Post on 30-Dec-2018
LUANA ARGENTA PEREIRA
A INCLUSAO DO PORTADOR DE SURDEZ NO ENSINO
REGULAR
Monografia apresentadacomo requisito a obtenc;aodo titulo de especialista emEducac;ao Especial do cursode P6s-Gradua9ao emEduca9ao Especial daUniversidade Tuiuti doParana.Orientadora:Sueli Fernandes
AGRADECIMENTOS
Agradec;o a Sueli Fernandes pel a amizade dedicada nos momento de reflexao
e estudo;
A dire<;iio do Centro de Reabilita<;iio Sydnei Anlonio, pela disponibilidade nos
horarios necessarios;
Ao meu grande amor Wi! pelo incentivo e par estar ao meu lado em todos as
momentos;
A minha filha Luciana pelas "ajudas~ inesperadas, mas sempre bem-vindas;
Aos meus ami gas quando deram-me 0 apaio necessaria para a realizayao
desta monografia.
iii
SUMARIO
SUMARIO .iv
RESUMO v
INTRODUc;:AO 1
1. ANTECEDENTES HISTORICOS 3
1.1- EDUCACAo ESPECiAL.... . 6
1.2 - EDUCACAo DE SURDOS.. . 7
2. SURDEZ 9
2.1 - CARACTERIZACAo DA SURDEZ .
2.2 - ASPECTOS SOCIAlS DA SURDEZ .
. 9
. 14
2.3 - DESENVOLVIMENTO DA L1NGUAGEM NA liNGUA DE SINAIS .... 17
2.4 - COMUNIDADE E CUL TURA SURDA ....
2.5 - liNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS ...
. 19. .20
3. A INCLUSAO DE ALUNOS SURDOS NA EDUCAC;:AO REGULAR. 2S
2.5- DIFICULDADES DO ALUNO SURDO EM SALA DE AULA... . 30
2.6- RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO .. . 31
CONCLUSAO 36
ANEXO 37
REFERENCIA BIBLIOGRAFICA 39
iv
RESUMO
Uma nova proposta de apoio a pessoa com surdez no ensine regular e suainsen;ao, visa uma revolw;ao de val ores que exigem mudanr;8S na estrutura daeduc8C;:80 e da sociedade. A educ8yao e uma questao de direitos humanos e asindividuos com deficiencias devem fazer parte das escolas, as quais precisammodificar seu funcionamento para induir todos as alunos. Oesde muito tempo aspessoas com deficiencia, vitimas de inumeros preconceitos, vern sendodiscriminactas, apesar dos avanc;:os tecnol6gicos e progressos da ciencia. Esle fatainterfere na insen;ao dessas pessoas junto a sociedade, no que diz respeito aoacesso a escola e ao trabalho. Hoje, busca-S8 transformar essas posturasobservadas atraves da historia das sociedades a partir de uma educ8y80 inclusiva.A ideia central da inclusao e uma mudanc;a na forma de entender a pessoa surdapropiciando uma sociedade para todos. As caracterfsticas de uma escola dequalidade, decorrem do paradigma da inclusao, onde enfatiza-se 0 processo deadequac;ao da escola as necessidades dos alunos para que possam estudar,aprender, crescer e exercer plenamente a sua cidadania. Para tanto as escolasprecisam eliminar atitudes preconceituosas, adequar seus programas, preparar osalunos e familias e capacitar continua mente todos os profissionais que atuam naescola. Para que as alunos surdos possam desenvolver suas potencial ida des,inclusive a comunicac;ao, faz-se necessaria urn plano de educac;ao especffico, com aparticipaC;ao de uma equipe interdisciplinar, no qual a trabalho em conjunto sejaimportante e desejavel. Considerando-se que a inclusao e um processo e que estaosendo superadas algumas etapas, como a falta de conscientizat;:ao dos professores ,observa-se que as surdos estao sendo melhor preparados para a vida adulta ecompreendem que sao diferentes, mas nao inferiores.
INTRODUI;:AO
Sabe-s8 que em todas as culturas e civiliz8c;oes existem pessoas que fogem
aos pad roes estabelecidos pel a sociedade e sao vistas com preocupayBo.
Na antigGidade, lais condiyoes consistiam no desconhecimento da etiologia
dessas diferen98s e, mais tarde, interesses de classes geravam atitudes de
isolamento, segregay80 e ate eliminay8o.
Oessa forma passou-se a perceber que existiam grupos de pessoas que nao
S8 ajustavam a urn sistema, seja social au somente de ensine
Retomando-se a hist6ria da educ8gao, no que diz respeito as pessoas com
deficiencias, percebe-se que esta teve quatro fases principais, as quais destacam-se
a exclusao, segregay8.o, integrac;ao e inclusao
A preocupa9ao com a educ8yao escolar das pessoas com deficiencias, no
cenario nacional, teve sua origem na decada de trinta.
Procurando-se mini mizar quest6es como exclusao, indiferen9a e preconceito e
reafirmando 0 que preeoniza a Constiluil'ao Brasileira no artigo 205, que todos tem
direito a edueal'ao, em 1994 foi realizada a Confereneia Mundial sobre Igualdade de
oportunidade: Acesso e Qualidade, em Salamanca na Espanha. Desde entao tem-se
discutido muito sobre a inclusao da pessoa com deficiencia na escola regular.
o principio democratico da educa9ao para todos s6 se evidencia nos sistemas
educacionais que se especializam em todos os alunos, nao apenas em alguns
deles, os alunos com deficiencia.
Na escola, as diferen98s individuais estao sempre presentes e a atenc;:ao adiversidade e 0 eixo norteador do paradigm a da educac;:ao inclusiva, isto e, uma
educa9ao de qualidade para todos, a fim de evitar r6tulos, preconceitos,
mecanismos de exclusao de alunos, que acabam discriminados por raz6es que
contrariam as expectativas do sistema educacional escolar.
Os principios da inclusao se aplicam a todos e nao apenas aos alunos com
deficiemcia ou em situa9ao de desvantagem social. A educat;ilo e uma questao de
direitos humanos e todos os individuos devem ter garantidos 0 acesso, 0 ingresso, 0
regresso e a permanencia, com sucesso, em todo 0 f1uxo da escolariza9ao.
A inclusao como consequemcia de um ensino de qualidade para todas, provaca
e exige da escala brasileira novas posicionamentos e e um motivo a mais para que 0
ensino se modernize e para que as professores aperfeigoem as suas praticas,
implicando num esfon;o de atualiza~o e reestruturay80 das condiy6es atuais da
maioria das escolas. Assim sendo a inclusao uma nova perspectiva para a pessoa
com deficiencia, 0 motivo principal desta luta e a qualidade de ensino nas escolas,
de modo que se tornem aptas para responder as necessidades de cada um de seus
alunos, de acordo com suas especificidades.
Porem, para que as alunos surdos possam desenvolver suas potencialidades,
inclusive a comunicac;:ao, faz-se necessaria um plano de educayao especifico, com a
participa~ao de uma equipe interdisciplinar, no qual 0 trabalho em conjunto seja
importante e desejavel.
Com base nestes conhecimentos, surgiu 0 interesse em realizar um trabalho de
pesquisa junto aos profissionais de escolas regulares que atuam com alunos surdos,
pois e fundamental saber se a escola regular esta preparada para atender a esses
educandos, uma vez que a estrutura e a preparo dos profissionais influem no
desempenho do aluno surdo em sala de aula e na conquista de sua cidadania frente
a sociedade.
1. ANTECEDENTES HISTORICOS
Segundo SASSAKI (1999) a sociedade atravessou diversas lases no que se
refere as praticas sociais e educativas, embora naD len ham ocorrido ao mesma
tempo para todos os segmentos populacionais.
Na antiguidade, par desconhecimento cientifico, a deficiencia era entendida
como uma degeneral'ao da ra9a humana. onde as pessoas portadoras de
deficiencias eram condenadas ao abandono em asilos e hospitais e a morte, com
exc8980 de principes e faraas. Muitas vezes eram submetidas a implic8c;:oes
empiricas ligadas quase sempre ao sobrenatural, eram consideradas possuidas per
maus espiritos ou vitimas da sina diab61ica ou feitic;aria. Esta fase foi denominada
de exciusao social e as pessoas que nao pareciam pertencer a maiaria da
populag8o, eram excluidas da sociedad8. Quanta a edUC8C;80, tambsm nao S8
promoveu atenyao a essas pessoas. A sociedade simplesmente as ignorava,
rejeitava, perseguia e explorava.
Segundo 0 mesmo autor, logo apos ocorreu a fase da segrega~o institucional,
na qual as instituiyoes foram se especializando e as pessoas com deficiencias
comeyaram a receber atendimentos por tipo de deficiencia, onde todos os serviyos
possiveis eram ofertados, ja que a sociedade nao aceitava recebe-Ias, sendo
excluidas da sociedade e da familia; neste periodo surgiu a educayao especial,
administrada par instituiyoes voluntarias sem envotvimento do governo, percebendo
que pessoas com deficiemcia poderiam ser produtivas se recebessem
escalarizayao e treinamento profissional.
No final da decada de 60 iniciou-se 0 movimenta pel a integrayaO social, para
inserir as pessoas com deficiencia nos sistemas sociais gerais (educayao,
trabalho, lazer) e, assim, aproveitar de um estilo de vida que seria comum ou
normal a sua propria cultura, oferecendo condiyoes e modos de vida 0 mais
semelhante possivel as formas e condiyoes de vida do resta da sociedade.
Na decada de 80 as pessoas com deficiencia eram colocadas em sala de
aula, na escola regular, em momentas distintos, nao pertencendo assim a nenhuma
turma, obtendo somente a presen9a fisica nao interferindo no aprendizado dos
outros alunos.
No inicio dos anos 90 percebeu-se 0 fato de que a tradicional pratica da
integra9E1oera ainda discriminativa e propiciava pouca participa9E1ocom igualdade
de oportunidades e que as pessoas com deficiencias, que estavam inseridas na
sociedade, eram aquelas que ja haviam alcanc;ado urn nivel de competencia
compativel com os padr6es sociais vigentes, estando capacitados a superar
barreiras.
SASSAKI (1999) relata que no final dos anos 90 surge a inclusao social, que eo processo pelo qual a sociedade se adapta, para poder incluir em seus sistemas
sociais, pessoas com necessidades especiais e prepara-Ias para assumir seu papel
na sociedade, sendo urn processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluidas, e a
sociedade, buscam equacionar problemas, decidir sabre soluc;6es e efetivar a
equipara9iio de oportunidades para todos.
Dessa forma, a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de
que ela e que precisa alender as necessidades de seu membros e trocar sua
finalidade tradicional de diagnosticar e separar pessoas, passando para a moderna
finalidade de oferecer parametros, em face dos quais as solu¢es sao buscadas
para todos, trazendo de volta, a verdadeira missao das institui90es - servir as
pessoas - e nao as pessoas tendo que se ajustar as institui90es.
