Mauss antropologia

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Uma categoria do espírito humano: A noção de pessoa, de “eu”

Eduardo Adirbal RosaEveline Feltrin

Santa Maria, 09 de outubro de 2013

Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Ciências Sociais - Bacharelado

Marcel Mauss

● Sociólogo e antropólogo francês;

● Nascimento: Épinal, 10 de Maio de 1872

Morte: Paris, 10 de Fevereiro de 1950

● Sofre a influencia de Emile Durkheim (seu tio);

● Escola Francesa de Sociologia:

Cardoso de Oliveira (1988, p. 28) afirma que o grande objetivo desta escola sociológica seria “[...] dar conta das categorias do entendimento da sociedade e povos concretos, como condição prévia à compreensão do pensamento humano ou, como falavam os filósofos da natureza do espírito humano”

(em: http://tamuseunacional.blogspot.com.br/2011/10/durkheim-e-levi-strauss-escola.html)

Marcel Mauss (1872 - 1950)

Marcel Mauss (cont.)

● Resignificação: - Fato social (Durkheim): coercitividade, generalidade e exterioridade;

- Fato social total (Mauss): síntese entre biologia/psicologia, história, sociologia, economia, etc;

“Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente, é preciso que os sociólogos se esforcem em reconstituir o todo”

“(…) os fenômenos sociais são “antes sociais, mas também conjuntamente e ao mesmo tempo, fisiológicos e psicológicos”.

Tridimensionalidade do Fato social total: sociológica (sincrônica), histórica (diacrônica) e fisio-psicológica → Indivíduo;

Marcel Mauss (cont.)

● A troca como fundamento da vida social (Ensaio sobre a dádiva): da,r receber e retribuir – necessidades culturais, não somente utilitárias ou econômicas;

● Rompimento com Durkheim:

- estabelece um novo estatuto para a Antropologia: ciência autônoma;

- inaugura uma postura epistemológica interdisciplinar;

● Não realizou trabalhos de campo: etnólogo de museu;

Algumas obras

● Esboço de uma teoria geral da magia. (1904)

● Morfologia social, ensaio sobre as variações sazonais das sociedades esquimós. (1906)

● Sobre a história das religiões. (1909, con Henri Hubert)

● Relações reais e práticas entre a psicologia e a sociologia. (1924)

● Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. (1925)

● Efeito físico no indivíduo da idéia de morte sugerida pela coletividade (Austrália, Nova Zelândia) (1926)

● Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de "eu". (1938)

● As técnicas do corpo (1934)

● Manual de Etnografia. (1947)

Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de "eu"

I – O sujeito: a pessoa

II – O personagem e o lugar da pessoa

III – A persona latina

IV – A persona

V – A pessoa: fato moral

VI – A pessoa cristã

VII – A pessoa, ser psicológico

VIII - Conclusão

I – O sujeito: a pessoa

● Explicar como surgiu e cresceu ao longo do tempo uma das categorias do espírito humano: crítica ao inatismo;

● A ideia de “pessoa”, a ideia do “EU”;● Percorrer o mundo e as épocas: da Austrália a Europa, da

antiguidade até os dias atuais;● Questão linguística: Não!● Questão psicológica: Não!● Questão de história social!● Saber como se elaborou a noção ou o conceito;

II – O personagem e o lugar da pessoa

● Estudo de três casos: Pueblos de Zuñi, Kwakiutl (Noroeste americano) e tribos australianas;

● Pueblos: “(...) o clã é constituído por um certo numero de pessoas, na verdade personagens; e, por outro lado, o papel de todos esses personagens é figurar, cada um por sua parte, a totalidade prefigurada do clã”

“(...) vemos já entre os Pueblos, em suma, uma noção da pessoa, do indivíduo confundido com seu clã, mas já destacado dele no cerimonial, pela máscara, por seu título, sua posição, seu papel, sua propriedade, sua sobrevivência e seu reaparecimento na terra num de seus descendentes dotados das mesmas posições, prenomes, títulos, direitos e funções”.

