Post on 18-Jan-2019
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FACE À VIOLÊNCIA FAMILIAR E SUAS INTERFERÊNCIAS NO ÂMBITO DA ESCOLA
MONIQUE BORDALLO DA COSTA SOUZA
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
A Orientação Educacional face à violência familiar e suas interferências no âmbito da Escola.
por
MONIQUE BORDALLO DA COSTA SOUZA
Trabalho de conclusão de curso de pós graduação apresentado ao curso de Psicopedagogia da Universidade CândidoMendes como requisito parcial para obtenção do título de Psicopedagoga.
Universidade Cândido Mendes
1º Semestre/2003
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
MONIQUE BORDALLO DA COSTA SOUZA
A Orientação Educacional face à violência familiar e suas interferências no âmbito da Escola.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Psicopedagogia da Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do título de psicopedagoga.
Aprovada em _________ de ________________ de 2003.
Conceito: __________________ (_____________)
"Se bastasse a canção da esperança Para inundar de alegria A tristeza de nossas crianças De cantar morreria Mas quem sou eu? É preciso muito mais Gente cantando..."
(Eros Ramazzotti / Piero Cassano)
DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus que, além de me dar a vida, nunca me deixou sozinha. Aos meus pais, irmãos e amigos que me incentivaram, me ajudaram e me proporcionaram entender o verdadeiro sentido de amarmos uns aos outros, e o quanto isso é importante para que a vida valha a pena.
AGRADECIMENTO
Gostaria de agradecer em primeiro lugar a Deus por estar, com certeza, me abençoando em todos os momentos da minha vida e a todos aqueles que me auxiliaram na elaboração desta obra.
A meus pais pela força, carinho e compreensão em todos os momentos da minha vida.
E a todas as minhas amigas: Simone, Denise, Tatiana e Angélica.
A todos, dizer obrigada é muito pouco; eu simplesmente AMO VOCÊS!!!
EPÍGRAFE Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do altíssimo. Deus está no meio dela; não será abalada: Deus a ajudará ao romper da manhã.
(Bíblia Sagrada - Salmo 46. 1 a 5)
CREIO NA EDUCAÇÃO Creio na educação porque humaniza os homens, busca o novo, é geradora de conflito preparando para a cidadania. Creio na educação porque acredito na pessoa humana sujeita de sua história, capaz de transformar e construir relações de vida. Creio na educação que, quando libertadora, é caminho de transformação, é caminho de construção de uma nova sociedade. Creio na educação que promove a pessoa, transforma e socializa, que educa, criticamente e democraticamente. Creio na educação que é um processo de libertação, levando o ser humano a conhecer a si mesmo e ao outro. Creio na educação porque creio no carisma de todo educador da fé. Creio, também, na sua consciência de ser um eterno aprendiz. E assim sendo... Creio na educação como um processo permanente que acompanha o ser humano em toda sua existência.
(Autor desconhecido)
RESUMO O presente trabalho aborda a importância do trabalho do Orientador Educacional com
a família e a escola, mostrando que apesar dos obstáculos, é necessário fazer com que os pais
participem mais da vida de seus filhos, para que haja um maior e melhor desenvolvimento dos
mesmos.
Quando a família participa da educação das crianças, elas podem sair-se muito melhor
na escola e na vida. Porém, quando existem casos de violência familiar, a criança apresenta
um baixo rendimento escolar e depressão por causa da ausência ou dos maus tratos dos pais.
Neste caso, se faz necessário o Orientador Educacional em parceria com os
professores, desenvolver atividades dentro da escola para que os pais participem ativamente
da vida de seus filhos em todo o processo desenvolvido na escola, pois quando os pais se
prestam a participar, melhor é o desenvolvimento do aluno; este ganha segurança, maior auto-
estima e melhor desempenho acadêmico .Além disso, esta parceria ajudará a afastar as
crianças das drogas e da violência e precisa ser permanente, transformando as escolas em
centros comunitários de cultura, esporte e paz.
A unidade escolar precisa assumir-se como espaço livre e de cunho democrático,
integrando todos os aspectos da atividade humana, além de sua dimensão política,
contribuindo para formação da consciência crítica da população. O Orientador Educacional é
o profissional de educação, no contexto da escola, que por vocação e por força do ofício,
dinamizará essa ação democratizadora.
INTRODUÇÃO
Estamos convencidos da importância da família na vida de cada ser humano. A família
é o primeiro grupo do qual o indivíduo faz parte. É nela que aprendemos as primeiras lições
de vida, pois é ali que acontecem as relações mais íntimas e de fácil convivência da criança. A
família é, e deve ser, o espaço onde a criança tem seus direitos fundamentais (abrigo, afeto,
alimentação, saúde e educação) garantidos.Uma família bem estruturada gera indivíduos
saudáveis, alegres. Por outro lado uma criança que vive em uma família de pais separados,
pais que trabalham muito para o sustento da família, se ausentam e não dão assistência a seus
filhos, pais que violentam seus filhos, que obrigam seus filhos a trabalhar cedo para ajudar a
família dificultam o bom desenvolvimento dos filhos. Muitas dessas crianças, por não terem
um acompanhamento dos pais, acabam até mesmo se envolvendo com drogas, o que
contribuirá para o baixo rendimento escolar, a repetência e a evasão.
Neste caso, a falta de ética é motivo para a reflexão, pois os casos que citei, e aqueles
que não citei, são praticados em sua maioria pelos adultos. Ou seja, aqueles que possuem as
melhores condições para compreender o que é uma ação livre, consciente e responsável.
Se a violação dos Direitos da Criança e do Adolescente está ocorrendo, será que a
nossa família perdeu a noção de responsabilidade? Ou será que a violência está imbutida nas
ações e é algo aceitável e tolerável?
Portanto, cabe ao Orientador Educacional trabalhar de forma interativa, tendo como
objetivo fazer com que os pais tomem conhecimento da proposta pedagógica desenvolvida,
facilitando, desta forma, a participação dos mesmos.
O conhecimento da família do aluno é indispensável para a eficácia do trabalho
escolar. Por isso o Orientador Educacional deve estar atento a todos os aspectos da vida do
aluno, propondo medidas que possam sanar e/ou minimizar possíveis problemas.
Segundo ARIÉS ( 1979:11).
Houve uma evolução na mudança de atitudes em relação à família ao longo dos séculos... A condição do surgimento da família nuclear, da escola e do sentimento de infância, traz um novo ângulo de análise para a função que desempenham aquelas instituições, contrapondo-se aos que sempre existiram e existirá com uma mesma estrutura e com funções determinadas.
Para que haja um bom entrosamento família/escola, tem que haver uma constante
troca. Por isso, o Orientador Educacional pode ajudar na elaboração de reuniões, festas
folclóricas, feira integrada, comemoração do dia das mães, etc., para que os pais, alunos e
professores possam se conhecer melhor ,trocar idéias , solucionar possíveis dúvidas e até
avaliar o desempenho do aluno,pois a sua participação nas atividades aludidas facilita o
conhecimento de familiares do aluno e os relacionamentos entre eles , e será elemento
importante no processo de minimizar as crises e facilitar um melhor desempenho acadêmico.
1. CONTRIBUIÇÃO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Você pode fazer a diferença ( PILETTI,1998 ,106)
PILETTI, mostra em seu livro a história de Cláudio Benvindo Barbosa, aluno da
oitava série do primeiro grau da Escola Municipal de Primeiro Grau Professor Antônio
Sampaio Dória, São Paulo. Depoimento apresentado no fórum de Educação do Estado de São
Paulo, promovido pela secretaria de Educação em agosto de 1983.
Eu quero estudar!