Para WERNECK (1999) a inclusiio refere-se ao 'processo de educar-ensinar',
no mesmo grupo, crianc;ascom e sem necessidades educativas especiais, durante
parte ou na totalidade do tempo de permanencia na escola. Nessa concep98o tada a
escola deveria estar preparada, tanto em termos fisicos (mobiliario, espa90 fisico,
etc) quanta em termos pedagogicos para receber e atender todo tipo de aluno,
respeitando suas diferen9as e educando de acordo com 0 rltmo e as possibilidades
de cada urn."
A mesma autora relata que Uo paradigma da inclusao, como caminho para se
construir uma sociedade para todos, baseado na diversidade humana, torna a
cidadao apto a cumprir nossos deveres civis, politicos, econornicos, sociais,
culturais e de desenvolvimento" deveria tomar todo cidadao participante ativo na
construgiio de urna sociedade para todos, sob principios de: celebragiio das
diferen9C3s,direito de pertencer, valorizac;aoda diversidade humana, solidariedade,
importancia das minorias e cidadania com qualidade de vida, independente de cor,
sexo, idade, genera, tipo de necessidade especial, acolhendo a diversidade human a
e aceitando as diferenc;as individuais.
Segundo STAINBACK (1999) em todos as momentos da vida a socializa9ao
se faz necessaria no sentido de orientar as a90es das pessoas, para que estas
alcancem sua real inclusao. Esta inclusao deve ser cornpreendida de diversas
maneiras, expressando diferentes fins e ideias como familia, escola e sociedade.
A educa9ao inclusiva e uma realidade e a cada dia ganha novos adeptos,
assim a escola deve preparar 0 aluno para 0 sucesso profissional e vida
independente, sensibilizando e treinando os recursos humanos da escola,
reorganizando recursos materiais e fisicos, preparando a comunidade para incluir
o futuro trabalhador, sensibilizando pais e alunos para urn papel mais ativo em prol
de uma escola e uma sociedade inclusiva.
Esta preparac;ao deve ocorrer em sal a de aula, em setores da escola e na
comunidade em ayao conjunta do diretor, professores, autoridades e comunidade.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, se nao houver aceitagElo da pessoa com
deficiencia, a escola pode reeeber pena de 1 a 4 anos e pagar uma multa. Porem, a
proposta de "inclusaon pressup6e a rejeiyao zero que consiste em nao rejeitar uma
pessoa por qualquer finalidade, com base no fato de possuir uma deficiencia au
pelo grau de severidade dessa deficiencia.
A escola representa para 0 aluno surdo, uma instituigao de suma importancia.
Portanto, deve-se reconhecer 0 seu papel como veiculo para a educagao social
dessas criangas, respeitando suas diferengas como condigao para sua inclusao na
sociedade.
KUME (apud SASSAKI, 1999) define que "a educac;iioinclusiva representaumpasso muito concreto e manejavelque pode ser dado em nossossistemas escolares para assegurarque todos as estudantes comecem aaprender que a pertencer e urndire ito nao um status privilegiadoque deva ser conquistado."
Do mesmo modo BENAYCH (apud SASSAKI, 1999) diz que a "inclusao dos
deficientes e uma questao humanista, de cidadania,"
VAYER (1990) relata que 0 sujeito com defici,mcia e aquele que deve suportar
uma desvantagem na rela9ao com 0 mundo. Cada ser humano, de acordo com sua
hist6ria genetica e pessoal, tem sempre uma maior au menor desvantagens em
certas situac;:oes ou circunstimcias, mas este fato tem apenas uma importancia
relativa uma vez que a desvantagem num campo da relac;:ao pode ser compensada
por facilidade noutros. Assim, as pessoas com deficiencia sao apenas urn dos
grupos beneficiados, ha outros igualmente excluidos que merecem aten~ao da
escola.
1.1 - EDUCACAO ESPECIAL
A preocupa~80 com a educa~ao escolar das pessoas com deficiencia no
cenario nacional, teve sua origem na decada de 30.
Dentro de um contexto filos6fico educacional, diz-se direito de todos 0 acesso aeducac;:80. Salientando-se a democratizac;:ao do ensino, criou-se um clima propicio
para diferentes iniciativas no campo da educac;:ao, destacando-se, entre elas, a
educaC;:8oescolar das pessoas com deficiencias.
o ana de 1961 conslitui-se num marco importante da educa9ao especial do
Brasil, quando a mesma foi contemplada pela primeira vez na legisla9ao
educacional com alguns artigos da Lei 4024/61 que estabelecia as Diretrizes e
Bases da Educa9ao Nacional.
Em 1972 foi constituido pelo Ministerio da Educa9ao e Cultura (MEC), a
Grupo Tarefa de Educa9ao Especial, onde apresentou-se a primeira proposta de
estrutura~8o da educaC;:80 especial brasileira, tendo sido criado um org80 central
para geri-Ia.
Atualmente a educac;:ao especial tornou-se um segmento integrante da
educa~ao geral, que tem como finalidade proporcionar a pessoas com deficiencias,
condi¢es que favorecessem 0 desenvolvimento de suas potencialidades, visando
sua auto-realizaC;:8o, aprendizagem, integrac;:ao social e independencia.
Segundo MAZZOTTA (1982) MCom relacao as situa¢es de ensino, convem esclarecerque elas sao definidas como especiais em decorrencia daulilizac,;ao de recursos fisicos e maleriais especiais, deproftssionais com preparo especiftcos e de algunsaspectos propnamente curriculares que nao saogeralmenle enconlrados nas silualfoes comuns.~
A Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional (9394/96),
princfpios constitucionais de 1988, incorpora-se a esse movimento quando
estabetece ser a educac;ao urn direito de todos e da urn novo enfoque para a
educac;ao especial. Pensada ate entao de forma periferica na organizac;ao do
ensina, a nova LOB a define como modalidade de ensina, a ser concebida e
planejada a partir dos niveis de escolaridade. Alem disso, garante as pessoas com
deficiencia atendimento especializado como suporte ao ensina regular, adequado ao
grau de comprometimento do aluno, destinando a Artigo 58" inteiramente a
educac;ao especial.
1.2. EDUCA<;AO DE SURDOS
De acordo com BOTELHO (1998) no s,;culo XVI a educac;ao de surdos comec;a
a ser cogitada e inicia-se com surdos de familias ricas, herdeiros de propriedades e
grandes fortunas, pois sua heranc;a dependia da educac;ao que Ihes era oferecida.
Com 0 fim da Idade Media, iniciou-se a forma9ao de comunidades surdas e 0
desenvolvimento da lingua de sinais, ja utilizada desde a Antiguidade. Neste
periodo a lingua oral e 0 dominio da palavra eram fatores primordiais na educa9ao.
Houve, assim, a primazia da oraliza9ao do surdo na aten9ao pedagogica. Varias
descobertas nas areas da Medicina e da Eletr6nica incentivaram esta concepryao
frente a educa9ilo do surdo.
Atualmente percebe-se que a educa9ao nao esta mais limitada somente ao
periodo que corresponde ao crescimento da crianryae do adolescente, mas perdura
por toda a vida.
A surdez geralmente a detectada somente na fase da aquisi9ao da linguagem.
Crianryas surdas ou ouvintes desenvolvem-se da mesma forma ate a fase do
balbucio, poram, enquanto 0 bebe ouvinte come9a a balbuciar cada vez mais
reagindo aos diferentes sons do ambiente, no bebe surdo, com 0 passar do tempo,
essas rea90es se modificam, as vocalizaryoes cessam, tornando-o cada vez mais
quieta, nao reagindo aos sons, uma vez que nao recebe 0 feedback auditiv~, fator
primordial para a desenvolvimento da linguagem.
Uma vez detectada a surdez, faz-se necessario 0 encaminhamento para um
profissional capacitado, para que seja diagnosticada a causa e 0 grau da perda
auditiva, pois 0 diagnostico precoce e 0 principal fator para 0 trabalho a ser
realizado.o conceito basico de educa.yElo precoce prende-se a importancia da
estimulac;:aoe atendimento adequado da crian.ya, desde os primeiros dias de vida,
visando garantir 0 seu desenvolvimento integral, pois se constitui no primeiro
atendimento em termos de habilita.yao. Pode-se dizer que a educa.yao precoce
significa motiva.yEloJ estimulagElo,pOis um ambiente rico e variado em estimulos,
junto com treinamento especifico, tende a acelerar 0 desenvolvimento da crianc;:a.0
atendimento precoce exerce influencia decisiva na evolu.y80da mesma, porem, a
ausencia desses estimulos podera determinar atraso no crescimento mental,
deixando sinais, muitas vezes, permanentes na evolug8o da crianga.
o papel da familia no processo da educa.yaoprecoce e imprescindivel como
condigao para garantir resultados positiv~s. Tanto 0 pai como a mae desempenham
urn papel muito importante na estimulagao do bebe, e devem empenhar-se ao
maximo em paciencia, carinhos e aten.yElo,procurando faze-Ia perceber e tomar
consciencia de que existe um mundo sonoro e uma linguagem, aproveitando 0 que
as diferentes vias perceptivas oferecem.
o atendimento precoce deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, uma
vez que sao necessarios conhecimentos tecnicos de diversos profissionais em que
serao valorizadas as necessidades para 0 atendimento global da crianga,
juntamente com a colaborag8o da familia.
2. SURDEZ
2.1 - CARACTERIZACAO DA SURDEZ
o individuo com surdez e aquele que apresenta uma perda ou diminuic;.3o da
audic;iio.
o conceito de surdez e bastanle variado, a depender do autor consultado. Na
perspectiva audiol6gica ale compreende aspectos relacionados aD tipo, grau,
etiologia. Tomaremos alguns dos autores para podermos delimita-Io.
SILVERMAN (in BALLANTYNE 1995) confirma que toda pessoa que apresenta
uma perda media aeirna de 25 dB, ao S8 considerarem freqCH3ncias de 500, 1000 e
2000 Hz tem deficiimcia audiliva.
LEMES (1996) afirma que a surdez e um tipo de prival'ao sensorial que se
constitui em uma das mais significativas limitac;6es ao desenvolvimento, uma vez
que a audiyao e essencial a aquisic;ao da linguagem oral.
o mesmo autor afirma que a surdez designa qualquer tipo de perda de audic;ao
parcial ou total; e a audi9ao social mente incapacitante e surdez refere-s8 acondic;:ao de individuos cuja audic;ao nao e normal e e expressada em termos de
fala e outros sons calibrados por frequemcia e intensidade.
