O conceito de saúde única. Os efeitos da fragmentação do habitat na Guiné-Bissau e as suas...

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O conceito de Saúde Única:A fragmentação do habitat na Guiné-Bissau e as suas

implicações para a saúde pública e o ecossistema.

Seminário: Prevenir doenças humanas através de uma melhor saúde animal e ambiental

Rui M. Sá, PhDUniversidade Lusófona da Guiné

CIAS- Centro de Investigação em Antropologia da Saúde/ Universidade de Coimbra

Contexto e Problemática

Crescimento exponencial da população humana.

Intensificação industrial da Agro-Pecuária.

Destruição do Habitat.

85%

IMPACTO NA SAÚDE.Emergência de novas

doenças!

Zoonoses

70% dos agentes patogénicos que causam doenças infecciosas aos humanos são de origem animal. Estas doenças, conhecidas como zoonoses podem ser transmitidas por animais domésticos ou selvagens.

Apresentam um risco para a saúde pública a nível mundial e é imperativo que sejam prevenidas ou combatidas a qualquer nível, incluíndo a escala global.

“Um Mundo, Uma Medicina, Uma Só Saúde”

• O meio mais eficaz e a solução mais económica para proteger os seres humanos é combater todos os agentes zoonóticos controlando-os na sua origem animal.

Requere-se assim uma nova abordagem que:

Saúde Única

Doença Animal

Doença Humana

Ambiente

O conceito de Saúde Únicareconhece a inter-relaçãoentre a saúde animal, humana e ambiental.

Preceito da Interdisciplinariedade

One Health Sweden (2014)

Breve Historial da “One Health”

•Estabelecida formalmente em 2007 com a ligação entre a Associação Americana dos Médicos veterinários e a Associação Americana de Medicina com a adopção da resolução “Uma Saúde Única”.

• Os seus antecedentes remontam à Antiguidade Grega com Hipócrates (460-377 AC) onde defendia a ideia de que a saúde pública estava directamente relacionada com um ambiente limpo.

Rudolf Virchow (1821-1902), médico alemão que afirmou que:“Entre a medicina animal e a medicina humana não existem linhas divisórias e nem devem existir”. Cunhou o termo “Zoonose”.

Efeitos ecológicos da Fragmentação do Habitat

Fragmentação

Restringe a área vital e aumenta a densidade.

Aumenta o overlap entre as espécies

Reduz a abundância

das espécies e a

sua diversidade

Predispõe os indivíduos a uma maior probabilidade de

transmissão de patogéneos.

Efeitos da Fragmentação na dinâmica entre Parasita-Hospedeiro

Fragmentação

Pode alterar a susceptibilidade de infecção, o risco de infecção, e ESPECIFICIDADE DO HOSPEDEIRO

Enquanto alguns parasitas são generalistas, outros são especialistas capazes de infectar uma ou poucas espécies

As alterações antrópogénicas podem alterar as dinâmicas dos vectores, as taxas de transmissão e a área vital dos parasitas bem como a VIRULÊNCIA

Estudo de caso 1Os chimpanzés da GB como sentinelas

Sá et al. 2013

Objectivos do Estudo1. Fazer o levantamento da parasito-fauna dos chimpanzés de Cantanhez

2. Examinar a sua prevalência e riqueza específica

3. Comparar os resultados com estudos anteriores de outras populações de chimpanzés selvagens

Metodologia

Análises Coprológicas

Smears directos Flutuação Sedimentação

Resultados: riqueza parasitária

1 2 3 4 5 6 7

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Riqueza parasitária

Parasitas spp.

