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ENSAIOS E CIÊNCIA
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
AGRÁRIAS E DA SAÚDE
Aldry Araújo Costa
Faculdade Anhanguera de Anápolisaldry4@hotmail.com
Eduarda Raiane Barreto Carvalho
Faculdade Anhanguera de Anápolis dudaecarlos@hotmail.com
Cleonice Maria Garcia de Souza
Faculdade Anhanguera de Anápoliscleogarcias@hotmail.com
HEPATITE C: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA E COMPORTAMENTOS DE RISCO EM ANÁPOLIS NO PERÍODO DE 2008 A 2010
RESUMO
A hepatite C é uma das principais causas de doença hepática crônica em todo o mundo. Existe uma grande variação na prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C de acordo com a região geográfica estudada, exibindo as características epidemiológicas diversas entre cada população. Apesar dos poucos dados existentes, estima-se que o Brasil tem uma prevalência de infecção intermediária, entre 1% e 2%. Os maiores fatores de risco identificados são a transfusão de hemoderivados, uso de drogas intravenosas, transplante de órgãos, hemodiálise, transmissão vertical, exposição sexual e ocupacional. O presente estudo é caracterizado como descritivo, observacional, retrospectivo, em que foram analisados dados consolidados da hepatite C do município de Anápolis no período de 2008 a 2010. Após a estatização dos dados notou-se um aumento de 93,5% em 2009 e de 40,5% em 2010 em relação ao ano de 2008. Houve um aumento nas infecções entre os anos pesquisados o que demonstra que falta conscientização da população com comportamento de risco.
Palavras-Chave: Hepatite C; Epidemiologia; Prevalência; Meios de transmissão; Anápolis.
ABSTRACT
Hepatitis C is a major cause of chronic liver disease worldwide. There is wide variation in the prevalence of infection with hepatitis C, according to the geographical region studied, showing different epidemiological characteristics of each population. Despite the limited data available, it is estimated that Brazil has an intermediate prevalence of infection between 1% and 2%. The major risk factors are blood transfusions, intravenous drug use, organ transplantation, hemodialysis, vertical transmission, sexual exposure and occupational. The present study is characterized as descriptive, observational, retrospective study, which examined the consolidated data of hepatitis C in the city of Annapolis in the period 2008 to 2010. After the nationalization of the data it was noted an increase of 93.5% in 2009 and 40.5% in 2010 compared to 2008. There was an increase in infections between the years surveyed showing that lack awareness of the population with risk behavior.
Keywords: Hepatitis C Epidemiology, Prevalence, Methods of propagation; Anápolis.
1
Anhanguera Educacional Ltda.
2 Hepatite C: Análise epidemiológica e comportamentos de risco em Anápolis no período de 2007 a 2010
1. INTRODUÇÃO
A palavra hepatite é originada do grego hepatitis, em que hepato
significa fígado e itis inflamação. A hepatite é uma doença do fígado com
causas variadas (vírus, bactérias, medicamentos, tóxicos etc.). O agente
agressor causa uma inflamação e morte das células hepáticas (SGRJ, 2001).
O vírus da hepatite C (HCV) é um vírus pequeno (aproximadamente 50
nm), envelopado que pertence à família Flaviviridae (ALBERTI; BORTOLOTTI,
2001). Seu genoma é constituído por uma molécula de RNA que contém
aproximadamente 9.500 nucleotídeos que codificam as informações para a
replicação viral. A cadeia de RNA é composta por duas regiões terminais não
codificadoras e entre estas, uma única fase de leitura aberta que codifica uma
poliproteína com cerca de 3.000 aminoácidos (BAIN et. al., 2001).