Em salvador, eu já estava na terceira série, numa escola particular, mas por problemas de família, minha mãe teve que ir para São Paulo; deixou a gente lá e depois de um ano foi buscar. Quando a gente chegou aqui, eu tinha 8 anos, mas não tinha documento nenhum da escola e eu tive que fazer tudo de novo. Aí a gente mudou para o Jardim Miriam e eu entrei no Sampaio Dória em 1975, na terceira série. Quando eu estava na sexta série, em 1978, eu saí da escola; precisei trabalhar porque as coisas lá em casa não estavam boas. Na época era mais importante o dinheiro dentro de casa, do que o estudo na minha cabeça. O único emprego que arranjei foi numa padaria, até às 10 da noite e não existia sexta série de manhã. Quando estava chegando a época do exército, eu perdi o emprego. Fiquei sem emprego e sem estudo. Tava na vida de “vagal”. O pessoal não dá emprego enquanto a gente não tiver quites com o exército, então os patrões mandam embora antes da época do alistamento. Ninguém me aceitava mais na escola e eu comecei a ficar na porta da escola e no barzinho que tinha lá perto, jogando pebolim. A escola já não ficou sendo importante, mas todo dia eu ia pra porta da escola, pra bagunçar e ver as menininhas e, durante o dia, o Professor Antônio Carlos deixava eu participar das aulas de física. Depois de um certo tempo eu conheci uma turma que curtia drogas e essas coisas... Eu não tinha nada pra fazer e comecei a entrar na deles. Eu não sei se por fuga ou, por não ter nada pra fazer. Sei lá! Eu sei que além de minha curiosidade, sabe? Sei lá, todo mundo falava que ia ser melhor, que eu não ia me preocupar muito com a vida e esse papo todo... que a gente ia ficar numa boa... Aí, sim, é que começou a minha fama de marginal e esse papo todo; e o pessoal da minha escola não queria que eu ficasse perto da escola. Depois de mais ou menos um ano, eu comecei a ver meus colegas pegarem diploma. Aí eu ficava com inveja, sabe? O que eu mais queria era também pegar um diploma e eu ficava do lado de fora da escola, perturbando, fazendo com que as pessoas me observassem, vissem que eu estava lá fora e queria entrar. Só que com aquela fama, a escola não me queria mais e eu não tinha como sair dessa. Como eu não podia nem chegar na secretaria e falar “Poxa! Eu quero voltar!Eu quero estudar!” a minha forma de me expressar era bater na molecada, zoar mesmo. Mas eu fiquei com mais bronca quando começou a ter polícia lá dentro. “Todo mundo estuda, eu não estudo.” Não podia nem curtir a escola. A polícia corria, eu corria e aí eu chegava lá e metia bronca mesmo. Nego falava comigo e eu já
metia o pau, e mais para mostrar pro pessoal que ninguém é dono da escola. Em 1980, o pessoal da Paróquia do Jardim Miriam, mais a Neide, Orientadora Educacional lá do Sampaio e a Alair, a Diretora, resolveram fazer um encontro de jovens lá. Eu fiquei sabendo desse encontro no sábado, sabe? E ninguém tinha me dado toque de nada. Sei lá. Eu aí pensei comigo: “Vou entrar nessa escola e aprontar o diabo lá dentro”. Quando eu cheguei, todo mundo já estava lá dentro. Eu meti o cabeçote no vidro da janela e aí a Neide chegou lá fora e falou: “Você não quer entrar? e não sei o quê...” nem sei o que respondi; sei que entrei, né? Lá dentro, o pessoal começou a discutir o que era o mundo de hoje, o que tava acontecendo. Política, amor, sexo... tinha um monte de coisas, né? No começo eu sentei e comecei a observar. Aquilo tudo começou a me interessar, sabe? Porque de repente não era um encontro para cantar hino de igreja; eles tavam discutindo a realidade, o que aconteceu comigo lá fora, o que tava acontecendo com eles dentro da escola e o que tava acontecendo no mundo: Como a gente via o mundo”. Eles estavam se preocupando com a vida de cada um. Eu comecei a me interessar. A gente fazia dramatização, interpretava tudo o que a gente já tinha discutido. Comecei a participar desses encontros e dos outros que foi tendo. A gente fez o encontro, mas não podia parar ali e então foi tirado um outro grupo dos mais interessados, dos jovens da Paróquia e a direção, que era para discutir o trabalho dentro da escola. Então era assim: a gente formou um grupo dentro da escola que era para dar continuidade ao trabalho, pra pôr em prática tudo aquilo que tínhamos discutido. Dessa reunião, foram surgindo grupos: de teatro, de saúde, de esportes, de monitores, de música... para trabalhar dentro da escola. Nessa época eu ainda não estava estudando, mas eu ainda participava quando a Orientadora estava lá. O Paulo, o João, o Valdo... ficaram meus amigos e faziam esses trabalhos dentro do Centro Cívico e eu dava a maior força para eles. Mas algumas pessoas da escola não gostavam muito, porque é o seguinte, sabe? De repente, eu era o marginal, um bandido dentro da escola e se eu ficasse ali, outros iam querer entrar e eles pensavam: “O que é que vai virar isso aqui?” Aí então a Orientadora formou um grupo de monitores que era para trabalhar. Era assim: dar aula de educação física para as crianças e outros alunos, para ficar ajudando dentro da sala de aula. Isso, mais tarde, não foi aceito por alguns professores porque os alunos acabavam gostando mais dos monitores, ainda mais que tinha alguns professores que batia nos alunos e os monitores ficavam sabendo. A presença do monitor evitava isso e, logicamente, o monitor tava atrapalhando esses dois ou três professores. Os monitores que davam aula de física eram mais gente como eu, que tava fora da escola e não tinha problema porque era no pátio e os professores até gostavam. Antes disso, a gente era considerado marginal por causa da bagunça que a gente fazia. Ninguém queria saber o por quê e nem como. Simplesmente a gente era marginal, bandido e esse papo todo. Pra gente, que ia ser monitor, foi dada uma orientação: livros pra gente estudar a respeito de educação física e alguma orientação do professor, e depois, pra cada grupo novo que era formado, tinha um professor coordenando.
Além disso, toda semana a gente fazia uma reunião que era pra fazer um balanço geral a respeito de tudo que tava acontecendo. A gente fazia crítica, via onde a gente tava errando e às vezes a gente colocava até mesmo a parte íntima pra fora. A gente se emocionava, a gente era sincero – e quase nunca existe sinceridade entre as pessoas. Lá a gente era sincero e tudo e a gente ajudava um ao outro. Se um tinha facilidade pra uma coisa e o colega do lado não, a gente ajudava. Cada pessoa tem um jeito de ser e se encontrava dentro de um grupo. Por exemplo: se eu me identifico dando aula de educação física, tudo bem; aí eu me identifico fazendo teatro, tudo bem... Porque foi sempre a educação feita da seguinte forma, né? O professor pega os livros, dá a matéria e não quer saber se o cara tem condições de receber tudo aquilo. Como que ele vai passar tudo aquilo para a realidade, né? O Antônio, por exemplo, podia ser inteligente pra tirar nota, mas pra se soltar, pra fazer as coisas, ele não sabia como, e os trabalhos tavam despertando nas pessoas até o lado profissional de cada um, o lado sentimental. Aquilo fazia com que os alunos e os que estavam fora se sentissem úteis dentro da escola, a gente sabia que podia dar alguma coisa da gente. Então é o seguinte: não era uma coisa determinada por ninguém, foi discutido por todo mundo, ta? Depois de tudo isso, o pessoal começou a adquirir um pouquinho de confiança em mim e eu nas pessoas. Eu mostrando que era útil e mostrando que não era aquele marginal que as pessoas estavam vendo, né? Quando começaram a me conhecer um pouco, a orientadora que mais convivia com a gente e que pegou mais confiança foi conversar com a Diretora para saber se eu podia voltar a estudar. Alguns não queriam do mesmo jeito, acho que eles tinham medo, mas a Diretora apoiava o trabalho e eu acabei sendo aluno de novo.
A breve história transcrita tem um valor irrefutável e investiga a várias reflexões e sugestiona questionamentos e tomadas de decisões. Mas também serve para demonstrar a
importância de todos os elementos no processo educativo. Porém, há uma figura que salvaguarda todo esse meandro. Trata-se do O.E. que não apenas deve ficar em seu gabinete,
uma vez que não leciona em sala de aula, mas que tem uma amplitude muito grande no caminho educacional.
A função da Orientação Educacional surgiu de uma necessidade de fora da escola. Por
volta de 1924, em São Paulo, seguindo moldes americanos e pela necessidade de implantação
de um serviço de seleção e ajustamento dos educandos à nova política de ensino voltada para
o trabalho. Portanto, a profissão de O.E., isto é, seu espaço dentro da instituição na qual foi
implantada por força de lei; como bem registra Regina Leite Garcia em seu livro Uma
orientação educacional nova para uma escola nova: “Instituída por lei implementada por lei
invade arbitrariamente o contexto escolar, mascarando o autoritarismo através de um discurso
liberal”, GARCIA. 1995. p.98.