Segundo LOPES (1997) as perdas de audil'ao podem ser classificadas
segundo a localizayao topografica (condutiva, neurossensorial, mista, central e
funcional).
o mesmo autor afirma que a surdez condutiva determina uma redugao da
acuidade auditiva. As estruturas do ouvido externo e medio sao responsaveis pel a
condug8o do som, entao esta perda caracteriza-se basicamente pela diminuigao da
audir;ao aos sons graves, com certa conservagao em sons agudos.
Segundo CORREA (1999) a perda auditiva neurassensorial e causada por
danos no ouvido interno, localizados na coclea, no nervo auditiv~ ou nos centres
auditivos do cerebra. Crianl'8s com esta perda devem fazer uso adequado do
aparelho auditiv~, alem de terapias fonoaudiol6gicas. Existe para esses casos a
cirurgia de implante coclear.
10
LOPES (1997) afirma que na perda neurossensorial ha conservac;:iio de
audj~o para sons graves com perda mais acentuada em agudos. Pod em ser
apresentadas ainda perdas locaJizadas, como nos traumas acusticos au induzidas
par ruidoso Sao encontrados limiares de via aerea e via 6ssea aeima dos limites
normais. No Indice de reconhecimento da fala, os resultados apresentam-se mais
baixos do que 0 normal, decorrente da diston;ao do comprometimento
neurossensorial. A discriminagao auditiva e variavel, sua alterac;:iio ocorre de forma
proporcional a perda.
Para CORREA (1999) a perda auditiva mista ocorre no ouvido externo, medio
e interno. E causada par perdas de condury8o junta mente com perda sensorioneural.
Segundo LOPES (1997) a perda mista apresenta-se com caracteristicas
diversas, dependendo do predominio do fator de condu~o au da gravidade da
lesao. A audiy80 par via aerea e pi or que par via 6ssea. 0 GAP encontra-se entre
via aerea e via 6ssea em todas as freqi.:u§ncias. No indice de reconhecimento da fala
os resultados sao bons, porem algumas vezes prejudicados em relac;:ao ao normal
ou condutivo, pOis ha presenc;:a de componente neurossensorial. A discriminac;:ao
auditiva e pouco comprometida, existe ausencia do reflexo do musculo do estribo.
Segundo CORREA (1999) a perda auditiva central e causada por lesao no
tronco cerebral e ou cortical.
Para LOPES (1997) esta deficiencia e rara e pouco definida. Pessoas com
esta deficiencia apresentam audic;:ao normal, mas nao entendem 0 que Ihes e dito.
Quanta mais complexa a mensagem sonora, havera maior dificuldade.
o auter afirma ainda que na perda auditiva funcional, 0 paciente apresenta
les6es orgfmicas. A dificuldade para ouvir pode ser de fundo emocional au psiquico.
BALLANTYNE (1995) faz uma comparagao entre as perdas mais encontradas,
onde diz que os pacientes com perdas condutivas ouviriam melhor em ambientes
ruidosos do que em ambientes silenciosos, mas isto nao ocorre. As perdas
condutivas, basicamente, apresentam origem mecanica e os sons que atingem 0
ouvido interne sao reduzidos em intensidade. Algumas vezes podem se melhorar os
casos com cirurgias, mas quando estas sao contra-indicadas ou recusadas 0
problema pode ser corrigido par amplificac;ao. A discriminac;:ao auditiva e pouco
afetada.
II
Segundo 0 mesma auter, nas perdas neurossensoriais, a discriminay80 e
quase sempre reduzida e a paciente ouve menes na presenC;8 de ruldos. 0
paciente naD ouvira sons de baixa intensidade. as pacientes com perda condutiva
ouvirao sua propria voz menos bern par condug8o aerea, porem melhor par
conduC;:8o ossea; algumas vezes sentem que estao gritando, mas 85taO falando
normal mente. Portanto tendem a abaixar sua voz. Em contraste, as pacientes com
perda neurossensorial ouvem suas vozes menes par conduc;ao ossea, e par esta
razao sentirao que nao estao falando com volume 5uficiente, portanto tendem a
elevar a voz.
Para NORTH EN (1989) a perda condutiva caracteriza-se por interven~ao do
som no canal auditiv~ externo para 0 ouvido interno, desta forma hit a
funcionamento normal do ouvido interno, mas a vibra9aO sonora so estimula a
coclea se a intensidade do estimulo for aumentada. Esta perda caracteriza-se
tambem para sons conduzidos pelo ar, enquanto que os sons lev ados ao ouvido
interne por condu9aO ossea sao ouvidos normal mente. Ja na perda auditiva
neurossensorial ocorre diminui9aO auditiva quando os orgaos sensoria is ou celulas
ciliadas da coclea solrem danos, ou quando ha altera~ao no nervo auditiv~. Os
limiares de condUt;:ao aerea e ossea sao aproximadamente iguais.
Segundo CORREA (1999) 0 grau de perda auditiva e dividido em categorias:
de leve a profunda. As caracteristicas dessas perdas variam de caso a caso,
podendo ser unilaterais ou bilaterais.
A crian9a com perda auditiva podera apresentar dificuldades na aquisi980 de
linguagem oral e dificuldades na escala. 0 porta dar de deficiencia auditiva leve
apresenla grau de perda enlre 20 a 40 dB, tera diliculdade em discriminar sons da
fala a distancia, bem como apresentar trocas na fala, leitura au escrita. Essa perda,
embara possa acasionar problemas fonoarticulat6rios, nao impede a aquisi9aO
normal da linguagem.
Uma crian9a com perda moderada apresentara dificuldade no uso da
linguagem oral e vocabulario limitado. Ja uma crian9a com perda profunda
apresentara impossibilidade no desenvolvimento da fala espontaneamente, mas
aquelas que nao apresentam outros comprometimentos, possuem capacidade
12
integra para adquirir urna lingua, desde que acompanhada par profissionais
capacitados, utilizando aparelhos auditivos adequados e tendo 0 apaio familiar.
Segundo SILVERMAN (in BALLANTYNE 1995) a classifica,ao das perdas
auditivas quanta ao grau e baseada na media dos limiares da via 8erea nas
frequE,"cias de 500, 1000 e 2000 Hz e compreendem:
Audi,ao normal - ale 25 dB (decibeis)
Perda leve - de 26 a 40 dB
Perda moderada - de 41 a 55 dB
Perda moderadamenle severa - de 56 a 70 dB
Perda profunda - maior que 90 dB
LOPES (1997) afirma que na perda audiliva de grau leve 0 individuo nao
percebe as fonemas da mesma forma, alterando-se a compreensao das palavras,
sua voz apresenta-se de forma fraca e distante e, assim a criany8 e considerada
desatenta. A aquisi980 da linguagem oral vai de normal a lenta, mais tarde pode
apresenlar dificuldade na leilura e escrila.
Na perda moderada 0 individuo percebe a voz com certa intensidade, assim
podem acorrer atrasos de linguagem e alterac;ao articulatoria. A discriminaC;8o
auditiva apresenta-se comprometida em lug ares ruidosos.
Na perda auditiva severa 0 individuo identifica ruidos graves e percebe voz
grave e forte.
Na perda profunda 0 individuo nao percebe a voz humana sem urn estimul0
adequado, nao ha feedback auditiv~.
Segundo 0 mesmo autor, as perdas severas e profundas, caracterizam-se pel a
fala e linguagem oral ausentes au muito comprometidas. Nos casos de perda
conge nita ou adquirida nos primeiros anos de vida, apenas sons fortes podem ser
ouvidos na perda severa, embora a qualidade de voz seja melhor que na perda
profunda.
Segundo BALLANTYNE (1995) em lermos eliol6gic05, a surdez pode ser
classificada em quatro categorias principais:
geneticamente determinada;
doen9as causando danos durante 0 crescimento e desenvolvimento de
vida intra-uterina;
danos ocorridos durante 0 periodo peri-natal, imediatamente antes ou
apos 0 nascimento;
danos ocorrendo apes os primeiros dias de vida.
A surdez surgindo a partir dos tres primeiros itens e referida como congemita,
produzida por urn agente infeccioso, texico ou traumatico no ventre materno, porque
tera ocorrido antes que 0 bebe tenha tido qualquer oportunidade significativa de
ouvir as vozes de sua familia. Ocorrendo apes os primeiros dias de vida e adquirida,
produzida por urn agente infeccioso texico ou traumatico.
Segundo DIAS (1995) a surdez elassifica-se quanta aos fatores:
Pre-nata is: rubeola intra-uterina, toxoplasmose, citomegalovirus, diabetes,
sifilis, irradiac;ao, hipoxia, alcoolismo materno e uso de drogas.
Peri-natais: anoxia, hipoxia, parto traumatico, parto prematuro, infecC;:8o
materna e drogas ototoxicas.
Pos-natais: hipoxia, anoxia, infecg8o, eristroblastose fetal, sarampo,
parotidite, ruido induzido.
Segundo a Organiza~ao rnundial da Saude (OMS), pode oeorrer a preven~ao
da surdez, em tres niveis diferentes.
o primeiro nivel inclui todas as medidas tomadas para reduzir a ocorrencia de
urn defeito
o segundo nivel de prevenc;ao inclui medidas tomadas para reduzir a transig80
do defeito para a ineapaeidade.
o terceiro nivel de prevenc;:ao inclui todas as medidas tomadas para reduzir a
transiC;:80 da incapacidade para a deficiencia.
Medidas para diminuir indice de deficiemcias sao de grande importfmcia, e
devem ter prioridade sempre que possivel, pois a incidencia da deficiencia nos
paises em desenvolvimento poderia ser reduzida em pelo menos 50%, se a
prevenc;:ao fosse aplicada de maneira adequada e eticaz, pois em muitos casos pode
ser prevenida ou identificada a tempo de se evitar um mal maior, permitindo °desenvolvimento normal da crianc;:a e sua inclusao na sociedade e aceitac;:ao da
familia.
14
2.2 - ASPECTOS SOCIAlS DA SURDEZ
Segundo BUSCAGLIA (1993) a ciencia explica que a perda da audi,ao pode
originar-se de inumeras causas, porem os comportamentos sociais das pessoas em
relaryao ao surdo, continuam obedecendo aos padr6es supersticiosos e
preconceituosos que fcram idealizados atraves dos seculos, porem com menes
intensidade.Tais atitudes e comportamentos muitas vezes encontram-se inseridos na
pessoa, no reflexo de sua formac;:ao cultural, uma vez que a propria sociedade com
suas tradi90es, expectativas e regras, acaba limitando 0 comportamento das
pessoas a certas normas e padroes, tanto de beleza como de perfeiryao,
estabelecidos e supostos como adequados.
