Post on 24-Nov-2020
i
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
BRASIacuteLIA
2018
ii
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS FARMACEcircUTICAS
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
BRASIacuteLIA
2018
iii
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Orientadora Profordf Drordf Eloisa Dutra Caldas
Co-Orientadora Profordf Drordf Maacutercia Renata Mortari
BRASIacuteLIA
2018
iv
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Brasiacutelia 31 de julho de 2018
Banca Examinadora
______________________________
Profordf Eloisa Dutra Caldas
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente
______________________________
Prof Rafael Souto Maior
Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Roseli Boerngen de Lacerda
Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Andreacutea Barreto Motoyama
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente
v
AGRADECIMENTOS
Agrave minha famiacutelia pela forccedila
Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no
conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a
ayahuasca
Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar
Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria
confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre
Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do
potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas
Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC
pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua
aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca
Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao
Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico
Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa
Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas
dificuldades
Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro
ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do
alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento
Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela
imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia
para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro
Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama
por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo
Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo
desta jornada
A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel
a realizaccedilatildeo do estudo
Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo
Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras
substacircncias quiacutemicas
vi
A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser
respeitada valorizada e compreendida pela sociedade
Luciana Marangni Nolli
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
ii
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS FARMACEcircUTICAS
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
BRASIacuteLIA
2018
iii
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Orientadora Profordf Drordf Eloisa Dutra Caldas
Co-Orientadora Profordf Drordf Maacutercia Renata Mortari
BRASIacuteLIA
2018
iv
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Brasiacutelia 31 de julho de 2018
Banca Examinadora
______________________________
Profordf Eloisa Dutra Caldas
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente
______________________________
Prof Rafael Souto Maior
Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Roseli Boerngen de Lacerda
Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Andreacutea Barreto Motoyama
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente
v
AGRADECIMENTOS
Agrave minha famiacutelia pela forccedila
Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no
conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a
ayahuasca
Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar
Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria
confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre
Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do
potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas
Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC
pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua
aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca
Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao
Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico
Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa
Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas
dificuldades
Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro
ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do
alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento
Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela
imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia
para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro
Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama
por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo
Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo
desta jornada
A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel
a realizaccedilatildeo do estudo
Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo
Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras
substacircncias quiacutemicas
vi
A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser
respeitada valorizada e compreendida pela sociedade
Luciana Marangni Nolli
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
iii
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Orientadora Profordf Drordf Eloisa Dutra Caldas
Co-Orientadora Profordf Drordf Maacutercia Renata Mortari
BRASIacuteLIA
2018
iv
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Brasiacutelia 31 de julho de 2018
Banca Examinadora
______________________________
Profordf Eloisa Dutra Caldas
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente
______________________________
Prof Rafael Souto Maior
Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Roseli Boerngen de Lacerda
Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Andreacutea Barreto Motoyama
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente
v
AGRADECIMENTOS
Agrave minha famiacutelia pela forccedila
Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no
conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a
ayahuasca
Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar
Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria
confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre
Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do
potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas
Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC
pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua
aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca
Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao
Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico
Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa
Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas
dificuldades
Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro
ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do
alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento
Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela
imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia
para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro
Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama
por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo
Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo
desta jornada
A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel
a realizaccedilatildeo do estudo
Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo
Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras
substacircncias quiacutemicas
vi
A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser
respeitada valorizada e compreendida pela sociedade
Luciana Marangni Nolli
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
iv
LUCIANA MARANGNI NOLLI
AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E
ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias
Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de
Brasiacutelia
Brasiacutelia 31 de julho de 2018
Banca Examinadora
______________________________
Profordf Eloisa Dutra Caldas
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente
______________________________
Prof Rafael Souto Maior
Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Roseli Boerngen de Lacerda
Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo
______________________________
Profordf Andreacutea Barreto Motoyama
Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente
v
AGRADECIMENTOS
Agrave minha famiacutelia pela forccedila
Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no
conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a
ayahuasca
Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar
Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria
confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre
Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do
potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas
Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC
pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua
aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca
Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao
Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico
Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa
Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas
dificuldades
Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro
ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do
alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento
Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela
imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia
para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro
Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama
por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo
Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo
desta jornada
A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel
a realizaccedilatildeo do estudo
Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo
Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras
substacircncias quiacutemicas
vi
A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser
respeitada valorizada e compreendida pela sociedade
Luciana Marangni Nolli
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
v
AGRADECIMENTOS
Agrave minha famiacutelia pela forccedila
Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no
conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a
ayahuasca
Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar
Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria
confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre
Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do
potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas
Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC
pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua
aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca
Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao
Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico
Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa
Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas
dificuldades
Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro
ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do
alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento
Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela
imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia
para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro
Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama
por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo
Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo
desta jornada
A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel
a realizaccedilatildeo do estudo
Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo
Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras
substacircncias quiacutemicas
vi
A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser
respeitada valorizada e compreendida pela sociedade
Luciana Marangni Nolli
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
vi
A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser
respeitada valorizada e compreendida pela sociedade
Luciana Marangni Nolli
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico
que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o
estriado e o hipocampo9
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na
mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada
com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)
expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes
esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina
(CRF1)10
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo
o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens11
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees
implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems
(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A
ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees
serotonineacutergicas13
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide14
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina
presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis
Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20
Figura 10 Psychotria viridis22
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
viii
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029
Figura 13 Arena de Campo Aberto32
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)
B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc
Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas
Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro
padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05
(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma
via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo
ao grupo H2O 41
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza
B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA
05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo43
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio
nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero
de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e
fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste
Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada
paracircmetro45
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
ix
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49
Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50
Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO
VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo
H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)
AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)
controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio
(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
ACC Nuacutecleo Accumbens
AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens
AMYG Amiacutegdala
APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana
AUD Alcohool Use Desorder
AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual
AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual
AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual
BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis
CA Campo Aberto
CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala
CPu Caudado-Putamen
CRF1 Corticotropina
DAB Diaminobenzidina
N N DMT NN Dimetiltriptamina
DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EPM Erro padratildeo da meacutedia
HIPP Hipocampo
HYP Hipotaacutelamo
5-HT Serotonina
IA2BC Interminent access to 2-botttle choice
IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede
IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada
LCE Labirinto em Cruz Elevado
LGIC Ligand-Gated Ion Channels
MAO Monoamina Oxidase
MAO-A Monoamina Oxidase A
MAO-B Monoamina Oxidase B
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
xi
MR Rafe Mediana
NMDA N-metil D-aspartato
NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
NTX Naltrexona
PA Pressatildeo arterial
PAP Peroxidase Antiperoxidase
pc Peso corpoacutereo
PFC Coacutertex preacute-frontal
PH Potencial Hidrogeniocircnico
SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal
SNC Sistema Nervoso Central
SERT Transportador de serotonina
SPSS Statistical Package for The Social Sciences
SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors
UDV Uniatildeo do Vegetal
VTA Aacuterea Tegmental Ventral
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO 1
ABSTRACT 2
I INTRODUCcedilAtildeO 3
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5
1 ALCOOLISMO 5
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO
ALCOOLISMO
13
31 NALTREXONA 14
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15
5 AYAHUASCA 17
51 Contexto religioso da ayahuasca 17
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24
III OBJETIVOS 27
GERAL 27
ESPECIacuteFICOS 27
IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28
1 AYAHUASCA 28
2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29
3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE
CHOICE)
30
31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30
33 Fase de tratamento 31
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31
41 Campo Aberto 31
42 Labirinto em Cruz Elevado 32
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE
NISSLCRESYL
37
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38
V RESULTADOS 39
1 PROTOCOLOS IA2BC 39
11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41
21 Campo Aberto 42
22 Labirinto em Cruz Elevado 43
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45
4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL
xiii
VI DISCUSSAtildeO 54
VII CONCLUSAtildeO 59
VIII REFEREcircNCIAS 60
ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70
1
RESUMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em
humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso
religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos
deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que
consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-
botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais
relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo
aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos
em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista
opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2
X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana
e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca
natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo
foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a
expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex
medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi
signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com
naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado
em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de
Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que
tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento
com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos
expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e
tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens
em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda
estudos futuros
Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas
2
ABSTRACT
Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have
demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious
ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate
the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol
during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)
evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction
and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the
IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5
days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca
(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was
sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment
Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption
compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was
significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression
in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens
nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O
group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens
nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of
Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain
weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have
significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca
treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other
treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in
rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires
further investigation
Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways
3
I INTRODUCcedilAtildeO
O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute
seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no
mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose
hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33
milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos
globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha
consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente
(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios
brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram
episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)
O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma
desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico
serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas
para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a
mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes
respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas
(STEENSLAND et al 2007)
A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos
indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da
Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima
que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem
N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A
(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)
No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos
e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985
Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando
a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes
tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no
tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)
4
Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de
desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas
Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um
localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos
dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no
tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do
consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo
da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia
ao aacutelcool
5
II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA
1 ALCOOLISMO
O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo
encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as
destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp
FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na
humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as
culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos
momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada
(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas
regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que
duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens
a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes
de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)
Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu
uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco
e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES
2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo
comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo
excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a
sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada
em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com
o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei
Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados
Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das
autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que
dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)
O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas
Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num
ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo
6
foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849
o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees
patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em
indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA
2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo
de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o
alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN
amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o
alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A
classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem
relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as
duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder
AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)
Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no
estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos
e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis
no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool
desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase
(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar
de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute
constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a
concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)
O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando
cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode
ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos
A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um
subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do
comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O
consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de
cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem
(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)
(SCHEIDELER et al 2018)
7
Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool
O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode
causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de
vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente
encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo
aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia
consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e
jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool
apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e
comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al
2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e
parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas
mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala
Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico
familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens
relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)
A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados
pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit
de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento
8
neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos
ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que
natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que
mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e
15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)
A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas
metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente
do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio
e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos
a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas
chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de
aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave
aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo
desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)
As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao
aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a
mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)
2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL
O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de
receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)
o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os
opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees
do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute
muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et
al 2010 COSTARDI et al 2015)
Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor
alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem
dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente
ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo
voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente
9
no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo
de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais
nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico
de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala
Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico
mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-
frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)
O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e
sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo
para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem
dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial
de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores
propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo
neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o
bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia
ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de
resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de
10
corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada
de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3
Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L
(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala
(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos
ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs
enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador
de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)
Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda
sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e
interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil
D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda
ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo
coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato
isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os
receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao
aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave
normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de
superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al
2008)
11
O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados
pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides
(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores
MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de
recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a
liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os
efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa
Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a
dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo
tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo
accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)
O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia
ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool
e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de
serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU
et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de
serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o
transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em
animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp
KNOKE 2001)
12
As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de
membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis
satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos
receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os
receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo
regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam
positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A
ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma
despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores
estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu
papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores
5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na
atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)
Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte
wwwflipperdifforgapppathways1521
Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de
serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo
aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao
mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute
13
envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala
principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A
A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao
aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo
Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos
receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de
consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as
projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool
Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana
(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal
(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e
aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro
humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas
3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO
As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o
acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos
receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos
aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado
na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor
GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson
entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria
de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado
14
em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no
tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et
al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que
nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o
consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram
uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede
dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute
eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)
31 Naltrexona
A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e
foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto
com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides
particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos
receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp
ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito
pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas
moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)
Naltrexone
6β-Naltrexol
Morfina
Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista
opioide
Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte
psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto
consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar
15
totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem
reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado
(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios
paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)
4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL
Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial
de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015
CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que
consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de
iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como
a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de
iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela
primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada
(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo
utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014
CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)
No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave
soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em
dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento
gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6
gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue
farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o
consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014
LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem
atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do
estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)
Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de
aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de
naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta
semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na
sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30
16
minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona
diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para
cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das
proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no
coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi
revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)
A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da
oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos
FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas
Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY
2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101
aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e
NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de
aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et
al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em
eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de
dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens
(Cruz et al 2015)
Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool
com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)
onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a
5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e
na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas
para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo
(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e
oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi
classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-
preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)
- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no
consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia
significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a
17
mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da
exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de
consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e
realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores
GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers
(VILLAS BOAS et al 2012)
5 AYAHUASCA
Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para
atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que
contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees
indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente
e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos
povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)
Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das
almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo
Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca
eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias
plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)
51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA
Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e
Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida
no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente
religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra
ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios
anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou
os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem
a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber
o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)
18
ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares
distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais
Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina
chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da
Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria
dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir
preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se
um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo
Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando
ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente
mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem
pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser
relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua
aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa
Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar
os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no
posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a
constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos
principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a
ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz
alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo
Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees
foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais
difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico
consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em
1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees
ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca
no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados
Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH
CANADA 2017)
Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo
potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios
Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos
como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura
oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca
(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar
naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores
generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e
19
da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI
Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este
resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da
floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da
ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status
psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e
comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)
e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-
Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados
ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que
mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao
ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram
que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da
ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto
do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor
bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas
drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN
et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade
tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)
52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca
Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as
plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades
de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o
botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira
venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira
utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em
1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis
(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre
no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias
denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute
20
A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e
tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina
oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY
et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a
195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)
Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca
Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e
tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente
na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor
serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)
21
As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes
principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)
No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a
MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro
inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis
dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como
isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina
a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A
(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo
oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da
MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar
seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina
(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)
A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida
popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)
um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar
ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a
recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et
al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066
de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado
em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada
nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)
Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no
fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas
presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua
chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos
(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)
22
Figura 10 Psychotria viridis
Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)
mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo
e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que
ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70
kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe
amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em
lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis
de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento
de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no
grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na
amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou
degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-
carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)
53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca
Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso
grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado
pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um
23
indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg
pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)
A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose
ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)
expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de
exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade
conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando
testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou
baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose
que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado
(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg
pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos
Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses
de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma
diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa
do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais
expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total
diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo
em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores
reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca
em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc
DMT)
Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas
expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo
dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo
fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano
renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo
e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1
Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)
foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de
1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira
et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de
24
ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos
no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute
importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia
limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e
mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)
Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a
gestaccedilatildeo
54 Potencial terapecircutico da ayahuasca
A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da
ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de
alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017
CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode
ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para
investigar melhor esse efeito
Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo
intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)
O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo
caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida
foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg
pc por 14 dias
Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida
com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)
Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da
ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no
Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando
sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro
de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado
peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os
potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais
amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas
25
emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo
de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e
psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da
ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela
Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008
Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da
ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via
mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da
ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e
manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a
compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo
A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical
resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores
poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria
indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA
interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que
tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de
dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na
liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula
pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da
ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da
diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp
PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo
da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro
A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido
associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado
de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via
mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural
(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo
Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos
26
receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os
niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca
Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos
avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-
CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-
Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com
depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca
(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada
nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al
2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado
com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg
(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca
(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi
demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose
usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos
que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e
ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo
antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os
receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo
moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia
de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob
condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a
via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de
tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)
27
III OBJETIVOS
GERAL
Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por
ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao
aacutelcool
ESPECIacuteFICOS
Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC
(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses
05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica
Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos
testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees
relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex
orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens
Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas
28
IV MATERIAS E MEacuteTODOS
O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the
Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado
pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)
1 AYAHUASCA
A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do
Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em
2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo
EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto
B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A
densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas
separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL
Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados
padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma
Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a
tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A
identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS
(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied
Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ
for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT
harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS
(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012
mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL
tetrahidroharmina
O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a
dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante
um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X
e 2X a dose usual
29
Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo
2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS
Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar
machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima
de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de
Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da
Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de
grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram
alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e
12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad
libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de
sete dias
Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20
30
3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)
31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool
Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo
IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo
(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a
8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)
Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados
como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo
Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60
animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de
acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20
(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora
da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o
consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos
em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro
com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado
para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de
aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por
uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de
acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal
Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia
Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro
com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as
24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo
aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as
sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas
quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)
31
32 Fase de tratamento (oitava semana)
O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais
expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a
ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)
grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com
a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a
dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos
iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca
foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)
A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel
comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio
GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09
com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL
Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os
animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)
e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas
4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
41 Campo aberto
O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para
avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de
ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma
tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia
(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo
central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)
O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de
madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um
ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante
5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de
vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que
o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que
32
defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70
(PIC-TAYLOR et al 2015)
Figura 13 Arena de Campo Aberto
42 Labirinto em Cruz Elevado
Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto
em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e
ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no
medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas
aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et
al 1985)
O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois
braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma
elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram
colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para
avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o
nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou
33
Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado
5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO
Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no
quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo
da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o
animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a
coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos
(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular
meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume
plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e
10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)
Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio
de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma
soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o
aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi
34
trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a
fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)
Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et
al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido
A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com
um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da
coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro
(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se
os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e
esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo
(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de
sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em
refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados
do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo
salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto
coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia
35
Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)
Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico
KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram
colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)
e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados
trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees
investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core
do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)
36
Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral
(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte
(Paxinos e Watson 2007)
Bregma 42 mm
Bregma 108 mm
mm
B
A
37
6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS
Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante
o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees
investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados
com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e
lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para
permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro
normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com
anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por
48 horas
No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados
com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas
horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados
novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase
(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas
vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e
003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS
Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos
foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)
e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio
de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de
preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura
17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos
7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL
Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees
basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil
violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo
neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise
(CRAGG 1970)
38
Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um
recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram
durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil
violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em
aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50
seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma
imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi
submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70
trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto
cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se
finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula
A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de
marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite
(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a
caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis
8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA
As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical
Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como
meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise
de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-
Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)
39
V RESULTADOS
1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)
Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo
mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al
2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual
principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que
pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura
correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3
leiturassemanas8 semanas)
De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para
avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo
(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos
que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo
Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais
durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo
foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h
Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas
variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo
passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais
Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais
11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas
A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7
semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4
primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi
significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h
40
Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam
meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre
as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana
12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana
A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando
foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca
aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo
significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de
base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose
testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram
encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm
semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)
aa
acacd
bc bdb
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)
Eta
no
l g
kg
pc2
4 h
ora
s
Semana (leituras)
41
B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Eta
no
l m
Lk
g p
cd
ia
Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn
EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=
10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne
diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)
2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL
Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que
consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo
no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser
observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar
e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem
animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal
em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram
protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do
fundo do bebedouro (Figura 20)
ne
42
Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)
21 Campo Aberto
Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais
que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes
paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza
locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras
As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos
paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo
da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento
da dose de ayahuasca (Figura 21)
22 Labirinto em cruz elevado
A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos
paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e
entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de
autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila
significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-
se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de
ayahuasca
43
Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e
autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O
(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a
meacutedia plusmn erro padratildeo
0
1
2
3
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Q central Fezes Urina Limpeza
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo
A
B
44
Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou
com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B
autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA
1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo
A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao
tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre
os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que
ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos
que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o
aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em
relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF
00
03
06
09
12
15
18
H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2
Nuacute
mer
o
Limpeza Urina Fezes
A
B
45
ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona
com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose
Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)
e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne
diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX
3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS
Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes
laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante
as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que
natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum
outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica
46
A B C
Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de
aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool
Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)
desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo
consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram
aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees
A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do
experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos
animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio
Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da
hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da
hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O
47
Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos
grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e
2X a dose usual
Oacutergatildeos Sadio
N=4
H2O
N=9
Naltrexona
N= 10
Aya 05
N=9
Aya 1
N=9
Aya 2
N=10
Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104
Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004
Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083
Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004
Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004
Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013
Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012
Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018
Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)
4 EXPRESSAtildeO DE cFOS
Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de
dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do
nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador
da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo
imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou
nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento
significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca
em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao
grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento
significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya
1 teve este efeito (Figura 26)
48
MO VO LO
Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex
orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya
1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x
49
Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)
Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial
prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores
correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
C o rte x f ro n ta l m e d ia lc
Fo
s
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
1 6
C o rte x f ro n ta l v e n tra l
cF
os
Coacutertex medial preacute-frontal
MMO
Coacutertex orbitolateral
Coacutertex orbitoventral
ne
50
Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da
expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um
aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)
Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura
18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio
ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)
S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2
0
2
4
6
8
1 0
1 2
N uacute c le o a c c u m b e n s
cF
os
Nuacutecleo accumbens
Estriado
ne
ne
51
5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL
A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem
dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais
investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos
que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo
H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos
grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees
Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-
frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X
52
Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle
negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)
AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia
em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de
Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700Ni
ssl
Coacutertex preacute frontal medial
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Niss
l
Coacutertex preacute frontal lateral
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Cortex frontal VO 2 hemisferios
Coacutertex medial preacute-frontal
ne ne
Coacutertex orbitolateral ne ne
Coacutertex orbitoventral
ne
ne
53
Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool
(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com
ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro
padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O
(ANOVA seguido de Turkey)
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
slCortex frontal Acc 2 hemisferios
SadioH20
NTX
Aya05Aya1
Aya20
100
200
300
400
500
600
700
Nis
sl
Estriado
ne ne
Nuacutecleo accumbens
ne ne Estriado
54
VI DISCUSSAtildeO
No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20
por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi
observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro
primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta
semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior
que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis
estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo
Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona
um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que
conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de
um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo
diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao
contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo
teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de
aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20
Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto
religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas
(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017
CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de
dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas
de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al
2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da
dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como
consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da
ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a
um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a
base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de
abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de
vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema
serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)
outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que
55
a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de
aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um
antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres
HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-
HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de
camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a
consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor
investigada
A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia
uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem
alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em
particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de
transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et
al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de
∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a
cFos satildeo limitados
Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar
aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e
coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram
que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de
maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um
aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas
as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo
accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de
cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo
direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram
uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-
frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o
aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90
minutos depois da exposiccedilatildeo
No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com
naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando
56
que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente
estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca
na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo
significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi
observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com
naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a
naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de
Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve
um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos
dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo
A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona
e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a
hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o
agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o
aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo
accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma
dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do
estriado
Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram
realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e
labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento
exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e
ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo
aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados
entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona
aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo
H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor
et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X
mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de
campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo
O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o
comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de
57
Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi
eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da
exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de
reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por
outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-
HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool
Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram
esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva
de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou
nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento
significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e
Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses
mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais
investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso
dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas
menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na
contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro
provocados pelo aacutelcool
Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de
ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees
do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de
corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da
densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo
ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural
indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)
em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e
intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a
alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por
Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento
da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano
permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi
detectado
58
O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se
refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em
aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do
medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos
niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram
que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30
primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no
sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)
em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se
refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram
eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas
foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB
em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do
estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto
da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC
onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel
que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que
a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig
et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos
foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da
exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)
59
VII CONCLUSAtildeO
Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de
aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas
a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais
investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo
accumbens
Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em
ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua
De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados
com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para
o grupo naltrexona
A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O
naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um
peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados
de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o
tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir
esses efeitos
O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o
comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com
exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados
O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve
ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo
prolongada e intermitente em doses baixas
Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em
animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade
(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees
60
VIII REFEREcircNCIAS
Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008
14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C
Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of
available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177
Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012
Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2
receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin
biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013
Nova Science Publishers Inc
Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene
protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve
in rats PLoS One 201510(4)e0123604
Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality
psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of
ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421
Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca
use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012
39(2)263-72
Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites
increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7
Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential
combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-
369
Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade
EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J
Ethnopharmacology 1999 65243-56
Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC
Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral
dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7
61
Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus
Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of
Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience
2017 11167
Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model
of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52
Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA
Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic
neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion
World J Biol Chem 20134(4)141-7
Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic
innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005
CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010
Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph
A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of
acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early
transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45
Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic
ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the
ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127
Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to
dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol
Alcohol Res Health 200831(4)310-39
Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21
Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos
mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46
Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after
acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14
62
Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal
circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251
2015
Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects
on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017
3081111
CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010
Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE
Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the
serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm
2009 1161591ndash1599
Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review
on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med
Bras 2015 61(4)381-7
Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj
MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses
Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53
Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M
Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic
potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101
Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a
manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis
Clin Neuropathol 201332(6)480-5
Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-
Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among
ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61
Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo
Toxicomanias 2002 p679-729
Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The
hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor
regulator Science 2009 323(5916)934-7
63
Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor
mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J
Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303
Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects
against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735
Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012
(65) e3564
Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria
Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13
Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational
mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95
Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the
what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882
Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate
in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95
Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects
pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol
2018 24
Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-
exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of
Pharmacology 1984 327 1-5
Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha
Editora 2009 p 67-87
Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on
dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition
Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104
Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol
2013 9703-721
Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical
and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580
64
Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B
Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of
c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52
Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001
Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter
60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002
Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds
2011
Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field
Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40
Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD
rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol
199613(1)53-7
Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR
Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug
effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci
Rep 2017 7(1)15201
Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the
Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115
Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by
Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010
34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of
ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8
Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to
Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther
Rehabil 2017 6(1) pii 163
Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate
in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11
Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of
chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440
65
Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New
Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J
Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007
Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism
Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental
Research 2016 Vol 40(6)1196-201
McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American
hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of
Ethnopharmacology 1984 10195ndash223
Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and
regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29
McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of
past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77
MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime
Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992
Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in
wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of
Phytomedicine 2016 8249-256
Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558
Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol
Ther 2008 31(3)187-99
Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho
RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of
the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018
77143ndash153
Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li
Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines
selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-
88
Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol
consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25
66
Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian
Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145
Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and
MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS
One 201510(10)e0141502
NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute
on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016
Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of
ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of
quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20
Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of
ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-
sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36
Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic
intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45
Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA
Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M
Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B
Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects
of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-
controlled trial Psychol Med 2018151-9
Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F
Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol
use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene
naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237
Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links
andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-
59
Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated
plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985
14149-167
67
Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e
outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86
Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben
MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion
(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes
2015118102 - 110
Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global
prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic
review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299
Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-
like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33
Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine
derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7
Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC
Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive
beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-
95
Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to
produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity
during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27
Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane
Database Syst Rev 2010 12CD001867
Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic
adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82
Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-
promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens
Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6
Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-
Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose
of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin
Psychopharmacol 201636(1)77-81
68
Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive
beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de
Farmacognosia 27-2017 353ndash360
Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even
when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941
Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010
Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E
Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash
Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008
Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD
Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic
effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202
Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer
across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437
Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical
Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56
Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-
dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology
Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330
Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de
aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos
Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017
Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical
Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008
Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2
nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption
and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23
Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for
addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse
reviews 2013 6(1) 30-42
69
Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2
receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits
Nat Neurosci 201013(8)920-2
Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation
Histol Histopathol 2000 15(3)921-8
Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence
disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci
201737(17)4593-4603
Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-
Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol
drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40
Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal
model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997
WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014
Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules
Psychopharmacologia 1973 29203ndash210
Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M
Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and
withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42
Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de
Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and
genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31
Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis
R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002
Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic
alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42
70
ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL