Post on 08-Sep-2018
Maria Cristina Guimaraes
A RELIGIOSIDADE NA OBRA DE LUCIO RIBEIRO
Monografia para conclusao de curso apresentadaao curso de p6s-graduayao em PoeticasContemporaneas no Ensino da Arte daUniversidade Tuiuti do Parana como requisito paraa obtencao do titulo
ProfaDr Andrea Cristina Lisboa de Miranda
PONTA GROSSA2006
USTA DE FIGURAS
FIGURA 1- ESTAyAO ARTE PONTA GROSSA 19
FIGURA 2 - LILITH CRUCIFICADA 19
FIGURA 3- VILA HILDA PONTA GROSSA 20
FIGURA 4- OBRA SEM TITULO20
FIGURA 5- PULP ITO DA IGREJA N SRA DE GUADALUPE21
FIGURA 6 - MOSTEIRO DA RESSURRElyAO 21
FIGURA 7- BiBLIA DE LUCIO RIBEIRO22
FIGURA 8 - ILUSTRAyAO LlVRO DAS PALAVRAS 23
FIGURA 9- AUTO RETRATO 124
FIGURA 10- HOMEM ANGUSTIADO 25
FIGURA 11- PALHAyO 125
FIGURA 12- PALHAyO 2 27
FIGURA 13- AUTO RETRATO 2 27
FIGURA 14- AL TRulsMO DISCRETO 28
FIGURA 15- CAPA DO EVANGELIARIO 29
FIGURA 16- NOlTE DE NATAL 30
FIGURA 17-ANUNCIAyAO DO NASCIMENTO DE JESUS AOSPASTORES 31
FIGURA 18- VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS 32
FIGURA 19- ADORAyAO A VIRGEM MARIA 32
FIGURA 20 - ADORAyAO DOS REIS MAGOS 33
FIGURA 21- o REGRESSO DOS REIS MAGOS 34
SUMARIO
INTRODUCAO 5
2 FUNDAMENTACAO TEO RICA 7
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA 7
22 MOSTEIRO DA RESSURREIltAO 8
23 INFLUENCIAS 11
3 CAMINHOS PERCORRIDOS 19
4 OBRAS 24
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS 24
42 ILUMINURAS DO EVANGELIARIO 29
CONSIDERACOES FINAlS 36
6 REFERENCIAS 39
RESUMO
o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro
Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro
1 INTRODUCAO
Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de
obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern
acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo
entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional
E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au
ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar
alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se
ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista
local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade
Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro
que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista
recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e
Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro
da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras
estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao
obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro
Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que
influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento
expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como
Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos
pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram
produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica
Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das
formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0
evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque
da existencia destes livros
Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras
e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e
vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes
formas a religiosidade em sua obra
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
USTA DE FIGURAS
FIGURA 1- ESTAyAO ARTE PONTA GROSSA 19
FIGURA 2 - LILITH CRUCIFICADA 19
FIGURA 3- VILA HILDA PONTA GROSSA 20
FIGURA 4- OBRA SEM TITULO20
FIGURA 5- PULP ITO DA IGREJA N SRA DE GUADALUPE21
FIGURA 6 - MOSTEIRO DA RESSURRElyAO 21
FIGURA 7- BiBLIA DE LUCIO RIBEIRO22
FIGURA 8 - ILUSTRAyAO LlVRO DAS PALAVRAS 23
FIGURA 9- AUTO RETRATO 124
FIGURA 10- HOMEM ANGUSTIADO 25
FIGURA 11- PALHAyO 125
FIGURA 12- PALHAyO 2 27
FIGURA 13- AUTO RETRATO 2 27
FIGURA 14- AL TRulsMO DISCRETO 28
FIGURA 15- CAPA DO EVANGELIARIO 29
FIGURA 16- NOlTE DE NATAL 30
FIGURA 17-ANUNCIAyAO DO NASCIMENTO DE JESUS AOSPASTORES 31
FIGURA 18- VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS 32
FIGURA 19- ADORAyAO A VIRGEM MARIA 32
FIGURA 20 - ADORAyAO DOS REIS MAGOS 33
FIGURA 21- o REGRESSO DOS REIS MAGOS 34
SUMARIO
INTRODUCAO 5
2 FUNDAMENTACAO TEO RICA 7
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA 7
22 MOSTEIRO DA RESSURREIltAO 8
23 INFLUENCIAS 11
3 CAMINHOS PERCORRIDOS 19
4 OBRAS 24
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS 24
42 ILUMINURAS DO EVANGELIARIO 29
CONSIDERACOES FINAlS 36
6 REFERENCIAS 39
RESUMO
o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro
Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro
1 INTRODUCAO
Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de
obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern
acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo
entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional
E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au
ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar
alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se
ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista
local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade
Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro
que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista
recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e
Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro
da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras
estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao
obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro
Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que
influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento
expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como
Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos
pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram
produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica
Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das
formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0
evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque
da existencia destes livros
Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras
e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e
vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes
formas a religiosidade em sua obra
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
SUMARIO
INTRODUCAO 5
2 FUNDAMENTACAO TEO RICA 7
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA 7
22 MOSTEIRO DA RESSURREIltAO 8
23 INFLUENCIAS 11
3 CAMINHOS PERCORRIDOS 19
4 OBRAS 24
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS 24
42 ILUMINURAS DO EVANGELIARIO 29
CONSIDERACOES FINAlS 36
6 REFERENCIAS 39
RESUMO
o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro
Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro
1 INTRODUCAO
Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de
obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern
acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo
entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional
E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au
ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar
alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se
ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista
local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade
Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro
que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista
recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e
Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro
da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras
estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao
obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro
Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que
influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento
expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como
Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos
pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram
produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica
Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das
formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0
evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque
da existencia destes livros
Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras
e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e
vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes
formas a religiosidade em sua obra
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
RESUMO
o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro
Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro
1 INTRODUCAO
Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de
obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern
acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo
entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional
E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au
ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar
alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se
ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista
local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade
Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro
que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista
recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e
Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro
da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras
estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao
obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro
Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que
influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento
expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como
Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos
pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram
produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica
Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das
formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0
evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque
da existencia destes livros
Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras
e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e
vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes
formas a religiosidade em sua obra
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
1 INTRODUCAO
Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de
obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern
acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo
entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional
E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au
ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar
alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se
ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista
local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade
Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro
que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista
recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e
Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro
da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras
estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao
obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro
Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que
influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento
expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como
Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos
pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram
produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica
Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das
formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0
evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque
da existencia destes livros
Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras
e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e
vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes
formas a religiosidade em sua obra
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque
da existencia destes livros
Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras
e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e
vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes
formas a religiosidade em sua obra
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
21 BIOGRAFIA DO ARTISTA
Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e
radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos
artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado
no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana
aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura
Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua
principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com
uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras
Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do
Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio
Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem
em Penta Grossa
Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou
de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube
Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no
Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos
na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg
premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana
1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de
1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados
Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em
Curitiba
No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e
Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC
de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4
pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no
3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0
evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta
Grossa
Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a
1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal
Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e
de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em
Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das
Artes
Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0
desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999
ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou
iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002
22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
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DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da
clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das
persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no
inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco
de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e
a simplicidade de suas origens fossem abafados
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do
deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro
com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais
Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre
se conservou na Igreja
A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao
mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e
nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge
nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos
bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de
sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro
Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas
conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna
disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida
par urn mestre e urna comunidade
Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e
entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida
em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
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A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
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Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
10
naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de
oferenda e como servi90 aos horn ens
o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -
foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de
Sao Bento de Sao Paulo
A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase
desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio
no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do
conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em
comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja
Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da
Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria
Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para
ende a comunidade se transladeu no ana seguinte
o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando
sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes
de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de
Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de
Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya
jovialidade espontaneidade e de simplicidade
A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que
desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro
oferece
E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a
trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
II
personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou
a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu
traco expressionista caracteristico
23 -INFLUENCIAS
A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a
alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da
chamada vanguarda hist6rica do seculo xx
o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade
industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma
visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico
o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor
frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi
empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao
da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a
maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain
Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias
impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as
novissimas direc6es da arte francesa
Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado
te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se
tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por
artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
12
de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer
manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de
expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em
1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais
consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)
ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam
parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que
eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se
integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van
Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris
Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de
tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes
da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de
verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento
convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a
intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es
emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas
tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam
estes temas mais livre e arrebatador
Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde
afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de
arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia
Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
17
foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
13
o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria
ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma
associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao
individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e
buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural
conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de
comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica
(BEHR 2001 p19)
o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e
temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e
Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram
sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a
xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste
trabalho
Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa
autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao
e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele
pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a
escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992
p240)
Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a
expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das
caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a
valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao
presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt
U
14
corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
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Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
16
emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
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foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
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iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
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3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
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Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
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Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus
impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das
figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania
Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se
desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem
se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a
gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao
estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi
urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense
Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter
(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este
grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado
p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial
Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de
Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior
sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo
grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas
do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e
Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e
Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix
produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos
primeiros tempos
Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as
demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial
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Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
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emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
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foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
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iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
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3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
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acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
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Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
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suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
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40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
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FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
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A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
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30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
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ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
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Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
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arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
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BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
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FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
15
Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que
este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8
importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade
maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas
e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio
do seculo XX
o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas
vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi
conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde
desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus
desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn
breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram
queimados
Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido
como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para
Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo
relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim
mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio
Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta
tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo
nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um
expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na
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emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
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foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