Conlorme GODYNHO (1982) a lamilia nao esta preparada para receber um
filho com deficiencia, uma vez que as representaryoes sociais adquiridas pel a mesma
foram repassadas cultural mente, ou seja, 0 modo como os pais se comportam frente
a descoberta da surdez do filho depende do conjunto de representa<;6es que
lenham em rela<;ao a ela. Assim, quando descobre-se a surdez, a atitude dos pais
costuma ser seguida de sentimentos naturais de medo, dor, culpa, desapontamento
e a sensa<;ao de incapacidade e impot€mcia, bem como as diversas rea<;6es frente adefici€mcia de rejei<;l.'lo, superprote<;l.'lo, piedade e ate mesmo sentem-se culpados
ou punidos por algum mal que tenham cometido, pais muitas famflias acabam
atribuindo ao destino e ao sobrenatural a culpabilidade da mesma.
Ser pai...ser mae.. Grande sonho que palpita no cora,ao de cada um. No
intimo deles hi! uma expectativa de construir um lar repleto de amor, onde 0
sofrimento nao tenha lugar!
Segundo ROSSI (in LACERDA, 2000) "0 nascimento de um lilho e visto como
um acontecimento maravilhoso, do qual espera-se pais felizes". Durante 0 processo
de gesta<;8o a familia vive momentos de ansiedade, ideatizando um titho e pensando
o que esle bebe significara em suas vidas. Apos 0 nascimento, venda que a crian<;a
e 'perfeila', os pais esquecem todas as angustias vividas anteriormente, ajustando-
se a presen<;a desta crian9a na familia. Para 0 desenvotvimento salutar da
personalidade, a qualidade das rela96es entre pais e filhos durante as tres primeiros
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an os de vida e de fundamental importancia, pois as tracas afetivas, as intengoes
comunicativas e a qualidade das estimulay6es (via objeto, via Dutra) sao todas
constitutivas do desenvolvimento da crianC;:8 nas areas cognitiva e linguistica. A
interagao da mae com 0 fithe e urn processo ao Ion go do qual a mae entra em
comunic8g8.0 com a criang8, enviando-Ihe 'mensagens' enquanto a criang8
'responde' a mae com as meiDs de que disp6e. Nesta comunic8gao as palavras e
frases sao substituidas par gestos, sorrisos e vocaliza~6es e, desta forma, passa a
construir sua realidade social e descobre a si proprio. Esta interag8.o auxilia a
perceber a si mesma, oferecendo-Ihe elementos de identificac;:ao e diferenciac;:ao em
relagao aos demais.
A familia e 0 primeiro ponto de referencia para a ser humano, pois seu
processo de desenvolvimento esta baseado nas primeiras experiencias com ela, e
nos primeiros anos, mais especificamente com a mae, membra familiar com quem a
crian~ teve seu primeiro relacionamento. Estas experiencias funcionam como
fatores relevantes em suas rela<;6es sociais e inclusao futura, uma vez que a
primeira aprendizagem social da crianc;a ocorre em casa, atraves dos membros da
familia. oesta forma constitui-se a familia em importante agente de socializaC;ao e
desempenha papel fundamental no afastamento das 'nuvens pessimistas' que
cercam seus filhos.
A crianc;a, quando nasce, nao traz visivel 0 sinal de sua surdez. Os pais a
recebem e se relacionam com ela como crianc;a ouvinte, sadia e perfeita. Falam e
brincam com a crian~a todo a tempo em que se mantem acordada (FRENCH, 1985).
Com a descoberta da surdez, os pais ficam chocados, se deprimem e se
fecham para 0 mundo e para a crian~, veem nela um sonho desfeito, a fonte de
suas frustrac;oes. 0 relacionamento entre a crianc;a e os pais e rompido, e isto, por
sua vez, priva os pais de falar com sua crianc;a surd8. Ha, dar em diante, uma
quebra de comunicaC;ao entre pais e filho, que ate entao tinha side desenvolvida nas
modalidades multi-sensoriais normais, quando ainda nao havia sido levantada a
suspeita da surdez da crian~a (idem, 1985).
E com isto as pais tornam a consciencia de que comec;ara uma maratona em
busca de amenizar 0 problema. Medicos especializados, hospitais, curandeiros com
poc;oes magicas, operac;oes astrais, todas as informac;6es de possibilidade de cura,
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as pais iraa investigar, para que seu filho possa ter condic;oes de urn
desenvolvimenlo considerado normal no ambiente em que vive (FENEIS, 1995).
Mas, e a crianC;8 surda? Enquanto seus pais nao aceitarem a realidade de
que a surdez e definitiva e sem retorno nao havera paz produtiva no lar. Aceitar a,dentro do sofrimento pela impossibilidade de a criang8 voitar a ouvir, assumir uma
atitude positiva. E tamar consciemcia de sua surdez e buscar a fanya interior que as
impulsionara para a luta pel a conquista dos metodos que possibilitarao tornar essa
crianC;8 bern integrada ao meio. E, com essa aceita9fjo positiva, a crianC;8 surda vai
S8 sentindo gratificada e desenvolve assim, neste ambiente de calor, urn auto
conceito positiv~, confianga em 5i propria e a certeza de ser amada. Tal crianC;8
cresee confiante em si mesma e vai ao encontro do futuro sem traumas que possa
atrapalhar na sua Integra\'iio social (MAESTRI, 1995).
Somente uma mudan9a total da mentalidade dos pais e dos responsaveis
pelas escolas podera propiciar ao surdo uma integrac;ao social e, portanto, uma vida
proxima ao normal.
Os pais devem estar convictos de que 0 desenvolvimento intelectual e 0
comportamento social do surdo depende de seu comportamento e de sua estreita e
compreensiva coopera9ao. Devem superar 0 sentimento de culpa ou vergonha de
gerarem urn deficiente, nao ficar se culpando mutua mente, 0 que trara conflitos
conjugais que repercutirao diretamente na crian9a. As interferencias, as vezes
desastrosas, de parentes ou vizinhos e amigos devem, tambem, ser evitadas para
que nao venham prejudicar as boas rela,6es do surdo com a sociedade (MIRANDA,
1993).
E primordial que toda a sociedade e principal mente os pais sejam
conscientizados da necessidade de uma integra9ao precoce do surdo com os
ouvintes para que 0 contato entre ambos seja considerado uma coisa natural e para
que cheguem espontaneamente a conclusao de que suas necessidades e
sentimentos sao semelhantes. Os pais nao devern esquecer que tanto 0 abandono
como a superprote,ao sao prejudiciais ao desenvolvimento do surdo (idem, 1993).
Todos os problemas podem ser superados com uma integra9Bo precoce do
surdo na sociedade. E, da mesma forma, poderao ser sensivelmente agravados pel a
marginalizac;ao.
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GOOYNHO (1982) relata que ~outro fator de decisiva importancia na manutencraodo arraigado preconceito e a falta de comunica9ao:o que naD se conhece se teme, e e impassivel umrelacionamento franco e aberto com urn surdo,mormente aquele que naD adquiriu a linguagem."
Sabe-S8 que a ausencia da linguagem e fator relevante e estigmatiza 0 surdo,
tornando-o diferente de Qutras pessoas consideradas 'normais', uma vez que 0
aprendizado de uma erian9<l oeorre prineipalmente pela aquisi<;:iio da linguagem,
com a qual eta aprende a expressar seus proprios desejos, alem de desenvolver
aptid6es e habilidades para discriminar e produzir sons. Param, a existencia da
limita9ao sensorial pode ser urn fator limitante na intera<;ao comunicativa e
motivadora, criando urn bloqueio suficiente para impedir a interac;ao entre mae
ouvinte e filho surdo.
o autor eitado aeima ressalta ainda, que a difieuldade de relacionamento entre
uma pessoa ouvinte e um surdo muitas vezes e a responsavel pelo distaneiamento
dos mesmos, 0 qual e apresentado atraves de estigmas, que estao vineulados a
qualquer pessoa que nao se ajuste a soeiedade, impondo-Ihe uma serie de
restric;6es que vao desde as condi¢es neeessarias para 0 desenvolvimento de
suas potencialidades, ate sua real inclusao na soeiedade.
2.3 - DESENVOLVIMENTO DA LlNGUAGEM NA liNGUA DE SINAIS
Durante muitos anos a surdez esteve assoeiada a deficiencia mental. 0
despreparo dos profissionais ao atendimento do surdo e uma visao
humanista/assisteneialista diseriminou e marginalizou 0 surdo como uma pessoa
totalmente incapaz (MIRANDA, 1993).
No entanto, 0 surdo se organiza e se integra com 0 mundo de uma maneira
propria e eompetente e 0 que 0 diferencia da pessoa ouvinte e a auseneia da
linguagem oral. Com a perda auditiva, tem muita difieuldade para interiorizar um
codigo linguistico oral devido as barreiras de eomunieac;ao (dicC;ao ruim, bigodes,
falta de luminosidade, nao visualizaC;ao dos fonemas que nao estao ao aleanee, falta
de leitura labial...) e com isto procura outro canal que e 0 viso-motor e passa a
materializar todas as suas visualizac;6es atraves de gestos. Para 58 coneretizar a
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possibilidade de uma comunicayao efetiva, com urn grau de compreensao
satisfatorio entre surdos e Quvintes, e necessario que as canais dos interlocutores
estejam ajustados (ESSER, 1995).
o fato de, par muitos anos, a surdez e a deficiencia mental estarem
associadas ja e passado. Nesse aspecto e grande a contribuigao de Piaget na
compreensao do desenvolvimento cognitiv~ da crian<;8. Sua descri<;ao dos varios
periodos do desenvolvimento da crianga, partindo do periodo sensorio-motor ate
chegar, ja na adolescencia, ao periodo do pensamento formal, onde a Iinguagem
puramente verbal atinge a plenitude, levou-o tambem a conc1uir que nao e a
linguagem unicamente a responsavel pelo desenvolvimento das opera¢es menta is.
Ha ai tambem a influencia do gradativD processo de mieliniz8<;::8o das estruturas
16gicas. Ele afirma que "8 formag8o da linguagem e do pensamento nac estariam
ligadas par uma relayao causal, mas conjuntamente solidarias a urn processo mais
geral; 0 de forma\Oiiosimbolica" (MIRANDA, 1993).
Ressalta-se que tanto a crianc;a ouvinte como a crianya surda necessita
participar de um ambiente sadie e adequadamente estimulante para que possam
atingir a plenitude de seu desenvolvirnento cognitivo. As diferenc;as ficarn por conta
das ac;oes especificas que cada caso ira exigir. Dai se ressalta a importancia da
estirnulay80 precoce que possibilite a crianya surda 0 desenvolvimento semelhante
ao da crianga ouvinte em processo da aquisi\Oiiode Iinguagem (idem, 1993).
GOLDFELD (1997) afirma que mesmo Vygotsky relatou que a crianga surda
deve adquirir a linguagem da mesma forma que as crianc;as ouvintes, seguindo as
mesmas etapas. Valoriza a educaC;8o pre-escolar como 0 ambiente prop[cio para a
estimulayao da lingua.