Figura 1 – Vírus da Hepatite C
Fonte: PERKINS, 2008
Para Fonseca (2010), as hepatites virais são relatadas há vários
milênios, há citações na literatura chinesa que fazem referência à ocorrência
de surtos de icterícia, entre eles há mais de cinco mil anos. Epidemias de
icterícia foram descritas na Babilônia há mais de 2.500 anos. Escritos deixados
por Hipócrates, que possivelmente viveu 300 a 400 anos A.C. também relatam
que a icterícia seria de provável origem infeciosa e que a afecção estaria
ligada ao fígado e o quadro de ascite teria como etiologia uma doença crônica
do sistema hepático.
A hepatite provoca anormalidades na função do fígado, como o
acúmulo de bilirrubina no sangue (icterícia). Esse acúmulo faz com que a pele
e as mucosas fiquem amareladas. Quando o fígado está inflamado, ocorre
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uma dificuldade de metabolização e eliminação da bile para o intestino,
prejuízo na produção das proteínas e na neutralização de substâncias tóxicas
e causa ainda cirrose hepática que é o resultado final de qualquer inflamação
persistente no fígado (KUMAR et al., 2008).
Estima-se que cerca de 3% da população mundial, 170 milhões de
pessoas, sejam portadores da hepatite C crônica. Atualmente é a principal
causa de transplante hepático em países desenvolvidos e responsáveis por
60% das hepatopatias crônicas (WHO, 2005).
Segundo Shepard, Finelli e Alter, (2005), apesar das HVC em todo o
mundo serem endêmicas, existe um grande grau de variabilidade na sua
distribuição geográfica. Países com maiores taxas de prevalência estão
localizados na África e Ásia. Já as áreas de menor prevalência são os países
industrializados e estão localizados na América do Norte, norte e oeste da
Europa e Austrália. As nações mais desenvolvidas têm taxas relativamente
baixas de soroprevalência da HCV, como por exemplo, a Alemanha (0,6%),
Canadá (0,8%), França (1,1%) (ZOU; TEPPER; EL SAADANY, 2004; DESENCLOS,
2004). Com taxas consideradas baixas, mas ligeiramente superior as
anteriores estão os EUA (1,8%), Japão (1,5%) e Itália (2,2%) (LAW et al., 2003).
Apesar da ausência parcial de dados, as estimativas indicam que o
Brasil detém uma prevalência intermediária, variando entre 1% e 2%, com
diferenças regionais. Na região norte o índice é de 2,1%, no Nordeste é 1%,
Centro Oeste 1,2%, Sudeste 1,4% e no Sul 0,7% (MARTINS; NARCISO-
SCHIAVON; SCHIAVON, 2010).
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< 1,00%
1,0%-1,9%
2,0%-2,9%
Não incluída naregião da OMS
> 2,9%
Figura 2: A prevalência estimada de infecção pelo HCV por região da OMS
Fonte: PERZ et al, 2004
Existe grande variação na prevalência da infecção pelo vírus da
hepatite C (HCV) de acordo com a região geográfica estudada, refletindo não
só características epidemiológicas distintas entre as populações, mas
diferenças nos métodos utilizados para a realização das estimativas. Apesar
das tentativas de conter o aumento, principalmente com a realização de
exames específicos em estoques de bancos de sangue, a hepatite C é uma
epidemia crescente (WASLEY; ALTER, 2004; ALTER, 2007; MARTINS; NARCISO-
SCHIAVON; SCHIAVON, 2010).
A OMS estima que a prevalência só atinja o seu pico no ano de 2040. À
medida que o tempo de infecção aumenta, a proporção de novos pacientes
não tratados com hepatite pode dobrar até 2020. A hepatite C é transmitida
por meio do sangue e materiais perfuro cortantes contaminados, com
transmissão muito fácil e rápida. Pode ser adquirida no dentista, manicures,
em transfusão sanguínea, tatuagens, usuários de drogas e piercings (WHO,
2005).
O uso compartilhado de agulhas, não esterilizadas ou mal
esterilizadas, seringas e equipamentos de injeção são a principal fonte de
disseminação da hepatite C (DES JARLAIS et al., 2003). O uso de drogas
injetáveis é o fator de risco mais comum de contrair a infecção, apesar de
alguns pacientes que adquirem a hepatite C não têm um fator de risco de
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exposição conhecido como o contato com sangue infectado ou uso de drogas
(MILLER et al., 2002).
