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UNIVERSIDADEDESÃOPAULOFACULDADEDEFILOSOFIA,LETRASECIÊNCIASHUMANAS
DEPARTAMENTODELINGUÍSTICAPROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMLINGUÍSTICA
MARCELOMARQUESRANGEL
Otraçodeanimacidadeeasestratégiasderelativizaçãoemportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental
(versãocorrigida)
SãoPaulo2017
MARCELOMARQUESRANGEL
Otraçodeanimacidadeeasestratégiasderelativizaçãoemportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental
(versãocorrigida)
Dissertaçãoapresentadaaoprogramadepós-graduação em Linguística da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidadedeSãoPauloparaobtençãodotítulodeMestreemLinguística.Áreadeconcentração:LinguísticaOrientadora:Prof.ªDr.ªElaineBicudoGrolla
Deacordo,
__________________________________________________Prof.ªDr.ªElaineBicudoGrolla
SãoPaulo2017
Autorizoareproduçãoedivulgaçãototalouparcialdestetrabalho,porqualquermeioconvencionaloueletrônico,parafinsdeestudoepesquisa,desdequecitadaafonte.
MARCELOMARQUESRANGEL
Otraçodeanimacidadeeasestratégiasderelativizaçãoemportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental
(versãocorrigida)
Dissertaçãoapresentadaaoprogramadepós-graduação em Linguística da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidadedeSãoPauloparaobtençãodotítulodeMestreemLinguística.Áreadeconcentração:LinguísticaOrientadora:Prof.ªDr.ªElaineBicudoGrolla
Aprovadoem:30/11/2016
BancaExaminadora:Prof.Dr.MarcosFernandoLopes UniversidadedeSãoPaulo(USP)
Presidente(membronão-votante) Assinatura:_____________________________
Prof.Dr.JairoMoraisNunes UniversidadedeSãoPaulo(USP)
Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________
Prof.ªDr.ªMarinaRosaAnaAugusto UniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro
Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________
Prof.Dr.MarcelloMarcelino UniversidadeFederaldeSãoPaulo
Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________
“Euvo-lodigo:éprecisoterumcaosdentrodesiparadaràluzumaestrelacintilante.Euvo-lodigo:tendesaindaumcaosdentrodevós.""Acriançaéainocência,eoesquecimento,um novo começar, um brinquedo, umarodaquegirasobresi,ummovimento,umasantaafirmação."
(FriedrichNietzsche)
ALuizaRangelGará.
AGRADECIMENTOS
Emprimeirolugar,gostariadeagradeceràminhaorientadora,Prof.ªElaine
BicudoGrolla,pormeacolherquandodecidiingressarnomundoacadêmico,peloapoio e todo o tempo dedicado a me guiar antes e durante meu percurso nomestrado.
Não menos importantes, agradeço aos membros da minha banca dequalificação:Prof.ªMarinaAugustoeProf.JairoNunes.Nãotenhodúvidasdeque,se há acertos neste trabalho, a Marina e o Jairo, além da Elaine (claro!) sãodiretamenteresponsáveisporeles.Muitoobrigadopeloscomentários,sugestõesepuxõesdeorelha(epelasrecomendaçõesparaessaversãocorrigida).
Nadadisso teria sidopossível senão fossepeloqueridoamigo (andolderbrother),Prof.MarcelloMarcelino.Nãoapenasvocêmeiniciounomundocientífico,mas também se tornou uma das pessoasmais queridas emminha vida. Não hápalavrasparaexpressarminhagratidãoportudoquevocêjáfezpormim.(Obrigadopelaajudacomalgunsdetalhesdessaúltimaversão).
SougratoaosprofessoresdoDLresponsáveispelasdisciplinasquecurseieque tiveram um grande impacto em minha formação acadêmica: Jairo Nunes,LucianaStortoeMarcosLopes.
Agradeçotambémaosmembrossuplentesdabancajulgadora:AnaMüller,LuanaAmaraleMariaCristinaFigueiredoSilva.
AgradeçoaosmeuscolegasdelinguísticadoLEALeàNatalieBoll-Avetisyan,pelasconversasquemeajudaramnessapesquisa.
Atrêspessoasmuitoqueridas:KarinVivanco,portodaadisposiçãoemmeajudardesdeo início;CamilladeRezende,pelaamizade,pelas risadase tambémpelosmomentosmaissérios;eRodrigoTrevisan,tambémpelaamizade,conversasemuitasrisadas.
Aosqueridíssimosamigosque,mesmocomadistância,jamaisdeixaramdemeapoiar emanter contato: CarolAssumpção, FabioLeandro, JuMonteiro, IvanZago,Jana,Edu,Ju,tioClis,Ane,LéoNicolia,SilStein,Déia,RodrigoJapa,RobsoneSilviaHelena.
ÀIr.SolangeetodosdocolégioEmiliedeVilleneuve,pormanteremasportasabertassemprequeprecisei.
Agradeço também a todas as crianças que participaram do nossoexperimentoeotornarampossível,assimcomoseuspaiseresponsáveis.
Aosmeuscompanheirosdemúsicae futebol,essenciaisparaminhasaúdemental:CarlosRenato,Deco,TiagoFrom,Maluf,TitaeosamigosdoDragãoF&C.
AosqueridosamigosLeandroeAnaLaura,peloincentivomoralepelaajudacomasfigurasdoexperimento.
Aos “Seveninos”, que sem titubear contribuíram comopuderam com essapesquisa: Cris Harumi, Carina Guiname, Cintia Rodrigues, Beth Felix, MauricioShiroma,PatriciaArima,VeraGherardini,KarenTiemieSílviaBeraldo.
ÀDeboraSchisler,porsempremeoferecerpalavrasdeincentivoeapoio.ÀtiaEunice,aprimeirapessoaquemefalousobrelinguística,antesmesmo
deeumematricularnocursodeletras.ÀtiaLibânia,que,commuitocarinho,meaguentadesdesempre.AoLuizFelipe,pormeajudarsemprequepreciseieserumexemplopara
mim.Obrigado,meuirmão.Agradeço à minha família: meus pais, Reinaldo e Marina, minhas irmãs,
RenataeBeatriz,emeucunhado,Edney.Devomuitoavocês,poissemseuapoio,jamaisteriadadocontadessaempreitada.Esperoqueseorgulhemdemim.
Porfim,agradeçoaduaspessoasqueentraramemminhavidademaneiraprovidencial:LuizaRangelGaráeJulianadeCarvalho.Saibamque,quandoestivemaispróximodedesistirdetudo,vocêschegaramememostraramquetudovaleuapena.
RESUMO_______________________________________________________________________________________________
Estadissertaçãoinvestigaocomportamentolinguísticodecriançasbrasileirasentre
4;0e6;11anosdeidade,acercadaproduçãodeoraçõesrelativasdeobjetodiretoe
de objeto preposicionado. Segundo Friedmann, Belletti e Rizzi (2009), essa
dificuldadeexistedevidoaotraço[+NP]presentenosujeitodarelativaenonúcleo
relativizado.Paraosautores,agramáticainfantilcomputaosujeitodarelativacomo
um elemento interveniente que impede a relativização do objeto, resultando em
umaviolaçãosemelhanteàMinimalidadeRelativizada(Rizzi,1990).Poroutrolado,
estudosexperimentaiscomoodeGennarieMacdonald (2008) indicamqueessa
dificuldadeestáausenteemrelativasdeobjetocontendoumsujeitoanimadoeum
núcleorelativizadoinanimado.Partindodessesestudos,desenvolvemosumatarefa
de produção eliciada com pares de figuras. Em nossosmateriais, controlamos o
traço de animacidade do sujeito da relativa e do núcleo relativizado, demodo a
observarquaisconfiguraçõesdeanimacidaderesultamemumamaiordificuldade
paraasrelativasdeobjeto.Nossosresultadossugeremqueasrelativasdeobjeto
diretomais difíceis contêm um sujeito inanimado. Isto ocorre uma vez que esta
posição sintática é comumente preenchida por um argumento animado (Becker,
2014). O frequente uso de estratégias de esquiva nessas relativas indica que
animacidadepossuiumpapeldeterminanteparafacilitaroudificultaraprodução
de relativas de objeto direto. No que diz respeito às relativas de objeto
preposicionado,nossosresultadosindicamquetodasasconfiguraçõesdotraçode
animacidade foram difíceis para nossos sujeitos de pesquisa, não sendo
determinanteaconfiguraçãodeanimacidadenessasrelativas.Sugerimosqueum
conjunto de fatores pode estar envolvido para a dificuldade observada nessas
construções: a ausência de relativas com pied-piping preposicional na fala dos
adultos;amaiorsimplicidadederivacionalemrelativaspreposicionadascomum
resumptivo nulo ou pronunciado (Roeper (2003); Lessa de Oliveira (2008)); as
relativas compied-piping preposicional dependem de seu ensino formal (Corrêa
(1998);GuastieCardinaletti(2003)).
PALAVRASCHAVE:oraçõesrelativas;animacidade;aquisiçãodelinguagem;estudo
experimental;portuguêsbrasileiroinfantil.
ABSTRACT_______________________________________________________________________________________________
This dissertation investigates the linguistic behavior of Brazilian children aged
between4;0and6;11,inrelationtotheproductionofdirectobjectandprepositional
object relative clauses. According to Friedmann, Belletti and Rizzi (2009), such
difficultyarisesduetothe[+NP]featurepresentintherelativeclausesubjectand
therelativizedhead.Totheauthors,thechildgrammartakestherelativesubjectas
aninterveningelementthathamperstherelativizationoftheobject,resultingina
violation resembling Relativized Minimality (Rizzi, 1990). On the other hand,
experimental studies like Gennari and Macdonald (2008) indicate that such
difficultyisabsentinobjectrelativesfeaturingananimatesubjectandaninanimate
relativizedhead.Basedonthesestudies,wedesignedanelicitedproductiontask
with pairs of pictures. In our experimentalmaterial, we controlled the animacy
featureinboththerelativesubjectandtherelativizedhead,soastocheckwhich
animacy configurations render the object relatives more difficult. Our results
suggest that direct object relatives becomemore difficult when they feature an
inanimatesubject.Thathappensbecausethesubjectpositionistypicallyfilledbyan
animateargument(Becker,2014).Thefrequentuseofavoidancestrategiesinthese
relativesindicatesthatanimacyplaysadeterminingroleinfacilitatingorhindering
the production of direct object relatives. Regarding the prepositional object
relatives,ourresultsindicatethatalltheanimacyconfigurationsweredifficultfor
our research subjects, so that animacy does not play a determining role in the
productionoftheserelatives.Wesuggestthatanumberofthingsmightbeinvolved
inthedifficultyobservedintheseconstructions:theabsenceofrelativesfeaturing
prepositionalpied-pipinginthespeechofadults;thebiggerderivationalsimplicity
inprepositionalrelativeswithanullorapronouncedresumptive(Roeper(2003);
Lessa de Oliveira (2008)); relatives featuring prepositional pied-piping require
formallearning(Corrêa(1998);GuastieCardinaletti(2003)).
KEYWORDS:relative clauses; animacy; languageacquisition; experimental study;
childBrazilianPortuguese.
LISTADETABELAS,GRÁFICOS,QUADROSEFIGURAS_______________________________________________________________________________________________Tabela1:Porcentagemderespostascorretasenºdecriançasquesecomportaramacima
doníveldechancenostestesdecompreensãoderelativasemFriedmannetal.(2009:76).....................................................................................................................................................69
Tabela2:Númeroderelativasproduzidas/totalpossívelemcadagrupo,porposiçãotestadaegrupodesujeitos...................................................................................................................98
Tabela3:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodireto.....................................................................................................................103
Tabela4:Númeroderelativasdeobjetodiretocomlacuna..........................................................104
Tabela5:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto.........105
Tabela6:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado.........................................................................................................................................107
Tabela7:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado.................................................................................................109
Tabela8:Númeroderelativasdeobjetopreposicionadocomlacuna.......................................110
Tabela9:Usoderelativasdeobjetodiretoepreposicionadocomlacunaeresumptivos..........................................................................................................................................................................119
Tabela10:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................122
Tabela11:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado]..........................................................................................................................................................................123
Tabela12:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................125
Tabela13:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado]..........................................................................................................................................................................126
Tabela14:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................128
Tabela15:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado]..........................................................................................................................................................................128
Tabela16:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................131
Tabela17:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado]..........................................................................................................................................................................132
Tabela18:Frequênciadeusoderelativasdeobjetodireto,emtodososgruposecondiçõesdeanimacidadetestadas......................................................................................................................133
Tabela19:Frequênciadeusodeumoutroverboaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas.........................................................................................134
Tabela20:Frequênciadeusoderesumptivosaoproduziumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas................................................................................................................135
Tabela21:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos...........................................................................................................................140
Tabela22:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].......................................................................................................................141
Tabela23:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionadocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos....................................................................................................................................143
Tabela24:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].......................................................................................................................144
Tabela25:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos...........................................................................................................................146
Tabela26:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].......................................................................................................................146
Tabela27:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos...........................................................................................................................149
Tabela28:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].......................................................................................................................150
Tabela29:Frequênciadeusoderesumptivosaoproduzirumarelativadeobjetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas......................................................................152
Tabela30:Frequênciadeusodeconstruçõessemumarelativaparaseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas................................153
Gráfico1:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodiretoemcadagrupo..................................................................................................................................................102
Gráfico2:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado.........................................................................................................................................107
Gráfico3:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado]..............121
Gráfico4:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado]..............124
Gráfico5:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado]..............127
Gráfico6:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado]...............130
Gráfico7:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].................................................................................................................................................139
Gráfico8:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].....................................................................................................................................................142
Gráfico9:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].................................................................................................................................................145
Gráfico10:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].....................................................................................................................................................148
Quadro1:ResumodosresultadosexperimentaisacercadasconstruçõesrelativasemFriedmannetal.(2009:81)..................................................................................................................71
Quadro3:PropostaemFriedmannetal.(2009:84)...........................................................................72
Quadro4:ResumodapropostaemFriedmannetal.(2009:84)acercadostiposdeintervençãoemconstruçõesrelativasnasgramáticasadultaeinfantil...........................73
Quadro5:Ascondiçõesdeanimacidadetestadasnoexperimento...............................................94
Quadro6:Exemplosdosmateriaisutilizadosnoexperimento.......................................................95
Quadro7:Osdiferentestiposderelativasdesujeito–estratégiasdeesquiva........................99
Quadro8:Tiposderelativaseasestratégiasderelativizaçãoempregadas............................100
Figura1:Omeninosujouabicicletavs.Omeninomolhouabicicleta.........................................94
Figura2:Acasaqueofuracãodestruiu.....................................................................................................98
Figura3:Ameninamolhouomenino.vs.Ameninasujouomenino.........................................120
Figura4:Ameninalambeuosorvete.vs.Ameninamordeuosorvete.....................................123
Figura5:Ofuracãoderrubouacoruja.vs.Ofuracãolevouacoruja...........................................126
Figura6:Achuvaderrubouovaso.vs.Achuvamolhouovaso....................................................129
Figura7:Ameninacolocouochapéunomenino.vs.Ameninatirouochapéudomenino..........................................................................................................................................................................138
Figura8:Omeninocolocouacordanacaixa.vs.Omeninotirouacordadacaixa..............141
Figura9:Aondatrouxeagarrafaprovelho.Vs.Aondalevouagarrafadovelho...............144
Figura10:Oventotrouxeoaviãodepapelpramesa.vs.Oventolevouoaviãodepapeldamesa..............................................................................................................................................................147
SUMÁRIO_______________________________________________________________________________________________
Capítulo1:INTRODUÇÃO...................................................................................................1
Capítulo2:AESTRUTURAEAAQUISIÇÃODASORAÇÕESRELATIVAS.............10
2.1.TipologiadasoraçõesrelativaseasestratégiasderelativizaçãodoPB.........10
2.2.Aestruturadasoraçõesrelativas.....................................................................................132.2.1.Chomsky(1977)eKayne(1994)...........................................................................................132.2.2.KatoeNunes(2009)....................................................................................................................232.3.2.GuastieShlonsky(1995)eGuastieCardinaletti(2003)............................................432.3.3.Grolla(2000)eLessadeOliveira(2008)...........................................................................49
2.4.Osujeitointerveniente..........................................................................................................67
2.5.Otraçodeanimacidadenasoraçõesrelativas............................................................82
Capítulo3:ESTUDOEXPERIMENTAL...........................................................................88
3.1.Oexperimento..........................................................................................................................90
3.2.Osinformanteseoscritériosdeinclusão/exclusão.................................................92
3.3.Osmateriais...............................................................................................................................93
3.4.Classificaçãodosdados.........................................................................................................96
3.5.Classificaçãodosresultados...............................................................................................97
3.6.Resultados...............................................................................................................................1023.6.1.EliciandoasrelativasdeObjetoDireto.............................................................................1023.6.2.EliciandoasrelativasdeObjetoPreposicionado..........................................................1063.6.3.Análiseediscussão.....................................................................................................................1113.6.4.RelativasdeObjetoDiretoeanimacidade.......................................................................1203.6.5.RelativasdeObjetoPreposicionadoeanimacidade....................................................1383.6.6.Análiseediscussão.....................................................................................................................150
3.7.Síntesedosresultados........................................................................................................154
Capítulo4:CONSIDERAÇÕESFINAIS.........................................................................156
4.1.Síntesedadissertação........................................................................................................156
4.2.AlgumasespeculaçõessobreaaquisiçãodasrelativasemPB.........................159
4.3.Possíveisdesdobramentosdestapesquisa...............................................................165
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.................................................................................166
Anexo:Estímulosutilizadosnoexperimento........................................................173
1
Capítulo1:INTRODUÇÃO_______________________________________________________________________________________________
As construções envolvendo subordinação, demodo geral, são pertinentes
para os estudos em gramática gerativa na medida em que seu debate abrange
questões centrais para o desenvolvimento da teoria, como movimento de
constituinteserecursividade.Umateoriasobrelinguagemadequadadeveabarcar
discussões acerca das propriedades de deslocamento de constituintes – a
propriedadedecertoselementossereminterpretadosemposiçõesdiferentesem
uma sentença –, alémde assumirquenãoháum limiteparao tamanhodeuma
sentençaemumalíngua.
Dentreasconstruçõessintáticasenvolvendosubordinação,diversosestudos
dãoàsoraçõesrelativasumaatençãoespecial.Umaoraçãorelativaéumasentença
encaixadaquemodificaumsintagmanominal(NP)nasentençasubordinante.Em
geral,éassumidoqueoelementorelativizadoencontra-seemumaposiçãoacima
deumelemento-Quoudeumcomplementizador.Oparadigma (1)exemplificaa
construçãoemfocoemportuguêsbrasileiro(PB),inglês,italiano,francêsehebraico,
respectivamente; o elemento relativizado está grifado, enquanto o
complementizador/elemento-Questáemnegrito.
1.
a. Eudirigiocarroqueomeninolavou.
(VivancoePires,2011:15)
b. Thisisthewomanthat/whoGrovertalkedto.
estaéamulherque/quemGroverconversoupara1
(McDanieletal.,1998:320)
c. L’hommequeJeanavu.
the-manthatJeanhasseen
o-homemqueJeanAUXver-PRT
(Guasti,2002:229)
1AstraduçõesdasglosasparaoPBnestetrabalhosãominhas.
2
d. Labambinachelamammastabaciando.
Thechildthatthemotheriskissing
ameninaqueamamãeestábeijando
(Utzeri,2007:289)
e. Tarelietha-parashe-menasheketetha-tarnegolet.
showto-meACCthe-cowthat-kissesACCthe-chicken
mostrepara-mimACCa-vacaque-beijaACCa-galinha
(Friedmannetal.,2009:70)
CombasenotrabalhodeTarallo(1983),emPBoral,aexpressãoquesefaz
presente independentemente da posição na qual o elemento relativizado é
interpretado na sentença subordinada. O elemento relativizado pode ser
interpretado em diferentes posições dentro da oração encaixada, sendo que, na
maioriadoscasos,esseelementopodeserretomadoporumpronomeco-referente
abertonaposiçãonaqualeleéinterpretado.Alémdisso,emgeral,nãoseobservao
usodepreposiçãoprecedendoquequandooelementorelativizadoéinterpretado
comoumPPna subordinada. Essabrevedescrição é ilustradanoparadigma (2)
abaixo:
2.
a. OJoãotemumaamigai[que___i/elaiémuitoatrapalhada].(Sujeito)
b. AMariadiscutiucomomeninoi[queeuconheço___i/elei].(ObjetoDireto)
c. AMariaviuomeninoi[queeudiscuti___i/comelei].(ObjetoIndireto)
d. OJoãoviuameninai[quevocêdeuolivro___i/paraelai].(Oblíquo)
e. OJoãoabriuagavetai[queeuguardooslivros___i/nelai].(Locativo)
f. AMariaviuomeninoi[queolivro___i/deleificounasala].(Genitivo)
Não apenas o PB, mas outras línguas também são capazes de relativizar
elementosinterpretadosemdiferentesposiçõessintáticas.DeacordocomKeenan
eComrie(1977:76–79),línguascomoalemão,espanhol,francês,gregomoderno,
3
hebraico,italiano,inglêserusso,entretantasoutras,seguemessepadrão2.Atéaqui,
falamos sobre a estrutura das relativas. Abaixo, passamos para resultados de
estudos sobre comportamentos de adultos e crianças com relação a essas
estruturas.
Váriosdosestudossobreacompreensãoeproduçãoderelativascomadultos
e crianças contrasta as duas construções cujos núcleos relativizados não são
preposicionados,asaberasrelativasdesujeitoeasrelativasdeobjetodireto(cf.
(2a-b)). Há consenso entre os linguistas acerca desses estudos: (i) existe uma
preferênciapelaproduçãoderelativasdesujeitoemdetrimentodasrelativasde
objeto(Belletti,2008e2009;BellettieContemori,2010;GuastieCardinaletti,2003;
Novogrodsky e Friedmann, 2006; Utzeri, 2007); (ii) as relativas de sujeito são
compreendidasmaisfacilmentedoqueasrelativasdeobjeto(Adani,2008;Bentea
etal.,2016;deVilliersetal.,1979;Friedmannetal.2009;Guastietal.2012).Em
outraspalavras,essesestudosindicamque,emcomparaçãoàrelativizaçãodeum
núcleo na posição de sujeito, as crianças (principalmente as mais novas) têm
dificuldade com relativas de objeto em tarefas de eliciação e de compreensão,
mesmoquandoháumcontextoemqueseesperaarelativizaçãodoobjeto.Porsua
vez,osadultosmostramumapreferênciapelousoderelativasdesujeito,alémde
esperaremqueumnúcleorelativosejareferenteaumarelativadesujeito.
EstudoscomoodeFriedmannetal. (2009)propõemqueessadificuldade
comas relativasdeobjeto estádiretamente relacionadaà semelhançaestrutural
entreosujeitodasubordinadaeonúcleorelativizado.Istoé,quandoosujeitoda
subordinadaeonúcleorelativizadocontêmumNPpleno,comoem“o[NPpolítico]
que o [NP senador] acusou”. Conforme veremos adiante, a semelhança estrutural
entre esses dois elementos tornaria o sujeito da subordinada um elemento
intervenienteparaomovimentodonúcleorelativizado,nosmoldesdeumaversão
maisrígidadoPrincípiodeMinimalidadeRelativizada(originalmentepropostopor
Rizzi,1990).Deacordocomaversãooriginaldesseprincípio,emumaconfiguração
2 Nem todas as línguas possuem diferentes posições sintáticas disponíveis para a relativização.Línguas comomalgaxe,maori e tagalog, por exemplo, apenas permitem construções relativas desujeito (KeenaneComrie,1977:76–79).Paraumadiscussãosobreaacessibilidadedesintagmasnominaispararelativização,cf.KeenaneComrie(1977).
4
como(3)abaixo,XeYnãopodementraremumarelaçãolocal,seZéumcandidato
empotencialparaessarelação.
3. X...Z...Y
CombasenoPrincípiodeMinimalidadeRelativizadaépossívelexplicarpor
que,emPB,apenasoselementos-Quemposiçãodesujeitosãoalçadosemsentenças
interrogativas contendo dois desses elementos. Nos exemplos abaixo, quem se
refereaumsujeitoeoqueserefereaumobjeto.Em(4a),éassumidoquequemé
alçado para uma posição mais alta na estrutura (para Spec CP), não havendo
nenhumoutro elemento-Quentre aposição sintáticaondequem se encontra e a
posiçãodepouso(ZeX,respectivamente).Nocasode(4b),oalçamentodeoque(Y,
em(3))“cruza”aposiçãodesujeito(Z),quecontémquem.Umavezquequemeo
quepossuemomesmotraço[+Q],(ambossãoelementos-Qunus),(4b)ébloqueado
pelo princípio de Minimalidade Relativizada. Isto é, quem é um elemento
intervenienteparaoalçamentodeoque.
4.
a. Quemfezoquê?
b. *Oquequemfez?
NapropostadeFriedmannet al. (2009), o traço [+NP], presente tantono
sujeito da subordinada quanto no núcleo relativizado, referentes a Z e Y,
respectivamente,noesquemaem(3)(enquantoXéaposiçãoparaondeoelemento
emYsemove),éresponsávelpeladificuldadeobservadanocomportamentoinfantil
com relativas de objeto. Para os autores, as crianças interpretam o sujeito da
subordinada como um candidato em potencial para a relativização. Por ter os
mesmostraçosdoobjetoeestaremumaposiçãomaispróximadaposiçãodepouso
doqueoobjeto,osujeitodasubordinadatorna-seumelementointervenientepara
o movimento do objeto, assim como em (4). Isso explicaria a preferência pela
produção de relativas de sujeito e a dificuldade na compreensão de relativas de
5
objeto por crianças. Os exemplos abaixo ilustram essa ideia de “Minimalidade
RelativizadaEstendida”.
5.
a. Oelefanteiqueoleãomolhou___i.
[+NP][+NP]
b. Oelefanteique___imolhouoleão.
[+NP] [+NP]
Em(5a),omovimentodoelementorelativizado(quecontémotraço[+NP])
cruzaumsujeitocontendoomesmotraço[+NP].Essaconfiguraçãotornaessetipo
de relativa mais difícil, uma vez que, para os autores, o leão é um elemento
interveniente,i.e.oleãoéumcandidatoempotencialparaarelativização.Porsua
vez,(5b)mostraumarelativadesujeito,naqualnãoháqualquertipodeelemento
quepossaintervirnomovimentodoitemrelativizado.
Osautoresconcluemqueascriançasaderemaumaversãomaisrígidado
princípiodeMinimalidadeRelativizada.Nestaversão“estendida”doprincípiode
Minimalidade Relativizada, uma especificação distinta de traços do alvo e do
elementointerveniente(elefanteeleãoem(5a),respectivamente)nãoéosuficiente
para que a sentença não seja bloqueada. Nessa proposta, “Minimalidade
RelativizadaEstendida”requerqueaespecificaçãodetraçosdesseselementosseja
disjunta.Deacordocomosautores:
“…the adult principle may be satisfied when the target has a featuralspecificationwhichisgloballydistinctfromthespecificationoftheintervenerinthatthetarget’sspecificationproperlyincludestheintervener’sspecification,inasuperset–subsetrelation[…]whereasthechildprincipleisviolatedinthiscaseasthestricterdisjointnessrequirementisnotmet.”
(Friedmanetal.,2009:84)
Apesar do consenso sobre a dificuldade das relativas de objeto, alguns
trabalhosexperimentaismostramqueessadificuldadepodesercontornadaaose
6
manipular as características do sujeito da subordinada e do núcleo relativizado.
Gennari e Macdonald (2007), por exemplo, manipulam o traço de animacidade
dessesdoiselementoseconcluemqueessamanipulaçãopodefacilitaroudificultar
a compreensão e produção dessas estruturas. Em seu experimento, as autoras
testaramadultos falantesnativosde inglês emuma tarefade leituramonitorada
(compreensão)eumatarefadepreenchimentodelacunas(produção),controlando
o traço de animacidade dos argumentos envolvidos em seus estímulos. Seus
materiaiscontavamcomsentençasemqueosujeitodasubordinadaeraanimadoe
o núcleo relativizado (interpretado na posição de objeto da subordinada) era
inanimado,evice-versa.Foiconstatadoquerelativascomo(6a),abaixo,sãomais
facilmente entendidas emais frequentemente produzidas do que relativas como
(6b).
6.
a. Ofilmeiqueodiretorassistiu___i.
[–animado][+animado]
b. Odiretoriqueofilmeagradou___i.
[+animado][–animado]
Paraasautoras,otraçodeanimacidadeforneceinformaçãoprobabilísticaao
ouvinte, modulando a possibilidade de interpretações alternativas enquanto a
sentença é produzida. Uma vez que nomes com o traço [+animado] geralmente
recebemos papeis temáticos de agente ou experienciador, típicos da posição de
sujeito,nomescomotraço[–animado]sãocomumenteinterpretadoscomootema
deumverbo.Comisso,aosedepararcomumnomee, logoemseguida,comum
morfema relativo (um complementizador ou um elemento-Qu), interpretações
alternativas são parcialmente ativadas pelo ouvinte/falante em função de sua
frequência e plausibilidade. Ou seja, de acordo com esse estudo, as relativas de
objeto são relacionadas com estruturas contendo um sujeito [+animado] e um
objeto[–animado].Consequentemente,estruturasemqueháumsujeito[–animado]
eumobjeto[+animado]nãosãorelacionadascomrelativasdeobjeto.
7
Tendocomobaseadificuldadenacompreensãoenaproduçãoderelativas
deobjetodevidoàsimilaridadedetraçosdosargumentosdasentença,eofatodea
manipulação do traço de animacidade dos argumentos poder facilitar a
interpretação desse tipo de estrutura, nosso estudo pretende investigar o
comportamentolinguísticodecriançasfalantesnativasdePBacercadaprodução
de orações relativas de objeto, controlando os traços de animacidade dos
argumentosenvolvidos.Nosmateriaisutilizados,asvariáveiscontroladasforamas
idadesdos informantes,os tiposdeoração relativa (deobjetodiretoedeobjeto
preposicional) eo traçodeanimacidadedosargumentosenvolvidosnasorações
eliciadas. Conforme apresentaremosmais adiante, nossosmateriais contemplam
nãoapenasasconfiguraçõesdeanimacidadeutilizadasnoexperimentodeGennari
eMacdonald(2007),mastambémconfiguraçõesemqueosargumentospossuem
traçosdeanimacidadeiguais.
Nossa proposta de trabalho é estudar o comportamento linguístico de
crianças em fase de aquisição do PB, acerca da produção de relativas de objeto,
manipulandootraçodeanimacidadedosnúcleosnominaisenvolvidosnaestrutura.
Emnossomaterialexperimental,utilizaremosoraçõesrelativasdeobjetodiretoe
preposicionado em que ambos o sujeito da subordinada e o núcleo relativizado
possuemo traço [+NP]– configuraçãoessaque,deacordocomFriedmannet al.
(2009), é mais custosa para crianças. Além disso, nessas orações relativas,
manipularemos o traço [±animado] do sujeito da subordinada e do núcleo
relativizado, demodo a testarmos se diferentes configurações podem facilitar a
produçãoderelativasdeobjeto.
Issoposto,nossahipótesedetrabalhoéaseguinte:
7.
a. Hipótesedetrabalho:
OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemáticoinfluenciamas
estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem sentenças
envolvendorelativas.
8
b. Hipótesenula:
O traço de animacidade de um NP e seu papel temático não
influenciam as estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem
sentençasenvolvendorelativas.
Se verificarmos que nossa hipótese, (7a), está correta, nossos resultados
estarãodeacordocomoutrosestudosnaárea,quedizemqueaconfiguraçãocom
sujeito [+animado] e um núcleo relativizado [–animado] é amais produtiva em
relaçãoàsrelativasdeobjeto.
Alémdisso,setambémverificarmosqueasrelativasenvolvendotraçosde
animacidade iguais são tão problemáticas quanto relativas com um sujeito [–
animado]eumnúcleorelativizado [+animado],o traçodeanimacidadepodeser
computadoparafinsde“MinimalidadeRelativizadaEstendida”,damesmamaneira
queasimultaneidadedotraço[±NP]nosujeitodarelativaenoobjetorelativizado
são computados em Friedmann et al. (2009), oferecendo suporte para essa
proposta.
Osobjetivosespecíficosdestapesquisasão:
8.
a. Testarcriançasde4;0a6;11deidadeeadultos(de20anosdeidadeoumais)
demodoaobservarasestratégiasutilizadasaoseeliciarrelativasdeobjeto
diretoepreposicionado;
b. Verificarseamanipulaçãodo traço [±animado]dosnúcleosnominaisnos
materiaisdoexperimentoresultamemumapreferênciapordeterminada(s)
estratégia(s);
c. Comparardadosdas crianças comos adultospara checar se, em todas as
faixas etárias testadas, as crianças já apresentam comportamento adulto.
Casonãoapresentem,detectaremqueidadeissoacontece;
d. Compararosresultadoscolhidosnosexperimentosdesteestudocomdados
obtidosporestudosanterioresdisponíveisnaliteratura.