De acordo com FERNANDES (1998) as pessoas surdas, por limitac;ao
sensorial, que as impede de adquirir 'naturalmente' a linguagem oral, desencadeiam
uma forma aiternativa de apropria\Oiioda linguagem, fazendo uso de processos
cognitivos visuais. Sendo a linguagem, 0 intercambio social, 0 acesso precoce alingua portuguesa e a lingua de sinais, os surdos poderao desenvolver a linguagem
nos mesmos moldes e padroes das crianyas ouvintes, sem prejuizos ao seu
processo de aquisic;80.
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2.4 - COMUNIDADE E CUL TURA SURDA:
A linguista americana surda PADDEN (1989) estabeleceu uma diferen""
entre cultura e comunidade. "Uma cultura e urn conjunto de comportamentos
apreendidos de urn grupo de pessoas que possuem sua propria lingua, val ores,
regras de comportamento e tradi¢es, uma comunidade e urn sistema social geral,
no qual um grupo de pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham
certas responsabilidades urnas com as Qutras".
Segundo a mesma autera, uma comunidade surda "e urn grupo de pessoas
que mora em uma localiza~ao particular, compartilha metas comuns de seus
membros e, de varios modos, trabalha para alcanc;ar estas metas" Portanto, em
uma comunidade surda pode haver pessoas ouvintes e surdas que nao saocultural mente surdos. Ja a cultura da pessoa surda e mais fechada do que a
comunidade surda. Membros de uma cullura surda S8 comportam como pessoas
surdas, usam a lfngua de surdos e compartilham entre si das crenC;8s de pessoas
surdas e com outras pessoas que nao sao surdas e individuos da mesma cultura
partilham de um sistema de signos, ou seja, a mesma lingua, permitindo que
interajam entre si. Essa lingua, esses signos, ou palavras, tem um significado
razoavelmente comum.
As comunidades surdas estao espalhadas pelo pais e, como 0 Brasil e muito
grande e diversificado, estas comunidades possuem diferengas regionais em relagao
a habitos alimentares, vestuarios e situagao socio-economica, entre outras, estes
fatores geram tambem varia~6es linguisticas regionais (MIRANDA, 1993)
Segundo 0 mesmo autor, as escolas sao fatores de integra~o ou
desintegra~ao das comunidades surdas e, dependendo da metodologia adotada, se
uma escola rejeitar a Libras (Lingua Brasileira de Sinais) e quiser transformar a
crianga surda em ouvinte-deficiente, esta crianga nao vai conhecer sua comunidade
e nao aprendera a sua lingua.
Por outro lado, varias escolas, em cidades ou estados que nao possuem
associagoes de surdos, trabalham ainda somente com uma metodologia oralista e as
crianr;:as surdas desenvolvem um dialeto entre elas para uma comunicagao minima e
estas ficarn totalrnente desintegradas da cullura surda, sendo consideradas, apenas,
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deficientes auditivos.
Devida a tradiy80 oralista, ha surdos que 56 querem falar, usanda sempre 0
portugues como, tambem, muitos surdos que nao dominam bern a gramatica da
Libras (Lingua Brasileira de Sinais), usam a bimodalismo, au seja, falam portugues
enquanto sinalizam, como os ouvintes quando comeyam a aprender alguma lingua
de sinais. (idem, 1993)
Mas ser surdo nao equivale a dizer que este faz parte de uma comunidade
surda au da cultur8 surda, porque sendo a maioria dos surdos, em torna de 95%
filhos de pais Quvintes, muitos destes nae aprenctem Libras (Lingua Brasileira de
Sinais) e naD conhecem associac;oes de surdos, que representam as comunidades.As comunidades surdas no Brasil tern como fatores principais de integraC;8oa
libras, 05 esportes e 0 lazer.
Atualmente, ainda nao ha estudos da cultura surda brasileira, mas convivendo
urn pouco pode-se perceber diferen9as, par exemplo: as pessoas surd as preferem
urn relacionamento mais intima com outra pessoa surda do que com pessoas
ouvintes; as piadas contadas pel as pessoas surdas e incompassivel para pessoas
ouvintes e vice-versa. 0 surdo, do seu silencio, tern um modo proprio de olhar 0
mundo no qual os conceitos representam expressoes faciais e corporais. Como fala
com as maos, evita usa-las desnecessariamente e quando as usam, possuem uma
agilidade e leveza que dificilmente um ouvinte paden§; alcan9ar.
A cultura surda e muito recente, tern pouco mais de cern anos e somente
agora corne98 0 interesse em se registrar, atraves de filmes, as narrativas pessoais
de surdos idosos para se conhecer um pouco de sua historia (FENEIS, 1994).
2.5 - liNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS
o mais antigo registra que trata sabre a "Lingua de Sinais" e a do filosofo grego
S6crates, quando perguntou ao seu disclpulo: "Suponha que n6s, os seres
humanos, quando nao falavamos e queriamas indicar objetos, uns para os outros,
n6s a faziamos, como fazem os surdos mudos sinais com as maos, cabe9a, e
demais membras do corpo?" (Cratylus de Platao, disci pula e cranista, 368 a. C).
Essa foi a soluc;::aoencontrada tambem pelos manges beneditinos da alia .8arig~'
cerca de 530 d.C, mas pouco foi registrado sobre esse sistema usado por surdo
ate a Renascenc;a, mil anos depois. 0 problema maior nao era a surdez
propria mente dita, e sim realmente a falta de fala. Daquela epoca ate agora,
ouvintes confundem a habilidade de falar com a voz e a inteligencia. A palavra "fala"
esta etimologicamente ligada ao verbo/pensamentola9ao, e nao ao simples ato de
emitir som articulado
Apesar desse preconceito geral, houve pessoas ouvintes que tentaram
ensinar as surdos, por exemplo, um italiano Girolamo Cardano, que utilizava sinais e
linguagem escrita, e um espanhol, 0 mange beneditino, chamado Pedro Ponce de
Leon que utilizava, alem de sinais, treinamento da voz e leitura de labios. Nos
seculos seguintes, houve outros professores de surdos. Alguns acreditavam que a
primeira elapa da educac;::aopara as surdos devia ser a ensino da lingua falada
(chamada de metodo oral pure) e outros que utilizavam a lingua de sinais ja
conhecida pelos alunos e 0 ensino de fala (metoda combinado). Entre estes
prefessores foram Juan Pablo Bonet da Espanha, 0 Abbe Charles Michel de L'Epee
da Fran9a, Samuel Heinicke e Mortitz Hil da Alemanha, Alexandre Graham Bell,
nascido da Suecia, mas que morou no Canada enos Estados Unidos, e Ovide
Decroly da Belgica.
Destes professores, 0 mais importante, do ponto de vista do desenvolvimento
da lingua de sinais foi L"Epee, que usava 0 metodo combinado, porque foi de seu
Instituto na Franc;a que veio ao Brasil a professor surdo Ernest Huet e, a convite de
Dom Pedro II, trouxe urn metodo de ensino, fundando a primeira escola de surdos no
Brasil no ano de 1857, 0 Instituto Nacional da Educa9ao de Surdos - INES. Foi no
INES que surgiu, da mistura da lingua de sinais francesa com os sistemas ja usados
pelos surdos das varias regioes do Brasil, a Lingua Brasileira de Sinais - LIBRAS
(FENEIS, 1994).
STROBEL (1998) relata que "Essa maneira tao estranha - para muitos ouvintes-de conversar sem som, fazendo movimentos no arcom as maos, acompanhados de express6escorporais e faciais, as vezes chama a nossa aten9ao,quando deparamos com surdos se comunicando."
A dificuldade imposta pela barreira sensorial faz com que os surdos sintam
22
necessidade de recorrer a Qutros 'caminhos' para desenvolver suas habilidades
lingiiislicas: a lingua de sinais. (Idem, 1996)
No enlanlo, segundo BOTELHO (1998), muilos surdos nunca aprenderam a
lingua de sinais, pois seu usa muitas vezes tarnava-S8 absurdo e equivocado a partir
de concepc;:6es e de urna identidade que S8 contruia sem a reconhecimento da
surdez. 0 aprendizado da Hngua de sinais, muitas vezes, S8 deu a partir da eseela
especial, da convivencia com a comunidade surda, em cantata com Qutros surdos
linguisticamente 'competentes'
STROBEL (1998) afirma que nilo se pode confundir 'mimica', expressilo do
pensamento atrav8S de 985t05 naturais que procuram imitar a imagem do que S8
quer fazer compreender, com a complexa estruturac;:ao da lingua de sinais. Seu
reconhecimento e legitimidade passam necessaria mente par essa diferencia~o.
o mesma autor relata que um outro aspecto a ser destacado e que muitos
consideram esta forma de comunica~o como sendo uma linguagem mundial de
surdos. Parece que em todos os lug ares do planeta eles sempre fazem tudo igual.
Nao e verdade. A lingua de sinais nao e universal, cada pais tem a sua.
Do mesmo modo que existem varias Ifnguas orais estrangeiras, ha diferentes
linguas de sinais e cada uma destas linguas tem seus nomes, por exemplo: ASL -
Lingua de Sinais Americana; LSB - Lingua de Sinais Britanica e a de nosso pais e
chamada de Libras - Lingua Brasileira de Sinais. A visilo da universalidade implica
que fatores geograficos e culturais nao sao influentes na determinac;:ao e mudanc;:a
hist6rica do sinal, sendo entao distintas e que ha dialetos como nas linguas orais.
Recentemente, no Brasil, muitos IingOistas comec;:aram a estudar a Libras,
empregada pelas varias comunidades surdas brasileiras e, descobriram que esta
lingua e tao rica e complexa em aspectos gramaticais como as linguas orais. Estao
convencidos que LIBRAS e a lingua no sentido pleno. Destaca-se como urn sistema
linguistico legitimo, e nao como urn problema do surdo ou uma patologia da
linguagem, sendo capaz de expressar ideias sutis, complexas e abstratas. Os seus
usuarios pod em discutir filosofia, literatura au politica, alem de esportes, empregos,
moda; pode expressar poesia e humor. Como outras !inguast aumenta a vocabulario
com novos sinais introduzidos pela comunidade surda em resposta as mudanc;:as
cutturais e lecnicas (Idem, 1998).
23
A lIibras e uma lingua natural - relacionada aos costumes e cultura da
comunidade surda - que flui de uma necessidade de comunicac;ao entre as pessoas
que nao utilizam a modatidade auditivo-oral como a principal, mas sim a modalidade
viso-motora (visao+movimento).