Alguns fatores e comportamentos de risco são considerados mais
importantes e todas as pessoas que o apresentem devem ser testadas, pelo
alto risco de estarem com a doença (FIRPI et al., 2009). Os fatores de risco
que devem ser observados são: usuários de drogas endovenosas, pacientes
que fazem hemodiálise, filhos de mães HCV positivas, parceiros de portadores
de HIV (Vírus da Imunodeficiência Humano), crianças com 1 ano de idade com
mãe portadora do HCV, profissionais da área da saúde vítimas de acidente
com sangue contaminado, contatos sexuais promíscuos ou com parceiros
sabidamente portadores (DAL MOLIN; D'AGARO; ANSALDI, 2002; WHO, 2005;
GARDENAL et al., 2011).
Com tantos canais de transmissão e infecção a hepatite se tornou
epidêmica, e apesar das tentativas de conter a epidemia, principalmente com
a realização de exames específicos em estoques de bancos de sangue, a
epidemia de hepatite C está em ascensão. A OMS estima que a prevalência só
atinja o seu pico no ano de 2040. À medida que o tempo de infecção aumenta,
a proporção de novos pacientes não tratados com hepatite C pode dobrar até
2020 (BRASIL, 2008).
Entre todas as características da história natural da hepatite C, duas
lhe conferem a afecção uma grande importância médico-sanitária, o longo
período que a infecção permanece completamente assintomática e a sua
cronicidade em até 85% dos infectados, o que eleva o risco de complicações
graves, como a cirrose hepática e o câncer de fígado. Por todas as
características a hepatite C é considerada a mais importante pandemia do
começo do século 21 e é a causa da maioria dos transplantes de fígado em
vários países (FERREIRA; SILVEIRA, 2004).
Devido a Hepatite C ser uma das afecções mais abrangentes no
mundo e devido a sua fácil transmissão, este estudo objetivou estudar a
prevalência e os meios de transmissão dos casos notificados no município de
Anápolis.
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2. MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo é caracterizado como descritivo, observacional e
retrospectivo, em que foram analisados dados consolidados da hepatite C do
município de Anápolis no período de 2008 a 2010. Foram avaliadas
informações fornecidas pela Vigilância Epidemiológica de Anápolis. Os dados
foram fornecidos em forma de tabelas e compilados por sexo, faixa etária, etc.
Este foi o único modo de se obter os dados, já que o banco de dados do
Hospital Municipal só detém informações do ano de 2011.
Os dados abrangeram as variáveis, casos existentes por sexo e idade,
motivos de saída do sistema, casos diagnosticados por local de residência,
casos diagnosticados por forma clínica e ano da alta. Os indicadores foram
construídos com dados populacionais determinados pelo último Censo
Demográfico e de estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados foram estatizados através do software Minitab 15.1 for
Windows, para a construção de tabelas e gráficos.
Por orientação da coordenação do curso de Biomedicina este trabalho
não foi submetido ao comitê de ética.
3. RESULTADOS
Os dados analisados são provenientes do cadastro de notificação de
hepatite viral mantido pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica da cidade de
Anápolis – GO, no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2010, quando
foram notificados e comprovados 2.335 casos de hepatite C no período
analisado, conforme dados fornecidos pela Vigilância Epidemiológica de
Anápolis em agosto de 2011.
O gráfico 1 descreve a variação das notificações durante os doze
meses de cada ano pesquisado.
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Gráfico 1 – Variação das notificações nos 12 meses dos anos de 2008, 2009 e 2010.
A frequência das infecções por faixa etária foi maior na faixa dos 20
aos 49 anos, os valores estão demonstrados na Tabela 1.
Tabela 1 – Frequência por faixa etária
A prevalência da infecção por sexo incidiu majoriatamente no
feminino com 53,96% das notificações confirmadas nos três anos analisados.