9
Com base nos resultados de estudos anteriores, lançamos as seguintes
previsões:
9.
a. Ascriançasutilizarãoestratégiasdeesquivaafimdeevitararelativizaçãode
umelementoemposiçãodeobjetodiretoepreposicionado(Belletti,2008e
2009;BellettieContemori,2010;Costaetal.,2014;GrollaeAugusto,2016;
GuastieCardinaletti,2003;Labelle,1990,1996;NovogrodskyeFriedmann,
2006;Utzeri,2007);
b. Onúmeroderelativasdeobjetodiretoapresentaráumavariaçãodeacordo
com a manipulação do traço [±animado] (Bentea et al., 2016; Gennari e
Macdonald,2007;Gennarietal.,2012;Maketal.,2006);
c. Onúmeroderelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãoserá(próximo
de)zero(Labelle,1990;GuastieCardinaletti,2003;Tarallo,1983);
d. Os adultos produzirão mais orações relativas, seguindo a tarefa do
experimento,enquantoqueascrianças,principalmenteasmaisnovas,não
serão unânimes quanto ao uso de relativas em suas produções (Grolla e
Augusto,2016;Labelle,1990;McKeeetal.1998).
No próximo capítulo da dissertação, apresentaremos a fundamentação
teórica.ApresentaremosatipologiadasoraçõesrelativasdoPBeaspropostasde
análises mais aceitas na literatura e que serão relevantes ao nosso estudo. Em
seguida, discutiremos alguns trabalhos selecionados acerca da aquisição dessa
estrutura,demodoaapoiarnossaargumentaçãonessesestudos.
Oterceirocapítulodadissertaçãodizrespeitoàmetodologiaexperimental
quefoiadotadaemnossotrabalhoeaosdadoscoletadosesuaclassificação.Além
dedescreverodesenhodoexperimento,apresentaremososmateriaisutilizados,e
oscritériosdeseleçãodeinformantes,osresultadosobtidoseadiscussão.
Finalmente,noúltimocapítulo,apresentaremosnossasconsideraçõesfinais.
10
Capítulo2:AESTRUTURAEAAQUISIÇÃODASORAÇÕESRELATIVAS_______________________________________________________________________________________________
De modo a fundamentar teoricamente nossa pesquisa, dedicaremos este
capítulo para apresentarmos e discutirmos alguns trabalhos sobre a análise
sintáticadasrelativasesobresuaaquisição.
Na seção 2.1, apresentaremos a tipologia das orações relativas e as
estratégiasderelativizaçãodoPB,combasenotrabalhoseminaldeTarallo(1983).
Em seguida, na seção 2.2, discutiremos duas propostas de análise bastante
influentesnaliteraturasobrerelativização,asaber:apropostadomovimentodeum
elemento-Qu, ou de um operador nulo, para uma posiçãomais alta no sintagma
relativo (Chomsky (1977)) e a análise de alçamento do constituinte relativizado
(Kayne (1994)).Ato contínuo,na seção2.3, apresentaremoscomoapropostade
análisedeKatoeNunes(2009)lidacomasoraçõesrelativasdoPB.Naseção2.4,
discutiremosalgunstrabalhossobreaaquisiçãodasoraçõesrelativas.
2.1.TipologiadasoraçõesrelativaseasestratégiasderelativizaçãodoPB
Conformevimosnaprimeiraparte,asoraçõesrelativassecaracterizampor
apresentarem um núcleo que é interpretado tanto na oração matriz, quanto na
oração subordinada. Para refinarmos a descrição da estrutura em foco neste
trabalho,sefaznecessárioencontraroutraspropriedadescapazesdedistinguiras
oraçõesrelativasdeoutrasconstruções.ConformeapontaDeVries(2002:14),duas
dessaspropriedadessão:
1.
a. Umaoraçãorelativaéumasentençasubordinada;
b. Umaoraçãorelativaéligadaaumasentençamatrizpormeiodeumnúcleo.
Aomesmotempoemqueessaspropriedadesrestringemaspossibilidades
do que pode ser uma oração relativa, elas permitem variações encontradas em
11
diferenteslínguas.Essavariaçãoentrelínguas,somadaàsdiferentesclassificações
dessas estruturas, resulta em diferentes estudos sobre relativização, abordando
algumas dessas características. Por exemplo, Vivanco (2014) analisa as orações
relativasdalínguaKaritianacombasenaposiçãodonúcleorelativizado.Pormeio
de um estudo experimental, a autora analisa as relativas de núcleo interno e
relativasdenúcleoexterno,ambaspresentesnalíngua.
AquidescreveremosapenasostiposderelativasdisponíveisnoPB,combase
nas posições relativizáveis na língua e os diferentes tipos de estratégias de
relativização.
Como visto no paradigma em (2) do capítulo anterior, repetidos no
paradigma em (2a-d) abaixo, o PB permite a relativização de elementos
interpretados em diferentes posições sintáticas na oração subordinada e essas
posiçõespodemserocupadasounãoporumelementoresumptivocorreferenteao
elementorelativizado.Alémdasrelativasapresentadasnaintrodução,oPBpermite
quealgumasrelativascontenhamumapreposição,queéutilizadaantesde“que”ou
“quem” (nos casos em que o item relativizado contém o traço [+humano]). As
contrapartes preposicionadas de (2a-c), são (2a’-c’), respectivamente. Quanto às
relativas genitivas, exemplo (2d) acima, observamos o uso do pronome relativo
“cujo”/”cuja” no lugar de “que” (cf. 2d’). Todas essas relativas são encontradas
apenas em registrosmais formais ou na escrita, compondo o que é referido na
literaturacomoestratégiapadrão.
2.
a. AMariaviuomeninoi[queeudiscuti___i/comelei].(ObjetoIndireto)
a’. AMariaviuomeninoi[comquemeudiscuti___i].
b. OJoãoviuameninai[quevocêdeuolivro___i/paraelai].(Oblíquo)
b’. OJoãoviuameninai[paraquemvocêdeuolivro___i].
c. OJoãoabriuagavetai[queeuguardooslivros___i/nelai].(Locativo)
c’. OJoãoabriuagavetai[emque/ondeeuguardooslivros___i].
d. AMariaviuomeninoi[queolivro___i/deleificounasala].(Genitivo)
d’. AMariaviuomeninoi[cujolivro___ificounasala].
12
Comrelaçãoàsrelativascomresumptivos,umdosprimeirosestudossobre
ousodeconstruções relativasdiferentesdasconstruçõesdescritasnagramática
tradicionalfoiodeTarallo(1983).Nesseestudo,oautoridentificaduasestratégias
derelativizaçãoutilizadasemPB,diferentesdaestratégiapadrãoilustradaacima:a
estratégiaresumptiva,queenvolveousodeumelementoresumptivo,eaestratégia
cortadora, na qual não há uma preposição identificável quando o elemento
relativizado é interpretado como um sintagma preposicional na subordinada.
Partindodestaclassificação,temosasseguintesestratégiasderelativizaçãoemPB.
3. Estratégiapadrão(comumalacuna3naposiçãorelativizada)
a. ...ameninai[que___itrabalhoucomigo].(Sujeito)
b. ...omeninoi[queeuconheço___i].(ObjetoDireto)
c. ...opessoai[comquemeudiscuti___i].(ObjetoIndireto)
d. ...amoçai[paraquemvocêdeuolivro___i].(Oblíquo)
e. ...agavetai[emqueeuguardeioslivros___i].(Locativo)
f. ...oalunoi[cujolivro___ificounasala].(Genitivo)
4. Estratégiaresumptiva4
a. ...umameninai[queelaiémuitoatrapalhada].(Sujeito)
b. ...omeninoi[queeuconheçoelei].(ObjetoDireto)
c. ...apessoai[queeudiscuticomelai].(ObjetoIndireto)
d. ...amoçai[quevocêdeuolivroparaelai].(Oblíquo)
e. ...agavetai[queeuguardeioslivrosnelai].(Locativo)
f. ...oalunoi[queolivrodeleificounasala].(Genitivo)
3Entendemoscomolacunaumaposiçãosintáticafonologicamentenula,i.e.umacategoriavazia.Aolongo do texto, utilizaremos vestígios de movimento e/ou pronomes resumptivos nulos paraidentificarcadacategoriavaziadeacordocomaanáliserelevanteàpesquisa.4Aprincípio,todosostiposderelativasparecemaceitar,emPB,umelementoresumptivonaposiçãoemqueonúcleorelativizadoéinterpretado.Noentanto,asrelativasdesujeitoapenasaceitamumresumptivoquandoonúcleorelativizadoéprecedidoporumartigoindefinido.Seprecedidoporumartigodefinido,arelativaéinaceitável,comoem(ii),que,comparadaàversãopadrão(iii),ébastantedegradada.
(i) Euconheçoumameninai[queelaiémuitoatrapalhada].(ii) *Euconheçoameninai[queelaiémuitoatrapalhada].(iii) Euconheçoamenina[que__émuitoatrapalhada.]
Apesardeocontrasteacimaserbastanteinteressante,nãoestenderemosadiscussãoparaabordaressefatosobreasrelativasdoPB,poiselefogeaoescopodenossotrabalho.
13
5. Estratégiacortadora5
a. ...apessoai[queeudiscuti___i].(ObjetoIndireto)
b. ...amoçai[quevocêdeuolivro___i].(Oblíquo)
c. ...agavetai[queeuguardeioslivros___i].(Locativo)
d. ...oalunoi[queolivro___ificounasala].(Genitivo)
2.2.Aestruturadasoraçõesrelativas
Comoditonoiníciodestadissertação,asoraçõesrelativasrepresentamum
temamuito produtivo para os estudos gerativistas. Como consequência, existem
numerosaspropostasdeanáliseparaasoraçõesrelativaspresentesnaslínguasdo
mundo.Emumprimeiromomento,restringiremosnossaapresentaçãoaduasdelas:
aanálisetradicional,deChomsky(1977)eaanálisedealçamento,deKayne(1994),
jáqueumaapresentaçãoexaustivadasanálisesencontradasnaliteraturafogeao
escopodesse trabalho.Emseguida, apresentaremosapropostadeKato eNunes
(2009),emqueosautoresvisamaunificaraanálisedasoraçõesrelativasdoPBcom
basenaanálisedealçamento.Asanálisesdiscutidasabaixoforamescolhidasdadaa
suainfluêncianaliteraturaeasuapertinênciaparaessetrabalho.
2.2.1.Chomsky(1977)eKayne(1994)
Embuscadeumaanálisequepudessereduziroaparatogramaticalparaa
descrição do inglês e, consequentemente, limitar a classe de possíveis regras
gramaticais,reduzindoassimacomplexidadedateoriagramatical,Chomsky(1977)
propõe que as orações relativas envolvem movimento-A’, assim como as
interrogativas-Qu.
“I will assume [...] that wh-movement is what underlies restrictive andnonrestrictiverelativesanddirectandindirectquestions.”
(Chomsky,1977:87)
5SeguindoTarallo(1983),assumiremosqueaestratégiacortadoraserefereàsrelativascujosverbospedemumapreposição,queestáausentenasrelativas.Ascontrapartespreposicionadasde(5a-d)sãoasrelativas(4c-f).
14
A proposta de Chomsky que relaciona as interrogativas-Qu com orações
relativas,tambémconhecidacomoanálisetradicional6,foiamaisdifundidadurante
anos.Chomskyobservaqueasoraçõesrelativassãosensíveisàsmesmasrestrições
de movimento que as interrogativas-Qu. Com isso, o autor relaciona algumas
características gerais assumidas nas interrogativas-Qu em inglês às construções
relativas.Sãoelas:
6.
a. Omovimento-Qudeixaumvestígionaposiçãoondeeleéinterpretado;
b. Omovimento-Quécíclico-sucessivo;
c. Omovimento-QuésujeitoaoComplexNPConstraint;
d. Omovimento-Quésujeitoarestriçõesdeilha.
(AdaptadodeChomsky,1977:86)
As interrogativas e suas contrapartes relativas em (7) exemplificam as
característicaselencadasem(6),respectivamente.
7.
a. Quemiquevocêviutiontem?
a'. apessoai[queieuvitiontem]
b. Quemiquevocêacha[tiqueoJoãodisse[tiqueaMariabeijouti]]?
b'. apessoai[queieuacho[tiqueoJoãodisse[tiqueaMariabeijouti]]]
c. *Quemiquevocêouviu[orumor[queaMariabeijouti]]?
c’. *apessoai[queieuouvi[orumor[queaMariabeijouti]]]
d. *Comquemiquevocêimagina[quemkquetkconversouti]?
d’. *apessoai[comquemitemumameninak[quekoJoãoviutkti]]
6Kenedy(2002:12)comentaqueessemodelodeChomsky(1977)seconsolidouesetornouumareferência básica durante os anos 80, estando presente namaioria dos trabalhos sobre oraçõesrelativasnocontextodateoriadePrincípioseParâmetros,alémdeser tendênciamajoritárianaspesquisasdebasenoProgramaMinimalista.Por serumaabordagemdominantenosestudosemlinguísticateórica,essetipodeanáliseédenominadomodelotradicional.
15
ApropostaemChomsky(1977)éanalisarasoraçõesrelativascombaseno
movimento de um elemento-Qu para COMP, a posição mais próxima ao núcleo
relativizado.Muitostrabalhossebasearamnessaproposta,mantendoaideiadeque
há movimento-Qu para uma posição mais alta na sentença e se adequando aos
refinamentos e atualizações em teoria sintática. De Vries (2002), por exemplo,
apresentaaanálisetradicionalparaasoraçõesrelativascombasenomovimentode
umpronomerelativo,ouumoperadornulo(emrelativascomthat),paraSpecde
CP7.Consequentemente,onúcleonominalimediatamenteexternoàoraçãorelativa
égeradonabase,resultandonasestruturasem(8)(referentesa(7a'-d’)).
8.
a. apessoaqueeuviontem
[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPOPiqueeuvitiontem]]]
b. apessoaqueeuachoqueoJoãodissequeaMariabeijou
[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPOPiqueeuacho[CPtiqueoJoãodisse[CPtiqueaMariabeijouti]]]]]
c. *apessoaqueeuouvioboatoqueaMariabeijou
[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPOPiqueeuouvi[NPorumor[CPtiqueaMariabeijouti]]
d. *apessoacomquemtemumameninaqueoJoãoviu
[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPcomquemitemumameninak[CPOPkqueoJoãoviutkti]]]
(AdaptadodeDeVries,2002:84)
De acordo com essa análise, a interpretação do pronome relativo, ou do
operadornulo,épossívelgraçasaumaregradepredicaçãoquecoindexaonúcleo
relativizadoaopronomerelativo.Aoraçãorelativaévistacomoumaproposição
abertaqueésaturadapeloreferentedonomequeantecedeasubordinada.Desta
forma,pornãopossuiruma referência independente, opronomerelativo recebe
7Asrelativascontendoocomplementizadorthatteriamaseguinteestrutura(adaptadadeDeVries,2002:84):
(i) theguythatImetyesterday[NP[Dthe][N’[Nguy]i[CPOPithatImettiyesterday]]]
OmovimentodooperadornuloOPparaSpecCPgarantiriaacoindexaçãonecessáriaparaasaturaçãoda proposição aberta, representada pela oração relativa. Chomsky defende que essa construçãoenvolvendoooperadornuloOPnãoviolariaoFiltrodoCompDuplamentePreenchido,umavezqueapenasocomplementizadorthatseriapronunciadonaoração.
16
umainterpretação“anafórica”.Alémdisso,nessaproposta,aoraçãorelativaétida
comoadjuntodeN,queporsuavezégeradoforadaoraçãorelativa.
“TheruleofinterpretationforrelativesrequiresthattherelativebetakenasanopensentencesatisfiedbytheentityreferredtobytheNPinwhichitappears;hence there must be an NP in the relative that is interpreted as having noindependentreference–i.e.apronounwiththeappropriateinflectionsthatcanbegiventhe“anaphoric”interpretation.”
(Chomsky,1977:81)
Noentanto,algunsdadossugeremqueonúcleorelativizadoé,narealidade,
geradodentrodaoraçãosubordinadae,emseguida,alçadoparaumaposiçãomais
alta.Construçõesrelativascomousodeanáforas,que,deacordocomoPrincípioA
dateoriadeligação(Chomsky,1981),devemserc-comandadasporumreferente,
servemcomoevidênciaafavordeumaanálisedemovimentodoitemrelativizado.
9.
a. Johnipaintedaflatteringportraitofhimselfi.
b. *HimselfipaintedaflatteringportraitofJohni.
c. TheportraitofhimselfithatJohnipaintedisextremelyflattering.
d. *TheportraitofJohnithathimselfi/heipaintedisextremelyflattering.
(Schachter,1973:32)
10.
a. [JohnandMary]ishowedafleetinginterestin[eachother]i.
b. *[Eachother]ishowedafleetinginterestin[JohnandMary]i.
c. Theinterestin[eachother]ithat[JohnandMary]ishowedwasfleeting.
d. *Theinterestin[JohnandMary]ithat[eachother]ishowedwasfleeting.
(Schachter,1973:32)
Nos exemplos (9a), a anáforahimselfdeve ser c-comandadapor John, seu
antecedente.Ocontrário (9b)resultaemumasentençaagramatical.Porsuavez,
vemosem(9c)queaexpressãoanafóricapodeaparecerantesdeseuantecedente
17
emumaconstruçãorelativa,sugerindoquehouvealçamentodoconstituintepara
uma posição mais alta na derivação, a partir da posição de objeto de paint. A
agramaticalidadede(9d)podeserexplicadacombasenomovimentode Johnde
dentrodaoraçãorelativa,posiçãoestaqueéc-comandadaporhimself.
Oparadigmaem(10)mostraamesmarelação.OconstituinteJohnandMary
devec-comandaraexpressãoeachother(cf.(10a-b)).Agramaticalidadede(10c)e
a agramaticalidade de (10d) podem ser explicadas com base no alçamento do
elementorelativizado.Noprimeirocaso,JohnandMaryc-comandaeachotherantes
deseralçadoparaaposiçãodepouso.Omesmonãoacontecenosegundocaso.Each
other c-comanda John and Mary antes de seu alçamento, resultando em uma
sentençaagramatical.
TambémpodemosencontrarevidênciasenvolvendooPrincípioCdateoria
de ligação(Chomsky1981),que implicaaagramaticalidadedesentençasemque
expressõesreferenciaissãoc-comandadasporumpronome.8
11.
a. JohnithinksthatMaryhasanunfavorableopinionofhimi.
b. *HeithinksthatMaryhasanunfavorableopinionofJohni.
c. TheopinionofhimithatJohnithinksthatMaryhasisunfavorable.
d. *TheopinionofJohnithatheithinksthatMaryhasisunfavorable.
(Schachter,1973:32)
Vemos em (11a) que o pronome pode estar ligado a John,mas em (11b)
vemosqueaexpressãoreferencialJohnnãopodeterhecomoumantecedenteque
oligue.Ocontrasteentre(11c)e(11d)podeserexplicadoseassumirmosquehá
alçamentodoNP relativizado. Em (11c),opinion of himé c-comandadopor John
8Sauerland(2000)analisaasrelativasdoinglêsepropõequerelativascomo(i),quenãoapresentamefeitosdeCondiçãoC,nãosãoderivadasporalçamento.Paraoautor,onúcleorelativizadoeaposiçãointernaàoraçãorelativa(ondeonúcleoéinterpretado)sãorelacionadospormeiodeelipse.Destaforma,alémdelidarcomaaceitabilidadede(i),apropostatambémprevêefeitosdecrossover,comoem(ii).
(i) PicturesofJohniwhichheidisplaysprominentlyarelikelytobeattractiveones.(ii) *Picturesofanyoneiwhichheidisplaysprominentlyarelikelytobeattractiveones.
Paramaisdetalhessobreaproposta,cf.Sauerland(2000).
18
antesdeseualçamentoparaaposiçãorelativizada.Em(11d),oNPopinionofJohn
ocupa uma posição c-comandada pelo pronome he, resultando no contraste
observadoacima.
A versãomais difundida da análise de alçamento foi proposta por Kayne
(1994).PartindodotrabalhodeVergnaud(1974),Kaynepropõequeoconstituinte
relativizadoégeradodentrodaoraçãorelativaenucleadoporumpronomerelativo,
ocupandoaposiçãoD0.ApósoalçamentodesteconstituinteparaSpecCP,onúcleo
nominaléadjungidoaoDP.Emseguida,oCPrelativoseconcatenaaumDexterno,
formando a oração relativa. Os exemplos e suas estruturas em (12) ilustram as
construçõescomumpronome-Qurelativoeminglês.
12.
a. thepicturewhichBillsaw
the[CP[DPpicturei[DPwhichti]]k[C0[Billsaw[tk]]]]
b. thehammerwithwhichhebrokeit
the[CP[PPhammeri[PPwithwhichti]]k[C0[hebrokeit[tk]]]]
c. thepersonwhoBillsaw
the[CP[DPpersoni[DPwhoti]]k[C0[Billsawtk]]]]
(AdaptadodeKayne,1994:88-90)
Ospassosem(12a)sãoosseguintes:oconstituintewhichpictureéalçado
para Spec CP. Posteriormente, o núcleo nominal picture se adjunge ao DP e,
finalmente,háconcatenaçãododeterminanteexternotheaoCPrelativo.Omesmo
ocorrecom(12b),umarelativapreposicionada:apósoalçamentodoPPwithwhich
hammerparaSpecCP,onúcleonominalhammeréadjungidoaoPPehá,porfim,a
concatenaçãododeterminanteexternothe.
Comovemos,aderivaçãode(12c)segueosmesmospassosde(12a),como
DPwhopersonsemovendoparaSpecCPedepoisaadjunçãodepersonaoDP.No
entanto,épossívelseperguntarsobreaformaçãodoconstituintewhoperson,que
em inglês é agramatical. Em nota, Kayne (1994: 154) segue uma sugestão de
GiulianaGiusti,naqualwhopodesertomadocomoumaformadewhichqueaparece
sobconcordânciadeSpec-núcleocomumtraço[+humano]:[mani[whoti]].
19
Comrelaçãoàsrelativascomthateminglês,Kaynepropõequeháalçamento
doconstituinterelativizadoparaSpecCP,comoem(13)abaixo.
13. thepicturethatBillsaw
the[[NPpicturei][that[Billsaw[ti]]]]
(AdaptadodeKayne,1994:87)
Diferentementedasrelativasem(12),emKayne(1994),asrelativascomo
complementizador that envolvem apenas o alçamento do elemento relativizado
paraSpecCP.Oproblemaaquiésimilaraoquevimosem(12c):sawpicturenãoé
umVPbemformadoeminglês,i.e.elesnãoformamumconstituintegramatical.Para
contornaresseproblema,Bianchi(1999),quetambémdiferenciaasrelativascom
thatdasrelativascomumelemento-Qu9,propõequeoconstituinterelativizadoé
nucleado por um determinante Drel em relativas com that, para em seguida ser
licenciado via incorporação ao determinante externo. Dentro dessa proposta, a
estruturasintáticadeumarelativacomthatseria(14).
14. thebookthatIread
[DPDrel+the[CP[DPtDrel[DPbook]]i[CPthatIreadti]]]
(Bianchi,1999:171)
NoquedizrespeitoaodeterminantequeprecedeoCPrelativo,aproposta
deKayne(1994)exploraoseguintecontraste.
9Aanálisepropostaparaasrelativascomumelemento-QudeBianchi(1999)diferedaanálisedeKayne (1994), entre outros pontos, no que diz respeito à posição ocupada pelo constituinterelativizado.ComRizzi(1997),BianchiassumequeCPpossuidiversascamadaseexplicaqueofatode o inglês dispor de relativas comum elemento-Qu e relativas comum complementizador estárelacionadoàdisponibilidadedealgumasdessascamadas.Paraexplicarofatodequecertaslínguas,como o italiano, o espanhol e o francês, apenas dispõem de relativas com um elemento-Qu emrelativaspreposicionadas,aautorapropõequeháumamarcaçãoparamétricarelacionada.Algumaslínguas (e.g. o inglês) possuem um sistema em que TopoP pode hospedar um constituinterelativizado, enquanto que em outras línguas (e.g. línguas românicas) TopoP não possui essacaracterística.
20
15.
a. IhavetwopicturesofJohn’s.
b. *IhavethetwopicturesofJohn’s.
c. IfoundthetwopicturesofJohn’sthatyoulentme.(AdaptadodeKayne,1994:85-86)
Nosexemplosacima,vemosquetwopicturesofJohn’snãopodeserprecedido
pelodeterminantethe((15a)vs.(15b)),amenosquetwopicturesofJohn’sesteja
envolvidoemumaconstruçãorelativa,comoem(15c).
Tendo em mente o contraste entre os dois primeiros exemplos, Kayne
argumentaquethetwopicturesofJohn’snãoformaumconstituinteem(15c)eque,
nasconstruçõespossessivaseminglês,háumD0fonologicamentenulo,cujafunção
élicenciaroCasodeJohn;i.e.‘s.Nessaanálise,oconstituintetwopicturessemove
paraSpecDP,nopassoemqueapreposiçãooféinseridaemD0(cf.(16b)).Desta
forma,D0podelicenciaroCasodeJohn,salvandoaestrutura.Ouseja,asconstruções
envolvendopossessivos,comoem(15a),teriamumaderivaçãocomo(16)abaixo.
16.
a. D0[John[‘s[twopictures]]]
b. [twopictures]i[[Dof[John[‘s[ti]]]
(AdaptadodeKayne,1994:85-86)
Ainserçãododeterminanteem(15b)resultaemumasentençaagramatical
pois thenãoselecionaumcomplementoDP,nemégeradoemumaposiçãomais
baixa que ‘s; i.e. o complemento de ‘s não pode ser um DP. Kayne diz que a
gramaticalidade de (15c) pode ser explicada se as orações relativas forem
analisadascomocomplementosdeumdeterminante.Ouseja, indodeencontroà
análisedeChomsky(1977),emqueasrelativasseriamumpossívelcomplemento
deN,Kayne(1994)analisaasoraçõesrelativascomocomplementosdeD:[DPD0CP].
17. Ifoundthe[CP[twopicturesofJohn’s]ithatyoulenttime].
(AdaptadodeKayne,1994:86)
21
EssaanálisepropõequeaestruturadeumarelativacomothepicturethatBill
sawdevesercomoem(15);oNPrelativizadoéalçadoparaSpecCP,queporsuavez
énucleadopelocomplementizadorthat.
18. the[[NPpicture]i[that[Billsaw[ti]]]].
(AdaptadodeKayne,1994:87)
Partindodessaformulação,épossívelanalisaraambiguidadeem(19)abaixo
combasenoantecedentedoreflexivo.Considerandoquehimselfégeradoemuma
posiçãonaqualéc-comandadoporBill(dentrodaoraçãorelativa),apósthepicture
ofhimselfseralçadoparaSpecCP,oreflexivopodesereferirtantoaJohnquantoa
Bill.
19. Johniboughtthe[[pictureofhimself]i/k[that[Billksaw[ti]]]].
(AdaptadodeKayne,1994:87)
Oproblemacomessaanáliseéquesawpictureesawpictureofhimself,em
(15) e (16), respectivamente, não formam constituintes gramaticais em inglês,
sendonecessárioainserçãododeterminantetheparaelesserembemformados.No
entanto,issogerariarelativasagramaticais,como*thethepicturethat…e*thethe
pictureofhimselfthat….Paracontornaresseproblema,Bianchi(1999)propõeque
o constituinte relativizadopossui umdeterminanteDrel em relativas como (28a)
abaixo, que em seguida é licenciado via incorporação ao determinante externo.
Dentrodessaproposta,aestruturasintáticade(20a)seria(20b).
20.
a. thebookthatIread
b. [DPDrel+the[CP[DPtDrel[NPbook]]i[CPthatIreadti]]]
(Bianchi,1999:171)
Épossívelencontrarmosargumentosempíricosquesustentamaideiadeque
odeterminanteseencontraemumaposiçãoexternaaoCPrelativo.Arelativização
22
envolvendo expressões idiomáticas nos dãouma evidência a favor da análise de
alçamentocomumdeterminanteexterno.Observemosoparadigmaabaixo.
21.
a. Wemade(*the)headway.
b. *(The)headwaywassatisfactory.
c. Theheadwaythatwemadewassatisfactory.
(AdaptadodeSchachter,1973:31)
Comparando as sentenças em (21a) e (21b), vemosque o nomeheadway
ocupaaposiçãodeobjetodemake,naexpressãoidiomáticamakeheadway.Ouso
de um determinante como the imediatamente antecedendo headway torna essa
expressão inaceitável, enquanto que, em (21b), vemos que the deve preceder
headway quando este não está sendo usado em uma expressão idiomática. Ao
relativizaroobjetodemakeheadway,sentença(21c),notamosapresençadethe
antes de headway. Isso pode ser interpretado como um indício de que houve
alçamento do objeto da expressão idiomática, uma vez que ‘the headway’ não
poderiatersidogeradocomoobjetodemakenaexpressãoidiomática,comovisto
queéimpossívelem(21a).
AanálisedealçamentodeKayne,comamodificaçãopropostaemBianchi
(1999),claramentepossuivantagensemrelaçãoàanálisetradicional.Comovimos
acima,umaanáliseinvocandoomovimentodoconstituinterelativizadoéadequada
paralidarcomargumentosempíricosenvolvendooPrincípioAeoPrincípioC(cf.
(9),(10)e(11)).Alémdisso,diferentementedaanálisetradicional,nãoénecessário
estipularumaregradepredicaçãoligandoooperadornarelativaaoDPnasentença
matriz,umavezqueoDPrelativofoigeradodentrodaoraçãorelativaesemoveu
paraumaposiçãomaisalta.Tambémvemosqueaanálisedealçamentonãoestipula
aexistênciadeumoperadornuloemrelativascomumcomplementizador.
Portanto,nãoassumiremosqueasoraçõesrelativassãoderivadasapartir
domovimentodeumelemento-Qu,ouumoperadornulo,paraSpecdeCP.Neste
trabalho, vamos explorar a análise de alçamento, que envolve movimento do
constituinterelativizado,partindodedentrodasubordinada.
23
Osargumentosapresentadosemfavordessaanáliseforammajoritariamente
feitoscombaseeminglês,oquenoslevaaperguntarseessamesmaanálisepoderia
seraplicadaàanálisedasoraçõesrelativasdoPB.10Naseçãoseguinte,retomaremos
asestratégiasderelativizaçãodoPB,apresentadasnosparadigmas(3-5)acima,e
exploraremoscommaisdetalhesapropostadeKatoeNunes(2009),quesugerem
umaanáliseunificadaparaosdiferentestiposderelativasencontradasnoPB,com
basenomodelodealçamento.
2.2.2.KatoeNunes(2009)
Conforme vimos na seção 2.1, as orações relativas do PB podem ser
classificadas em três diferentes estratégias: a estratégia padrão, a estratégia
resumptiva e a estratégia cortadora (paradigmas em (3), (4) e (5) acima,
respectivamente).Emtodasessasestratégias,atestamosousoquasequeinvariável
dequecomoummorfemarelativo.Talfatonoslevaaperguntarsobreanaturezado
querelativo.
Comparandoasentença(22a)eminglêscom(22b)emPB,poderíamosdizer
queomorfemarelativosecomportacomoocomplementizadorthateminglês,com
aestrutura(simplificada)em(22c).
22.
a. thebookthatIbought
b. olivroqueeucomprei
c. [DPDext[CPNPrel[CPcomp[IP...]]]]
Kenedy(2002)apontaparaofatodeoquerelativopossuircaracterísticas
queodiferedeoutrosoperadoresrelativos(presentesemregistrosmaisformais,
porexemplo),comoquem,onde,o/aqual,os/asquais,cujo(a-s),etc.Deacordocom
oautor:
10Kayne(1994)utilizatambémalgunsexemplosdofrancês,romenoeitaliano.
24
“…quenãomanifestamarcasdegênero,númerooucaso…”(Kenedy,2002:83)
Kenedyargumentaafavordeumaanálisedoquecomocomplementizador
apontandoumadiferençaentreasoraçõesrelativaseasinterrogativas-Qu,asaber,
aimpossibilidadedeocorrênciadedois“ques”nasrelativas.Defato,enquantoque
asinterrogativas(23a)e(23c)sãoperfeitas,assuascontrapartesrelativasem(23b)
e(23d)sãoimpossíveisemPB.
23.
a. Oquequevocêviu?
b. *acoisaquequevocêviu
c. Quelivroquevocêleu?
d. *olivroquequevocêleu
(Kenedy,2002:84)
Deacordocomoautor, aocorrênciadedois “ques” épossível em(23a)e
(23c) uma vez que o primeiro que é derivado como um pronome interrogativo,
enquanto que o segundo que é um complementizador. Em outras palavras, o
pronomeinterrogativoocupaSpecCP,enquantoqueocomplementizadoraparece
em C0. Ao assumir que nas relativas o que é um complementizador, o elemento
relativizadoéalçadoparaSpecCP,nãohavendoumaposiçãoamaisparaosegundo
que.Portanto,Kenedy(2002)assumequeasoraçõesrelativasdoPBapresentam
umcomplementizadorqueaberto.
Noentanto,aoanalisarmosoparadigmaem(24),vemosqueoquenasrelativas
emPBnãosecomportaexatamentecomoocomplementizadorthateminglês.
