LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina...

83
i LUCIANA MARANGNI NOLLI AYAHUASCA POTENCIAL TERAPÊUTICO NA DEPENDÊNCIA AO ÁLCOOL E ATIVIDADE NEURAL DA PROTEÍNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL BRASÍLIA 2018

Transcript of LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina...

Page 1: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

i

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

BRASIacuteLIA

2018

ii

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS FARMACEcircUTICAS

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

BRASIacuteLIA

2018

iii

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Orientadora Profordf Drordf Eloisa Dutra Caldas

Co-Orientadora Profordf Drordf Maacutercia Renata Mortari

BRASIacuteLIA

2018

iv

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Brasiacutelia 31 de julho de 2018

Banca Examinadora

______________________________

Profordf Eloisa Dutra Caldas

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente

______________________________

Prof Rafael Souto Maior

Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Roseli Boerngen de Lacerda

Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Andreacutea Barreto Motoyama

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente

v

AGRADECIMENTOS

Agrave minha famiacutelia pela forccedila

Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no

conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a

ayahuasca

Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar

Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria

confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre

Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do

potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas

Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC

pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua

aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca

Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao

Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico

Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa

Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas

dificuldades

Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro

ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do

alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento

Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela

imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia

para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro

Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama

por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo

Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo

desta jornada

A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel

a realizaccedilatildeo do estudo

Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo

Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras

substacircncias quiacutemicas

vi

A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser

respeitada valorizada e compreendida pela sociedade

Luciana Marangni Nolli

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 2: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

ii

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS FARMACEcircUTICAS

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

BRASIacuteLIA

2018

iii

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Orientadora Profordf Drordf Eloisa Dutra Caldas

Co-Orientadora Profordf Drordf Maacutercia Renata Mortari

BRASIacuteLIA

2018

iv

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Brasiacutelia 31 de julho de 2018

Banca Examinadora

______________________________

Profordf Eloisa Dutra Caldas

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente

______________________________

Prof Rafael Souto Maior

Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Roseli Boerngen de Lacerda

Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Andreacutea Barreto Motoyama

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente

v

AGRADECIMENTOS

Agrave minha famiacutelia pela forccedila

Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no

conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a

ayahuasca

Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar

Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria

confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre

Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do

potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas

Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC

pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua

aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca

Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao

Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico

Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa

Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas

dificuldades

Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro

ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do

alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento

Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela

imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia

para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro

Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama

por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo

Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo

desta jornada

A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel

a realizaccedilatildeo do estudo

Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo

Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras

substacircncias quiacutemicas

vi

A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser

respeitada valorizada e compreendida pela sociedade

Luciana Marangni Nolli

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 3: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

iii

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA ndash POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Orientadora Profordf Drordf Eloisa Dutra Caldas

Co-Orientadora Profordf Drordf Maacutercia Renata Mortari

BRASIacuteLIA

2018

iv

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Brasiacutelia 31 de julho de 2018

Banca Examinadora

______________________________

Profordf Eloisa Dutra Caldas

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente

______________________________

Prof Rafael Souto Maior

Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Roseli Boerngen de Lacerda

Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Andreacutea Barreto Motoyama

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente

v

AGRADECIMENTOS

Agrave minha famiacutelia pela forccedila

Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no

conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a

ayahuasca

Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar

Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria

confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre

Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do

potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas

Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC

pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua

aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca

Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao

Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico

Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa

Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas

dificuldades

Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro

ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do

alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento

Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela

imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia

para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro

Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama

por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo

Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo

desta jornada

A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel

a realizaccedilatildeo do estudo

Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo

Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras

substacircncias quiacutemicas

vi

A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser

respeitada valorizada e compreendida pela sociedade

Luciana Marangni Nolli

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 4: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

iv

LUCIANA MARANGNI NOLLI

AYAHUASCA - POTENCIAL TERAPEcircUTICO NA DEPENDEcircNCIA AO AacuteLCOOL E

ATIVIDADE NEURAL DA PROTEIacuteNA cFOS EM MODELO EXPERIMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Ciecircncias

Farmacecircuticas pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Ciecircncias da Sauacutede da Universidade de

Brasiacutelia

Brasiacutelia 31 de julho de 2018

Banca Examinadora

______________________________

Profordf Eloisa Dutra Caldas

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Presidente

______________________________

Prof Rafael Souto Maior

Instituto de BiologiaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Roseli Boerngen de Lacerda

Universidade Federal do Paranaacute ndash Membro Efetivo

______________________________

Profordf Andreacutea Barreto Motoyama

Departamento de FarmaacuteciaUniversidade de Brasiacutelia ndash Membro Suplente

v

AGRADECIMENTOS

Agrave minha famiacutelia pela forccedila

Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no

conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a

ayahuasca

Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar

Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria

confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre

Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do

potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas

Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC

pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua

aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca

Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao

Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico

Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa

Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas

dificuldades

Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro

ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do

alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento

Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela

imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia

para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro

Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama

por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo

Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo

desta jornada

A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel

a realizaccedilatildeo do estudo

Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo

Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras

substacircncias quiacutemicas

vi

A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser

respeitada valorizada e compreendida pela sociedade

Luciana Marangni Nolli

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 5: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

v

AGRADECIMENTOS

Agrave minha famiacutelia pela forccedila

Ao amigo de feacute liacuteder espiritual Antocircnio Aparecido Ranzani por me aprofundar no

conhecimento religioso e tornar o aprendizado simples em meus primeiros contatos com a

ayahuasca

Aos queridos da igreja do Santo Daime de Ribeiratildeo Preto SP ldquoRainha do Ceacuteurdquo ao Ceacutesar

Pelicano Vilas Boas e Jaci Vilas Boas pela acolhida ensinamento da doutrina parceria

confianccedila e dedicaccedilatildeo em seguir trabalhando numa causa tatildeo nobre

Ao laboratoacuterio de Sauacutede Mental da USP de Ribeiratildeo Preto SP pelo aprendizado cientiacutefico do

potencial terapecircutico da ayahuasca e outras plantas psicoativas

Ao amigo indiacutegena Antocircnio Ferreira (Tuim Nova Era) do povo Huni Kuin de Tarauaca AC

pelo incentivo e troca de saberes sobre sua experiecircncia na reabilitaccedilatildeo do alcoolismo na sua

aldeia atraveacutes da consagraccedilatildeo da ayahuasca

Agrave querida professora Eloisa Caldas por abrir as portas da Universidade de Brasiacutelia junto ao

Laboratoacuterio de Toxicologia e contribuir intensamente com este estudo cientiacutefico

Aos membros da Uniatildeo do Vegetal em especial ao Dr Marcus Viniacutecius Von Zuben e sua esposa

Naacutegela Von Zuben por sempre me incentivarem e estarem dispostos a me socorrer nas

dificuldades

Agrave minha Pibic efetiva Stefany Sousa Alves Camila Colaco e Karina Castro parceiras de centro

ciruacutergico experimental Aos demais alunos estagiaacuterios que participaram e a equipe do

alojamento de animais pelos cuidados diaacuterios durante o experimento

Agrave querida professora Maacutercia Renata Mortari do Laboratoacuterio de Neurofarmacologia pela

imensa contribuiccedilatildeo na fase da etapa Neuroloacutegica Ao Danilo Oliveira pela parceria e paciecircncia

para efetuarmos o processamento mais trabalhoso da imuno-histoquiacutemica do ceacuterebro

Aos professores Rafael Souto Maior Roseli Boerngen de Lacerda e Andreacutea Barreto Motoyama

por aceitarem compor a banca e contribuiacuterem com o estudo

Agrave Universidade de Brasiacutelia pela estrutura e oportunidades incriacuteveis proporcionadas ao longo

desta jornada

A Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa (FAPDF) por disponibilizar o fomento que tornou possiacutevel

a realizaccedilatildeo do estudo

Com muita honra dedico este trabalho aos mestres Satildeo Joatildeo Salomatildeo Irineu Serra e Sebastiatildeo

Motta aos meus amigos de infacircncia que perderam suas vidas pelo uso abusivo de aacutelcool e outras

substacircncias quiacutemicas

vi

A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser

respeitada valorizada e compreendida pela sociedade

Luciana Marangni Nolli

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 6: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

vi

A ciecircncia eacute a forma mais organizada e concreta para a evoluccedilatildeo da humanidade deve ser

respeitada valorizada e compreendida pela sociedade

Luciana Marangni Nolli

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 7: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool7

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico mesolimbico

que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens e o coacutertex preacute-frontal a amiacutedala o

estriado e o hipocampo9

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L (LTTCs) na

mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amidala (CeAs) que eacute alterada

com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos ratos natildeo dependentes (naiumlve)

expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs enquanto que nos ratos dependentes

esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador de corticotropina

(CRF1)10

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo tempo

o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens11

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro12

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (NDR) e da rafe mediana (MR) para regiotildees

implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal (PFC) nuacutecleo accubems

(ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e aacuterea tegmental ventral (VTA) A

ceacuterebro humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees

serotonineacutergicas13

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide14

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca20

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e tetrahidroharmina

presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria viridis

Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor serotonina (5-HT) 20

Figura 10 Psychotria viridis22

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo29

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 8: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

viii

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 2029

Figura 13 Arena de Campo Aberto32

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado33

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica fixaccedilatildeo de perfusatildeo transcardiaca do rato34

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal35

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex preacute-frontal medial (MO) ventral (VO) e lateral (LO)

B corte do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) 36

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc

Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre as semanas

Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana40

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn EPM (erro

padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n= 10) animais AYA 05

(n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma

via seguido pelo teste Dunnet diferenccedila significativa com a linha de base ne significacircncia em relaccedilatildeo

ao grupo H2O 41

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool roiacutedo pelo rato42

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e autolimpeza

B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O (n=9) NTX (n=10) AYA

05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo43

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevada A nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio

nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B autolimpeza urina e nuacutemero

de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo 44

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA) e

fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo teste

Dunnet T3 (variacircncia natildeo homogecircnea) Letras diferentes indicam significacircncia (p le 005) para cada

paracircmetro45

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 9: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

ix

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool46

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x48

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)49

Figura 27 Cfos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura 18) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio (Kuskal Wallis)50

Figura 28 Fotomiografia (A) ampliaccedilatildeo 4X representa local de leitura do coacutertex preacute-frontal aacutereas (MO

VO e LO) figura (B) ampliaccedilatildeo 20X51

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle negativo

H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=8)

AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo52

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4)

controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo53

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos grupos sadio

(sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e 2X47

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 10: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAMD Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

ACC Nuacutecleo Accumbens

AcbC Core do Nuacutecleus Accumbens

AMYG Amiacutegdala

APA Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana

AUD Alcohool Use Desorder

AYA 05 Ayahuasca na dose 05X a dose usual

AYA 1 Ayahuasca na dose 1X a dose usual

AYA 2 Ayahuasca na dose 2X a dose usual

BNST Bed Nucleus of The Stria Terminalis

CA Campo Aberto

CeA Nuacutecleo Central da Amiacutegdala

CPu Caudado-Putamen

CRF1 Corticotropina

DAB Diaminobenzidina

N N DMT NN Dimetiltriptamina

DSM-I Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPM Erro padratildeo da meacutedia

HIPP Hipocampo

HYP Hipotaacutelamo

5-HT Serotonina

IA2BC Interminent access to 2-botttle choice

IARC Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

IDEAA Instituto de Etnopsicologiacutea Amazoacutenica Aplicada

LCE Labirinto em Cruz Elevado

LGIC Ligand-Gated Ion Channels

MAO Monoamina Oxidase

MAO-A Monoamina Oxidase A

MAO-B Monoamina Oxidase B

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 11: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

xi

MR Rafe Mediana

NMDA N-metil D-aspartato

NDR Nuacutecleo Dorsal Da Rafe

NOAEL No Observed Adverse Effect Level

NTX Naltrexona

PA Pressatildeo arterial

PAP Peroxidase Antiperoxidase

pc Peso corpoacutereo

PFC Coacutertex preacute-frontal

PH Potencial Hidrogeniocircnico

SAF Siacutendrome Do Alcoolismo Fetal

SNC Sistema Nervoso Central

SERT Transportador de serotonina

SPSS Statistical Package for The Social Sciences

SSRIs Selective Serotonin Reuptake Inhibitors

UDV Uniatildeo do Vegetal

VTA Aacuterea Tegmental Ventral

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 12: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

I INTRODUCcedilAtildeO 3

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 5

1 ALCOOLISMO 5

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL 8

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO

ALCOOLISMO

13

31 NALTREXONA 14

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL 15

5 AYAHUASCA 17

51 Contexto religioso da ayahuasca 17

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca 19

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca 23

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca 24

III OBJETIVOS 27

GERAL 27

ESPECIacuteFICOS 27

IV MATERIAIS E MEacuteTODOS 28

1 AYAHUASCA 28

2 AMIMAIS E CONDICCcedilOtildeES EXPERIMENTAIS 29

3 PROTOCOLOS IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE

CHOICE)

30

31 Fase de condicionamento ao consumo de etanol 30

33 Fase de tratamento 31

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 31

41 Campo Aberto 31

42 Labirinto em Cruz Elevado 32

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO 33

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS 37

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE

NISSLCRESYL

37

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA 38

V RESULTADOS 39

1 PROTOCOLOS IA2BC 39

11Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas 39

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana 40

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL 41

21 Campo Aberto 42

22 Labirinto em Cruz Elevado 43

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS 45

4 EXPRESSAtildeO DE CFOS 47

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL 51

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 13: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o

xiii

VI DISCUSSAtildeO 54

VII CONCLUSAtildeO 59

VIII REFEREcircNCIAS 60

ANEXO ndash APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA NO USO ANIMAL 70

1

RESUMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para o tratamento do alcoolismo possuem limitaccedilotildees e estudos em

humanos tecircm mostrado ser a ayahuasca uma bebida psicoativa ancestral de uso

religiosoritualiacutestico com accedilatildeo serotonineacutergica uma possiacutevel opccedilatildeo terapecircutica Os objetivos

deste estudo foram avaliar o impacto da ayahuasca no consumo de aacutelcool por ratos Wistar que

consumiram aacutelcool durante 8 semanas segundo o protocolo IA2BC (intermittent access to 2-

botttle choice) avaliar a expressatildeo da proteiacutena cFos e substacircncia Nissl em regiotildees cerebrais

relevantes no processo de dependecircncia e o comportamento dos animais nos testes de campo

aberto e labirinto em cruz elevado Na 8o semana do protocolo IA2BC os ratos foram divididos

em 5 grupos de 12 animais e tratados por 5 dias com H2O (controle) naltrexona um antagonista

opioide utilizado no tratamento da dependecircncia ou com ayahuasca (Aya) nas doses 05 1 e 2

X a dose ritualiacutestica Um grupo sadio (n=4) natildeo exposto ao aacutelcool foi sacrificado na 7ordm semana

e os outros grupos 18 dias depois do tratamento O tratamento com naltrexona ou ayahuasca

natildeo diminuiacuteram o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo agrave linha de base (7ordm Semana) mas o consumo

foi menor no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a

expressatildeo da cFos em todas as aacutereas cerebrais de maneira significante principalmente no cortex

medial preacute-frontal e nuacutecleo accumbens Com relaccedilatildeo ao grupo controle H2O a cFos foi

signficativamente menor no cortex medial preacute-frontal para o grupo Aya05 O tratamento com

naltrexona aumentou signficativamente a expressatildeo de cFos no nuacutecleo accumbens e estriado

em relaccedilatildeo ao grupo controle A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade de corpusculos de

Nissl nas regiotildees neurais investigadas para os grupos H2O naltrexona e Aya2 grupos que

tambeacutem apresentaram aumento do peso do ceacuterebro em relaccedilatildeo ao grupo sadio O tratamento

com a naltrexona ou ayahuasca natildeo tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos

expostos ao aacutelcool nos testes comportamentais O potencial da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia ao aacutelcool deve ser melhor investigado utilizando outros protocolos de exposiccedilatildeo e

tratamento Adicionalmente o aumento da expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens

em animais tratados com naltrexona (significativo) e ayahuasca natildeo era esperado e demanda

estudos futuros

Palavras-chave Alcoolismo ayahuasca proteiacutena cFos vias dopamineacutergicas

2

ABSTRACT

Pharmacological options to treat alcohol addiction are limited and human studies have

demonstrated that ayahuasca an ancestral infusion with serotoninergic action used in religious

ceremonies has a potential use in the treatment The objectives of this studies were to evaluate

the effect of ayahuasca treatment on alcohol consumption of Wistar rats exposed to alcohol

during 8 weeks according to the IA2BC protocol (intermittent access to 2-bottle choice)

evaluate the cFos expression and Nissl substance in neural areas relevant to chemical addiction

and the animal behavior in the open field and elevated plus-maze tests On the 8th week of the

IA2BC protocol the animals were divided in 5 groups of 12 animals and treated daily for 5

days with H2O naltrexone an opioid antagonist used to treat alcohol addiction and ayahuasca

(Aya) at the 05 1 or 2x the religious doses A naiumlve group (n=4) not exposed to alcohol was

sacrificed at the end of the 7th week and the other groups 18 hours after the last treatment

Treatment with either naltrexone or ayahuasca did not decrease the alcohol consumption

compared to the baseline (7th week) but the consumption in naltrexone treated rats was

significantly lower compared to the H2O group Exposure to alcohol increase cFos expression

in all regions an increase that was significant mainly in the medial orbital cortex and accumbens

nu core regions cFos was significantly lower in the Aya05 group compared with the H2O

group in the medial orbital cortex There was a significant increase in the cFos in the accumbens

nu core and striatum for the naltrexone group The exposure to alcohol increased the number of

Nissl substance in the H2O naltrexone and Aya2 groups which also showed an increased brain

weight compared to the naiumlve group Treatment with naltrexone or ayahuasca did not have

significant impact on the behavior of the animals in both tests The potential of ayahuasca

treatment on alcohol addictionconsumption needs to be further investigated using other

treatment protocols In addition the increase of cFos in the accumbens nu core and striatum in

rats treated with naltrexone (significant) or ayahuasca was not expected and also requires

further investigation

Key words Alcoholism ayahuasca cFos protein dopaminergic pathways

3

I INTRODUCcedilAtildeO

O aacutelcool eacute uma substacircncia psicoativa com potencial de causar dependecircncia utilizada haacute

seacuteculos O uso abusivo do aacutelcool eacute um dos cinco maiores fatores de risco de doenccedila e oacutebitos no

mundo estando relacionado a mais de 200 doenccedilas principalmente a dependecircncia cirrose

hepaacutetica e cacircncer (WHO 2014) Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede cerca de 33

milhotildees de mortes ocorreram no mundo em 2012 representando 59 de todos os oacutebitos

globalmente (WHO 2014) O II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotroacutepicas no Brasil realizado em 2005 constatou que 38 da populaccedilatildeo brasileira tinha

consumido aacutelcool nos uacuteltimos 30 dias antes da pesquisa e 123 da populaccedilatildeo era dependente

(CEBRID 2005) Estudo conduzido em 2010 mostrou que mais de 60 dos universitaacuterios

brasileiros reportaram o consumo de aacutelcool no uacuteltimo mecircs e cerca de 25 deles reportaram

episoacutedio de alto consumo (binge) (CEBRID 2010)

O aacutelcool apresenta efeito depressor do sistema nervoso central provoca uma

desorganizaccedilatildeo na transmissatildeo dos impulsos nervosos nos sistemas gabaeacutergico glutamateacutergico

serotonineacutergico opioides e dopamineacutergico (WONG et al 2008) As opccedilotildees farmacoloacutegicas

para o tratamento do alcoolismo satildeo restritas sendo a naltrexona um antagonista opioide a

mais utilizada principalmente no caso de dependecircncia grave Poreacutem nem todos os pacientes

respondem ao tratamento o que exige a investigaccedilatildeo de novas opccedilotildees terapecircuticas

(STEENSLAND et al 2007)

