
regularidades e dispersões se filiam a
uma rede de memória e pertencem a uma
formação discursiva sobre como são as
identidades dos sujeitos indígenas brasi-
leiros. De acordo com Foucault:
Todo enunciado é portador de
uma certa regularidade e não
pode dela ser dissociado. Não
se deve, portanto, opor a regu-
laridade de um enunciado a
irregularidade de outro [...] mas
sim a outras regularidades que
caracterizam outros enuncia-
dos (FOUCAULT, 2008, p. 165).
Uma das regularidades entre os
personagens indígenas que são exibidos
nas telenovelas brasileiras é a “fala errada
da língua portuguesa”. O personagem Ari-
tana, da telenovela “Aritana”, exibida em
1978, apresenta uma maneira de falar que
é construída de maneira boba e cômica.
Aritana não sabe se comunicar direito com
os outros personagens não indígenas e
fala de maneira errada a língua portugue-
sa.
Esta mesma regularidade está
presente nos personagens indígenas Tatu-
apu de “Uga Uga”, exibida no ano 2000, e
Serena de “Alma Gêmea”, exibida em 2005.
As tramas destas duas telenovelas tam-
bém exibem os personagens indígenas
falando a língua portuguesa de maneira
errada e cômica.
Essas cenas das telenovelas
Aritana (1978), Uga Uga (2000) e Alma
Gêmea (2005) estão em intericonicidade
(COURTINE, 2013) com outras imagens de
personagens indígenas presentes em
diferentes materialidades discursivas,
como nos desenhos animados, nos filmes
ou nos programas humorísticos. Sobre a
intericonicidade, Courtine explica que
“toda imagem se inscreve em uma cultura
visual, e esta cultura supõe a existência
junto ao indivíduo de uma memória visual,
de uma memória das imagens onde toda
imagem tem um eco. Existe um „sempre já‟
da imagem” (COURTINE, 2013, p. 43).
Imagens historicamente cons-
truídas, já que a dificuldade em se comu-
nicar com pessoas não indígenas e a “fala
errada” do português são características
bastante instituídas como um aspecto
significativo da identidade do sujeito indí-
gena (NEVES, 2013).
2.1. O embranquecimento do indígena
Outra regularidade que encon-
tramos entre os personagens indígenas
“Aritana” (1978), “Tatuapu” (2000) e
“Serena” (2005) é o fato de que os atores
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Personagem Serena da telenovela “Alma Gêmea”
Personagem Estela da telenovela “Araguaia”
Telenovela “UGA UGA”
escolhidos para representar os papéis
desses personagens são brancos, e no
caso de Serena e Tatuapu, os dois atores
têm olhos claros. O fato desses três per-
sonagens não apresentarem um estereó-
tipo físico que o imaginário social está
acostumado a idealizar como sendo um
indígena não é algo tão fora do comum na
realidade. Assim como todo o povo brasi-
leiro, os indígenas não são fisicamente
iguais entre si. Existem indígenas brancos
ou de olhos claros.
Porém, a recorrência em se
escalar atores brancos para interpretar
personagens indígenas revela a prefe-
rência da teledramaturgia brasileira em
exibir em suas tramas artistas brancos,
com traços euro-americanos, padrão há
muito tempo instituído como sendo o
ideal de beleza.
Escalar atores brancos para
representar personagens indígenas é
fato recorrente nas produções audiovisu-
ais brasileiras desde o início do século
XX. De acordo com Silva (2007), a primeira
representação de um indígena no cinema
foi feita por um ator branco, chamado
Miguel Russomano, no filme “O Guarani”,
exibido em 1911. Para ser o protagonista
“Peri”, o ator se pintava para parecer um
indígena.
Essas cenas historicamente
construídas revelam que representar per-
sonagens indígenas, quando protagonistas,
sempre foi uma prerrogativa de atores de
pele clara, o que nos mostra que até hoje
as matrizes colônias continuam hegemôni-
cas.
REFERÊNCIAS:
COURTINE, Jean-Jacques. Decifrar o cor-
po: pensar com Foucault. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2013.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Sa-
ber. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense
Universitária, 2008.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo. Teleno-
vela como recurso comunicativo. In: Revis-
ta Matrizes, v. 3, n. 1, p. 21-47, dez./ago.
2009. Disponível em: <http://
www.producao.usp.br/bitstream/handle/
BDPI/32406/art_LOPES_Telenovela_2009.pdf?
sequence=2>. Acesso em 12 jul. 2014.
MALCHER, Maria Ataide. Teledramaturgia:
agente estratégico na construção da TV aberta brasileira. São Paulo: INTERCOM,
2009.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. REY, Germán. Os
exercícios do ver: hegemonia audiovisu-
al e ficção televisiva. São Paulo: Editora
Senac, 2001.
MILANEZ, Nilton. As aventuras do corpo:
dos modos de subjetivação às memórias
de si em revista impressa. Tese de douto-rado em Análise do Discurso. Araraquara,
SP: UNESP, 2006.
NEVES, Ivânia dos Santos. A Amazônia
através das telas: povos indígenas e
convergências Culturais. [ago.2013].
Registro audiovisual. Disponível em:
http://adamazonia2013.blogspot.com.br/
p/blog-page_660.html. Acessado em:
12/07/2014.
SILVA, Juliano Gonçalves. Entre o bom e
o mau selvagem: ficção e alteridade no
cinema brasileiro. In: Espaço Ameríndio,
Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 195-210, jul./dez.
2007.