24.
a. omarteloqueeuusei
b. thehammerthatIused
c. omartelocomqueeuconserteiisso
d. *thehammerwiththatIfixedthat
25
Aparentemente,(24a-b)secomportamdemaneiraidêntica,sugerindoque
que e that pertencem, na realidade, à mesma classe gramatical, i.e. ambos são
complementizadores.Entretanto,(24c-d)nosmostramque,enquantooquerelativo
doPBpode ser imediatamenteprecedidoporumapreposição, o that relativo se
comportademaneiraoposta.Defato,(24c)poderiaserparafraseadoapenascoma
substituiçãodoquerelativopelopronomerelativooqual(omartelocomoqualeu
conserteiisso),sugerindoqueoquerelativo,emPB,éumpronomerelativo.11Esse
éumdosmotivosqueguiamapropostadeKato(1993),revistaemKatoeNunes
(2009),quesugeremumaanáliseunificadaparatodosostiposderelativasdoPB.
Defato,umaanáliseunificadaémaisatraentedopontodevistateórico,uma
vez que ela abre a possibilidade de redução do aparato teórico, abordando as
diferentesestratégiasderelativizaçãosobumtipodederivação.
Aanálisepropostaestádeacordocomaderivaçãoderelativas-QuàlaKayne
(1994),envolvendoalçamentodoDPrelativo([DPWh[NP]])paraumaposiçãomais
altaemCP,queporsuavezénucleadoporumCnulo.Destaforma,asestruturas
sintáticasde(24a)e(24c)seriam(25a)e(25b),respectivamente.
25.
a. o[CP[DPmarteloi[DPqueti]k][C[IPeuuseitk]]]
b. o[CP[PPmarteloi[PPcom[DPti[DPqueti]]]k][C[IPeuconserteitkisso]]]
Na análise unificada das relativas em Kato e Nunes (2009), as orações
relativas do PB envolvem um determinante relativo, homófono com o
complementizadordeclarativoeodeterminante-QuinterrogativodoPB.Osautores
comparamousodosdeterminantesdemonstrativosesteeestacomoquerelativo
comoevidênciaparaessaproposta.Em(26a-b),osdemonstrativosesteeesta,como
todos os demonstrativos em PB, precedem seus complementos nominais. Já em
11Asrelativascompied-pipingpreposicionalnãosãocomunsemPBoral(Tarallo,1983).Construçõescomoasexemplificadasem(i-iii),abaixo,parecemsermaismarginaisnalínguareforçandoaideiadequeoquerelativonãoocupaonúcleodeCP,masaparececomoumpronomerelativo.
(i) ?aprofessoracomquemquemeuspaisfalaramontem(ii) *omeninoparaquemqueeudeiolivro(iii) *acanetacomaqualqueaminhamãeassinouocheque
26
(26c-d), vemos que esses mesmos demonstrativos se comportam de maneira
semelhanteaumdeterminanterelativonamedidaemqueelesnãopodempreceder
seus complementos nominais. Isto é, eles se comportam como umdeterminante
relativo, dotado de um traço [+N] forte e desencadeandomovimento do núcleo
nominal(algoquenãoacontececomosdeterminantes-Quinterrogativos).
26.
a. Elecomprouestelivro/*livroeste.
b. Elecomprouestarevista/*revistaesta.
c. Elesemprecitaumlivro,livroeste/*estelivroquenaverdadenãoexiste.
d. Omeutimeeraofavorito,posiçãoesta/*estaposiçãoqueatraíatodaaatenção.
(KatoeNunes,2009:97-98)
Finalmente,Kato eNunes (2009) explorama assimetria entreopronome
interrogativo quem sua contraparte homófona relativa, em (27a-c) e (28a-c)
respectivamente.
27.
a. Quemviuoprofessor?
b. Quemoprofessorviu?
c. Comquemoprofessorconversou?
(KatoeNunes,2009:98)
28.
a. *apessoaquem___viuoprofessor
b. *apessoaquemoprofessorviu___
c. apessoacomquemoprofessorconversou___
(KatoeNunes,2009:98)
(27a-c) ilustramqueoquem interrogativopodedesempenhara funçãode
sujeito,objetodiretooucomplementodepreposição,respectivamente.Entretanto,
o quem relativo somente pode ser usado como complemento de preposição (cf.
27
(28c)),i.e.oquemrelativonãopodeserusadoemumarelativadesujeitoouuma
relativa de objeto direto (cf. (28a-b)). Ao analisar oque como um determinante
relativo,enãocomoumcomplementizador,osautoressugeremqueessaassimetria
podeserexplicadacombasenofenômenodealternânciaque-quiemrelativasdo
francês(cf.29a-b).KatoeNunespropõemqueomesmofenômenoéobservadonas
relativaspreposicionadasdoPB(cf.29c-d).
29.
a. QuelleétudianteaJeanditqui/*queviendra?
quealunoaux.Jeandissequem/quevirá
b. [[quelleétudiante]iaJeandit[CPti[que[IPtiviendrati]]]
qui
c. apessoacomquemoprofessorconversou
d. [DPa[CP[PPpessoai[PPcom[DPti[DPqueti]]]k][CPC[IPoprofessorconversoutk]]]]
quem
(KatoeNunes,2009:101)
Em francês, a alternânciaque-qui ocorre quandoumnúcleo funcional (no
caso,que)seencontraentredoisvestígiosadjacentesdeumelementocomotraço
[+humano].Comisso,oquirelativodofrancêsnãoéumitemlexicalbásico,masum
itemlexicalderivadoapartirdaconfiguraçãoobservadaem(29b).Omesmopode
serditodoquemrelativo,emcomparaçãoaoqueminterrogativo.AestruturadoPB
em(29d)possuiamesmaconfiguraçãodaestrutura(29b)dofrancês,naqualquem
éobtidoquandoseencontraentredoisvestígioscomotraço[+humano],enquanto
oqueminterrogativo(cf.27a-c)é,narealidade,umitemlexicalbásico.
Frente a esses argumentos, assumiremos em nosso trabalho, com Kato
(1993), e Kato e Nunes (2009), que o que nas relativas não é um
28
complementizador12, mas um determinante relativo, gerado junto ao núcleo
relativizado dentro da oração subordinada, que em seguida é adjungido ao CP
relativo.Emseguida,nocasodasrelativasnãopreposicionadas,onúcleonominalé
adjungidoaDP,enquantoquenasrelativaspreposicionadas,apóshaveradjunção
donúcleonominalaDP,eleéadjungidoaPP13.
No que concerne a estrutura sintática das relativas do PB, Kato e Nunes
partemdaobservaçãoemKato(1993),queobservaumacertasemelhançaentrea
formadasrelativasnão-padrãoeelementosdeslocadosàesquerda:elespodemser
retomadosporumpronomeabertoounulo.
30.
a. [esselivro]i,eleiémuitobom
b. [esselivro]i,eucompreieleiontem
c. [esselivro]i,euestavaprecisandodeleiontem
(KatoeNunes,2009:109)
31.
a. [esselivro]i,euentrevisteiapessoaqueescreveuproi
b. [esselivro]i,eufaleicomumalunoqueestavaprecisadoproiontem
(KatoeNunes,2009:109)
Paraosautores,osexemplosem(31)indicamquenãohouvemovimentodo
elemento deslocado à esquerda. Enquanto que em (31a) o DP esse livro é
interpretado como complemento de escreveu, em (31b) esse livro é interpretado
comocomplementodeprecisando,umverboquerequerousodepreposição.Como
oelementodeslocadoàesquerdaéumDP,nãoumPP,KatoeNunesanalisama
posiçãorelativizadacomoumproresumptivo.
12ParaumaanálisedasrelativasdoPBemqueoquerelativoétratadocomoumcomplementizador,cf.Kenedy(2002).13ParaumadiscussãoacercadasrazõespelasquaisaderivaçãodasoraçõesrelativasdoPBenvolveadjunçãoemvezdeconcatenação,cf.KatoeNunes(2009:101-107).
29
Desta forma, considerando que em PB o que relativo funciona de modo
análogo ao which relativo do inglês, os autores propõem que a diferença nas
estratégiasderelativizaçãoemPBestádiretamenterelacionadaàposiçãodeonde
oelementorelativizadoéalçadoparaseadjungiraCP.Comisso,asderivaçõesdos
trêstiposdeoraçõesrelativasobservadasnoPBsãoilustradasem(32-34):
32. Estratégiapadrão
a. aquelapessoaquecomprouolivro
[DPaquela[CP[DPpessoai[DPqueti]]k[CPC[IPtkcomprouolivro]]]]
b. olivroqueaquelapessoacomprou
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[IPaquelapessoacomproutk]]]]
c. olivrodequevocêprecisa
[DPo[CP[PPlivroi[PPde[DPtiqueti]]]]k[CPC[IPvocêprecisatk]]]]
33. Estratégianão-padrãocomresumptivosabertos
a. umaamigaqueelaémuitoengraçada
[DPuma[CP[DPamigai[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPelakémuitoengraçada]]]]]
b. olivroqueoJoãosemprecitaele
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPoJoãosemprecitaelek]]]]]
c. olivroquevocêvaiprecisardele
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêvaiprecisardelek]]]]]
34. Estratégianão-padrãocomresumptivosnulos
a. olivroqueeuentrevisteiapessoaqueescreveu
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPeuentrevisteiapessoaqueescreveuprok]]]]]
b. olivroquevocêestavaprecisando
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêestavaprecisandoprok]]]]]
(KatoeNunes,2009:114-115)
Conformeseverificaem(32),asrelativasderivadaspormeiodaestratégia
padrãoenvolvemalçamentodoelementorelativizado(oDPquepessoaem(32a),o
30
DPquelivroem(32b)eoPPdequelivroem(32c))dedentrodeIPparaSpecCP,
seguidodoalçamentodoNPrelativizado,queéadjungidoaoDP/PP.
Porsuavez,nasduasestratégiasnão-padrão,oDPrelativoéalçadodeuma
posição acima de IP, a saber de LD14. Assim como na estratégia padrão, após o
alçamento do DP relativo para Spec CP, há subsequente alçamento do NP
relativizado,queéadjungidoaoDP.Naposição internaàoraçãorelativa,ondeo
elementorelativizadoéinterpretado,háumpronomeresumptivocoindexadoaoDP
relativo. A diferença entre as estratégias não-padrão está no tipo de pronome
resumptivo.Em(33),opronomeresumptivoépronunciado,enquantoqueem(34),
eleénulo.
KatoeNunesexplicamaausênciadapreposiçãoem(34b)sugerindoquea
preposição de, presente em construções envolvendo o verbo precisar, é uma
realização de caso inerente, não sendo necessário que ela seja realizada na
derivação.
“Assuming that insertion of prepositions for purposes of inherent Caserealization is subject to Last Resort, the preposition will surface in case theobjectisovert;whenitisnull,thereisnoneedforittoshowup.”
(KatoeNunes,2009:110)
Aparentemente,hádoiscasosdeambiguidadeestruturalprovenientesdessa
análise: as relativas de sujeito e as relativas de objeto direto ((35a) e (35b),
respectivamente).Porapresentaremumacategoriavazianasposiçõesdesujeitoe
objetodireto,nãoseriapossíveldizerseessasrelativassãoderivadasenvolvendoo
movimentoquepartedeumaposiçãoargumentalouseessemovimentopartede
umaposiçãodedeslocamentoàesquerda.
14Emnota,osautoresafirmamqueotipodeprojeçãoatribuídoaLDnãoérelevanteparaadiscussão:“ItisimmaterialforthepresentdiscussionwhatkindofprojectionLDinthestructuresthatfollowreallyis.AllthatmattersisthatitisthepositionthathostsleftdislocatedmaterialandisbetweenIPandCP.”(KatoeNunes,2009:112)
31
35.
a. apessoaqueeccomprouolivro
b. apessoaqueeuviec
Contudo,algunsestudos,comoFerreira(2000,2009),mostramqueoPBnão
possuiresumptivosnulosnaposiçãodesujeito.Considerandoqueoraçõesrelativas
se comportam como ilhas sintáticas, apenas um pronome resumptivo pode
preencher a posição de sujeito de comprou em (35a) e (36a). Considerando a
agramaticalidade de (36b), Ferreira indica que resumptivos nulos não são
licenciadosnaposiçãodesujeitoemPB:
36.
a. [apessoa]iqueeuliolivroqueelaicomprou
b. *[apessoa]iqueeuliolivroqueproicomprou
Com isso, podemosdizer que as relativas de sujeito emPB sãoderivadas
exclusivamentepormeiodaestratégiapadrão.15
Noentanto,nãoépossívelaplicaromesmotipodetesteparaverificarotipo
decategoriavaziapresentenasrelativasdeobjetodireto,umavezqueoPBlicencia
objetosnulos,nãoexibindosensibilidadeailhassintáticas(Ferreira,2000;Galves,
1989;Kato,1993).
37.
a. [olivro]iqueeuentrevisteiapessoaqueescreveuelei
b. [olivro]iqueeuentrevisteiapessoaqueescreveuproi
NuneseSantos(2009)mostramqueépossíveldefiniro tipodecategoria
vaziaem(37b)verificandoapresençaouaausênciaderetraçãodeacento.Partindo
dos trabalhos de Santos (2002, 2003), a retração de acento em PB ocorre
15Issoexplicaaausênciadeumarelativadesujeitonosexemplosem(34).
32
opcionalmenteemumsintagmafonológicoΦ,emcontextoscontendodoisacentos
primáriosadjacentes.Essapropostaéilustradaabaixo.
38.
a. [oDavi]Φ[coMEU]Φ[BOlo]Φ → reestruturação
b. [oDavi]Φ[coMEUBOlo]Φ → retraçãodeacento
c. [oDavi]Φ[COmeuBOlo]Φ(NuneseSantos,2009:123)
SegundoSantos,umproentredoisitensdeummesmosintagmafonológico
impossibilitaaretraçãodeacentoemumcontextosimilaraoapresentadoem(38).
Ouseja,em(39),ondeprointervémentrecomproueontem,nãopodehaverretração
deacento.
39. OJoãodissequeaMariacomprouproontem.
[comPROUproONtem]Φ
#[COMprouproONtem]Φ
Santosmostraqueháumaassimetriaentreproeumvestígiodemovimento
quantoàaplicaçãoderetraçãodeacento.Deacordocomaautora,umvestígioentre
doisacentosprimáriosadjacentesnãoécomputadoparafinsderetraçãodeacento.
Os exemplos em (40) envolvem uma categoria vazia na posição de objeto e um
antecedentenaperiferiaesquerdadasentença.(40a),umexemplodetopicalização,
indica que, quando há retração de acento, a categoria vazia é um vestígio de
movimento.Porsuavez,em(40b)acategoriavazianãoé interpretadacomoum
vestígiodemovimento,umavezqueelaseencontradentrodeumaoraçãorelativa,
umailhasintática.Nessecaso,apossibilidadederetraçãodeacentonãoéverificada.
33
40.
a. [essasárvores]iaMariadisse[queelapodoutiontem].
[poDOUtiONtem]Φ→retraçãodeacento
[POdoutiONtem]Φ
b. [essasárvores]i,aMariapagouojardineiro[quepodouproiontem].
[poDOUproiONtem]Φ
#[POdouproiONtem]Φ
(NuneseSantos,2009:124)
Combasenestaproposta,podemosdizerqueasrelativasdeobjetodiretoem
PBpodemenvolveralçamentoapartirdeumaposiçãoargumental,resultandoem
umaoração relativa padrão, ou a partir de LD, resultando emuma relativa não-
padrãocomumresumptivopronunciadoounulo.
Nesta seção sobre a estrutura das orações relativas, contrastamos duas
propostasbastanteinfluentesnaliteraturasobreasrelativas:aanálisetradicional,
deChomsky (1977) e a análisede alçamento,deKayne (1994), argumentandoa
favor da segunda análise, com umamodificação baseada no trabalho de Bianchi
(1999).Emseguida,apresentamosapropostadeKatoeNunes(2009),queanalisam
as relativas do PB demaneira unificada. Diferentemente de outras análises, que
tomamo“que”relativoemPBcomoumcomplementizador(assimcomoothatem
inglês), Kato e Nunes (2009) analisam-no como um determinante relativo. Para
essesautores,asestratégiaspadrãoenão-padrãodiferem,entreoutrospontos,no
quedizrespeitoàposiçãodealçamentodoconstituinterelativizado.Nasrelativas
padrão,oalçamentoocorrededentrodoIP,enquantoquenasrelativasnão-padrão,
oDPrelativoéalçadodeLD,umaposiçãoacimade IP.Paradeterminarmossea
categoriavazianasrelativasdesujeitodizrespeitoaumvestígiodemovimentoou
umpronomeresumptivonulo(pro),vimosqueestudoscomoodeFerreira(2000,
2009)propõemqueoPBnãopossuiresumptivosnulosnaposiçãodesujeito.Por
suavez,asrelativasdeobjetodiretoconfiguramumcasodeambiguidadeestrutural,
umavezqueoPBlicenciaobjetosnulos(Ferreira,2000;Galves,1989;Kato,1993).
34
DeacordocomNuneseSantos(2009),asrelativasdeobjetodiretopodemenvolver
alçamentotantodeumaposiçãoargumentalemIP,quantodeLD.Noprimeirocaso,
obtemosumaoração relativapadrãoeapossibilidadede retraçãodeacento.No
segundo caso, temos uma relativa não-padrão, com um resumptivo nulo, e a
impossibilidadederetraçãodeacento.
Emvistadasapresentaçõeseargumentaçõesfeitasnestaseção,analisaremos
nossos dados com base em Kato e Nunes (2009), assumindo que o constituinte
relativizadoéumDP,contendoumdeterminanterelativoque.
Na seção seguinte, abordaremos os trabalhosmais relevantes para nossa
pesquisa acerca da aquisição das relativas nas línguas naturais. Também
apresentaremos trabalhos que propõem explicar a dificuldade observada na
produçãoenoprocessamentoderelativasdeobjetocombasenascaracterísticas
estruturais do sujeito da relativa. Finalmente, veremos dois trabalhos sobre o
processodeaquisiçãodasrelativasemPB.
2.3.Aaquisiçãodasrelativasnaslínguasnaturais
Hádiversostrabalhosnaliteraturasobreaaquisiçãodasoraçõesrelativas.
Por ser um tema abrangente, esses trabalhos abordam diferentes pontos, por
exemplo a (in)existência de movimento-Qu na derivação das relativas infantis
(Guasti&Cardinaletti,2003;Guasti&Shlonsky,1995;Labelle,1990,1996),ouso
de pronomes resumptivos por crianças (Grolla, 2004, 2005a, 2005b); McKee e
McDaniel,2001;Shlonsky,1992),osestágiosnoprocessodeaquisiçãodasrelativas
em PB (Grolla, 2000; Lessa de Oliveira, 2008), a dificuldade de crianças com
relativas envolvendopied-pipingpreposicional (Corrêa, 1998; Costa et al., 2014;
Kenedy, 2007) e a assimetria no processamento de relativas de sujeito e objeto
(Belletti,2008,2009;BellettieChesi,2011;BellettieContemori,2010;Bellettietal.,
2012;Benteaetal.,2016;Friedmannetal.2009;GrollaeAugusto,2016;Miyamoto
eNakamura,2003;Utzeri,2007;entreoutros),dentreoutrostópicos.
Nesta seção, primeiramente contrastaremos a proposta de Labelle (1990,
1996)comaspropostasdeGuastieShlonsky(1995)eGuastieCardinaletti(2003)
35
no que diz respeito à operação de movimento-Qu nas relativas. Em seguida,
apresentaremos alguns dados dos estudos de Grolla (2000) e Lessa de Oliveira
(2008)paraoPB,relacionando-oscomousodasestratégiasnãopadrão,asabera
estratégia resumptiva e a estratégia cortadora. Por fim, analisaremos alguns
trabalhossobreaassimetrianoprocessamentodasrelativasdesujeitoedeobjeto,
combasenapropostadeFriedmannetal.(2009),quepropõeque,emrelativasde
objeto, o sujeito da subordinada atua como um elemento interveniente para o
movimento do núcleo relativizado, acarretando problemas para a produção e o
processamentodeestruturasenvolvendodependências-A’.
2.3.1.Labelle(1990)
Em um experimento envolvendo uma tarefa de produção eliciada com
criançasde3a6anosdeidade,falantesdefrancêscanadense,Labelle(1990)analisa
1.348 orações relativas produzidas pelas crianças testadas e argumenta que as
oraçõesrelativasdofrancêscanadenseinfantilnãoenvolvemomovimentodeum
elemento-Qu para Spec CP. Para a autora, os dados das produções eliciadas não
apresentam evidências de que há movimento-Qu na relativização nessa língua
infantil.Aautora,então,ressaltadoispontos:emprimeirolugar,ascriançasfalantes
de francês canadense empregammovimento-Qu nas interrogativas; em segundo
lugardadosdeestudoscomcriançasfalantesdeinglêssugeremqueomovimento-
Qu é adquirido relativamente cedo nas relativas. Labelle propõe que as orações
relativassãofrutodeumaregradepredicaçãosimples,quecoindexatodaaoração
relativaaumNPantecedente.
“…the relative clauses produced by the children tested do not show overtpresence of aWHword in CP, although this is obligatory in adult standardFrench.[…]therelativeclausesproducedbythechildrendonotseemtorequirethe presence of an element in the clause that would be coindexed with theantecedent..”
(Labelle,1990:117)
36
Ométodo utilizado por Labelle (1990) consiste em uma apresentação de
pares de figuras em preto e branco. Em cada figura, o objeto ou o personagem
correspondente ao alvo da relativização estava envolvido em uma atividade
diferentedaatividadedoobjetooupersonagemmostradonasegundafiguraeera
esperado que as crianças produzissem relativas de sujeito, objeto direto, objeto
indireto, locativo e genitivo. Ao apresentar um par de figuras, a pesquisadora
perguntavaparaacriança“Surquel[X]est-cetuvasmettretoncollant?”(Emque
[X]vocêquercolocarseuadesivo?).
Noparadigmaabaixo, vemosexemplosde relativasem francês canadense
envolvendoasposiçõessintáticasestudadaseaestratégiapadrãodalíngua(istoé,
a estratégia de relativização que envolveria movimento-Qu, de acordo com a
autora):
41. Estratégiapadrãoemfrancêscanadense
a. Sujeito: Lafille[[qui]___court]
Thegirl[[that]___runs]
ameninaquecorre
b. Obj.Direto: Laballe[[que]legarçonlance___]
Theball[[that]theboythrows___]
abolaqueameninojoga
c. Obj.Indireto: Lafille[[àqui]lamadamefaitunsourire___]
Thegirl[[towhom]theladysmiles___]
ameninaparaquemamulherfazumsorriso
d. Locativo: Laboîte[[danslaquelle]lafilleestcachée___]
Thebox[[inwhich]thegirlishiding___]
acaixaemqueameninaestáescondida
e. Locativo: Laboîte[[où]lafilleestcachée___]
Thebox[[where]thegirlishiding___]
acaixaondeameninaestáescondida
37
f. Genitivo: Lagarçon[[dont][lechien___]dort]
Theboy[[ofwhom][thedog___]sleeps]
“Theboywhosedogsleeps”
omeninodequemocachorrodorme
(Labelle,1990:97)
Labellereportaousofrequentedeestratégiasnão-padrãonosdadosinfantis.
Istoé, assimcomovimosparaoPBnosparadigmas (3), (4)e (5)acima,Labelle
reportaousodeestratégiasnão-padrãoemfrancês,comoousodepronomeseNPs
resumptivos, e com lacunas, semelhantes aos exemplos das relativas
preposicionadascomumpronomeresumptivonuloemPB.Algunsexemplosdessas
produçõesseguemabaixo.
42. Estratégiacompronomesresumptivosemfrancêscanadense
a. Sujeito: Lapetitfillequ’aestassissutlaboîte
“Thelittlegirlthat-sheissittingonthebox”
apequenameninaque-elaestásentadasobreacaixa
b. Obj.Direto: Surlaballequ’i(l)l’attrape
“Ontheballthat-heitcatches”
sobreabolaque-eleelapega
c. Obj.Indireto: Celle-làquelepapaluimontreundessin
“That-onethatthefatherto-hershowsadrawing”
aqueopapaia-elamostraumdesenho
d. Locativo: Surlaboîtequelecamionrentrededans
“Ontheboxthatthetruckgoesinside-it”
sobreacaixaqueocaminhãovaidentro-ela
e. Genitivo: Surlepetitgarçonquesonchieni(l)dort
“Onthelittleboythathisdoghesleeps”
sobreopequenomeninoqueseucachorroeledorme
(Labelle,1990:98-102)
38
43. EstratégiacomNPsresumptivosemfrancêscanadense
a. Obj.Direto: Surlaballequ’i(l)lancelaballe
“Ontheballthat-hethrowstheball”
sobreabolaque-elejogaabola
b. Obj.Indireto: Cellequelamamanarêveàunemaison
“The-onethatthemothersheis-dreamingofahouse”
aqueamamãeelaestá-sonhandocomumacasa
c. Locativo: Surlaboîtequelapetitefilleestdeboutsurlaboîte
“Ontheboxthatthelittlegirlisstandingonthebox”
sobreacaixaqueapequenameninaestáem-pésobreacaixa
(Labelle,1990:100)
44. Estratégiacomlacunaemfrancêscanadense
a. Obj.Direto: C’estlaballequ’i(l)dessine
“It’stheballthatheis-drawing”
éabolaqueeleestá-desenhando
b. Obj.Indireto: Surlapetitefillequelemonsieuri(l)montreundessin
“Onthelittlegirlthatthemanheis-showingadrawing”
sobreapequenameninaqueohomemeleestá-mostrandoumdesenho
c. Locativo: Surlaboîtequelapetitefilleelleembarque
“Ontheboxthatthelittlegirlshegoes”
sobreacaixaqueapequenameninaelaembarca
d. Genitivo: Surlepetitgarçonquelechieni(l)estassis
“Onthelittleboythatthedogheissitting”
sobreopequenomeninoqueocachorroeleestásentado
(Labelle,1990:100)
Emsuaanálise,Labelleexploraofatodenãohaverproduçõescontendoum
elemento-Qu(pronunciado)emseusdados,comonassentenças(41c-f).Aautora
assume que as relativas envolvem o uso do complementizador que em CP, de
maneiraanálogaàsrelativascomthateminglês.Paraaautoradaausência,nãohá
movimentodeumelemento-QupartindodaposiçãorelativizadaparaSpecCP.
39
SegundoLabelle,aexistênciadaestratégiaresumptivaseriaumaevidênciaa
favorde suaproposta, umavezquenãohá sentenças interrogativasnasquais o
vestígio do elemento-Qu movido é realizado foneticamente. Para a autora, as
criançasatéos6anosdeidadeutilizamumaregradepredicaçãoquecoindexaum
NPantecedenteaoCPrelativoparaaformaçãodasoraçõesrelativas.Essarelação
daoraçãorelativacomseuantecedenteérepresentadaem(45).
45. [NP]i[CP]i
(Labelle,1990:105)
Esse índiceé equivalenteaumoperador lambda,que toma todaaoração
comoumargumento, transformando-o emumadescriçãodapropriedadedoNP
antecedente. Ou seja, Labelle assume que a relação de predicação é obtida
pragmaticamente,jáquenãohaveriaumavariávelassociadaaoseuantecedente.O
operadorlambdatomatodaaoraçãorelativacomoumapropriedadedoelemento
relativo.
46.
a. [NPLamaison]i[CPquelamamandort]i
acasaqueamamãedorme
b. Lamaison[λique[lamamandort]i]
“Thehousethatthemotheris-sleeping”
(Labelle,1990:107)
Em seus dados, Labelle atesta o uso de qui pelas crianças nas relativas
resumptivas de sujeito. Emoutros trabalhos (como emGuasti, 2000), essequi é
analisado como o resultado da relação de concordância entreque e um vestígio
nominativo ou um operador em Spec CP. Para defender sua análise, Labelle
argumentaqueoquinessasproduçõesé,naverdade,oresultadodasequênciade
um complementizadorque, cuja vogal final é apagada, e uma forma reduzida do
pronomemasculinoil,resultandoemqu’i(cf.(47a)abaixo).Labelledizqueomesmo
40
ocorrenasocorrênciasdequ’a.Segundoaautora,issoseriaumexemploenvolvendo
umaformareduzidadopronomefemininoelleprecedidadequ’(cf.(47b)).
47.
a. qu’i[ki]=queil
b. qu’a[ka]=queelle
(Labelle,1990:102)
Emrelaçãoàproduçãoderelativasdesujeitocomlacuna,nasquaistambém
éobservadoousodequi,aautoraanalisaoquicomoumcomplementizador.Nesse
caso, a alternância que-qui ocorre devido à presença do operador lambda
coindexadoaumavariávelvazianaposiçãodesujeito(cf.(48)).
48. celle[λxique[xilancelaballedeneige]
“Theonethatis-throwingthesnowball.”
aqueestá-jogandoabola-de-neve
Com isso, Labelle mantém a proposta de que não há movimento-Qu na
relativizaçãoinfantil,mesmofrenteàocorrênciadequ’inasrelativasdesujeito.16
Suapropostatambémdizqueadiferençaentreasrelativasdofrancêsinfantiledo
francês adulto é que na segunda gramática, hámovimento-Qu. As operações de
relativizaçãoenvolveriamasestruturasabaixo:
16 Labelle ainda atesta a ocorrência de 29 relativas com où (onde, em PB) e um antecedentepronunciado,comoem(i).Noentanto,oùnãoéanalisadocomoumelemento-Qupelaautora,umavez que ele foi usado de maneira “genérica”, não se referindo diretamente ao seu antecedente,conformevemosem(ii).
(i) Surlaboîteoùlavoiturerentre.“Ontheboxwherethecaris-going”.
(ii) Surlapetitefilleoùellemetsonpyjama.“Onthelittlegirlwheresheis-puttingherpyjamason”.
(Labelle,1990:109)
↑qui
41
49.
a. Gramáticainfantil b. Gramáticaadulta
(Labelle,1990:107)
Noentanto,LessadeOliveira(2008)observaumasituaçãocontroversana
análisedeLabelle(1990).Aautoraverificaque,das383relativasdesujeitocomum
antecedente femininonosdadosde Labelle (1990), 280 (73,1%) continham [ki],
enquantoqueapenas103(26,9%)eramencabeçadaspor[ka].ParaLabelle,oscasos
em que as relativas de sujeito foram introduzidas por [ki] envolvem uma
neutralizaçãodogênerodopronomenaposiçãodesujeitodaoraçãorelativa.Ou
seja,essaneutralizaçãofazcomqueacriançause[ki]independentementedogênero
doantecedente.SegundoLabelle,essefenômenopodeserobservadoemproduções
como(50)abaixo.
50. Pasquelamamanicouchedansuneautremason.
“Becausethemotherhesleepsinanotherhouse”.
(Labelle,1990:105)
LessadeOliveira(2008)comenta:
“…devemos considerar que, se casos como o exemplo [acima] não foremgeneralizadosnafalainfantil,estesnãoserãosuficientementerepresentativospara serem tomados como evidência de que a criança faz esse tipo deneutralização, quando realiza qui com antecedentes femininos. A autora,porém,nadaesclarecesobreafrequênciadeexemplossemelhantes[…]nafalainfantil..”
(LessadeOliveira,2008:100)
42
OutropontocontroversonaanálisedeLabelle(1990)éofatodeascrianças
estudadasseremcapazesdeformularsentençasinterrogativascomoalçamentodo
elemento-Qu. Se a autora assume que na gramática adulta hámovimento-Qu na
formação de orações relativas, e esse tipo de movimento é atestado nas
interrogativas-Qu infantis, por que as crianças não aplicam o mesmo tipo de
operaçãoparaformaçãodeoraçõesrelativas?
Umterceiroponto,levantadoporGuastieShlonsky(1995),estárelacionado
àrazãoeamaneirapelaqualascriançasdeixamdeladoarelativizaçãocombasena
predicação,pararelativizarcombaseemmovimento,assimcomoLabellepropõe
paraagramáticaadulta.DeacordocomLabelle,ascriançasaospoucosdeixamde
usarumaestratégiadepredicaçãobaseadanodiscursoemfavordeumaestratégia
sintática.Considerandoqueosmecanismosdemovimento-Quem interrogativas,
inclusive compied-piping preposicional, estão disponíveis desde cedo, um outro
fatordeveria lidarcomaassimetriaentreas interrogativaseasrelativasparaas
crianças. Na proposta de Labelle, as crianças mudam de uma estratégia de
predicaçãoparaumaestratégiasintática, tornando-semaisprodutivasquantoao
uso de orações relativas. Entretanto, essa proposta cria um problema de
descontinuidade.ConformeapontaGrolla(2010):
“Thisaccountofchildren’sapparentlackofwh-movementinrelativeclausesinsemantictermscreatesadiscontinuityproblem.Shesuggestedthataschildrenbecomemore productive in their use of relatives, they shift from a semanticstrategytoasyntacticstrategy.However,itisnotclearhowproductivitydrivesthisshift.”
(Grolla,2010:41)
Além disso, a análise de Labelle está, em parte, baseada na ausência de
relativascompied-pipingpreposicionalemseusdados.Noentanto,ousodequinas
relativasdesujeitoeas lacunasnasrelativasdeobjetodireto(semumpronome
resumptivo)poderiamindicarquehámovimento-Qunaderivaçãodasrelativasem
43
francêsinfantilequeaausênciaderelativaspreposicionadaspoderiaindicarquehá
umadificuldadeinerentecompied-pipingpreposicional17.