A ayahuasca eacute uma bebida psicoativa originariamente utilizada em rituais de tribos

indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica Esta bebida eacute geralmente preparada pela cocccedilatildeo de caules da

Banisteriopsis caapi que conteacutem β-carbolinas inibidoras da monoaminoxidase (MAO) enzima

que degrada o neurotransmissor serotonina (5HT) e de folhas da Psychotria viridis que conteacutem

N N-dimetiltriptamina (DMT) um potente agonista do receptor de serotonina 5HT2A

(MACKENNA 2004 SMITH et al 1998)

No Brasil a ayahuasca tem sido incorporada em rituais de grupos sincreacuteticos religiosos

e seu uso no contexto religioso eacute considerado seguro e amparado por lei federal a partir de 1985

Atualmente esses grupos religiosos tecircm se espalhado na Europa e Ameacuterica do Norte chamando

a atenccedilatildeo de pesquisadores internacionais quanto aos efeitos da ayahuasca Estudos recentes

tecircm indicado que a ayahuasca pode ter aplicaccedilotildees terapecircuticas para vaacuterios males inclusive no

tratamento da depressatildeo e dependecircncia quiacutemica (FRECSKA et al 2016 NUNES et al 2016)

4

Existem atualmente vaacuterias religiotildees ayahuasqueiras realizando o trabalho de

desintoxicaccedilatildeo e tratamento de pessoas dependentes de aacutelcool e outras substacircncias quiacutemicas

Trecircs centros reconhecidos de tratamento para a dependecircncia que utilizam a ayahuasca um

localizado no Peru e dois no Brasil apontam resultados positivos para a maioria dos

dependentes quiacutemicos atendidos (MABIT 2007 MERCANTE 2013)

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial terapecircutico da ayahuasca no

tratamento da dependecircncia ao aacutelcool utilizando o modelo rato Wistar por meio da medida do

consumo de aacutelcool paracircmetros comportamentais atividade e viabilidade neural pela expressatildeo

da proteiacutena cFos e corpuacutesculo de Nissl nas regiotildees relevantes para o processo de dependecircncia

ao aacutelcool

5

II REVISAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

1 ALCOOLISMO

O aacutelcool etiacutelico ou etanol eacute a substacircncia psicoativa mais consumida no mundo

encontrado em bebidas alcooacutelicas fermentadas como o vinho cerveja champanhe e as

destiladas como o uiacutesque aguardente conhaque gim e vodca (FERNANDES amp

FERNANDES 2002) Sendo um composto usado para vaacuterios fins o aacutelcool estaacute presente na

humanidade desde os seus primoacuterdios e sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas como elemento fundamental nos rituais religiosos de presenccedila constante nos

momentos de comemoraccedilatildeo de confraternizaccedilatildeo e como fonte de aacutegua natildeo contaminada

(GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Haacute mais de 7000 anos aC o vinho era fabricado em certas

regiotildees do Oriente Meacutedio e utilizado em rituais de veneraccedilatildeo aos deuses da agricultura que

duravam dias seguidos Segundo a mitologia o deus egiacutepcio Osiacuteris teria ensinado aos homens

a cultivar a videira e a cevada para a fabricaccedilatildeo de bebidas (vinho e cerveja) que eram capazes

de inspirar a alma (FERNANDES amp FERNANDES 2002)

Apoacutes o advento da destilaccedilatildeo o consumo de aacutelcool comeccedilou a ser mais acessiacutevel e seu

uso mais frequente e abusivo comportamento que foi considerado pela sociedade como fraco

e amoral numa tentativa de diminuir o consumo dessa substacircncia (PETTA amp MARQUES

2001) No seacuteculo XVIII qualquer um poderia fabricar e vender o destilado em Londres sendo

comum encontrar pessoas prostradas nas calccediladas inconscientes e inertes pelo consumo

excessivo da bebida (ARAUJO 2012) A partir do seacuteculo XIX o problema estava afetando a

sociedade americana que comeccedilou a se organizar para proibir o consumo de destilados Criada

em 1826 American Temperance Society idealizou o movimento ldquobeba com moderaccedilatildeordquo com

o intuito de diminuir o consumo excessivo de aacutelcool Entre 1920 e 1933 por meio da ldquoLei

Secardquo eram proibidos a produccedilatildeo transporte e consumo de bebidas alcooacutelicas nos Estados

Unidos Poreacutem ao inveacutes de diminuir o consumo de aacutelcool a lei gerou a desmoralizaccedilatildeo das

autoridades o aumento da corrupccedilatildeo e criminalidade e o enriquecimento das maacutefias que

dominavam o contrabando de bebidas alcooacutelicas (LEVINE 1985)

O conceito de alcoolismo surgiu no final do seacuteculo XVII com Benjamin Rush e Thomas

Trotter o primeiro um psiquiatra americano responsaacutevel pela ceacutelebre frase ldquoBeber inicia num

ato de liberdade caminha para o haacutebito e finalmente afunda na necessidaderdquo e o segundo

6

foi o primeiro a se referir ao alcoolismo como doenccedila (GIGLIOTTI amp BESSA 2004) Em 1849

o meacutedico sueco Magnus Huss definiu o alcoolismo como conjunto de manifestaccedilotildees

patoloacutegicas do sistema nervoso nas esferas psiacutequica sensitiva e motorardquo observadas em

indiviacuteduos que utilizavam o aacutelcool por prolongados periacuteodos (HECKMANN amp SILVEIRA

2009) Em 1940 Morton Jellinek definiu o alcoolista como todo o indiviacuteduo cujo o consumo

de bebidas alcoacuteolicas pudesse prejudicar a si mesmo a sociedade ou ambos e categorizou o

alcoolismo como doenccedila tendo como base as quantidades de aacutelcool consumida (HECKMANN

amp SILVEIRA 2009) Em 1952 a Associaccedilatildeo Psiquiaacutetrica Americana (APA) incluiu o

alcoolismo no Manual Diagnoacutestico Estatiacutestico das Desordens Mentais (DSM-I) (NIH 2016) A

classificaccedilatildeo da APA de 1994 (DSMndashIV) descreveu o abuso e a dependecircncia como desordem

relacionada ao uso de aacutelcool mas sua atualizaccedilatildeo publicada em 2013 (DMS-V) integrou as

duas desordens numa uacutenica denominada desordem do uso do aacutelcool (alcohool use disorder

AUD) com subclassificaccedilotildees de leve moderada e severa (NIH 2016)

Apoacutes a ingestatildeo o aacutelcool eacute rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal 20 no

estocircmago e 80 pelo intestino (YIP 2002) O aacutelcool eacute entatildeo distribuiacutedo para os vaacuterios oacutergatildeos

e sua concentraccedilatildeo no sangue eacute mantida por difusatildeo reversa que ocorre sempre que os niacuteveis

no sangue satildeo menores que a dos tecidos No fiacutegado o aacutelcool eacute metabolizado pela enzima aacutelcool

desidrogenase a acetaldeiacutedo que eacute convertido a acetato pela enzima aldeiacutedo desidrogenase

(Figura 1) e de 5-10 eacute excretado sem alteraccedilatildeo pela urina pulmatildeo e suor (YIP 2002) Apesar

de a taxa de excreccedilatildeo do aacutelcool pelos pulmotildees ser baixa a razatildeo alveacuteolos sangue (12100) eacute

constante e a base para os testes de bafocircmetros utilizado no mundo todo para estimar a

concentraccedilatildeo sanguiacutenea do aacutelcool (YIP 2002)

O consumo de aacutelcool eacute a causa mais comum das doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas causando

cerca de 500000 mortes no mundo todo em 2010 (PARKER et al 2018) Dano hepaacutetico pode

ser causado pelo efeito direto do aacutelcool no fiacutegado ou indireto por meio do dano a outros oacutergatildeos

A maioria dos indiviacuteduos que consomem cronicamente o aacutelcool desenvolve esteatoses e um

subgrupo desta populaccedilatildeo iraacute desenvolver doenccedilas hepaacuteticas crocircnicas dependendo do

comportamento geneacutetica e comorbidades incluindo a obesidade (PARKER et al 2018) O

consumo de aacutelcool eacute considerado um fator de risco para o desenvolvimento de vaacuterios tipos de

cacircncer como de ovaacuterio proacutestata e fiacutegado o aacutelcool eacute classificado como carcinogecircnico ao homem

(Grupo 1A) pela Agecircncia de Pesquisa em Cacircncer da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (IARC)

(SCHEIDELER et al 2018)

7

Figura 1 Metabolismo do aacutelcool Fonte wwwphysio4dummieswordpresscom20170630drogas-alcool

O consumo crocircnico de aacutelcool pode levar a deficiecircncia nutricional e eletroliacutetica pode

causar encefalopatia de Wernicke e siacutendrome de Korsakoff consequecircncias da deficiecircncia de

vitamina B1 e siacutendrome de desmielinizaccedilatildeo osmoacutetica perda do volume cerebral eacute normalmente

encontrada em usuaacuterios abusivos de aacutelcool (LOGAN et al 2017) Os efeitos da intoxicaccedilatildeo

aguda com aacutelcool incluem diaforese taquicardia hipotensatildeo hipotermia midriacutease ataxia

consciecircncia alterada e coma (YIP 2002) Estudos de imagem mostram que adolescentes e

jovens adultos que de maneira esporaacutedica ou frequente tecircm alto consumo de aacutelcool

apresentam menor volume e espessura do coacutertex preacute-frontal e regiotildees do cerebelo e

comprometimento do desenvolvimento da substacircncia branca do ceacuterebro (CSERVENKA et al

2017) Estes indiviacuteduos tambeacutem apresentam maior atividade cerebral nos lobos frontal e

parietal envolvidos nos processos de memoacuteria aprendizado e controle inibitoacuterio e nas aacutereas

mesocorticoliacutembico incluindo o estriado nuacutecleo accumbens hipocampo e amiacutedala

Anormalidades na atividade cerebral satildeo tambeacutem observadas em adolescentes com histoacuterico

familiar de alcoolismo que pode significar um risco para o desenvolvimento de desordens

relacionadas ao uso de aacutelcool (JACOBUS amp TAPERT 2013)

A siacutendrome do alcoolismo fetal (SAF) eacute o conjunto de sinais e sintomas apresentados

pelo feto em decorrecircncia da ingestatildeo de aacutelcool pela matildee durante a gravidez e incluem deacuteficit

de crescimento alteraccedilotildees em caracteriacutesticas faciais e atraso no desenvolvimento

8

neuropsicomotor Mesmo baixos niacuteveis de exposiccedilatildeo preacute-natal podem causar efeitos adversos

ao feto e atualmente natildeo eacute possiacutevel se estabelecer um periacuteodo ou niacutevel de exposiccedilatildeo segura que

natildeo afetaria o feto (SARMAN 2018) Estima-se que cerca de 10 das mulheres em todo o que

mundo consomem aacutelcool durante a gravidez (no Brasil esta prevalecircncia pode chegar a 25) e

15 delas datildeo agrave luz a crianccedilas com SAF (POPOVA et al 2017)

A toleracircncia metaboacutelica ao aacutelcool eacute uma funccedilatildeo da regulaccedilatildeo positiva de enzimas

metaboacutelicas no fiacutegado (Figura 1) sendo necessaacuterio o aumento da dose ou o aumento frequente

do consumo de etanol para se obter os efeitos farmacoloacutegicos psicoativos esperado pelo usuaacuterio

e junto com a dependecircncia quiacutemica contribui para a manutenccedilatildeo do uso da droga Em adultos

a taxa metaboacutelica do aacutelcool para consumidores ocasionais eacute de 100-125 mgkg pchora mas

chega a 175 mgkg pchora para consumidores habituais (YIP 2002) O consumo crocircnico de

aacutelcool causa diferentes tipos de toleracircncia incluindo a comportamental que se refere agrave

aprendizagem adaptativa condicionamento operante e aprendizado associativo podendo

desencadear toleracircncia cruzada a outras drogas (ZALESKI et al 2004 SILVA et al 2001)

As modificaccedilotildees sinaacutepticas adaptativas contribuem para o desenvolvimento de toleracircncia ao

aacutelcool e dependecircncia sendo a resposta da accedilatildeo do aacutelcool sobre os canais iocircnicos que leva a

mudanccedilas na funccedilatildeo de receptores (YIP 2002)

2 MECANISMO DE ACcedilAtildeO PSICOATIVA DO AacuteLCOOL

O aacutelcool eacute um depressor do sistema nervoso central (SNC) que regula a expressatildeo de

receptores de vaacuterios neurotransmissores principalmente o aacutecido gama-aminobutiacuterico (GABA)

o principal neurotransmissor inibitoacuterio do SNC o glutamato a dopamina a serotonina e os

opioides (CLAPP et al 2008 COSTARDI et al 2015) A Figura 2 mostra as principais regiotildees

do ceacuterebro afetadas pelo consumo do aacutelcool Os receptores GABAA (GABAA R) tecircm sido haacute

muito implicados na mediaccedilatildeo das accedilotildees do aacutelcool no ceacuterebro de mamiacuteferos (CHARLTON et

al 2010 COSTARDI et al 2015)

Mais recentemente estudos tecircm sido conduzidos para identificar a proteiacutena-receptor

alvo desta accedilatildeo e os ligantes dos canais iocircnicos (ligand-gated ion channels LGIC) e voltagem

dependentes envolvidos neste processo Utilizando modelo de roedores expostos cronicamente

ao aacutelcool Olsen amp Liang (2017) concluiacuteram que a dependecircncia e o aumento do consumo

voluntaacuterio do aacutelcool estatildeo ligados agraves alteraccedilotildees na plasticidade dos GABAA R principalmente

9

no desenvolvimento de sinapses inibitoacuterias mediadas pelo receptor que participa na manutenccedilatildeo

de recompensa pelo consumo de aacutelcool Estes efeitos provavelmente desinibem os terminais

nervosos do sistema gabaeacutergico no circuito dopamineacutergico de recompensa e no sistema liacutembico

de modulaccedilatildeo da ansiedade no hipocampo e amiacutegdala

Figura 2 Regiotildees do ceacuterebro afetadas pelo aacutelcool mostrando o sistema dopamineacutergico

mesoliacutembico que inclui a aacuterea tegmental ventral (VTA) o nuacutecleo accumbens o coacutertex preacute-

frontal a amiacutedala o estriado e o hipocampo (CLAPP 2008)

O nuacutecleo central da amiacutegdala (CeA) eacute criacutetico no processo de dependecircncia ao aacutelcool e

sua desregulaccedilatildeo em alcooacutelatras leva a um estado emocional negativo aumentado a motivaccedilatildeo

para beber Varodayan et al (2017) investigaram o papel dos canais de soacutedio voltagem

dependente tipo L (LTCCs) no CeA a niacutevel molecular celular comportamental e o potencial

de neuroadaptaccedilatildeo apoacutes a ingestatildeo aguda de aacutelcool por ratos dependentes Os autores

propuseram que o aacutelcool aumenta a atividade do CeA por meio do aumento da transmissatildeo

neuronal e liberaccedilatildeo de GABA de ratos natildeo dependentes (naiumlve) envolvendo os LTCCs e o

bloqueio destes canais reduz a ingestatildeo de aacutelcool nestes animais Por outro lado a dependecircncia

ao aacutelcool reduz a abundacircncia de LTCC no CeA alterando os mecanismos moleculares de

resposta destes canais ao aacutelcool Nessa situaccedilatildeo o receptor tipo 1 do fator liberador de

10

corticotropina (CRF1) medeia os efeitos do aacutelcool na atividade do CeA e determina a escalada

de consumo de aacutelcool nos ratos dependentes Este mecanismo estaacute ilustrado na Figura 3

Figura 3 Mecanismo proposto envolvendo os canais de soacutedio voltagem dependente tipo L

(LTTCs) na mediaccedilatildeo da resposta neuronal agrave exposiccedilatildeo ao aacutelcool no nuacutecleo central da amiacutegdala

(CeAs) que eacute alterada com a dependecircncia e a resposta comportamental de neuroadaptaccedilatildeo Nos

ratos natildeo dependentes (naiumlve) expostos ao aacutelcool a atividade no CeA eacute governada pelos LTTCs

enquanto que nos ratos dependentes esta accedilatildeo eacute mediada pelo receptor tipo 1 do fator liberador

de corticotropina (CRF1) (VARODAYAN et al 2017)

Glutamato eacute o principal neurotransmissor excitatoacuterio do SNC e eacute liberado na fenda

sinaacuteptica quando um sinal eleacutetrico chega ao terminal axocircnio do neurocircnio preacute-sinaacuteptico e

interage com os receptores na superfiacutecie do neurocircnio poacutes-sinaacuteptico principalmente o N-metil

D-aspartato (NMDA) (CLAPP et al 2008) Vaacuterios estudos demonstram que a exposiccedilatildeo aguda

ao aacutelcool inibe os receptores de NMDA em vaacuterias regiotildees do SNC incluindo o hipocampo

coacutertex cerebral amiacutedala e VTA por meio de um mecanismo natildeo competitivo com o glutamato

isto eacute esta accedilatildeo ocorre mesmo quando o glutamato estaacute ligado ao receptor Quando os

receptores de glutamato satildeo inibidos por um longo periacuteodo devido agrave exposiccedilatildeo crocircnica ao

aacutelcool o organismo se adapta a esta situaccedilatildeo produzindo novos receptores para voltar agrave

normalidade mesmo em presenccedila de aacutelcool Como consequecircncia o SNC entra em estado de

superexcitaccedilatildeo quando o aacutelcool eacute retirado caracteriacutestica da crise de abstinecircncia (CLAPP et al

2008)

11

O aacutelcool exerce seus efeitos no sistema de recompensa do sistema liacutembico mediados

pela liberaccedilatildeo de dopamina no VTA e no nuacutecleo accumbens aacutereas ricas em receptores opioides

(COSTARDI et al 2015) A ativaccedilatildeo dos receptores opioides (principalmente os receptores

MOP mu ou receptores micro) pelo aacutelcool leva a liberaccedilatildeo de dopamina ativando o sistema de

recompensa ao mesmo tempo que bloqueia a accedilatildeo inibidora do GABA tambeacutem aumentando a

liberaccedilatildeo de dopamina relacionados com os efeitos positivos do aacutelcool A Figura 4 mostra os

efeitos do aacutelcool no sistema de recompensa

Figura 4 O aacutelcool inibe a transmissatildeo gabaeacutergica na aacuterea ventral tegmental (VTA) ativando a

dopamina e sua liberaccedilatildeo no nuacutecleo accumbens ativando o sistema de recompensa Ao mesmo

tempo o aacutelcool pode inibir a liberaccedilatildeo do glutamato dos terminais nervosos no nuacutecleo

accumbens (GILPIN amp KOOP 2008)

O sistema serotoneacutergico tambeacutem estaacute envolvido nos mecanismos de abusodependecircncia

ao aacutelcool A baixa atividade de serotonina (5-HT) tem sido associada ao alto consumo de aacutelcool

e alguns estudos mostraram que ratos com alta preferecircncia por aacutelcool apresentam niacuteveis de

serotonina menor que aqueles que natildeo tem afinidade pelo aacutelcool (MURPHY et al 2002 CASU

et al 2004) Agentes antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptaccedilatildeo de

serotonina (SSRIs) que aumentam os niacuteveis de serotonina na sinapse neural inibindo o

transporte do neurotransmissor de volta agrave ceacutelula neural reduzem o consumo de aacutelcool em

animais de laboratoacuterio um efeito que varia largamente na espeacutecie humana (NARANJO amp

KNOKE 2001)