As concepc;oes em relagao as linguas de sinais dividem tragos comuns,
assimilando urn trago lingOistico inferior em relac;ao ao plano de superficie destas
linguas. Entretanto os varios estudos, tentam identilicar, sob 0 ponto de vista
linguistico, que as linguas de sinais sao complexas, possuem uma abstrata
estruturagao nos diversos niveis de analises, as quais podem fornecer novas
perspectivas te6ricas sobre as linguas hurnanas, sobre os determinantes da
linguagem e sobre 0 processo de aquisiC;80 e desenvolvirnento de uma lingua que
apresenta particularidades em relac;ao as linguas orais.
De acordo com QUADROS (1997), as linguas de sinais derivam da
comunicac;ao gestual espontanea dos ouvintes e sao organizadas espacialmente.
Sao sistemas abstratos de regras gramaticais, naturais as comunidades surdas e
apresentam-se com algumas formas iconicas, porem sao alta mente complexas,
evidenciando assim a complexidade e recursividade.
A mesma autora ressalta que os surdos nao podem aprender qualquer lingua
oral como os ouvintes aprendem, dependem de instruC;Bo formal e a aquisiC;BO da
lingua de sinais deve acontecer de forma natural e espontanea. As duas linguas
apresentam fum;:oes diferentes, a lingua de sinais e 0 principal meio de aquisir;:ao do
conhecimento e e a lingua que os surdos usam nas comunidades com seus pares.
A outra lingua, 0 portugues neste caso, tern funC;80 em termos formais para leitura e
escrita, leitura labial e fala. Por muitos anos, alguns profissionais negaram a crianr;:a
surda 0 uso de Libras, defendendo 0 usa de oralismo puro, mas a Libras nao
desapareceu, resistiu porque e a lingua natural da propria crianga surda, e a
necessidade que eta tern de comunicar-se sem limitac;ao.
A crianga surda usa Libras espontaneamente em contato com outro surdo,
enquanto a lingua portuguesa (segunda lingua) tera que aprender. A Libras e 0
meio principal de aquisir;:BO de conhecimentos, enquanto a lingua portuguesa tern
fundamental mente, a funr;:ao de uma lingua escrita, de leitura e tambem de leitura
labial e de lala
24
QUADROS (1997) ressalta que para 0 surdo deveria-se adotar uma proposta
bilingue, ande a Libras deve ser a primeira lingua e a lingua portuguesa deve ser a
sua segunda lingua. Isto relaciona-se com 0 processo de aquisi980 dessas linguas,considerando a condig8o (isica das pessoas surdas. Qualquer lingua oral exigira
procedimentos sistematicos e formas para ser adquirida par uma pessoa surda.
Neste senti do faz-s8 necessario conhecer 0 processo de aquisig80 da segunda
lingua, frente a necessidade da educagiio bilingue para surdos, com principios para
a educ8y80 inclusiva, respeitando desta forma, suas diferen98S. Nos ultimos anos aleitura esta sendo considerada como urn instrumento importante no ensina de
segunda lingua. A compreensao da leitura pode favorecer a aprendizado de uma
lingua de forma rapida e eficiente.
25
3. A INCLUsiio DE ALUNOS SURDOS NA EDUCA"iiO REGULAR
A Lei de Diretrizes e Bases ( 9394/96 ) preconiza, no artigo 1', que a educac;ao
envolve todos as processos que constituem 0 desenvolvimento do ser humano,
desde 0 convivio familiar ate sua real integrar;:ao na sociedade.
Esta lei refere-s8 a educagc30 escolar, que deve ser ministrada atraves do
ensino, ou seja, atraves do sistema escolar, vinculando-se ao trabalho e a pratica
social.
o sistema escolar e urna organiz8c;:ao continua, progress iva e diversificada
atraves da articulavao dos diferentes nfveis e modalidades de ensina, os quais estaa
subdivididos em EduC8gc30 Basica e Educa~o Superior, sendo a EduC8gElO Basica
composta pela Educ8gao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Medic.
A educ8C;80 basica tern par objetivo promover 0 desenvolvimento do aluno,
proporcionando meies para sua auto-realiz8yao, qualificayao para 0 trabalho e
exercicio da cidadania.
Sendo a educayao infantil 0 primeiro estagio da educayao basica seu objetivo eo desenvolvimento global da crianc;a em todos os aspectos, uma vez que eoferecida a crianyas com ata seis anos de idade.
Com durac;ao minima de oito an os, 0 ensino fundamental a a etapa
subsequente a educayao infantil, visando a formayao basica do educando, sendo
obrigatorio e gratuito na escola publica.
o ensino medio e a etapa final da educayao basica, tern durac;ao mfnima de
tres anos, e alE~mde prestar ao aluno a formac;ao geral, podera tambem qualifica-Io
tecnicamente,
Partindo-se dos objetivos propostos na lei, foram estabelecidos os curriculos de
programas para os diferentes nfveis de ensino. A organizayao didatica dos curriculos
e programas, dinamiza as estruturas pedag6gicas dos sistemas de ensino,
o processo ensino/aprendizagem, envolve, portanto, em sua ac;ao pedagogica,
elementos essenciais como os conteudos escolares, 0 processo de avaliac;ao, a
definiyao dos planejamentos de ensino e recursos didaticos, bern como a
participac;ao da comunidade e as relayoes estabelecidas na propria escola, uma vez
26
que a educa~o escolar sera efetivada atrav9S da escola, esta devera ter claro seus
objetivDS, a fim de que possa desenvolver a fungao social.
Conforme destacou-se anteriormente, a primeira aprendizagem social da
criang8 ocorre em casa, com as membros da familia, a qual constitui-se como
importante agente de socializagao.
A escola, depois da familia, exerce papel fundamental no processo de
socializagao da crianga, e para dar continuidade e este processo e desenvolver a
funyao social da escota, destaca-se 0 professor, profissional capaz de possibilitar ao
aluno a aquisiva,o dos conteudos selecionados pela mesma.
Em meio as diferentes transformagoes da atualidade, a escola esta vivendo
urna nova mudang8, pais percebe-se que a participagao familiar e as valores
religiosos diminuiram muito no processo de socializ8gao da crian9a, face ao
compromisso familiar com 0 trabalho e consequentemente seu tempo limitado. Com
isto, muitas criany:as passaram a conviver com outros grupos sociais fora da escola,
fazendo com que ten ham outra visao de autoridade.
Face as inumeras transformay:oes pel a qual esta passando 0 sistema de ensino
muito tern se discutido sabre a educagao da pessoa com deficiencia e sua inclusao
na escola.
A nova Lei de Oiretrizes e Bases, sugere que a ensino especial seja feito
'preferencialmente' atraves de escola regular, tendo par objetiva favorecer a inclusao
da pessoa com deficiencia a mesma, e peJa Oeciara9ao de Salamanca, organizada
pela Unesco em 1994, as "pessoas com necessidades educativas especiais devem
ter acesso as escolas comuns, as quais deverao integrar-se numa pedagogia
centraJizada na crianya, capaz de atender a essas necessidades."
Nesta Conferencia alguns itens importantes foram discutidos e salientados,como: "Todas as crianc;:as, de ambos os sexos, tem direito fundamental a educac;:ao e quea ela deva ser dada a oportunidade e obter e manter nivel aceitavel de conhecimento; cadacrianc;:a tem caracteristica, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem queIhe sao proprios; os sistemas educativas devem ser projetadas e os programas aplicados demodo em que ten ham em vista tada gama dessas diferentes caracteristicas e necessidades;as pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso as escolascomuns que deverao integra-las numa pedagogia centralizada na crianc;:a, capaz de atenderessas necessidades; adotar como forya de lei ou politica, a principia da educac;:ao integradaque permita a matricula de todas as crianc;:asem escolas comuns, a menos que haja raz6escanvincentes para a contra rio; tada pessoa com deficiencia tem 0 direita de manifestar seusdesejas quanta a sua educac;ao, na medida de sua capacidade de estar certa disso. Os paistem 0 dire ito inerente de serem consultados sobre a forma de educayao que melhor 5e
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ajuste as necessidades, circunstimcias e aspirag6es de seus mhos; as politieducacionais deverao levar em conta as diferenc;:as individuais e as diversas situay6es.Deve ser levada em considerac;:ao, par exemplo, a importancia da lingua de sinais comomeio de comunicac;:ao para as surdos, e ser assegurado a todos os surdos acesso ao en sinoda lingua de sinais de seu pais. Face as necessidades especificas de comunica~o dossurdos e de surdos - cegos, seria mais conveniente que a educa~o Ihes fosse ministradaem escolas especiais ou em classes au unidades especiais nas escolas comuns;desenvolver uma pedagogia centralizada na crianc;:a, capaz de educar com sucesso todosos meninos e meninas, inclusive os que sofrem de deficiencias graves. 0 merito dessasescolas nao esta s6 na capacidade de dispensar educac;:ao de qualidade a todas ascriangas; com sua criagao, da-se um passo muito importante para tentar mudar atitudes dediscriminagao, criar comunidades que acolham a lodos; promover capacitayao dosprofessores, programas de estudos adaptados as necessidades de cada crianc;:a; a escoladeve se organizar de forma a oferecer possibilidades objetivas de aprendizagem. ~
Esses dispositivos legais e polftico-filosoficos possibilitam estabelecer 0
inseridos. "0 professor do ensino basico e a principal figura na sociedade inclusiva"
(WERNECK,1997),
Medidas como adequayao do espac;o fisico, eliminac;ao de barreiras
arquitetonicas, materiais especificos e recursos audiovisuais se fazem necessarias,
porem outros recursos tem importancia fundamental, como preparo e competencia
profissional de professores, capacidade de realizar adaptac;6es curricula res e
metodol6gicas, desenvolvendo tecnicas e estrategias apropriadas. Segundo a
Declarayao de Salamanca em 1994 na Espanha, houve a Conferencia Mundial
sobre Necessidades Educacionais Especiais com 0 tema Acesso e Qualidade.
Tendo 0 Brasil concordado com estes encontros construiu assim um sistema
educacional inclusivo, onde este devera ser projetado de modo a atender os alunos
em suas caracteristicas, interesses, capacidades e necessidades, considerando a
ampla diversidade dessas caracteristicas, bern como utilizar-se de urna pedagogia
centralizada no aluno.
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Para que haja esta inOV8980 educacional, e necessaria urn projeto diferente deescola, que vise atender as condi90es necessarias dos alunos com deficiencias. 1550
56 pod era ocorrer mediante uma mudanC;8de valores e atitudes na estrutura dasociedade, bern como nas concepc;oes de educ8980, de modo a permitir a inclusao
social e escclar do aluno por meio de urn processo de integra~aoque tern por
precisarao ter personalidade forte, equilibrio emocional e tambem vivencias sociais,
pais nao poderao atuar sozinhos, mas fazendo parte de uma equipe multidisciplinar
onde todos devem colaborar, a fim de obterem resultados precisos, porem muitas
vezes isto nao acontece, conforme ressaita BUSCAGLIA (1993): "com uma grande
freqiiencia, os profissionais trabalham isolados em relac;:ao aos outros" Um
proftssional nao sabe a que a outro esta desenvolvendo, desta forma nao veem 0
individuo como um todo, mas de forma fragmentada.