Página 9 O Corpo
Ivânia dos Santos Neves é Doutora em Linguística pela
Universidade Estadual de Campinas, (UNICAMP). Docente do Pro-
grama de Pós- Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia, da
Universidade Federal do Pará (UFPA). Orientadora deste traba-
lho. Email: ivanian@uol.com.br. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Personagem Tatuapu da telenovela “Uga Uga”
Vívian de Nazareth Santos Carvalho é Mestranda do
Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia
da Universidade Federal do Pará (UFPA). Email: viviansantoscar-
valho@gmail.com. Currículo Lattes: Clique Aqui!
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Informes importantes acerca do evento: As inscrições para participação no SIED, em todas as modalidades, são fei-tas exclusivamente pelo site do GED (http://www.gedunesp.com/);
Somente os associados do GED podem apresentar trabalhos nos SIEDs; Os interessados em se associar para apresentar trabalho no evento deverão concluir o processo de associação (incluindo o pagamento da primeira anuida-de a partir de 2015), por meio do site do GED, em data determinada pela Se-cretaria, a cada evento, tendo em vista a data de realização do Simpósio, pois o sistema só admite o envio de resumos de associados;
Encerrado esse prazo, novas associações só voltarão a ser efetuadas após o término de realização do evento; Para se associar vá ao ícone "REGISTRE-SE" na página incial do deste site, preencha as informações e torne-se, com isso, um associado do GED, com sua área de acesso específico as atividades do GED e dos seus eventos.
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Renato Lima é graduado em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFRJ. Para saber mais sobre o autor e
suas produções, acesse também o site Pockets - Histórias de Bolso ou a página de Facebook Pocketscomics.
24 a 28 de Novembro de 2014
Mais informações no Link: http://semanadeletras.com/
O discurso para Foucault (2005)
não é o resultado da associação da reali-
dade e língua, sentido e experiência, não se
reduz ao conjunto de signos que remetem
a este ou àquele conteúdo, ou mesmo à
esta ou àquela representação. Porém, os
discursos são sempre práticas que
“formam os objetos de que fa-
lam” (FOUCUAULT, 2005, p.56). Essas prá-
ticas não são instâncias ocultas, tratam-se
de multiplicidades históricas, instituciona-
lizadas ou não, nem sempre visível em um
primeiro contato.
Com Foucault somos convidados
a entrar em universo onde não só os senti-
dos não estão estabilizados, mas tudo está
em constante deslocamento e construção.
E o fazer analítico não é uma tarefa de
desvendamento por meio das práticas,
mas estabelecer como o discurso circuns-
creve práticas e técnicas pelas quais os
sujeitos são levados a se reconhecerem
como portadores de uma subjetividade.
O sujeito foucaultiano é definido
como uma construção, esboçada por dis-
cursos e técnicas que foram sendo produ-
zidas no decorrer da história. E para com-
preender como se dá o processo de subje-
tivação explora discursos de contextos
históricos diversos e de diferentes materi-
alidades. Para tanto, introduz o método
genealógico para diagnosticar e compre-
ender o significado das práticas sociais a
partir do seu próprio interior. A proposta
genealógica se opõe ao método tradicional
de análise histórica, pois seu objetivo é
assinalar as singularidades dos aconteci-
mentos. Portanto, não se recorre ao pas-
sado para encontrar uma origem, mas
para deciframos quem somos hoje, quais
práticas nos tornam sujeitos. O genealo-
gista não procura a verdade mais profun-
da a ser revelada, mas as questões consi-
deradas complexas são evidenciadas
pelas práticas mais simples. Segundo
Foucault (2008), fazer genealogia é
deter-se nas meticulosidades e nos
acasos dos começos; prestar uma
atenção escrupulosa em sua derrisó-
ria maldade; esperar para vê-los sur-
gir, máscaras finalmente retiradas,
com o rosto do outro; não ter o pudor
de ir busca-los lá onde eles estão,
„escavando as profundezas‟; dar-lhes
tempo para retornarem do labirinto
onde nenhuma verdade jamais os
manteve sob proteção. O genealogista
tem a necessidade da história para
conjurar a ilusão da origem, um pouco
como o bom filósofo tem necessidade
do médico para conjurar a sombra da
alma. É preciso reconhecer os aconte-
cimentos da história, seus abalos, suas
surpresas, as vacilantes vitórias, as
derrotas mal digeridas que dão conta
dos começos, dos atavismos e das
hereditariedades (FOUCAULT, 2008,
p.264).
A prática genealógica fere todas
as filosofias da representação, com suas
buscas da primeira palavra dita, questio-
na os princípios de fidelidade entre o que
Página 12 O Corpo
“A proposta ge-nealógica se
opõe ao método tradicional de
análise histórica, pois seu objetivo
é assinalar as singularidades dos aconteci-
mentos”
foi dito e sua representação, as explica-
ções contextuais e os espíritos de época.
Trata-se de flutuar entre a palavra e a
coisa, nem do lado significação nem do
lado da representação, mas no limiar
entre o que é dito sobre a significação e
a representação, é nesse intervalo, que
olhando do alto, é possível entrever as
práticas de subjetivação.
Assim, a genealogia do sujeito
foucaultiana convida a imergir nos dis-
cursos cristalizados, buscando descrever
as práticas discursi-
vas e não discursivas;
o que se pretende é
fazer submergir as
multiplicidades e com-
plexidades dos fatos e
das coisas ditas, que
embora sejam exausti-
vamente repetidas,
são por isso mesmo
raras, pois não são
nem óbvias e nem
naturais.
O s u je i t o
foucaultiano é desen-
volvido por meio da
descrição das estraté-
gias e dos discursos
presentes no processo
de construção de ver-
dade para e sobre o
sujeito, de modo a promover o
“deciframento de si” (VEYNE, 1982). Inte-
ressava a Michel Foucault compreender os
momentos de rupturas e descontinuidades
em tais formas de subjetivação, analisando
técnicas muitos especificas de produção
de verdade do sujeito.