A partir da promulgação da lei, um novo quadro se esquadrinhou no cenário escolar:
não se pode mais conceber um processo educativo sem a presença do O.E. Se em um
determinado momento ele surgiu como imposição, agora sua implantação é total, não se
admitindo sua ausência.
A legislação educacional nacional encontra-se sintetizada na Lei Federal nº 9.394/96
que rege toda a Educação Brasileira. Inserida em seu contexto, está o artigo nº 64 que
regulamenta a Orientação Educacional. Há também referências à profissão nos instrumentos
legais: Parecer CEB. Nº 10/97 – C.N.E. MEC Resolução CEB Nº 03/97 – C.N.E. MEC.
O breve histórico legislativo sobre a profissão do O.E. serve de introdução ao conceito
de que ele é um elemento fundamental na gestão escolar no que concerne o tema desta
monografia.
Segundo nossas investigações, o O.E. está habilitado a interferir no processo ensino-
aprendizagem, contrabalançando a relação entre docente e discente, a partir da observação das
deficiências e competências de ambos.
A função do O.E. deve ser exercida por um pedagogo devidamente habilitado em
Orientação Educacional e com profundo conhecimento de suas atribuições na rotina diária de
uma escola. Ele deve procurar cumprir, dentro das normas legais, as determinações da direção
geral da instituição ao qual pertence. Porém, cada profissional tem a sua bagagem cultural e
seu ideário. Caberá ao O.E. ministrar com sabedoria e imparcialidade seus conceitos e, ao
mesmo tempo, obedecer aos ditames do programa didático-pedagógico predestinado pela
direção da escola.
A Orientação Educacional é compreendida como uma ação que coloca os indivíduos a
par de seus próprios desenvolvimentos, ao estabelecer contatos com os educandos para
realizar a tomada de dados sobre a vida pregressa do aluno: sua condição social, sua
maturidade mental e emocional, o histórico de sua família. O Orientador Educacional
representa a tomada de consciência em relação aos aspectos sócio-economico-culturais do
cotidiano do educando.
A Orientação Educacional tem por tarefa executar seus objetivos que, em última
análise, devem estar concordantes com os princípios da Secretaria de Educação que cada
instituição de ensino recebe para observar e cumprir. Estes são formulados para que sejam
alcançados com maior plenitude e segurança pelo O.E.
A base desses pressupostos pode ser explicitada nos itens a seguir:
• Orientar o educando em seus estudos, a fim de que os mesmos sejam mais
proveitosos;
• Orientar o aluno para melhor ajustamento na escola, no lar e na vida social em geral. É
importante que haja melhor interação entre educando e professor, educando e seus
colegas, bem como educando e seus pais;
• Discriminar aptidões e as ações do educando, a fim de melhor orientá-lo para a sua
plena realização;
• Auxiliar o educando quanto ao seu auto-conhecimento, a sua vida intelectual e a sua
vida emocional;
• Auxiliar na formação moral do educando, atribuindo-o valores éticos necessários para
uma vida digna;
• Trabalhar com o educando para que haja na escola um ambiente de alegria, satisfação
e confiança num clima descontraído;
• Possibilitar aos professores melhor conhecimento dos educandos, oferecendo assim
maiores probabilidades de entrosamento positivo entre ambos e mais adequado à ação
didática por parte dos professores, a fim de ser obtido maior rendimento escolar;
• Auxiliar o entrosamento entre a escola e o educando, com benefícios compensadores
quando à disciplina, formação do cidadão e rendimento escolar.
Em suma, os pressupostos acima elencados devem propiciar a conscientização dos
verdadeiros valores, dos objetivos, dos direitos e deveres do educando com a família, com a
escola, com outros cidadãos, com o patrimônio privado e público, dentro deste último está
incluída a natureza.
Desejamos assinalar que a Orientação Educacional exige a consciência, por parte do
O.E., de que o ato de orientar não é transmitir soluções preconcebidas, mas trata-se do
despertar e orientar o espírito crítico dos professores/alunos.
A Orientação Educacional não visa formar cidadãos para manter determinadas
estruturas sociais e econômicas, mas para transformá-las no sentido de maior humanidade e
justiça, a partir do conceito escola cidadã. Esse desenvolvimento está relacionado à
compreensão de si – suas atitudes, interesses, opiniões, aptidões. E esses itens estão
correlacionados com o seu amadurecimento físico, mental e social. A comunhão de todos
esses elementos formará os seus desejos e expectativas em direção a maior coerência,
integração e auto-direção nas trilhas que aparecerão em suas trajetórias existenciais. Esse
bloco de ações formará as expectativas que favorecerão a atuação de suas escolhas, diante das
possibilidades que aparecerão em suas vidas.
Os objetivos gerais de um O.E., baseados nas premissas ditadas por Regina Garcia,
podem ser listados como sendo:
• Favorecimento de um ambiente propício ao desenvolvimento total do educando,
auxiliando-o na integração social, ou seja, na escola, na família, na comunidade.
• Coordenação de uma ação conjunta e responsável com a equipe docente para verificar,
avaliar e orientar no processo de avanço de dificuldades de aprendizagem e vida em
comunidade.
• Identificação de áreas prioritárias no trabalho da escola voltado para a integração com
a família.
Especificamente, pode-se dizer que a Orientação Educacional deve:
• Dar ao educando significação de vida, com liberdade e responsabilidade social. Em
outras palavras: é preparar o aluno para a vida social, pensando que esta seja justa,
igualitária e cidadã.
• Estimular intelectualmente o aluno. A valorização do aspecto cognitivo com vistas à
formação pessoal e para o trabalho.
• Integrar escola/comunidade.
Em síntese: verificamos que as atribuições educacionais do O.E. são múltiplas e,
portanto, interdisciplinares. Devido ao grau de complexidade de sua atuação ilustrado nos
tópicos acima, podemos, sem modéstia e imparcialidade, afirmar que o O.E. é uma figura
central em todo o esquema escolar. De acordo com essa premissa, podemos acrescentar que
seu ofício educativo se reflete de maneira indissociável no processo avaliativo. Afinal, o
profissional interage o aluno nas instancias psico-física-motoras, no âmbito sócio-cultural
porque deve conhecê-lo intrinsecamente para organizar as orientações (intra e extra muros
escolares), ou seja, na família, na comunidade e, evidentemente, na própria escola.
A prática de Orientação Educacional se pretende mais crítica, questionadora e
colaboradora, num processo de mudança e de transformação. Numa prática educativa
contextualizada, ajuda-se o aluno a agir, pensar, criar e transformar; dá-se possibilidades de
conhecimento e estabelecimento de caminhos que o insiram na competitividade típica do
mundo atual.
A orientação Educacional hoje busca interfaces com outras disciplinas, senão com as
áreas do conhecimento. A interdisciplinaridade se faz presente na práxis de todo educador.
Tal assertiva se multiplica quando se pensa na responsabilidade civil e moral do O.E.
A interdisciplinaridade se desdobra da audição atenta e cordial às vozes dos alunos,
que são exemplos díspares de personalidade, maturidade e capacidade intelectiva. Corpo
docente, staff administrativo, pais e sociedade: todos estão convidados a exercitar a
participação na escola e, por conseqüência, na vida em sociedade do discente.
O pedagogo habilitado em Orientação Educacional é um especialista e deve atuar de
forma flexível e inovadora, colaborando com a administração da escola para oferecer ensino
adequado às necessidades e à realidade de sua clientela. Sua atuação é integradora, visando
aumentar as chances de sucesso e permanência dos educandos na rede escolar. Contribuindo,
assim, para a diminuição do êxodo dos discentes e do aclamado fracasso escolar brasileiro.
O olhar do Orientador Educacional nesse processo deve ser facilitador do diálogo em
vários momentos o de viabilizador, seja em qual for o nível de instrução (educação infantil à
universidade) da inserção do aluno na vida adulta de modo participativo, portanto politizando-
o para agir na sociedade em que vive.
Deve o O.E. trabalhar do acordo com o Projeto Pedagógico de sua unidade escolar,
cooperando com os professores, para que estes colaborem e reelaborem suas perspectivas
educativas. Todo o corpo docente deve reconstruir no aluno a significação cultural e histórica,
isso se refletirá, certamente, na transformação social do homem.