12

As accedilotildees da serotonina no organismo satildeo mediadas por meio de receptores de

membrana sendo sete famiacutelias jaacute identificadas ateacute o momento (5HT1 a 5HT7) das quais seis

satildeo acoplados a proteiacutena G e um ligante de canais iocircnicos de Na+K+ (5HT3) similar aos

receptores de GABA e NDMA (KATSUNG 2001 MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os

receptores 5-HT1 e 5-HT5 satildeo negativamente acoplados ao adenililato ciclase e sua ativaccedilatildeo

regula negativamente a adenosina 35-monofosfato ciacuteclico (cAMP) Os receptores regulam

positivamente as vias do inositol trifosfato e diacilglicerol resultando na liberaccedilatildeo de Ca++ A

ativaccedilatildeo do 5-HT4 e 5-HT7 aumenta a atividade de cAMP e a do 5-HT3 leva a uma

despolarizaccedilatildeo da membrana plasmaacutetica (MOHAMMAD-ZADEH et al 2008) Os receptores

estatildeo largamente distribuiacutedos no ceacuterebro (Figura 5) e sua funccedilatildeo e localizaccedilatildeo determinam seu

papel na modulaccedilatildeo do consumo de aacutelcool Por exemplo o aumento da ativaccedilatildeo dos receptores

5-HT2C ou 5HT1A e a inibiccedilatildeo dos receptores 5-HT3 reduzem o consumo mas alteraccedilatildeo na

atividade do receptor 5-HT1B aumenta o consumo de aacutelcool (CLAPP et al 2008)

Figura 5 Localizaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos no ceacuterebro Fonte

wwwflipperdifforgapppathways1521

Num estudo de revisatildeo Marcinkiewcz et al (2016) propuseram que as projeccedilotildees de

serotonina no VTA contribuem para os efeitos de reforccedilo do aacutelcool durante uma exposiccedilatildeo

aguda A serotonina regula negativamente a dopamina via receptores 5-HT2C no VTA ao

mesmo tempo que ativa a via dopamineacutergica na mesma regiatildeo via 5-HT3 A serotonina estaacute

13

envolvida nos efeitos advindos da abstinecircncia do aacutelcool via receptor 5-HT2C na amiacutegdala

principalmente no estriado e CeA poreacutem esta accedilatildeo tem efeito contraacuterio no receptor 5-HT1A

A projeccedilatildeo da serotonina no coacutertex preacute-frontal tem um papel importante na dependecircncia ao

aacutelcool e o deacuteficit do neurotransmissor nesta regiatildeo pode contribuir para o uso compulsivo

Segundo os autores o polimorfismo geneacutetico tem um papel importante na expressatildeo dos

receptores serotoneacutergicos no circuito da recompensa explicando os diferentes perfis de

consumo dependecircncia e efeitos da abstinecircncia na populaccedilatildeo humana A Figura 6 mostra as

projeccedilotildees serotoneacutergicas nas regiotildees cerebrais envolvidas na dependecircncia ao aacutelcool

Figura 6 Projeccedilotildees serotoneacutergicas do nuacutecleo dorsal da rafe (DR) e da rafe mediana

(MR) para regiotildees implicadas na dependecircncia ao aacutelcool hipocampo (HIPP) coacutertex preacute-frontal

(PFC) nuacutecleo accumbens (ACC) estriado (BNST) hipotaacutelamo (HYP) amiacutegdala (AMYG) e

aacuterea tegmental ventral (VTA) (MARCINKIEWCZ et al 2016 modificado) A ceacuterebro

humano mostrando a localizaccedilatildeo do nuacutecleo da rafe e as projeccedilotildees serotonineacutergicas

3 PROPOSTAS TERAPEcircUTICAS PARA O TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

As opccedilotildees farmacoloacutegicas para tratamento de AUD incluem principalmente o

acamprosato antagonista dos receptores NDMA naltrexona e nalmefene antagonistas dos

receptores opioides e o dissulfuram inibidor da acetaldeiacutedo dehidrogenase (Figura 1) todos

aprovados tambeacutem no Brasil e o oxibato de soacutedio agonista dos receptores GABA registrado

na Itaacutelia e Aacuteustria (ANTONELLI et al 2018) O baclofeno tambeacutem agonista do receptor

GABAB tem indicaccedilatildeo como relaxante muscular em casos de esclerose muacuteltipla e Parkinson

entre outros estados cliacutenicos inclusive no Brasil mas recebeu uma recomendaccedilatildeo temporaacuteria

de uso na Franccedila para tratamento de AUD (ANTONELLI et al 2018) O topiramato indicado

14

em vaacuterios paiacuteses inclusive no Brasil como anticonvulsivante tem mostrado ser promissor no

tratamento de AUD (GUGLIELMO et al 2015) Em um estudo de metanaacutelise Palpacuer et

al (2018) concluiacuteram natildeo existir evidecircncias farmacoloacutegicas fortes (high-grade) que

nalmefene naltrexona acamprosato baclofeno ou topiramato sejam eficazes em controlar o

consumo de aacutelcool em pacientes com AUD No melhor cenaacuterio alguns tratamentos mostraram

uma eficaacutecia meacutedia na reduccedilatildeo do consumo mas nenhum mostrou um benefiacutecio claro na sauacutede

dos pacientes Por outro lado outros autores reconhecem que o uso destes medicamentos eacute

eficaz mesmo que moderadamente e seguro (GOH amp MORGAN 2017)

31 Naltrexona

A naltrexona tem sido utilizada no controle da dependecircncia de opioides desde 1984 e

foi primeiramente utilizada no tratamento de AUD em 1994 (GOH amp MORGAN 2017) Junto

com seu metaboacutelito 6β-naltrexol a naltrexona age como antagonista dos receptores opioides

particularmente dos receptores micro provavelmente reduzindo os efeitos de reforccedilo do aacutelcool nos

receptores e modulando o sistema dopamineacutergico mesoliacutembico (LITTLETON amp

ZIEGLGAumlNSBERGER 2003 ANTON 2008) A afinidade da naltrexona e seu metaboacutelito

pelos receptores opioides eacute esperada quando se observa a similaridade estrutural destas

moleacuteculas com a morfina agonista claacutessico desses receptores (Figura 7)

Naltrexone

6β-Naltrexol

Morfina

Figura 7 Estrutura quiacutemica da naltrexona seu metaboacutelito 6β-naltrexol e a morfina agonista

opioide

Vaacuterios estudos cliacutenicos demostraram que naltrexona combinado com suporte

psicossocial tem efeitos beneacuteficos em indiviacuteduos dependentes na reduccedilatildeo do retorno ao alto

consumo de aacutelcool na frequecircncia e no volume de consumo poreacutem ela natildeo foi capaz de evitar

15

totalmente o retorno ao consumo (ROumlSNER et al 2010) Apesar de efeitos adversos serem

reportados durante o tratamento principalmente gastrointestinais com potencial dano ao fiacutegado

(ANTON 2008) a naltrexona eacute recomendada como tratamento de primeira escolha em vaacuterios

paiacuteses mas seu uso natildeo pode ser concomitante ao de opioides (GOH amp MORGAN 2017)

4 PROTOCOLOS DE ACESSO LIVRE AO AacuteLCOOL

Vaacuterios autores tecircm usado o modelo rato para avaliar os efeitos do aacutelcool e o potencial

de algumas drogas na diminuiccedilatildeo do consumo (NAVARRO-ZARAGOZA et al 2015

CARNICELLA et al 2014) Um dos desafio nestes estudos eacute obter ratos de laboratoacuterio que

consumam voluntariamente quantidades elevadas de aacutelcool sem o uso de procedimentos de

iniciaccedilatildeo como a inclusatildeo de sacarose alimentos e privaccedilatildeo de aacutegua ou emparelhamento como

a estimulaccedilatildeo eleacutetrica cerebral (SIMMS et al 2008) Os procedimentos sem o estaacutegio de

iniciaccedilatildeo envolvendo o acesso intermitente e voluntaacuterio ao aacutelcool foram apresentados pela

primeira vez no iniacutecio de 1970 (WISE 1973) Este modelo foi revisitado na uacuteltima deacutecada

(STEENSLAND et al 2007 SIMMS et al 2008) consolidando o protocolo que vem sendo

utilizado por vaacuterios autores em modelo de roedores (LI et al 2010 CARNICELLA et al 2014

CARVAJAL et al 2017) e primatas (LINDELL et al 2017)

No protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) os animais tecircm acesso agrave

soluccedilatildeo alcooacutelica (normalmente 10 ou 20 de etanol) por 24 horas 3 vezes por semana em

dias intermitentes com abstinecircncia no saacutebado e domingo Esse modelo induz um aumento

gradual da ingestatildeo voluntaacuteria de aacutelcool eventualmente atingindo os niacuteveis de consumo de 5-6

gkg24 h dependendo da linhagem de ratos e induzindo concentraccedilotildees de aacutelcool no sangue

farmacologicamente relevantes Neste protocolo o acesso intermitente ao aacutelcool aumenta o

consumo em ateacute 4 vezes comparado com o acesso contiacutenuo (CARNICELLA et al 2014

LINDELL et al 2017) Dependendo dos objetivos do estudo os animais que natildeo conseguem

atingir um criteacuterio preacute-definido de ingestatildeo de aacutelcool (light drinkers) podem ser excluiacutedos do

estudo (SIMMS et al 2008 CARNICELLA et al 2014)

Li et al (2010) utilizaram o protocolo IA2BC para avaliar o consumo voluntaacuterio de

aacutelcool por ratos Sprague-Dawley (soluccedilatildeo alcooacutelica de 20) e o impacto da administraccedilatildeo de

naltrexona neste consumo O consumo de aacutelcool aumentou significativamente ateacute a quarta

semana de exposiccedilatildeo quando alcanccedilou niacuteveis estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg pc24 horas Na

sexta semana os ratos receberam doses diaacuterias de naltrexona (20 mgfrasl kg pc ip) por 6 dias (30

16

minutos antes do iniacutecio da sessatildeo de aacutelcool) Os resultados mostraram que a naltrexona

diminuiu significativamente o consumo diaacuterio de aacutelcool nas trecircs sessotildees de exposiccedilatildeo para

cerca de 3 g etanol fraslkg pc24 horas Os autores tambeacutem mostraram um aumento dos niacuteveis das

proteiacutenas FosB∆FosB no core do nuacutecleo accumbens na regiatildeo dorsolateral do estriado e no

coacutertex orbitofrontal dos animais durante as 5 semanas de exposiccedilatildeo ao etanol efeito que foi

revertido pela administraccedilatildeo de naltrexona (LI et al 2010)

A famiacutelia de proteiacutena Fos tecircm um papel importante na proliferaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo

celular estaacute envolvida na resposta ao estresse dano e morte celular e no desenvolvimento da

oncogecircnese (TULCHINSKY 2000) Essa famiacutelia conteacutem quatro proteiacutenas celulares cFos

FosB Fra-I e Fra-2 que quando ativadas por um estiacutemulo externo interagem com proteiacutenas

Jun para formar diacutemeros Fos-Jun que agem como fatores de transcriccedilatildeo (TULCHINSKY

2000) Adicionalmente a ∆FosB (ou FosB2) eacute uma FosB truncada que natildeo possui os 101

aminoaacutecidos do terminal C o que inibe a accedilatildeo de transcriccedilatildeo do diacutemero (NAKABEPPU e

NATHANS 1991) A cFos tem sido amplamente utilizada para o mapeamento funcional de

aacutereas cerebrais ativadas em processos que afetam o SNC (KOLBERTA et al 2004 DAY et

al 2008) mRNA de cFos e a proteiacutena tecircm sido um dos marcadores mais utilizados em

eletrofisiologia in vivo ou imagem celular para avaliar a atividade neuronal em estudos de

dependecircncia de drogas incluindo cocaiacutena e heroiacutena no coacutertex estriado e nuacutecleo accumbens

(Cruz et al 2015)

Boerngen-Lacerda et al (2013) desenvolveram um modelo de livre escolha de aacutelcool

com camundongos que envolve quatro fases O modelo se inicia com a fase de aquisiccedilatildeo (AC)

onde por um periacuteodo de 10 semanas os animais tecircm livre acesso a aacutegua e soluccedilotildees de etanol a

5 e 10 Na fase de retirada (W) de duas semanas apenas aacutegua eacute fornecida aos animais e

na fase de re-exposiccedilatildeo (RE) de duas semanas as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo novamente oferecidas

para estabelecer o comportamento de beber de livre escolha Finalmente na fase de adulteraccedilatildeo

(AD) as soluccedilotildees de aacutelcool satildeo adulteradas com 0005 gL de quinino de sabor amargo e

oferecidas aos animais por um periacuteodo de 2 semanas Apoacutes esse periacuteodo cada camundongo foi

classificado em diferentes perfis de acordo com o consumo de aacutelcool dependente (addicted)-

preferecircncia significativa por aacutelcool durante todas as fases consumido pesado (heavy drinker)

- preferecircncia significativa pelo aacutelcool durante a fase AC e uma diminuiccedilatildeo significativa no

consumo de aacutelcool durante a fase AD e consumidor leve (light drinker) - preferecircncia

significativa por aacutegua durante todas as fases Usando este modelo os autores mostraram que a

17

mianserina (agonista inverso natildeo seletivo dos receptores 5-HT2) administrado antes da

exposiccedilatildeo diminuiu o consumo de etanol por camundongos classificados em todos os perfis de

consumo (BOERNGEN-LACERDA et al 2013) Outro estudo usando o mesmo modelo e

realizando pelo mesmo grupo de pesquisa mostrou que o baclofeno um agonista dos receptores

GABAB diminuiacuteram o consumo de aacutelcool somente nos animais com perfil de light drinkers

(VILLAS BOAS et al 2012)

5 AYAHUASCA

Povos dos mais variados ecossistemas do planeta utilizam diversas teacutecnicas para

atingirem estados de alteraccedilatildeo de consciecircncia incluindo o consumo de plantas ou fungos que

contecircm substacircncias psicoativas Das variadas plantas psicoativas utilizadas por populaccedilotildees

indiacutegenas da Bacia Amazocircnica talvez nenhuma seja tatildeo atraente botanicamente quimicamente

e etnograficamente como a bebida conhecida como ayahuasca Por pelo menos quatro mil anos

povos indiacutegenas utilizam essa bebida para fins curativos e espirituais (NARANJO 1979)

Classificada na liacutengua indiacutegena queacutechua da Ameacuterica do Sul a ayahuasca significa videira das

almas que eacute aplicado tanto agrave proacutepria bebida como agraves plantas utilizadas em sua preparaccedilatildeo

Conhecida popularmente como yageacute oaska nixi pae daime vegetal dentre outras a ayahuasca

eacute uma bebida preparada a partir da cocccedilatildeo do cipoacute Banisteriopsis caapi juntamente com vaacuterias

plantas a mistura mais comum eacute com o arbusto Psychotria viridis (MCKENNA 1998)

51 CONTEXTO RELIGIOSO DA AYAHUASCA

Embora vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul como Colocircmbia Boliacutevia Peru Venezuela e

Equador tecircm tradiccedilatildeo do consumo de ayahuasca por xamatildes e vegetalistas o uso desta bebida

no contexto religioso por populaccedilotildees natildeo-indiacutegenas surgiu no Brasil A primeira vertente

religiosa foi criada na deacutecada de 1930 pelo Cabo da Guarda Territorial Raimundo Irineu Serra

ou Mestre Irineu que fundou o Santo Daime Apoacutes um periacuteodo de iniciaccedilatildeo e depois de vaacuterios

anos de contato com o uso da ayahuasca na regiatildeo fronteiriccedila do Brasil Mestre Irineu iniciou

os trabalhos espirituais em Rio Branco capital do Acre Pesquisadores antropoacutelogos descrevem

a conexatildeo profunda e a disciplina de Mestre Irineu com o sacramento da ayahuasca para receber

o insight do culto religioso relatado por MacRae (1992 p62)

18

ldquoSuas primeiras experiecircncias teriam incluiacutedo a visatildeo de lugares

distantes como o seu Maranhatildeo natal Beleacutem do Paraacute e outros locais

Mas a principal seria a apariccedilatildeo repetida de uma entidade feminina

chamada Clara e que veio a ser identificada com Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta Durante essas apariccedilotildees ela teria

dado instruccedilotildees a respeito de uma dieta que ele deveria seguir

preparando-se para o recebimento de uma missatildeo especial e tornar-se

um grande curador Obedecendo a essas recomendaccedilotildees Raimundo

Irineu Serra se embrenhou na mata onde ficou oito dias tomando

ayahuasca sem conversar com ningueacutem evitando especialmente

mulheres pois as instruccedilotildees eram de que ele natildeo deveria vecirc-las nem

pensar a respeito Um dos episoacutedios principais do Mestre Irineu a ser

relatado sobre seu periacuteodo de iniciaccedilatildeo eacute a visatildeo que ele teve da lua

aproximando-se dele trazendo em seu Centro uma aacuteguia Era Nossa

Senhora da Conceiccedilatildeo ou a Rainha da Floresta que vinha lhe entregar

os seus ensinos Essa miraccedilatildeo teve importacircncia fundamental no

posterior desenvolvimento do trabalho de Mestre Irineu passando a

constituir o tema do seu primeiro hino aleacutem de fornecer um dos

principais siacutembolos do culto do Santo Daime onde a lua representa a

ideia de essa doutrina ter sido ensinada pela Virgem Matildee e a aacuteguia faz

alusatildeo ao grande poder de visatildeo que eacute dado aos seus seguidoresrdquo

Dando sequecircncia aos trabalhos religiosos realizados pelo Mestre Irineu outras religiotildees

foram criadas podendo ser encontradas hoje em diversas egreacutegoras As principais delas e mais

difundidas satildeo a Uniatildeo do Vegetal (UDV) e a Barquinha que mantecircm o formato ritualiacutestico

consagram o chaacute e cantam hinos ou ouvem muacutesicas e chamadas Fundada em Porto Velho em

1961 pelo baiano Joseacute Gabriel da Costa (Mestre Gabriel) a UDV eacute a maior das religiotildees

ayahuasqueiras brasileiras com sede em Brasiacutelia DF (httpudvorgbr) O uso da ayahuasca

no contexto religioso tem suporte legal no Brasil desde 1985 (CONAD 2010) nos Estados

Unidos Canadaacute e vaacuterios paiacuteses da Europa (LABATE amp JUNGABERLE 2011 HEALTH

CANADA 2017)

Vaacuterios estudos demonstram que o uso do chaacute nas doses ritualiacutesticas eacute seguro com baixo

potencial de dependecircncia e com impacto positivo no perfil neuropsicoloacutegico dos usuaacuterios

Apoacutes a ingestatildeo da ayahuasca nas doses ritualiacutesticas observam-se alguns efeitos autonocircmicos

como aumento do diacircmetro pupilar discreto aumento da frequecircncia respiratoacuteria e temperatura

oral e elevaccedilatildeo da pressatildeo arterial (PA) sistoacutelica diastoacutelica e meacutedia e da frequecircncia cardiacuteaca

(CALLAWAY et al 1999 RIBA et al 2001) Os efeitos na aacuterea somaacutetica podem provocar

naacuteuseas vocircmitos tremores tonturas debilidade contratura muscular hiper- reflexia e dores

generalizadas (CALLAWAY amp GROOB 1998) Grupos de usuaacuterios da ayahuasca (urbano e

19

da floresta) tiveram escores menores no teste de Iacutendice de Severidade de Dependecircncia (ASI

Addiction Severity Index) relacionado ao uso de aacutelcool e escalas de status psiquiaacutetrico Este

resultado se manteve significativo depois de um ano de acompanhamento somente no grupo da

floresta (FAacuteBREGAS et al 2010) Bouso et al (2012) avaliaram o perfil de usuaacuterios da

ayahuasca com relaccedilatildeo ao perfil psicoloacutegico (Temperament and Character Test) status

psicopatoloacutegico (Symptom Check-List-90-Revised) performance neuropsicoloacutegica e

comportamental (incluindo o Wisconsin Card Sorting Test e Frontal Systems Behaviour Scales)

e atitudes subjetivas de vida (incluindo Spiritual Orientation Inventory e Psychosocial Well-