Para Foucault (1990), as técnicas
de si concedem ao individuou a possibilida-
de de aplicar um certo número de opera-
ções sobre seu corpo, sua conduta, e modo
de ser, com intuito de atender a um certo
estado de felicidade, de pureza, de sabe-
doria. Olhar para as técnicas de si é ver
no e pelo discurso a emergência constitu-
tiva do sujeito; é entrever em meios acon-
tecimentos históricos a irrupção das prá-
ticas de subjetivação.
Entender a civilidade como algo
a ser aprendido e posto em prática pelo
sujeito vai ao encontro do pensamento
foucaultiano das tecnologias de si como
um conjunto de técnicas que têm por fina-
lidade a transformação de si. Para Char-
tier (2004) a literatura sobre civilidade
visa transformar em esquemas incorpo-
rados as disciplinas e censuras enume-
rando e unificando numa mesma catego-
ria, assim a civilidade deve, entretanto,
anular-se como “discurso proferido ou
ouvido para transformar-se num código
de funcionamento em estado práti-
co” (CHARTIER, 2004, p. 48). A impressão
das regras de comportamentos em livros
conduz a ação individual de transforma-
ção de si. A existência material das re-
gras permite ao sujeito um contato íntimo
consigo.
É sob a justificativa do bom con-
vívio em sociedade que vão sendo aplica-
das as técnicas de boas maneiras. A gros-
so modo, civilizado é aquele capaz de con-
viver em sociedade, que possui conheci-
mento das regras de convivência. Assim,
Página 13 O Corpo
segundo Elementos da Civilidade (1801),
“não he a verdadeira civilidade outra
cousa, senão a pratica das regras da
decencia , ou a sciencia de bem regrar os
discursos, e ações na vida ci-
vil” (ELEMENTOS, 1801).
É, talvez, no corpo que se ins-
creve a maior parte das práticas de civi-
lidade. Longo são os ensinamentos para
domesticar os instintos, docilizar os ges-
tos. É preciso aprender a comer à mesa,
a utilizar dos utensílios domésticos como
garfos, facas, colheres, mas também é
preciso controlar as “naturalidades do
corpo”. Assim, o corpo civilizado vai sen-
do modelado pela negação de qualquer
aspectos que possa remeter à selvage-
ria. O corpo é o palco das demonstrações
de civilidade:
1.DEVEMOS ter sempre o nosso corpo
direito, ou seja em pé, assentado, ou
de joelhos , e nunca inclinaremos a
cabeça nem para huma, nem para
outra parte, e não a moveremos indis-
cretamente, e sendo necessário faze-
llo, o faremos com gravidade, e decen-
cia: tambem a não levantaremos com
esforço: porque nos terão por altivos,
orgulhosos, e pedantes: não a mette-
remos tambem entre os hombros, por
não parecermos preguiçosos, e nem a
deixaremos cahir para huma, e outra
parte, por ser este o costume dos
hypocritas, e nunca a voltaremos sem
necessidade por não mostrarmos
leviandade no nosso ju ízo.
(ELEMENTOS, 1801)
8. Não faremos grande estrondo,
quando nos assoarmos, para o que
nos devemos servir sempre do lenço,
como tam-
bem para
t o c a r m o s
dentro do
nariz, quan-
do for ne-
cessario, e
depois que
nos assoar-
mos nunca
o lharemos
para o que
lançarmos
no lenço: e
q u a n d o
estivermos
á meza, ou
em huma
sala aceada,
d e v e m o s
escarrar no
lenço. Tam-
bem deve-
mos usar da
m e s m a
c iv i l i d ade ,
q u a n d o
quisermos escarrar, ou espirrar, e naõ
será preciso reprimir-nos para deixar
de o fazer, nem também nos esforçare-
mos para o fazer com mais estrondo,
que o costume; porque isto indica falta
de respeito; porém o que neste caso
devemos fazer, he espirrar brandamen-
te, e depois fazer huma reverencia, e
agradecer a todas as pessoas, que nos
saudarem. (ELEMENTOS, 1801)
Todo acabamento estético para
ser civilizado deve começar pelo sujeito e
nele mesmo. Controlar, vigiar não é apenas
fruto da ação de um poder localizado, co-
mo as práticas pedagógicas, mas é uma
ação ininterrupta de si sobre si. Saber o
que deve ser feito para ser reconhecido
como um civilizado inscreve o discurso das
boas maneiras num rede discursivas de
práticas que atuam nos processos de sub-
jetivação. Assim, o sujeito de uma subjeti-
vidade civilizado é antes de tudo aquele
que aprendeu a utilizar as técnicas de
controle das condutas
A civilidade é distintiva e tem
como objetivo disciplinar o sujeito para
que ele manifeste nos gestos, posturas e
nas atitudes, o primado da vida social. Ela
é, portanto, um código a medida que per-
mite visualizar o sujeito civilizado através
de suas condutas e modos. O corpo é
linguagem, e assim é capaz de significar,
porque está inscrito uma subjetividade.
Assim, corpo e sujeito são duas partes
intrínsecas no processo de subjetivação.
Civilizado não é apenas ser distinto, mas é
possuir um corpo domesticado pelas tec-
nologias civilizatórias.
Página 14 O Corpo
Portanto, por meio das normas
de condutas e de comportamento pode-
mos compreender as diferentes manei-
ras de ser civilizado ao longo da história.
Não existe conduta que não tenha passa-
do pelo crivo do processo civilizatório.
Não há no corpo lugar que não tenha sido
civilizada. Segundo Mauss (1974), coisas
completamente “naturais são históricas",
assim aos atos físicos naturais “são so-
brepostos conjuntos de atos montados e
mantidos pelos sujeitos, não simplesmen-
te por ele, mas por toda sua educação,
por toda a sociedade da qual faz parte,
conforme o lugar que ocupa" (MAUSS,
2011, p.408).