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iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
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3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
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Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
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MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997
p171)
A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado
em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0
ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a
religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0
material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa
proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade
de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a
Igreja que estabelecia 0 dogma
o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus
Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em
suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de
hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao
pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que
as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte
manuscritos com iluminuras sao
Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)
Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em
masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras
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foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as
figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra
A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos
concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram
corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma
arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor
das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
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iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
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3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
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acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
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A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
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Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
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suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
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40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
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FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
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Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
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28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
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FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
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Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
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Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
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FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
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A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte
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concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001
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corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser
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das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres
dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano
A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas
p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista
como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da
arte do Ocidente Medieval
Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas
que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida
derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero
que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos
anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as
pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem
de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel
Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a
dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores
frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas
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iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
18
iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e
direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn
resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais
revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente
Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas
iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos
quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes
Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No
capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na
iluslrayao desles lextos
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3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
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A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
19
3 CAM1NHOSPERCORRIDOS
A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de
obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do
Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes
espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa
Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada
urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da
pesquisa
A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se
no Parque Ambiental Governador Manoel
Ribas no centro de Ponta Grossa Esse
espago e destinado pela prefeitura para a
realizacc3o de cursos das mais diferenciadas
Iinguagens artisticas como par exemple teatro
desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de
arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem
exposiyoes de artistas de varias localidades
Durante a visita ao local a coordenadora do
espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio
Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta
exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre
a obra do Artista em exposiyao no local Lilith
Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de
madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que
representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
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FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
20
acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis
ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que
perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que
conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)
Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria
observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao
no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os
dados biograficos e 0 seu curricula artistico
um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um
trecho escrito pelo artista plastico ponta-
grossense Joao Carneiro sabre a obra de
LuciouQ expressionismo usado como urna
arma quer 0 dialogo com a espectador as
figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser
qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a
expressao contida guardada escondida no interior de cada urn
A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de
Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do
municipio
Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local
uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia
indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do
predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo
sobre madeira
21
A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
22
Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
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Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
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REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
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DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de
Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula
em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0
Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta
localizada no pulpito do altar uma pintura sabre
madeira denominada 0 Bestiario de Cristo
Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe
(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio
Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a
Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada
a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado
atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da
cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual
Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao
Encontra-se no local 142 obras do Artista
Bernardo
No Mosteiro funciona uma loja que
comercializa a produyao dos manges Alguns dos
trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos
em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e
desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)
Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e
fizeram parte de seu acervo pessoa1
Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em
especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido
Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro
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Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
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suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
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Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
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Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
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Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
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GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram
registradas atraves de fotografias
Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento
bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante
todos os encontros
Constatamos que 0 material
pertencente a familia permanecia intocado
desde a morte do Artista Recortes de
jornais desenhos fotos de familia pinturas
livres objetos pessoais entre Qutros
materia is conforme iam sendo manuseados
pela Mae resgatavam lembrancas que ate
entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da
casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais
No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0
trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel
estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida
ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal
o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela
relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de
Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do
Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro
produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as
2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina
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suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
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40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
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FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
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Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
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A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
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FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
23
suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra
constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE
visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as
desenhos de figuras humanas incompletas
Dessa forma ao final da fase
exploratoria foi passivel reunir parte da
produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total
de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas
variadas como per exemplo desenhos
pinturas gravuras urn mural pintado na cidade
de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros
trabalhos
Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada
produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e
subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre
a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve
parte dos trabalhos doados pela familia
24
40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
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Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