Faz-se necessaria 0 trabalho conjunto dos diversos profissionais, para que haja
traca de informac;:6es entre a equipe, a fim de que possam inter-relacionar suas
disciplinas, desempenhando relevante papel nos planas educacionais e fisicos do
aluno, uma vez que tambem 0 papel do educador e 0 da organizac;ao consciente e
intencional, decorrente de uma vi sao integrada dos multiplos aspectos envolvidos no
trabalho, como desenvolvimento pSicomotor, moral, afetivo e cognitivo, devendo
correlaciona-Ios e integra-los sem esquecer a especificidade de cada urn.
Erras e equivocos sao cometidos na historia da educac;ao. Assim a escola se
constitui urn dos fortes aliados no processo de seletividade, dificultando-se a
tentativa de homogeneizar os sujeitos em torno de urn padrao referencial. Essa
exclusao e reforc;:ada por politicas publicas que criam mecanismos de servic;:os
educacionais.
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As praticas pedag6gicas includentes naG podem acontecer a partir de medidas
que atingem apenas uma das dimens6es do processo educativD. Para construf-las
S8 faz necessario uma nova organiZ898,O escolar. Nesta perspectiva, as adaptac;oes
nao atendem as exigencias da inclusao porque nao contemplam 0
redimensionamento da escola. As adaptay6es curriculares S8 restringem ao espa«o
da sala de aula sem contudo contribuir para que haja uma real transformac;ao das
praticas pedag6gicas. Essa melhoria esta diretamente relacionada a uma novaorganiZ8c;8.0 escolar que requer entre Qutras medidas, a reorganiz8g8.0 do espac;o
escolar, a reduc;ao do numero de alunos e a construc;ao de novas dinamicas
educativas, incluindo 0 aprimoramento dos professores. Para ista, a escola
necessita desamarrar-se dos curriculos e dos programas, das avalia<;6es e das
antigas concep<;6es learicas e filosaficas que fundamenlam praticas pedagagicas,
deseslabilizando saberes, praticas, concep<;6es e valores que interferem no
processo educacional.
o papel fundamental dessa nova sociedade educativa, e a contribui<;ao da
escola na forma<;ao dos que viverao em um mundo diferente.
As adapta<;6es curriculares devem ser entendidas com mais um instrumento
que possibilita maiores niveis de individualiza<;ao no processo ensino-aprendizagem
escolar. Consistem em modifica<;6es realizadas pel os professores, dando respostas
as necessidades de cada aluno e representam um processo de adequa<;ao de todas
as atividades desenvolvidas nas escolas, conforme 0 que preconiza a Lei de
Diretrizes e Bases em seu Artigo 59°
Com a adapta<;ao curricular ocorre a participa<;ao dos alunos, atingindo os
objetivos de cada nivel de aprendizagem por meio do curriculo adequado as suas
necessidades. Estas medidas devem ocorrer nas adapta<;6es dos conteudos, da
metodologia, da avalia<;ao e do tempo destinado as atividades, as quais devem ser
decididas apas rigorosas observa<;6es do aluno e inumeras discuss6es em equipe.
Segundo BOTELHO (1998) 0 professor deve utilizar a linguagem oral com
adapta<;6es, como falar mais devagar, sempre de frente para 0 aluno surdo, assim
estara centrado em urna das premissas da educa<;ao oralista, a abordagem natural;
a qual preconiza que a sujeito surdo deve freqClentar uma escola de ensino regular,
pois estara em contato com falantes da lingua oral, podendo assim, aprende-Ia por
30
meio das interac;oes com seus pares Quvintes, confirmando-se entaa 0 que
preconiza a educac;ao bilingQe.
o mesma autor afirma ainda que 0 unieD modo da crianC;8 aprender sua lingua
nativa e adquirir a linguagem e interagir em situayaes de intercambio linguistico. A
permanencia do surdo no ensina regular apresenta como problema especifico a
dificuldade de compartilhar urna lingua com colegas e professores, estando em
desigualdade lingilistica, em uma sala onde todas as pessoas sao ouvintes e
falantes de urna lingua oral, que para 0 surdo representa urna lingua estrangeira.
3.1 - DIFICULDADES DO ALUNO SURDO EM SALA DE AULA
STROBEL (1995) relata que para a maioria de escolas especiais de surdos no
Brasil a capacidade da criany8 surda de aprender a falar urna ou Dutra palavra emais importante do que a certeza de que 0 conteudo tenha sido entendido. Entao,
todas as 8tividades ficam direcionadas a exercfcios de fala e as atividades como a
leitura e escrita, sendo que as outras areas de conhecimentos se tornam
secundarias.
o aluno surdo que consegue falar uma ou outra palavra tem melhor vantagem
em assimila9aO de conhecimentos, enquanto a maioria fracassa e desiste ap6s
varias tentativas, fica quieto e conseqOentemente, 0 acesso ao conhecimento Ihe e
negado, porque para estas escolas 0 talento de cada aluno e medido pela
capacidade de fala.
Nas outras escolas especiais, a alfabetizac;ao da crian9a surda geralmente e
compreendida num periodo de 2 a 3 anos para cada serie enquanto da crian9a
ouvinte e de um ano. Com este ritmo lento a crian9a surda fica com 0 processo de
pensamento e desenvolvimento cognitiv~ e intelectual mais lento e quando ela
ingressa na escola regular, para continuidade da escolaridade, algumas vezes
fracassa e nao consegue acompanhar 0 ritmo rapido dos ouvintes, devido a barreira
de comunica9ao.
Segundo a FENEIS (1994), 0 Brasil tern aproximadamente 5% da popula9ao
surda total estudando em Universidade e a maioria e incapaz de lidar com 0
portugues escrito.
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o desenvolvimento da criang8 surda naD depende necessariamente da
ausencia au preseng8 de audig8o, pois sla e intelig8nt8 e e passive I ter
desenvolvimento semelhante a criang8 ouvinte.
Ao ingressar na escola regular, a criang8 surda enfrenta seu maior problema:
a barreira da comunic8gao. Assim, 0 tipo de comunic8gao adequada que ajudaria a
criang8 surda a desenvolver-se mais intelectualmente e a Libras (Lingua Brasileira
de Sinais), para assirn ter 0 desenvolvirnento sernelhante a crianga ouvinte,
contanto que esse contato tenha ocorrido desde ceda. A crianC;8 surda podera S8
sentir como as Qutras criang8, fazer perguntar e obter res pastas de professores, de
pais e Qutras pessoas au seja, a curiosidade da criang8 surda sera satisfeita.
Isto nao quer dizer que a crianga surda nao tern a direito de se integrar asociedade ouvinte; pel a contrario, usando Libras desde cedo ela assimila a conteudo
e a desenvolve intelectual e emocionalmente, 0 que facilita a aprendizagem da
leitura, da fala e tera forga, autoconfianga e base mais salida para se integrar asociedade. Oesta forma pode iniciar sua vida em condigoes de igualdade com a
crianga ouvinte. Atraves da LIBRAS, os potenciais e talentos pod em ser utilizados
permitindo-Ihe crescer como ser humano competente, pois lhe foi dada a
oportunidade de desenvolvimento normal.
Apas pesquisa tearica, observou-se a necessidade de realizar urn parametro
entre as dados encontrados teoricamente, com a realidade educacional da rede
municipal e particular no ensino fundamental, para comparar a situagao real da
educag80, vista que tad as as itens abordados tornam-se necessarios para um
ensino de qualidade, como a relacionamento entre professor e aluno, sua formag80
e capacitagao profissional, estrategias diferenciadas, adaptag80 dos conteudos
propostos, bern como medidas adotadas com sucesso
3.2 - RESULTADO DA PESQUISA DE CAMPO
Foram realizadas entrevistas direcionadas, com opgoes de multipla escolha
(anexo), a quatro professores da rede municipal e urn da rede particular de
ensino, dos quais quatro deles apresentam formag8o profissional em nivel de 3"
grau em diferentes categorias (Psicologia, Pedagogia e Letras) e urn sornente
32
magisterio e dentre todos os professores nenhum possui especializar;80 na area da
surdez.
Atraves das respostas obtidas faz-se uma analise da realidade escolar, a qual
exerce papel fundamental no processo de socializar;ao da crianr;a surda, podendo-
se destacar assim a formar;80 profissional do professor, sendo este capaz de
possibilitar ao aluno a aquisir;80 dos conteudos. De modo geral, observa-se que os
profissionais da eduC8r;80 precisam repensar sua pratica e buscar novas
conhecimentos e informar;oes acerca da surdez, a fim de desenvolver seu trabalho
aprimorando-se profissionalmente as reais necessidades dos alunos surdos.
Na primeira pergunta referente a capacitayao profissional, questiana-se ao
professor se ja trabalhou com pessoas surd as, quatro relatam que nunca
trabalharam com surdos e so mente tres receberam orientar;ao previa, da escola
especial ou da equipe tecnica de suas pr6prias escalas. Percebe-se que a grande
maioria das professores nao recebem preparo previo e esta capacitar;ao se faz
necessaria para 0 total desenvolvimenta dos alunas, pOis necessitam de orientar;oes
e recursos especiais para 0 desenvolvimenta de suas aptidoes e aprendizagem.
Pode-se observar que, alem dos professores nao possulrem formar;30 profissional
adequada para desenvolver um trabalho com 0 surdo, tambem nao passuem
experi€mcia anterior.
Na segunda pergunta "Quais as maiores dificuldades encontradas em sala,
todos os professores forarn unanimes em responder que as maiores dificuldades
encontradas em sala de aula sao camunicar;ao e avaliar;ao, com preen sao de
palavras, estruturar;ao de frases e textos. Urn professor destacou a disciplina e a
interesse e outro respondeu somente que a maior dificuldade e a adaptar;ao do
conteudo.
Percebe-se que tambem as dificuldades tornam-se mais aparentes, pOis 0
professor apresenta falta de conhecimento e habilitar;ao para desenvolver urn
trabalho adequado e seguro, talvez um recursa para facilitar a comunicar;aa por
exemplo, seria 0 apoio de um interprete na sala de aula, visto que e previsto par lei e
a maioria dos alunas comunicam-se par Libras. Desta forma as dificuldades na
camunicar;ao seriam amenizadas. Todas as outras dificuldades relacionadas pelos
professares, est80 ligadas diretamente a barreira de comunicay80 existente entre
professor e aluno, pois os mesmos chegam a relatar que sentem-se angustiados par
nao compreender e nao serem compreendidos pelo atuno surdo.
Na terceira pergunta "Como solucionou as dificuldades", cinco professores
procuraram ajuda por iniciativa propria e um professor tambem recebeu apoio de
professores e alunos. Verifica-se que mesmo com muitas dificuldades 0 professor
procura ajuda buscando solugao imediata e favoravel aquilo que procura. Os demais
colegas e alunas tambem mostram-se solidarios e tentam ajudar a professor
regente.
A quarta pergunta "Qual a comunicagao utilizada pelo aluno", dois professores
responderam que e somente atraves de LIBRAS, um so mente por gestos naturais e
dois professores relatam que 0 aluno utiliza fala e LIBRAS juntas. Observa-se que a
comunicagao predominante e a Hngua de sinais, pois todos os alunos apresentam
perda auditiva de severa a profunda e 0 aluno que tambem comunica-se oral mente,
somente faz tentativas de fala, apresentando perda profunda bilateral, porem a
comunicagao utilizada em sua famflia e so mente oral, os seus familiares nao
conhecem a Hngua de sinais e algumas vezes acredita estar comunicando-se
adequadamente atraves da fala. Oesta forma comprova-se a grande dificuldade que
o professor apresenta em comunicar-se com 0 aluno surdo, pois nao conhece a
lingua de sinais e nao recebe apoio de interprete.
Na quinta pergunta "Qual foi sua reac;ao ao receber um aluno surdo", as
respostas tambem foram unanimes de apreensao e ansiedade. Verifica-se que as
professares apresentam uma reagao negativa ao deparar-se com um aluno surdo,
mesmo afirmando que somente fica ram apreensivos e ansiosos. Comprova-se que
hoje ainda a sociedade, como um todo, apresenta comportamentos sociais
preconceituosos, idealizados atraves dos seculos, sendo reflexo de sua forma<;ao
cultural, pais limita-se a normas e padr5es estabelecidos como adequados. A
surdez, para as proprios pais costuma ser seguida de diversos sentimentos e para
as professores nao seria diferente; encontram-se em uma situagao nova, sao 'peg as
de surpresa' como relata uma professora em conversa informaL Percebe-se
tambem que tad as estas dificuldades ocorrem por falhas no sistema regular.
Na sexta pergunta "Como e 0 relacionamento professor I aluno", todos
responderam que e otimo e ami gaveL
34
Na setima pergunta "Como e 0 relacionamento aluno I colegas" quatro
professores responderam que e amigavel e urn otimo. Vale ressaltar aqui, que a
dificuldade de relacionamento aconteee pelo estigma que esta vinculado a qualquer
pessoa que nao S8 ajuste a sociedade, e considerado diferente do normal. Porem,
observa-s8 que nesta questao todos os professores naD apresentam dificuldades no
relacionamento, 0 mesma acontecendo entre as pr6prios colegas. Observa-s8 que
com 0 passar do tempo, depois que as rea90es negativas Icram superadas, 0
vinculo aumenta e todos conseguem conviver harmoniasamente, sendo 0 professor
o grande respons8vel pelo relacionamento positiv~ existente entre as alunos, pois
alem de possibilitar a aquisiyao de novas conhecimentos e urn importante agente de
socializary8o, uma vez que assume papel de modelo.
Na oitava pergunta ~Como e 0 comportamento do aluno em sala de aula",
segundo um professor e muito agitado, um distraido e tres calmo e bom. De modo
geral, 0 comportamento do aluno surdo em sala de auta e born, porem alguns
apresentam comportamentos como distraryao e inquietayao. Essas caracteristicas
vem de acordo com a limitay80 sensorial, dificultando a capacidade de discriminayao
dos sons, fazendo entao, com que 0 aluno procure momentos diferenciados,
mostrando-se inquieto e agitado. Isto ocorrera se a metodo de ensino nao estiver
adequado, pois somente em um ambiente estimulador e que 0 aluno ira desfrutar de
momentos de atenyao e interesse.
Na nona pergunta "Quais as principais barreiras encontradas", tres professores
relatam que e a falta de cursos preparatorios, dois professores afirmam que e a falta
de profissionais especializados e recursos materiais e um professor complementou
tambem com a dificuldade de comunicac;ao. Observa-se com as respostas, que a
principal barreira e a falta de capacita980 e interesse da escola junto ao surdo. As
escolas deixam a desejar, pais se a inc1us8o tem como ideia fundamental a
adaptay80 do sistema escolar, a escola nao viabiliza meios para esse fim pais, nao
realiza um projeto de ensino que vise atender as condir;oes necessarias ao surdo.
Na decima pergunta uQuais medidas adotadas pela escola onde obtiveram
bans resultados", um professor relata que foi preparado de como trabalhar com a
atuno surdo e recebeu orientar;oes da escola especial, quanto a falar de f~ente, ter
paciencia em expllcar diversas vezes se necessario. Outro professor afirma que teve
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dispensa para cursos e auxilio de co-regente em sal a de aula. Um professor teve
apoio para realizar curso de LIBRAS e utilizar 0 computador para realizar atividades
praticas e diferenciadas com 0 aluno surdo. Um professor relata que a escola deu
apoio total, chamando pais quando necessario, dispensando para cursa de
capacitat;:ao da prefeitura e recebeu apoio sistematico da escola especial; 0 outro
professor nao registrou os resultados.
Atraves dos dados coletados, verificou-se que nao ocorreram inova90es e
diferencia90es no atendimento com 0 surdo em sala de aula, sendo que a inclusao
esta concretizada em leis e teorias que nao estao sendo cumpridas, na maiaria dos
casas. Os professares estao obtendo resultados, positiv~s ou nao, atraves de seus
proprios esfon;os. CORREIA (1997) relata que "sem a forma~ao necessaria para
responder as necessidades educativas desses alunos, nao canhecenda muitas
vezes a natureza dos seus problemas e as implica¢es que tern no seu processo
educativ~, os professores do ensino regular nao Ihes podem preslar 0 apoio
adequado."
Para que a inclusaa seja ampla e legitima e necessario que a escola funcione
como urn sistema de ensino participativo e aliv~, ande no conjunto de todos os
profissionais, se tenha claro seus objetivos e metas, proporcionando ao aluno
acesso aos conteudos do curriculo comum, porem de formas diferenciadas, com
materiais de apoio, adapta96es de estrategias e selet;:ao de conteudos. Uma vez,
constatado que a format;:ao profissional e minima, observa-se que os professores
sao menos dinamicos e criativos. Porem, convem ressaltar a importancia da
metodologia, tecniC8s e estrategias utilizadas e tambem dos materiais e recursos
pedag6gicos a tim de garantir uma ampla e legitima inclusao do aluno surdo aos
conteudos do curriculo comum, bem como 0 seu direito a uma educat;:ao de
qualidade, garantindo um de seus inumeros direitos de cidadao participativo no
processo de construyao da cidadania.
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CONCLUSAO
Sendo a educ8g8o urn dos suportes basicas para 0 desenvolvimento de
qualquer ser humano, esta devera oportunizar 0 plena desenvolvimento do mesmo
ate sua real integrag80 a sociedade. Portanto, todos deverao ter aces so a educayao,
o que S8 confirma atraves do artigo 205 da Constituig8o Brasileira.
Essa inclusao tern como principio que todas as pessoas devem aprender
juntas, naG importando suas dificuldades au difereng8s individuais, pais deverao as
escolas reconhecer e responder as necessidades diversificadas de seus alunos,
oferecendo diferentes formas de apaio e assegurando-Ihes urna educ8gao de
qualidade. Para ista deverao estar preparadas estruturalmente, dispor de materiais
necessarios e principal mente profissionais habilitados.
Para que os surdos tenham seus plenos direitos de cidadaos, faz-se
necessario buscar medidas inovadoras dentro da atual realidade, a fim de conseguir
atingir a sua eficiente participac;ao na sociedade. Para tal a escola, como agente
principal de socializac;ao, deve dispor de recursos materiais e humanos, necessarios
a uma educac;ao de qualidade, pois a inclusao tao preconizada em leis e teorias, nao
esta conseguindo ser ampla e legftima, devido as barreiras citadas pelos pr6prios
professores entrevistados.
Evidencia-se nas respostas encontradas que 0 processo educacional do novo
paradigma inclusivo podera tornar-se eficaz a partir do momenta em que ocorra 0
envoJvimento e comprometimento adequado de todas as pessoas envolvidas no
processo educacional do aluno surdo.
Acredita-se que com a realizaC;ao desta pesquisa, varias contribuic;6es serao
validas na obtenc;ao de novas conhecimentos, proporcionando a reflexao de
diferentes profissionais, sob a perspectiva de um trabalho eficiente e justo, Frente anova concepcyao inclusivista.
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ANEXO
QUESTIONARIO PARA PROFESSORES DO ENSINO REGULAR
Nome: _
Forma~ao profissional:o 2' grau completo Curso: ,Anoda conclusao: _
o 3' grau completo Curso: ,Anoda conclusao:
Capacita~ao profissional:
Ja trabalhou com pessoas surdas? 0 Sim
Recebeu orientac;oes para trabalhar com surd as?
o Nao
o Sim o Nao
Quais as maio res dificuldades encontradas em sal a?
o Comunica,ao 0 Estrutura,ao de trases e textos
o Comunica,ao e avalia,ao 0 Adaptayao dos conteudoso Compreensao de palavras 0 Outras: _
Como solucionou as dificuldades?
o Procurou apoio par iniciativa propria 0 Nao recebeu apoio
o Recebeu apoio de professores e alunos
Qual a comunicac;ao utilizada pelo aluno?
o Mais LIBRAS do que tala
o LIBRAS e tala juntas
o Somente LIBRAS
o Somente ge5t05 naturais
Qual e a participa,ao da Escola Especial?
o Nao recebo apoio da Escola Especial
o Ha tracas de informac;oes e experiencias
o 0 trabalho da reabilitagao e importante e recebo orientac;6es periodicamente
Qual foi sua reac;:ao ao reeeber urn aluno surdo?
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o Fiquei apavorada I desesperada
D Normal
o Urn pouco ansiosa
D Fiquei apreensiva
Como e 0 relacionamento professor I aluno?
D
D
Bom
Olimo
DD
Amigavel
Ruim
Como e 0 relacionamento aluno J colegas?
D Bom D Amigavel
D Otimo D Ruim
Como e 0 comportamento do aluno em sala de aula?
D Bom D Calmo
D Distraido D Muito agitado
D Agressivo
Quais as principais barreiras encontradas ?
D Profissionais nao especializados.
D Falta de cursos preparatorios.
D Falta de materiais.
D Outros, _
Quais medidas adotadas pel a escola tiveram bons resultados?
Muito obrigada!
Luana Argenta Pereira
Curitiba, __ de de 2002
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