Para Revel (1991), o século XVI,
com a irrupção de uma literatura pres-
critiva de comportamento, é o período de
um intenso esforço de codificação e con-
trole dos comportamentos. A partir deste
século, os gestos são submetidos às nor-
mas de civilidade. Irrompe uma
“linguagem dos corpos” destinadas aos
outros”, que devem poder captá-la. O
indivíduo projeta-se para fora de si mes-
mo, expondo-se ao elogio e à sanção do
grupo. É preciso agora gerenciar a alma
e o corpo como procedimento de controle
social, que acaba por encerrar o indiví-
duo numa rede de vigilância cada vez
mais compacta.
Se o corpo diz tudo sobre o homem
profundo, deve ser possível formar ou
reformar suas disposições íntimas
regulamentando corretamente as mani-
festações do corpo. É a razão de ser de
uma literatura que prescreve os com-
portamentos lícitos e, mais ainda, pros-
creve os que são considerados irregula-
res ou maus. Considera-se a intimidade
apenas para manipulá-la e adequá-la a
um modelo que é o do meio termo, o da
recusa a todos os excessos. (REVEL,
1991, p.169)
Cartografando as marcas im-
pressas no corpo pelo processo civilizató-
rio é possível compreender de que manei-
ra os discursos afetam os processo de
subjetivação. Assim, na emergência de um
acontecimento histórico visualizar porque
estas técnicas e não outras permitiram a
irrupção de uma subjetividade civilidade.
REFERÊNCIAS:
CHARTIER, Roger, A aventura do livro: do
leitor ao navegador. São Paulo: Ed. da
UNESP, 1998.
ELEMENTOS da Civilidade e da Decência
para instrução da mocidade de ambos os
sexos. Lisboa. 1801.
FOUCAULT, M. Arqueologia do Saber. Rio
de Janeiro: forense, 2005.
______. Ditos e escritos: Arqueologia
das ciências e História dos Sistemas e
de Pensamento. Vol:2. Rio de Janeiro:
forense universitária, 2008.
______. Tecnologias del yo. In: MOREY, M.
Tecnologías del yo, e otros textos afi-
nes. Barcelona: Paidós/ICE-UAB, 1990.
MAUSS, M. Sociologia e Antropologia.
São Paulo: Cosacnaify, 2011.
REVEL, Jacques. Os Usos da Civilidade. In:
ARIÈS, Philippe e DUBY, George (org). His-
tória da vida privada. Da Renascença
ao século das luzes. São Paulo: Compa-
nhia das letras, 1991. Vol. 4
VEYNE, P. Como se escreve a história:
Foucault revoluciona a história. Brasí-
lia: Ed: UnB, 1982.
Página 15 O Corpo
Gesiel Prado é Doutorando em Linguística e Língua Portugue-
sa, pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara UNESP-
FCL/CAR. Mestre em Linguística pela Universidade Federal da
Paraíba/UFPB.Licenciado em Letras, habilitação em língua portu-
guesa pela Universidade Regional do Cariri - URCA/CE. Membro-
pesquisador do Grupo de Estudos de Análise do Discurso de Araraqura - Geada.
Currículo Lattes: Clique Aqui!
“...os gestos são submetidos às nor-mas de civilidade.
Irrompe uma “linguagem dos
corpos” destinadas aos outros”, que
deve poder captá-
la. ”
Página 16 O Corpo
QUANDO: Dia 19 de setembro de 2014. ONDE: Na UFSCar – São Carlos.
Para participação como ouvinte, é necessário realizar inscrição enviando nome, instituição e endereço para o e -mail wi lson-ricardo@uol.com.br ou efetuar a inscrição no próprio dia do evento. Os participantes recebe-
rão certificado ao final do Colóquio.
Acesse também o Blog
www.30anos-foucault.blogspot.com.br/
Página 17 O Corpo
À s seis da manhã, Ana
acordou ainda sonâm-
bula para verificar em seu celu-
lar o que fazia tirá-la do sono
agradável para o seu corpo. –
Nossa!-, exprime Ana sem en-
tender o motivo pelo qual ela
recebera aquela imagem sem
significado para o seu corpo en-
quanto receptor de prazer de ou-
tros corpos em sua constituição
fisiológica. Ana volta a repousar
seu corpo como quem pede para
pedra tornar-se. O despertador
enunciava que as ações do dia
estavam por vir. A imagem que
Ana recebera em seu WhatsApp
a fez pensar no motivo “real”
que aquela imagem significava.
Por não se sentir atraída pela tal
“boceta”, Ana calou-se e pôs-se a
agir como se aquela imagem não
a compusesse.
À noite Ana recebeu em
sua casa o seu namorado que fora
ali para um jantar íntimo, ao de-
correr do papo e de todas as de-
monstrações desejáveis pelo cor-
po de ambos, Ana pôs-se a
„reclamar baixinho‟ pela contínua
mensagem em que a tal „boceta‟
aparecia como sendo em todo es-
paço da tela de seu celular uma
imagem em que o discurso não
lhe era mais morto, funesto, era,
agora: possível transferência viva
do horror que o seu corpo en-
quanto identidade pública podia
tornar-se caso ela fizesse troca
com o desconhecido endereço
que havia lhe enviado tal mensa-
gem. Secreto era ao namorado o
seu corpo, que como único sujeito
dominador do corpo da namora-
da, da estimulação, da troca de
sensações, conhecia ali a troca
única, mas, pela lasciva em que
esse espaço, essa imagem pode-
ria despertar em seu namorado,
Ana não entendia e não queria
falar para o Carlos o que aconte-
cia. Carlos percebera a inquieta-
ção de Ana ao mexer no aparelho
celular e pôs-se a criar estraté-
gias para saber o que havia de
tão perturbador-sim, o Carlos
não se interessava pelas Ações
que Ana exercia naquele apare-
lho, como Ana também não se
incomodava que o Carlos usasse
o seu celular, mas havia algo de
estranho: A imagem da boceta de
algum corpo desconhecido podia
significar algo novo para ambos-
mas o quê?- era a pergunta contí-
nua de Ana para a tal imagem.