Finalmente,napropostadeLabelle,ousodepronomesresumptivosétido
comoevidênciadequenãohámovimentonasrelativasinfantis.Conformeaponta
Grolla (2010), se isso estiver certo, podemos prever que esses resumptivos
desapareceriam nas construções relativas assim que as crianças começassem a
derivarasrelativasviamovimento.Porém,issonãoéobservado,jáqueemfrancês
adultooral,ousoderelativascompronomesresumptivosécomum.18
Naseçãoquesegue,discutiremosostrabalhosdeGuastieShlonsky(1995)e
de Guasti e Cardinaletti (2003), ambas baseadas no alçamento do constituinte
relativizado(àlaKayne,1994).
2.3.2.GuastieShlonsky(1995)eGuastieCardinaletti(2003)
GuastieShlonsky(1995)reanalisamosdadosemLabelle(1990)assumindo
umaanálisealinhadaàpropostadeKayne(1994).Paraosautores,asrelativasdo
francês envolvemumcomplementizadorque/qui, alémdomovimentodeumDP
relativodedentrodaoraçãosubordinadaparaSpecCP,nocasodas relativasde
sujeito,deobjetodiretoeasrelativasnão-padrão(cf.51a).Porsuavez,asrelativas
preposicionadas, presentes nos registros mais formais do francês, envolvem o
movimentodeumPPcontendooelemento-QuparaCPesubsequentealçamentodo
DPrelativoparaseadjungiraCP(cf.51b).
51.
a. [DP[D'[Dla][CP[DPballei][C’[Cque][IPlepetitgarçonlance[DPti]]]]]]
17Paraumapropostasobreaanti-naturalidadedepied-pipingpreposicional,cf.McDaniel,McKeeeBernstein(1998),paraoinglês,eKenedy(2010),paraoPB.18Grolla(2005)apontaparadadosdeaquisiçãodorusso,deBar-ShalomeVinnitskaya(2004),emqueascriançasadquirindoessalínguapassamporumestágioemqueelasproduzemrelativascomumoperador-QucomomesmoCasosintáticodaposiçãorelativizadaeapresençadeumpronomeresumptivo.DeacordocomGrolla:“...theRussiandatashowusthatwhetherornotchildrengothroughastagewheremovementrelativesareabsent,thiscannotbethesolereasonwhytheyproduceRPsastheydo.”(Grolla,2005:42)
44
b. [DP[D'[Dla][CP[DPpetitfillei][CP[PPàquiti]k[C’[Cø][IPlemonsieurmontre
undessin[PPti]k]]]]]
(GuastieShlonsky,1995:261,262e265)
Partedamotivaçãoparaestapropostavemdaobservaçãodequeumaparte
de uma expressão idiomática, como advantage em take advantage, pode ser
precedidaporumdeterminanteemumaestruturarelativa,indicandomovimento
desseconstituinteàlaKayne(1994).
52.
a. Johntook(*the)advantageofthesituation.
b. Howmuch(*the)advantagedidJohntakeofthesituation?
c. *(the)advantagethatJohntookofthesituation
(AdaptadodeGuastieShlonsky,1995:260)
Assim como na discussão sobre o paradigma em (20) (na seção sobre a
propostadeKayne(1994)),em(52a-c)vemosqueaexpressãotakeadvantagenão
admite ousododeterminante the amenosqueadvantage seja alçadoparauma
posiçãomaisalta,i.e.amenosqueadvantagesejaumnúcleorelativizado,precedido
deumdeterminanteexterno.Destaforma,GuastieShlonskyanalisamasrelativas
dofrancêscomopossuindoamesmaestruturadasrelativascomthateminglês.
Osautorespropõemqueadificuldadequeascriançasapresentamcomas
relativas preposicionadas se deve à ausência de elementos-Qu relativos em sua
gramática. Ou seja, uma relativa como (51b) seria impossível na gramática da
criançaatéqueelaadquirisseesseselementos.
“Thematurationoflinkingoperatorsopensthewaytotheproductionofpied-pipedrelativesbecausethesedependontheavailabilityofrelativeoperators.”
(GuastieShlonsky,1995:274)
Para sustentar sua proposta e explicar a razão de as crianças produzem
interrogativascomoalçamentodepreposição,masnãorelativascomoem(51b),
Guasti e Shlonsky argumentam que operadores relativos possuem propriedades
45
diferentesdoselementos-Quinterrogativos,dentreelasaassociaçãoaumnúcleo
relativizado.Paraosautores,umoperadorrelativoservepararelacionarumnúcleo
relativizado (nosexemplosacima,umantecedente)aumavariáveldentrodoCP
relativo.Porsuavez,oselementos-Qu interrogativosnão têmumantecedente.A
proposta,então,ébaseadanamaturaçãodagramáticainfantil,queapenaspermitirá
construçõesrelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãoquandoosoperadores
relativosestiveremdisponíveisparaacriança.
Postoisso,épossívelnosquestionaracercadaestruturadasrelativasnão-
padrãoemfrancêsadulto.Considerandoqueasrelativasnão-padrãosãocomuns
em francês adulto (Guasti, 2002; Guasti e Cardinaletti, 2003) e que as relativas
oblíquas sem pied-piping preposicional são entendidas como o resultado da
ausência de operadores relativos na gramática infantil, qual seria a estrutura
sintáticadessaconstruçãonagramáticaadulta?
Guasti e Cardinaletti (2003) oferecem uma explicação para a ausência de
pied-pipingpreposicionalnasoraçõesrelativasnas línguasromânicas.Asautoras
analisam orações relativas eliciadas em dados do italiano infantil e do francês
infantil.Seuestudoenvolve30criançasfalantesdeitaliano,entre5;1e10;0anosde
idade, e 18 crianças falantes de francês, entre 4;5 e 7;3 anos de idade. Foram
apresentados contextos para a eliciação de diferentes tipos de relativas (sujeito,
objetodireto,objetoindireto,locativasegenitivas).Osdadoscolhidospelasautoras
foramclassificadosemdoistipos:relativasconvencionais(equivalentesàestratégia
padrão) e relativas não-padrão. De acordo comGuasti e Cardinaletti, essas duas
variedades de relativas estão presentes tanto na gramática infantil, quanto na
gramáticaadultadaslínguasromânicas,sendoqueasrelativasconvencionaisfazem
parteda escrita ede registros formais, e as relativasnão-padrão são comunsna
línguacoloquial.
Segundo as autoras, as relativas convencionais são introduzidas pelos
complementizadorescheequenocasodasrelativasdesujeitoedeobjetodireto,em
italianoefrancêsrespectivamente,ouporumpronomerelativoprecedidodeuma
46
preposição,nocasodasrelativasdeobjetoindireto19(cf.(53a-c)paraosexemplos
emitalianoe(53d-f)paraosexemplosemfrancês).Porsuavez,asrelativasnão-
padrão são invariavelmente introduzidaspelos complementizadores cheeque, e
podemapresentarumelementoresumptivonaposiçãorelativizada(cf.(54a-c)para
osexemplosemitalianoe(54d-g)paraosexemplosemfrancês).20
53. Relativasconvencionais/padrão
a. Relativadesujeito
Ilragazzochehavintoilpremio
theboythathaswontheprize
omeninoqueAUXganhar(PRT)oprêmio
b. Relativadeobjetodireto
IlragazzocheMariahainvitato
theboythatMariahasinvited
omeninoqueMariaAUXconvidar(PRT)
c. Relativadeobjetoindireto
Ilragazzoacui/alqualehairegalatoillibro
theboytowhom(you)havegiventhebook
omeninoparaquem(você)AUXdar(PRT)olivro
d. Relativadesujeito
Lafillequiestpartie
thegirlthathasleft
ameninaqueAUXsair(PRT)
19Umavezquenossoestudoconcerneapenasasrelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicional,nãoapresentaremosasobservaçõesfeitaspelasautorasacercadasrelativas locativasegenitivas.Paradetalhessobreasproduçõeseanálisenotrabalho,cf.GuastieCardinaletti(2003).20Cf.Grolla(2005c,2010)paraaapresentaçãoediscussãodediversosestudossobreresumptivosem orações relativas infantis, como Bar-Shalom e Vinnitskaya (2004), para russo, Goodluck eStojanovic (1996), para serbo-croata, Grolla (2004) para PB, Labelle (1990, 1996), para francêscanadense,McKeeeMcDaniel (2001),para inglês,ePérez-Leroux(1995),para inglêseespanhol,VarlokostaeArmon-Lotem(1998),paragregomodernoehebraico.
47
e. Relativadeobjetodireto
Lafillequej’aivu
thegirlthatI-haveseen
ameninaqueeu-AUXver(PRT)
f. Relativadeobjetoindireto
Lafilleàquij’aidonnéunlivre
thegirltowhomI-havegivenabook
ameninaparaquemeu-AUXdar(PRT)umlivro
(GuastieCardinaletti,2003:49-50)
54. Relativasnão-padrão
a. Relativadeobjetodiretocomresumptivo
C’èunochelochiamanoCuba
there-isonethat(they)himcallCuba
éumqueochamamCuba
b. Relativadeobjetoindiretocomlacuna
Èilcoltellochehotagliatolatorta
(it)istheknifethat(I)havecutthecake
éafacaqueAUXcortar(PRT)obolo
c. Relativadeobjetodiretocomresumptivo
Sonountipocheglipiacerischiare
(I)amafellowthatto-him‘pleases’[to]risk
souumapessoaquepara-eleagradaarriscar
d. Relativadesujeitocomresumptivo
Voicilecourrierqu’ilestarrivécesoir.
here-isthemailthat-itisarrivedtonight
aqui-estáacorrespondênciaque-elaAUXchegar(PRT)estanoite
e. Relativadeobjetodiretocomresumptivo
L’hommequejeleregarde
the-manthatIhimam-looking-at
o-homemqueeuovejo
48
f. Relativadeobjetoindiretocomresumptivo
VoicilamaisonqueMarieypenseencore
Here-isthehousethatMarieof-itthinksstill
aqui-estáacasaqueMarienelapensaainda
g. Relativadeobjetoindiretocomlacuna
L’hommequejeparle
the-manthatIspeak
o-homemqueeufalo
(GuastieCardinaletti,2003:51-52)
Asautorasverificaramqueousodeumapreposiçãoprecedendoopronome
relativo foi evitado por todas as crianças até 10 anos de idade. Essa observação
condiz com outros estudos sobre a ausência de pied-piping preposicional na
produçãoeliciadaderelativascomo,porexemplo,otrabalhodeMcDaniel,McKeee
Bernstein (1998) sobre o inglês infantil. Nesse estudo, as crianças produziram
relativascomprepositionstranding.
DiferentementedapropostadeLabelle(1990),queassumequeasrelativas
em francês infantil não envolvem o movimento do constituinte relativizado ou
movimento-Qu (cf. Seção 2.4.1.), Guasti e Cardinaletti (2003) assumem que o
conhecimentodascriançasnãoéfundamentalmentediferentedoconhecimentodos
adultos. Para as autoras, tanto a gramática infantil quanto a gramática adulta
derivam orações relativas com base nomovimento-Qu. No caso das relativas de
sujeitoedeobjetodireto,asconstruçõespossuemocomplementizadorcheouque
(qui no caso das relativas de sujeito em francês), além do movimento de um
operadorrelativonulodaposiçãorelativizadaparaSpecCP.
De acordo com as autoras, a ausência de relativas com pied-piping
preposicionalnagramáticainfantilpossuiumarelaçãodiretacomaausênciadesse
tipodeconstruçãonafalacoloquialdosadultos.Comisso,aaquisiçãodasrelativas
preposicionadas depende do aprendizado dos pronomes relativos envolvidos
nessasconstruções,osquaissãoaprendidosduranteosanosescolares.
Para Guasti e Cardinaletti (2003), as relativas preposicionadas são
aprendidaspormeiodeumprocessoparecidocomoqueocorrenaaprendizagem
49
de uma segunda língua. Portanto, a ausência de relativas preposicionadas nas
produções das crianças estudadas é um reflexo da aquisição tardia dessas
construções,quedependedaescolaridadedos indivíduos,nãode suamaturação
linguística.
2.3.3.Grolla(2000)eLessadeOliveira(2008)
Grolla(2000)apresentaumestudolongitudinalsobreaperiferiaesquerda
dasentençaemPBcomdadosdeproduçãoespontâneadeumacriançabrasileira,
N., dos 2;0 aos 4;0 anos de idade. Por estudar diferentes construções, Grolla
consideraumrefinamentodaestruturadoCPnosmoldesdeRizzi(1997),ilustrado
abaixo.
55.
(Grolla,2000:15)
50
Nessesistema,ForcePeFinPexpressamrelaçõesrespectivamentecomuma
sentençaouumelementomaisalto,ecomoconteúdodaproposição(IP).Sendo
assim,Rizzireconhecequeessasprojeçõesforneceminformaçõessobreoqueestá
foradasentençaedentrodela.Asprojeçõesintermediárias–TopP21eFocP–são
relacionadas a articulações de tópico-comentário e de foco-pressuposição
respectivamente.Naprimeira, SpecTopPé capazdeabrigar a informaçãovelha,
enquanto o comentário é composto de um predicado complexo, que traz a
informaçãonova(cf.(56a)).Porsuavez,SpecFocPtrazumanovainformação,ao
passoqueseucomplementoexpressaumainformaçãoqueofalantepressupõeser
conhecidadointerlocutor(cf.(56b)).
56.
a. Seulivro,vocêdevedartaoPaul(nãoaoBill).
b. SEULIVROvocêdevedartaoPaul(nãoomeu).
(Grolla,2000:16)
Esse refinamento na estrutura do CP é importante para a avaliação da
complexidadedosenunciadosdeN.Grollareportaque,logoaos2;6anosdeidade,
todas as projeções estudadas por ela – TopP, FocP e ForceP – já haviam sido
manifestadas.Comrelaçãoàsrelativas,aautoraobservaqueafunçãosintáticade
sujeito foi amplamente relativizada. Com Perroni (1997), Grolla confirma a
adequaçãodaHierarquiadeAcessibilidadedoNPpostuladaporKeenaneComrie
(1977),quepreveemqueháumaordemdeposiçõessintáticasmaisacessíveisa
relativização,representadasabaixo:
57. Hierarquiadeacessibilidade(KeenaneComrie,1977)
Suj.>Obj.Direto>Obj.Indireto>Oblíquo>Genitivo>Obj.deComparação
Ahierarquiailustradaacimadeveserinterpretadadaseguinteforma:uma
língua capaz de relativizar uma determinada função sintática deve ser capaz de
21Osímbolo*àdireitadasprojeçõesTopPindicaqueelassãorecursivas.Cf.Rizzi(1997)
51
relativizartodasasfunçõessintáticasàsuaesquerdanahierarquia.Porexemplo,
umalínguacapazderelativizarafunçãodeobjetoindiretotambémdevesercapaz
de relativizar as funções de objeto direto e de sujeito. Já uma língua capaz de
relativizar a função de genitivo será capaz de relativizar as funções de oblíquo,
objetoindireto,objetodiretoesujeito.
Seessahierarquiaéverificadaemdiversaslínguasdomundo(cf.Keenane
Comrie,1977:76-79),énaturalesperarqueasrelativasdesujeitosejamasmais
utilizadasporcriançasadquirindooPB(línguaessaqueadmitearelativizaçãode
outrasfunçõessintáticas).AlgunsexemplosdasproduçõesobservadasporGrolla(e
porPerroni(1997))seguemabaixo:
58.
a. Comeapedrinhaque‘táaqui.(2;10)
b. Opica-pau,quesubiunobanquinho,abriubematorneira...(3;2)
(Grolla,2000:47)
Umaobservação importante feitaporGrolla (2000,2005b)é aquaseque
completaausênciaderesumptivosrealizadosnasposiçõessintáticasrelativizadas
durante os primeiros anos de vida da criança estudada. A ocorrência de itens
resumptivos só é atestada depois de 3;0 anos de idade, como complementos
preposicionais.
59.
a. Euvounoseucolo,porquelátemaquelacobrinhaqueasmulerdançanela.(3;1)
b. Vocêqueriaaborsinhaqueeutavajuntocomela?(3;6)
(Grolla,2000:48)
Paraexplicarousodospronomesresumptivos,Grollaosanalisacomouma
estratégiadeúltimorecurso,baseando-senahipótesedeShlonsky(1992).Nessa
proposta,ospronomesresumptivosemdependências-A’sãousadosapenaspara
salvarderivaçõesqueseriamagramaticaissemeles.Ouseja,essespronomesnão
estãoemlivrealternânciacomaoperaçãodemovimento.Eminglês,porexemplo,
52
pronomesresumptivossãousadossomenteemcontextosdeilha,enquantoque,em
contextos que permitem movimento de um constituinte, apenas um vestígio é
permitido.
60.
a. ThisistheboyithatMaryloves(*himi).
b. ThebookithatIwonderedwhetherIwouldget*(iti)inthemail.
(Kayne,1984apudShlonsky,1992:447)
Em contrapartida, o hebraico é uma língua que permite um uso
aparentementemais livredepronomes resumptivos, semanecessidadede ilhas
parasuaocorrência.Deacordocomosexemplosem(61),ospronomesresumptivos
parecem alternar com lacunas em quase todas as posições sintáticas dentro da
relativa.
61.
a. Ha-ʔišiše-(*hui)ʔohevʔetRina
the-manthat-(he)lovesACCRina
o-homemque-(ele)amaACCRina
b. Ha-ʔišiše-xašavtʕal-*(avi)
the-manthat-(I)-thoughtabout-(him)
o-homemque(eu)-penseisobre-(ele)
c. Ha-ʔišiše-raʔiti(ʔotoi)
the-manthat-(I)-saw(him)
o-homemque-(eu)-vi(ele)
d. Ha-ʔišiše-xašavtše-(hui)melamedʔanglit
the-manthat-(you.F)-thoughtthat-(he)teachesEnglish
o-homemque(você.F)-achouque-(ele)lecionainglês
(Shlonsky,1992:444-445)
Noparadigmaacima,vemosqueousodepronomesresumptivoséaceitoem
diferentesposiçõessintáticas.Em(61a),vemosqueapenasumalacunaépossível
53
naposiçãomaisaltadeumarelativadesujeito,enquantoque(61b)nosmostraque
a gramaticalidade de uma relativa de objeto preposicionado depende do uso do
pronome resumptivo, i.e. o pronome resumptivo é obrigatório nas relativas de
objeto preposicionado. No caso de (61c) e (61d), o pronome resumptivo e uma
lacunavariam livrementenaposiçãodeobjetodiretoemumaoraçãorelativade
objetodiretoenaposiçãodesujeitodeumasentençaencaixada.
Shlonsky(1992)assumequeohebraicopossuidoiscomplementizadoresše
homófonos que selecionam tanto um Spec-A’ como um Spec-A (šeA' e šeA,
respectivamente).Noprimeirocaso,onúcleorelativizadoocupaaposiçãodeSpec-
A’ do complementizador šeA', sendo possível alçar qualquer constituinte das
posiçõesacessíveisàrelativizaçãonalíngua.Nosegundocaso,ocomplementizador
šedisponibilizaumSpec-A,posiçãoestaquesópoderáserpreenchidapelosujeito
da relativa (cf. (61a)). Por ser uma posição-A, um objeto direto não poderia ser
alçado para Spec-A, uma vez que o sujeito da relativa possui as mesmas
característicassintáticasdoobjetodireto,seriaumelementointervenienteparaseu
movimento.Ouseja,essemovimentoresultariaemumaviolaçãodoprincípiode
MinimalidadeRelativizada.22Parasederivarumarelativadeobjetodiretocomesse
complementizador(šeA),opronomeresumptivoaparecenaposiçãotemáticacomo
umaestratégiadeúltimorecurso,considerandoqueoalçamentodoconstituinteem
questãonãoélicenciado,salvandoassimessaderivação(cf.(61b)).
Essa análise nos leva a concluir que a aparente livre alternância entre
pronome resumptivo e vestígio emhebraico é só aparente, já que ela resulta da
seleção do complementizador šeA ou šeA'. Caso o primeiro seja selecionado, um
pronomeresumptivoéutilizadodeformaasalvaraderivação.Casoosegundoseja
selecionado,omovimentodoobjetodiretonãoviolaoprincípiodeMinimalidade
Relativizada.
22 Conforme apresentamos no capítulo anterior, de acordo com o princípio de MinimalidadeRelativizada, uma relação entreX eY em (i) abaixonãopode acontecer seZ éumcandidato empotencialparaarelaçãolocal.Aagramaticalidadede(ii)éexplicadapelainterveniênciadewhichcar,bloqueandoomovimento-A’dehowparaoSpecCPdamatriz.Em(iii),osuper-alçamentodethetrainébloqueadoporit,cujomovimentoestabeleceriaumarelaçãomaislocal.Cf.Rizzi(1990).
(i) X...Z...Y(ii) *[How]ididyouwonder[whichcaryoushouldfixti]?(iii) *[Thetrain]iseemsthatitislikely[titobelate].
54
Grolla(2000,2005b)notaqueoPBsecomportademaneirasemelhanteao
hebraico, com relação ao uso de pronomes resumptivos. Nos exemplos abaixo,
vemosqueháalternânciaentrelacunaepronomeresumptivonasoraçõesrelativas
deobjetopreposicionadoeobjetodireto.
62.
a. Ameninaiqueeufaleicom*(elai)ontem.
b. Ameninaiqueeufalei___iontem.
c. Ameninaiqueeuvi(elai)ontemnafesta.
(AdaptadodeGrolla,2000:65-66)
UmavezqueaestratégiadeprepositionstrandingnãoépermitidaemPB,
Grolla propõe que a inserção de um pronome resumptivo é capaz de salvar a
derivação,comovemosem(62a).
Jánoexemplo(62b),vemosqueoPBpermiteumalacunacorrespondentea
todooPPrelativo,umexemplodeumarelativacortadora(cf.(5)).Essalacunanão
podeseranalisadacomooresultadodomovimentodoPPrelativizado,umavezque
nãoháumapreposiçãoalçadaem(62b).Baseando-seemFerreira(2000),Grolla
analisa essa lacuna dentro da oração relativa como um pronome nulo com
característicasespeciais(naspalavrasdaautora,“umpronomedefectivosemcaso”
(Grolla,2000:66)).Nessescasos,opronomenuloéchamadodeproespecial,jáqueele
nãoseriaumDP,masumPP,comoopronome lhe.23Destaforma,a lacunanãoé
analisadacomoresultadodemovimentodeumconstituinterelativizado.
Aevidênciaencontradapelaautoraéofatodeessacategoriavaziapoderser
encontrada em um contexto de ilha, não podendo alternar com um pronome
resumptivo.
63. Esselivroi,oJoãoconversoucomumameninaquedissequegostou(*elei).
(AdaptadodeGrolla,2000:66)
23Opronome lheem“OJoão lhedeuumpresente.”substitui“paravocê”ou“paraele”.Ouseja,oproespecialsubstituiumPP,funcionandocomoumlhenulo.
55
Porsuavez,nasrelativasdeobjetodireto,comoem(62c),aalternânciaem
questãoé,aparentemente,livre.Tantoumalacuna,quantoumpronomeresumptivo
são lícitosemPB.Noentanto, conformeapontaGrolla, épossível encontraressa
alternânciadentrodeilhas,como(64)abaixo.
64.
a. EsseéolivroiqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveu___i].
b. EsseéolivroiqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveuelei].
(Grolla,2000:67)
ParaGrolla,osexemplosacimasãoevidênciadequenãohouvemovimento
daposiçãodeobjetodiretodaoraçãorelativa.Acategoriavaziaéanalisadacomo
umproresumptivo.
“Esta característica do PB falado provavelmente está ligada à presença depronomesnulosnaposiçãodeobjetonestalíngua,umfenômenoausentemesmoemlínguasbastantepróximasaoPB…”
(Grolla,2000:67)
Defato,oPBéumalínguaquepossuiargumentosnulosnaposiçãodeobjeto
direto(Ferreira,2000;Galves,1989).Grollailustraessefenômenocomosexemplos
abaixo, reforçandoaanálisedequeaalternânciapronomeresumptivo/categoria
vazia observada em (62c) é, na realidade, uma alternância entre pronome
resumptivo lexical/pronome resumptivo nulo. Desta forma, a autora mantém a
hipótesebaseadaemShlonsky(1992),quetomapronomesresumptivoscomouma
estratégiadeúltimorecurso.
Grolla (2000, 2005b) verifica nos dados de N. uma relativa demora na
produçãodospronomesresumptivos.Paraaautora,aaquisiçãodesseselementos,
emPB,segueumpadrãoespecífico,quepodeserdivididoemtrêsestágios.Emum
primeiromomento, a criança verifica se sua língua licencia esses elementos em
dependências-A’. Durante esse período, não há a produção de pronomes
resumptivos.Apenasderivaçõesenvolvendomovimentosãoencontradas,jáquea
criançaaindaestáverificandoaexistênciaounãodetaiselementos.
56
Nessecaso,aproduçãodepronomesresumptivosserestringeacontextos
inequívocosdeúltimorecurso,comoporexemploemrelativasemqueopronome
resumptivoéumcomplementodepreposição(cf.(62a)e(63)).Deoutraforma,as
construçõesenvolvendodependências-A’somentepoderãoenvolveraaplicaçãode
movimento,conformeaprevisãodaautora.24
Emumsegundomomento,acriançadetectaospronomesresumptivosnulos
eabertos,presentesnoPBadulto.Comrelaçãoaosresumptivosabertos,aaquisição
dependequeacriançaapenasidentifiqueesseselementosnoinput.Aaquisiçãodos
resumptivos nulos, por sua vez, depende de uma análise mais detalhada de
construções com uma lacuna em construções-A’. Em PB, essas lacunas ora
correspondemaumresumptivonulo,oraaumvestígiodemovimento(cf.(64)e
(56),respectivamente).Comrelaçãoaessesegundoestágio,Grollacomenta:
“…a previsão é que a aquisição de pronomes resumptivos abertos precede aaquisiçãodepronomesresumptivosnulos.”
(Grolla,2005b:176)
Finalmente,oúltimoestágionaaquisiçãodepronomesresumptivos,como
propostopelaautora,envolveaaquisiçãodosresumptivosnulos,comoem(65a).A
autoraprevêque,quandopro foradquiridopelacriança,construçõesenvolvendo
umpronomeresumptivoaberto,comoem(65b),passamaserlícitasnagramática
infantil, uma vez que a lacuna observada na posição de objeto direto não
correspondeauma(aparente)alternânciaentremovimento/inserçãodepronome
resumptivo.
24ParaevidênciascomdadosexperimentaisparaoquefoiencontradoporGrolla(2000)emdadoslongitudinais, cf. Pereira-Pinto (2016). Nesse trabalho, a autora busca verificar se os pronomesresumptivosutilizadospararetomarotópiconocomentáriofacilitamoudificultamacompreensãodesentençasporcriançasadquirindooPB.Emseusdadosexperimentais,onúmerodeacertosparaassentençasdeobjetodiretosemumpronomerealizadoémaiorentreascriançasentre2;0e3;4anos,enquantoqueosdadosrelativosaoscomplementosindiretosnãoindicampreferênciaentreapresença ou ausência de pronome realizado. Isso sugere que o uso de pronomes resumptivosrealizadoséderivadodeumaestratégiadeúltimorecursoà laHornstein (2001).Porsuavez,ascriançasmaisvelhasnãoapresentamumadiferençaestatisticamenterelevanteentreapresençaouaausênciadopronomeresumptivoparacomplementosdiretos.
57
65.
a. Essemeninoi,euviproiontem.
b. Essemeninoi,euvieleiontem.
(Grolla,2005b:177)
Com isso, para a autora, as relativas de sujeito e de objeto direto que
envolvem o movimento do constituinte relativizado são as primeiras a serem
adquiridaspelacriança.Porsuavez,asrelativascontendoumpronomeresumptivo
abertoviriamemseguida.
Noqueconcerneasrelativasdesujeitoedeobjetodireto,LessadeOliveira
(2008)investigadadoslongitudinaisdetrêscrianças,dos1;6aos3;6anosdeidade
adquirindooPBfaladoemVitóriadaConquista,noEstadodaBahia,epropõequea
estratégia padrão é a primeira a ser adquirida. Isto é, as primeiras relativas a
aparecer sãoasderivadasapartirdomovimentodo constituinte relativizadona
posiçãoemqueeleéinterpretadonasentençasubordinada.25
Talproposta,queestáemconsonânciacomahipótesedeGrolla(2000),toma
como base o trabalho de Hornstein (2007) sobre pronomes ligados e economia
derivacional.Hornsteinsugereque,diferentementedeitensdeumanumeração,os
pronomesligadosfuncionamcomoformativosgramaticaisutilizadosquandouma
operaçãodemovimentofalha(compreendidocombasenateoriademovimentopor
cópia).Considerandoaideiadequereflexivospodemseranalisadoscomoresultado
de movimento (cf. Chomsky 1993, 1995), ao rever os princípios A e B, o autor
observa que pronomes ligados e reflexivos se encontram em distribuição
complementar. Nessa proposta, as sentenças em (66a-b) partem da mesma
numeração(66c),sendocomparáveisentresi.Istoé,pronomeseanáforasligados
nãofazempartedanumeração.
25LessadeOliveira(2008)estudaaaquisiçãodasrelativasrestritivas,livreseapositivas.Emseusdados, as relativas apositivas e restritivas surgem desde o início do processo de aquisição dasrelativas.Suaanálisesugerequeasrelativasapositivassãoderivadasexclusivamentepormeiodaestratégiapadrão.Comisso,aautorasugerequeasrelativasdesujeitoeobjetodiretosãoadquiridascomoarelativaapositiva,istoé,pormeiodemovimento.Conformeapontaaautora,essaconclusãodesfavorecehipótesesquepreveemqueaaquisiçãodasrelativasrestritivasenvolvemumestágioemquenãohámovimento,comoahipótesedeLabelle(1990,1996).
58
66.
a. Johnilikeshimselfi.
b. *Johnilikeshimi.
c. {John,likes}
(Hornstein,2007:359)
Hornsteinargumentaqueoreflexivoem(66a)éoresíduodomovimentode
Johnparaaposiçãodesujeito.Emsuaproposta,selféinseridocomoestratégiade
últimorecurso,pararecebercasoacusativo.Dadoqueessa formanãoé livreem
inglês,himéinseridotambém,paradarsuporteàself.26Umavezqueomovimento
élícitoepreferívelàinserçãodepronomesligados,ousodopronomeligadoseriaa
opçãomenoseconômicaparaaconvergênciadaderivação.SegundoHornstein:
“Bound pronouns and reflexives are grammatical formatives (not lexicalelements).Theyare themorphological by-products of grammatical “binding”operationswithreflexivebindingpreferredtopronominalbinding.Ifreflexivesaretheproductsofmovement,wecanregardpronounuseaslesseconomicalthanmovementandsoblockedwheremovementsufficesforconvergence.”
(Hornstein,2007:356-357)
Comisso,pronomesligadossãoadicionadosàderivaçãoquandoaoperação
de movimento não é possível. Ou seja, o uso de pronomes ligados seria uma
estratégiadeúltimorecurso.Porexemplo,construçõesenvolvendoilhassintáticas
e uma lacuna são melhoradas quando há um pronome (cf. (67a)). Já quando o
movimento é possível, a inserção de um pronome degrada a aceitabilidade da
sentença(cf.(67b)).
26 Podemos nos questionar por que omovimento de John resulta em himself, não em “Johnself”.Assumindoa teoriademovimentoporcópia(Chomsky(1993)),omovimentodeumconstituintedeixaumacópiaparatrás.Noentanto,seascópiasdeumelementomovidosãomantidas,oAxiomadeCorrespondênciaLinear(Kayne(1994))nãopodeseraplicado.Acópiamantidaseráaquelaquetemtodososseustraçoschecados,jáqueumacópiasemachecagemtraçosfarácomqueaderivaçãofalhe(cf.Kayne(1994)eNunes(1995)).
59
67.
a. JohnisapersonwhoMarymetsomeonewhoadmired*(him).
b. JohnisapersonwhoMaryheardthatFranklikes(*him).
(Hornstein,2007:365)
HornsteinnotaqueessapropostanãogeraestruturasqueviolamaCondição
deInclusividade(Chomsky,1995),quedizquematerialsemanticamenteativonão
podeseradicionadoduranteaderivação,amenosqueelefaçapartedanumeração.
Uma vez que reflexivos e pronomes ligados são entendidos como formativos
gramaticais,elessãoelementossemanticamenteinertes.Portanto,paraHornstein,
a“inserção”desseselementosnãoviolaaCondiçãodeInclusividade.
Emrelaçãoàsrelativas,Hornsteinilustraousodeumpronomenaposição
relativizadaemfrancês.