Deve também ser um profissional / pesquisador comprometido com a realidade sócio-
político-educacional de seu contexto social, proporcionando ao aluno formação prático-
teórica. A soma destes atos educacionais irá contribuir para uma perspectiva mais crítica da
sociedade, visando sua transformação. O O.E. deve fornecer condições essenciais para a
construção de uma sociedade democrática e solidária.
À Orientação Escolar cabe o papel de garantir uma adaptação equilibrada entre
formação e inserção na vida ativa, contribuindo para a re-qualificação da mão de obra
desempregada e complementando o trabalho desenvolvido pelos sistemas de ensino, no
sentido de proporcionar as qualificações adequadas aos jovens que se encontram nesses
sistemas. Deste modo, a atuação dos sistemas de Orientação Escolar e Profissional deve ser
repensada e adaptada, de forma que estes sistemas possam de fato contribuir para uma plena
integração social dos cidadãos.
Vida, cidadania, diálogo, participação, autonomia, solidariedade, respeito, justiça,
ética, política são palavras de ordem comuns nos dias de hoje em vários aspectos e campos de
ação social. A educação é um dos campos de ação social que, naturalmente, será mais cobrada
quando a sua participação efetiva para que estes ideais, representados naquelas palavras de
ordem, possam ser concretizados.
Que estas palavras não se coloquem apenas isoladamente, mas faça parte do ideário da
escola, como órgão que representa a conscientização da formação e da informação do
cidadão.
O Orientador Educacional é um técnico, uma pessoa, um educador. Como técnico, ele
pesquisa aptidões, diagnostica possibilidades profissionais, usando valiosos instrumentos de
investigação. Como pessoa, ele é indispensável para dialogar; é apoio consciente; permite a
compreensão dos problemas que não só a vida moderna mas também a própria escola trazem
para o educando. Como educador, atua preventivamente, proporcionando atividades que
promovam a integração do aluno consigo mesmo e com o grupo.
O Orientador participa da elaboração do currículo pleno da escola, bem como da
composição e do acompanhamento de turmas e grupos, da avaliação do escolar e do
planejamento das atividades de recuperação da aprendizagem. Participará, ainda, do processo
de integração escola-família-comunidade.
Sendo assim o Orientador Educacional tem a responsabilidade do bom funcionamento
do SOE (Serviço de Orientação Educacional),procurando:
1. Coordenar e dar unidade aos trabalhos realizados com os alunos que apresentam
dificuldades de aprendizagem, informando o corpo docente sobre as reais
necessidades encontradas, buscando soluções cabíveis para melhor desempenho do
aluno.
2. Estudar com os seus colegas de grupo, buscando soluções mais adequadas para um
melhor desempenho dos alunos que possuem dificuldades na aprendizagem ;
3. Procurar manter o clima de bom entendimento entre todas as partes atuantes no SOE
ou interessadas nos trabalhos do mesmo;
4. Elaborar planos de trabalho, com a cooperação dos demais membros e sempre
levando em conta a experiência dos anos anteriores com os seus possíveis resultados
positivos ou negativos;
5. Acompanhar de perto a execução dos planos de trabalho, procurando avaliá-los
continuamente, a fim de prevenir inadequações e possíveis fracassos;
6. Estar sempre atento a todos os aspectos da vida da escola, a fim de propor medidas
que possam sanar possíveis falhas.
O Orientador Educacional é o profissional que se preocupa com a formação pessoal de
cada estudante. Na instituição escolar, o Orientador Educacional é um dos profissionais da
equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu
desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para compreender o
comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a escola, na
organização e realização das propostas pedagógicas; e com a comunidade, orientando,
ouvindo e dialogando com os pais e responsáveis. Professores e Orientadores têm diferenças
marcantes de atuação.
Segundo Mirian Paura S. Zippin Grinspun:
O profissional de sala de aula está voltado para o processo ensino-aprendizagem na especialidade de sua área de conhecimento, como Geografia e Matemática; já o orientador não tem currículo a seguir. Seu compromisso é com a formação permanente no que diz respeito a valores, atitudes, emoções e sentimentos, sempre discutindo, analisando e criticando.(CRINSPUN ,2001,30).
O Orientador Educacional lida com mais assuntos que dizem respeito a escolhas,
relacionamentos com colegas, vivências familiares. A partir disso,
“(...) preconiza-se que o Orientador Educacional assuma funções de assistência ao professor, aos pais, às pessoas da escola com as quais os educando mantêm contatos significativos, no sentido de que estes se tornem mais preparados para entender e atender às necessidades dos educandos, tanto com relação aos aspectos cognitivos e psicomotores, como aos afetivos.” ( LUCK,1988 , 28)
Cada aluno traz a sua bagagem sócio-cultural que precisa ser respeitada e valorizada,
de modo a incentivar o seu pleno crescimento como indivíduo e pessoa.Na escola, quando
todos os setores procuram desenvolver um trabalho articulado, o processo de ensino-
aprendizagem ocorre de forma mais segura e as dificuldades que surgem são mais facilmente
detectadas e, dentro do possível, sanadas.A Orientação Educacional tem nesse contexto a
função de co-participação, procurando estar junto ao professor e demais funcionários, para
que proporcione condições aos alunos de alcançarem com êxito as diferentes etapas do
processo aprendizagem.
A relação professor-aluno pode ser estreitada se o professor for capaz de observar
atentamente e perceber o que se passa com os alunos durante este processo. O Serviço de
Orientação Educacional pode desenvolver, periodicamente, exercícios de observação e
percepção com o professor. Esses exercícios irão ajudá-lo a conhecer melhor os seus alunos,
possibilitando-lhe valorizar os pontos fortes e promover crescimento nos pontos fracos desses
alunos, estimulando-os e, sobretudo, respeitando-os, dentro de suas capacidades e limitações.
O Orientador Educacional ainda pode:
• Proporcionar ao professor dados sobre a realidade sócio-econômica-cultural do aluno,
mostrando-lhe como as influências desse meio-ambiente atuam no desenvolvimento
intelectual e afetivo da criança;
• Transmitir e até oferecer técnicas de desenvolvimento sensorial de autoconhecimento
e de hetero - conhecimento;
• Estimular o estabelecimento de uma atmosfera educacional que valorize o sucesso em
vez do fracasso.
Num trabalho conjunto com o Orientador Pedagógico, o Orientador Educacional
participa de atividades docentes e discentes, trocando idéias e experiências com os
professores, sugerindo estratégias instrucionais, fornecendo documentos e outros subsídios
técnicos, pode colher informações que indiquem deficiências a sanar, potencialidades a
desenvolver, iniciativas a estimular, exemplos a generalizar. Essas atividades poderão ser
informais, mas deverão ser sempre sistemáticas, atingindo todos os professores, embora,
eventualmente, concentrando-se nos elementos novos e naqueles com maior dificuldade de
adaptação às mudanças.
Podemos acreditar que as crenças do professor sobre si e sobre seus alunos são fatores
essenciais para a efetividade de sua atuação em sala de aula. Portanto, as atividades do
professor em relação a si e aos outros são de vital importância, já que atitudes positivas e
realistas sobre si e suas habilidades favorecem ao professor a compreensão, o respeito e
estima ao outro.
Tudo isso, mostra a necessidade de que o professor tenha constante preocupação com
seu desenvolvimento pessoal, com a formação e hábito de refletir sobre si, sobre suas atitudes,
sobre seu relacionamento interpessoal e sobre a necessidade de sempre se auto-avaliar.Não
pode nos esquecer ainda que os pais são elementos indispensáveis na formação dos alunos e
que por isso, precisam participar do processo educacional e receber informações sobre o que
está ocorrendo com seu filho na escola.
O trabalho com a família poderá ser realizado através de reuniões e também através
dos contatos individuais, sempre que necessário. Nas reuniões, os pais terão oportunidade de
conhecer e de se interessar pelos problemas gerais e específicos da educação de seus filhos,
criando-se um clima de colaboração e de compreensão mútua; nos contatos individuais, há
oportunidade de tratar os casos particulares, as dificuldades específicas e as questões pessoais,
proporcionando aos pais e professores uma maior compreensão, na tentativa de melhor
resolver os problemas que os afligem. As reuniões de Pais e Mestres contribuirão para a
aproximação da família e escola.
