o bEIjO qUEEr de mInhAs IdEIAs-ArAnhAs

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aqui não tenho de onde começar se não da ideia de que todo pensar sempre é a tentativa de destruir a ordem de deus, seja a da produção (espetáculo, mercado, capital) seja a do desejo (única sexualidade, única libido, de estrutura forte, discriminante e centrada na materialidade do corpo eleito como normal). desse modo o ‘pensar’ acontece como o ‘viver formas de vida’, de tal modo que nos obriga a re-pensar a criação (arque-genealogia) e a natureza (moral, política, epistemológica, etc.) dos conceitos; onde uma forma de vida necessita de um trecho da visão de outra(s) forma(s) para criar um horizonte/contexto/rede/ecossistema de organização vivencial/afetivo/intelectual. e, é exatamente na tentativa de apreender uma forma de vida em um de seus trechos de visão é que se pode transmitir pensamento, dialogar. fora disso o pensamento se encontra em toda parte, exceto no próprio pensar.

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  • o beijo queer de minhas ideias-aranhas lo pimentel, amante da heresia, outono, 2015

    pensar

    aqui no tenho de onde comear se no da ideia de que todo

    pensar sempre a tentativa de destruir a ordem de deus, seja a da

    produo (espetculo, mercado, capital) seja a do desejo (nica

    sexualidade, nica libido, de estrutura forte, discriminante e

    centrada na materialidade do corpo eleito como normal). desse

    modo o pensar acontece como o viver formas de vida, de tal modo

    que nos obriga a re-pensar a criao (arque-genealogia) e a

    natureza (moral, poltica, epistemolgica, etc.) dos conceitos; onde

    uma forma de vida necessita de um trecho da viso de outra(s)

    forma(s) para criar um horizonte/contexto/rede/ecossistema de

    organizao vivencial/afetivo/intelectual. e, exatamente na tentativa de apreender uma forma de vida em um

    de seus trechos de viso que se pode transmitir pensamento, dialogar. fora disso o pensamento se

    encontra em toda parte, exceto no prprio pensar.

    pensarpoltica

    h um pensarpoltica, no uma poltica do pensar ou um pensamento poltico. pensarpoltica a forma

    dominante de uma forma de vida obrigatria onde o que ali se pensa no tem como funo o pensar mesmo.

    um pensar em prticas e com determinados cdigos que entra no design do poder como o pensar

    promovido pelos meios de comunicao de massa (pensars isto ou no pensars nada) e produzidos pelos

    meios de circulao e ensino do pensamento especializado das universidades (pensars isto ou no h o

    que pensar). um pensar que faz de todo pensamento, fala e discurso, tecnologias de normalizao e

    controle das formas de vida administrao e gesto calculada do pensar como um regime-pensamento

    direcionado para a indiferenciao e para a neutralizao. tecnocracia destinada a produzir pensares sem

    pensamentos. fora desse clculo em administrao e gesto, o que h pensares anormais, pensares

    variantes, pensares queers pois para estes, pensar viver como forma(s) de vida(s) e travestismo(s)

    afirmativo(s) que reduplicam o ser como potncia(s) poltica(s).

    transpensar

    transpensar a insurgncia do pensar sobre o pensarpoltica. insurgncia contra qualquer pensar

    totalizante da histria, da realidade social, da cultura, da linguagem e dos fenmenos subjetivos.

    insurgncia contra as tendncias que universalizam de imediato sua criao/inveno/composio de

    pensamentos. se o pensarpoltica quer se assegurar como lugar estrutural de desdramatizao (ocultamento

    dos conflitos de interesse em todos os nveis), o transpensar se move com explosivos pronto para qualquer

    imploso. prontido esta que se compe como peculiares ironias de prticas artificiais (o artificial no o

    oposto do natural, mas sim o mais natural do natural), desidentificao (transbordamento da identidade pelas

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    suas margens), identificaes estratgicas (desnaturalizar diferenas identitrias), desvios (mimese desviada,

    pardia, performance, margens) e desontologizaes (liberar pontos fixos que interrompem a liquidez, o fluxo,

    a incerteza, o acaso, a aposta e a circulao do psquico, do sexual, do pensar).

    transpensamento

    um transpensamento uma criao/inveno/composio desde um conflito reflexivo dramatizado (nada de

    melodrama) entre o sujeito deslocado da enunciao cientfica, com a multiplicidade de sujeitos possveis que

    insurgem contra os saberes/vidas sujeitados/as. um gesto experimentao (crua e, muitas vezes,

    indigesta) e ao risco (dual e antagnico). linha de fratura que desafia operando transfiguraes. variante e

    instaura outras ordens de materialidade, como por exemplo, uma linguagem/manifesto/ao queer que

    desmistifica conceitos, que desontologiza sujeitos da poltica, e nos alerta sobre a sobremitificao de mitos

    usados, tanto pela cultura nativa quanto pela cultura globalizada, para fins de oprimir corpos e ideias. no

    preciso ser especialista, ou fazer parte de um grupo privilegiado, ou ainda, ter qualquer espcie de pacto

    social ou de gueto, para ser capaz em ter sucesso no deciframento de tal criao/inveno/composio. mas

    preciso um determinado esforo reflexivo, um engajamento epistemolgico. no entanto, vlido lembrar

    que um transpensamento no est condenado nem ao silncio, nem ao calar-se foradamente, mas sim a

    uma surdez voluntria que atua como violncia da coisificao preconceito cnico do fazer desaparecer.

    surdez esta que estigmatiza o transpensamento com uma resistncia importao, tratando-o como

    imigrante clandestino e ainda, reduzindo-o, antropolgica e etnologicamente, expresso de minorias

    exticas e condenadas circulao de guetos.

    trs exemplos

    [1] o famoso aforismo einsteniano deus no joga dados (gott wuerfelt nicht) adquire, em portugus, um

    significado ainda mais profundo que o pretendido. einstein quis dizer que os dados, isto , pedras de jogar,

    no so prottipos dos fenmenos da natureza, porque esta obedece a regras preestabelecidas. em

    portugus surge o segundo sentido de dados como matria-prima do conhecimento. menciono isto a ttulo

    de curiosidade, como exemplo de uma ironia (quem sabe sabedoria?) espontnea da lngua. vilm

    flusser (lngua e realidade, 2007)

    [2] a sexualidade muito comparvel s lnguas. aprender outra sexualidade como aprender outras

    lnguas. e todo mundo pode falar as lnguas que quiser. h apenas que aprend-las, igual sexualidade.

    qualquer um pode aprender as prticas da heterossexualidade, da homossexualidade, do masoquismo...

    paul b.preciado (manifiesto contrasexual, 2002)

    [3] in my language (video) de amelia baggs: the first part is in my "native language," and then the second

    part provides a translation, or at least an explanation. this is not a look-at-the-autie gawking freakshow as

    much as it is a statement about what gets considered thought, intelligence, personhood, language, and

    communication, and what does not. (2007)