II – O personagem e o lugar da pessoa

● Noroeste americano: “O fato é que todos esses índios, os Kwajiutl em particular, instalaram entre eles um sistema social e religioso no qual, numa imensa troca de direitos, de prestações, de bens, de danças, de cerimônias, de privilégios, de posições, as pessoas e os grupos sociais são simultaneamente satisfeitos. Vê-se muito nitidamente como, a partir das classes e dos clãs, ordenam-se as pessoas humanas, e como, a partir destas, ordenam-se os gestos dos atores num drama. Aqui, todos os atores são teoricamente os homens livres. Mas, desta vez, o drama é mais do que estético. É religioso, e ao mesmo tempo cósmico, mitológico, social e pessoal”

II – O personagem e o lugar da pessoa

● Austrália: “Também aqui o clã de modo nenhum é representado como um ser inteiramente impessoal, coletivo, o totem, representado pela espécie animal e não pelos indivíduos – homens, de um lado, animais, de outro. Sob seu aspecto homem, ele é o fruto das reencarnações dos espíritos dispersos e que renascem perpetuamente no clã”

● Noção de personagem: papel cumprido pelo indivíduo em dramas sagrados

III – A persona latina

● A noção de persona latina: máscara, máscara trágica, máscara ritual e máscara ancestral

● Civilizações que desenvolveram tal noção, mas a dissolveram: Índia búdica e bramânica e China antiga

● Índia: ahamkara (fabricação do Eu) é uma palavra técnica; o “Eu” é algo ilusório; escola samkhya afirmava o caráter composto das coisas e espíritos;

● China: “A ordem dos nascimentos, a hierarquia e o jogo das classes sociais fixam os nomes, a forma de vida dos indivíduos, sua “face”(...). Sua individualidade é seu ming. (…) retirou da individualidade todo caráter de ser perpétuo e indecomponível.”

“(...) são raras as que fizeram da pessoa humana uma entidade completa, independente de qualquer outra, exceto de Deus. A mais importante é a romana. A nosso ver, foi em Roma que essa última noção se formou”.

IV – A persona

• Os romanos/latinos estabeleceram parcialmente a noção de pessoa.

• (...) “pessoa” é mais do que um elemento de organização, mais do que um nome ou o direito a uma personagem e uma máscara ritual, ela é um fato fundamental do direito.

• Origem da palavra: etrusca.

• Latinos: deram o sentido primitivo que veio a ser nosso.

• Samnitas, etruscos, latinos ainda viviam na atmosfera que acabamos de deixar: personae, máscaras e nomes, direitos individuais a ritos, privilégios.

• Persona: sinônimo da verdadeira natureza do indivíduo.

IV – A persona

• O direito a persona é fundado. Somente o escravo está excluído dele. Ele não tem personalidade, não possui seu corpo, não tem antepassados, nome, cognomen, bens próprios.

V – A pessoa: fato moral

• Esse progresso foi feito sobretudo com a ajuda dos estóicos, cuja moral voluntarista, pessoal, podia enriquecer a noção romana de pessoa.

• Persona:

- Máscara, personagem que cada um é e quer ser, seu caráter, a verdadeira face.

- Imagem superposta.

- Personagem humana ou mesmo divina.

- O indivíduo em sua natureza nua, arrancada toda a máscara, conservando-se, em contraposição, o sentido do artifício: o sentido do que é a intimidade dessa pessoa e o sentido do que é personagem.

- Entre os clássicos latinos e gregos da moral (séc. II a.C. a séc. IV d.C.): Acrescenta-se cada vez mais um sentido moral ao sentido jurídico, um sentido de ser consciente, independente, autônomo, livre, responsável.

VI – A pessoa cristã

• Cristãos: Fizeram da pessoa moral uma entidade metafísica.

• Questão da unidade da pessoa, da unidade da igreja, em relação à unidade de Deus.

• É a partir da noção de uno que a noção de pessoa é criada.

• A pessoa é uma substância racional indivisível, individual.

VII - A pessoa, ser psicológico

• A noção e pessoa:

• Categoria do Eu.

• Consciência psicológica.

• Fechte: Todo fato de consciência é um fato do “Eu”.

• Fundou toda ciência e toda ação sobre o “Eu”.

• Kant: Fez da consciência individual, do caráter sagrado da pessoa humana, a condição da Razão Prática. → FechteFez dela, a categoria do “Eu”, condição da consciência e da ciência, da Razão Pura.

• Temos cada um nosso “Eu”.

VIII - Conclusão

“ De uma simples mascarada à máscara; de um personagem a uma pessoa, a um nome, a um indivíduo; deste a um ser com valor metafísico e moral; de uma consciência moral a um ser sagrado; deste a uma forma fundamental do pensamento e da ação; foi assim que o percurso se realizou. Quem sabe quais serão ainda os progressos do Entendimento sobre esse ponto?”