2. A CRIANÇA E A FAMÍLIA
Família é coisa complicada, várias pessoas vivendo numa casa é sinônimo de
pluralidade reunida. São vários ritmos, desejo, personalidade e de difícil convivência.A
instituição família teve uma importância fundamental na história brasileira. Durante muito
tempo, as crianças não eram ouvidas, nem respeitadas. Com o objetivo de melhorar a
participação delas na sociedade, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou documentos
especiais como a Declaração Universal dos Direitos da Criança.Criado em 1990, o Estatuto da
Criança e do Adolescente teve origem na Declaração Universal dos Direitos da Criança,
assinada na Assembléia Geral da ONU, em 1959, cujo objetivo é garantir proteção às crianças
e aos jovens.
Dentre esses direitos do Estatuto da criança e do adolescente encontramos:
• A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,
humanos e sociais garantidos na constituição e nas leis.
• O direito ao respeito consiste na inviolabilidade de insanidade física, psíquica e moral
da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
• Toda criança e adolescente têm direito a ser criado e educado no seio de sua família e ,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada à convivência familiar e
comunitária, em ambiente livre de presença de pessoas dependentes de substâncias
entorpecentes.
• Aos pais incube o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-
lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as obrigações
judiciais.
• A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.
• É direito dos pais ou responsável ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.
• É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição
de aprendiz.
• A criança e o adolescente têm direitos: a informação, cultura, lazer, esportes,
diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.
Nem todas as crianças têm os mesmos privilégios. Muitas crianças são obrigadas, pela
situação familiar, a trabalhar para ajudar a sustentar sua família, ou são forçadas pelos
próprios pais, que precisam de recursos para sobreviver. A criança que cresce em um
ambiente no qual seus direitos são respeitados, saberá no futuro fazer valer seus direitos e
respeitar os dos outros.
MORAES (1994 ,23 –29)nos mostra como é importante a participação e o amparo
dado às crianças pela família em um clima de bem estar e com uma forte relação afetiva no
interior familiar, para que a criança possa se desenvolver em condições dignas, tornando-se
futuramente um cidadão consciente e crítico, capaz de posicionar-se perante essa sociedade
tão desigual.
Sabe-se que para ter um futuro bem sucedido, a criança necessita de condições
adequadas durante a infância, incluindo a boa relação familiar.
O contexto social é fundamental na definição das características estruturais e
fundamentais da família. Faz parte das funções da família, a transmissão dos valores dessa
sociedade que modela o próprio processo de socialização da criança e seu meio. A função de
suporte físico afetivo social dos membros da família, implica fundamentalmente em permitir à
criança o desenvolvimento de um sentimento de identidade que envolve dois elementos: um
sentimento de pertinência e individualização.
Nos dias atuais, muitas famílias têm sido vítima de problemas que são responsáveis
pela desarmonia entre seus membros, a falta de carinho, atenção, respeito uns pelos outros,
criando um ambiente desfavorável à todos que convivem sobre o mesmo teto.
MORAES (1994) afirma que o futuro bem sucedido de uma criança depende de suas
condições de vida durante a infância, principalmente da boa relação afetiva entre as crianças e
seus pais. Mas, atualmente, como encontramos essa relação?A dura realidade nos mostra que
as famílias atuais estão completamente desestruturadas.
E como ficam as crianças diante dessa situação? Muitas vezes sem pai e,
conseqüentemente, sem mãe, por esta ter que trabalhar o dia inteiro, para a sua subsistência e
a de seus filhos, o que faz com que a criança ou fique jogada nas ruas, sendo criada pela
própria vida, ou fique com a família, ou fique em creches.
O desemprego e a miséria impedem que muitos pais ofereçam boas condições de vida
a seus filhos. O desequilíbrio familiar acontece em virtudes de varias situações, como:
pobreza, separação de cônjuges, desemprego, etc... , levando-a assim a desagregação A
convivência com os pais separados, a falta de presença diária do pai ou da mãe, são
responsáveis por algumas atitudes da criança. A carência afetiva vai desabrochando na
criança, a agressividade, o egoísmo e a falta da presença da mãe, que às vezes é submetida a
deixar os filhos com terceiros para trabalhar e garantir um pouco do sustento da família, e
assim a formação da criança vai se tornando cada vez mais confusa, causando vários
distúrbios e questionamentos na mesma.
2.1 VIOLÊNCIA FAMILIAR
A família representa o alicerce de toda a estrutura da sociedade, as raízes morais e a
segurança das relações humanas. Mas se nos confrontarmos com a realidade da vida moderna,
podemos observar um conjunto de fatores de ordem moral, sentimental, econômica e jurídica
que concorrem para o desvirtuamento do conceito tradicional de família. Na verdade, uma
parcela significativa dos pais está despreparada para orientar seus filhos. Em inúmeras
famílias o modelo de educação mais constante parece ser aquele que inclui a violência física
contra a criança e o adolescente como um de seus métodos.
A violência pode ser entendida como a força material ativa e que causa prejuízo físico.
Também pode figurar aquela circunstância em que uma pessoa impõe o seu poder sobre a
outra através de meios persuasivos e coativos. CAMARGO ( 1998 ), em seu livro Violência
familiar contra crianças e adolescentes, define violência como “um exercício humano de
poder, expresso através da força, com a finalidade de manter, destruir ou construir uma dada
ordem de direitos e apropriações, colocando limites ou negando a integridade e direitos de
outros, sendo acentuada pelas desigualdades sociais. Portanto, deve também ser entendida
como um processo, e não simplesmente como males físicos ou psicológicos, causados pela
materialização da força”.
As relações violentas entre pais e filhos sempre foram enfocadas de maneira cuidadosa
em virtude das conseqüências penais e morais que acarretam para os seus envolvidos, bem
como pelo receio que a sociedade tem de destruir o mito da família indiscutivelmente
protetora e idealizada.A nossa Lei Maior, em seu artigo 226, parágrafo oitavo, afirma que: “O
Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um de seus membros, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.
O ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 5º, garante que nenhuma
criança ou adolescente poderá ser objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, sendo punida na forma da lei qualquer ação ou
omissão que atente contra seus direitos fundamentais. O Título IV, do mesmo Estatuto,
estabelece medidas pertinentes aos pais ou responsáveis do menor. Em casos de violência, as
providências adotadas irão do encaminhamento a cursos e tratamentos especializados até a
suspensão ou destituição do pátrio poder sobre o menor, em casos mais graves. A partir do
Estatuto da Criança e do Adolescente foram instituídos os Conselhos Tutelares com a função
de zelarem pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente definidos neste mesmo
corpo normativo.
Dos vários estudos publicados na área social até os dias atuais, há uma grande certeza:
indivíduos que agridem hoje já foram vítimas um dia. Esta conclusão tem sido a base de todos
os estudos preventivos que começam a se organizar no campo jurisdicional, da saúde e da
educação. Estamos ganhando enfim “escuta” para frases que se perdiam na força do
argumento “Eu fui criado assim e estou aqui”.
No Brasil, pelo número de vítimas que vem produzindo, a violência familiar, é
considerada por muitos autores como um problema de saúde pública. A vulnerabilidade
identificada na infância e na adolescência torna-se maior quando são analisadas as condições
de nutrição, educação, habitação e trabalho a que está submetida enorme parcela das crianças
brasileiras.A violência ameaça e nega, não somente a saúde, mas o processo vital da formação
do homem por inteiro.
Além de hematomas e escoriações mais evidentes, as mudanças de comportamento
muitas vezes não são aceitas pela sociedade como sendo normais, que podem certificar a
violência cometida contra a criança/adolescente:
- Doenças sexualmente transmissíveis;
- Comportamento muito erotizado para a idade cronológica;
- Medo de adultos;
- Distúrbios afetivos e distúrbios de conduta;
- Enurese noturna;
- Aparência descuidada e suja;
- Desnutrição;
- Evasão escolar e dificuldades na aprendizagem;
A violência que os pais podem exercer contra os filhos, com fins pretensamente
disciplinadores, no exercício de sua função socializadora, ou com outros objetivos, assume
cinco facetas principais.