68.
a. L’homme[surquiitutefiesti]]
the-manonwhomyourelyyourself
o-homememquemvocêREFLconfia
b. L’homme[que0i[tuasvuti]]
the-manthatyouhaveseen
o-homemquevocêAUXver(PRT)
c. L’homme[qui0i[tiestvenu]]
the-manwhocame
o-homemquemAUXvir(PRT)
69.
a. Ungarsquejemefieraissurlui
AguythatIrelymyselfonhim
umrapazqueeuREFLconfioemele
b. ??L’hommequejel’aivu
the-manthatIhimhaveseen
o-homemqueeuele-AUXver(PRT)
60
c. ??Lafillequ’elleestvenue
thegirlthatshecame
ameninaque-elaAUXvir(PRT)
(Hornstein,2007:366)
Osexemplosem(68a)eem(69a)sãorelativasdeobjetopreposicionado.O
primeiroexemploilustraaestratégiapadrão,emquehápied-pipingpreposicional,
enquantoqueosegundonosmostraque,nocasodeapreposiçãonãoseralçada,um
pronomedeveserutilizado.Istoocorreumavezqueofrancêséumalínguaquenão
admiteaestratégiadeprepositionalstranding.Em(68b-c),vemosrelativasemque
hámovimentoequesãogramaticalmenteaceitáveis.Porsuavez,osexemplosem
(69b-c)contêmumpronomeresumptivo,degradandoessassentenças.Portanto,na
análisepropostaporHornstein(2007),opronomeresumptivoéusadoparasalvar
uma derivação que seria agramatical, como em relativas sem pied-piping
preposicional. Em relativas derivadas por meio de movimento, o uso de um
resumptivodegradariaasentença,comovemosem(69b-c).
Combasenessaproposta,LessadeOliveira(2008)propõequeascrianças
adquirindoasrelativasemPBnãoencontramproblemascomaestratégiapadrão
noquedizrespeitoasrelativasdesujeitoedeobjetodireto.Segundoaautora:
“…numcontextocomoodasrelativasdeobjetodiretosemenvolvimentodeilha,a preferência será para a estratégia de movimento (a padrão). Quanto àsrelativas de sujeito, estas apresentam um contexto ainda mais favorável àestratégia padrão, uma vez que […] vários estudos mostram que não existeresumptivonuloemposiçãodesujeitoemPB.”
(LessadeOliveira,2008:168)
Finalmente, no que diz respeito às relativas preposicionadas, a autora
fundamentasuaanáliseemRoeper(2003).Segundooautor,assentençasem(70)
envolvem a checagem de um traço [+Qu]. Para que isso ocorra, em (70a), o
constituintemovidoétranspostoparaseencontrarotraço[+Qu].Porsuavez,em
(70b),achecagemdotraço[+Qu]aconteceenvolvendoomenornúmerodenódulos
possível.Ouseja,paraoautor,issopoderiaexplicarapreferênciadefalantespor
61
construçõescomumapreposiçãoórfã (70b),queseriam,segundoessaproposta,
uma estrutura menos complexa do que aquelas envolvendo o alçamento da
preposição(70a).
70.
a. [apictureofwhom]didhesee
62
b. [who]didheseeapictureof
(Roeper,2003:5-6)
Roeper observa que a “profundidade” de um traço [+Qu] também está
relacionadaaalgunscasosdeagramaticalidade,comooobservadoem(71b).
63
71.
a. Iwonderwhoyouhaveapictureof.
b. *Iwonderapictureofwhomyouhave.
(Roeper,2003:6)
Paracapturarapreferênciapor(70b)a(70a)eaagramaticalidadede(71b)
emcomparaçãoa(71a),RoeperdiscuteasnoçõesdeAttractePath,originalmente
propostasemFitzpatrick(2002)27:
72. AttractClosestC-Command:
Movaomenorconstituintecontendootraçopertinenteparaodomínio
dechecagem.
73. PathQuantification:
Escolha o percursomais curto na árvore entre o constituinte como
traçopertinenteeodomíniodechecagem.
Apreferênciapor (70b)eagramaticalidadede (71a) sãocapturadaspela
noçãodeAttract,enquantoquePathexplicariaagramaticalidadede(70a).Já(71b)
é agramatical uma vez que wonder requer que o traço [+Qu] seja checado
imediatamente.
“…wonderseeksvisibleimmediatesatisfactionofsubcategorizedinformation.”
(Roeper,2003:7)
SegundoRoeper,essasduasnoçõessãoligadasàeconomiaeserelacionama
diferentesmódulosdagramática.Em(70),observamosqueambasassentençassão
gramaticaiseapresentamdiferentesleituras.Naprimeira,háumaleituradeescopo
27DeacordocomRoeper(2003:7):
(i) AttractClosestC-Command:GistheclosestcategoryinthesisterofHiffthereisnodistinctcategoryKsuchthatKc-commandsGandKbearsafeaturematchingF.
(ii) PathQuantification:GistheclosestcategoryinthesisterofHiffthereisnocategoryKbearingafeaturematchingFsuchthatthepathP'thatwouldresultfrommovementofKissmallerthanthepathPthatwouldresultfrommovementofG.
64
largo (uma foto ou um quadro qualquer), enquanto que a segunda possui uma
leituradeescopoestreito(umafotoouumquadroparticularquealguémquerver).
Desta forma,RoeperexplicaquePathpodeser invocado,mesmoassumindoque
Attractsejaaopçãosintaticamentemaiseconômica.
Com relação à aquisição das relativas preposicionais em PB, Lessa-de-
Oliveira(2008)propõequeadificuldadeinerenteaoalçamentodapreposiçãona
derivação de uma relativa é evitada na estratégia não-padrão, uma vez que o
elementoalçadonãoéumPP,masumDP(assimcomonasrelativasdesujeitoede
objetodireto,naestratégiapadrão).
“...aaquisiçãodarelativacompied-pipingpreposicionalépreteridatantoemlínguas de pied-piping obrigatório, [...] quanto em línguas que admitemprepositional-stranding...”
(Lessa-de-Oliveira,2008:177)
Podemosconcluir,combasenessaproposta,queasrelativascompied-piping
preposicionalnãosãoobservadasnasproduçõesinfantis,poiselassãomaisdifíceis
paraascrianças,umavezquepied-pipingpreposicionalenvolveanoçãodePath,
que,segundoRoeper,émenoseconômicadoqueAttract.Aproduçãodessetipode
relativapelascriançasenvolveapenasasestratégiasnão-padrão.28
Uma vez que as relativas preposicionadas são derivadas por meio das
estratégias não-padrão, podemos esperar que as relativas com pied-piping
preposicional sejam um artefato prescritivo, conforme propõem Guasti e
Cardinaletti (2003),aprendidoduranteosanosescolares.De fato,Corrêa (1998)
estuda a produção oral e escrita de diversos informantes em PB, entre não
escolarizados, alunos do Ensino Fundamental e Médio, alunos universitários e
professores, e conclui que as relativas compied-pipingpreposicional apenas são
28OsdadosdeaquisiçãoeaanálisedaestruturadasrelativasapositivasemPBemLessa-de-Oliveira(2008)sugeremqueessasconstruçõessomentesãoderivadaspormeiodaestratégiapadrão,alémdeseremadquiridascedo.Emvistadenossosdadoseanálise,podemosnosperguntarporqueaestratégiapadrãoéadquiridacedoparaasrelativasapositivaspreposicionadas,enquantoquepied-pipingpreposicionalnas relativas restritivasdependemde seu ensino formal. Foge ao escopodenossotrabalhoinvestigaradiferençaentreessesdoistiposderelativaseospossíveismotivospelosquaisaaquisiçãodaestratégiapadrãoparaasrelativaspreposicionadasocorreindependentementedeseuensinoformalparaasrelativasapositivas,masnãoparaasrelativasrestritivas.
65
aprendidasnosanosfinaisdoEnsinoMédio.Paraaautora,essasrelativasrequerem
oensinoformaldesuaestruturaeuso.
IniciamosestaseçãoapresentandootrabalhodeLabelle(1990),quepropõe
queagramáticainfantilgeraoraçõesrelativassemmovimento-Quequeapenasna
gramáticaadulta,asrelativassãoderivadasviamovimento.Suamotivaçãoestáno
fatodeascriançasnãoproduziremrelativaspreposicionadasemfrancêscanadense,
mas seremcapazesdeproduzir interrogativas-Qucompied-piping preposicional,
alémdaprodução ilícitade resumptivosnasorações relativas. Emsuaproposta,
Labelledefendeatesedeque,atéos6anosdeidade,ascriançasproduzemrelativas
pormeiodeumaregradepredicação.Questionamosalgunspontosdesuaanálise,
como a assimetria entre interrogativas-Qu e relativas que envolvem pied-piping
preposicional, e a razão e a maneira pela qual as crianças abandonariam uma
operação de relativização com base na predicação, para relativizar pormeio de
movimento.Emseguida,apresentamososestudosdeGuastieShlonsky(1995)e
GuastieCardinaletti(2003),querefutamatesedeLabelle(1990)epropõemquea
relativizaçãoocorrepormeiodealçamentoàlaKayne(1994).EmGuastieShlonsky
(1995), a aquisição das relativas preposicionadas depende da maturação de
operadoresrelativos,quenãoestãopresentesnagramáticainfantil.Entretanto,os
autoresnãodeixamclaroqual seriaadiferençaentreas relativasnão-padrãona
gramáticainfantileasrelativasnão-padrãoemfrancêsadulto.Porsuavez,Guastie
Cardinaletti(2003)propõemquenãohádiferençaentreoconhecimentoadultoeo
conhecimento das crianças quanto às orações relativas e que as relativas
preposicionadas são aprendidas emumprocesso semelhante ao aprendizado de
umasegundalíngua.Aausênciaderelativaspreposicionadasnagramáticainfantil
possuiumarelaçãodiretacomaausênciadessetipodeconstruçãonafalaadulta.
Em relação às relativas do PB, inicialmente apresentamos o trabalho de
Grolla (2000), cujos dados longitudinais indicam a ausência de resumptivos nas
relativasduranteosanosiniciaisdevidadacriançaestudada.Aocorrênciadeitens
resumptivos só foi atestada após os 3;0 anos de idade como complementos
preposicionais. Com base em Shlonsky (1992), que analisa resumptivos como
estratégiasdeúltimorecurso,Grollapropõe3estágiosdiferentesparaaaquisição
desses itens. Em um primeiro momento, a criança não utiliza resumptivos em
66
contextos de aparente alternância entre vestígio de movimento e pronome
resumptivo. No segundo estágio, os resumptivos abertos são identificados. Os
resumptivosnulosdependemdeumaanálisemaisprofundaquantosuadistribuição
na língua. Apenas no terceiro estágio, os resumptivos nulos são adquiridos e
construçõesenvolvendoaalternânciaentreresumptivoabertoeresumptivonulo
passam a ser lícitas na gramática infantil. Ainda sobre as relativas do PB,
apresentamos o trabalho de Lessa de Oliveira (2008), que investiga dados
longitudinaisdetrêscriançasbaianas,esugere,combaseemHornstein(2007),que
aestratégiademovimentoéaprimeiraaseradquiridapelascrianças(comrelação
àsrelativasdesujeitoedeobjetodireto),emconsonânciacomGrolla(2000,2005b).
Lessa de Oliveira propõe, com Roeper (2003), que as relativas com pied-piping
preposicionalsãopreteridasumavezquesuaderivaçãoenvolveanoçãodePath,
quesegundoRoeperéumanoçãomenoseconômicaqueAttract(sendoestaúltima
relacionadaaconstruçõescomprepositionstranding).
Em vista dos trabalhos apresentados aqui, assumiremos que as crianças
utilizamaoperaçãodemovimentonaderivaçãodeoraçõesrelativasdurantesua
aquisição.ConformeosestudosdeGrolla(2000,2005b)eLessadeOliveira(2008),
assumiremostambémqueascriançassãocapazesdeprocessareproduzirrelativas
desujeitoeobjetodireto,enquantoqueasrelativasdeobjetopreposicionadonão
são produzidas por meio da estratégia padrão, apenas com um resumptivo. As
relativasdeobjetopreposicionadosãoumartefatoprescritivo,aprendidasdurante
osanosfinaisdoEnsinoMédio,comoobservadoemCorrêa(1998).ComGuastie
Cardinaletti (2003), assumiremos que o aprendizado das relativas de objeto
preposicionadoenvolvendopied-pipingpreposicionalacontecedemodosimilarao
aprendizadodeumasegundalíngua.
Essaúltimaobservaçãovaiaoencontrodaprevisão(9c),naintroduçãodesta
dissertação,quedizquenãohaveráproduçãode relativas comalçamentos pied-
piping preposicional (ou que o número de produções com essa estrutura será
próximodezero).
Naseçãosubsequente,discutiremosapropostaquerelacionaadificuldade
no processamento e na produção de relativas de objeto com a característica
estruturaldosujeitodaoraçãosubordinada.
67
2.4.Osujeitointerveniente
Muitosestudossobreaproduçãoeoprocessamentodasoraçõesrelativas
analisamaassimetriaobservadaentreasrelativasdesujeitoeasrelativasdeobjeto
direto.Estudosrecentesoferecempropostasfocadasnascaracterísticasestruturais
dos argumentos envolvidos nas orações relativas. Mais especificamente, esses
estudosanalisamainterveniênciaentreaposiçãoemqueoelementorelativizadoé
interpretado dentro da oração subordinada e a posição para onde esse mesmo
elementoémovido(BellettieContemori,2010;BellettieChesi,2011;Bellettietal.,
2012;Benteaetal.,2016;Friedmannetal.2009,Utzeri,2007;entreoutros).
Emumasériedeexperimentosenvolvendomovimento-A’easposiçõesde
sujeitoeobjetodireto,Friedmann,BellettieRizzi(2009)estudamaproduçãoea
compreensãodeoraçõesrelativas,alémdacompreensãodeinterrogativas-Qu,em
hebraico. 22 crianças falantes nativas de hebraico, entre 3;7 e 5;0 de idade
participaramdosexperimentos.
Nos experimentos sobre a compreensão das relativas, os pesquisadores
utilizaramduas tarefas.Aprimeiraenvolvia14paresde figuras, enquantoquea
segunda envolvia 7 pares de cenários com animais de brinquedo. Os tipos de
relativastestadasforamadesujeito(74a),deobjetodiretocomesemumpronome
resumptivo(74b–c),relativaslivresdesujeitoeobjetodireto(74d–e),erelativasde
objetodiretocomumprocomreferênciaarbitrárianaposiçãodesujeito(74f).
74.
a. Tarelietha-parashe-menasheketetha-tarnegolet.
showto-meACCthe-cowthat-kissesACCthe-chicken
mostrepara-mimACCa-vacaque-beijaACCagalinha
b. Tarelietha-pilshe-ha-ariemartiv.
showto-meACCthe-elephantthat-the-lionwets
mostrepara-mimACCo-elefanteque-o-leãomolha
c. Tarelietha-kofshe-ha-yeledmexabekoto.
showto-meACCthe-monkeythat-the-boyhugshim
mostrepara-mimACCo-macacoque-o-meninoabraçaele
68
d. Tarelietmishe-martivetha-yeled.
showto-meACCwhothat-wetsACCthe-boy
mostrepara-mimACCquemque-molhaACCo-menino
e. Tarelietmishe-ha-yeledmenadned.
showto-meACCwhothat-the-boyswings
mostrepara-mimACCquemque-o-meninobalança
f. Tarelietha-susshe-mesarkimoto.
showto-meACCthe-horsethat-brush-plhim
mostrepara-mimACCo-cavaloque-escovamele
(Friedmannetal.,2009:70-75)
Noexperimentoqueeliciouoraçõesrelativas,ascriançasforamconvidadas
a participar de um jogo com dois pares idênticos de animais de brinquedo. Um
pesquisadorapresentaumasituaçãocomumdosparesdeanimaisedepois,como
outropardeanimais,amesmasituaçãoéapresentada,mascompapeisinvertidos.
Enquanto isso, um segundo pesquisador fica na frente da criança, apenas
observando a apresentação. Em seguida, o segundo pesquisador venda seus
própriosolhos,paraqueelenãopossaverosparesdeanimais.Assim,oprimeiro
pesquisadorapontaparaumdosanimais,pedindoparaqueacriançaodescreva
paraopesquisadorcomosolhosvendados.
Deacordocomosautores,osdadoscoletadosnostestesdecompreensãode
relativassugeremqueascriançastêmdificuldadecomoalçamentodaposiçãode
objeto direto. A tabela 1 (reproduzida de Friedmann et al. 2009: 76) mostra a
porcentagemde respostas corretaseonúmerode criançasque se comportaram
acimadoníveldechance.
69
Tabela1:PorcentagemderespostascorretasenºdecriançasquesecomportaramacimadoníveldechancenostestesdecompreensãoderelativasemFriedmannetal.(2009:76).
RS RO RO+res. RLS RLO RO+pro
Tarefacomparesdefiguras 92% 70% 61% 85% 87% 90%Tarefacombrinquedos 89% 38% 50% 83% 70% 75%Médiaentreastarefas 90% 55% 56% 84% 79% 83%Nºdecriançasacimadoníveldechance 22 7 6 18 17 19Grupoacimadoníveldechance? sim não não sim sim simLegenda:RS=relativasdesujeito|RO=relativasdeobjeto|RO+res.=relativasdeobjetocompronomeresumptivo|RLS=relativaslivresdesujeito|RLO=relativaslivresdeobjeto|RO+pro=relativasdeobjetocomprocomreferênciaarbitráriacomosujeito
De acordo comos autores, as porcentagensna tabela1 sugeremque, nos
testesdecompreensãodasrelativas,ascriançastiverammaisdificuldadescomas
relativas de objeto com e sem o pronome resumptivo. As relativas de sujeito
apresentamumelevado índicepercentualdeacertos,assimcomoasrelativasde
objeto com um pro indeterminado na posição de sujeito da subordinada e as
relativaslivres(cf.(74)acima).
Com relação à tarefa de produção, os pesquisadores argumentam que os
enunciados das crianças condizem com a dificuldade observada nas tarefas de
compreensão.Istoé,osdadosindicamumapreferênciapelaproduçãoderelativas
desujeitopormeiodediferentesestratégiasderelativização.Osexemplosabaixo
ilustramasestratégiasdeesquivautilizadaspelascriançasduranteoexperimento.
Em (75a), a criança utiliza um verbo diferente daquele que foi utilizado para
descreverocenárioàcriança,enquantoqueem(75b),umaconstruçãoreflexivaé
preferida.Porfim,em(75c),aestruturaémantida,masháumareversibilidadedos
papeisdospersonagensenvolvidos.
75.
a. Sentençaalvo: Ha-jirafashe-ha-zebranicxa.
the-giraffethat-the-zebradefeated
a-girafaque-a-zebraderrotou
70
Sentençaproduzida:Ha-jirafashe-hifsida.
the-giraffethat-lost
a-girafaque-perdeu
b. Sentençaalvo: Ha-pilshe-ha-ariehexbi.
the-elephantthat-the-lionhid(transitive)
o-elefanteque-o-leãoescondeu(transitivo)
Sentençaproduzida:Ha-pilshe-hitxabe.
the-elephantthat-hid(reflexive)
o-elefanteque-escondeu-REFL
c. Sentençaalvo: Ha-ezshe-ha-gorilalitfa.
the-goatthat-the-gorillapatted
a-cabraque-o-gorilaacariciou
Sentençaproduzida:Ha-ezshe-liftaetha-gorila.
the-goatthat-pattedACCthe-gorilla
a-cabraque-acariciouACCo-gorila
(Friedmannetal.,2009:81)
Paraexplicaressadificuldadena compreensãodas relativasdeobjetoea
preferênciapelaproduçãoderelativasdesujeito,primeiramenteFriedmannetal.
observamqueasrelativasconsideradas“problemáticas”emseuestudoapresentam
umacaracterísticaemcomum,asaber:apresençadeumsujeitocomomesmotraço
[+NP] do elemento alçado. Isto é, o sujeito da relativa e o objeto relativizado
possuemasmesmascaracterísticassintáticas.Paraosautores,nagramáticainfantil,
essesujeitoatuacomoumelementointervenienteparaarelativizaçãodoobjeto.
Essa observação condiz com o que foi observado no experimento envolvendo
relativaslivresenoexperimentoenvolvendoumprocomreferênciaarbitráriana
posiçãodesujeito.Nessesdoisexperimentos,osujeitodarelativanãocausariaum
efeitodeinterveniência.Noprimeirocaso,osujeitodarelativaéumDPquecontém
um elemento NP, enquanto que o elemento alçado é um elemento-Qu sem um
complemento NP (cf. 74e). No segundo caso, o objeto relativizado contém um
elementoNPeseumovimentocruzaumpro,quenãopossuiumelementoNP.Isto
71
é, nesses dois casos o sujeito da relativa e o objeto relativizado possuem
característicassintáticasdistintas.
O quadro abaixo ilustra os tipos de relativas testadas pelos autores, a
estruturasubjacenterelativaacadaumadelasjuntamentecomolocaldeorigemde
movimentodoelementorelativizado,alémdojulgamentoprevistoqueascrianças
devemfornecer,deacordocomessahipótese.
Quadro 1: Resumo dos resultados experimentais acerca das construções relativas emFriedmannetal.(2009:81).Tipoderelativa
Estrutura(SpecCP...Sujeito...Objeto)
Gramaticalidade
Rel.desujeito [DNP]i ... ti ... [DNP] okRel.deobjeto [DNP]i ... [DNP] ... ti *Rel.deobj.c/resump. [DNP]i ... [DNP] ... pron.resump. *Rel.livredesujeito [Qu]i ... ti ... [DNP] okRel.livredeobjeto [Qu]i ... [DNP] ... ti okRel.deobjetoc/pro [DNP]i ... pro ... ti ok
Os autores verificam as previsões acima e propõem que as crianças têm
problemascomasrelativasdeobjetocomesemumpronomeresumptivo(aberto)
umavezque,emsuaanálise,omovimentodoelementorelativizadodedentrode
oraçãosubordinadaparaaposiçãodepousoemCPcruzaumsujeitoquepossuias
mesmascaracterísticassintáticas.ParaFriedmannetal.,acaracterísticarelevante
paraexplicaroproblemadascriançascomasrelativasdeobjetoresidenofatode
ambososujeitodasubordinadaeoobjetorelativizadoconteremotraço[+NP].Os
autores comentam que esse efeito de interveniência remete a violações de
MinimalidadeRelativizada(Rizzi,1990).
Comomencionadonocapítulo1,oprincípiodeMinimalidadeRelativizada
dizqueuma relação entreX eY em (76a) abaixonãopode acontecer seZ éum
candidatoempotencialparaarelaçãolocal.Emoutraspalavras,setantoYcomoZ
podem semover para satisfazer a checagem de traços de X, o movimento de Z
bloqueiaomovimentodeYporestabelecerumarelaçãosintáticamaispróxima.A
agramaticalidadede(76b)éexplicadapelainterveniênciadewhat,bloqueandoo
72
movimento-A’dewhoparaoSpecCPdamatriz.Em(76c),osuper-alçamentodethe
busébloqueadoporit,cujomovimentoestabeleceriaumarelaçãomaislocal.
76.
a. X...Z...Y
b. *[What]idoyouthink[[who]boughtti]?
c. *[Thebus]iseemsthatitislikely[titobelate].
Adiscrepânciaobservadaentreosdadosinfantiseadultosnosexperimentos
emFriedmannetal.,segundoosautores,sedeveaofatodequeascriançasaderem
aumaversãomaisrigorosadeMinimalidadeRelativizada.Essaversãomaisrigorosa
doprincípio atuademaneira disjunta sobre o feixe de traçosdo elemento a ser
movido. Isto é, enquanto a gramática adulta permite que um elemento seja
computado para fins de movimento com base em todo um feixe de traços, a
gramáticainfantilévioladaquandoumapartedessestraçoséigual.Apropostaé
exemplificada no quadro abaixo, no qual os itens à esquerda representam o(s)
traço(s)sintático(s)presente(s)noelementomovido.
Quadro2:PropostaemFriedmannetal.(2009:84)
Gramáticaadulta
Gramáticainfantil
+A ... +A ... <+A> * * identidade +A,+B ... +A ... <+A,+B> ✓ * inclusão +A ... +B ... <+A> ✓ ✓ disjunção
Nagramáticaadulta,MinimalidadeRelativizadaseaplicaemcontextosem
que os elementos computados possuem traços idênticos para desencadear
movimento, como ilustradona linha1doquadro acima.Na gramática infantil, o
mesmo princípio atua de forma mais rígida, bastando que um dos traços que
desencadeiammovimentoestejapresenteemambososelementoscomputados(na
gramática adulta, essa relação de inclusão não é computada para fins de
MinimalidadeRelativizada).
Ou seja, na proposta dos autores, a gramática infantil não possibilita o
alçamentodoDPdaposiçãodeobjetoparaumaposiçãomaisaltanaderivaçãode
73
umarelativa,umavezqueoDPsujeito,umcandidatoempotencialparaumarelação
maislocal,estádisponívelparaisso.
Quadro3:ResumodapropostaemFriedmannetal.(2009:84)acercadostiposdeintervençãoemconstruçõesrelativasnasgramáticasadultaeinfantil.
Movimentodeumelementocomotraço[+NP]Gramáticaadulta
Gramáticainfantil
[+NP] ... [+NP] ... t * * [+NP]rel. ... [+NP] ... t ✓ * [+NP](rel.) ... [+XP] ... t ✓ ✓
OestudodeFriedmannetal.(2009)originouumasériedeoutrosestudos
sobrerelativizaçãoeintervençãoquetrazemconfirmaçãoempíricaparaaproposta
de intervenção nas relativas (Adani, 2008; Belletti, 2009; Belletti e Chesi, 2011;
BellettieContemori,2010;BellettieRizzi(2013);Bellettietal.,2012;Benteaetal.,
2016; Friedmann e Costa, 2010; entre outros). No entanto, há dois pontos
discutíveisnesse estudo.Primeiramente,noquediz respeito àsporcentagensde
respostas certasnos testes sobre as relativasde objeto come semumpronome
resumptivo–precisamente,osdadosquebaseiamoestudoemFriedmannet al.
(2009)(cf.quadro1)–,atarefaenvolvendoosparesdeanimaisdebrinquedonão
semostroutãoeficiente,umavezque,porvezes,ascriançaspreferirambrincarcom
osobjetosaexecutaratarefaproposta.Adiferençanosresultadosobtidosnasduas
tarefasfazcomqueamédiaderelativasdeobjeto,comesemumresumptivo,seja
maisbaixa,causandoumamaiordiscrepâncianosresultadosfinais.
Emsegundolugar,seesseprincípiointerferenacompreensãoenaprodução
das orações relativas de objeto direto, por que esse princípio não bloqueia as
orações relativas totalmente, assim como Minimalidade Relativizada bloqueia
sentenças como (74b-c)? Isto é, essa extensão do princípio é apenas aplicada
parcialmente? Como explicar a taxa de acertos e de produções que as crianças
obtiveram? Considerando que os resultados experimentais de outros estudos
também indicam que as crianças produzem e compreendem relativas de objeto
direto,podemosnosquestionarseesseprincípiorealmenteseaplicaàproduçãoe
à compreensão de relativas. Se esse princípio é operativo na gramática,
esperaríamosque a produçãode relativasde objeto fossebloqueada.Damesma
74
forma, esperaríamosqueo índicedeacertosnas tarefas envolvendo relativasde
objetofosse(próximode)zero.Poroutrolado,seapropostadosautoresseaplicar
aoprocessamentosintáticodessasrelativas,poderíamosesperarumdesempenho
mais próximodoque foi encontrado emFriedmann et al (2009).No entanto, os
autores parecem não se comprometerem com uma análise de processamento
sintático de forma clara, sugerindo que “Minimalidade Relativizada Estendida”
aindanãoestáclaramentedefinido.
“…clearly,disjointnessiseasiertodetermine,asitcanbecalculatedfeaturebyfeature, whereas calculating a subset–superset relation requires holding inoperativememoryandcomparingthewholefeaturalspecificationsassociatedtodifferentpositions,anoperationwhichmayexceedthecapacityoftheearlysystems…”
(Friedmannetal.,2009:84)
Seporumladoestetemarendediversostrabalhosparaapesquisasobreas
oraçõesrelativas(eoutrasconstruçõesenvolvendodependências-A’),poroutrohá
umconsensonoquedizrespeitoàdificuldadedascriançascomasoraçõesrelativas
deobjetoeàpreferênciapelasrelativasdesujeito,comoumamaneiradeevitara
relativizaçãodeobjeto.GrollaeAugusto(2016)apontamparaestefatoecomentam
que diferentes línguas utilizam diferentes estratégias para evitar as relativas de
objetoadependerdeaspectosespecíficosdecadalíngua.
“...children resort to different strategies in order to avoid object relatives inproduction.Although this seems to bea general trendamong languages, thespecific alternative strategies resorted to vary from language to language,dependingonlanguagespecificaspects.”
(GrollaeAugusto,2016:46)
GrollaeAugusto(2016)conduziramumexperimentocomcriançasde4e5
anos de idade, falantes de PB. Com base nos dados de uma tarefa de produção
eliciadacomparesfiguras,asautoraspropõemqueodesempenhodecriançasem
tarefasenvolvendoaproduçãodeoraçõesrelativasdependedacomplexidadedas
estruturasdisponíveisparaelas.
75
GrollaeAugustoobservamqueestudosemdiferenteslínguassugeremque
ascriançasutilizamconstruçõesvariadasparaevitarumarelativadeobjeto.Por
exemplo,emitaliano(cf.(77a)),ascriançasentre3;4e6;5anosdeidadeutilizam
relativas de sujeito como uma estratégia de esquiva. Em francês e alemão, as
criançasutilizampronomesespecíficos, respectivamenteoú ewo (equivalentesa
ondeemPB),nolugardeummorfemarelativonormalmenteusadonessaslínguas
(cf.(77b-c)).
77.
a. Sentençaalvo:Vorreiessereilbambinochel’elefantebagna.
Iwouldratherbethechildthattheelephantwets.
Gostariaseromeninoqueo-elefantemolha
Produção:Voglioesserelabambinachesibagna.
Iwouldratherbethechildthatisgettingwet.
Queroserameninaquesemolha
(BellettieContemori,2010:5)
b. Sentençaalvo:DasPferd,dasderJungereitet,istjetztrot.
thehorsethattheboyridesisred.
ocavaloqueomeninocavalgaévermelho
Produção:DasPferd,woderJungereitet,isrot.
Thehorsewheretheboyridesisred.
ocavaloondeomeninocavalgaévermelho.
(Adani,SehmeZukowski,2012:7)
c. Sentençaalvo:Touchel’orangequeladameaprispourfairelejus.
Touchtheorangethattheladytooktomakejuice.
toquea-laranjaqueamulherAUXpegar(PRT)parafazerosuco
Produção:Touchel’orangeoùladameaprispourfairelejus.
Touchtheorangewheretheladytooktomakejuice.
toquea-laranjaondeamulherAUXpegar(PRT)parafazerosuco
(GuastieCardinaletti,2003:67)
76
Asautorastambémcomentamque,deacordocomUtzeri(2007),crianças
maisvelhas(de6a11anosdeidade)eadultosfalantesdeitalianofrequentemente
usampassivaseconstruções“si-fa”(cf.(78)).
78.
a. Sentençaalvo:Vorreiessereilbambinochel’elefantesolleva.
Iwouldratherbethechildthattheelephantlifts.
Gostariaseromeninoqueo-elefanteergue
Produção:Voglioesserelabambinachevienesollevatodall’elefante.
Iwouldratherbethechildthatisliftedbytheelephant.
Queroserameninaqueélevantadapelo-elefante
b. Sentençaalvo:Ilbambinocheilrepettina.
Thechildthatthekingcombs.
omeninoqueoreipenteia
Produção:Ilbambinochesifapettinaredalre.
Thechildthatmakeshimselfcombbytheking.
omeninoquesefazpentearpelorei.
(Utzeri,2007:298-299)
Considerando que o uso dessas estruturas pode indicar que as crianças
evitamconstruções envolvendoumelemento interveniente à laFriedmannet al.
(2009),etambémqueascriançasmaisnovasnãoutilizamconstruçõescomavoz
passiva tão frequentemente quanto as crianças mais velhas, Grolla e Augusto
investigam a possibilidade de crianças de 4 e 5 anos utilizarem a construção
absoluta (Negrão e Viotti, 2010) em seu experimento. Essa construção, que é
superficialmente similar às passivas, é analisada por Negrão e Viotti como uma
estrutura envolvendo a ordem SV, em que o objeto direto de um verbo
prototipicamente transitivo e agentivo é promovido à posição pré-verbal. Essa
construção apresenta concordância entre o argumento promovido à posição de
sujeitosintáticoeoverbo.29
29ParaumtrabalhosobreaaquisiçãodasabsolutasemPB,comdadosexperimentais,cf.Rezende(2016).
77
Por se tratar de uma construção “nova” do PB, Grolla e Augusto a
exemplificamenotamque,emPortuguêsEuropeu,essaconstruçãoéjulgadacomo
agramatical.
79.
a. Acasaestápintando/construindo.
b. Essetremjáperdeu.
c. Acadaumminuto,quatrocoisasvendem.
d. Meujardimdestruiutodocomareforma.
e. AMariaoperou.
(GrollaeAugusto,2016:39)
Asautorastambémcomparamessaconstruçãocomoutrasconstruçõesdo
PBdemodoaestabelecer,porumprocessodeeliminação,oqueessaconstrução
nãoé.Vejamososparesdeexemplosabaixo:
80.
a. Ojardimfoidestruídopelareforma.
a’. *Ojardimdestruiupelareforma.
b. OjardimfoidestruídopraaborreceraMaria.
b’. *OjardimdestruiupraaborreceraMaria.
c. Aporta(se)abriu.
c’. *Ojardimsedestruiu.
d. Esselivro,quandovocêcomprou?
d’. *Meujardimquandodestruiu?
e. prodestruírammeujardim.
e’. *Meujardimprodestruíram.