Being Test) Os usuaacuterios apresentaram resultados mais positivos em vaacuterios testes comparados

ao controle incluindo nas medidas psicopatoloacutegicas e no Wisconsin Card Sorting Test que

mede a funccedilatildeo executiva que requer planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo habilidade de adaptaccedilatildeo ao

ambiente objetividade e habilidade de modular respostas impulsivas Os autores concluiacuteram

que natildeo existem evidecircncias de comprometimento psicoloacutegico ou cognitivo nos usuaacuterios da

ayahuasca no contexto ritualiacutestico Resultados de um estudo internacional realizado no contexto

do Global Drug Survey (2016) mostraram que usuaacuterios da ayahuasca (n = 527) reportam melhor

bem estar que usuaacuterios de outras drogas alucinoacutegenas (n = 18138) e de natildeo usuaacuterios dessas

drogas (n = 78236) e menos problemas de alcoolismo que usuaacuterios de alucinoacutegenos (LAWN

et al 2017) Os efeitos positivos do uso da ayahuasca na vida dos indiviacuteduos e da comunidade

tecircm sido demonstrado em vaacuterios outros estudos (ver revisatildeo em HAMIL et al 2018)

52 Botacircnica e fito quiacutemica da ayahuasca

Um dos maiores misteacuterios que acompanham o uso da ayahuasca eacute a forma de como as

plantas que compotildeem o chaacute se encontraram num universo que possui infinitas possibilidades

de combinaccedilotildees vegetais (NARANJO 1979) O estudo sobre B caapi iniciou-se com o

botacircnico inglecircs Richard Spruce que viajou entre 1849 e 1864 pela Amazocircnia brasileira

venezuelana e equatoriana para inventariar as espeacutecies de plantas destas regiotildees A trepadeira

utilizada por iacutendios brasileiros da tribo Tukano foi primeiramente classificada por Spruce em

1851 como Banisteria caapi e em 1931 foi reposicionada por Morton como Banisteriopsis

(SCHULTES 1986) Eacute uma liana amazocircnica que pode chegar a 10 metros de altura e que ocorre

no Brasil Peru Colocircmbia Equador e Boliacutevia (NARANJO 1979) O cipoacute possui vaacuterias

denominaccedilotildees vernaculares incluindo Jagube Mariri Cabi e Caupuriacute

20

A B caapi (Figura 8) conteacutem os alcaloacuteides β-carbolinas harmina harmalina e

tetrahidroharmina (Figura 9) as duas primeiras satildeo inibidores reversiacuteveis da monoamina

oxidase A (MAO-A) e a terceira um inibidor fraco de recaptaccedilatildeo da seronotina (CALLAWAY

et al 1999) As concentraccedilotildees de β-carbolinas encontradas na B caapi variam de 005 a

195 de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004)

Figura 8 Banisteriopsis caapi em floraccedilatildeo e colhido para feitio do chaacute ayahuasca

Figura 9 Estrutura quiacutemica dos alcaloacuteides da ayahuasca harmina harmaline e

tetrahidroharmina presentes na Banisteriopis caapi e N N dimetiltriptamina (DMT) presente

na Psychotria viridis Observa-se a semelhanccedila estrutural entre o DMT e o neurotransmissor

serotonina (5-HT) (PIC-TAYLOR et al 2014)

21

As MAOs catalisam a desaminaccedilatildeo oxidativa de catecolaminas endoacutegenas presentes

principalmente no ceacuterebro (MAO-A e MAO-B) fiacutegado e trato gastrintestinal (KOKAN 2002)

No ceacuterebro a MAO-A metaboliza principalmente dopamina serotonina e norepinefrina e a

MAO-B metaboliza dopamina Como a MAO-B representa 75 das MAOs no ceacuterebro

inibidores seletivos dessa enzima (como selegilina) satildeo usados para aumentar os niacuteveis

dopamineacutergicos em pacientes parkinsonianos enquanto inibidores seletivos da MAO-A (como

isocarboxazida) tecircm sido prescritos frequentemente para depressatildeo (KOKAN 2002) Harmina

a principal β-carbolina presente na ayahuasca eacute um potente inibidor (reversiacutevel) da MAO-A

(IC50=2ndash5 nM) facilitando a atividade oral do DMT na bebida atenuando sua desaminaccedilatildeo

oxidativa no fiacutegado (MCKENNA et al 1984) Iurlo et al (2001) propuseram que a inibiccedilatildeo da

MAO-A pela harmina medeiao aumento do fluxo de dopamina no estriado o que pode indicar

seu envolvimento na transmissatildeo dopamineacutergica (BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

Adicionalmente as β-carbolinas podem tambeacutem inibir a recaptaccedilatildeo de serotonina

(CALLAWAY et al 1999 COZZI et al 2009)

A P viridis (Figura 10) eacute uma planta arboacuterea da famiacutelia Rubiaceae conhecida

popularmente como chacrona ou rainha As folhas contecircm o N N-dimetiltriptamina (DMT)

um agonista dos receptores de serotonina principalmente 5HT2A (Figura 6) Aleacutem de se ligar

ao receptor 5-HT2A o DMT eacute substrato do transportador de serotonina (SERT) inibindo a

recaptaccedilatildeo do neurotransmissor que permanece por mais tempo na fenda sinaacuteptica (COZZI et

al 2009) As concentraccedilotildees de DMT encontradas na P viridis estatildeo na faixa de 010 a 066

de peso seco (MCKENNA 1984 MCKENNA 2004) Aleacutem da P viridis o DMT eacute encontrado

em mais de 100 espeacutecie de plantas e sua presenccedila no sangue e no ceacuterebro humano foi reportada

nas deacutecadas de 1960-1970 (LIESTER amp PRICKETT 2012)

Quando ingerido por via oral o DMT presente na P viridis eacute inativado pela MAO no

fiacutegado e perde sua accedilatildeo de agonista serotonineacutergico Sua ingestatildeo conjunta com as β-carbolinas

presentes na B caapi como no chaacute ayahuasca inibe sua degradaccedilatildeo pela MAO permitindo sua

chegada ao ceacuterebro em concentraccedilatildeo suficiente para se ligar aos receptores serotonineacutergicos

(CALLAWAY et al 1999 BRIERLEY amp DAVIDSON 2012)

22

Figura 10 Psychotria viridis

Em um estudo com usuaacuterios da UDV haacute pelo menos 10 anos Callaway et al (1994)

mostraram que a ayahuasca aumentou a captaccedilatildeo de serotonina nas plaquetas sugerindo uma

diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de serotonina extracelular ou a resposta a um aumento da produccedilatildeo

e liberaccedilatildeo do neurotransmissor Mais recentemente Pic-Taylor et al (2015) mostraram que

ratos expostos a alta dose de ayahuasca (30X a dose ritualiacutestica 150 mL por uma pessoa de 70

kg) tinham maior atividade neuronal nas aacutereas ricas em receptores 5-HT (nuacutecleo dorsal da rafe

amiacutegdala e hipocampo) mas a maior atividade natildeo causou morte neural que resultasse em

lesotildees definitivas nestas regiotildees Castro-Neto et al (2013) encontraram um aumento nos niacuteveis

de GABA no hipocampo de ratos tratados com 250 500 e 800 mgkg pc de ayahuasca aumento

de serotonina nas duas maiores doses e uma diminuiccedilatildeo na taxa de utilizaccedilatildeo de serotonina no

grupo de maior dose Os niacuteveis de noradrenalina dopamina e serotonina foram aumentados na

amiacutegdala de ratos tratados nas trecircs doses testadas que tiveram uma menor taxa de utilizaccedilatildeo ou

degradaccedilatildeo dos neurotransmissores provavelmente consequecircncia da accedilatildeo inibitoacuteria das β-

carbolinas na MAO-A (CASTRO-NETO et al 2013)

53 Aspectos toxicoloacutegicos da ayahuasca

Estudos para avaliar o potencial toxicoloacutegico da ayahuasca foram conduzidos por nosso

grupo de pesquisa utilizando ratos Wistar expostos oralmente (gavagem) ao material preparado

pela UDV e considerando uma dose ritualiacutestica correspondente a 150mL consumida por um

23

indiviacuteduo de 70 kg Uma dose ritual desta infusatildeo corresponde a uma exposiccedilatildeo de 33 mgkg

pc harmina 03 mgkg pc de DMT e 026 mgkg pc de harmalina (PIC-TAYLOR et al 2015)

A toxicidade aguda (uacutenica) da ayahuasca eacute muito baixa ultrapassando 50X a dose

ritualiacutestica em ratos fecircmeas (PIC-TAYLOR et al 2015) Poreacutem ratos (fecircmeas e machos)

expostos diariamente a doses a partir de 4X a doses ritualiacutestica foram a oacutebito apoacutes 3-4 dias de

exposiccedilatildeo (SANTOS et al 2017 MOTTA et al 2018) Num estudo de genotoxicidade

conduzido com ratos (fecircmeas e machos) expostos uma vez a 1 5 e 15 X a dose ritual utilizando

testes de micronuacutecleo cometa e citometria de fluxo (Mello Jr et al 2016) A infusatildeo mostrou

baixa toxicidade genotoacutexica com aumento no nuacutemero de micronuacutecleos apenas na maior dose

que tambeacutem mostrou alterar o metabolismo lipiacutedico Uma dose de efeito adverso natildeo observado

(no-observed-adverse-effect-level NOAEL) de 5X a dose ritual correspondente a 165 mgkg

pc harmina e 15 mgkg pc de DMT foi estabelecida para genotoxicidade da ayahuasca em ratos

Em estudo para avaliar a toxicidade reprodutiva masculina ratos foram expostos a doses

de 1 2 4 e 8X a dose ritual por 70 dias intercalados (SANTOS et al 2017) Houve uma

diminuiccedilatildeo significativa do consumo de raccedilatildeo nos grupos 4X e 8X e diminuiccedilatildeo significativa

do peso corpoacutereo ao final do tratamento nos animais tratados com a maior dose Animais

expostos a dose de 4X mostraram aumento nos niacuteveis soroloacutegicos de testosterona total

diminuiccedilatildeo no tempo de tracircnsito espermaacutetico e na reserva espermaacutetica na cauda do epidiacutedimo

em relaccedilatildeo ao grupo controle natildeo foram observadas alteraccedilotildees nos outros indicadores

reprodutivos nas doses testadas Um NOAEL para efeitos reprodutivos masculino da ayahuasca

em ratos Wistar foi estabelecida em 2X a dose ritual (66 mgkg pc harmina e 06 mgkg pc

DMT)

Motta et al (2018) avaliaram os efeitos reprodutivos da ayahuasca em ratas fecircmeas

expostas diariamente agraves mesmas doses do estudo de Santos et al (2017) do sexto ao vigeacutesimo

dia de gestaccedilatildeo (GD6-GD20) A ayahuasca mostrou uma toxicidade materna importante sendo

fatal a ratas tratadas nas duas maiores doses (44 e 52) e ratas que sobreviveram tiveram dano

renal Ratas sobreviventes agrave maior dose tiveram tambeacutem perda neural nas regiotildees do hipocampo

e no nuacutecleo da rafe e ratas do grupo 2X tiveram perda neural na regiatildeo hipocampal CA1

Ayahuasca causou atraso no crescimento e morte fetal e anomalias (esqueleacuteticas e viscerais)

foram observadas em fetos do grupo 8X Um NOAEL de toxicidade materna e reprodutiva de

1X a dose ritual foi estabelecida (33 mgkg pcdia harmina e 030 mg kg pcdia DMT) Oliveira

et al (2010) utilizando o mesmo protocolo e doses similares de uma outra preparaccedilatildeo de

24

ayahuasca (ateacute 10X da dose ritual) natildeo reportaram fatalidade materna e os comprometimentos

no desenvolvimento fetal foram menos severos que os encontrados por Motta et al Eacute

importante ressaltar que resultados dos estudos crocircnicos com a ayahuasca tecircm significacircncia

limitada no contexto religioso onde o chaacute eacute normalmente consumido a cada quinze dias e

mulheres graacutevidas satildeo aconselhadas a tomar doses menores que a usual (MOTTA et al 2018)

Poreacutem mulheres em idade reprodutiva devem se abster do uso recreativo do chaacute durante a

gestaccedilatildeo

54 Potencial terapecircutico da ayahuasca

A literatura acumula evidecircncias de estudos com humanos que demonstram que o uso da

ayahuasca no contexto religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de

alcoolismo e outras drogas (FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 LAWN et al 2017

CRUZ amp NAPPO 2018) Poreacutem a influecircncia do contexto religioso nestes estudos natildeo pode

ser descartada sendo necessaacuterios estudos farmacoloacutegicos utilizando modelos animais para

investigar melhor esse efeito

Oliveira-Lima et al (2015) avaliaram os efeitos da ayahuasca (administraccedilatildeo

intraperitoneal ip) no comportamento locomotivo de camundongos tratados com aacutelcool (ip)

O uso preacutevio da ayahuasca foi eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo

caracteriacutestico da exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida

foi capaz de reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg

pc por 14 dias

Um estudo realizado em humanos mostrou que o grupo que recebeu terapia assistida

com ayahuasca reduziu significativamente o consumo de cocaiacutena (THOMAS et al 2013)

Centros terapecircuticos que combinam elementos da medicina moderna ao uso cerimonial da

ayahuasca como o Takiwasi (no Peru) e o IDEAA (no Brasil) e as religiotildees ayahuasqueiras no

Brasil trazem evidecircncias na perspectiva de modelos teoacutericos interdisciplinares considerando

sobretudo as abordagens da antropologia e da psicologia transpessoal O Takiwasi um centro

de reabilitaccedilatildeo referecircncia foi co-fundado por Jacques Mabit um meacutedico francecircs naturalizado

peruano no ano 1992 Ali curandeiros locais meacutedicos psicoacutelogos e terapeutas exploram os

potenciais curativos das terapias ocidentais juntamente com teacutecnicas terapecircuticas tradicionais

amazocircnicas Eles desenvolveram um protocolo de tratamento utilizando ayahuasca plantas

25

emeacuteticas (que provocam vocircmito) dietas (isolamento na floresta com jejum especial e ingestatildeo

de plantas medicinais) ldquosopladasrdquo (rapeacute) vida comunitaacuteria atividades manuais artiacutesticas e

psicoterapia Uma proposta do tratamento da dependecircncia quiacutemica com o uso ritual da

ayahuascardquo foi apresentada no ldquo1ordm Congresso sobre Drogas e Dependecircnciardquo organizado pela

Associaccedilatildeo Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) em 2008

Liester amp Prickett (2012) apresentam trecircs hipoacuteteses que explicariam a accedilatildeo da

ayahuasca no tratamento da dependecircncia quiacutemica 1) reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via

mesoliacutembica devido agrave ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos resultante da ingestatildeo da

ayahuasca 2) esta reduccedilatildeo interfere na plasticidade sinaacuteptica associada ao desenvolvimento e

manutenccedilatildeo da adiccedilatildeo e 3) a ayahuasca auxilia na resoluccedilatildeo de traumas encoraja a

compreensatildeo das escolhas individuais e a capacidade de decisatildeo

A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina nas vias mesoliacutembicas nigrostriatal e mesocortical

resultante da estimulaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A envolve duas vias o agonismo dos receptores

poacutes-sinaacutepticos por neurocircnios serotonineacutergicos e dopamineacutergicos leva a uma accedilatildeo inibitoacuteria

indireta na liberaccedilatildeo de dopamina e o agonismo nos receptores poacutes-sinaacutepticos ativa o GABA

interneuronal que inibe a liberaccedilatildeo de dopamina A reduccedilatildeo da liberaccedilatildeo de dopamina como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores 5-HT2A tem suporte em estudos de imagem que

tambeacutem mostram que o antagonismo desses receptores leva a um aumento da liberaccedilatildeo de

dopamina (STAHL 2008) Adicionalmente como a dopamina tem uma accedilatildeo inibitoacuteria na

liberaccedilatildeo da prolactina e o agonismo de 5-HT2A promove a liberaccedilatildeo do hormocircnio na glacircndula

pituitaacuteria (STAHL 2008) o aumento nos niacuteveis de prolactina observado em usuaacuterios da

ayahuasca (MCKENNA et al 1998 dos SANTOS et al 2012) pode ser indicativo da

diminuiccedilatildeo dos niacuteveis dopamineacutergicos causados pelo agonismo no 5-HT2A (LIESTER amp

PRICKETT 2012) Desta maneira a accedilatildeo terapecircutica da ayahuasca eacute resultado da diminuiccedilatildeo

da dopamina nas regiotildees de recompensa do ceacuterebro

A liberaccedilatildeo de dopamina na via mesoliacutembica afeta a plasticidade sinaacuteptica que tem sido

associada ao desenvolvimento e manutenccedilatildeo da adicccedilatildeo (SAAL et al 2003) O uso continuado

de alguma droga psicoativa aumenta o fluxo de dopamina do VTA para a amiacutegdala na via

mesoliacutembica (Figura 4) resultando em mudanccedilas adaptativas estruturais na arquitetura neural

(plasticidade) que levam ao reforccedilo do comportamento aditivo (STAHL 2008) Segundo

Liester amp Prickett (2012) similar ao que ocorre na via estriatal depois do bloqueio dos

26

receptores D2 (TOST et al 2010) uma reversatildeo desta plasticidade pode ocorrer quando os

niacuteveis dopamineacutegicos caem em funccedilatildeo da ativaccedilatildeo dos receptores 5HT2A pela ayahuasca

Aleacutem do potencial terapecircutico da ayahuasca na dependecircncia quiacutemica outros estudos

avaliaram este potencial no tratamento da depressatildeo Parkinson e cacircncer (DOMINGUEZ-

CLAVEacute et al 2016 SANCHES et al 2016 FRECSKA et al 2016) Recentemente Palhano-

Fontes et al (2018) conduziram um estudo duplo cego placebo-controle com 29 pacientes com

depressatildeo resistentes agrave depressatildeo que receberam dose de 1 mLkg placebo ou de ayahuasca

(contendo 036 mgkg N N-DMT) o que corresponde a um pouco mais de 1X usual utilizada

nos estudos realizados no nosso grupo de pesquisa (PIC-TAYLOR et al 2015 MOTTA et al

2018) Os autores observaram efeitos antidepressivos significantes da ayahuasca comparado

com o controle utilizando escalas de depressatildeo Hamilton (HAM-D) e MontgomeryndashAringsberg

(MADRS) confirmando outros estudos realizados anteriormente com usuaacuterios da ayahuasca

(OSORIO et al 2015 SANCHES et al 2016) O potencial antidepressivo da ayahuasca foi

demonstrado tambeacutem por Pic-Taylor et al (2015) em ratas Wistar tratadas com 30X a dose

usual Schennberg et al (2015) avaliaram nove estudos de caso (oral ou escrito) em humanos

que reportam o uso da ayahuasca no tratamento de cacircncer incluindo de proacutestata ovaacuterio e

ceacuterebro Segundo Schennberg et al e outros autores (FRECSKA et al 2013) a accedilatildeo

antitumorogecircnica da ayahuasca estaacute provavelmente relacionada agrave interaccedilatildeo do DMT com os

receptores sigma-1 recentemente descrita por Fontanilla et al (2009) Sig-1Rs satildeo

moduladores intracelulares dos sistemas de transduccedilatildeo de sinal que influenciam a transferecircncia

de caacutelcio no retiacuteculo mitocondrial e regulam o sistema bionergeacutetico celular particularmente sob

condiccedilotildees de estresse (FRECSKA et al 2013) Adicionalmente eacute sabido que harmina ativa a

via de apoptose de ceacutelulas de melanoma inibe a formaccedilatildeo de novos vasos especiacuteficos de

tumores e reduz a proliferaccedilatildeo de ceacutelulas de leucemia (SCHENNBERG et al 2015)

27

III OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o impacto do uso da ayahuasca no consumo crocircnico intermitente de aacutelcool por

ratos Wistar e a atividade neuronal dos animais em aacutereas importantes para a dependecircncia ao

aacutelcool

ESPECIacuteFICOS

Avaliar a mudanccedila no perfil de consumo de aacutelcool de ratos Wistar no modelo IA2BC

(interminent access to 2-botttle choice) apoacutes exposiccedilatildeo diaacuteria da ayahuasca nas doses

05 1 e 2 X a dose ritualiacutestica

Avaliar o comportamento de ratos expostos ao aacutelcool e em tratamento por meio dos

testes de Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado

Determinar a atividade neural dos animais pela expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees

relevantes para o processo de dependecircncia ao aacutelcool coacutertex medial prefrontal coacutertex

orbitoventral e coacutertex orbitolateral estriado e core do nuacutecleo accumbens

Analisar a quantificaccedilatildeo da densidade neuronal por teacutecnica de Nissl nas mesmas aacutereas

28

IV MATERIAS E MEacuteTODOS

O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes recomendadas pelo Guide for the

Care and Use of Laboratory Animals e pelo Guideline for the Testing of Chemicals e aprovado

pelo Comitecirc de Eacutetica no Uso Animal do ICBUnB (UnBDoc 732762014 Anexo)

1 AYAHUASCA

A ayahuasca utilizada no estudo foi cedida pelo Nuacutecleo Luz do Oriente da Uniatildeo do

Vegetal (UDV) com sede na cidade de Braslacircndia - DF O chaacute foi preparado num feitio em

2011 sendo feito a partir da decocccedilatildeo do B caapi colhido em aacuteguas lindas de Goiaacutes (Azevedo

EP149880 BRAHMS) e das folhas da P viridis colhidas na cidade de Sobradinho-DF (Trieto

B149879 BRAHMS) O chaacute foi congelado a -20oC e liofilizado para a realizaccedilatildeo do estudo A

densidade do chaacute foi determinada a partir da pesagem de dez amostras de 10 mL liofilizadas

separadamente e sua densidade meacutedia foi estimada em 01615 gmL

Para a caracterizaccedilatildeo quiacutemica e quantificaccedilatildeo dos componentes do chaacute foram utilizados

padrotildees de szlig-carbolinas harmina e harmalina 992 e 98 de pureza respectivamente (Sigma

Aldrich) O DMT foi sintetizado seguindo a metodologia descrita por Qu et al (2011) e a

tetrahidroharmina sintetizada a partir da harmalina segundo Callaway et al (1996) A

identidade e pureza da DMT e da tetrahidroharmina foram determinadas por LC-MSMS

(Shimadzu LC sistema acoplado a um spectrofotocircmetro de massas 4000 QTRAP Applied

Biosystem) 1H and 13C- NMR (Varian Mercury Plus spectrometer 705 operanting at 300 MHZ

for 1H anda t 7546 MHz for 13C) e LC-MSD TOF (Agilent 1100 Series) Os niacuteveis de DMT

harmina harmalina e tetrahidroharmina presentes no chaacute foram determinados por CG-MSMS

(Trace Ultra coupled with a TSQ Quantum XLS Triple Quadrupole Thermo Scientific) 012

mgmL de DMT 112 mgmL de harmina e 008 mgmL de harmaline e 015 mgmL

tetrahidroharmina

O material liofilizado (Figura 11) foi solubilizado em aacutegua nos dias de tratamento e a

dose calculada proporcionalmente ao peso de cada animal foi relacionada agrave dose usual durante

um ritual da UDV (150 mL de chaacute por um indiviacuteduo de 70 kg) nas concentraccedilotildees de 05X 1X

e 2X a dose usual

29

Figura 11 Amostra do chaacute ayahuasca liofilizado utilizado durante o estudo

2 ANIMAIS E CONDICcedilOtildeES EXPERIMENTAIS

Foram utilizados no estudo 64 ratos da espeacutecie Rattus novergicus linhagem Wistar

machos adultos com idade de sete semanas pesando em torno de 250 g com variaccedilatildeo maacutexima

de 20 entre os animais originaacuterios do Instituto de Ciecircncias Biomeacutedicas da Universidade de

Satildeo Paulo Os animais foram alojados no bioteacuterio da Faculdade de Ciecircncias da Sauacutede da

Universidade de Brasiacutelia sendo acomodados individualmente em gaiolas de polipropileno de

grade zincada com disposiccedilatildeo para dois bebedouros de aacutegua (Figura 12) As caixas foram

alojadas em estante ventilada da Alescoreg mantendo o controle de temperatura (20 plusmn 2 oC) e

12 horas ciclo luzescuro (05001700 hs) Raccedilatildeo Purinareg e aacutegua estavam disponiacuteveis ad

libitum antes do iniacutecio do experimento os animais passaram por um periacuteodo de aclimataccedilatildeo de

sete dias

Figura 12 Gaiola contendo dois bebedouros de aacutegua e aacutelcool 20

30

3 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTTLE CHOICE)

31 Fase de condicionamento ao consumo de aacutelcool

Primeiramente foi realizado um preacute-teste para a otimizaccedilatildeo e ajustes do protocolo

IA2BC utilizando 10 animais (Souza 2017) No ensaio foi demonstrado que o controle positivo

(naltrexona) diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool dos animais expostos durante a

8o semana de exposiccedilatildeo segundo previsto por Li et al (2010)

Neste estudo 60 animais foram expostos ao aacutelcool (etanol) e 4 animais foram usados

como controle sadio (Grupo sadio) sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool durante todo o periacuteodo do estudo

Durante um periacuteodo de 7 semanas todas as segunda feiras quarta feiras e sexta feiras os 60

animais eram pesados e tinham acesso simultacircneo a partir das 1700 h a dois bebedouros de

acriacutelico ou plaacutestico de 250 mL com bicos de entrada de accedilo inoxidaacutevel um com etanol 20

(aacutelcool etiacutelico absoluto PA 998 Dinacircmicareg) e outro com aacutegua filtrada (Figura 12) A hora

da disponibilidade do aacutelcool etanol corresponde com o iniacutecio do ciclo escuro que estimula o

consumo de aacutelcool pelo animal (CARNICELLA et al 2014) Os bebedouros foram inseridos

em 2 depositoacuterios na frente da gaiola 15 minutos antes que as luzes apagassem O bebedouro

com aacutelcool foi pesado antes de ser posicionado na gaiola e apoacutes 24 horas foi novamente pesado

para estimar o volume de soluccedilatildeo de etanol 20 consumido nas 24 horas e expresso em g de

aacutelcool por quilograma de peso corporal do animal Este bebedouro foi entatildeo substituiacutedo por

uma segunda garrafa de aacutegua que ficou disponiacutevel nas proacuteximas 24 horas Em cada sessatildeo de

acesso a posiccedilatildeo da garrafa de aacutelcool foi alternada para natildeo influenciar a preferecircncia do animal

Durante o preacute-teste e contato com o Prof Sebastien Carnicella da Universidade da Califoacuternia

Satildeo Francisco (USA) indicaram a necessidade de preencher quase todo o volume do bebedouro

com a soluccedilatildeo alcoacuteolica para evitar vazamentos na hora de posicionaacute-lo na caixa e durante as

24 horas de exposiccedilatildeo Adicionalmente a cada sessatildeo um bebedouro contendo a soluccedilatildeo

aacutelcoacuteolica foi colocado em uma gaiola sem ratos para avaliar o derrame potencial durante as

sessotildees de teste O grupo sadio (n=4) foi exposto a aacutegua ad libitum ao longo das 7 semanas

quando foram submetidos ao procedimento de eutanaacutesia (ver posteriormente)

31

32 Fase de tratamento (oitava semana)

O protocolo IA2BC foi repetido durante a oitava semana quando os 60 animais

expostos foram divididos em 5 grupos com 12 animais cada grupo H2O sem exposiccedilatildeo a

ayahuasca (controle negativo aacutegua) grupo NTX exposiccedilatildeo a naltrexona (controle positivo)

grupo AYA 05 tratado com ayahuasca na dose 05X a dose usual grupo AYA 1 tratado com

a ayahuasca na dose 1X a dose usual e grupo AYA 2 tratado com a ayahuasca na dose 2X a

dose usual Aacutegua naltrexona ou ayahuasca foram administrados durante 5 dias consecutivos

iniciando na segunda-feira juntamente com a primeira sessatildeo de aacutelcool Aacutegua e ayahuasca

foram administrados por gavagem (2 mL) e naltrexona pela via intraperitoneal (2 mgkg pc)

A naltrexona utilizada no estudo foi preparada a partir do medicamento disponiacutevel

comercialmente (Uninaltrexreg 50 mgdraacutegeas comprimidos revestidos laboratoacuterio

GENOMreg) O comprimido foi macerado e solubilizado em soluccedilatildeo de cloreto de soacutedio 09

com o auxiacutelio de um ultrassom para uma concentraccedilatildeo final 1 mgmL

Entre 18 e 20 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento (na sexta feira) os

animais passaram pela avaliaccedilatildeo comportamental (campo aberto e labirinto em cruz elevada)

e em seguida foram eutanasiados para a coleta de amostras bioloacutegicas

4 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

41 Campo aberto

O teste de campo aberto (CA) foi desenvolvido por Hall (1934) como ferramenta para

avaliar a emocionalidade de ratos e tem sido utilizado como paracircmetro de locomoccedilatildeo e de

ansiedade animal Este modelo eacute baseado na aversatildeo do roedor a espaccedilos abertos e uma

tendecircncia a permanecer perto das paredes um comportamento conhecido como tigmotaxia

(LAMPREA et al 2008) Um aumento na ambulaccedilatildeo do animal e maior permanecircncia na regiatildeo

central do CA seriam indicativos de uma reduccedilatildeo da ansiedade (PRUT amp BELZUNG 2003)

O aparato de campo aberto utilizado neste estudo consiste de uma arena circular de

madeira 96 cm de diacircmetro e 34 cm de altura sendo o chatildeo dividido em 18 quadrantes e um

ciacuterculo central (Figura 13) Os animais foram colocados no centro na arena e filmados durante

5 minutos durante os quais foram contados o nuacutemero de quadrantes atravessados nuacutemero de

vezes em que o animal se colocou sobre suas patas traseiras em elevaccedilatildeo (rearing) vezes que

o animal executou autolimpeza com as patas anteriores (grooming) nuacutemero de vezes que

32

defecou e urinou Ao final da sessatildeo com cada animal a arena foi limpa com aacutelcool etiacutelico 70

(PIC-TAYLOR et al 2015)

Figura 13 Arena de Campo Aberto

42 Labirinto em Cruz Elevado

Imediatamente apoacutes a finalizaccedilatildeo do teste de CA o animal foi colocado no Labirinto

em Cruz Elevado (LCE) um modelo utilizado na pesquisa preacute-cliacutenica para avaliar medo e

ansiedade (HANDLEY amp MITHANI 1984 PELLOW et al 1985) Este modelo eacute baseado no

medo inato de animais roedores por espaccedilos abertos e elevados onde drogas ansioliacuteticas

aumentam o nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (PELLOW et

al 1985)

O aparato de LCE (Figura 14) foi feito de madeira com dois braccedilos fechados e dois

braccedilos abertas de 50 cm de comprimento cada pintado de preto internamente com uma

elevaccedilatildeo de 38 cm da superfiacutecie e uma plataforma central de 10 x 10 cm Os animais foram

colocados no centro do LCE adaptado com equipamento de filmagem por 5 minutos para

avaliaccedilatildeo do nuacutemero de entradas e o tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados o

nuacutemero total de elevaccedilotildees e de autolimpeza e nuacutemero de vezes que o animal defecou e urinou

33

Figura 14 Labirinto em Cruz Elevado

5 EUTANAacuteSIA E PERFUSAtildeO

Todos os animais foram submetidos a uma alta dose de tiopental (100 mgkg ip) no

quadrante inferior direito com o animal em decuacutebito dorsal e foram observadas a diminuiccedilatildeo

da postura e da movimentaccedilatildeo as reaccedilotildees taacuteteis e perda dos reflexos das extremidades Com o

animal profundamente anestesiado foi realizada uma abertura na cavidade toraacutecica para a

coleta de 5 mL de sangue por pulsatildeo cardiacuteaca para realizaccedilatildeo de hemograma leucoacutecitos

(1E9L) eritroacutecitos (10E12L) hemoglobina (gdL) hematoacutecrito () volume corpuscular

meacutedio (fL) hemoglobina corpuscular meacutedia (pg e gdL) plaquetas (10E9L) volume

plaquetaacuterio meacutedio (fL) amplitude de distribuiccedilatildeo dos gloacutebulos vermelhos () linfoacutecitos ( e

10E9L) monoacutecitos ( e 10E9L) e glanuloacutecitos ( e 10E9L)

Em seguida o animal foi submetido a uma perfusatildeo transcardiacuteaca com o auxiacutelio

de bomba peristaacuteltica (Figura 15) que foi introduzida no ventriacuteculo esquerdo bombeando uma

soluccedilatildeo salina tamponada de fosfato de soacutedio pH 74 (PBS) que circulou por dez minutos o

aacutetrio direito foi perfurado para o extravasamento sanguiacuteneo Ao teacutermino a soluccedilatildeo salina foi

34

trocada por paraformaldeiacutedo 4 em PBS que circulou por mais 7 minutos no animal para a

fixaccedilatildeo das ceacutelulas (Gage et al 2012)

Figura 15 Ilustraccedilatildeo da teacutecnica de perfusatildeo transcardiacuteaca do rato Fonte (adaptado Gage et

al 2012) A figura da esquerda mostra um ceacuterebro fresco e um perfundido

A cabeccedila foi separada do resto do corpo do animal com o auxiacutelio da guilhotina e com

um alicate de ponta fina fez-se cuidadosamente um pequeno corte na regiatildeo de inserccedilatildeo da

coluna vertebral em direccedilatildeo agrave parte superior do cracircnio (Figura 16) A pele que reveste o ceacuterebro

(dura-maacuteter) foi removida com cuidado com o auxiacutelio de uma tesoura de ponta fina rompeu-se

os nervos e ligamentos com uma espaacutetula e o ceacuterebro foi colocado em placa de Petri limpa e

esterilizada O ceacuterebro foi pesado transferido para tubo falcon contendo soluccedilatildeo de fixaccedilatildeo

(formalina 4 tamponada) durante 24 horas para subsequente armazenamento em soluccedilatildeo de

sacarose 30 e paraformaldeiacutedo 4 para a crioproteccedilatildeo O ceacuterebro foi mantido em

refrigerador por no miacutenimo 72 horas antes do processamento Adicionalmente foram coletados

do animal o coraccedilatildeo pulmatildeo fiacutegado rins estocircmago e intestino que foram lavados em soluccedilatildeo

salina (09 NaCl) pesados e submetidos a uma avaliaccedilatildeo macroscoacutepica quanto ao aspecto

coloraccedilatildeo tamanho e consistecircncia

35

Figura 16 Ilustraccedilatildeo da extraccedilatildeo do ceacuterebro do animal (Gage et al 2012)

Os ceacuterebros foram cortados em secccedilotildees de 30 microm de espessura no vibraacutetomo eleacutetrico

KD-400 (velocidade de 015 mmmin e frequecircncia maacutexima de 100Hz) os cortes foram

colocados em placas de 24 poccedilos contendo soluccedilatildeo antifreezing (glicerina etilenoglicol e H2O)

e mantidos na geladeira ateacute os testes de imuno-histoquiacutemica (cFos) e de Nissl Foram utilizados

trecircs cortes seriados de cada regiatildeo do ceacuterebro para cada animal para cada teste As regiotildees

investigadas foram o coacutertex medial preacutefrontal coacutertex orbitoventral coacutertex orbitolateral o core

do nuacutecleo accumbens e estriado (Figura 17)

36

Figura 17 Aacutereas do ceacuterebro analisadas A coacutertex medial preacutefrontal (MO) coacutertex orbitoventral

(VO) e coacutertex orbitolateral (LO) B core do nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) Fonte

(Paxinos e Watson 2007)

Bregma 42 mm

Bregma 108 mm

mm

B

A

37

6 EXPRESSAtildeO DA PROTEIacuteNA CFOS

Neste estudo a atividade neuronal devido ao consumo crocircnico de aacutelcool antes e durante

o tratamento com ayahuasca foi avaliada por meio da expressatildeo de cFos nas regiotildees

investigadas Os cortes cerebrais foram lavados duas vezes com tampatildeo fosfato (PBS) tratados

com H2O2metanol (3) por 30 minutos em temperatura ambiente em agitaccedilatildeo constante e

lavados por duas vezes por 15 minutos com agitaccedilatildeo com soluccedilatildeo Triton X-100 (03) para

permeabilizar a membrana celular Seguiu-se com uma preacute-incubaccedilatildeo em 10 de soluccedilatildeo soro

normal de cabra (Normal Goat Serum Sigma-Aldrich) por 30 minutos e incubaccedilatildeo com

anticorpo primaacuterio anti-cfos (Sigma-Aldrich F7799- 15000) a 4oC em agitaccedilatildeo constante por

48 horas

No terceiro dia os cortes foram lavados duas vezes com PBS por 15 min e incubados

com anticorpo secundaacuterio (Anti-Rabbit IgG Sigma-Aldrich B8895 diluiccedilatildeo 18000) por duas

horas em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante Em seguida os cortes foram lavados

novamente duas vezes em PBS por 15 min incubados na soluccedilatildeo peroxidase antiperoxidase

(PAP Sigma-Aldrich) por 130h em temperatura ambiente e agitaccedilatildeo constante lavados duas

vezes com PBS incubados por 10 min com 33 - diaminobenzidina (DAB Sigma-Aldrich) e

003 de H2O2 (soluccedilatildeo reveladora) e lavados novamente trecircs vezes com PBS

Os cortes revelados foram colocados em lacircminas gelatinizadas depois de aderidos

foram desidratados com aacutelcool e xilol em seguida cobertos com uma gota de Enthelan (Merck)

e protegidos por lamiacutenula O nuacutemero de cFos-neurocircnios positivos foi contado em microscoacutepio

de marca LEICA DM 2000 aumento 40x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Lacircminas de quatro animais foram perdidas durante o procedimento de

preparo e natildeo geraram resultados Para cada animal cada regiatildeo de leitura mostrada na Figura

17 (marcada com um ) gerou um dado de cFos

7 AVALIACcedilAtildeO DE PERDA NEURONAL PELO MEacuteTODO DE NISSLCRESYL

Os corpuacutesculos ou (gracircnulos) de Nissl ou substacircncia cromoacutefila satildeo acumulaccedilotildees

basoacutefilas que se encontram no citoplasma de ceacutelulas nervosas que satildeo evidenciados pelo cresil

violeta um corante baacutesico e serve como indicador da viabilidade neuronal Quando haacute lesatildeo

neuronal esses corpuacutesculos podem desaparecer fenocircmeno conhecido por cromatoacutelise

(CRAGG 1970)

38

Os cortes do ceacuterebro foram retirados da soluccedilatildeo antifreezing transferidos para um

recipiente com soluccedilatildeo de PBS e transferidos para lacircminas gelatinizadas onde permaneceram

durante 20 minutos para aderecircncia e secagem As lacircminas foram coradas em soluccedilatildeo de cresil

violeta (Sigma-Aldrich) por 7 minutos e o excesso do corante foi retirado por mergulhos em

aacutegua destilada A desidrataccedilatildeo dos cortes consistiu em 5 mergulhos das lacircminas em aacutelcool 50

seguidos de 5 mergulhos em aacutelcool 70 Para melhor fixaccedilatildeo da coloraccedilatildeo foi realizada uma

imersatildeo raacutepida em soluccedilatildeo diferenciador de aacutecido aceacuteticoaacutelcool (1100) A lacircmina foi

submetida a sucessivos banhos de aacutelcool em concentraccedilatildeo crescente um banho em aacutelcool 70

trecircs banhos em aacutelcool 96 seguidos de trecircs banhos de aacutelcool 100 com duraccedilatildeo um minuto

cada e entatildeo diafanizado novamente com dois banhos de xilol (2 minutos) Colocou-se

finalmente uma gota de Enthelan (Merck) sobre cada lacircmina e aderiu-se a lacircmina com lamiacutenula

A avaliaccedilatildeo do grau de perda neuronal foi feita com a utilizaccedilatildeo de um microscoacutepio de

marca LEICA DM 2000 aumento de 20x com auxiacutelio do software Leica Aplication Suite