Ana compartilha as imagens com
outros whatsapianose obtém
identidade das “donas” daquelas
imagens. – Por que estão tirando
essas fotos e compartilhando?-
Não havia resposta, havia o de-
sejo de alguém a ser trocado, a
ser também um laço desejável,
uma nova possibilidade para tais
trocas de informações do corpo
como “objeto” desejável.
Ana passa a conhecer
uma das pessoas que fazia a tro-
ca de imagens do corpo e passa
também a tirar fotos de seu cor-
po e a transferir para um único
endereço. Ana passa a entender
o espaço em que o seu corpo
estava imerso, sabia o que pre-
tendiam falar para ela e, como
atraída pelas imagens que passa-
vam a constituir espaços desco-
nhecidos e um discurso de quase
liberdade para o processo dese-
jável aparentemente “quente”,
Ana aceita e passa a usar uma
“identidade” sexual em seu
WhatsApp: o corpo em imagens
sensuais como apresentação, pe-
lo qual fora sendo aos poucos
conhecida e reconhecida. As
imagens que Ana capta de seu
corpo começam a circular por
diversos espaços e como quem
não sabendo de uma maldade
existente na ideia de quem a
atraiu para a constituição desse
novo corpo, Ana se torna aos que
a reconhece, uma prostituta. Ana
não se vê como tal e não “veste”
tal camisa, não entende as trocas
de imagens de seu corpo como
sendo vendíveis, comercializá-
veis, impostas a um lugar chama-
do de prostituição, mas sim a um
lugar chamado compartilhamento
de imagens; fossem elas
“divinas” ou “profanas”. A circu-
lação das imagens a fez perder o
emprego, o namorado e a moral
imposta como conduta exemplar
para as representações; ideologia
qual que Ana passava a não en-
tender pelo fato de não está mais
condicionada a esse lugar
“divino” ainda que não entendes-
se o lugar abstrato chamado
“profano”. Não havia indícios
patológicos que a constituísse co-
mo sendo doente, mas, essa era a
nova identidade constituída de
Ana: a prostituta de Ribeirão das
Sangrias, cidade de menos de vin-
te mil habitantes, culturalmente
conhecida como sendo “a cidade
dos fiéis” a um santo chamado
de Santo dos Santos. A imagem
de Ana nessa cidade passa a ser
coerciva, monstruosa, identificá-
vel com as demais moças e com
alguns rapazes que pertenciam
ao lugar sacerdotal, e não ao lu-
gar onde as imagens de um corpo
naturalmente sensual e desejável
se constituem por horas a expec-
tativa de um corpo biológicosatâ-
nico, ”mundano”. Quando a
“poeira baixa”, Ana já não tem
mais o seu nome circulando por
entre espaços divinos, mas há
outros sujeitos nessa esteira nor-
mativa, e Ana passa a ser exem-
plo errôneo do que se deve ou
não compartilhar no WhatsApp.
Ana não entende mais o que sig-
nifica corpo e passa a comparti-
lhar imagens de árvores mortas
ou moitas vazias.
Página 18 O Corpo
Daniel Soares Sousa Lemos é Graduando em Filosofia
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. É tam-
bém integrante do LABEDISCO - Laboratório de Estudos do Dis-
curso e do Corpo. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Página 19 O Corpo
DISCURSOS E PODERES NA CONTEMPORANEIDADE
Local:
Instituto de Letras – UFBA - Salvador
Período do Evento:
24 a 26 de novembro de 2014
Período de inscrição (Novas Datas): 15 de Junho a 15 de Agosto de 2014 (Com Trabalho)
15 de Junho a 15 de Outubro (Ouvinte)
Público Alvo: Estudantes de Graduação, de Pós-Graduação, Pesquisadores, Docentes,
Profissionais e Público em geral.
Contato: sedisufba2014@gmail.com
Mais informações podem ser acessíveis na página da web:
www.sedisufba2014.ufba.br/
O tempo há de poder acolher o espírito por assim dizer. E o espí-rito há de ser, por sua vez, afim com o tempo e com sua essência. (Heidegger)
Pensar certas condi-
ções de aparecimento de um sistema de
ideias nos joga de encontro à nossa pres-
suposição pós-moderna, sem, contudo, nos
permitir estilhaçar o que de fato nos cons-
titui como a verdadeira matriz de subjeti-
vação do nosso tempo. Diante do desafio
de estabelecer tal formação discursiva,
para entender o reaparecimento de velhos
discursos e suas rupturas e descontinui-
dades, buscamos na análise do discurso
francesa e em recortes foucaultianos o
respaldo para analisar o problema que
constitui essa análise. Trata-se do per-
curso recente e da emergência do Espiri-
tismo, desde o final do século XIX, com sua
intensa filiação ao racionalismo e seu mo-
do de fazer ciência, ao viés das luzes ilumi-
nistas, e o apelo ao cuidado de si, e sua
permanência atual.