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Gráfico 2 – Distribuição da prevalência por sexo nos três anos analisados
As notificações Ign/Branco (Ignorado/Branco) foram 1796 casos
durante os três anos. O sexo é a maior causa de transmissão da hepatite C
com 293 casos, seguido de outras fontes de transmissão (Aleitamento,
manicures, etc,) com 156 notificações e transfusões com 24 casos.
4. DISCUSSÃO
Após análise de dados obtidos na Vigilância Epidemiológica correspondentes
ao período de 2008, 2009 e 2010, observou-se uma proporção de novos casos
no decorrer desse período da ordem de 93% de 2009 e de 40,5% de 2010 em
relação ao ano de 2008 respectivamente, com uma média de 697,76
notificações por ano numa amostra de 100.00 habitantes. A margem de erro
da amostra, para uma população estimada pelo IBGE em 2010 de N = 334.643
habitantes e uma amostra n= 2.335 casos, foi de 2,02%.
A faixa etária de maior prevalência da infecção situa-se dos 20 aos 49
anos, com 69,4% (n=1620), esta é a faixa etária em que a população está
mais ativa sexualmente e em plena fase laborativa. A doença apresenta uma
distribuição muito menos frequente na faixa etária abaixo de 9 anos do que na
idade adulta (TEIXEIRA; FILHO; OLIVEIRA, 2005).
Dentre os casos de hepatite C o sexo feminino foi predominante,
correspondendo a 54% dos casos. Por outro lado, o sexo masculino
apresentou 46% de incidência dentre os casos de hepatite C. Houve
significância estatística com relação ao sexo (P<0,01). A análise dos dados
não confirmou o perfil epidemiológico já descrito na literatura. Estudo do perfil
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epidemiológico em outras localidades mostra uma discreta prevalência do
sexo masculino (ARAÚJO, 2004).
O perfil epidemiológico da hepatite C sugere que os modos de
transmissão do HCV nos países desenvolvidos são predominantes por uso de
drogas injetáveis, transfusão e ato sexual. Já nos países menos desenvolvidos
os principais meios são: medicamentos injetáveis e transfusões (ALTER, 2007;
TANWANDEE et al., 2006). Nessa pesquisa encontrou-se 1,7% para uso de
drogas e 4,5% de transfusão. A prevalência da infecção por relação sexual foi
de 54,4%.
A transmissão vertical do HCV foi de 0,3%, abaixo, portanto dos
estudos mundiais que identificaram taxas com variação de 3% a 37%, de
acordo com a viremia materna e coinfecção por HIV (VERONESI et al., 2007).
Quanto à infecção por tratamento cirúrgico/dentário o valor foi de
4,2%, abaixo dos 6,2% encontrados por Ferreira e Silveira (2004).
5. CONCLUSÃO
A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é um problema de saúde pública de
grande importância em todo o mundo, especialmente quando se leva em
conta a sua relação causal com a doença hepática crônica e o carcinoma
hepatocelular. Estima-se globalmente, que a infecção com o HCV é
responsável por 27% dos casos de cirrose hepática, e 25% dos casos de
carcinoma hepatocelular. Na amostra pesquisada houve uma evolução da
infecção, o que remete a falta de conscientização da população com
comportamento de risco. Mecanismos modernos de detecção e controle se
fazem necessários, pois a maioria dos casos figura como Ing/Brancos
(Ignorado/Branco) como foi nesse estudo em que a porcentagem foi de 77%
das notificações anotadas pelas unidades de saúde do município.
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Aldry Araújo Costa
Acadêmica de Biomedicina da Faculdade Anhanguera de Anápolis.
Eduarda Raiane Barreto Carvalho
Acadêmica de Biomedicina da Faculdade Anhanguera de Anápolis.
Cleonice Maria Garcia de Souza
Professora do curso de Biomedicina da Faculdade Anhanguera de Anápolis.
Ensaios e Ciências – Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde