Post on 23-Aug-2021
Um pouco de nossas manhãs na Escola do Sítio:
Organizar a rotina...
Aprender algo novo...
Aceitar desafios...
Usar material concreto...
Ouvir e ser ouvido nas rodas...
Anotar informações...
Tomar o lanche embaixo de uma árvore...
Resolver um conflito...
Correr e fugir em um envolvente pega-pega...
Brincar com os amigos...
Dividir e emprestar...
Ensinar algo...
Sentar no chão...
Dramatizar uma história...
Nutrir o coração...
Ampliar o raciocínio...
Escutar as professoras...
Mostrar seu ponto de vista...
Escrever do seu jeito e também convencionalmente...
Pincelar cores pelo papel...
Arrumar o seu espaço...
... um semestre com diversos momentos especiais.
Relatório de grupo – 1º semestre/2019 Turma: 3º ano Professora: Ana Paula B. de Godoy Professora auxiliar: Raphaela Alcaraz Coordenadora: Lucy Ramos
Nos primeiros dias de aulas, as
crianças estavam ansiosas para saber qual
seria o elemento que rechearia de
imaginação e magia as nossas aulas.
Enquanto o nosso objeto disparador,
não chegava, fomos pesquisar quais deles
os alunos e funcionários da escola já se
lembravam. Entrevistamos diversas
pessoas e ficamos conhecendo vários
deles, como: bolsa, ampulheta, tronco de
árvore, roda de bicicleta...
Até que um dia, fomos surpreendidos
por uma entrega inusitada. O 3° ano havia
recebido alguns materiais na portaria da
escola. Em uma carriola estavam:
pedras, uma bacia de cimento e
um motorzinho.
As crianças ficaram bastante eufóricas e logo começaram a pensar utilidades para aqueles
materiais. Poderiam ser usados na construção de um aquário, mas estavam faltando os animais...
Também pensamos que poderia ser um bebedouro, será que poderíamos deixar a água potável?
Ou uma cascata de água... Que ideia interessante, estudar ouvindo o barulhinho
de água.
Após os levantamentos iniciais, resolvemos colocar a mão na massa, organizamos as pedras
na bacia, colocamos o motor e adicionamos bastante água. Logo uma fonte foi sendo montada.
Um objeto em constante transformação, que ao longo do semestre foi mudando de forma e
incorporando outros elementos e objetos. Sua presença
em nossa sala trouxe uma harmonização diferente,
acolhimento e oportunidades para reflexões. Também
orientou vários de nossos estudos com a água,
experiências e conscientização.
O tema do ano da escola também foi algo que caminhou junto com o objeto disparador.
“Tinha uma LIXO no meio do caminho: O que eu (não) faço com aquilo que nos resta?”
As crianças, atentas, começaram a perceber que mesmo após a apresentação do tema do
ano, quando terminava o lanche, o chão da escola ainda permanecia com restos de comida e
embalagens. Preocupadas, começaram a juntar esse lixo para mostrar à turma.
Conversamos à respeito, separamos esse material e observamos que muitos deles poderiam
ser transformados e usados para outros fins. Assim, começamos a juntar, higienizar e guardar
esse material que sobrava após o lanche. Motivados, alguns alunos, também começaram a trazer
de casa embalagens que poderiam ser reaproveitadas.
Tivemos a ideia de acondicionar esse material e formar uma “lixoteca”. Em uma manhã de
bagunça organizada: estabelecemos critérios de separação de materiais, espalhamos a sucata pela
classe e guardamos em caixas, que logo foram identificadas. Refletimos que “lixoteca” não era um
nome apropriado, já que ali não guardaríamos lixo e sim materiais que seriam reaproveitados.
Assim, passamos a chamar este espaço de “sucatoteca” e para organizá-lo construímos um
manual de instruções de uso.
É claro que as crianças já
estavam empolgadas em usar
todo esse material, e logo
embalagens se transformaram
em brinquedos. Crianças com a
criatividade aguçada, pensaram
em cores e misturas de
materiais, com um pouco de
cola e fita crepe deram formas e
reinventaram, dando novos
usos para o que já não tinha
mais utilidade e iria virar lixo.
Ampliando a ideia de reaproveitamento do lixo, trouxemos o conceito dos 5 R’s. Refletimos
sobre alguns dos impactos que esse lixo faz no ambiente, assistindo vídeos e discutindo em rodas
de conversas. Pensamos em outras possibilidades de mudar o destino do lixo como, a reciclagem
de papéis e de plásticos. Repensamos nossas atitudes e refletimos sobre o consumo, vimos que
também podemos recusar canudinhos e saquinhos plásticos (substituindo por saquinhos de jornal).
A conscientização sobre os impactos que provocamos no meio ambiente vem trazendo
algumas mudanças de atitudes e em grupo estamos dando pequenos passos, que ajudam a
construir um espaço melhor, primeiro dentro do nosso micro, ampliando futuramente.