(GrollaeAugusto,2016:40-41)
Em(80a-b),vemosconstruçõespassivaseabsolutas.Noprimeirocaso,(80a-
a’),vemosqueoargumentoexternopodeserrealizadopormeiodeumaby-phrase
(=pelareforma)apenasnasconstruçõespassivas.Nosegundocaso,(80b-b’),vemos
queaspassivasaceitamqueoargumentoexternoestejaimplícito,enquantoquenas
78
construções absolutas o argumento externo sequer é projetado. A primeira
conclusão é que as absolutas não são passivas commorfologia empobrecida. As
sentenças em (80c-c’) indicam que as absolutas também não são um tipo de
construção anticausativa (que são formadas por um verbo, opcionalmente,
precedidodoclíticoseemPB).EmPB,temosinterrogativas-Qucomumargumento
topicalizado, como em (80d). A agramaticalidade em (80d’) indica que as
construções absolutas não aceitam que o argumento interno apareça antes do
elemento-Qu, sugerindo que elas também não são um tipo de topicalização.
Finalmente, Grolla e Augusto comentam que as absolutas não são construções
impessoais(comumsujeitonuloeconcordânciaemterceirapessoadoplural).Nas
absolutas,overboconcordacomoargumentointerno(cf.(80e-e’)).
Após excluírem essas possibilidades, as autoras assumem, com Negrão e
Viotti (2010), que as construções absolutas possuem a estrutura em (81) e as
característicasem(82):
81.
(NegrãoeViotti,2010:57)
82.
a. OargumentointernoécomplementodeV;
b. v não é projetado, uma vez que as construções absolutas não envolvem
agentividade;
79
c. OargumentointernoconcordacomonúcleoTeéatribuídoCasonominativo,
sendomovidoparaumaposiçãoforadeVP.
Deacordocomessaanálise,asconstruçõesabsolutaspossuemumpontoem
comum com as construções passivas: o argumento interno é movido para uma
posiçãopré-verbaleconcordacomoverbo.Seguindoessaanálise,GrollaeAugusto
comparamasduasconstruções,assumindoqueasabsolutassãoestruturalmente
“maissimples”doqueaspassivasportrêsmotivos:asabsolutasnãoprojetamvP,
não envolvemamarcaçãodoparticípionoverbo enão envolvemaoperaçãode
smuggling30.Umavezqueosujeitodeambasasconstruçõespodeserrelativizado
(comoem“ojardimquedestruiu”),asautoraspreveemque,emseuexperimentode
eliciaçãoderelativas,ascriançasutilizarãoessaestruturacomoumaestratégiade
esquivaparaarelativizaçãodeobjetodireto.
Nosdoisgruposdecriançasestudadospelasautoras(de4e5anosdeidade),
foiconstatadoousodeconstruçõesabsolutas:26,25%e28,75%,respectivamente
nos gruposde4 e5 anos. Por sua vez, os adultosdo estudoproduziramapenas
1,25%derelativascontendoconstruçõesabsolutas.Comrelaçãoaousodepassivas,
30DeacordocomapropostadesmugglingdeCollins(2004),oobjetodiretodeumverbotransitivointernamenteconcatenadoemVPnãopodesemoverdiretamenteparaSpecIP,poisoDPnaposiçãodesujeitointervémnomovimentodoobjetodireto.Paraevitaraintervenção,apropostaprevêoalçamentodeumconstituintecontendo[VPVDPobj],evitandoumproblemadeinterveniênciacomoDPsuj.AssumindoquebyocupaumaposiçãoacimadevP,oconstituintecontendo[VPV+DPobj]émovidoparaaposiçãodeespecificadordaprojeçãodeby.Aestruturadeumapassivaviasmugglingédadaabaixo:
(Collins,2004:9)UmavezquetodoosintagmacontendooDPobjémovidaparaumaposiçãoacimadeDPsuj,oDPobjéalçadosemviolaçõesdelocalidade.
80
enquantoascriançasde4anosnãoproduziramnenhumapassiva,ascriançasde5
anoseosadultosutilizaramrespectivamente11,25%e40%derelativascontendo
umaconstruçãopassiva.Jáousoderelativasdeobjetodiretocontendoumalacuna
naposiçãopós-verbal foide36,25%nogrupodecriançasde4anos,28,75%no
grupodecriançasde5anose42,5%nogrupodeadultos.
Para Grolla e Augusto, esses números sugerem que o custo associado à
construçãopassivaestáligadoàsuaausêncianasproduçõesdascriançasde4anos.
Asautorassugeremqueousodeconstruçõesabsolutaspelosgruposdecrianças
estáassociadoàideiadequeasabsolutassãomaissimplesdoqueaspassivas,sendo
queocustodeproduçãodeumapassivacomoumtodoémaiscomplexa.
Paraasautoras,omovimento-A’daposiçãodeobjetodiretoémaiscustoso
doqueomovimentodaposiçãodesujeito,sendoqueapassivaéumaestruturaque
evitaessecusto.31Noentanto,háumcertocustoparaoprocessamentoeaprodução
dessaestrutura,deacordocomasautoras,provavelmenteligadoaomovimento-A,
geralmenteassumidoparaessaestrutura(cf.nota30).Aconclusãoéaseguinte:
“The absolutive construction avoids both costs, since there is no interveningelement for the A-movement (no external argument is projected) andconsequentlyalesscostlyA’-movementmaybeemployed.”
(GrollaeAugusto,2016:47)
A preferência por relativas de sujeito pode ser explicada com base na
propostadePrincípiodaCadeiaMínima(MinimalChainPrinciple,doravanteMCP),
deDeVincenzi(1991).Essapropostaébaseadanaideiadequecadeias,geradaspor
movimento,sãocustosasparaoprocessamentosintático,umavezqueoparsertenta
completarumacomputaçãoenvolvendoumacadeiaomaisrápidopossível.Istoé,
assimqueumaevidênciadeexistênciadeumacadeiaéencontrada,oparsernão
devedemorarparaidentificarosmembrosdessacadeia.Deacordocomaautora:
31Apesar de as crianças utilizaremestratégias de esquiva emdetrimentodas relativas de objetodireto,ousoderelativasdeobjetodiretoéatestadonasproduçõesinfantisemdiferenteslínguas.Além dos dados do PB em Grolla e Augusto (2016), Belletti e Contemori (2010) reportam quecriançasde4anos,falantesdeitaliano,utilizamrelativasdeobjetodiretoem50%desuasproduçõesequeaspassivascomeçamaserusadasporvoltados5anosdeidade,assimcomonosdadosdeGrollaeAugusto.
81
“Avoidpostulatingunnecessarychainmembers[…],butdonotdelayrequiredchainmembers.”
(DeVincenzi,1991:13)
Com relação às orações relativas, oMCP prevê que, além de identificar o
núcleo relativizado, o parser postule a existência de uma lacuna na posição
argumentalmaispróximaàposiçãoemqueonúcleorelativizadoestá.Comisso,a
“resolução”dacadeiapodeserfeitaomaisrápidopossívelpeloparser,reduzindo
custosdeprocessamentorelacionadosàpostulaçãodecadeiasnarelativização.
Parafinalizar,nestaseçãoapresentamosoestudodeFriedmannetal.2009,
que originou outros estudos sobre a questão da intervenção em relativas. Sua
propostadeextensãodoprincípiodeMinimalidadeRelativizadarendeudiversos
estudosrelacionadosàproduçãoecompreensãodasrelativasporcrianças.Apesar
dehaverconsensonoquedizrespeitoaousodeestratégiasdeesquivademodoa
evitar uma relativa de objeto, a aplicação de uma versão do princípio de
Minimalidade Relativizada para explicar esse comportamento é questionável. Se
verificamosqueháproduçãoderelativasdeobjetoporcrianças,podemosdizerque
(a extensão de) Minimalidade Relativizada não bloqueia essas construções. Em
outraspalavras,aextensãodesseprincípionãodeveseroperativanagramática.
Outrosfatorespodemestaremjogonaproduçãoenacompreensãoderelativasde
objetoporcrianças, comoapreferênciaporrelaçõessintáticasmais locais, como
prevê o MCP, de de Vincenzi (1991). Essa preferência por relações mais locais
resultanousodeestratégiasdeesquivaemdetrimentodasrelativasdeobjeto.Essas
estratégiasincluemapassivizaçãodaoraçãoencaixada,promovendooargumento
naposiçãodeobjetodiretoparaaposiçãodesujeito.Conformevimosnosdadosdo
PBemGrollaeAugusto(2016),osadultosutilizamaspassivascomoumaestratégia
deesquivaderelativasdeobjeto,enquantoqueosdadosdecriançasde4e5anos
de idade indicam uma preferência pelo uso de construções absolutas como
estratégia de esquiva (possivelmente, devido à complexidade derivacional
envolvidanaderivaçãodaspassivas).
Apróximaseçãoédedicadaàapresentaçãodeumoutrofatorrelacionadoà
assimetriaobservadanaproduçãoecompreensãodasrelativasdesujeitoeobjeto
82
direto,asaber:oefeitodotraçodeanimacidadenocomportamentodossujeitosde
pesquisaemestudosexperimentais.
2.5.Otraçodeanimacidadenasoraçõesrelativas
Algunsestudos,comoBenteaetal.(2016),GennarieMacdonald(2007),Mak
etal.(2002,2006),entreoutros,investigamopapeldotraçodeanimacidadenos
argumentos envolvidos em uma sentença relativa e como isso influencia o
desempenhodos sujeitosem tarefasdeproduçãoe compreensãode relativasde
objeto.Porexemplo,emumestudoenvolvendoaleituramonitoradadesentenças,
Gennari eMacdonald (2007) observam que seus sujeitos de pesquisa registram
diferentestemposdeleituraadependerdaconfiguraçãodostraçosdeanimacidade
dosnúcleosnominaisnassentenças.Nesseestudo,asoraçõesrelativasdeobjeto
com o núcleo relativizado [–animado] e o sujeito interno à oração encaixada
[+animado]apresentamtemposdeleituramenoresdoquerelativasdeobjetocom
uma configuração de animacidade inversa, i.e. relativas de objeto com o núcleo
[+animado]eosujeitodaencaixada[–animado].
GennarieMacdonaldcomentamqueasrelativasdeobjetoqueapresentaram
um tempo de leitura menor entre os sujeitos de pesquisa são processadas tão
facilmentequantoasoraçõesrelativasdesujeito.Essesdadoslevamasautorasa
concluíremqueadificuldadeobservadanasrelativasdeobjetopossuiumarelação
direta comamanipulaçãodo traçodeanimacidadedo sujeitodaencaixadaedo
núcleorelativizado.Umavezqueotraço[+animado]écomumenteencontradona
posição de sujeito, quando o núcleo relativizado contém o traço [+animado], é
esperadoqueelesejaoagenteouoexperienciadordoverbodasubordinada,papéis
temáticosgeralmenteatribuídosasujeitos.Aoencontrarumnúcleo[–animado]na
posiçãodesujeitodasubordinada,aexpectativadoleitornãoécorrespondida,em
um primeiromomento, e o leitor deve encontrar algumamaneira de resolver a
83
indeterminação semântica na construção, resultando em um tempo maior de
leitura.3233
Diferentes configurações do traço de animacidade em uma determinada
construçãopodemfacilitaroudificultaroprocessamentodecertasconstruções.Em
Becker(2014),aautoracomentaquealgocomumnaslínguasdomundoéque,em
sentençastransitivassimples,aposiçãodesujeitoégeralmentepreenchidacomum
argumento[+animado].
“One very important insight about language acquisition stems from theobservation that subjects of basic, canonical sentences are often animate, ormoreanimatethanothernounsinthesentence,andthatchildrencanexploitthisfacttohomeinonbasicsentencestructure...”
(Becker,2014:1)
Entretanto, nem sempre os argumentos de um verbo estabelecem uma
relação sintática tão próxima ou esperada. Alguns tipos de verbos, como os de
alternânciacausativa-incoativaeosdealçamento,(83a)e(83b)respectivamente,
não(necessariamente)apresentamumsujeitoanimado.
83.
a. Asoluçãoescureceudentrodofrasco.
b. OJoãopareceestardoente.32 Gennari e Macdonald (2007) reconhecem que há diferentes maneiras de analisar como aindeterminaçãosemânticaéresolvidaemcasoscomooacima.Emtwo-stagemodels,porexemplo,éproposto que o leitor reanalisa a sentença. Essa reanálise é desencadeada pela chegada deinformaçõesnovas,sinalizandoquearelaçãoentreosargumentoseopredicado,queeraassumidaemumprimeiromomento,deve ser interpretadadeumaoutramaneira.Por suavez,constraint-basedmodelsassumemqueháaativaçãoparcialdeinterpretaçõesalternativas,namedidaemqueasentença é ouvida/lida, em funçãodedeterminadas restrições, como frequência e plausibilidade.Fogeaoescopodessetrabalhodeterminarqualdessasduasanáliseséamaisapropriadaparadarcontadarelaçãoentreanimacidadeeprocessamento.33Defato,ascaracterísticasdosargumentospareceminfluenciaraperformancequantoàproduçãoeaoprocessamentoderelativasdeobjeto.Belletti,Friedmann,BrunatoeRizzi(2012),porexemplo,controlaramo gênero dos argumentos em seumaterial de pesquisa, que envolvia uma tarefa decompreensão. Seu estudo contou com 31 crianças falantes de italiano e 31 crianças falantes dehebraico,todasentre3;9e5;5anosdeidade.Foiobservadoumdiferentecomportamentoentreaslínguas.Ospesquisadoresnotaramqueacompreensãodasrelativasfoisuperiornoquedizrespeitoàsrelativasemhebraico.Partedaconclusãoéqueotraçodegêneroérelevanteparaohebraico,umavez que a informação sobre gênero é codificada no verbo, facilitando assim a compreensão dasrelativas.Talfatonãoéobservadoemitaliano.Ouseja,nãoháumefeitodegêneroperse.Deacordocomosautores:“...thepotentialeffectofgenderiscruciallymodulatedbythemorphosyntacticstatusofthefeatureineachlanguage.”(Bellettietal.,2012:1053)
84
Para Becker (2014), considerando que os verbos que aceitam sujeitos
animados e aqueles que aceitam sujeitos inanimados estabelecem relações
diferentes com seus argumentos, suas estruturas sintáticas também apresentam
diferenças.Segundoaautora,umsujeito[–animado]podeinformaràcriançaque
ele pertence a uma estrutura com uma configuração não-canônica. Isto é, se a
criança espera que o sujeito de uma estrutura canônica seja [+animado], a
alternânciadotraçodeanimacidadedesseargumentofazcomqueacriançaexplore
esses“desvios”paraaprenderqueosujeitopodeserumargumentomovido.
Entendendo animacidade como um conceito de natureza não-linguística,
disponíveldesdemuitocedoparaacriançaemfasedeaquisição,aautoraapresenta
umahierarquiadeanimacidade,ilustradaabaixo.
84. Hierarquiadeanimacidade
Humano(1ª/2ªpessoa>3ªpessoa;pronome/nomepróprio/espécie>outronomehumano)>
Animalnão-humano(animal“maisalto”>animal“maisbaixo”)34>Inanimado
(Becker,2014:64)
Emrelaçãoaessahierarquia,Beckernotaqueosreferentesde1ªe2ªpessoa
são necessariamente humanos, enquanto que referentes de 3ª pessoa não são
necessariamentehumanos.Alémdisso, nomespróprios geralmente se referema
humanos,aopassoquenomescomunssereferemàsmaisdiversasentidades.Com
basenessahierarquia,aautoraobservaqueadultostendemainterpretarumsujeito
[+animado] como um agente, enquanto um sujeito [–animado] é geralmente
interpretadocomoumpacienteemumaoraçãoprincipalouumargumentodeuma
sentençaencaixada.
BeckerdescreveoexperimentodeClarkeBegun(1971),cominformantes
adultos. Nesse experimento, os autores verificaram a construção de sentenças
transitivasdeacordocomotraçodeanimacidadedosujeito.Naprimeirapartedo
experimento,foramselecionados40substantivosde5diferentestipossemânticos
34Adiferençaentreanimais“maisaltos”e“maisbaixos”estárelacionadaàssuascaracterísticasemcomparaçãoaohomem.Mamíferosevertebradosemgeralsãoconsideradosanimais“maisaltos”,enquantoqueespéciesmaissimplessãotidascomoanimais“maisbaixos”.
85
(200 itens no total): humano, animal, inanimado-contável (nomes que admitem
plural,como livro),concreto-incontável(comoneve),eabstrato-incontável(como
crescimento).Emseguida,ossujeitosdepesquisacompletaramsentençassimples
em inglêsde forma coerente, usandoumverbonopassado eum substantivona
posiçãodeobjeto.Essassentençasforamapresentadascomaposiçãodesujeitojá
preenchida: “(The) N ____ed (the) ____.” Após construídas, as sentenças foram
sistematicamente alteradas pelos pesquisadores, de modo que os predicados
criados com um sujeito de um determinado tipo semântico foram usados
sistematicamente comum sujeito de umoutro tipo semântico. Por exemplo, um
predicadocriadocomumsujeitohumano,como(85a),foiutilizadocomumsujeito
abstrato,comoem(85c).
85.
a. Theman[consideredtheproblem].
b. Thenoise[frightenedthebaby].
c. ??Thenoise[consideredtheproblem].
d. Theman[frightenedthebaby].
(Becker,2014:127)
Emseguida, essas sentenças foramapresentadasparaumoutrogrupode
adultos que as classificaram conforme sua aceitabilidade em uma escala de 1
(totalmente sem sentido) a 7 (perfeitamente aceitável). Becker aponta duas
generalizaçõesacercadosresultados.Aprimeiradelaséqueossujeitossintáticos
comtraço[+humano]forammaisfrequentementeaceitosemconstruçõesdiversas,
enquantoquesujeitosdacategoriaconcreto-incontávelforamosmenosaceitos.A
segundageneralizaçãoéqueospredicadosqueforamoriginalmentecriadoscom
sujeitoshumanosforamosmenosflexíveiscomoutrostiposdesujeitos.
Finalmente,foipedidoparaqueomesmogrupodeadultostentassemelhorar
assentençasmudandoapenasumadaspalavrasnelas(excetoodeterminantethe).
Foiverificadauma frequentesubstituiçãodossujeitosemsentençascujos
predicadosforamoriginalmentecriadosparasujeitoscomtraço[+humano].Com
86
relaçãoaossujeitosescolhidos,foiobservadaumapreferênciapelousodesujeitos
humanos.
Osresultadosdesseexperimentosugeremque,alémdeexistirumarelação
entreo traçodeanimacidadeeaescolhadeumdeterminadopredicado,háuma
certapreferênciaporargumentoscomotraço[+animado]naposiçãodesujeitoem
sentençastransitivassimpleseminglês.
“Itispossiblethatthecross-linguisticassociationbetweenanimacyandsubjecthoodinfactresultsfromspeakers’psychologicalpreferences,thoughitisalsopossiblethatthedirectionofinfluencegoestheotherway:peoplecometoassociateanimacywithcanonicalsubjectsbecausethisiswhattheyencounterinlanguage.”
(Becker,2014:128)
De fato, de acordo com estudos sobre processamento, como Gennari e
Macdonald(2007)eMaketal.(2002),otraçodeanimacidadepresenteemnúcleos
nominais possui um papel importante no parsing da sentença. Uma vez que
diferentesconfiguraçõesdeanimacidadeaparentamestarenvolvidasnasescolhas
por determinadas estruturas, esses estudos manipulam o traço [±animado] em
construçõesdiversas,relacionandoaousodeestratégiasdalínguaqueprivilegiem
certosargumentosemumaououtraposiçãosintática,alémdedificuldadescomo
parsingdedeterminadasconstruções.Porexemplo,Beckernotaquesubstantivos
inanimadosraramentesãorelacionadosaopapeltemáticodeagente.Destaforma,
ao encontrar um sujeito [–animado], um ouvinte/leitor pode imaginar que a
estruturadasentençanãoseráadeumatransitiva.
“Ingeneral,mostinanimateNPsmakepooragents,andsotheiroccurrenceinsubjectpositioncansuggesttoreadersthatthesentencewillnothaveamatrixtransitive structure, but rather some alternative structure that allows thesubjecttobeconstruedasthepatientoftheverb.”
(Becker,2014:135)
Assim, uma vez que a seleção dos argumentos de um verbo depende, em
parte,dasrelaçõessemânticasqueserãoestabelecidasentresi,otraço[±animado]
deumargumentoemumasentençapodeinfluenciarnasprevisõesdeumfalante
acercadasaspropriedadestemáticasdopredicadoqueseguirá.Alémdisso,parece
87
haverumacertapreferênciapelousodeumsujeito[+animado]quandoumobjeto
é[–animado],conformevimosnoexperimentodeClarkeBegun(1971),reportado
emBecker(2014).
EncerramosestapartedadissertaçãoapresentandooestudodeGennarie
Macdonald (2007), que aponta para uma relação entre a dificuldade no
processamentoderelativasdeobjetoeotraçodeanimacidadedosujeitodarelativa
edonúcleorelativizado.ComBecker(2014),assumimosqueotraçodeanimacidade
pode ajudar a criança em fase de aquisição a descobrir certas características
sintáticas,comoporexemploaspropriedadesdeverbosdealternânciacausativa-
incoativa e verbos de alçamento (cf. 83). Becker também descreve o trabalho
experimentaldeClarkeBegun(1971),queapontaparaumapreferênciadeusode
argumentoscomotraço[+animado]naposiçãodesujeito.Finalmente,estaseção
busca justificar a escolhado traçode animacidade comoumavariável emnosso
trabalho.Emnossoestudoexperimental,otraçodeanimacidadefoimanipuladoem
nossos materiais de modo a testarmos todas as configurações possíveis e
verificarmosseháumacorrelaçãoentreanimacidadeeintervenção,nosmoldesda
propostadeFriedmannetal.(2009).
No próximo capítulo, retomaremos nossa hipótese de trabalho, além dos
objetivoseprevisões.Detalharemosnossoestudoexperimental,apresentandoos
critérios de inclusão/exclusão de informantes para nossa pesquisa, osmateriais
utilizados e como classificaremos nossos dados. Por fim, apresentaremos os
resultadosobtidoseosanalisaremosemdetalhes.
88
Capítulo3:ESTUDOEXPERIMENTAL_______________________________________________________________________________________________
Comovistonocapítulo2,emgeral,háconsensonaliteraturasobreasorações
relativasnoquedizrespeitoàdificuldadequeascriançastêmnoprocessamentode
relativasdeobjetoeàpreferênciapelousodeestratégiasdeesquiva,queincluemo
uso de relativas de sujeito e de outras estruturas, como construções passivas e
absolutas,porexemplo,emtarefasdeproduçãoderelativasdeobjeto.
Apresentedissertaçãoinvestigaocomportamentolinguísticodecriançasem
fasedeaquisiçãodoPB,acercadaproduçãodeoraçõesrelativasaotentarmoseliciar
relativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado.Emnossoestudo,verificamos
seotraçodeanimacidadedosnúcleosnominaispresentesnaestruturainfluencia
naescolhaporumaououtraestratégiadeesquiva,nessesdoistiposderelativas.
Conformeveremosemdetalhenestaseção,nossomaterialexperimentalé
compostodeorações relativasdeobjetodiretoepreposicionadoemqueo traço
[±animado]dosujeitodasubordinadaedonúcleorelativizadoforammanipulados
paratestarmossediferentesconfiguraçõespodemfacilitaroudificultaraprodução
derelativasdeobjetoemPB,comoemGennarieMacdonald(2008).Alémdisso,em
nossomaterialexperimental,nãoapenasonúcleorelativizadopossuiotraço[+NP],
mas também o sujeito da relativa. Conforme vimos no capítulo 2, seção 2.4, de
acordo com Friedmann et al. (2009), a presença de traços iguais no sujeito da
relativaenonúcleorelativizadotornaosujeitoumelementointervenienteparaa
relativizaçãodoobjetonagramáticainfantil.
Retomandonossahipótesedetrabalhonocapítulo1:
1.
a. Hipótesedetrabalho:OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemático
influenciamasestratégiasutilizadaspelosfalantesaoproduziremsentenças
envolvendorelativas.
89
b. Hipótesenula:OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemáticonão
influenciamasestratégiasutilizadaspelosfalantesaoproduziremsentenças
envolvendorelativas.
Com relação ao objetivo central da pesquisa, nosso experimento foi
trabalhadodemodoaverificar a influência (i)do traçodeanimacidadedosNPs
envolvidosnaestruturae(ii)daposiçãodonúcleorelativizado(objetodiretovs.
objetopreposicionado)emumatarefadeeliciaçãoderelativasdeobjetopormeio
daapresentaçãodeparesdefiguras.Nossosobjetivosespecíficossão:
2.
a. Testarcriançasde4;0a6;11deidadeeadultos(de20anosdeidademais)
demodoaobservarasdiferentesestratégiasutilizadasaoseeliciarrelativas
deobjetodiretoedeobjetopreposicionado;
b. Verificarseamanipulaçãodo traço [±animado]dosnúcleosnominaisnos
materiaisdoexperimentoresultamemumapreferênciapordeterminada(s)
estratégia(s);
c. Comparardadosdas crianças comos adultospara checar se, em todas as
faixasetáriastestadas,ascriançasjáapresentamcomportamentoadulto.
d. Compararosresultadoscolhidosnosexperimentosdesteestudocomdados
obtidosporestudosanterioresdisponíveisnaliteratura.
Nossasprevisõessão:
3.
a. Ascriançasutilizarãoestratégiasdeesquivaafimdeevitararelativizaçãode
um elemento em posição de objeto direto e de objeto preposicionado
(Belletti,2008e2009;BellettieContemori,2010;Costaetal.,2014;Grollae
Augusto, 2016; Guasti e Cardinaletti, 2003; Labelle, 1990, 1996;
NovogrodskyeFriedmann,2006;Utzeri,2007);
b. Onúmeroderelativasdeobjetodiretoproduzidoapresentaráumavariação
deacordocomamanipulaçãodotraçodeanimacidade,sendoaconfiguração
90
comumsujeito[–animado]eumnúcleorelativizado[+animado]aconfiguração
maisdifícil(GennarieMacdonald,2007;Gennarietal.,2012;Maketal.,2006);
c. Onúmeroderelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãoserá(próximo
de)zero(Labelle,1990;GuastieCardinaletti,2003;Tarallo,1983).
d. Os adultos produzirão mais orações relativas, seguindo a tarefa do
experimento,enquantoqueascrianças,principalmenteasmaisnovas,não
serão unânimes quanto ao uso de relativas em suas produções (Grolla e
Augusto,2016;Labelle,1990;McKeeetal.1998).
Conforme vimos nas seções que antecedem a descrição de nosso estudo
experimental,esperamosousodeestratégiasdeesquiva,umavezqueascrianças,
emgeral,evitamousoderelativasdeobjeto,possivelmentedevidoaoseualtocusto
de processamento (cf. (3a)). Além disso, de acordo com estudos envolvendo a
manipulaçãodotraço[±animado],esperamoseliciarmaisrelativasdeobjetodireto
em que o núcleo relativizado é [–animado] e o sujeito da relativa é [+animado]
(GennarieMacdonald,2007eMaketal.,2006).Nãoesperamosencontrarrelativas
com o alçamento de preposição, conforme a descrição em Tarallo (1983).
Finalmente,esperamosqueosadultosproduzammaisrelativasdoqueascrianças,
seguindoatarefapropostaemnossoexperimento(comoobservadonosestudosde
GrollaeAugusto,2016;Labelle,1990;McKeeetal.1998).
Noque se segue, descreveremos emdetalhes ametodologia experimental
adotada:umatarefadeeliciaçãoderelativaspormeiodaapresentaçãodeparesde
figuras. Delinearemos o desenho do experimento e as condições e estímulos
utilizados. Em seguida, apresentamos os resultados obtidos, organizados e
classificadosdeacordocomosgruposexperimentaiseogrupodecontrole.Porfim,
apresentaremosumadiscussãosobreosresultadosgerais.
3.1.Oexperimento
Ométodoutilizadofoiumatarefadeproduçãoeliciada,cujosestímuloseram
figuras apresentadas na tela de um computador. As sessões comos informantes
foram gravadas em áudio/vídeo, para a posterior transcrição das respostas. As
91
sessõesocorreramemumasalareservadadaescolaondeascriançasestudavam,
semgrandes interferênciassonorasouvisuais,ondeasegurançaeacomodidade
dospesquisadoreseinformantesforamprioritariamentegarantidasdemodoanão
havervariáveisexternasquepudessemintervirnosdadoscolhidosenosresultados
doestudo.
Ametodologiausadanesseexperimentofoibaseadanaquelasdescritasem
Labelle(1990)eemFriedmannetal.(2009).Opesquisadorpropõeumaatividade
na qual o sujeito de pesquisa deve dizer qual personagem ele escolhe após a
apresentaçãode cada cena. Cadapar de figuras foi apresentado seguidode uma
contextualizaçãonarradapelopesquisador.Ospersonagenseobjetossobreosquais
osinformanteseramindagadossomentepoderiamserdiferenciadosporsuasações,
jáqueeramfisicamenteidênticosnasduasimagensapresentadas.Issofavoreceua
utilizaçãodeumaoração relativaparaa identificaçãodospersonagenseobjetos
escolhidospelosinformantes.
A interação entre o pesquisador e os sujeitos de pesquisa aconteceu da
seguinte forma.Apósapresentarcadaparde figuras,opesquisadorpediuparao
informanteescolherumpersonagem.Abaixo,exemplificamosafaladopesquisador
eafalaesperadadoinformante:
4.
Pesquisador: “Aqui,ameninaestádeitadaeaquiameninaestásentada.
Qualmeninavocêescolhe?”
Informante: “Euescolhoameninaqueestádeitada/sentada.”
Osúnicosreferentespossíveiseramoselementosidênticosapresentadosnas
figuras. Se observasse que o informante não havia produzido uma relativa, o
pesquisadorrepetiaaperguntae,porvezes,lembravaoinformantequeeledeveria
começarsuarespostacom“Euescolhoa/o...”.Casooinformanteenfrentassealguma
dificuldadepararesponderàperguntaouentenderacena,opesquisadorrepetiaa
descriçãodopardefigurasepediaparaquenovamenteo informantedesseuma
respostacompleta.
92
3.2.Osinformanteseoscritériosdeinclusão/exclusão
Paraonossoexperimento,selecionamosumgrupodecontroleconstituído
porinformantes20adultosde20anosdeidadeoumais,etrêsgruposexperimentais
compostospor30criançascada.Essesgruposforamdivididosnasseguintesfaixas
etárias:de4;0a4;11deidade,de5;0a5;11deidade,ede6;0a6;11deidade.35Essa
divisãosejustificanamedidaemqueumaorganizaçãodosresultadosdessaforma
nosdáumpanoramalongitudinaldecomoascriançassecomportamcomrelaçãoà
tarefaproposta.Ogrupodeinformantesadultosnosservirádebasedecomparação.
Comisso,esperamosqueogrupoexperimentalcompostodecriançasde6;0a6;11
anos de idade se comporte demaneiramais parecida com os adultos do que as
crianças de 4;0 a 4;11 de idade. Ou seja, esperamos ver nos dados infantis uma
mudançagradualnasescolhasdasestratégiasdeesquivaerelativização,emdireção
aosdadosadultos.
Osinformantesselecionadosforamaquelesque,alémdeterementregadoo
TCLEdevidamentepreenchidoeassinado,passaramporumpré-testequeincluíaa
eliciaçãoderelativasdeobjetopormeiodeparesde figuras.Paraessepré-teste,
cinco pares de figuras foram apresentados a cada sujeito de pesquisa e, após o
pesquisadorterexplicadoatarefa,apenasaquelesqueproduziramaomenosquatro
oraçõesrelativasemsuasrespostasseguiramparaafasedecoletadedados.
No caso das crianças, antes desse pré-teste, houve um indicador de
consentimentodacriança.Aoexplicardemaneirasimplificadaebreveomotivodo
experimento e como ele aconteceria, o pesquisador pediu para que cada criança
apontasseparaumcartãoilustrandoumrostosorrindo,seelaquisesseparticipar,
35OsparticipantesadultosassinaramumTermodeConsentimentoLivreeEsclarecido(TCLE)e,nocasodascrianças,osresponsáveislegaisassinaramemeentregaramomesmotermo,concordandocomasuaparticipaçãonoexperimentoeemdisponibilizarosdadosobtidosparanossoestudo.SeusdadospessoaisestãoseguramentearmazenadosnoLEAL-laboratóriodeestudosemaquisiçãodelinguagem da FFLCH/USP, respeitando a integridade psicológica e moral dos participantes,cumprindo assim todos os Termos das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de PesquisasenvolvendoSeresHumanos,emconformidadecomasResoluçõesdoConselhoNacionaldeSaúdenº466/12ecomplementares.NúmerodoCertificadodeApresentaçãoparaApreciaçãoÉtica(CAAE):36349814.1.0000.5561AutorizadojuntoaoComitêdeÉticaemPesquisadoInstitutodePsicologiadaUSP,em04/09/2014.