É possível observar o
que parece ser uma espécie de padroniza-
ção, do ponto de vista filosófico, que pode-
ria ser aplicada genericamente a qualquer
forma de liberdade, certa concepção de
ética, como plataforma ou modelo univer-
sal. Se partirmos de Foucault, que desclas-
sifica a figura de exigência racional sobre
o objeto do conhecimento, retirando esse
apoio que serve como uma espécie de ga-
rantia sobre a origem do que é dito e posi-
tiva apenas o que é dito, o enunciado, esta-
remos diante do discurso e seu estatuto de
raridade enunciativa. Num regime de rari-
dade, poucas coisas, na verdade, podem
ser ditas, o campo enunciativo não pode
ser transparente, e o trabalho do pesqui-
sador deve descrever o que foi efetiva-
mente dito, em suas condições de materi-
alidade.
Foucault não só rejeita tudo o
que não seja aquilo que torne possível o
enunciado, como também tudo que dava
segurança ao historiador: nem sujeito,
nem objeto, nem contexto, nem estrutura;
só o enunciado em sua materialidade
interna. Nesse panorama, ainda, de certo
modo, moderno, o autor busca num espa-
ço entre o clássico e o moderno, num tipo
de espaço de contradições não percebida
pelos historiadores tradicionais continu-
ístas, pequenas mudanças, deslocamen-
tos quase imperceptíveis que propiciam
um novo saber, que reorganiza o olhar.
A segunda metade do século
XVIII vê surgir o Iluminismo ou esclareci-
mento que traz o sujeito moderno: é a
época do sujeito, do indivíduo, daquele que
nasce com direitos naturais para se ade-
quar a uma vida social. A partir do desdo-
Página 20 O Corpo
“Foucault não só rejeita tudo o que não seja
aquilo que torne possível o enun-ciado, como tam-
bém tudo que dava segurança
ao historiador”
bramento do subjetivo epistemológico
característico dos séculos XVII e XVIII, o
indivíduo está no mundo, num mundo em
que o conhecimento é visto como forma
de libertação, numa sociedade organiza-
da racionalmente, que alcançaria assim o
fim da opressão.
Kant reforça essa necessidade
de o homem fazer o uso de seu próprio
entendimento, Aufklärung. O século do
esclarecimento, a época do sujeito cons-
ciente de seu pensamento e responsável
por sua ação, numa definição “clássica”.
O sujeito moderno pode ser visto como
resultado de influências do cristianismo e
de religiões ocidentais, passando de for-
ma reativa por um “processo de abaula-
mento da alma e cultivo da interioridade”,
ou ainda como “campo interior”, pronto
para assumir o processo de maturidade,
mas também “como campo no qual há
desinibição necessária para que o ho-
mem faça o que tem de fa-
zer” (GHIRALDELLI , 2010), algo que pode
ser lido, de certo modo em forma reduci-
onista, na imagem recorrente que a es-
cola até hoje tenta criar no jovem: a ca-
pacidade de pensar de modo crítico e
autônomo.
O SUJEITO PROVISORIAMENTE PÓS-
MODERNO
Ao desejar fazer a ontologia do
presente, Foucault escapa da definição de
um sujeito montado a partir de uma deci-
são própria. O sujeito para ele será defini-
do por meio de práticas: nós não somos
em essência, somos em vez disso, um con-
junto de práticas, e práticas historicamen-
te situadas, que mudam social e mesmo
geograficamente, pela própria volatilidade
que as caracterizam, de modo que para
ele, são estas práticas que definem “o que
somos nós nesse nosso tem-
po” (FOUCAULT, 2004, p.301), uma vez que
num outro momento outras práticas po-
dem definir o ser biológico de outra manei-
ra – o homem do humanismo desaparece
para dar lugar a um outro tipo, não mais
moderno, uma vez que não há mais alguém
para sair da menoridade, há alguém que é
constituído por suas práticas sociais.
Temos não mais um indivíduo,
mas talvez um agente. Além dessa passa-
gem desse sujeito moderno para um ou-
tro, Foucault faz emergir a noção de epis-
teme, algo muito próximo ao conceito de
paradigmas de Kuhn, como rede que de-
termina a estrutura de pensamento de
uma época, de modo que tal rede limita o
pensamento científico, filosófico e cultural
dessa época. Assim cada sociedade pos-
sui seu regime de verdade: o tipo de dis-
curso que aceita e que faz funcionar como
verdade. Considere-se de acordo com
Kuhn (2003) paradigma o grupo de práti-
cas reconhecidas durante algum tempo
por uma comunidade científica, que dá
base estável para determinado estado da
ciência normal.
O PARADOXO DA RELAÇÃO ENTRE
ACONTECIMENTO E FORMAÇÃO DISCUR-
SIVA
Em A ordem do discurso, Fou-
cault afirma que a história não se desvia
dos acontecimentos. Sua consideração
sobre os “elementos” e a definição histó-
rica da “série” da qual “esse elemento faz
parte, define o modo de análise da qual
essa série depende, procura conhecer a
regularidade dos fenômenos e os limites
de probabilidade de sua emergência, bus-
Página 21 O Corpo
“Kant reforça es-sa necessidade de o homem fa-zer o uso de seu próprio entendi-
mento, Auf-
klärung. ”
cando as variações que determinam as
condições das quais as séries de aconte-
cimentos dependem” (p.55). E nisso, o
filósofo francês estabelece o paradoxo
entre estrutura e acontecimento:
“[...] certamente a história há muito tempo não procura mais
compreender os acontecimentos por um jogo de causas e efeitos na
unidade uniforme de um grande devir, vagamente homogêneo ou
rigidamente hierarquizado; mas
não é para reencontrar estruturas anteriores, estranhas, hostis ao
acontecimento. É para estabelecer as séries diversas, entrecruzadas,
divergentes muitas vezes, mas não autônomas, que permitem circuns-
crever o „lugar‟ do acontecimento, as margens de sua contingência,
as condições de sua aparição”. (FOUCAULT, 2006, p.56)
Sua aparente solução surge
com a noção de formação discursiva,
movimento em que o autor esclarece não
poder confiar na unidade do objeto para
individualizar um conjunto de enunciados,
o objeto por si só não consegue constitu-
ir a unidade do discurso, inclusive porque
um conjunto de enunciados podem se
referir a vários objetos, o próprio objeto
muda se deslocado no tempo, pois não
obedece mais aos mesmos critérios; as
funções do discurso e as práticas nas
quais ele está investido foram profunda-
mente modificados.