Pensando na transformação dos materiais, fizemos uma experiência com batatas, utilizando
o amido presente no vegetal e transformando-o em plástico. Lemos as instruções,
organizamos os materiais e colocamos a mão na massa, cortando as batatas, batendo no
liquidificador e passando na peneira. Foi preciso levar ao fogo, para que a água evaporasse.
Ansiosamente, deixamos o experimento em repouso, por um final de semana, para na segunda-
feira ver o plástico. Porém, nos deparamos com um resultado bem diferente do que imaginávamos.
Lidamos com a frustação da experiência não ter dado certo e do mau cheiro pela sala.
A partir da experiência com batatas, propomos que pesquisassem outras experiências,
agora relacionadas com água. As crianças se envolveram muito e trouxeram várias, a expectativa
era grande para que tivéssemos um resultado melhor do que a experiência anterior.
Nas aulas de Ciências os alunos se tornaram pequenos cientistas, vestiram avental de
proteção e foram até a bancada preparada para suas demonstrações, com os olhinhos atentos os
colegas observavam admirados as apresentações.
Fizemos estudos dos estados físicos da água e experimentamos transformar de líquido para
sólido e gasoso. Aproveitamos e usamos a criatividade para imaginar o ciclo na natureza, o nosso
gelo transformou-se um iceberg e a bacia com água, no oceano, aonde navegava o Titanic. Neste
cenário criado, mais uma apresentação aconteceu.
Iniciamos nosso estudo com gêneros textuais pensando nas fábulas. Como são textos curtos,
com poucos personagens facilitam a organização em começo, meio e fim. O estudo possibilitou
leituras coletivas, interpretações e produções de textos.
Valorizando o lado artístico de algumas crianças e despertando em outras, propusemos que
apresentassem as fábulas estudadas, para os colegas. Cada criança escolheu a forma que
preferia contar, estimulamos que fosse algo dinâmico, que chamasse a atenção do ouvinte. Alguns
preferiram se juntar com um amigo, outros contaram sozinhos.
Deitados no tapete, sentados nas almofadas as crianças se aconchegavam para ouvir os
colegas contarem as histórias. O “aluno leitor”, muitas vezes com friozinho na barriga, ou com
sorriso no rosto ganhava destaque... Teve leitura com o livro e com Power point, dramatização
com o corpo e com fantoches, apresentações gravadas e ao vivo, com pequenos desenhos e até
com grandes cartazes.
Ouvir a leitura do colega, localizando-a no texto, atentamente, foi um exercício realizado na
leitura monitorada, do livro “Os Problemas Família Gorgonzola”. Uma obra divertida, que nos
convida a resolver situações-problemas, envolvendo os personagens criados por Eva Furnari. Montamos
um marcador de páginas bem diferente, que também servia para anotar os cálculos e registrar
nossos pensamentos.
As leituras monitoradas do livro da Família Gorgonzola, ampliaram o trabalho com as
resoluções de situações problemas e estimulando o raciocínio lógico, através de histórias
divertidas. Assim, além de focar a leitura das crianças, estivemos trabalhando adição, subtração,
multiplicação e divisão em contas armadas e/ou por raciocínio, sempre presando pelo registro do
processo para a resolução dos problemas. As crianças se envolveram com esse trabalho, que
costurou os estudos de contação de histórias e a linguagem matemática, ao longo do semestre.
Conhecemos um pouco da vida da escritora e até escrevemos um e-mail para ela.
Conhecemos vários de seus livros e nos inspiramos em seus textos, para escrever os nossos
livrinhos também.
Um desafio foi lançado para o grupo: E se todos nós reescrevêssemos nossa história, com
uma bela letra cursiva? Alguns alunos já estavam familiarizados com a escrita manuscrita, mas
para outros esse foi um grande desafio. Também, repensamos a escrita convencional das palavras,
aproveitamos para usar os sinais de pontuação e parágrafos já estudados.
Fizemos caprichosas ilustrações para compor o material e montamos um varal de livros,
para socializar nossos textos com os colegas. Os olhinhos brilhavam ao ver o resultado de tanta
dedicação.
Outro gênero textual que ganhou destaque em nossos estudos foram os poemas e poesias.
A partir da visita ao Sítio Duas Cachoeiras começamos a falar e escrever mais poéticamente, sobre
nossas vivências e emoções. Brincamos de encontrar rimas com os nossos nomes e escrevê-las
organizando em versinhos. Percebemos
que este tipo de texto é bem diferente da
prosa.
Na matemática iniciamos com o
estudo do tempo. Construímos
coletivamente o calendário de 2019,
incluímos nele os aniversariantes de cada
mês. Também localizamos na agenda o
dia do aniversário de cada colega.
Vimos quantos dias tinha cada mês e fizemos diferentes cálculos, verificando quantos dias
tinha os bimestres, trimestres, semestres e até mesmo o ano. Conversamos sobre ano bissexto.
