Nota técnica | CONTENSÃO DE EROSÃO COSTEIRA

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CONTENSÃO DE EROSÃO COSTEIRA – em busca de uma tecnologia.

Prof. Dr. Carlos A. M. dos Anjos1

As obras de contenção possuem por meta o combate aos efeitos danosos,

protegendo a propriedade e o patrimônio, seja ele público ou privado. Para tal, projetam

estruturas com capacidade de reagirem contrariamente às diversas solicitações de

esforços. Para ter sucesso, as reações oferecidas necessitam, pelo menos, anular as

forças de solicitações presentes no componente indutor do perigo, do risco ou do dano.

Grupos de pesquisadores, os mais diversos, têm desenvolvido esforços para

compreender e o fenômeno. Mas a escala temporal em que se processa o evento é

díspare da escala temporal dos processos de observação direta pelo homem. Tanto é,

que o último período geológico e nesse sentido, o mais recente – o Quaternário – possui

mais de 1.000 anos. Isto dificulta o conhecimento do modelo fenomenológico,

implicando no desconhecimento da intensidade, da duração e da freqüência em que

determinados fenômenos ocorrem, principalmente de forma associada e com efeitos

sinergéticos, a exemplo de ventos, tempestades de ondas, direção das correntes

marinhas, fase da lua, chuvas torrenciais e volume de partículas em suspensão. Diante

de tal situação, a costa brasileira tem sido alvo de processos erosivos em vários trechos.

Assim, e pelo desconhecimento preciso das causas e, conseqüentemente, o

desconhecimento do modelo fenomenológico, se tem projetado estruturas cujos

componentes de reação não se encontram a altura da magnitude dos esforços existentes.

Dessa forma, se tem projetado contenções de erosão costeira através de

diversas tecnologias, a exemplo de enrocamento da praia com pedras graníticas,

proteção da linha de costa com gabiões e com muros de pedra e alvenaria, implantação

de cortinas de estacas-pranchas, ou estacas-de-concreto, implantação de estruturas

dissipação de energia das ondas através de “escadarias”, espigões de rochas graníticas

como barreira à hidrodinâmica local, engorda artificial da praia, etc. Essas tecnologias,

até pelas suas diferenças de concepção, induzem igualmente a diferentes resultados.

Algumas atendem ao objetivo da proteção ou da contenção com mais eficiência que 1 Geólogo pela UFPE em 1974, Especialista em Recursos Hídricos pela UFAL em 1988, Mestre em

Engenharia Civil/Geotecnia pela UFPB em 1992 e Doutor em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP

em 1999. Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde lecionas as disciplinas de Geologia

Geral e Mapeamento Temático.

outras, mas praticamente todas se deparam com problemas de operação, principalmente

no que tange a sua vida útil, às necessidades de manutenção, aos custos dessa

manutenção, à disponibilidade de materiais para alimentar a manutenção – já que as

jazidas de materiais são finitas, etc. Necessitam ainda atender alguns pressupostos

ambientais como a acessibilidade à praia, a harmonia da paisagem e não permitir a

formação de vetores (comuns nos enrocamentos e nos gabiões) como ratos, escorpiões,

baratas, etc.. Um terceiro eixo que a obra deve atender refere-se à recomposição natural

do perfil praial.

Pelas observações realizadas na costa alagoana, de todos os projetos

voltados a contensão de erosão, apenas um tem se mostrado adequado. Trata-se do

barra-mar dissipador coma tecnologia Bag Wall. Foi inicialmente implantado na praia

de Boqueirão, município de Japaratinga em uma extensão de 300 metros e, mais de 9

anos depois mostra uma engorda natural da praia em toda a extensão da obra e sem se

observar nenhum reflexo negativo nas circunvizinhanças. Posteriormente, na praia de

Ponta Verde, município de Maceió, foi implantada outra obra similar com uma extensão

de 150 metros que, atualmente já com 9 anos, igualmente recompôs o perfil praial. Na

Ilha de Santa Rita, praia do bairro de Barra Nova, município de Marechal Deodoro/AL,

foi também implantado o Bagwall com extensão de 1.250m, com 4 anos de construído,

se mostra também em processo de engorda natural. Por último foi implantado na Ilha de

Santo Antônio, município de Barra de Santo Antônio, com extensão de 1.000 metros e 1

ano de construído, também apresenta claros sinais de um processo de engorda natural.

A tecnologia Bag Wal tem por características a sobreposição de blocos de

micro-concreto. Esse material é todo preparado no local através de misturadores e de

betoneiras e posteriormente bombeado para geoformas biodegradáveis que, após a cura

do material, mostra uma capacidade de carga superior a 12 mPa. Cada bloco confinado

em uma geoforma adquire um peso total da ordem de 2,4 ton, o que vem conferir

elevada estabilidade ao conjunto, que tem sua fundação abaixo da cota de menor maré.

Isto permite eliminar as tensões de sucção existentes no refluxo dessas marés. Através

da geometria em degraus, o conjunto mostra-se harmonioso com a paisagem e permite o

fácil acesso à praia. Sua forma côncava, simulando pequenas enseadas, permite que as

ondas não incidam apenas de forma frontal, dissipando sua energia ao tempo em que se

espraiam ao longo de cada degrau. À medida que as ondas perdem energia, depositam

as partículas de areia então em suspensão. Com isso, inverte-se o processo. O ambiente

tipicamente de erosão passa a ser eminentemente de deposição.

A tecnologia é originaria da costa leste da Califórnia, onde o Bag Wall já se

encontra normatizado, tem vida útil média de 50 anos, exigindo manutenção apenas a

cada 10 anos.