Para o autor, em texto de 1968,
um certo estilo, o tipo de enunciação
utilizada pode ser um segundo critério
para constituir conjuntos discursivos. Co-
mo terceira possibilidade poder-se-ia pen-
sar numa série de conceitos permanentes
e coerentes entre si, que têm relações
descritíveis entre si, constituindo uma
rede teórica (p.103), além de ser possível
ainda constituir unidades de discurso “a
partir de uma identidade de opinião, mas
que ao qual seja possível atribuir uma exis-
tência independente, um sistema de pontos
de escolha livres a partir de um campo de
objetos dados, a partir de uma gama enun-
ciativa determinada, a partir de uma série
de conceitos definidos em seu conteúdo e
seu uso” (p.105). Ou seja, uma formação
discursiva se constrói a partir de um gru-
po de enunciados no qual se pode observar
e descrever “um tipo de referencial, um
tipo de defasagem enunciativa, uma rede
teórica e um campo de possibilidades es-
tratégicas (p.106).
O DISCURSO ESPÍRITA
A partir de trabalhos de Swen-
denborg sobre suas visões e participação
em eventos muito populares conhecidos
como “mesas girantes” na França do sécu-
lo XIX, as profecias de Cagliostro, fenôme-
nos mediúnicos produzidos na Alemanha
em 1840, para relacionar apenas alguns
casos, começam a aparecer publicações
que tratam da comunicação dos ditos mor-
tos com os chamados vivos, tanto na Eu-
ropa quanto nos Estados Unidos. Pode-se
dizer que há relatos milenares dessa inte-
ração entre dois mundos, mas o que nos
interessa de modo particular é a instau-
ração de um discurso Espírita, com fortes
características de ciência, uma vez que
proclamou-se ciência, filosofia e religião.
Se a série de enunciados que
começam a formar-se como o corpo de
uma ciência com o aparecimento de O
Livro dos Espíritos, a existência de tais
enunciados, porém remonta aos mais
recuados séculos, pois já eram conheci-
das dos gregos as ideias de reencarna-
ção, dos intermediários (daimons) entre
os homens e os deuses. De fato, tais preo-
cupações as mais recuadas civilizações já
demonstravam tê-las sistematizado em
Página 22 O Corpo
“um conjunto de enunciados po-dem se referir a vários objetos, o próprio objeto
muda se desloca-do no tempo,
pois não obede-ce mais aos mes-
mos critérios”
livros iniciáticos. O que nos parece ser
uma fratura nesse tipo de discurso é a
troca das condições especiais do iniciado
para o saber que tais livros e doutrinas
encerram pelo cuidado de si, pela neces-
sidade de por si mesmo, sair o homem da
menoridade, herança das luzes e reco-
mendação que ressurgem em vários mo-
mentos do discurso espírita: a necessida-
de de instrução e de saber.
Já na primeira página de O livro
dos Espíritos, no entanto, encontra-se o
enunciado de um discurso que se preten-
de fundador:
Contendo os princípios da dou-
trina Espírita, sobre a imortali-
dade da alma, a natureza dos
Espíritos e suas relações com
os homens, as leis morais, a
vida presente, a vida futura e o
futuro da Humanidade segundo
o ensinamento dado pelos Espí-
ritos superiores com a ajuda de diversos médiuns. Compilado e
ordenado por Allan Kardec.
Destacamos também a inscri-
ção da primeira página de O Evangelho
segundo o Espiritismo, contendo a expli-
cação dos ensinamentos morais do Cris-
to, sua concordância com o Espiritismo e
sua aplicação às diversas situações da
vida: Fé inabalável é somente aquela que
pode encarar a razão face a face, em
todas as épocas da Humanidade.
O projeto de problematização
que se apresenta no que se disse, então,
perquire as bases dessas ideias que re-
presentam interessante descontinuidade
do pensamento religioso, antes e sempre
relegado às sombras da crença, desqualifi-
cada pela ciência e retorna com práticas
que tentam provar cientificamente que se
trata de um novo paradigma, uma nova
episteme para a qual valerá mais o que for
da ordem da ciência do que o que for da
ordem do subjetivismo obscuro da crença.
Será o sujeito e suas práticas
refletindo o deslocamento discursivo que
propõe um homem moderno, que investiga
e toma a si a tarefa do cuidado de si? Será
o mesmo sujeito do conhecimento de si
que se apropria do fantasma fenomenoló-
gico da fé na emergência da razão instru-
mental. Tais respostas não foram apresen-
tadas, mas certamente constituem o cerne
do espiritismo kardecista.
REFERÊNCIAS:
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos II. A
Arqueologia das ciências e história dos
pensamentos. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2000.
FOUCAULT A Ordem do Discurso. São Pau-
lo: Loyola 1996.
FOUCAULT Ditos e escritos V. Ética Sexua-
lidade e política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004.
FOUCAULT As palavras e as coisas. São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
GHIRALDELLI JR, Paulo. A história essenci-
al da Filosofia. São Paulo: Universo dos livros, 2010. (Clique aqui para acessar a
referência)
HEIDEGGER, Martin. Crítica de Hegel. (In) O
ser e o tempo. Fim de século, 2003.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. São Paulo: Petit, 1997.