%

• 102 amostras analizadas

• Taxa global de infecção: 91.2% (93/102)

• Média da riqueza parasitária: 2.6 (DP±1.6)

• 13 diferentes géneros de parasitas identificados

Resultados: Helmintas

Céstodos

Bertiella studeri (5%)

Nematodes

Estrongilídios (38%)

Strongyloides fulleborni (22%) Probstmayria gombensis (4%)

Trichuris spp. (15%)

Strongyloides stercoralis (6%)

6 Espécies

Resultados: comparação entre áreas

Χ2= 8.330; df= 2; ρ≤ 0.05

N= 102

Conclusões do estudo

• Primeiro registo parasitológico dos chimpanzés da GB

•Troglodytella abrassarti é o taxon mais prevalente

•Correlação entre fragmentação do habitat e prevalência de parasitas com potencial zoonóstico nas áreas onde os matos estão mais fragmentados

• Potencial para infecção cruzada de estrongilídios (Strongylida) e trichuris entre humanos e chimpanzés

Estudo de caso 2Variação genética de Trichuris sp. em cólobos da GB

• Parasita negligenciado. 600-800 milhões de humanos estão infectados com este nemátodo;

• Ciclo de vida directo e os ovos são transmitidos directamente através de uma via fecal-oral.

• Infecção ocorre mais frequentemente em áreas com clima tropical com pouco saneamento e principalmente entre as crianças.

Será a espécie de Trichuris trichiura, tipicamente humana, que parasitiza estes macacos ou, será uma outra espécie?

Resultados: Colobus Vermelhos (Fatangos)

* P= < 0.05

N= 40

Resultados: Colobus B/P (Fidalgos)

* P= < 0.05

N= 40

Resultados: Análise de Clusters

Resultados: Taxonomia Molecular

18S rDNA 536bp, ML / BI, K80+ G18S rDNA 536bp, ML / BI, K80+ G

Conclusões do estudo

• Elevada prevalência de Trichuris sp. para ambas as espécies

• Os ovos do parasita dos macacos agrupam-se juntamente com a variante do porco em termos de análise de cluster

• As análises filogenéticas sugerem a existência de uma espécie nova nestes macacos altamente ameaçados

• Alta diversidade genética nesta variante

QUAL O RISCO SE O PARASITA ULTRAPASSAR A BARREIRA DA ESPECIFICIDADE?

RECOMENDAÇÕES1. Estabelecer um sistema de vigilância epidemiológica na GB que congregue os três

domínios da Saúde: Humanos, Animais e Ambiente;

2. Criar sinergias científicas em consórcio que envolvam o INASA, INEP, Direcção Geral de Pecuária, Direcção Geral do Ambiente, IBAP e universidades;

3. Integrar as Ciências Sociais num estudo alargado sobre as percepções que as comunidades têm sobre a doença, o contágio e a infecção contemplando as suas práticas culturais;

4. Estabelecer um fundo para monitorização em áreas e modelos sentinelas;

5. Identificar e mapear todas as zonas “hotspot” em risco zoonótico emergente e negligenciado;

6. Criar uma comissão nacional de aconselhamento em termos de educação e operacionalização que faça a ponte com os organismos regionais e internacionais

Considerações Finais

”CORRE!—grita a rainha! CORRE ALICE! Na minha terra, replicou Alice ainda ofegante, quem corre como nós corremos chega sempre a um ponto diferente de onde partiu. Deve ser uma terra muito lenta essa, comentou a Rainha. Aqui é preciso correr como corremos para ficar no mesmo ponto. Para mudarmos de lugar seria preciso que corressemos o dobro."— Lewis Carroll, in Alice por trás do espelho (1872)

Leigh Van Valen(1935-2010)Hipótese evolutiva da Rainha de Copas

Agradecimentos

•Dr. Jana Petrasova, VFU- Republica Checa

•Braima Vieira, assistente de campo

•IBAP pela colaboração e apoio

•Todos os guardas do Parque Nacional de Cantanhez

•AD- Acção para o Desenvolvimento

•VFU-Departmento de Parasitologia/ Rep. Checa

•Direcção Geral de Florestas e Fauna

rms@uc.pt

Muito obrigado pela atenção!