(LAS) V41 Core Os achados referentes aos animais do grupo sadio foram utilizados para a

caracterizaccedilatildeo do padratildeo de 100 de neurocircnios viaacuteveis e saudaacuteveis

8 AVALIACcedilAtildeO ESTATIacuteSTICA

As anaacutelises estatiacutesticas foram realizadas utilizando o software SPSS 200 (Statistical

Package for the Social Sciences) ou GraphPad Prism 704 Os resultados foram expressos como

meacutedia plusmn erro padratildeo da meacutedia (EPM) Os dados comportamentais foram submetidos agrave anaacutelise

de variacircncia Anova seguido do post hoc Tukey ou Dunnet ou anaacutelise natildeo parameacutetrica (Kruskal-

Wallis) A significacircncia foi estabelecida no niacutevel de 95 (p le 005)

39

V RESULTADOS

1 PROTOCOLO IA2BC (INTERMINENT ACCESS TO 2-BOTTLE CHOICE)

Durante o estudo o bebedouro controle para avaliar o derrame da soluccedilatildeo alcoacuteolica natildeo

mostrou perda maior que 1 mL indicando que o sistema funcionou satisfatoriamente (LI et al

2010) Poreacutem em alguns casos o consumo de soluccedilatildeo alcoacuteolica foi muito acima do usual

principalmente devido a danos no bebedouro provocado pelo comportamento dos roedores que

pode ser constatado visualmente no fundo do bebedouro Isto ocorreu em 15 casosleitura

correspondendo a ~ 1 das 1440 leituras previstas ao longo do estudo (60 animais 3

leiturassemanas8 semanas)

De acordo com Carnicella et al (2014) quando o protocol IA2BC eacute utilizado para

avaliar a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutelcool somente aqueles animais com alto consumo

(excessive drinkers) devem ser considerados no estudo Nesse caso animais consumindo menos

que 35 a 4 g etanolkg pc24 h devem ser excluiacutedos do estudo

Ao final do experimento foi feita uma avaliaccedilatildeo do consumo de aacutelcool pelos animais

durante as 7 primeiras semanas de exposiccedilatildeo para identificar os light drinkers que nesse estudo

foi considerado como aqueles que tiveram consumo meacutedio abaixo de 35 g etanolkg pc24 h

Foram identificados 13 animais (216 dos 60 ratos) cujo consumo meacutedio nas 7 semanas

variou de 11 a 33 g etanolkg pc24 h Desta maneira o nuacutemero total de animais de cada grupo

passou a ser Grupo H2O = 9 animais Grupo NTX = 10 animais Grupo AYA 05 = 9 animais

Grupo AYA 1 = 9 animais e Grupo AYA 2 = 10 animais

11 Consumo de aacutelcool dos animais por 7 semanas

A Figura 18 mostra o consumo meacutedio dos 47 animais do estudo durante as primeiras 7

semanas de exposiccedilatildeo Observa-se um aumento gradativo do consumo meacutedio durante as 4

primeiras semanas mas sem significacircncia estatiacutestica A partir da 5ordm semana este aumento foi

significativo permanecendo estaacutevel ateacute a 7ordm semana com meacutedia de 64 g etanolkg pc24 h

40

Figura 18 Consumo geral de aacutelcool por semana (N=47 animais) Os valores representam

meacutedias plusmn EPM (erro padratildeo da meacutedia) Anaacutelise de variacircncia ANOVA de uma via seguido pelo

teste post hoc Turkey Letras iguais indicam que natildeo haacute diferenccedila significativa (p le 005) entre

as semanas Leituras indica o nuacutemero de valores de consumo de aacutelcool na semana

12 Consumo de aacutelcool dos animais tratados na oitava semana

A Figura 19 apresenta o consumo de etanol pelos animais expostos na 8ordm semana quando

foram submetidos ao tratamento com aacutegua (H2O) naltrexona (NTX) e os grupos de ayahuasca

aleacutem do consumo basal (7ordm semana) Os resultados demostraram que houve uma diminuiccedilatildeo

significativa entre o consumo de aacutelcool pelo grupo NTX em relaccedilatildeo ao consumo da linha de

base Natildeo houve diferenccedila significativa no consumo dos grupos ayahuasca em nenhuma dose

testada com relaccedilatildeo ao consumo da linha de base e ao grupo H2O Resultados similares foram

encontrados quando o consumo basal foi estimado a partir do consumo meacutedio da 5ordm 6ordm e 7ordm

semanas (426 leituras) (dados natildeo mostrados)

aa

acacd

bc bdb

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1ordf (138) 2ordf (138) 3ordf (138) 4ordf (140) 5ordf (141) 6ordf (143) 7ordf (142)

Eta

no

l g

kg

pc2

4 h

ora

s

Semana (leituras)

41

B a s e lin e H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Eta

no

l m

Lk

g p

cd

ia

Figura 19 Consumo de aacutelcool na semana de tratamento Os valores representam meacutedias plusmn

EPM (erro padratildeo da meacutedia) Basal (7ordm semana 47 animais) H2O (n= 9) animais NTX (n=

10) animais AYA 05 (n= 9) animais AYA 1 (n= 9) animais AYA 2 (n= 10) animais ne

diferenccedila significativa com o grupo H2O (ANOVA seguido de Dunnet)

2 AVALIACcedilAtildeO COMPORTAMENTAL

Durante o experimento observou-se um comportamento de estresse entre os animais que

consumiram doses elevadas de aacutelcool Esses animais apresentaram comportamento agressivo

no momento em que o pesquisador realizava a pesagem e as trocas de bebedouros Pode ser

observado uma agitaccedilatildeo e o chiar dois animais tentavam levantar a grade da caixa para escapar

e alguns bebedouros de aacutelcool foram roiacutedos derramando todo o aacutelcool (Figura 20) Por serem

animais roedores o comportamento de roer a borracha dos bebedouros eacute considerado normal

em animais de cativeiro Pensando nesta possibilidade as borrachas dos bebedouros eram

protegidas por alumiacutenio mas alguns animais conseguiram roer ateacute furar a parte plaacutestica do

fundo do bebedouro (Figura 20)

ne

42

Figura 20 Bebedouro de aacutelcool e bebedouro roiacutedo pelo rato (direito)

21 Campo Aberto

Apoacutes a fase de tratamento os animais foram submetidos aos testes comportamentais

que foram realizados quinze horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os seguintes

paracircmetros foram analisados entrada no quadrante central fezes urina autolimpeza

locomoccedilatildeo nos quadrantes e apoio nas patas traseiras

As Figuras 21A e B mostram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos

paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo poreacutem observa-se uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo

da atividade de ida ao quadrante central nuacutemero de bolos fecais e autolimpeza com o aumento

da dose de ayahuasca (Figura 21)

22 Labirinto em cruz elevado

A Figura 22 mostra os resultados do teste do labirinto em cruz elevada em relaccedilatildeo aos

paracircmetros de nuacutemero de vezes que o animal se levantou com apoio nas patas traseiras e

entradas e saiacutedas nos braccedilos abertos ou fechados (Figura 22A) exibiu o comportamento de

autolimpeza urinou ou defecou (nuacutemero de bolos fecais) (Figura 22B) Natildeo houve diferenccedila

significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados entre os grupos do estudo Poreacutem observa-

se uma tendecircncia de os ratos urinarem com mais frequecircncia em doses mais elevadas de

ayahuasca

43

Figura 21 Teste de campo aberto A atividade de ida ao quadrante central defecar urina e

autolimpeza B atividade de locomoccedilatildeo nos quadrantes e elevaccedilatildeo nas patas traseiras H2O

(n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA 1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a

meacutedia plusmn erro padratildeo

0

1

2

3

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Q central Fezes Urina Limpeza

0

10

20

30

40

50

60

70

80

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Locomoccedilatildeo Elevaccedilatildeo

A

B

44

Figura 22 Teste de labirinto em cruz elevado A nuacutemero de vezes que o animal se levantou

com apoio nas patas traseiras e entrou nos braccedilos abertos (BA) ou fechados (BF) B

autolimpeza urina e nuacutemero de bolos fecais H2O (n=9) NTX (n=10) AYA 05 (n=9) AYA

1 (n=9) AYA2 (n=10) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo

A Figura 23 mostra os resultados no teste do labirinto em cruz elevado em relaccedilatildeo ao

tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos e fechados Natildeo houve diferenccedila significativa entre

os grupos do estudo com relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos mas animais que

ingeriram ayahuasca nas doses mais baixas (05 e 1X) ficaram mais tempo nos braccedilos abertos

que os animais do grupo naltrexona com uma tendecircncia de diminuiccedilatildeo deste tempo com o

aumento da dose Somente o grupo da naltrexona mostrou uma diferenccedila significativa em

relaccedilatildeo ao controle H2O no tempo de permanecircncia no braccedilo fechado Ratos tratados com a

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Elevaccedilatildeo Entrada BA Entrada BF

00

03

06

09

12

15

18

H2O NTX AYA 05 AYA 1 AYA 2

Nuacute

mer

o

Limpeza Urina Fezes

A

B

45

ayahuasca ficaram significativamente menos tempo no braccedilo fechado que o grupo naltrexona

com uma tendecircncia de aumento do tempo com a dose

Figura 23 Teste de labirinto em cruz elevada Tempo de permanecircncia nos braccedilos abertos (BA)

e fechados (BF) H2O (n=9) NTX (n=10) Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=9) Aya2 (n=10) ne

diferenccedila em relaccedilatildeo ao grupo H2O yen diferenccedila com relaccedilatildeo ao grupo NTX

3 AVALIACcedilAtildeO MACROSCOacutePICA E PESO CORPORAL E DE OacuteRGAtildeOS

Nenhum oacutebito ocorreu durante o experimento A anaacutelise macroscoacutepica dos oacutergatildeos apoacutes

laparotomia mostrou alteraccedilotildees nos fiacutegados de alguns animais que consumiram aacutelcool durante

as 8 semanas do estudo (Figura 24 B e C) indicando lesotildees comparado com o grupo sadio que

natildeo foi exposto ao aacutelcool e foram sacrificados na 7ordm semana do estudo (Figura 24 A) Nenhum

outro oacutergatildeo apresentou alteraccedilatildeo macroscoacutepica

46

A B C

Figura 24 A fiacutegado de animal sadio B e C alteraccedilatildeo macroscoacutepica causada pelo consumo de

aacutelcool durante 8 semanas no protocolo de aceso intermitente ao aacutelcool

Cinco animais (dois do grupo aacutegua dois do grupo NTX e um do grupo Aya 2)

desenvolveram esteatose hepaacutetica (Figuras 24B e C) O fiacutegado (A) de animal sadio que natildeo

consumiu aacutelcool apresenta cor vermelha escura brilhante Os demais animais que consumiram

aacutelcool natildeo apresentaram alteraccedilotildees

A Tabela 1 mostra o peso meacutedio dos animais de cada grupo do estudo no final do

experimento e dos oacutergatildeos avaliados Houve um aumento significativo do peso do ceacuterebro dos

animais dos grupos H2O NTX e ayahuasca 2X comparados ao grupo sadio

Resultados do hemograma mostrou um aumento significativo do hematoacutecrito () e da

hemoglobina (gdL) no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O e um aumento da

hemoglobina corpuscular meacutedia (pg) do grupo sadio em relaccedilatildeo ao grupo H2O

47

Tabela 1 Anaacutelise estatiacutestica do peso corpoacutereo e peso dos oacutergatildeos em g dos animais dos

grupos controle (sem exposiccedilatildeo ao aacutelcool) e tratados com H2O NTX e ayahuasca 05X 1X e

2X a dose usual

Oacutergatildeos Sadio

N=4

H2O

N=9

Naltrexona

N= 10

Aya 05

N=9

Aya 1

N=9

Aya 2

N=10

Pcorpoacutereo 3708plusmn157 4216plusmn133 4185plusmn196 4126plusmn162 4129plusmn143 4370plusmn104

Ceacuterebro 198plusmn010 226plusmn004 220plusmn004 220plusmn005 217plusmn003 224plusmn004

Fiacutegado 142plusmn070 167plusmn080 164plusmn085 169plusmn087 167plusmn067 177plusmn083

Baccedilo 084plusmn005 087plusmn001 098plusmn004 089plusmn005 087plusmn 005 093plusmn004

Coraccedilatildeo 146plusmn010 164plusmn010 156plusmn006 163plusmn007 139plusmn005 159plusmn004

Rim D 182plusmn012 174plusmn013 177plusmn007 183plusmn014 174plusmn008 195plusmn013

Rim E 172plusmn012 180plusmn012 187plusmn012 185plusmn010 175plusmn013 196plusmn012

Estocircmago 468plusmn12 371plusmn026 380plusmn026 467plusmn051 389plusmn035 415plusmn018

Sadio animais natildeo expostos ao aacutelcool significativamente diferente do sadio (p le 005)

4 EXPRESSAtildeO DE cFOS

Foram analisadas a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees relevantes do processo de

dependecircncia ao aacutelcool - o coacutertex medial preacute-frontal (MO) ventral (VO) e lateral (LO) core do

nuacutecleo accumbens (AcbC) e estriado (CPu) A cFos eacute uma proteiacutena utilizada como marcador

da atividade neural codificada pelo proto-oncogene cFos que pertence aos genes de ativaccedilatildeo

imediata Os animais do grupo sadio que natildeo consumiram aacutelcool apresentaram pouca ou

nenhuma marcaccedilatildeo (Figura 25A) No coacutertex medial preacute-frontal ocorreu um aumento

significativo de expressatildeo de cFos para os grupos tratados com H2O naltrexona e ayahuasca

em relaccedilatildeo ao grupo sadio e uma diminuiccedilatildeo significativa do grupo Aya05 em relaccedilatildeo ao

grupo NTX (Figura 26) Nas regiotildees do coacutertex orbitolateral o grupo Aya 2 apresentou aumento

significativo de cFos comparado ao grupo sadio e na regiatildeo orbitoventral somente o grupo Aya

1 teve este efeito (Figura 26)

48

MO VO LO

Figura 25 Fotomiografia de marcadores de cFos no coacutertex medial preacute-frontal (MO) coacutertex

orbitoventral (VO) e coacutertex orbitolateral (LO) A grupo sadio B NTX C Aya 05 D Aya

1X E Aya 2X F H2O Aumento 40x

49

Figura 26 cFos no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca Aya 05 (n=9)

Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Oito leituras para cada animal para a cada regiatildeo do coacutertex medial

prefrontal e duas para o coacutertex orbitolateral e orbitoventral (Figura 18) Os valores

correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

C o rte x f ro n ta l m e d ia lc

Fo

s

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

C o rte x f ro n ta l v e n tra l

cF

os

Coacutertex medial preacute-frontal

MMO

Coacutertex orbitolateral

Coacutertex orbitoventral

ne

50

Nas aacutereas do nuacutecleo accumbens e estriado houve um aumento significativo da

expressatildeo da cFos no grupo da naltrexona e nas maiores doses em relaccedilatildeo ao grupo sadio e um

aumento no grupo naltrexona em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Figura 27)

Figura 27 cFos nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya2 (n=9) Duas leituras para cada animal (Figura

18) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio

ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (Kuskal Wallis)

S a d io H 2 0 N T X Aya 0 5 Aya 1 Aya 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

N uacute c le o a c c u m b e n s

cF

os

Nuacutecleo accumbens

Estriado

ne

ne

51

5 CORPUacuteSCULOS DE NISSL

A viabilidade neuronal das regiotildees de interesse neste estudo foi avaliada pela contagem

dos corpuacutesculos de Nissl que satildeo as acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas As Figuras 29 e 30 mostram as contagens de Nills nas aacutereas neurais

investigadas neste estudo Houve um aumento na contagem dos corpuacutesculos em todos os grupos

que foram expostos ao aacutelcool com relaccedilatildeo ao grupo sadio que foi significativo para o grupo

H2O naltrexona (com exceccedilatildeo do coacutertex orbitoventral e estriado) e Aya 2 As contagens nos

grupos Aya 05 e Aya 1 foram significativamente menores que o grupo H20 em todas as regiotildees

Figura 28 Fotomiografia de Nisslcresil A representa local de leitura do coacutertex medial preacute-

frontal orbitoventral e orbitolateral (ampliaccedilatildeo 4) Bampliaccedilatildeo 20X

52

Figura 29 Nissl no coacutertex preacute-frontal de ratos natildeo expostos a aacutelcool (sadio n=4) controle

negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com ayahuasca AYA 05 (n=9)

AYA 1 (n=8) AYA2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro padratildeo significacircncia

em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O (ANOVA seguido de

Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700Ni

ssl

Coacutertex preacute frontal medial

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Niss

l

Coacutertex preacute frontal lateral

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Cortex frontal VO 2 hemisferios

Coacutertex medial preacute-frontal

ne ne

Coacutertex orbitolateral ne ne

Coacutertex orbitoventral

ne

ne

53

Figura 30 Nissl nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado Ratos natildeo expostos a aacutelcool

(sadio n=4) controle negativo H2O (n=9) controle positivo NTX (n=8) e tratados com

ayahuasca Aya 05 (n=9) Aya 1 (n=8) Aya 2 (n=9) Os valores correspondem a meacutedia plusmn erro

padratildeo significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo sadio ne significacircncia em relaccedilatildeo ao grupo H2O

(ANOVA seguido de Turkey)

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

slCortex frontal Acc 2 hemisferios

SadioH20

NTX

Aya05Aya1

Aya20

100

200

300

400

500

600

700

Nis

sl

Estriado

ne ne

Nuacutecleo accumbens

ne ne Estriado

54

VI DISCUSSAtildeO

No presente estudo ratos Wistar machos em idade adulta foram expostos ao aacutelcool 20

por meio do protocolo IA2BC (interminent access to 2-botttle choice) por sete semanas Foi

observado um aumento gradativo do consumo de aacutelcool pelos animais durante as quatro

primeiras semanas com aumento significativo e estabilizaccedilatildeo do consumo a partir da quinta

semana O consumo meacutedio nas semanas de 5 a 7 foi de 64 plusmn 025 g etanolkg pc24 h maior

que o encontrado no estudo de Li et al (2010) tambeacutem com ratos Wistar que alcanccedilou niacuteveis

estaacuteveis de 56 plusmn 03 g etanol fraslkg peso corpoacutereo frasl 24 horas a partir da quarta semana de exposiccedilatildeo

Na oitava semana do estudo os animais foram tratados por 5 dias com H2O naltrexona

um antagonista opioide utilizado no controle da dependecircncia ao aacutelcool e com ayahuasca que

conteacutem DMT um agonista dos receptores 5HT2A nas doses 05 1 e 2 vezes a dose usual de

um ritual religioso (150 mL para um indiviacuteduo de 70kg) O tratamento com a naltrexona natildeo

diminuiu significativamente o consumo de etanol em relaccedilatildeo ao consumo na 7o semana ao

contraacuterio do que foi reportado por Li et al (2010) O tratamento com ayahuasca tambeacutem natildeo

teve efeito neste consumo No entanto observou-se uma reduccedilatildeo significativa do consumo de

aacutelcool no grupo naltrexona comparado ao grupo tratado com H20

Evidecircncias de estudos com humanos demonstram que o uso ayahuasca no contexto

religioso pode ter efeitos terapecircuticos em usuaacuterios com problemas de alcoolismo e outras drogas

(FAacuteBREGAS et al 2010 BOUSO et al 2012 THOMAS et al 2013 LAWN et al 2017

CRUZ et al 2018) Assim como outras drogas de abuso o aacutelcool aumenta a liberaccedilatildeo de

dopamina no sistema mesoliacutembico como consequecircncia da sua interaccedilatildeo com outros sistemas

de sinalizaccedilatildeo incluindo os sistemas gabaeacutergico opioide e serotonineacutergico (CLAPP et al