_______. O Livro dos Espíritos. Araras:
IDE, 2009.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revolu-
ções científicas. São Paulo: Perspectiva,
2003
PIRES, J. Herculano. O espírito e o tempo
Introdução antropológica ao Espiritismo.
São Paulo: Edicel, 1977.
REVEL, Judith. Foucault conceitos essenci-
ais. São Carlos, Claraluz, 2007.
WANTUIL, Zêus. As mesas Girantes e o
Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1978.
Página 23 O Corpo
Leticia Tavares de Faria é Doutoranda em Estudos Lin-
guísticos pela Universidade Federal de Goiás, mestre em Linguís-
tica e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Jú-
lio de Mesquita Filho (2003). É também especialista em Linguísti-
ca de Texto e ensina também pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Alexandre Ferreira da Costa possui graduação em Le-
tras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994),
mestrado em Lingüística pela Universidade de Brasília (1999) e
doutorado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de
Campinas (2007). É professor da Universidade Federal de Goiás
desde 1998 e atua na formação de professores. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Página 24 O Corpo
Fundamentado sobre teoria do
discurso e também do cinema, o Seminário
“Foucault e o Cinema” realizara o total de
dez encontros, apresentando análises,
problematizações e discussões a partir de
apresentações de algumas produções ci-
nematográficas e conceitos essências da
arqueologia foucaultiana.
Nas edições 33 e 34 de “O Corpo
é discurso”, fora apresentadas informa-
ções gerais a respeito dos setes primeiros
encontros realizados pelo Prof. Nilton
Milanez (Labedisco/VNPq/UESB), pelo
doutorando Ciro Renan de Oliveira Prates
(PPGMLS/CAPES) e pela mestranda Rena-
ta Celina Brasil Maciel (PPGMLS/UESB),
pela doutoranda Cecília Barros-Cairo
(PPGMLS/CAPES), por Uesley Pereira
(ICV/História/UESB) , pelo mestrando
Tyrone Chaves Filho (PPGLIN/CAPES) e
por Bruno Pacheco de Souza
(ICV/LABEDISCO/UESB).
Nesta edição, trazemos informa-
ções das apresentações realizadas por
Mirtes Ingred Tavares Marinho
(Filosofia/UESB), Aliúd José de Almeida
(UESB/CNPq/Labedisco) e Josemar
Santos Tonico (Labedisco/UESB).
O oitavo encontro, aconteci-
do no dia 31 de julho de 2014 às
14:00h, foi ministrado por Mirtes In-
gred Tavares Marinho, no qual foi
apresentado o tema “Sexualidade e
discurso religioso” a partir do filme
Alucarda (1977), de Juan López Moctezu-
ma.
O nono encontro, ocorrido no dia
07 de agosto de 2014 às 14:00h, fora minis-
trado por Aliúd José de Almeida, no qual foi
discutido o tema “Jogos de Verdade” a
partir do filme El Espinazo Del Diablo
(2001), de Guillermo Del Toro.
No décimo encontro, acontecido
no dia 08 de agosto de 2014 às 14:00h, foi
ministrado por Josemar Santos Tonico,
no qual fora discutido o tema “Disciplina e
Corpo Gordo” a partir do filme Doce vin-
gança 2 (2013), direção Steve R. Monroe.
Mais informações sobre o semi-
nário e de seus encontros ocorridos es-
tão disponíveis no blog do evento, aces-
sando
www.foucaulteocinema.blogspot.com.br/.
Mirtes Ingred Tavares Marinho (Filosofia/UESB)
Aliúd José de Almeida (UESB/CNPq/Labedisco)
Josemar Santos Tonico (Labedisco/UESB)
Leitura do livro “Língua(gens) em Discurso: a Formação dos Objetos”, organizado por Ismara Tasso e Érica Silva
Leitura do livro “Estudos do Discurso: Perspectivas Teóricas”, organizado por Luciano Amaral Oliveira
Dica de O Corpo
Dica de O Corpo
Estudos do discurso (perspectivas teóricas) é voltado
para os estudantes de Letras, graduandos e pós-
graduandos, em busca de embasamento teórico para se
aprofundarem em pesquisas sobre o discurso. Este livro
apresenta fontes importantes nas quais estudiosos do
discurso têm bebido, dá a conhecer um pouco dessas
fontes para compreendermos melhor o pensamento de
teóricos que se debruçaram sobre fenômenos do dis-
curso. Você quer saber como Foucault, Ducrot, Althus-
ser e Bourdieu contribuíram para os estudos do discur-
so? Aqui há informações e reflexões importantes sobre
as contribuições desses e de outros oito teóricos. O ob-
jetivo é inquietar você, provocar você com questões
fundamentais para a produção de sentidos.
Com o objetivo de subsidiar teórica e metodologicamente
pesquisadores e estudiosos do campo epistemológico do dis-
curso, esta coletânea reúne, com singular empenho dos au-
tores, inéditas e substanciais discussões e reflexões acerca
da formação dos objetos. Sob tal conjuntura, cada capítulo
prima, por sua natureza teórica e analítica, demonstrar a
emergência e formação de enunciados para além da articu-
lação das palavras, compreendendo que os objetos não se
formam nas realidades materiais anteriores aos discursos,
mas são por eles produzidos no conjunto de práticas que
arquitetam seu aparecimento, sua manutenção e sua coexis-
tência. O tratamento desse funcionamento discursivo, cujas
vertentes teóricas tem seus expoentes em Foucault,
Pêcheux, Courtine, Bakhtin, Orlandi, Charaudeau e Maingue-
neau, possibilitou a organização da obra em duas partes.
O Corpo é Discurso
é o primeiro jornal
eletrônico de
popularização
científica da Bahia.
Colaboradores
Popularização da Ciência
A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-
ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a
linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas
tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-
cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito
que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos
esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da
ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-
fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.