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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1470
Setembro/2013
João Câmara
Novas Tecnologias e Formas de Produção Garantem Renda e Soberania Alimentar
Na comunidade Matão de Jó, localizada no
município de João Câmara, vive uma população que tem
a maior parte de sua renda retirada da agricultura
familiar. Com maioria de agricultores e agricultoras, a
comunidade tem diversas experiências de produção
agroecológica de alimentos, de onde sobrevivem essas
famílias.
Maria Ivone e Ideval desenvolvem nessa
comunidade, há dez anos, uma experiência de produção
que é a maior fonte de renda da família, além de garantir
a sua soberania alimentar. Com uma plantação de hortaliças, frutas e plantas medicinais, desenvolveram uma
forma de plantio que, sem o uso de agrotóxico e respeitando o “tempo de descanso da terra”, vem crescendo a
cada dia com qualidade e respeito ao meio ambiente.
Maria Ivone diz que plantam de tudo um pouco: espinafre,
quiabo, couve flor, rúcula, acerola, goiaba, laranja, mamão, limão
e graviola, que é para o consumo da família. Embora em sua casa
more só o casal, que aguardam com muita alegria seu primeiro
bebê, os dois moram próximo de seus familiares e compartilham
entre si o que produzem.
A maior parte do alface, coentro e cebolinha produzidos,
são vendidos na feira de João Câmara, que sedia todos os
sábados uma feira tradicional da cidade, onde algumas
comunidades participam. Para ele e ela, os sábados começam
bem cedo. Maria e Ideval acordam as 2:30 da manhã e seguem
Maria Ivone e Ideval da Silva
‘’Quebra-vento de cebolinha’’
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte
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para feira.
Maria, que tem 27 anos e esta grávida, ao contar
da dedicação que tem com a horta, relata que é preciso
molhar as hortaliças pelo menos duas vezes ao dia, sendo
uma pela manhã bem cedo, em torno das 5 horas da
manhã, e a outra no final da tarde. Quando está mais
quente, tem que aguar três vezes, uma vez de manhã, ao
meio dia e no final da tarde, diz Maria.
O que chama atenção é que juntos, Maria e Ideval,
desenvolveram alternativas que facilitam o seu trabalho
produtivo, como o que chamam de “quebra vento”, que é
Realização Patrocínio
uma forma de plantar a cebolinha em fileiras, beirando todo o canteiro de alface e coentro, cujas folhas são mais
sensíveis ao vento e são protegidas pelas folhas mais duras da cebolinha. Além disso, deixaram de ter um
espaço só para as cebolinhas, passando a economizar água, pois a mesma água que molha o alface e o coentro
serve para cebolinhas, que, como “quebra vento”, se vê espalhada nas plantações.
Para plantar as cebolinhas, Maria e Ideval, utilizam o seu “tronco”, que quando colhidos para vender não
são jogados fora, mantendo um “banco de tronco” para ser reutilizado. Ao perguntar por que eles não compram
sementes de cebolinha, rapidamente respondem: “Semente! Semente demora demais, e aqui aproveitamos
tudo!”
Além disso, alguns instrumentos e tecnologias de trabalho, como o Ciscador e o separador de terra,
foram inventados por eles, de um tamanho e modelo adequado para a plantação que tem. É a criatividade de
camponeses e camponesas servindo para facilitar seu trabalho e criar alternativas sem criar dependência de
equipamentos de fora.
Maria e Ideval, são um
exemplo de que é possível gerar
renda, garantir a soberania alimentar
e conviver de forma sustentável com
o meio ambiente. A dedicação e as
iniciativas do casal, desenvolvendo
n o v a s f o r m a s d e p l a n t i o e
instrumentos de trabalho são um
estímulo para os povos do semiárido.
‘‘tronco de cebolinha’’
Maria e seu Ciscador inventado por eles