Calculamos quantas horas tinha dois dias... e ampliamos para uma semana. Para isso,
usamos material dourado e começamos a registrar com conta armada. Ouvimos como vários
colegas tinham raciocinado para chegar ao resultado, aumentando as possibilidades de elaborar o
raciocínio.
Também, organizamos os dados obtidos em gráficos e tabelas e aprendemos a fazer
leituras das informações, visualizando de outra maneira. Fizemos diversos registros em tabelas,
desenvolvendo a localização espacial e organizacional. Em uma de nossas pesquisas e registros
buscamos curiosidades e informações sobre os meses. Ficamos conhecendo as pedras de cada
signo e nos encantando com sua beleza.
Nos estudos de geografia, estávamos aprofundando o olhar do macro para o micro, fizemos
a leitura do livro Zoom onde a perspectiva de aproximação da realidade é mudada a cada página
e dependendo do ponto de vista. Criamos a nossa representação, de algo que pode ser visto por
um novo ângulo. Passamos a compreender que as podemos ter visões diferentes da mesma
situação.
Fizemos uma vivência na qual ampliamos com o nosso corpo, do micro para o macro. Saindo
de nossa escola, onde estávamos na posição fetal, para a rua, para o bairro... Até chegar ao
continente e no planeta, no qual já estávamos de pé, com os braços bem ampliados.
Também fizemos um registro de como achávamos que era o nosso planeta, representado-o
em um mapa. Depois fomos observar no Geoatlas e percebemos diversas representações para o
planeta e os territórios.
Nas aulas de artes, pincelamos com anilina o mapa de nossa escola. Em outro momento,
em grupos, criamos um mapa do tesouro, para ser
encontrado pela outra equipe.
Esperamos, ansiosos, para descobrir o que seria o tesouro, vencemos as dificuldades de se
localizar no mapa, seguindo as pistas e dicas orientadas pelos colegas. E finalmente, descobrimos
as pedras preciosas...
Cada criança recebeu uma pedra diferente, com um colorido e brilho especial. O mistério
logo foi desvendado pela lembrança do estudo anterior e as crianças perceberam que a lógica da
entrega eram as pedras dos signos.
No estudo do micro para o macro, começamos a pensar nas características de nossa
região e as maravilhas de Barão Geraldo. Buscamos olhar para além do que estamos acostumados
a ver diariamente, no caminho que fazemos para chegar até a escola. Como é esse lugar? Quais
são as pessoas que moram aqui? Como foi sendo construído esse espaço? Como será que ele era
há 300 anos atrás?
A partir de nossas observações e de nossos olhares, construímos um livrinho com
informações e curiosidades. Conhecemos a tradicional lenda de nosso distrito: Boi Falô. E
discutimos sobre a chegada do
povo africano nas terras
brasileiras, suas
representações, suas heranças
e a realidade vivenciada
atualmente. História que veio
culminar em nossa
apresentação na Festa Junina,
unindo os 4 elementos e o
legado africano.
A presença do elemento água esteve em todo o semestre, ganhando movimento em nossa
fonte, em nossas atividades e em nossas ações. Repensamos o seu uso, para que de forma
consciente, pudemos usá-la, mas sem desperdício. Fizemos orientação a comunidade, através de
cartazes e adesivos.
Fomos presenteados com um lindo livro de fotografias, em preto e branco, com imagens que
carregavam diversos olhares para a água. Essa fonte de vida, representada em fotos, nos
inspiraram em propostas artísticas e em palavras que eram carregadas de emoções.
O estudo do meio, veio contemplar esse olhar, o cuidado com a água e respeito pela
natureza. Fomos visitar o Sítio Duas Cachoeiras e nos aventurar a observar a vida do campo com
outros olhares e sentidos.
Pudemos ampliar o olhar para perceber
os diferentes tons de verde... Ouvir a
melodia das folhas da árvore... Deixar o
aroma da alfavaca, presentes na mata,
preencher nossas narinas... Experimentar o
sabor do ferro, presentes nas sementes de
urucum... E é claro, sentir o arrepiante
toque das águas, ao entrar na cachoeira.
Além disso, rolamos pelo barranco do
gramado, lanchamos com clima de
piquenique, demos comida para as ovelhas e
conhecemos o processo de transformação do
pelo das ovelhas em delicados fios de lã, que
enchem de vida os teares.
Voltamos do estudo do meio, com a
energia revigorada e empolgados para
construirmos a nossa trama. Com as
mãozinhas cheia de habilidades e com o
coração cheio de poesia, a tecelagem foi
sendo fiada e os textos foram sendo
produzidos para narrar as nossas versões
desta fonte de vida...
Versões que trazem a história de um
grupo com a presença marcante, com a alegria
no olhar, com a busca pelo conhecimento.
Crianças repletas de energia, com o jeitinho de
cada um, contemplados dentro de um coletivo
maior...
Entre os emaranhados das serpentinas,
trançamos tramas com fios coloridos...
histórias contadas com a magia da infância...