2.1.1 Violência Física
A violência física acontece quando a coação se processa através de maus-tratos
corporais (espancamentos, queimaduras etc) ou negligência em termos de cuidados básicos
(alimentação, vestuário, segurança etc). São considerados abusivos desde um tapa ou beliscão
até os espancamentos, queimaduras. Também é considerado abuso físico o castigo que se
mostra incompatível à idade e capacidade de compreensão da criança, como, por exemplo,
deixar uma criança de 03 anos sentada por horas “para pensar”. Como ocorre na negligência
também .A omissão dos responsáveis em garantir cuidados e satisfação das necessidades da
criança ou adolescente, sejam elas primárias (alimentação, vestuário e higiene), secundárias
(educação e lazer) ou terciárias (afeto, proteção). A não-satisfação de cada um desses níveis
de necessidade pode acarretar sérias conseqüências ao desenvolvimento da
criança/adolescente. Mas, considerando a estrutura social injusta e díspar em que vivemos não
é considerada negligência a omissão resultante de circunstâncias que fujam ao controle da
família.
A conduta correta dos pais deve ser de levar a criança a falar sobre seus medos, suas
preocupações, e sobre o porquê de suas atitudes, para que ela sinta amada, compreendida e
protegida; pois quando a criança e os jovens são ouvidos com atenção, consideração,
costuma-se tornar menos rebeldes e mais colaboradores. A proteção dos pais é muito
importante para o desenvolvimento da criança, pois ela precisa se sentir respeitada, amada e
protegida, evitando que se sintam perdidos, sem rumo e que sofram acidentes.
2.1.2 Violência Sexual
A violência sexual acontece quando a coação se exerce tendo em vista obter a
participação em práticas eróticas. O abuso sexual é todo ato ou jogo sexual entre a
criança/adolescente e um adulto, seja ele seu responsável legal ou não, podendo ter um
contato físico e uso de força física. É considerado abuso sexual a apresentação de material
pornográfico, uso de linguagem erotizada, carícias nos genitais e relações orais, anais e
vaginais.
É muito maior do que se pode imaginar, o número de crianças e adolescentes que sofre
abuso sexual dentro de suas casas. Pesquisas apontam que em 70% dos casos registrados, o
agressor é o pai ou padrasto da vítima. Os estudos mostram também que a violência sexual
ocorre como decorrência de um conjunto de circunstâncias que uma vez configuradas,
determinam a situação de abuso.
Quando o abuso sexual acontece e é descoberto pela família, em razão do desconforto
social que este fato pode acarretar, por desfazer o mito do lar seguro, a fim de manter o
segredo, as crianças/adolescentes são privados dos contatos sociais e a família tende cada vez
mais a se fechar. A única esperança das vítimas é o “olhar atento” dos educadores e pessoas
que de algum modo fazem parte de sua vida fora de casa.
Crianças e adolescentes, costumam pedir socorro assim que estabelecem um vínculo
de confiança com outro adulto. Crianças mais velhas e adolescentes tendem a fazer revelações
intencionais. Já as mais novas, são incapazes de verbalizar e relatam o abuso através de
sinais.
2.1.3 Violência Emocional
A violência emocional ocorre quando a coação é feita através de ameaças,
humilhações, privação emocional. O abuso psicológico é a exposição constante da criança/
adolescente à situações de constrangimento, através de agressões verbais, cobranças e
punições exageradas. Esse tipo de comportamento conduz a vítima a sentimentos de rejeição e
desvalia, bloqueia seus esforços de auto-estima, além de impedi-la de estabelecer uma relação
de confiança com outros adultos. É a forma de abuso mais difícil de ser identificada, porque
não deixa marcas evidentes no corpo e permeia todas as outras modalidades de abuso. A
violência emocional é comumente camuflada pela sutileza das relações familiares, mas causa
sofrimento e conduz a criança/adolescente a modelos futuros de relacionamento que sejam
baseados no desprezo e na insegurança.
A criança que sofre violência emocional pode:
- Ter problemas para brincar com os colegas;
- Ter medos exagerados;
- Sentir-se muito triste;
- Afastar-se das pessoas;
- Apresentar atitudes autodestrutivas;
- Apresentar baixo rendimento escolar.
A conduta correta por parte dos pais deve ser uma linguagem de amor, de firmeza e de
compreensão.
2.1.4 Exploração do trabalho infantil
O trabalho infantil é aquele realizado por crianças ou adolescentes que na maioria das
vezes é imposto e acontecem por vários motivos, mas o principal é a necessidade de ajudar na
renda familiar.Nesse caso, muitos são maltratados quando não trazem dinheiro para casa, pois
são explorados em mão de obra.Isso acarreta para a criança ou adolescente:
• Cicatrizes emocionais impedindo o relacionamento com outras pessoas;
• Prejuízos ao seu crescimento e desenvolvimento;
• Evasão escolar , levando o comprometimento do seu futuro.
A infância é uma fase para brincar, sonhar, estudar e passear, sendo assim a exploração
do trabalho infantil delimita a criança a usufruir dessa fase, que é tão importante no
desenvolvimento de sua vida.
2.1.5. Paradigmas da família
A que conceito de bem comum corresponderá a permanência de crianças e
adolescentes sendo violentados e humilhados dentro de seus próprios lares?
Enquanto a violência familiar for compreendida apenas como atos que laceram, ou matam, a
sociedade como um todo continuará acreditando que os pais/responsáveis têm até mesmo a
obrigação de agredirem seus filhos em nome da disciplina, da educação, sempre que houver
um desvio do comportamento imposto pelas normas sociais da época ou dos valores culturais
aos quais a família segue.
A erradicação da violência familiar envolvendo crianças e adolescentes só é possível
mediante a mudança de alguns paradigmas.
O primeiro desses paradigmas é o de que os pais sabem sempre o que é melhor para
seus filhos, porém os últimos quarenta anos parecem ter sido os que mais mudanças
trouxeram aos pais, ZAGURY cita:
“As dúvidas começam a surgir, tanto que os pais se perguntam: Qual é, atualmente, o mais importante objetivo da educação? O que é ser bom pai hoje em dia? E o que é um filho legal?”(ZAGURY,2001,316).
Não faz muito tempo, ser um bom filho significava, como dizia o palhaço Carequinha,
“Não fazer pipi na cama e nem malcriação”,afinal ,valores como honestidade e integridade
não estavam em discurssão .Hoje, os pais devem utilizar o diálogo como uma ferramenta
fundamental para a resolução de possíveis problemas, e não ditando regras achando que sabe
o que é certo ou errado, mais deve também conseguir se opor a atitudes que contrariam certos
princípios da sociedade, pois seus filhos precisam acreditar mesmo quando parte dos homens
não respeita esses princípios, que solidariedade, justiça e honestidade não estão “fora de
moda” e não há a mínima condição de vivermos sem eles.
Outra “verdade duvidosa” , é de que o lar é um lugar seguro para a criança /
adolescente. Podemos citar o caso da menina, de 7 anos, aluna da 1ª série da Escola Aymar
Batista, apresentava mordidas, manchas roxas e várias cicatrizes pelo corpo. Desconfiada de
abuso sexual, a diretora chamou a mãe e deu a ela um prazo para buscar uma solução, porém
as escoriações continuavam. O pai foi denunciado pela diretora, e na delegacia, a menina
contou detalhes da agressão; um boletim foi registrado; no exame de corpo delito constatou-se
o estupro; a menina passou a viver numa instituição da prefeitura, visto que em certos casos o
ideal nem sempre é o real, portanto é necessário que se estabeleça uma rede social que se
mostre atenta e disponível a prestar solidariedade às famílias que estejam passando por
momentos de crise que as impeçam de prestar a seus filhos os cuidados necessários.
O último pensamento a ser modificado pela sociedade, no tocante a relações familiares
e proteção da criança/adolescente é aquele de que os filhos são responsabilidade exclusiva de
seus pais, cabendo a eles educá-los e sustentá-los. O artigo quarto do Estatuto da Criança e do
Adolescente atribui essa responsabilidade à família, sociedade e poder público, cabendo a este
último, a criação de serviços adequados às necessidades da criança/ adolescente e aos dois
primeiros, a de cobrá-los em caso de omissão.
A desinformação dos direitos relativos à Infância e à Juventude prejudica imensamente
o andamento de educação para a cidadania. Seria interessante que já no ensino fundamental as
crianças/adolescentes pudessem ter noções básicas de seus direitos, até como uma alternativa
de proteger-se contra abusos e agressões. Precisam ser também implantados programas de
terapia familiar, especialmente junto às famílias mais carentes, visto que estas não possuem a
rede de proteção e apoio dispensados às classes economicamente privilegiadas.