93
ouparaumcartãoilustrandoumrostotriste,seelanãoquisesse.Essaetapanãofoi
utilizadanacoletadedadoscomosadultos.
Foram excluídas as crianças que não terminaram a tarefa por qualquer
motivo(cansaço,desinteresse,horáriodesaída,etc.),criançasquepassarampelo
pré-teste,masquesedispersaramduranteatarefaecriançasquenãoconsentiram
em participar do experimento. Crianças com qualquer tipo de distúrbiomental,
problemaauditivo, problema severode fala ou criançasquenão fossem falantes
nativas de PB não foram recrutadas para participar de nosso experimento.
Ressaltamosquenãohouveexclusão,tampoucodiferenciaçãonotratamento,com
basenonívelsociocultural,naraça,nacrença,etc.dacriançaedesuafamília.
3.3.Osmateriais
Nos materiais usados, dois personagens idênticos são apresentados aos
informantes.Ospersonagensouobjetoscorrespondentesaoalvodarelativização
estão envolvidos em atividades diferentes nas duas imagens e só podem ser
distinguidospormeiodessasatividades.36Porexemplo,naprimeira imagem,um
meninoestámolhandoumabicicleta,enquantoquenasegundaimagem,ummenino
estásujandoumabicicleta,ambosidênticoseposicionadosdemaneiraidêntica(cf.
(5)abaixo).Foramapresentados,de formarandômicae fixa,24paresde figuras
para eliciar 12 relativas de objeto direto e 12 de objeto preposicionado (cada
informanteviutodasasfiguras,namesmaordem).Asvariáveisindependentesdo
estudo sãoo traçodeanimacidadedonúcleo relativizadoedo sujeitodaoração
relativa e a posição sintática dentro da relativa (objeto direto ou objeto
preposicionado).
Ascondiçõesformadassão,portanto:
36 As imagens foram produzidas especialmente para nosso estudo, usando o software AdobePhotoshop CS5. Agradecemos à Ana Laura Nishiuchi Fernandes, por disponibilizar os vetoresnecessáriosparaaediçãodasimagens.
94
Quadro4:Ascondiçõesdeanimacidadetestadasnoexperimento.
Tipoderelativa Sujeitodasubordinada Núcleorelativizado
Relativadeobjetodireto
[+animado] [+animado][+animado] [–animado][–animado] [+animado][–animado] [–animado]
Relativadeobjetopreposicionado
[+animado] [+animado]
[+animado] [–animado][–animado] [+animado][–animado] [–animado]
Comisso,temosumestudo2x4,cujavariáveldependenteéaquantidadede
relativasdeobjetodiretoepreposicionado(estruturasalvo)produzidas.
Alémdisso,ogênerodosargumentosfoimanipuladodemodoque,emcada
pardefiguras,osdoispersonagenspossuíssemgênerosopostos,comonoexemplo
abaixo.
5. “Omeninosujou/molhouabicicleta”.
Figura1:Omeninosujouabicicletavs.Omeninomolhouabicicleta.
Amanipulaçãode gênero foi feitapara identificarmosqual argumento foi
relativizadoempossíveisrespostasiniciadascom“aquele(a)que”,“o(a)que”.Em
relaçãoaoexemploacima,umarespostacomo“...aqueestámolhada”nosindicaque
o argumento relativizado é a bicicleta. Se tivéssemos cenas como “O menino
sujou/molhouocarro”,nãoconseguiríamossaberqualéonúcleodarelativaem“...o
que está molhado.” Apesar de evitarmos esse tipo de ambiguidade em nossos
materiais,noscasosemqueoinformantenãoproduziuonúcleo,foipedidoparaque
elerepetissesuaresposta,iniciando-acomonúcleorelativo,nocaso“abicicleta”.
Apósduastentativas,casooinformanteaindanãoproduzisseonúcleoabertamente,
95
continuaríamoscomoexperimentosemmaiscomentários,paranãoconstrangera
criança,computandosuaprimeiraresposta.
Algunsexemplosdosmateriaisutilizadosseguemabaixo37:
Quadro5:Exemplosdosmateriaisutilizadosnoexperimento.Posiçãorelativizada: Objetodireto
Configuraçãodeanimacidade:
Sujeitoencaixado[+animado]Núcleorelativizado[+animado]
Apresentação: “Nessafigura,ameninaestáempurrandoocachorroenessafiguraameninaestáabraçandoocachorro.Qualcachorrovocêescolhe?”
Sentençaalvo: “...ocachorroqueameninaestáempurrando/abraçando.”
Figurasusadas:
Posiçãorelativizada: Objetopreposicionado
Configuraçãodeanimacidade:
Sujeitoencaixado[+animado]Núcleorelativizado[+animado]
Apresentação: “Ameninacolocouochapéunomeninoeameninatirouochapéudomenino.Qualmeninovocêescolhe?”
Sentençaalvo: “...omeninoemquemameninacolocouochapéu/dequemameninatirouochapéu.”
Figurasusadas:
37Todasasfigurasutilizadasnoexperimentoconstamnoapêndiceaofinaldotexto.
96
Ressaltamos que os estímulos para as relativas preposicionadas contêm
argumentos que desempenham diferentes funções nas sentenças, como locativo,
possessivo,objetoindireto,etc.Paraaescolhadosverboseargumentosemnosso
material experimental, enfrentamos diversos desafios, como o fato de que as
imagenstinhamdeconterelementosanimadoseinanimados,alémdeverbosque
aceitassemargumentosanimadose inanimados.Alémdisso,osverbostinhamde
fazer parte do vocabulário de crianças em idade pré-escolar. Esses desafios nos
levaramaessasdiferençasemnossosmateriais.Noentanto,lembramosquetodas
as sentenças comNPspreposicionados impõemumadificuldadenaproduçãode
relativaseessepontocomuméoquenorteiaesseestudo.Comoseveránaseçãode
resultados,ossujeitosdepesquisaapresentaramumcomportamentouniformeno
quedizrespeitoàdificuldadecomtodosessestiposdeelementospreposicionados.
Alémdisso,naapresentaçãodasfiguras,oexperimentadorapontavaegesticulava
paraqueossujeitosdepesquisaentendessemoqueestavaacontecendoemcada
cenário(comonoexemplonoquadroacima).
Intercaladoentrecadapardefigurascorrespondenteàsrelativaseliciadas,
foi apresentado um par de figuras eliciando uma sentença distratora, para
desviarmosaatençãodosinformantesdasestruturastestadas.Tambémpudemos
avaliar seos informantesestavamcooperando, aoparticiparadequadamenteem
nossatarefa.Nocasodasdistratoras,assentençasalvoconsistiamemrelativasde
sujeito.Escolhemosessaconstruçãojáquerelativasdesujeitosãoasestruturasque
ascriançasproduzemespontaneamentedesdecedo(cf.Grolla(2000)paradados
espontâneosdeproduçãoderelativasdesujeitoemumacriançaapartirdos2anos
de idade), alémdemantermos as instruções da tarefa omais simples possível e
fornecer condições para que os informantes produzissem o maior número de
relativasduranteoexperimento.
3.4.Classificaçãodosdados
Apósacoletadosdados,todasasproduçõesforamtranscritas.Levantamos
onúmerodeoraçõesrelativasdetodosostiposproduzidasporcadaparticipante,
organizando os dados de acordo com a estratégia empregada (a ser discutida
97
abaixo),ogrupodoparticipanteeacondiçãodeanimacidadeeposiçãosintática
(objeto direto ou preposicionado). Além das relativas, também classificamos as
produçõesquenãocontinhamumarelativaeaquelasemqueonúcleorelativizado
eradiferentedoqueeraperguntadoparaoinformante.
Combasenastranscriçõesorganizadas,foramconduzidostestesestatísticos
paraverificarmosseasdiferençasnosresultadosentreascondiçõesdeanimacidade
e posições sintáticas e entre os grupos são significativas. Com isso, podemos
observar(i)arelevânciadasvariáveiscontroladasduranteoexperimento,asaber
otraçodeanimacidadedosujeitoedoobjetodireto/preposicionado,eaposição
sintáticadoelementorelativizado,e(ii)opercursodedesenvolvimentodascrianças
rumoaocomportamentolinguísticoadulto.
Fixadososcritériosdeclassificaçãoedeorganizaçãodosdados,passaremos
para os resultados do experimento. Emumprimeiromomento, esses resultados
serão divididos em duas partes: A seção 3.5.1 trata dos dados concernentes à
eliciaçãodasrelativasdeobjetodireto,enquantoqueaseção3.5.2temcomofocoos
dados referentes à eliciação das relativas de objeto preposicional. Em seguida,
analisaremos cada condição de animacidade, em cada tipo de relativa que o
experimentobuscoueliciar.Porfim,apresentaremosadiscussãodessesresultados
enossaconclusão.
3.5.Classificaçãodosresultados
Somando todas as produções dos três grupos experimentais e do grupo
controle, foram eliciados 2.640 enunciados, dos quais 2.150 continham orações
relativas (81,4% do total). Somando apenas os dados dos grupos experimentais
(crianças), obtivemos 2.160 enunciados, dos quais 1.682 continham orações
relativas (77,9% do total). A tabela abaixo detalha a distribuição das produções
contendo relativas e o número total de enunciados eliciados divididos entre os
gruposeostiposderelativa-alvo.
98
Tabela 2: Número de relativas produzidas/total possível em cada grupo, por posiçãotestadaegrupodesujeitos.
Posiçãodonúcleo
relativizado
Adultos(N=20)
Crianças4;0–4;11(N=30)
Crianças5;0–5;11(N=30)
Crianças6;0–6;11(N=30)
Total(N=110)
Obj.Dir. 98,3%(236de240)
71,4%(257de360)
82,2%(296de360)
88,6%(319de360)
83,9%(1108de1320)
Obj.Prep. 96,7%(232de240)
60,5%(218de360)
80%(288de360)
84,4%(304de360)
78,9%(1042de1320)
Total 97,5%(468de480)
66%(475de720)
81,1%(584de720)
86,5%(623de720)
81,4%(2150de2640)
Osenunciadosquenãocontinhamarelativizaçãodoelementopedido(490,
ou18,6%dototal)possuemestruturasdiversas,comoassentençasexemplificadas
em(6a-d).
6. Sentençaalvo:“Acasaqueofuracãodestruiu.”
Produções:
a. Acasadestruída.
b. Acasatádestruída.
c. Acasanochão.
d. Ofuracãodestruiuacasa.
Aoeliciarasrelativasdeobjetodiretoeobjetopreposicionado,tambémfoi
atestadoousoderelativasdesujeitoportodososgruposestudados.Taisproduções
forambastanteprodutivaseserãoanalisadasdetidamentenoquesesegue,poiselas
sugeremumaestratégiadeesquivaprodutivautilizadatantoporadultosquantopor
crianças. Essas relativas foram classificadas de acordo com as construções
envolvidas,conformevemosabaixoenosexemplosqueseguem.
Figura2:Acasaqueofuracãodestruiu.
99
Quadro6:Osdiferentestiposderelativasdesujeito–estratégiasdeesquiva. “Tipoderelativa” •“Construçãoutilizada”
RelativadeSujeito
•Comoutroverbo(cf.7a)•Comadjetivoouverbodemudançadeestado(cf.7b)•Passiva(cf.7c)•Absoluta(cf.7d)•Reflexiva(cf.7e)•Reversibilidade(cf.7f)•“ter+DP+particípio”(cf.7g)
7. Relativasdesujeito–estratégiasdeesquiva
a. Comoutroverbo
Relativaalvo:“...ameninaparaquemomeninocontouumahistória.”
Relativaproduzida:“...ameninai[que___iouviuahistória].”
b. Comadjetivoouverbodemudançadeestado
Relativaalvo:“...abicicletaqueomeninosujou.”
Relativaproduzida:“...abicicletai[que___iestásuja/sujou].”
c. Passiva
Relativaalvo:“...amulherqueocachorromordeu.”
Relativaproduzida:“...amulheri[que___ifoimordida].”
d. Absoluta
Relativaalvo:“...atoalhaqueoaspiradorengoliu.”
Relativaproduzida:“...atoalhai[que___iengoliu].”
e. Reflexiva
Relativaalvo:“...omeninoqueameninamolhou.”
Relativaproduzida:“...omeninoi[que___isemolhou].”
f. Reversibilidadedosargumentos
Relativaalvo:“...ameninacomquemomeninodançou.”
Relativaproduzida:“...ameninai[que___idançou].”
g. “ter+DP+particípio”
Relativaalvo:“...ovelhovelhodequemaondalevouagarrafa.”
Relativaproduzida:“...ovelhoi[que___iteveagarrafalevada].”
100
Todas construções exemplificadas em (6-7) se juntam à contagem de
produções envolvendo as estratégias de esquiva, uma vez que esses tipos de
produções diferem da estrutura alvo. Em outras palavras, dado que o contexto
apresentadoeraclaramenteemfavordeumarelativadeobjeto,qualquerestrutura
diferente da estrutura alvo pedida em que os sujeitos fizeram modificações e
produziramcoisasdiferentesdoesperadofoiclassificadacomoumaestratégiade
esquiva. É importante salientar que, apesar de essas produções fugirem do que
tínhamos como construção alvo, elas são pragmaticamente apropriadas, como
vemosabaixoemumexemplodeumdiálogoenvolvendoousodeumaestratégiade
esquiva.38
8.
Pesquisador: “Aqui,ocachorromordeuamulher.Aqui,ocachorrolambeu
amulher.Qualmulhervocêescolhe?”
J.C.(6;2): “Euescolhoamulherquefoilambidapelocachorro.”
Noquedizrespeitoàsconstruçõesrelativasalvoatestadas,asproduçõesdos
sujeitosdepesquisaforamclassificadasdeacordocomotipoderelativaproduzida.
Listamosabaixoaspossíveisconstruçõesenvolvidas.
Quadro7:Tiposderelativaseasestratégiasderelativizaçãoempregadas.
“Tipoderelativa” •“Construçãoutilizada”
RelativadeObjeto
(DiretoouPreposicionado)
•Compronomeresumptivo(cf.9a)•ComNPresumptivo(cf.9b)•ComlacunaemposiçãodeObj.Dir.(cf.9c)•ComlacunaemposiçãodePP(cf.9d)•Compied-pipingpreposicional(cf.9e)
38Ousodeestratégiasdeesquiva foipoucoatestadoquandoasdistratoras (relativasde sujeito)forameliciadas.
101
9. Relativasdeobjeto(direto/preposicionado)
a. Compronomeresumptivo
Relativa:“...amulher[queocachorrolambeuela].”
b. ComNPresumptivo
Relativa:“...atoalha[queoaspiradorlimpouatoalha].”
c. Comlacunaemposiçãodeobjetodireto
Relativa:“...omenino[queameninasujou].”
d. Cortadora(comumalacunanolugardoPP,sempied-pipingpreposicional)
Relativa:“...ovelho[queaondatrouxeagarrafa].”
e. Compied-pipingpreposicional
Relativa:“...ovelho[paraquemaondatrouxeagarrafa].”
Apartirdessa classificação,poderemoscomparara frequênciadeusodas
relativas de objeto com o uso das estratégias de esquiva. O detalhamento das
construções utilizadas também nos permitirá verificar quais construções são
preferidasemcadafaixaetária,alémdedetectarqueconfiguraçãodeanimacidade
equeposiçãosintáticatrazemmaisdificuldadesoufacilidadesparacadagrupode
participantes.
Nasseçõesseguintes,detalharemososresultadosdaeliciaçãodasrelativasde
objeto direto e das relativas de objeto preposicionado, abrangendo todas as
configuraçõesdeanimacidadeestudadas.Emseguida,apresentaremosumaanálisee
discussão acerca desses dados. Logo depois, organizaremos nossos resultados de
acordocomcadaconfiguraçãodeanimacidadetestada.Primeiro,apresentaremosos
dadosconcernentesàsrelativasdeobjetodireto.Emseguida,osdadosrelativosàs
relativas de objeto preposicionado serão apresentados. Finalmente, discutiremos
essesdadoscombasenocapítulo2eemresultadosdeestudosanteriores.
102
3.6.Resultados
3.6.1.EliciandoasrelativasdeObjetoDireto
Seguindoaclassificaçãopropostaacima,ográfico1mostraafrequênciacom
quecada tipoderelativa foiproduzidoporcadagrupo,alémdaporcentagemde
produçõesreferentesàsestratégiasdeesquiva,exemplificadasem(6)e(7),acima.
Gráfico1:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodiretoemcadagrupo.
Podemos ver no gráfico 1 que as estratégias de esquiva (que envolvem
construçõesdiferentesdasrelativasdeobjeto,aquelaslistadaseilustradasem(6)e
(7),foramamplamenteempregadasemtodososgruposestudados.
Aoanalisarmosasproduçõesde relativasdeobjetodireto compronomes
resumptivos, na tabela 3 abaixo, podemos notar que seu uso se torna menos
frequentedeacordocomaidadedosinformantes.Ousodepronomesresumptivos
pelas crianças de 4 anos (12,1%) é quase duas vezes maior se comparado às
porcentagensdosgruposde5e6anos(6%e5,4%,respectivamente).Jánogrupo
103
de adultos, verificamos a frequência de apenas 1,1% de uso de pronomes
resumptivosnasrelativasdeobjetodireto.
Com relação às relativas comNPs resumptivos, notamos que seu uso por
criançasde4anosétãofrequentequantooseuusoporcriançasde5anos(13,2%
e12,7%,respectivamente),enquantoqueogrupodecriançasde6anosasutilizou
comumafrequênciamenor(5,4%).Porsuavez,osadultosnãoproduziramrelativas
deobjetodiretocomumNPresumptivo.
AbaixotemosatabelacomafrequênciadeproduçãoderelativascomNPse
pronomesresumptivos,seguidadealgunsexemplosdessasconstruções:
Tabela3:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodireto.39
4anos 5anos 6anos AdultosPron.
resump.NP
resump.Pron.
resump.NP
resump.Pron.
resump.NP
resump.Pron.
resump.NP
resump.
12,1%(11)
13,2%(12)
6%(9)
12,7%(19)
5,4%(6)
5,4%(6)
1,1%(1)
0%(0)
10. Relativasdeobjetodiretocompronomesresumptivos
a. “...amulherqueocachorrolambeuela.”C.G.(4;9)
b. “...omeninoqueaondasómolhouele.”J.C.(5;9)
c. “...omeninoqueameninamolhouele.”J.C.(6;2)
11. RelativasdeobjetodiretocomNPsresumptivos
a. “...acaixaqueeletáempurrandoacaixa.”G.H.(4;4)
b. “...acachorraqueoaspiradorestáengolindoacachorra.”T.M.(5;3)
c. “...ovasoqueachuvamolhouovaso.”H.S.(6;1)
Noquedizrespeitoàfrequênciadeproduçãoderelativasdeobjetodireto
comumalacuna,nossosdados indicamqueascriançasmaisvelhaspossuemum
comportamentomaispróximoaocomportamentoadulto.Asporcentagensnatabela
4indicamqueascriançasde4anossãoasquemenosproduzemrelativasdeobjeto
39Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõescomresumptivosfrenteaototalderelativasdeobjetodaquelafaixaetária.
104
direto com uma lacuna, seguidas das crianças de 5 anos (74,7% e 81,3% de
frequênciaemcadagrupo,respectivamente).Jáascriançasde6anosapresentam
uma porcentagem mais próxima à porcentagem de frequência de uso dessa
construçãoporadultos(89,2%e98,9%,respectivamente).
Tabela4:Númeroderelativasdeobjetodiretocomlacuna.40
4anos 5anos 6anos AdultosLacunadeOD LacunadeOD LacunadeOD LacunadeOD
74,7%(68)
81,3%(121)
89,2%(100)
98,9%(87)
12. Produçõesderelativasdeobjetodiretocomlacuna
a. “...ocachorroqueameninatáempurrando.”J.D.(4;11)
b. “...abicicletaqueomeninolimpou.”K.R.(5;9)
c. “...acasaqueofuracãolevou.”G.R.(6;1)
Jácomrelaçãoàsconstruçõesutilizadascomoestratégiadeesquiva,vemos
umaclarapreferênciapelaestratégiapassivanogrupodeadultos.85,5%(130de
152) dessas construções foram estruturas passivas nesse grupo. Por sua vez, as
porcentagensdosgruposdecriançasnãoparecemapontaramesmatendência.Em
geral,ascriançasutilizamrelativasdesujeitonessatarefaepreferemoutrasduas
construções:ousodeumadjetivoouumverboqueindiquemudançadeestado(i.e.
umverboincoativo),eousodeconstruçõesabsolutas.
Abaixovemosatabelareferenteàsporcentagensdeestratégiasdeesquiva,
seguidadeumexemplodecadaconstrução.41
40Asporcentagenssereferemàfrequênciadecadaproduçãorelativaaototalderelativasdeobjetodireto.41Paraosexemplosem(13),listamosasrelativasalvodadoquealgumasdasproduçõesforambemdiferentesdoqueesperávamos.
105
Tabela5:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto.42Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 11,5%(31)
20,1%(54)
2,6%(7)
24,2%(65)
1,1%(3)
2,2%(6)
0,0%(0)
38,3%(103)
5anos 14,7%(31)
23,7%(50)
7,1%(15)
22,9%(48)
0,9%(2)
0,4%(1)
0,0%(0)
30,3%(64)
6anos 16,5%(41)
29,4%(73)
21,4%(53)
15,3%(38)
0,8%(2)
0,0%(0)
0,0%(0)
16,5%(41)
Adultos 1,3%(2)
9,9%(15)
85,6%(130)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,6%(1)
2,6%(4)
13. Relativasdesujeitoutilizadascomoesquivadeobjetodireto
a. Relativaalvo: “...acorujaqueofuracãoderrubou.”
Produção(V≠): “...acorujaquecaiu.”B.F.(4;5)
b. Relativaalvo: “...omeninoqueaondamolhou.”
Produção(Adj.): “...omeninoquetámolhado.”V.B.(4;8)
c. Relativaalvo: “...atoalhaqueoaspiradorengoliu.”
Produção(Pass.): “...atoalhaquetásendoaspirada.”V.B.(4;8)
d. Relativaalvo: “...ocachorroqueameninaabraçou.”
Produção(Abs.): “...ocachorroqueabraçou.”V.S.(4;6)
e. Relativaalvo: “...omeninoqueameninamolhou.”
Produção(Refl.): “...omeninoquesemolhou.”P.F.(5;8)
f. Relativaalvo: “...omeninoqueameninamolhou.”
Produção(Rev.): “...omeninoquemolhouamenina.”R.B.(4;5)
g. Relativaalvo: “...amulherqueocachorromordeu.”
Produção(terDPPRT): “...amulherqueteveojoelhomordido.”J.M.(adulto)
h. Relativaalvo: “...abicicletaqueomeninomolhou.”
Produção(N/A): “...abicicletalimpa.”P.F.(5;8)
No que concerne às produções que não continham uma oração relativa
(colunaN/A na tabela 5), vemos que as crianças de 4 anos foram as que mais
42Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
106
apresentaramesse tipodeprodução, seguidaspelas criançasde5 anos edepois
pelascriançasde6anos(frequênciasdeproduçãode38,3%,30,3%e16,5%em
cada faixa etária, respectivamente). Apenas 2,6% dos enunciados no grupo de
adultos não continham uma relativa, sendo este o grupo com a maior taxa de
frequênciadeusoderelativasemsuasrespostas.
Na próxima seção, apresentaremos os resultados quanto à eliciação das
relativasdeobjetopreposicionado.
3.6.2.EliciandoasrelativasdeObjetoPreposicionado
Nessa seção, veremos os dados relacionados à produção de relativas de
objeto preposicionado. Conforme apresentamos no capítulo 2 desta dissertação,
essasrelativas,queemsuaversãopadrãorequerempied-pipingpreposicional,são
asmaisdifíceisparaascriançasepraticamentenulasnafalacoloquialdosadultos,
falantesdePB(Grolla,2000;LessadeOliveira,2008;Perroni,2001;Tarallo,1983).
No gráfico 2 abaixo, as porcentagens de relativas de objeto preposicionado se
referem às produções de relativas com pied-piping preposicional, relativas com
resumptivospreposicionadose relativasemqueháuma lacunaemposiçãopós-
verbal,seguindoaclassificaçãoem(9)acima.
107
Gráfico 2: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado.
Assimcomonográfico1,ográfico2mostraqueasestratégiasdeesquiva
foram largamente utilizadas em todos os grupos estudados. Em geral, os dados
concernentes às relativas de objeto preposicionado apresentam uma certa
uniformidadequantoàsconstruçõesmaisfrequentescomoestratégiadeesquiva,
conformeobservamosnatabelaabaixo.
Tabela 6: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado.43
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 33,7%(97)
1,4%(4)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
15,6%(45)
0,0%(0)
50,7%(142)
5anos 51,1%(123)
1,2%(3)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
17,8%(43)
0,0%(0)
29,9%(72)
6anos 61,2%(168)
1,0%(3)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
17,4%(48)
0,0%(0)
20,4%(56)
Adultos 72,0%(108)
2,8%(4)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
10,6%(16)
9,3%(14)
5,3%(8)
43Assimcomonatabelaanterior,asporcentagensdatabela6sereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construçõespassivas(Pass.),construçõesabsolutas(Abs.),usodeumreflexivo(Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
108
Primeiramente,observamosnatabelaacimaqueousodeumoutroverboé
a estratégiade esquivamaisutilizada em todosos grupos.Abaixo, temos alguns
exemplosdasconstruçõesutilizadascomoestratégiadeesquiva.44
14. Construçõesutilizadascomoesquivadeobjetopreposicionado
a. Relativaalvo: “...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”
Produção(V≠): “...ovelhoquelevouagarrafa.”C.G.(4;9)
b. Relativaalvo: “...acaixadeondeomeninotirouacorda.”
Produção(Adj.): “...acaixaquetávazia.”L.S.(4;4)
c. Relativaalvo: “...ameninacomquemomeninodançou.”
Produção(Rev.): “...ameninaquedançoucomomenino.”R.B.(4;5)
d. Relativaalvo: “...ovelhodequemaondalevouagarrafa.”
Produção(terDPPRT): “...ovelhoqueteveagarrafalevada.”F.S.(adulto)
e. Relativaalvo: “...ameninaparaquemomeninocontouumahistória.”
Produção(N/A): “...ameninadahistória.”M.S.(5;7)
Com relação ao uso de resumptivos (cf. tabela 7, abaixo), notamos que,
enquanto o grupo de adultos apresentou uma frequência baixa de produção de
resumptivos(apenas4,4%desuasproduçõescontinhamumpronomeouumNP
resumptivo), as crianças de 4, 5 e 6 anos utilizaram um pronome ou um NP
resumptivocomumafrequênciade36,5%,35,2%e35,3%45,respectivamente.Isso
sugerequeocomportamentodascriançasquantoàproduçãoderelativasdeobjeto
preposicionado contendo um elemento resumptivo pronunciado se mantém
praticamente inalteradoentreos4e6anos.Somenteogrupodeadultosparece
evitaressetipodeconstrução.
44Apesardenãoesperarmosqueascriançasproduzissemrelativascompied-pipingpreposicional,asrelativaspreposicionadasalvosãoilustradascontendoumapreposiçãomovidaparainformarapreposiçãoapresentadanosestímulosemcadacaso.45ValoresrelativosàsomadascolunasPron.resump.eNPresump.emcadagrupotestado.
109
Tabela7:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado.46
4anos 5anos 6anos AdultosPron.
resump.NP
resump.Pron.
resump.NP
resump.Pron.
resump.NP
resump.Pron.
resump.NP
resump.
18,1%(13)
19,4%(14)
10,9%(9)
24,3%(29)
18,8%(16)
16,5%(14)
2,2%(2)
2,2%(2)
15. Relativasdeobjetopreposicionadocompronomesresumptivos
a. Relativaalvo: “...ameninadequemoventotirouopapel.”
Relativaproduzida: “...ameninaqueoventotirouopapeldela.”B.P.(4;9)
b. Relativaalvo: “...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”
Relativaproduzida: “...ovelhoqueaondatrouxeagarrafapraele.”C.M.(5;9)
c. Relativaalvo: “...ameninacomquemomeninotáfalando.”
Relativaproduzida: “...ameninaqueomeninotáfalandocomela.”T.L.(6;1)
16. RelativasdeobjetopreposicionadocomNPsresumptivos
a. Relativaalvo: “...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”
Relativaproduzida: “...ovelhoqueaondatrouxeagarrafaprovelho.”C.F.(4;9)
b. Relativaalvo: “...ovelhodequemaondalevouagarrafa.”
Relativaproduzida: “...ovelhoqueaondalevouagarrafadovelho.”R.S.(5;1)
c. Relativaalvo: “...obarcoparaondeaondatrouxeoremo.”
Relativaproduzida: “...obarcoqueaondatrouxeoremoprobarco.”H.S.(6;1)
No que se refere à frequência de produção de relativas de objeto
preposicionado com uma lacuna, ou seja, as chamadas relativas cortadoras, as
porcentagensnatabela8abaixo, indicamqueocomportamentoinfantilquantoà
frequênciadessaconstruçãosemantémestávelentreos4e6anosdeidade.Istoé,
afrequênciadeproduçãoderelativasdeobjetopreposicionadocomumalacunase
mantémpraticamenteamesmanostrêsgruposexperimentais.Caberessaltarque,
paraascriançasdonossoestudo,alacunanessasrelativasestásempreassociadaa
umPP.Assentençasem(17)exemplificamasrelativascortadoras.Porsuavez,os
46Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõescomresumptivosfrenteaototalderelativasdeobjetodaquelafaixaetária.
110
adultosdoestudoproduziramessasrelativascomumalacunaemmaiorfrequência
(95,6%),sendoquepartedelas,maisprecisamente17,8%(relativoa16produções),
se refere ao uso da estratégia com pied-piping preposicional (exemplificada no
capítulo anterior), e 77,8% (relativo a 70 produções) se referem ao uso de uma
cortadora.Istoé,noquedizrespeitoàproduçãoderelativascortadorasporadultos,
77,7% dessas produções continham uma estrutura semelhante às relativas de
objeto preposicionado usadas pelas crianças, enquanto que o restante (17,8%)
continhaumapreposiçãoprecedendoomorfemarelativo(ouasexpressõesonde,cujo
oucuja).Assentençasem(18)exemplificamessetipodeconstrução.
Tabela 8: Número de relativas de objeto preposicionado cortadoras e com pied-pipingpreposicional.47
4anos 5anos 6anos Adultos
CortadoraPied-pipingprep.
CortadoraPied-pipingprep.
CortadoraPied-pipingprep.
CortadoraPied-pipingprep.
62,5%(45)
0,0%(0)
64,7%(77)
0,0%(0)
64,7%(55)
0,0%(0)
77,8%(70)
17,8%(16)
17. Relativasdeobjetopreposicionadocortadoras
a. Relativaalvo: “...acaixadeondeomeninotirouacorda.”
Relativaproduzida: “...acaixaqueomeninotirouacorda.”J.D.(4;11)
b. Relativaalvo: “...ameninadequemoventoolevouopapel.”
Relativaproduzida: “...ameninaqueoventolevouopapel.”T.M.(5;3)
c. Relativaalvo: “...obarcoparaondeaondatrouxeoremo.”
Relativaproduzida: “...obarcoqueaondatrouxeoremo.”J.C.(6;2)
18. Relativasdeobjetopreposicionadocompied-pipingpreposicional
a. Relativaproduzida:“...ameninapraquemelemostrouumafigura.”F.S.(“adulto”)
b. Relativaproduzida:“...obarcoparaoqualaondalevouoremo.”A.F.(“adulto”)
c. Relativaproduzida:“...ameninacujopapelfoilevado.”E.F.(“adulto”)
d. Relativaproduzida:“...amesadeondeoventotirouopapel.”V.G.(“adulto”)
47Asporcentagenssereferemàfrequênciadecadaproduçãorelativaaototalderelativasdeobjetopreposicionado.
111
A seguir, apresentaremos nossa análise para os dados concernentes às
relativasdeobjetodiretoeàsrelativasdeobjetopreposicionado,contrastandoas
produções nos grupos estudados e comparando o comportamento dos nossos
sujeitosdepesquisanoquedizrespeitoàposiçãosintáticarelativizada.
3.6.3.Análiseediscussão
Conforme vimos nos gráficos 1 e 2, as crianças e os adultos utilizam
estratégiasdeesquivafrequentemente.Emnossaanálise,afrequenteproduçãode
orações relativas de sujeito como estratégia de esquiva ocorreu devido àmaior
dificuldadequeaconstruçãodeobjetoimpõeaosfalantes.Issoestádeacordocom
oqueencontramosnaliteraturanãoapenassobreoPB(GrollaeAugusto(2016)e
VivancoePires(2011),porexemplo),masdeoutraslínguastambém(Belletti(2008,
2009),BellettieContemori(2010),BellettieChesi(2011),BellettieRizzi(2010)e
Utzeri(2007)paraoitaliano,Costaetal.(2014)paraportuguêseuropeuehebraico,
Guasti e Cardinaletti (2003) para francês e italiano, Friedmann et al. (2009) e
NovogrodskyeFriedmann(2006)parahebraico,entreoutros).