2008) Liester amp Prickett (2012) propuseram que a accedilatildeo da ayahuasca no tratamento da

dependecircncia quiacutemica envolve a reduccedilatildeo dos niacuteveis de dopamina na via mesoliacutembica como

consequecircncia da ativaccedilatildeo dos receptores serotonineacutergicos 5-HT2A resultante da ingestatildeo da

ayahuasca O agonismo de receptores opioides micro inibem a transmissatildeo do GABA levando a

um aumento na liberaccedilatildeo da dopamina e a accedilatildeo antagonista da naltrexona nos receptores eacute a

base farmacoloacutegica deste faacutermaco no tratamento da dependecircncia do aacutelcool e outras drogas de

abuso (CLAPP et al 2008 LITTLETON amp ZIEGLGAumlNSBERGER 2003) Poreacutem apesar de

vaacuterios estudos relataram vaacuterios estudos que correlacionam a deficiecircncia de ativaccedilatildeo no sistema

serotonineacutergico com o aumento do consumo do aacutelcool (BOERNGEN-LACERDA et al 2013)

outros mostram resultados conflitantes Por exemplo Lankford amp Myers (1996) mostraram que

55

a amperozida um antagonista dos receptores 5-HT2A e a naltrexona reduziram o consumo de

aacutelcool em ratos e Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que a mianserina um

antagonistaagonista inverso do receptor 5-HT2A a buspirona um agonista partial dos recebpres

HT1a que bloqueia a liberaccedilatildeo de serotonina e a kentanserina um antagonista do receptor 5-

HT2A bloqueiam o desenvolvimento da sensibilidade induzida pelo aacutelcool em modelo de

camundongo Desta maneira a accedilatildeo da ayahuasca como agonista dos receptores de 5-HT2A e a

consequente efeito na liberaccedilatildeo de dopamina no sistema mesolimbico precisa ser melhor

investigada

A exposiccedilatildeo crocircnica a substacircncias psicoativas que causam dependecircncia desencadeia

uma seacuterie de respostas adaptativas no sistema mesoliacutembico dopamineacutergico que incluem

alteraccedilotildees de fatores de transcriccedilatildeo e consequente expressatildeo genica (CLAPP et al 2008) Em

particular as proteiacutenas Fos incluindo ∆FosB e cFos tecircm sido descritas como fatores de

transcriccedilatildeo importantes na plasticidade neural relacionada agrave dependecircncia quiacutemica (CRUZ et

al 2015 NESTLER 2012) A exposiccedilatildeo repetida ao aacutelcool e outras drogas altera os niacuteveis de

∆FosB em vaacuterias regiotildees cerebrais (Li et al 2010 PERROTI et al 2008) mas estudos com a

cFos satildeo limitados

Li et al (2010) mostraram que a ingestatildeo crocircnica intermitente de aacutelcool por ratos Wistar

aumentou significativamente a expressatildeo da ∆FosB no core do nuacutecleo accumbens estriado e

coacutertex orbitofrontal mas natildeo no coacutertex medial prefrontal Perroti et al (2008) demonstraram

que a exposiccedilatildeo ao aacutelcool e outras drogas (morfina cocaiacutena e THC) tambeacutem aumentou de

maneira significativa a expressatildeo de ∆FosB no nuacutecleo accumbens e estriado Foi observado um

aumento importante da cFos nos grupos expostos ao aacutelcool comparado ao grupo sadio em todas

as regiotildees mas com significacircncia principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e no nuacutecleo

accumbens Sharma et al (2014) tambeacutem mostraram um aumento significativo na expressatildeo de

cFos no nuacutecleo accumbens de ratos expostos ao aacutelcool agrave nicotina e agrave ambas drogas por infusatildeo

direta na regiatildeo basal anterior do ceacuterebro Por outro lado Jaramillo et al (2016) mostraram

uma diminuiccedilatildeo significativa da cFos no core do nuacutecleo accumbens e no coacutertex medial preacute-

frontal entre outras aacutereas apoacutes a exposiccedilatildeo de ratos treinados a receber preferencialmente o

aacutelcool e que receberam uma dose uacutenica de 1 gkg pc por gavagem e foram sacrificados 90

minutos depois da exposiccedilatildeo

No estudo de Li et al (2010) o tratamento dos animais expostos ao aacutelcool com

naltrexona diminuiu a ∆FosB no nuacutecleo accumbens estriado e coacutertex orbitofrontal indicando

56

que a naltrexona bloqueia a expressatildeo ∆FosB induzida pelo etanol nessas regiotildees No presente

estudo este efeito tambeacutem foi observado em relaccedilatildeo agrave cFos com o tratamento com ayahuasca

na menor dose (05x a dose usual) no coacutertex medial preacute-frontal com uma reduccedilatildeo natildeo

significativa com o tratamento com a naltrexona Diminuiccedilatildeo natildeo significativa tambeacutem foi

observada nas regiotildees do coacutertex orbitofrontal e orbitolateral para os animais tratados com

naltrexona e Aya 05 Poreacutem nas regiotildees do nuacutecleo accumbens e estriado o tratamento com a

naltrexona aumentou a expressatildeo da cFos quando comparado ao grupo controle No estudo de

Pic-Taylor et al (2015) ratas tratadas com ayahuasca uma uacutenica vez com 30x a dose usual teve

um aumento significativo da expressatildeo da cFos em relaccedilatildeo ao controle nas regiotildees dos nuacutecleos

dorsal da rafe nuacutecleo amigdaloacuteide basolateral posterior e regiotildees de formaccedilatildeo do hipocampo

A diminuiccedilatildeo da cFos observada em regiotildees do coacutertex no grupo tratado com a naltrexona

e com ayahuasca que foi significativa na menor dose na regiatildeo medial eacute coerente com a

hipoacutetese de que a diminuiccedilatildeo de dopamina causada pelo antagonista opioide (naltrexona) e o

agonista serotonineacutergico (ayahuasca) leva a uma diminuiccedilatildeo da cFos nestas regiotildees Poreacutem o

aumento da cFos como consequecircncia do tratamento com naltrexona (ou ayahuasca) no nuacutecleo

accumbens e estriado precisa ser melhor estudado Young et al (1991) demonstraram que uma

dose uacutenica de cocaiacutena um agonista dopamineacutergico aumentou a expressatildeo da cFos na regiatildeo do

estriado

Os animais do presente estudo foram submetidos a testes comportamentais que foram

realizados 18 horas apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento Os testes de campo aberto e

labirinto em cruz elevado satildeo utilizados em estudos preacute-cliacutenicos para avaliar o comportamento

exploratoacuterio e a aversatildeo natural dos roedores aos espaccedilos abertos causados por medo e

ansiedade (LAMPREA et al 2008 PELLOW et al 1985) Os resultados dos testes do campo

aberto mostraram que natildeo houve diferenccedila significativa em nenhum dos paracircmetros avaliados

entre os grupos do estudo No teste do labirinto em cruz elevado o tratamento com naltrexona

aumentou significativamente o tempo dos animais nos braccedilos fechados com relaccedilatildeo ao grupo

H2O e em relaccedilatildeo aos grupos tratados com a ayahuasca No estudo conduzido por Pic-Taylor

et al (2015) ratos Wistar fecircmeas tratadas com ayahuasca com dose uacutenica de 15 ou 30X

mostraram menos mobilidade e menor intenccedilatildeo de explorar que os controles nos testes de

campo aberto e labirinto realizados uma hora apoacutes a exposiccedilatildeo

O tratamento com a ayahuasca natildeo parece afetar de maneira significativa o

comportamento dos animais resultado da exposiccedilatildeo ao aacutelcool ao contraacuterio do estudo de

57

Oliveira-Lima et al (2015) Os autores mostraram que o tratamento com ayahuasca (ip) foi

eficiente para prevenir o comportamento de hiperlocomoccedilatildeo no campo aberto caracteriacutestico da

exposiccedilatildeo ao aacutelcool em todas as doses testadas (30-500 mgkg pc) e a bebida foi capaz de

reverter este comportamento em animais expostos previamente ao aacutelcool (18 gkg pc) Por

outro lado Boerngen-Lacerda et al (2013) mostraram que antagonistas dos receptores 5-

HT2A como a kanteserina diminuiacuteram a locomoccedilatildeo de camundongos expostos ao aacutelcool

Cinco animais que consumiram quantidades excessivas de aacutelcool desenvolveram

esteatose hepaacutetica no lobo direito uma patologia habitualmente causada pela ingestatildeo excessiva

de aacutelcool que pode evoluir para cirrose hepaacutetica (PARKER et al 2018) O estudo natildeo apontou

nenhuma alteraccedilatildeo macroscoacutepica em outros oacutergatildeos dos animais apenas um aumento

significativo no peso do ceacuterebro de animais expostos ao aacutelcool dos grupos H2O naltrexona e

Aya2 em relaccedilatildeo ao grupo de animais sadios A contagem de corpuacutesculos de Nissl nesses

mesmos grupos tambeacutem foi maior em relaccedilatildeo ao grupo sadio em todas as regiotildees cerebrais

investigadas Eacute possiacutevel que estes resultados quando vistos em conjunto indiquem uma vaso

dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais Nos grupos de tratamento com a ayahuasca nas

menores doses (05 e 1X a dose usual) natildeo houve alteraccedilatildeo no peso do ceacuterebro nem na

contagem de Nissl o que pode indicar uma accedilatildeo de diminuiccedilatildeo dos efeitos no ceacuterebro

provocados pelo aacutelcool

Os corpuacutesculos de Nissl satildeo acumulaccedilotildees basoacutefilas que se encontram no citoplasma de

ceacutelulas nervosas no pericaacuterdio e na primeira porccedilatildeo dos dendritos e representam agregaccedilotildees

do reticulo endoplasmaacutetico e locais de siacutentese proteica (DZIEWUSKA et al 2013) Perda de

corpuacutesculo de Nissl estaacute envolvido no processo de cromatoacutelise e morte celular e aumento da

densidade de Nissl foi observado em algumas espeacutecies depois da axotomia que eacute a transecccedilatildeo

ou rompimento do axocircnio evento que precede a morte celular (CRAGG 1970) Perda neural

indicada pela Fox-3 uma proteiacutena nuclear e de Nissl foi observada por Reynolds et al (2015)

em ceacutelulas primaacuterias da formaccedilatildeo hipocampal expostas ao etanol de maneira crocircnica e

intermitente A ingestatildeo de ayahuasca na dose uacutenica de 30X por ratas Wistar natildeo levou a

alteraccedilatildeo neste paracircmetro no nuacutecleo da rafe amiacutegdala e hipocampo no estudo conduzido por

Pic-Taylor et al (2015) Nesse estudo o aumento da atividade neural indicada pelo aumento

da cFos levou a alguma neurodegeneraccedilatildeo indicada pelo Fluoro-Jade B poreacutem nenhum dano

permanente que pudesse levar a alteraccedilotildees da morfologia e nuacutemero de ceacutelulas neurais foi

detectado

58

O presente estudo tem algumas limitaccedilotildees que precisam ser ressaltadas A primeira se

refere ao uso de naltrexona na forma de draacutegea indicada para uso oral que foi dissolvida em

aacutegua para administraccedilatildeo intraperitoneal nos animais Eacute provaacutevel que a absorccedilatildeo do

medicamento por esta via natildeo tenha sido completa Neste estudo natildeo foi feita a dosagem dos

niacuteveis de aacutelcool nos animais durante o periacuteodo de exposiccedilatildeo Poreacutem vaacuterios estudos mostram

que aproximadamente um terccedilo do consumo de aacutelcool no protocolo IA2BC ocorre nos 30

primeiros minutos da exposiccedilatildeo de cada seccedilatildeo de 24 horas levanto a um niacutevel de aacutelcool no

sangue de mais de 80 mg100 mL que atende ao criteacuterio de exposiccedilatildeo aguda (bing drinking)

em humanos (CARNICELLA et al 2014) Uma outra limitaccedilatildeo que pode ser mencionada se

refere ao tempo apoacutes a uacuteltima oferta de aacutelcool e tratamento em que os animais foram

eutanasiados para remoccedilatildeo do ceacuterebro e avaliaccedilatildeo da expressatildeo da cFos Este tempo 18 horas

foi selecionado seguindo o estudo de Li et al (2010) que avaliou a expressatildeo da proteiacutena ∆FosB

em ratos expostos no acircmbito do protocolo IA2BC Segundo os autores 18 a 24 horas depois do

estiacutemulo a proteiacutena FosB eacute degradada deixando a forma estaacutevel ∆FosB como o uacutenico produto

da expressatildeo genica da proteiacutena Este tempo eacute conveniente no acircmbito do protocolo IA2BC

onde a uacuteltima oferta de aacutelcool acontece no iniacutecio do periacuteodo escuro do animal Poreacutem eacute possiacutevel

que este tempo natildeo seja o ideal para avaliaccedilatildeo da cFos Realmente alguns estudos mostram que

a expressatildeo desta proteiacutena ocorre principalmente nas primeiras horas apoacutes o estiacutemulo (Dyrvig

et al 2014 Bojovic et al 2015) No estudo conduzido anteriormente pelo nosso grupo a cFos

foi avaliada em aacutereas cerebrais relevantes para a transmissatildeo serotonineacutergica 3 horas depois da

exposiccedilatildeo agrave ayahuasca em dose uacutenica (PIC-TAYLOR et al 2015)

59

VII CONCLUSAtildeO

Nesse estudo a ayahuasca e a naltrexona natildeo diminuiacuteram significativamente o consumo de

aacutelcool de ratos Wistar apoacutes exposiccedilatildeo crocircnica intermitente em relaccedilatildeo agrave linha de base mas

a naltrexona diminuiu significativamente o consumo de aacutelcool com relaccedilatildeo ao controle H2O

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a expressatildeo da proteiacutena cFos nas regiotildees cerebrais

investigadas que foi significativo principalmente no coacutertex medial preacute-frontal e nuacutecleo

accumbens

Houve uma diminuiccedilatildeo significativa da expressatildeo da cFos no coacutertex medial preacute-frontal em

ratos tratados com ayahuasca na menor dose (05X a dose usual) em relaccedilatildeo ao grupo aacutegua

De uma maneira geral a cFos aumentou no estriado e nuacutecleo accumbens nos grupos tratados

com naltrexona ou ayahuasca em relaccedilatildeo ao grupo H2O aumento que foi significativo para

o grupo naltrexona

A exposiccedilatildeo ao aacutelcool aumentou a densidade dos corpuacutesculos de Nissl nos grupos H2O

naltrexona e Aya 2 comparado com o grupo sadio grupos que tambeacutem apresentaram um

peso do ceacuterebro significativamente maior Eacute possiacutevel que estes indicadores sejam resultados

de uma vaso dilataccedilatildeo e dilataccedilatildeo dos ventriacuteculos cerebrais causada pelo aacutelcool e que o

tratamento com a ayahuasca nas menores doses (05 e 1X) tenha tido um efeito de diminuir

esses efeitos

O tratamento com naltrexona ou ayahuasca natildeo impactaram de maneira significativa o

comportamento dos animais nos testes de campo aberto e labirinto em cruz elevada com

exceccedilatildeo de um maior tempo nos braccedilos fechados

O potencial da ayahuasca no tratamento da dependecircncia ao aacutelcool no modelo animal deve

ser melhor investigado utilizando outros protocolos de tratamento inclusive com exposiccedilatildeo

prolongada e intermitente em doses baixas

Eacute necessaacuterio investigar melhor a expressatildeo da cFos no estriado e nuacutecleo accumbens em

animais tratados com naltrexona e ayahuasca e correlacionar com o tipo de atividade

(excitatoacuteria ou inibitoacuteria) acionada por estas substancias nestas regiotildees

60

VIII REFEREcircNCIAS

Anton RF Naltrexone for the management of alcohol dependence N Engl J Med 2008

14359(7)715-21 Antonelli M Ferrulli A Sestito L Vassallo GA Tarli C Mosoni C

Rando MM Mirijello A Gasbarrini A Addolorato G Alcohol addiction - the safety of

available approved treatment options Expert Opin Drug Saf 201817(2)169-177

Araujo T Almanaque das drogas Satildeo Paulo Ed Leya 2012

Boerngen-Lacerda R Jamal Y Correia D Goeldner FO Contribution of serononin 5-HT2

receptor to ethanol-induced sensitization and ethanol consumption in mice In Serotonin

biosynthesis regulation and health implications Chapter XI Ed Frank Scott Hall 2013

Nova Science Publishers Inc

Bojovic O Panja D Bittins M Bramham CR Tjoslashlsen A Time course of immediate early gene

protein expression in the spinal cord following conditioning stimulation of the sciatic nerve

in rats PLoS One 201510(4)e0123604

Bouso JC Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Ribeiro Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Arauacutejo WS Barbanoj MJ Faacutebregas JM Riba J Personality

psychopathology life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of

ayahuasca a longitudinal study PLoS One 2012 7(8)e42421

Brierley DI Davidson C Developments in harmine pharmacology-implications for ayahuasca

use and drug-dependence treatment Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2012

39(2)263-72

Callaway JC Airaksinen MM McKenna DJ Brito GS Grob CS Platelet serotonin uptake sites

increase in drinkers of ayahusca Psychopharmacology 1994 116385-7

Callaway JC Grob CS Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors a potential

combination for severe adverse interactions Journal of Psychoactive Drugs 1998 30(4) 367-

369

Callaway JC McKenna DJ Grob CS Brito GS Raymon LP Poland RE Andrade EN Andrade

EO Mash DC Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans J

Ethnopharmacology 1999 65243-56

Callaway JC Raymon LP Hearn WL McKenna DJ Grob CS Brito GS Mash DC

Quantitation of NN-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral

dosing with ayahuasca J Anal Toxicol 1996 20(6)492-7

61

Carvajal F Lerma-Cabrera JM Alcaraz-Iborra M Navarro M Thiele TE Cubero I Nucleus

Accumbens MC4-R Stimulation Reduces Food and Ethanol Intake in Adult Rats Regardless of

Binge-Like Ethanol Exposure during Adolescence Frontiers in Behavioral Neuroscience

2017 11167

Carnicella S Ron D Barak S Intermittent ethanol access schedule in rats as a preclinical model

of alcohol abuseAlcohol 2014 48(3)243-52

Castro-Neto EF da Cunha RH da Silveira DX Yonamine M Gouveia TL Cavalheiro EA

Amado D Naffah-Mazzacoratti Mda G Changes in aminoacidergic and monoaminergic

neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ayahuasca ingestion

World J Biol Chem 20134(4)141-7

Casu MA Pisu C Lobina C Pani L Immunocytochemical study of the forebrain serotonergic

innervation in Sardinian alcohol-preferring rats Psychopharmacology 2004 172341ndash351

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2005

CEBRID Centro Brasileiro de Informaccedilotildees sobre Drogas Psicotroacutepicas Levantamento

Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotroacutepicas no Brasil 2010

Chandrasekar A Aksan B Heuvel FO Foumlrstner P Sinske D Rehman R Palmer A Ludolph

A Huber-Lang M Boumlckers T Mauceri D Knoumlll B Roselli F Neuroprotective effect of

acute ethanol intoxication in TBI is associated to the hierarchical modulation of early

transcriptional responses Exp Neurol 2018 30234-45

Charlton ME Sweetnam PM Fitzgerald TW Terwilliger RZ Nestler EJ Duman RS Chronic

ethanol administration regulates the expression of GABA A receptor a1 and a5 subunits in the

ventral tegmental area and hippocampus Journal of Neurochemistry2010 68121-127

Clapp P Sanjiv V Bhave Hoffman PL How adaptation of the brain to alcohol leads to

dependence A pharmacological perspective on the adaptation of the brain to alcohol

Alcohol Res Health 200831(4)310-39

Cragg BG What is the signal for chromatolysis Brain Res 1970 23(1)1-21

Day HE Kryskow EM Nyhuis TJ Herlihy L Campeau S Conditioned fear inhibits c-fos

mRNA expression in the central extended amygdala Brain Res 2008 1229137-46

Dyrvig M Christiansen SH Woldbye DP Lichota J Temporal gene expression profile after

acute electroconvulsive stimulation in the rat Gene 2014539(1)8-14

62

Cruz FC Rubio FJ Hope BT Using c-fos to study neuronal ensembles in corticostriatal

circuitry of addiction Behavioral Neuroscience Branch IRPNIDANIHDHHS 251

2015

Cservenka A Brumback T The Burden of Binge and Heavy Drinking on the Brain Effects

on Adolescent and Young Adult Neural Structure and Function Front Psychol 2017

3081111

CONAD Conselho Nacional de Pliacuteticas sobre Drogas Resoluccedilatildeo ndeg 1 de 25 de janeiro de 2010

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2010

Cozzi NV Gopalakrishnan A Anderson LL Feih JT Shulgin AT Daley PF Ruoho AE

Dimethyltryptamine and other hallucinogenic tryptamines exhibit substrate behavior at the

serotonin uptake transporter and the vesicle monoamine transporter J Neural Transm

2009 1161591ndash1599

Costardi JV Nampo RA Silva GL Ribeiro MA Stella HJ Stella MB Malheiros SV A review

on alcohol from the central action mechanism to chemical dependency Rev Assoc Med

Bras 2015 61(4)381-7

Dos Santos RG Grasa E Valle M Ballester MR Bouso JC Nomdedeacuteu JF Homs R Barbanoj

MJ Riba J Pharmacology of ayahuasca administered in two repeated doses

Psychopharmacology (Berl) 2012 219(4)1039-53

Domiacutenguez-Claveacute E Soler J Elices M Pascual JC Aacutelvarez E de la Fuente Revenga M

Friedlander P Feilding A Riba J Ayahuasca Pharmacology neuroscience and therapeutic

potential Brain Res Bull 2016126(Pt 1)89-101

Dziewulska D Gogol A Gogol P Rafalowska J Enlargement of the Nissl substance as a

manifestation of early damage to spinal cord motoneurons in amyotrophic lateral sclerosis

Clin Neuropathol 201332(6)480-5

Faacutebregas JM Gonzaacutelez D Fondevila S Cutchet M Fernaacutendez X Barbosa PC Alcaacutezar-

Coacutercoles MAacute Barbanoj MJ Riba J Bouso JC Assessment of addiction severity among

ritual users of ayahuasca Drug Alcohol Depend 2010 111(3)257-61

Fernandes N Fernandes V Criminologia Integrada Revista dos Tribunais 2 ordfed Satildeo Paulo

Toxicomanias 2002 p679-729

Fontanilla D Johannessen M Hajipour AR Cozzi NV Jackson MB Ruoho AE The

hallucinogen NN-dimethyltryptamine (DMT) is an endogenous sigma-1 receptor

regulator Science 2009 323(5916)934-7

63

Frecska E Szabo A Winkelman MJ Luna LE McKenna DJ A possibly sigma-1 receptor

mediated role of dimethyltryptamine in tissue protection regeneration and immunity J

Neural Transm (Vienna) 2013120(9)1295-303

Frecska E Bokor P Winkelman M The therapeutic potentials of ayahuasca possible effects

against various diseases of civilization Front Pharmacol 2016 735

Gage GJ Kipke DR Shain W Whole animal perfusion fixation for rodents J Vis Exp 2012

(65) e3564

Gigliotti A Bessab MA Diagnoacutesticos Alcohol Dependence Syndrome diagnostic criteria

Rev Bras Psiquiatr 2004 26(Supl I)11-13

Gilpin NW Koob GF Neurobiology of alcohol dependence focus on motivational

mechanisms Alcohol Res Health 2008 31(3)185-95

Goh ET Morgan MY Review article pharmacotherapy for alcohol dependence - the why the

what and the wherefore Aliment Pharmacol Ther 201745(7)865-882

Guglielmo R Martinotti G Quatrale M Ioime L Kadilli I Di Nicola M Janiri L Topiramate

in Alcohol Use Disorders Review and Update CNS Drugs 2015 29(5)383-95

Hamill J Hallak J Dursun SM Baker G Ayahuasca psychological and physiologic effects

pharmacology and potential uses in addiction and mental illness Curr Neuropharmacol

2018 24

Handley SL Mithani S Effects of alpha-adrenoceptor agonists and antagonists in a maze-

exploration model of fear- motivated behaviour Naunyn-Schmiedebergs Archives of

Pharmacology 1984 327 1-5

Heckmann W Silveira CM Dependecircncia do aacutelcool aspectos cliacutenicos e diagnoacutesticos Minha

Editora 2009 p 67-87

Iurlo M Leone G Schilstrom B Linner L Nomikos G Hertel P Effects of harmine on

dopamine output and metabolism in rat striatum role of monoamine oxidase-A inhibition

Psychopharmacology (Berl) 2001159(1)98-104

Jacobus J Tapert SF Neurotoxic Effects of Alcohol in Adolescence Annu Rev Clin Psychol

2013 9703-721

Jaramillo AA Randall PA Frisbee S Besheer J Modulation of sensitivity to alcohol by cortical

and thalamic brain regions Eur J Neurosci 201644(8)2569-2580

64

Kobelta P Tebbeb JJ Tjandraa I Baec HG Ruumlterd J Klappd BF Wiedenmanna B

Moumlnnikesa H Two immunocytochemical protocols for immunofluorescent detection of

c-Fos positive neurons in the rat brain Brain Research Protocols 2004 1345ndash 52

Katzung B Basic and Clinical Pharmacology 8th ed McGraw-Hill San Francisco 2001

Kokan L Monoamine Oxidative Inhibitors In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter

60 7ths Ed Edited by Lewis R McGraw-Hill 2002

Labate B C amp Jungaberle H The internationalization of ayahuasca Zurich Lit Verlag Eds

2011

Lamprea M R Cardenas F P Setem J Morato S Thigmotactic responses in an open-field

Brazilian Journal of Medical and Biological Research 2008 41(2) 135-40

Lankford MF Myers RD Opiate and 5-HT2A receptors in alcohol drinking preference in HAD

rats is inhibited by combination treatment with naltrexone and amperozide Alcohol

199613(1)53-7

Lawn W Hallak JE Crippa JA Dos Santos R Porffy L Barratt MJ Ferris JA Winstock AR

Morgan CJA Well-being problematic alcohol consumption and acute subjective drug

effects in past-year ayahuasca users a large international self-selecting online survey Sci

Rep 2017 7(1)15201

Levine HG The Birth of American Alcohol Control Prohibition the Power Elite and the

Problem of Lawlessness Contemporary Drug Problems Spring 1985 pp 63-115

Li J Cheng Y Bian W Liu X Zhang C Ye JH Region-Specific Induction of FosBfraslDFosB by

Voluntary Alcohol Intake Effects of Naltrexone Alcohol Clin Exp Res 2010

34(10)1742-50 Liester MB Prickett JI Hypotheses regarding the mechanisms of

ayahuasca in the treatment of addictions J Psychoactive Drugs 201244(3)200-8

Lindell SG Schwandt ML Suomi SJ Rice KC Heilig M Barr CS Intermittent Access to

Ethanol Induces Escalated Alcohol Consumption in Primates J Addict Behav Ther

Rehabil 2017 6(1) pii 163

Littleton J Zieglgaumlnsberger W Pharmacological mechanisms of naltrexone and acamprosate

in the prevention of relapse in alcohol dependence Am J Addict 200312 Suppl 1S3-11

Logan C Asadi H Kok HK Looby ST Brennan P OHare A Thornton J Neuroimaging of

chronic alcohol misuse J Med Imaging Radiat Oncol 2017 61(4)435-440

65

Mabit J ldquo Ayahuasca in the treatment of Addictionsrdquo In Psychedelic Medicine (Vol 2) New

Evidence for Hallucinogic Substances as Treatments by Thomas B Robert Michael J

Winkelman pp 87-103 Praeger Ed USA 2007

Marcinkiewcz CA Lowery-Gionta EG Kash TL Serotoninrsquos Complex Role in Alcoholism

Implications for Treatment and Future Research Alcoholism Clinical and experimental

Research 2016 Vol 40(6)1196-201

McKenna D J T G H N and A F Monoamine oxidase inhibitors in south American

hallucinogenic plants tryptamine and β-carboline constituents of ayahuasca Journal of

Ethnopharmacology 1984 10195ndash223

Mckenna DJ Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca rationale and

regulatory challenges Pharmacol Ther 2004 102(1)111-29

McKenna DJ Callaway JC Grob CS The scientific investigation of Ayahuasca a review of

past and current research The Heffter Review of Psychedelic Research 1998 165ndash77

MacRae E Guiado pela Lua Xamanismo e uso ritual da ayahusca no culto do Santo Daime

Editora Brasiliense Satildeo Paulo 1992

Melo WJr Souza Filho J Grisolia CK Caldas ED Pic-Taylor A Genotoxic evaluations in

wistar rats of the hallucinogenic plant extract Ayahuasca International Journal of

Phytomedicine 2016 8249-256

Mercante M Ayahuasca e o tratamento da dependecircncia MANA 2013 19(3)529-558

Mohammad-Zadeh LF Moses L Gwaltney-Brant SM Serotonin a review J Vet Pharmacol

Ther 2008 31(3)187-99

Motta LG Morais JA Tavares ACAM Vianna LMS Mortari MR Amorim RFB Carvalho

RR Paumgartten FJR Pic-Taylor A Caldas ED Maternal and developmental toxicity of

the hallucinogenicplant-based beverage ayahuasca in rats Reproductive Toxicology 2018

77143ndash153

Murphy JM Stewart RB Bell RL Badia-Elder NE Carr LG25 McBride WJ Lumeng L Li

Ting-Kai Phenotypic and genotypic characterization of the Indiana University rat lines

selectively bred for high and low alcohol preference Behavior Genetics 2002 32(5)363-

88

Naranjo CA Knoke DM The role of selective serotonin reuptake inhibitors in reducing alcohol

consumption J Clin Psychiatry 2001 62 Suppl 2018-25

66

Naranjo P Hallucinogenic plant use and related indigenous belief systems in the Ecuadorian

Amazon J of Ethnopharmacology 1979 1121-145

Navarro-Zaragoza J Ros-Simoacute C Milaneacutes MV Valverde O Laorden ML Binge Ethanol and

MDMA Combination Exacerbates Toxic Cardiac Effects by Inducing Cellular Stress PLoS

One 201510(10)e0141502

NIH Alcohol Use Disorder A Comparison Between DSMndashIV and DSMndash5 National Institute

on Alcohol Abuse and Alcoholism 2016

Nunes AA dos Santos RG Osoacuterio FL Sanches RF Crippa JA Hallak JEC Effects of

ayahuasca and its alkaloids on drug dependence A systematic literature review of

quantitative studies in animals and humans J Psychoact Drugs 2016 48(3) 195-20

Oliveira-Lima A Santos R Hollais A Gerardi-Junior C Baldaia M Wuo-Silva R Effects of

ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-

sensitization treatment in mice Physiol Behav 2015 142 28ndash36

Olsen RW Liang J Role of GABA receptors in alcohol use disorders suggested by chronic

intermittent ethanol (CIE) rodent model Mol Brain 2017 20-10(1)45

Palhano-Fontes F Barreto D Onias H Andrade KC Novaes MM Pessoa JA Mota-Rolim SA

Osoacuterio FL Sanches R Dos Santos RG Toacutefoli LF de Oliveira Silveira G Yonamine M

Riba J Santos FR Silva-Junior AA Alchieri JC Galvatildeo-Coelho NL Lobatildeo-Soares B

Hallak JEC Arcoverde E Maia-de-Oliveira JP Arauacutejo DB Rapid antidepressant effects

of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression a randomized placebo-

controlled trial Psychol Med 2018151-9

Palpacuer C Duprez R Huneau A Locher C Boussageon R Laviolle B Naudet F

Pharmacologically controlled drinking in the treatment of alcohol dependence or alcohol

use disorders a systematic review with direct and network meta-analyses on nalmefene

naltrexone acamprosate baclofen and topiramate Addiction 2018113(2)220-237

Parker R Kim SJ Gao B Alcohol adipose tissue and liver disease mechanistic links

andclinical considerations Nature Review Gastroenterology and Hepatology 2018 1550-

59

Pellow S Chopin P File SE Briley M Validation of open-closed arm entries in an elevated

plus-maze as a measure of anxiety in the rat Journal of Neuroscience Methods 1985

14149-167

67

Petta AC Marques R O uso do aacutelcool e a evoluccedilatildeo do conceito de dependecircncia de aacutelcool e

outras drogas e tratamento Revista Imesc 2001 373-86

Pic-Taylor A Motta LG Morais JA Melo JW Santos AFA Campos LA Mortari MR Zuben

MVV Caldas ED Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion

(Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis) in female Wistar rat Behavioural Processes

2015118102 - 110

Popova S Lange S Probst C Gmel G Rehm J Estimation of national regional and global

prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome a systematic

review and meta-analysis Lancet Glob Health 20175(3)e290-e299

Prut L Belzung C The open field as a paradigm to measure the effects of drugs on anxiety-

like behaviors a review European Journal of Pharmacology 2003 463(1-3) 3ndash33

Qu S J Wang G F Duan W H Yau S Y Zuo J P Tan C H Zhu D Tryptamine

derivatives as novel non-nucleosidic inhibitors Bioorg Med Chem 201119(10)3120-7

Riba J Rodriacuteguez-Fornells A Urbano G Morte A Antonijoan R Montero M Callaway JC

Barbanoj MJ Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive

beverage Ayahuasca in healthy volunteers Psychopharmacology (Berl) 2001154(1)85-

95

Reynolds AR Berry JN Sharrett-Field L Prendergast MA Ethanol withdrawal is required to

produce persisting N-methyl-D-aspartate receptor-dependent hippocampal cytotoxicity

during chronic intermittent ethanol exposure Alcohol 201549(3)219-27

Rosner S Hackl-Herrwerth A Leucht S Opioid antagonists for alcohol dependence Cochrane

Database Syst Rev 2010 12CD001867

Saal D Dong Y Bonci A Malenka RC Drugs of abuse and stress trigger a common synaptic

adaptation in dopamine neurons Neuron 200337(4)577-82

Sharma R Dumontier S DeRoode D Sahota P Thakkar MM Nicotine infusion in the wake-

promoting basal forebrain enhances alcohol-induced activation of nucleus accumbens

Alcohol Clin Exp Res 201438(10)2590-6

Sanches RF de Lima Osoacuterio F Dos Santos RG Macedo LR Maia-de-Oliveira JP Wichert-

Ana L de Araujo DB Riba J Crippa JA Hallak JE Antidepressant effects of a single dose

of ayahuasca in patients with recurrent depression A SPECT study J Clin

Psychopharmacol 201636(1)77-81

68

Santos AFA Vieira ALS Pic-Taylor A Caldas ED Reproductive effects of the psychoactive

beverage ayahuasca in male Wistar rats after chronic exposure Revista Brasileira de

Farmacognosia 27-2017 353ndash360

Sarman I Review shows that early foetal alcohol exposure may cause adverse effects even

when the mother consumes low levels Acta Paediatr 2018107(6)938-941

Seibel SD Dependecircncia de drogas 2ed Atheneu- 411-4 Satildeo Paulo 2010

Simms JA Steensland P Medina B Kenneth E Abernathy L Chandler J Wise R Selena E

Bartlett Intermittent Access to 20 Ethanol Induces High Ethanol Consumption in Longndash

Evans and Wistar Rats Alcohol Clin Exp Res Vol 32pp 1816ndash1823 2008

Schenberg EE Alexandre JF Filev R Cravo AM Sato JR Muthukumaraswamy SD

Yonamine M Waguespack M Lomnicka I Barker SA da Silveira DX Acute biphasic

effects of ayahuasca Plos ONE 2015 10 (9)e0137202

Scheideler JK Klein WMP Awareness of the Link between Alcohol Consumption and Cancer

across the World A Review Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 201827(4)429-437

Schultes RE The identity of the malpighiaceous narcotics of South America Botanical

Museum Leaflets Harvard University 1957 181 ndash 56

Smith RL Canton H Barret RJ Sanders-Bush E Agonist properties of NN-

dimethyltryptamine at 5-HT2A and 5-HT2C serotonin receptors Pharmacology

Biochemistry and Behavior 1998 61 (3) 323-330

Souza EA Avaliaccedilatildeo do potencial terapeutico da ayahuasca na diminuiccedilatildeo de consumo de

aacutelcool utilizando o procedimento IA2BC (intermittent access to 2 bottle choice) em ratos

Wistar Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Farmaacutecia Universidade de Brasilia 2017

Stahl SM Stahlrsquos Essential Psychopharmacology Neuroscientific Basis and Practical

Applications Cambridge NY Cambridge University Press 2008

Steensland P Simms JA Holgate J Richards JK Bartlett SE Varenicline F An alpha4beta2

nicotinic acetylcholine receptor partial agonist selectively decreases ethanol consumption

and seeking Proc Natl Acad Sci U S A 2007 104(30)12518-23

Thomas G Lucas P Capler NR Tupper KW MartinG Ayahuasca-assisted therapy for

addiction results from a preliminary observational study in Canada Current drug abuse

reviews 2013 6(1) 30-42

69

Tost H Braus DF Hakimi S Ruf M Vollmert C Hohn F Meyer-Lindenberg A Acute D2

receptor blockade induces rapid reversible remodeling in human cortical-striatal circuits

Nat Neurosci 201013(8)920-2

Tulchinsky E Fos family members regulation structure and role in oncogenic transformation

Histol Histopathol 2000 15(3)921-8

Varodayan FP Guglielmo G G Logrip ML George O Roberto M Alcohol dependence

disrupts amygdalar L-Type voltage-gated calcium channel mechanisms J Neurosci

201737(17)4593-4603

Villas Boas GR Zamboni CG Peretti MC Correia D Rueda AV Camarini R Brunialti-

Godard AL Boerngen-Lacerda R GABA(B) receptor agonist only reduces ethanol

drinking in light-drinking mice Pharmacol Biochem Behav 2012 102(2)233-40

Zangrossi Jr H Graeff F G Behavioral validation of the elevated T-maze a new animal

model of anxiety Brain Research Bulletin v 44 n 1 p 1ndash5 1997

WHO Global status report on alcohol and health World Health Organization 2014

Wise RA Voluntary ethanol intake in rats following exposure to ethanol on various schedules

Psychopharmacologia 1973 29203ndash210

Wong DVT Ferreira JRO Fonteles MMF Viana GSB Souza FCF Vasconcelos Zaleski M

Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic alcohol use and

withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 2004 26 (Supl I)40-42

Wong DVT Jose R de O Ferreira Marta MF Fonteles Glauce SB Viana Francisca CF de

Souza Silvacircnia MM Vasconcelos Alcohol and Neurodevelopment pharmacologics and

genetics aspects Revista Eletrocircnica de Farmaacutecia 2008 5(1)16-31

Yip L Ethanol In Goldfrankacutes Toxicology Emergencies Chapter 64 7ths Ed Edited by Lewis

R Goldfrank et al McGraw-Hill 2002

Zaleski M Morato GS Silva VA Lemos T Neuropharmacological aspects of chronic

alcohol use and withdrawal syndrome Rev Bras Psiquiatr 200426 (Supl I)40-42

70

ANEXO - APROVACcedilAtildeO NA COMISSAtildeO DE EacuteTICA DO USO ANIMAL

Page 14: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 15: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 16: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 17: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 18: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 19: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 20: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 21: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 22: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 23: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 24: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 25: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 26: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 27: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 28: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 29: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 30: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 31: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 32: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 33: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 34: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 35: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 36: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 37: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 38: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 39: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 40: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 41: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 42: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 43: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 44: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 45: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 46: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 47: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 48: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 49: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 50: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 51: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 52: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 53: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 54: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 55: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 56: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 57: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 58: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 59: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 60: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 61: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 62: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 63: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 64: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 65: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 66: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 67: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 68: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 69: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 70: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 71: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 72: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 73: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 74: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 75: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 76: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 77: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 78: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 79: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 80: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 81: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 82: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o
Page 83: LUCIANA MARANGNI NOLLI - Toxicologia...presentes na Banisteriopis caapi, e N, N dimetiltriptamina (DMT), presente na Psychotria viridis. Observa-se a semelhança estrutural entre o