É preciso entender a violência familiar como parte de uma violência maior que a
domina, fruto de uma sociedade injusta e marginalizante. A realidade do descaso do Estado
com as políticas de base falta de investimentos na saúde, na educação e a alta taxa de
desemprego, fruto de uma economia perdida e dependente de “parceiros” internacionais,
favorece a desestruturação e o desespero da grande maioria das famílias brasileiras.
No entanto, toda criança tem direito de ser educada sem violência seja esta física,
psicológica ou sexual. A criança precisa aprender com palavras e atitudes de compreensão e
não com empurrões, tapas, humilhações. Naturalmente, esta postura não significa sermos
contra a necessidade de disciplina e limites na educação infantil. Acreditamos que a violência
é uma forma “deseducativa” de educar. A criança aprende que a força é o último e legítimo
argumento para solucionar conflitos, o que não é verdadeiro. Trata-se de uma pedagogia de
eficácia muito duvidosa, baseada na intimidação e no medo, sem constituir-se numa garantia
de não-reincidência da conduta infantil.
3. FAMÍLIA: INTERFERÊNCIAS NO ÂMBITO ESCOLAR
A família e a integração desta com a escola e a sociedade, busca o bem maior: o
desenvolvimento da infância saudável. A relação entre escola e família é possível, cresce e
solidifica, na medida em que a própria família, e sua problemática específica, for sendo
descoberta como objeto de investigação da escola.
Quando a família apóia a criança, ela se sente segura e assim amadurece. A família e a
escola devem caminhar juntas, para que haja um aprendizado mútuo.
“Há um conflito histórico de fronteiras entre as instituições família e escola, cujas
funções educativas se confundem ou se sobrepõem” (AQUINO: 2002, 14).
Há uma inversão de papéis, pois as famílias culpam as escolas pelo fracasso de seus
filhos, sendo na verdade culpa também da família por não educar os seus filhos e transfere
essa função para a escola. Essa inversão de papéis é muito complexa, porque muitas vezes
fica difícil estabelecer a linha divisória entre o que público e o que é privado. A escola é um
espaço público, a família é um espaço privado.A escola não deve invadir o espaço da família,
mas o contrário também não pode acontecer. A família é o lugar da unidade, da continuidade;
a escola, é o lugar da diversidade, da diferença, conseqüentemente haverá uma necessidade
de divisão das responsabilidades da criação dos filhos e provimentos da família, deixando
assim a educação cada vez mais a cargo de sistemas extra-familiares, como creches e a
própria escola, que chega cada vez mais cedo na vida infantil. Assim, espera-se que a escola
cumpra funções socializadoras , além da preparação para a complexidade da vida moderna, à
medida que a convivência com os grupos de idade da vizinhança, as atividades comunitárias,
são paulatinamente mais raras.
Naturalmente, depois da família, é na escola que as crianças permanecem mais tempo
e, dadas as características e funções, é em geral um importante espaço de observação delas.
Dessa forma, a relação entre esses dois sistemas é de fundamental importância para evitar
dificuldades, crises e stress de todos.
Não compete apenas à escola a função de educar, mas também à família. E se esta
hoje tem a sobrecarga da vida moderna, é importante lembrar, entretanto, que não é o tempo
que está junto com os filhos, mas a maneira de como estabelece à relação com eles, é o que
importa. Se os filhos sabem que podem contar com os pais onde estiverem, quando
necessário, se os pais têm uma parte de seu tempo diário e de lazer reservado para dar atenção
ou fazer um programa com os filhos, se os limites são estabelecidos com flexibilidade e com
respeito, sem culpas ou necessidades compensatórias, pode-se esperar menos possibilidade de
problemas.
A fim de orientar expectativas, uma exposição clara sobre a família, sobre a filosofia
da escola e de seus objetivos, é de fundamental importância para que uma relação dialógica se
estabeleça em base de uma aceitação de princípios de ambas as partes. Sabemos que este
trabalho conjunto é bastante difícil e, talvez, um dos maiores desafios de uma proposta
pedagógica. A propósito disso, afirma que:
“Nesse sentido, é preciso compreender os fatos sociais e políticos que estão em jogo na relação escola-família, não acusando ou culpando os pais quando não participam da vida escolar e, simultaneamente, buscando a forma de aproximá-los de nossa proposta e aproximar-nos de seus interesses”(. KRAMER ,1991,54)
O contato com a família possibilita à escola o conhecimento do conceito que os pais
têm de seus filhos. O conceito de criança suficientemente boa, diz Terkelsen (1980), “é aquela
que está apta a se engajar mútua e reciprocamente com as figuras parentais aprendendo
seqüência de comportamentos que simultaneamente promovem o atingimento de suas
próprias necessidades de desenvolvimento, tanto quanto a de seus pais”. O conhecimento de
tais expectativas é importante para a educação, bem como as atitudes da família em relação a
elas.
3.1. Depressão infantil e fracasso escolar
A depressão infantil pode ser desencadeada por vários fatores, tem efeitos emocionais
poderosos, causa desde instabilidade no humor até depressão em graus variados. Conflitos
em família ou mesmo estresse podem intensifica-la ou desencadeá-la. Ela apresenta tais
sintomas:
• Perdurar por muitos dias triste e não ter mais prazer com as coisas que gostava de
fazer;
• Perder apetite;
• Chorar constantemente e não conseguir parar ao ver cenas que mecham com as suas
emoções;
• Acordar no meio da noite e não dormir mais;
• Sentir-se ansiosa e preocupada o tempo todo;
• Não querer passear, por total falta de energia e de desejo de encontrar seus colegas;
• Não conseguir se concentrar em suas atividades;
Quando a criança tem idade escolar apresenta tais sintomas, podendo-se de imediato
perceber que há algo errado, pois seu rendimento escolar começa a cair, suas tarefas são
inacabadas ou realizadas sem muito interesse e de forma lenta, chora por qualquer motivo,
prefere isolar-se do grupo, algumas apresentam mãos frias, faces depressiva, irritação,
algumas vezes o comportamento hiperativo, déficit de atenção, pensamento distante,
esquecimento, entre outros. Todos esses comportamentos são observáveis através de uma boa
anamnese e da avaliação psicológica. Mas é importante salientar que no âmbito escolar,
muitas vezes, estas crianças passam despercebidas, pois não atrapalham a aula e estão sempre
bem quietinhas ou de outro lado, agem de forma inquieta tentando chamar a atenção somente
para si.
Um ambiente familiar desestruturado, caótico, caracterizado por casais com problemas
conjugais, levando-os a separação, crise financeira, divórcio, recasamento, abandono por um
membro familiar, maus tratos e outros fatores, além de uma cobrança exagerada por parte dos
pais e da sociedade em relação ao desenvolvimento da criança, são os fatores que acarretam o
desencadeamento da depressão infantil.
Em muitas crianças, a causa do problema depressivo reside no comportamento dos
pais. Existe pais que não poupam os rebentos das crises conjugais, envolvendo-os em seus
conflitos ou achando que os menores não têm olhos, nem ouvidos. Isso não é absolutamente
verdadeiro, pois as crianças possuem muita sensibilidade e uma percepção bastante aguçada.
3.2. Distúrbio da criança por conseqüências familiares
O medo é um impulso de emergência que aparece em face de um perigo e faz a criança
ir em busca da defesa, tais atitudes opressivas podem ser físicas ou psicológicas. As crianças
que sentem medo, tem dificuldade de concentração nas aulas e receio de ir para a escola, em
geral elas vivem situações familiares que muitas vezes levam a ter tais distúrbios, os
casamentos desfeitos é um caso. Há até quem acredite que o divórcio deixou de ser um
problema, tanto para o casal como para os filhos. Não é bem assim. Apesar de não ser
necessariamente traumático, ele é profundamente desestabilizador. Muitas crianças precisam
de tempo é atenção para se adaptar à nova vida. Enquanto isso, a insegurança se transforma
em distúrbios de aprendizagem ou agressividade.
No âmbito escolar, essas crianças que convivem com a separação podem mostrar um
comportamento desatento, agressivo, não conseguindo esconder sua irritação e até levar à
baixa auto-estima, que passará pela insegurança e por algumas fobias.