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o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
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REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
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GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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40BRAS
41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS
Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram
produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos
em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e
tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza
uma grande intensidade nervosa em sua obra
FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio
coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do
tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra
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FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
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Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
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A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
25
FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)
Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos
nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0
desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele
sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e
angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade
de sentimentos (2001 p 481)
FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)
26
Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao
demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade
Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)
Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado
Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade
Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus
Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade
Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista
Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6
que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo
faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele
A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0
cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e
provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na
faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida
monastica
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
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28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)
FONTE Mostelro da Ressurreuao
FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)
FONTE Mosteiro da Ressurreirao
27
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
28
A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens
apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian
Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear
quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes
repulsivas (2001 p 481)
FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)
Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa
presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da
gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos
das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas
aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da
obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
29
42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO
o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as
iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as
evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte
prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de
As imagens do Evangeliario fcram fotografadas
irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e
atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes
para completar as evangelhos Lucio sempre teve
grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda
como modele para seus desenhos as irmaos manges
seus superiores e caisas do cotidiano assim como
animais e plantas do mosteiro
pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da
Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no
Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario
As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte
forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123
45
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
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5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
30
FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL
Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra
inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de
canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho
de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia
Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura
mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja
do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre
Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)
que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados
par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte
do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas
iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar
o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da
Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade
atraves do cao
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
31
Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos
sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a
sentimento do Artista
FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES
Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa
Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0
menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses
do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e
XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades
governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)
A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida
por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
32
ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina
direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo
FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS
FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
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REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
33
Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a
representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa
Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam
Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando
Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de
pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente
representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)
Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto
a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com
o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em
referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina
FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
34
Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis
magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as
seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom
Gabriel e Dom Geraldo
Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram
considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a
estrela (2004 p 44)
FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS
A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de
Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam
Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia
A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges
possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
35
arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres
religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento
poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na
vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro
favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a
leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)
Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra
pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de
martirio
Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a
sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos
manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da
vida monastica que e a vida em comunidade
Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90
expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan
Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao
especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua
caracteristica expressionista
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
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FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
36
5 CONSIDERA~OES FINAlS
Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa
a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae
em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que
condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que
estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao
cheias de tensao e emocao
Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a
intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos
desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se
conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os
mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os
Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar
sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga
emocional
Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao
professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram
em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve
como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que
com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum
sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram
trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida
uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos
que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
37
Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de
iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final
pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua
pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que
nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna
Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio
Ribeiro era urn artista da cidade
o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da
valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e
como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi
possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere
outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no
contexte escolar
Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos
a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em
nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao
mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que
( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da
automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e
exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil
Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu
produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente
tecnologizado(1999 p35-36)
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
38
o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn
convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de
levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera
feita urna exposicao com as obras catalogadas4
TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser
continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem
muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa
ela naD tern fim
Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e
apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais
especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte
com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as
objetivos
40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa
39
REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006
BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006
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REFERENCIAS
ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992
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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001
BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001
CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)
CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001
DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997
FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)
GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006
GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000
LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006
MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004
MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)
MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006