Post on 25-Jun-2015
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RIO — Antes mesmo de começarem, as Olimpíadas de Londres já
lançam novos limites para o corpo humano. Pela primeira vez, a
equipe americana de natação terá nas seletivas duas atletas com
mais de 40 anos — ambas com tempos fabulosos e impensáveis
para a sua idade. O Japão poderá levar um cavaleiro de 70 anos
às provas de hipismo dos Jogos. Esses superatletas são exemplos
visíveis e radicais de pessoas que integram o grupo crescente dos
sem-idade. Gente que parece ter muitos anos menos e vive muitos
anos a mais do que as pessoas da mesma idade de duas ou três
gerações atrás. Atletas de elite treinam em condições extremas e
alcançam condicionamento impossível para a maioria dos mortais.
Mas pessoas comuns também se beneficiam dos fatores que
geram super-humanos para pódios olímpicos.
O historiador Eric Hobsbawm cunhou o termo Era dos Extremos
para descrever o turbulento século XX. A expressão se encaixa
como uma luva para a diversidade humana dessas primeiras
décadas do século XXI. É fato que o mundo atravessa uma
epidemia de obesidade e que milhões de pessoas têm a qualidade
e a expectativa de vida reduzidas em função das mazelas trazidas
pelo excesso de peso. Esta é a grande batalha de saúde pública
deste início de milênio. Porém, em meio aos sete bilhões de
habitantes, há uma parcela considerável de pessoas com saúde
jamais alcançada antes em toda a História da Humanidade. Para
especialistas, não há receita mágica ou pílulas para os sem-idade.
A genética tem um peso. Mas a essência está na alimentação e
nos exercícios.
Comida melhor e mais equilibrada é parte importante desta história
de sucesso. Outra é uma mudança fundamental na cronologia da
atividade. Há nem tão pouco tempo assim a maioria das pessoas
parava de se exercitar na meia-idade. Esporte e atividade física
eram coisas das crianças e dos jovens. Hoje sabe-se que a
demanda por atividade só aumenta com a idade. Um dos
treinadores de Dara Torres, estrela da natação americana aos 44
anos, diz ser pura matemática. Se você malhava uma hora por dia
aos 20 anos, precisará de duas aos 30 e por aí vai. Exercício é
para a vida toda. Coisa que o indiano Fauja Singh sabe muito bem.
Em outubro passado, em Toronto, ele se tornou o primeiro
centenário do mundo a completar os 42,2 quilômetros de uma
maratona. Cruzou a linha de chegada em pouco mais de oito
horas. Em Londres, será uma das pessoas a carregar a tocha
olímpica.
O longo percurso percorrido por Singh no Canadá exige
capacidade aeróbica e persistência, condições que os
preparadores físicos atribuem à maturidade. O que limita um bom
resultado depois dos 40 anos são atividades que exigem explosões
de força muscular, que realmente diminui com os anos. As
americanas Dara Torres e Janet Evans, com 44 e 40 anos,
respectivamente, são pontos fora da curva. Mas quem escolhe um
treinamento mais fundamentado na resistência, como modalidades
de longa duração de corrida e ciclismo, por exemplo, pode
surpreender.
As marcas atingidas por muita gente comum que escolhe praticar
exercício a sério, hoje, se aproximam dos números de
competidores. A advogada Andrea Folegatti, dos Filhos do Vento,
foi considerada a melhor corredora amadora do Brasil no ano
passado, aos 35 anos, estampando a capa da revista
especializada “Finisher”. Este ano foi a segunda colocada nos 5K
da última edição da corrida de São Sebastião e está embarcando
para Paris, onde correrá a maratona após vencer em 2011 três
etapas do circuito Golden Four, da Asics.
Começar cedo é importante, pois o corpo se condiciona e os
resultados vêm mais rápido, assim como o estímulo para continuar.
— Vejo tudo isso como uma compensação do esforço de muitos
anos — avalia Andrea, apaixonada por esportes desde criança. —
Acho que estou melhor hoje, me cuido mais, entendo que o corpo
às vezes precisa descansar.
A possibilidade de criar treinamentos específicos para o perfil de
cada um e otimizar os resultados veio com o desenvolvimento do
conhecimento e das tecnologias da medicina e do esporte, opina o
professor de Educação Física Marcelo Cabral. Roupas,
equipamentos e estrutura adequados se tornaram mais acessíveis
recentemente e desempenham um papel importante.
A determinação e a persistência para alcançar objetivos movem
um corpo que vence a idade cronológica. Apesar de o cotidiano
atribulado muitas vezes jogar contra a dedicação, a frequência dos
exercícios deve ser perseguida.
— O mais importante após começar a atividade é não parar. Os
maiores inimigos do condicionamento são as interrupções e a
prática mal conduzida — destaca Ricardo Sartorato, um dos
fundadores da assessoria esportiva Filhos do Vento.
Assim como Andrea, a veterinária Juliana Trindade, de 33 anos,
dedica pelo menos seis dias por semana aos treinos. Juliana se
prepara para a meia maratona e, além de correr, nada no mar e faz
musculação. O corpo enxuto revela a dedicação. Com um filho de
6 anos, ela tem 1,70m de altura e 59 quilos.
Se Juliana e Andrea são beneficiadas pela genética, só estudos
mais detalhados poderiam mostrar. Algumas pessoas realmente
têm mais capacidade cardiorrespiratória e muscular, como o
montanhista nepalês Apa Sherpa, de 51 anos, que já subiu o
Monte Everest 21 vezes. Mas o treinamento frequente,
independentemente da idade, pode fazer muito pelo indivíduo
comum.
Semana passada, um estudo sueco reforçou o papel da atividade
física como principal arma pela longevidade. Pesquisadores
mostraram que, em uma hora de exercício, ocorrem modificações
na forma como os genes produzem proteínas associadas à força e
ao metabolismo.
— O estudo também revelou alterações relacionadas à
manutenção da força muscular em idosos — destaca Andrea
Deslandes, do Laboratório de Neurociência do Exercício, da
Universidade Gama Filho.
No interior das células ou no funcionamento de todo o organismo,
os benefícios da prática do exercício continuado são
incontestáveis. Prevenção de câncer, diabetes e doenças
cardíacas, diminuição do estresse, e aumento de autoestima e da
qualidade do sono entram na lista dos pontos ganhos no dia a dia.
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