As crianças inseguras costumam ter mais medo que aquelas que se sentem mais seguras. Isso
significa que qualquer educação em que a criança vive sob ameaça constantes, agressões
físicas, intolerância, desenvolverá o medo e as variantes a ansiedade e a angústia.A criança,
pelos próprios conflitos naturais desta fase de seu desenvolvimento, já se encontra exposta à
insegurança, esta aumentada pelo desenvolvimento do medo, causa um bloqueio, impedindo o
ajustamento, o amadurecimento e o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada,
harmoniosa e saudável.
Educar pelo medo é extremamente condenável.
Quando uma criança é forçada a realizar algo do qual ela se sente incapaz, logo vem a
frustração, e essa gera uma certa ansiedade, que leva há um baixo rendimento escolar.
3.3. As dificuldades de aprendizagem e a família
É importante distinguir as dificuldades que dizem respeito à capacidade intelectual,
linguagem, atividade motora, desenvolvimento neurológico e outros, das atitudes e
comportamentos.
Questões pessoais mal resolvidas refletem – se diretamente no processo de
aprendizagem.Qualquer problema se traduz em baixo rendimento, desatenção, agressividade
ou isolamento.
Sendo o desenvolvimento um processo global, qualquer dificuldade está relacionada
tanto a características próprias da criança, quanto a atitudes da família e da escola, afetando
sempre a criança como pessoa.
É muito importante assumir-se a postura de que a produção da criança é o resultado da
inter-relação de toda a rede que constitui o contexto de sua vida.
Quanto à família, é fundamental explicar o que se compreende dos esforços que
depende no sentido de conseguir o melhor da criança e da não intencionalidade de atitude
que, na prática acabam tendo como resultados exatamente o contrário do que se pretende. É
preciso acreditar que a família, muitas vezes no auge da maneira disfuncional como uma
forma de absorver as dificuldades.
Os profissionais que lidam com crianças com dificuldades, bem como os terapeutas de
família, sabem disso. A questão é reconhecer esses padrões, detectar esses mecanismos,
louvar os esforços despendidos e as finalidades a que servem, para que se consiga usar toda a
sua energia no sentido da mudança necessária em função dos problemas percebidos pelo
profissional.
Quando é detectado o problema atos extremamente simples: acolher a criança,
escuta-la, mostrar – se disponível , é possível superar a aflição , e ser for bem recebido , por
adultos que o escutem sem nada exigir em troca ,ganha um aprendizado para toda vida.
4. A AÇÃO PEDAGÓGICA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
É fundamental que o Orientador esteja interado de toda a metodologia desenvolvida
na escola, o programa de ensino, estejam veiculados com o trabalho do professor, com a
aprendizagem; contribuindo para o desenvolvimento integral do aluno, ajudando a escola a
organizar e realizar a proposta pedagógica, trabalhando em parceria com os professores e
compreender o comportamento dos alunos e agir de maneira adequada em relação a eles,
ouvindo, dialogando e dando orientação.
Uma tarefa pedagógica construtiva parte do princípio de que a aprendizagem é uma
tarefa de apropriação e de domínio do objeto de conhecimento. No caso da criança, este
objeto está relacionado com a herança cultural transmitida pelas gerações, através das
instituições educativas.
Segundo Maria Lúcia L. Eiss, “Cabe à escola conhecer o modelo de aprendizagem de
cada aluno, para poder ampliá-lo ou reformulá-lo”. (1991:8). Concordo com a autora, pois a
partir dessa análise dos aspectos orgânicos, cognitivos, afetivos e pessoais, a escola terá
condições de identificar como o aluno pode aprender e como realmente aprende, quais são os
interesses e motivações demonstrados pelo aluno.
A ação que o Orientador deve ser neste aspecto, seria fazer um acompanhamento junto
com o professor dos alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem devido aos
problemas familiares. Com isso, estudar meios que possam ajudar a criança a superar essas
dificuldades. Solicitando a presença dos familiares na escola, para falar sobre a dificuldade do
filho, conversando com os pais, informando-se sobre a história da família, para então junto
com a família ajudar o aluno, conscientizando os pais na importância de acompanharem seus
filhos em todo processo desenvolvido na escola, de dar carinho, atenção.
Só assim pode-se minimizar este problema, resgatar a auto-estima, a autoconfiança, o
equilíbrio que tanto foram abalados devido ao ambiente desarmonioso que a criança convive.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, ao realizar esta pesquisa, que a família é algo fundamental na vida de
qualquer ser humano, seja ela formada por pai, mãe e filhos, por adoção ou instituições que
atendem a crianças carentes, ela é estruturada a base na formação do indivíduo.
O tema apresentado, apesar de ser muito importante, principalmente para as crianças,
também possui resoluções difíceis de serem tomadas uma vez que, tanto escolas quanto as
famílias, na maioria das vezes, visam somente beneficiar o seu lado e, conseqüentemente, aos
seus interesses, sem se preocupar com o principal motivo de existirem as escolas; um
desenvolvimento infantil adequado, tornando a criança um ser crítico e capaz de se
desenvolver perante a sociedade em que vive.
Segundo a bíblia, no livro de Salmos, no capítulo 127, versículo 3, diz: “Eis que os
filhos são herança do Senhor e o fruto do ventre o seu galardão”. Isso é para refletir, que os
filhos não só são presentes dados por Deus, como também o fruto do nosso país e precisam
ser tratados não só pela família, como também por toda a sociedade, com respeito, carinho e
dedicação.
Outro aspecto também muito importante é a figura do Orientador e a sua
responsabilidade em todo o processo escolar, pois a sua ação na escola, junto com os
professores, família e toda equipe pedagógica da escola, ajudam na solução de problemas
sempre com o objetivo de assegurar à criança um ambiente escolar saudável.
É preciso que todos tomem consciência de que a atuação da escola tem sentido como
complemento e não sobreposição à família. Esta, portanto, deve ser valorizada enquanto
agente educadora fundamental e transmissora de hábitos, costumes e cultura, não atribuindo
as escolas esta total responsabilidade.
Cabe ao educador desenvolver sua auto-estima, autoconfiança, para ter em sua vida
um sucesso, que possam de tal forma intervir na realidade que o cerca, sempre baseada na
equidade e na qualidade. E, sendo assim, teremos uma educação voltada para a tranqüilidade e
para a paz.
6. BIBLIOGRAFIA
AQUINO, Júlio Groppa. In. Revista Nova Escola, mês 11, nº 157, pág. 14, 2002. ARIÉS, Phillippe. A história social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. HOLANDA, Aurélio B. Novo dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1991. GARCIA, Regina. LEITE MAIA, Eny Mariza. Uma orientação educacional nova para uma nova escola. São Paulo: Loyola, 1995. KRAMER, Sônia. A Política do Pré-Escola no Brasil: Arte do Disfarce. São Paulo: Cortez, 1992. ______________. Com a Pré-Escola nas mãos. São Paulo: Ática, 1994. ______________ & SOUZA, Solange Jobim. Educação ou Tutela? São Paulo: Loyola, 1991. KRUPPA, Sônia M. Portella. Sociologia da Educação. São Paulo: Cortez, 2000. LUCK, Heloísa. Ação Integrada. 15 ed., Petrópolis: Vozes, 1981. ____________ . Planejamento em orientação educacional. 12º ed. Petrópolis: Vozes, 2000. MARTINS, José do Prado. Princípios e métodos de orientação educacional. 2º ed. São Paulo: Atlas, 1987. MELO, Sonia. Orientação educacional: do conselho ao conflito. São Paulo: Papirus, 1999. MORAES, Lídia M. Sodré. Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Idéia Jurídica, 2000. MORAES, Maria Lygia Quantim. Infância e Cidadania. Cadernos de Pesquisa, nº 91, págs 23 – 29, (09/1994), São Paulo: Carlos Chagas, 1994. PEREIRA, Fabiana. In: Revista Viva. Págs. 28 – 29, edição 132, 2002. PILETTI, Nelson. Sociología da Educação. São Paulo: Ática, 1988. SPÓSITO, Maria Pontes. Luta Popular por Educação: Projeto de uma Nova Escola. In: Caderno do Cedi. O Caminho da Escola – Luta Popular pela Escola Pública. São Paulo, nº 15, 1986. TRAGTENBERG, Maurício. Relações de Poder na Escola. In: Educação e Sociedade. São Paulo: Cortez, (20): 40 – 45, 1985.
ANEXOS