Emnossosdados,vemostambémquenossossujeitosdepesquisapreferiram
utilizarrelativasdesujeitoemPB,emdetrimentodasrelativasdeobjetodiretoe
preposicionado. Essa observação pode ser analisada com base no Princípio da
CadeiaMínima(MinimalChainPrinciple),deDeVincenzi(1991)(cf.capítulo2,seção
2.4).Deacordocomesseprincípio,umavezqueumconstituinteéidentificadocomo
um antecedente (filler), como por exemplo um elemento-Qu movido, ou um
constituinterelativizado,oparserentendequeháumalacunaondeoantecedente
deveserinterpretado.Portanto,oparserdeveassociaroantecedenteàlacunamais
próximadisponível,postulandoassimumaoperaçãomaislocal,commenoselosem
umacadeiademovimento.Nocasodasoraçõesrelativas,oantecedenteestabelece
umarelaçãomaispróximacomaposiçãodesujeitodarelativa.Istoé,asorações
relativasdesujeitodevemserpreferidas,deacordocomesseprincípio.
Com relação às relativas de objeto direto, nossos dados indicam que as
construçõesrelativasmaisutilizadaspelascriançasmudamconformeaidade,em
direçãoaousodepassivascomoaprincipalestratégiadeesquiva,comosevênos
112
adultos.Conformevimosnatabela5,ascriançasde4anosutilizaramaconstrução
absolutanamaiorpartedesuasproduções,seguidadousodeumadjetivoouverbo
incoativo.Jáascriançasde5anospassaramausarmaisconstruçõescomadjetivos
ouverbosincoativos,sendoqueaconstruçãoabsolutaficouemsegundolugar.Por
suavez,ascriançasde6anospreferiramusarconstruçõescomadjetivosouverbos
incoativos,enquantoapassivaapareceucomoasegundaconstruçãomaisutilizada.
Ouseja,ascriançasmaisvelhasutilizamcadavezmaisconstruçõespassivascomo
estratégia de esquiva, ao passo que abandonam as construções absolutas
gradativamente.Issosugerequeháumamigraçãodeumaconstruçãoaoutracomo
estratégia de esquiva, a depender da idade dos informantes, em direção ao
comportamentoadulto.
NossosdadosestãoemconsonânciacomosdadosencontradosemGrollae
Augusto(2016)eRezende(2016).Asprimeirasautorasreportamqueascrianças,
especialmenteasmaisnovas(de4anosdeidade),utilizaramaconstruçãoabsoluta
demaneirafrequente,enquantoqueousodeconstruçõespassivasapenasapareceu
nogrupodascriançasmaisvelhas(alémdogrupodeadultos).Rezendeverificaque
crianças de 3;8 a 4;11 anos de idade utilizam as construções absolutas mais
frequentementedoquecriançasde5;0a6;0anosdeidade.Emcontrapartida,os
resultados de seu estudo indicam que as crianças mais velhas produzem mais
sentençascomaconstruçãopassivadoqueascriançasmaisnovas.48Osresultados
deRezendeapontamparaamesmaconclusãoaquechegamosemnossotrabalho:a
preferênciapordeterminadaconstruçãomudaadependerdaidadedossujeitosde
pesquisa.
“Fromadevelopmentalpointofview,itisnoticeablethatfrom4to5year-olds,passiverelativeclausesemergeandtherearefewernon-validresponses…”
(GrollaeAugusto,2016:45)
Dentre as estratégias de esquiva utilizadas no grupo de adultos, as
construções passivas são amplamente favorecidas (em 85,6% dos casos). Esse
48Rezende(2016)utilizaduastarefasdistintasemseuestudoexperimental:umatarefadeproduçãoeliciadacomapresentaçãodevídeoseumatarefadejulgamentodeaceitabilidade.
113
resultadocondizcomosresultadosdeoutrosestudos,comoBellettieContemori
(2010),Guasti e Cardinaletti (2003) eUtzeri (2007), emque falantes adultos de
italianoevitamproduzirumarelativadeobjetopassivizandoaestruturadentroda
oração relativa para produzir uma relativa de sujeito. Em PB, Grolla e Augusto
(2016)eRezende(2016)reportamqueosinformantesadultosqueparticiparamde
seu experimento também preferiram utilizar a construção passiva dentre as
estratégiasdeesquivadisponíveis.
A análise proposta pelas autoras se adequa aos dados desse estudo. Se
considerarmos,comGrollaeAugusto(2016:42),queasconstruçõesabsolutassão
maissimplesdoqueaspassivas,umavezqueaausênciadeagentividadefazcom
quevnãosejaprojetado(conformeapresentamosnocapítulo2,seção2.4,exemplos
(80b-b’)), não hámarcaçãomorfológica de particípio no verbo e a operação de
smuggling (cf. Collins (2004)) não está envolvida, temos uma explicação para a
preferência das crianças, principalmente as mais novas, pelas construções
absolutas.
“…it may be argued that children resort to the simplest structure availablewheneverconfrontedwiththetaskofproducingcomplexsentences.”
(GrollaeAugusto,2016:47)
Aindasobreasrelativasdeobjetodireto,comrelaçãoaousoderesumptivos
(cf. tabela 3, acima), as porcentagens relativas às frequências com as quais as
criançasutilizampronomeseNPsresumptivosnaproduçãoderelativasdeobjeto
direto sugeremqueo comportamento linguísticodas crianças estámigrando, de
maneira gradativa, rumo ao comportamento adulto. Em ambos os casos (uso de
pronomeseNPsresumptivos),ascriançasmaisnovas,produzemmaiselementos
resumptivos, enquanto que os dados das criançasmais velhas indicam que elas
possuemumcomportamentomaispróximoaoadulto,quantoàfrequênciadeuso
deresumptivos.
AsporcentagensnacolunaN/A,natabela5,parecemseorganizardeforma
decrescente,adependerdecadagrupoestudado.Issoindicaqueascriançasmais
velhas(asde6anos)produzemmaisoraçõesrelativas,seguindoasinstruçõesda
tarefapropostamaisconsistentemente,enquantoqueascriançasde4anosforam
114
asquemenosderamrespostascontendoumaoraçãorelativa(seguidadascrianças
de5anos).49
No que concerne às relativas de objeto preposicionado, as porcentagens
relativasàfrequênciadeusodeumoutroverbonatabela6(V≠)indicamqueessa
estratégiadeesquivaécadavezmaisutilizadaadependerdaidadedossujeitosde
pesquisa.Istoé,ascriançasde6anosapresentamumcomportamentolinguístico
acercadousodessaestratégiademaneiramaispróximaaocomportamentoadulto,
secomparadosaosoutrosgruposinfantis.Damesmaforma,osdadosdogrupode5
anosindicamqueessascriançasapresentamumcomportamentolinguísticomais
próximo ao comportamento adulto do que as crianças de 4 anos. Assim como
sugerimosnaseçãoanterior,ascriançasparecemadotarumaestratégiadeesquiva
cadavezmaisfrequentemente,demodoqueseucomportamentomudaemdireção
aocomportamentoadulto.
Assim como observamos nos dados concernentes às relativas de objeto
direto,asporcentagensdeproduçõesquenãoenvolvemumarelativanatabela6
(colunaN/A)indicamqueascriançasde6anossãomaisconsistentesnahorade
aderir à proposta da tarefa do que as crianças de 5 anos (que, por sua vez,
produzirammaisrelativasdoqueascriançasde4anos). Istoé,ascriançasmais
velhassemostrammaisaptasaseguiras instruçõesdeumatarefaenvolvendoa
eliciaçãoderelativasdeobjetoemgeral(cf.nota49).
Conformevimosnatabela8,ascriançasnãoutilizaramaestratégiapadrão
paraproduzirrelativasdeobjetopreposicionado,enquantoqueosdadosadultos
apresentam uma baixa frequência dessa construção. Podemos concluir que a
produçãodeoraçõesrelativascompied-pipingpreposicionaldependedoseuensino
formal,comosugereCorrêa(1998).Istoé,essasrelativassãoartefatosprescritivos,
aprendidostardiamente.
49 Uma possível interpretação para esses resultados está relacionada àmemória de trabalho e àproduçãodeoraçõesrelativas.Benteaetal. (2015) investigamarelaçãoentreacompreensãodeoraçõesrelativasemfrancêsememóriadetrabalho,pormeiodetestesderepetiçãodedígitosnaordemdiretaenaordeminversacomcriançasde5a11anosdeidade.Deacordocomosautores,“…theimpactofforwarddigitspanscoresonresponseaccuracysuggeststhatlimitationsinmemoryresourcesaffecttheprocessingofA’-dependencies.“Benteaetal.(2015:18).
115
Isso pode ser observado em nossos dados, por exemplo, quando
encontramosduastentativasdeusodaformacujaquenãoseadequamàpergunta
feitaduranteatarefa.
19.
a. Relativaalvo: “...ameninaparaquemomeninocontouumahistória.”
Relativaproduzida: “...ameninacujahistóriafoicontada.”E.F.(“adulto”)
b. Relativaalvo: “...abonecaparaquemomeninocontouumahistória.”
Relativaproduzida: “...abonecacujahistóriafoicontada.”E.F.(“adulto”)
As produções acimapodem ser tomadas como evidência de que o uso da
estratégia padrão para derivar orações relativas preposicionadas é aprendido
tardiamente(Corrêa,1998)eseuusoésuscetívelaerros,comonoaprendizadode
umasegundalíngua,oqueestádeacordocomapropostadeGuastieCardinaletti
(2003).50
“…thisstateofaffairscanbecapturedintermsofdifferent,coexistinggrammars[…] acquired in different moments of one’s life. Non-standard relatives arepickedupnaturallyduringthefirstyearsoflife[…]Subjectsareexposedtotheformallanguageinschoolyearsthroughreadingandwriting,anditisatthispointthatstandardrelativesstarttobeacquiredbychildren…”
(GuastieCardinaletti,2003:85-86)
Ao verificarmos as frequências de uso de relativas de objeto direto e de
objetopreposicionadoemcomparaçãoaousodeestratégiasdeesquiva,vemosque,
nosgruposinfantis,houveumamaiorproduçãoderelativasdeobjetodiretodoque
derelativasdeobjetopreposicionado(25,3%vs.20,0%,nogrupode4anos;41,4%
vs.33,1%,nogrupode5anos;31,1%vs.23,6%,nogrupode6anos).Umtestede
igualdade de proporções51 foi aplicado para verificar se a diferença entre as
50Paraumaabordagemqueconsideraqueumfalantepodepossuirumasériede“minigramáticas”relativasadiferentesdomínios,cf.Roeper(1999).51Emtodosostestesestatísticos,foiutilizadooaplicativoReafunçãoprop.test.Otestedeigualdadedeproporções(2-sampleTestforEqualityofProportions)éusadoparatestarahipótesenulaemqueasproporçõesemdiferentesgrupossãoasmesmas(istoé,osresultadossão"poracaso"),ouqueelasigualamumvalordado.Nossostestesenvolvemduasproporções(comofrequênciadeusode
116
produçõesderelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionadoemcadagrupoé
estatisticamente significativa.Os resultadosdos testes estatísticos indicamquea
diferença observada é significante para todos os grupos (Teste de Igualdade de
Proporções, p-valores < 0.011; 0.024; 0.029, para os grupos de 4, 5 e 6 anos,
respectivamente). Por sua vez, os adultos produzirammenos relativas de objeto
diretodoque relativasdeobjetopreposicionado (36,7%vs. 37,5%,nogrupode
adultos), sendo que a diferença observada nesse grupo não é estatisticamente
significativa(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor>0.924).52
Issosugereque,paraascrianças,asrelativasdeobjetopreposicionadosão
maisdifíceisdoqueasrelativasdeobjetodireto.Umapossívelexplicaçãotemcomo
baseapropostadeRoeper(2003),exploradaporLessadeOliveira(2008)(cf.seção
2.3.3). Roeper propõe que operações de movimento que envolvem pied-piping
preposicional são menos econômicas do que o movimento que resulta em uma
estruturacomprepositionstranding.Deacordocomoautor,ambasasinterrogativas
“[a picture ofwhom]didhe see?” e “[who] did he see a picture of?” (relativos aos
exemplos(70a-b)nocapítulo2)necessitamdachecagemdotraço[+Qu],mashá
umapreferênciapelasegundaconstrução(aqueenvolveprepositionstranding).No
primeirocaso,paraqueachecagemdotraço[+Qu]ocorra,oconstituintemovido
devesertransposto,enquantoquenosegundocaso,essachecagemdotraço[+Qu]
ocorre envolvendo o menor número de nódulos possível. Segundo Roeper, a
checagem imediata do traço [+Qu], que resulta na interrogativa compreposition
stranding, representaaopção sintaticamentemais econômica.ComooPBéuma
língua em que a estratégia de preposition stranding resulta em uma sentença
estratégias de esquiva e frequência de uso de relativas de objeto direto ou preposicionado, porexemplo)eforamaplicadoscomintervalodeconfiançade95%.52 Nossos resultados diferem daqueles em Costa et al. (2014) para português europeu infantil ehebraicoinfantil.Paraessesautores,tantoasrelativasdeobjetodiretoquantoasrelativasdeobjetopreposicionadosão igualmentedifíceisparaascrianças.Noentanto,oscritériosutilizadosparaaclassificação dos dados são diferentes daqueles utilizados em nosso estudo. Costa et al. nãoconsideramcomoválidasasproduçõesderelativasdeobjetodiretoepreposicionadocomousodeelementosresumptivos.Apenasasrelativascomumalacuna(nocasodasrelativasdeobjetodireto),asrelativascomprepositionalpied-pipingeasrelativascortadoras(nocasodasrelativasdeobjetopreposicionado)foramincluídasnacontagemdeproduçõesválidasemseuestudo.Destaforma,osvaloresrelativosàsproduçõesderelativasdeobjetodiretoederelativasdeobjetopreposicionadonesseestudoseaproximam,oquefazcomqueosautoresconcluamqueasrelativasdeobjetodiretosãotãodifíceisquantoasrelativasdeobjetopreposicionadoparaascrianças.Paraosdetalhessobreosmateriaisutilizados,osprocedimentos,classificaçãoeanálisedosdados,cf.Costaetal.(2014).
117
degradada(cf.(20a)),paraqueumnúcleorelativizadopreposicionadopossachecar
otraçorelativo,todooPPdeveseralçado–justamenteaopçãomenoseconômica,
dentrodapropostadeRoeper(cf.(20b)).
AssumindoaanálisedeKatoeNunes(2009),asestratégiasderelativização
não-padrãodoPBenvolvemoalçamentodeumDP(emvezdeumPP)partindoda
posiçãodeLD(cf.(20c)),viabilizandoachecagemdotraçorelativosemenvolver
pied-pipingpreposicional,sendomaiseconômicadoquetalestratégia.
Osexemplosabaixoilustramasderivaçõesdeumarelativapreposicionada
com preposition stranding, com pied-piping preposicional e cortadora
(respectivamente(20a),(20b)e(20c)).
Noprimeiroexemplo,oDPqueprofessoraéalçadoparaCP,deixandopara
trásapreposiçãopara.ONPrelativizadoprofessoraémovido,sendoadjungidoao
DPetodooCPrelativoéconcatenadoaodeterminantea.Essaderivaçãoresultaem
umarelativaagramaticalemPB,dadaaimpossibilidadedeprepositionstrandingna
língua.
Nosegundoexemplo, todooPPparaqueprofessora éalçadoparaCP.Em
seguida, o NP relativizado professora é adjungido ao DP, para depois se mover
novamente,sendoadjungidoaoPPnucleadopelapreposiçãopara.Finalmente,oCP
relativo se concatena ao determinante externo, resultando em uma relativa
preposicionadapadrão(i.e.compied-pipingpreposicional).
Porfim,oterceiroexemploilustraaderivaçãodeumarelativanão-padrão,
isto é, sem pied-piping preposicional. O DP que professora, gerado em LD (uma
posiçãoacimadeIP)éalçadoparaCP.Emseguida,hámovimentodoNPrelativizado
professora,queseadjungeaoDP.Finalmente,odeterminanteexternoéadjungido
aoCPrelativo.
20.
a. *Aprofessoraqueeudeiolivropara.
[IPeudeiolivro[PPpara[DPqueprofessora]]]
[CP[DPqueprofessora]i[IPeudeiolivro[PPparati]]]
[CP[DPprofessorak[DPquetk]i][IPeudeiolivro[PPparati]]]
[DPa[CP[DPprofessorak[DPquetk]i][IPeudeiolivro[PPparati]]]]
118
b. Aprofessoraparaquemeudeiolivro.
[IPeudeiolivro[PPpara[DPqueprofessora]]]
[CP[PPpara[DPqueprofessora]]i[IPeudeiolivroti]]
[CP[PPpara[DPprofessorak[DPquetk]]]i[IPeudeiolivroti]]
[CP[PPprofessorak[PPpara[DPtk[DPquemtk]]]i][IPeudeiolivroti]]
[DPa[CP[PPprofessorak[PPpara[DPtk[DPquemtk]]]i][IPeudeiolivroti]]]
c. Aprofessoraqueeudeiolivropro.53
[LD[DPqueprofessorai][IPeudeiolivroproi]]
[CP[DPqueprofessorai]k[LDtk[IPeudeiolivroproi]]]
[CP[DPprofessorai[DPqueti]k][LDtk[IPeudeiolivroproi]]]
[DPa[CP[DPprofessorai[DPqueti]k][LDtk[IPeudeiolivroproi]]]]
Uma possível interpretação para os dados acerca das relativas de objeto
preposicionado é que as crianças não produzem essas relativas por meio da
estratégiapadrão(i.e.compied-pipingpreposicional)devidoaumaconjunçãode
fatores:asconstruçõesutilizadaspelascrianças(asrelativascortadorasecomum
elementoresumptivopreposicionadopronunciado)sãoasmaissimplesdoponto
devistaderivacional; o grupodeadultosnãoproduziu relativas compied-piping
preposicional frequentemente, sugerindo que as crianças não ouvem essas
construções na fala dos adultos; e a estratégia padrão para as relativas
preposicionadasdependedeseuensinoformal.
Asfrequênciasdeusodeumalacunaederesumptivosnasrelativasdeobjeto
direto em comparação com as mesmas construções nas relativas de objeto
preposicionadoindicamque,emgeral,ousoderesumptivos(pronomeseNPs)foi
maisfrequentequandotentamoseliciarrelativasdeobjetopreposicionado.Porsua
vez, ousode lacunasnaposição relativizada semostroumais frequentequando
tentamos eliciar relativas de objeto direto, em todos os grupos. A tabela abaixo
53 Em (20c), ilustramos uma oração relativa de objeto preposicionado cortadora. No caso de umarelativacomumpronomeresumptivo,temos[PPparaela]nessamesmaposição,seguindoapropostadeKatoeNunes(2009).Emnossotrabalho,estendemosaestruturapropostapelosautoresparaasrelativascomumNPresumptivo, jáqueessetipodeconstruçãofoiutilizadopornossossujeitosdepesquisa.Ressaltamosqueénecessárioumestudofuturosobreasconsequênciasdessaextensão.
119
compara as frequênciasdeusode lacunas e resumptivosnas relativasdeobjeto
diretoeobjetopreposicionado.
Tabela9:Usoderelativasdeobjetodiretoepreposicionadocomlacunaeresumptivos.
RelativasdeObjetoDireto RelativasdeObjetoPreposicionado
Grupo Lacuna Pron.resump. NPresump. Lacuna Pron.
resump. NPresump.
4anos 74,7%(68)
12,1%(11)
13,2%(12)
62,5%(45)
18,1%(13)
19,4%(14)
5anos 81,3%(121)
6,0%(9)
12,7%(19)
64,7%(77)
10,9%(9)
24,3%(29)
6anos 89,2%(100)
5,4%(6)
5,4%(6)
64,7%(55)
18,8%(16)
16,5%(14)
Adultos 98,9%(87)
1,1%(1)
0%(0)
77,8%(70)
2,2%(2)
2,2%(2)
A maior frequência de elementos resumptivos nas relativas de objeto
preposicionadopodeestarrelacionadaàconjunçãodefatoresquefazemcomque
ascriançasutilizamasestratégiasnão-padrãoparaproduziressasrelativas,como
apontamosacima.Porsuavez,omaiorusodelacunasnasrelativasdeobjetodireto
podeserexplicadocombasenosdadosdeaquisiçãoemGrolla(2000,2005b),que
sugerem que as primeiras relativas de objeto direto produzidas por crianças
adquirindooPBcomoprimeiralínguasãoderivadasviamovimento,equeacriança
começaausarresumptivosapenasdepoisdeumaanáliseacercadesseselementos
nalíngua.Comisso,podemosesperarqueasrelativasdeobjetodiretoderivadaspor
movimento sejam as mais comuns na fala de crianças do que as relativas com
resumptivos.Emnossaanálise,asrelativasdeobjetodiretocomuma lacunasão
tidascomoderivadasviamovimentodonúcleorelativizado,partindodaposiçãode
objetodireto.
Nas seções que seguem, apresentaremos e analisaremos as produções de
cadagrupoestudadodeacordocomamanipulaçãodo traçodeanimacidadeem
nossosmateriaisexperimentais.Primeiramente,apresentaremososresultadosea
discussão sobre as quatro condições testadas em relativas de objeto direto. Em
seguida,seguiremososmesmospassosquantoàscondiçõestestadasemrelativas
deobjetopreposicionado.
120
Aseguir,apresentaremososdadosrelativosàproduçãodeoraçõesrelativas
deobjetodiretofocalizandoasconfiguraçõesdeanimacidadeutilizadasemnosso
materialexperimental.
3.6.4.RelativasdeObjetoDiretoeanimacidade
Nessaseção,apresentaremososdadosrelacionadosàproduçãoderelativas
deobjetodireto,organizadosdeacordocomasquatrocondiçõesdeanimacidade
testadasemnossoexperimento.Apósaapresentaçãodosdados,contrastaremosas
frequências de produção para verificarmos quais condições de animacidade
influenciam ou não a produção de relativas de objeto direto de maneira
estatisticamenterelevante.
3.6.4.1.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[+animado]
Inicialmente, veremos os dados concernentes às relativas com sujeito
[+animado] e núcleo relativizado [+animado]. Um exemplo domaterial utilizado
para eliciarmos as relativas de objeto direto nessa configuração de animacidade
segueabaixo.
21. Relativaalvo:“...omeninoqueameninamolhou/sujou.”
[+animado][+animado]
Figura3:Ameninamolhouomenino.vs.Ameninasujouomenino.
121
Gráfico 3: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].
Os dados concernentes à essa configuração de animacidade, ao eliciar
relativas de objeto direto, indicam que houve uma maior frequência de uso de
estratégiasdeesquivadoquederelativasdeobjetodireto.Umtestedeigualdade
deproporçõesindicaqueosdadosdascriançasde4ede6anosapresentaramuma
diferençaestatisticamentesignificativa(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor
< 0.01, para os grupos de 4 e 6 anos). As crianças de 5 anos e os adultos não
apresentaramumadiferençasignificativanomesmotesteentreafrequênciadeuso
deestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodiretonessacondição(Testede
IgualdadedeProporções,p-valor>0.75,paraogrupode5anos,ep-valor>0.24,
paraosadultos).
Nessacondiçãodeanimacidade,asporcentagensdasconstruçõesutilizadas
emcadafaixaetáriaconstamnatabelaaseguir.
122
Tabela10:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos.54
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 3,1%(2)
21,9%(14)
3,1%(2)
21,9%(14)
3,1%(2)
7,8%(5)
0,0%(0)
39,1%(25)
5anos 10,6%(5)
21,3%(10)
6,4%(3)
21,3%(10)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
40,4%(19)
6anos 10,3%(6)
31,1%(18)
24,1%(14)
17,3%(10)
1,7%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
15,5%(9)
Adultos 0,0%(0)
8,5%(3)
85,7%(30)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
2,9%(1)
2,9%(1)
Na distribuição das porcentagens de uso de relativas de sujeito como
estratégiasdeesquivapelasconstruçõesempregadas,vemosque,entreascrianças
de 4 e 5 anos, o uso de um adjetivo ou um verbo de mudança de estado e as
construçõesabsolutassãoasconstruçõesmais frequentes.Ambasasconstruções
aparecemcomamesma frequênciaemcadagrupo(21,9%nogrupode4anose
21,3% no grupo de 5 anos). As crianças de 6 anos, por sua vez, utilizaram as
seguintesconstruçõesaoempregarumarelativadesujeitoemsuasrespostas:ouso
deumadjetivoouumverbodemudançadeestado(31,1%),umapassiva(24,2%)e
uma construção absoluta (17,3%). Já os adultos utilizaram a passiva na grande
maioriadesuasrespostas(85,7%).
Noquedizrespeitoaousodeumaconstruçãosemumarelativa,ascrianças
de 4 e 5 anos não apresentam uma grande diferença entre suas porcentagens
(39,1%e40,4%,respectivamente),enquantoqueascriançasde6anosrecorreram
aessaestratégiacommenosdametadeda frequênciadosoutrosgrupos infantis
(15,5%). No grupo de adultos, houve apenas uma produção desse tipo
(correspondendoa2,9%dasproduçõesemN/A,natabelaacima).
A tabela abaixomostra a distribuição de pronomes e NPs resumptivos, e
lacunasnaproduçãoderelativasdeobjetodiretoporcadagrupoestudado.
54Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
123
Tabela 11: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].55
4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna
26,9%(7)
3,9%(1)
69,2%(18)
11,7%(5)
13,9%(6)
74,4%(32)
9,4%(3)
6,2%(2)
84,4%(27)
4,0%(1)
0,0%(0)
96,0%(24)
Emtodososgruposestudados,vemosqueasrelativasdeobjetocomuma
lacunaforamaconstruçãomaisutilizada.Porsuavez,afrequênciaderelativascom
umelementoresumptivo,sejaeleumpronomeouumNP,éde30,8%,25,6%,15,6%
e4,0%paraosgruposde4,5e6anos,eparaosadultos,respectivamente.
3.6.4.2.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[–animado]
A seguir, apresentamos o gráfico referente às produções envolvendo
relativascomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],comoilustrao
exemploabaixo:
22. Relativaalvo:“...osorvetequeameninalambeu/mordeu.”
[–animado][+animado]Figura4:Ameninalambeuosorvete.vs.Ameninamordeuosorvete.
55 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.
124
Gráfico 4: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].
Nessaconfiguraçãodeanimacidade,observamosomesmocomportamento
acima: háummaior usode estratégias de esquivadoquede relativasde objeto
direto. Novamente, os dados das crianças de 4 e de 6 anos apresentaram uma
diferençasignificativanotestedeigualdadedeproporções(TestedeIgualdadede
Proporções,p-valor<0.01,paraosgruposde4e6anos).Ascriançasde5anoseos
adultosnãoapresentaramumadiferençasignificativaentreafrequênciadeusode
estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto nessa condição (Teste de
IgualdadedeProporções,p-valor>0.24,paraogrupode5anos,ep-valor>0.09,
paraosadultos).
Nessacondiçãodeanimacidade,asporcentagensdasconstruçõesutilizadas
relativasàsestratégiasdeesquivaemcadafaixaetáriaconstamnatabelaaseguir.
125
Tabela12:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos.56
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 4,8%(3)
27,4%(17)
1,6%(1)
21,0%(13)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
45,2%(28)
5anos 7,8%(4)
31,4%(16)
1,9%(1)
27,5%(14)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
31,4%(16)
6anos 6,9%(4)
34,5%(20)
20,7%(12)
15,5%(9)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
22,4%(13)
Adultos 0,0%(0)
18,9%(7)
78,4%(29)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
2,7%(1)
Natabelaacima,vemosqueascriançasdetodasasfaixasetáriaspreferiram
utilizarumadjetivoouumverbodemudançadeestadoaoproduziremumarelativa
desujeito,comfrequênciasde27,4%,31,4%e34,5%nosgruposde4,5e6anos,
respectivamente.Dentreascrianças,apenasogrupode6anosutilizoupassivasde
formafrequente,sendoqueessaconstruçãofigurouemsegundolugarnessegrupo.
As construções absolutas aparecem com certa frequência em todos os grupos
infantis também (21%, 27,5% e 15,5%, nos grupos de 4, 5 e 6 anos,
respectivamente).Quantoaosadultos,assimcomonaconfiguraçãodeanimacidade
apresentadaacima,aspassivasforamamplamenteutilizadas(78,4%).
Noquedizrespeitoaousodeumaconstruçãosemumarelativa,ascrianças
apresentam porcentagens decrescentes, de acordo com a idade de cada grupo.
(45,2%,31,4%e22,4%,respectivamenteparaosgruposde4,5e6anos),enquanto
queosadultosrecorreramaconstruçõessemumarelativaapenas1vez(relativoa
2,7%).
Atabelaabaixomostraadistribuiçãodeelementosresumptivose lacunas
nessaconfiguração,paracadagrupoestudado.
56Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
126
Tabela 13: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].57
4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna
7,7%(4)
0,0%(0)
92,3%(24)
5,1%(2)
0,0%(0)
94,9%(37)
3,1%(1)
0,0%(0)
96,9%(31)
0,0%(0)
0,0%(0)
100%(23)
NenhumdosgruposproduziurelativascomumNPresumptivo.Afrequência
comquepronomesresumptivosforamusadosédecrescente,deacordocomaidade
dos informantes.Os gruposde4, 5 e 6 anosproduzirampronomes resumptivos
respectivamentecomasseguintesfrequências:7,7%,5,1%e3,1%.Jáosadultosnão
recorreramaousodepronomesresumptivos.Emtodososgruposestudados,vemos
queaconstruçãomaisutilizadaentreasconstruçõescomumarelativadeobjeto
continhaumalacuna.
3.6.4.3.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[+animado]
Partiremosagoraparaosdadosreferentesàsoraçõesrelativascomsujeito
[–animado]enúcleorelativizado[+animado].Abaixo, temosumexemplodeuma
relativacomessaconfiguração.
23. Relativaalvo:“...acorujaqueofuracãoderrubou/levou.”
[+animado][–animado]
Figura5:Ofuracãoderrubouacoruja.vs.Ofuracãolevouacoruja.
57 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.
127
Gráfico 5: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].
Nessaconfiguraçãodeanimacidade,continuamosaobservarumusomais
frequentedeestratégiasdeesquivadoquederelativasdeobjetodireto.Noentanto,
nessaconfiguraçãodeanimacidade,todososgruposapresentaramumadiferença
estatisticamente significativa (Teste de Igualdade de Proporções, p-valor< 0.01,
para todos os grupos). A diferença estatisticamente significativa entre o uso de
estratégias de esquiva e de objeto direto sugere que essa configuração de
animacidadeédifícilparaascriançaseparaosadultos.
Abaixotemosasporcentagensdeusodeestratégiasdeesquivaporgrupo.
128
Tabela14:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos.58
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 18,3%(13)
16,9%(12)
4,2%(3)
18,3%(13)
1,4%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
40,9%(29)
5anos 20,3%(12)
22,0%(13)
10,3%(6)
22,0%(13)
3,4%(2)
0,0%(0)
0,0%(0)
22,0%(13)
6anos 29,6%(21)
23,9%(17)
15,5%(11)
11,3%(8)
1,4%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
18,3%(13)
Adultos 2,6%(1)
2,6%(1)
92,2%(35)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
2,6%(1)
Vemos na tabela acima que três construções foram utilizadas commaior
frequênciapelascriançasde4,5e6anos,paraproduzirumarelativadesujeito.São
elas:ousodeumoutroverbo,ousodeumadjetivoouumverbodemudançade
estado,eaconstruçãoabsoluta.
Novamente,podemosnotarqueafrequênciaderespostassemumarelativa
édecrescenteseobservarmosasporcentagensdosgruposdecriançasde4,5e6
anos (40,9%, 22,0% e 18,3%, respectivamente). Os adultos recorreram a
construçõessemumarelativaapenas1vez(relativoa2,7%).
Atabelaabaixomostraafrequênciadeusoderelativasdeobjetodiretoem
cada grupo, dividida entre a frequência de elementos resumptivos e de lacunas
nessaconfiguração.
Tabela 15: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].59
4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna
15,8%(3)
21,0%(4)
63,2%(12)
9,7%(3)
19,3%(6)
71,0%(22)
15,8%(3)
10,5%(2)
73,7%(14)
0,0%(0)
0,0%(0)
100%(18)
Aocontráriodoquetemosnacondiçãoanterior,todososgruposdecrianças
produziramrelativascomumNPresumptivo,alémdospronomesresumptivos.A
58Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.59 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.
129
frequênciatotaldeusode itensresumptivosemcadagrupofoide36,8%,29%e
26,3%nosgruposde4,5e6anos,respectivamente.Osadultos,porsuavez,não
produziramitensresumptivos.
Em todos os grupos estudados, a construção mais utilizada dentre as
construçõescomumarelativadeobjetocontinhaumalacuna.
3.6.4.4.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[–animado]
Por fim, apresentaremos os dados relativos às relativas com o sujeito da
relativa[–animado]eonúcleorelativizado[–animado]também.Abaixo,temosum
exemplodeumarelativacomessaconfiguraçãoeopardefigurasrelacionadoaela.
24. Relativaalvo:“...ovasoqueachuvaderrubou/molhou.”
[–animado][–animado]
Figura6:Achuvaderrubouovaso.vs.Achuvamolhouovaso.
130
Gráfico 6: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].
Nessaconfiguraçãodeanimacidade,ousomaisfrequentedeestratégiasde
esquiva em comparação às relativas de objeto direto é atestado novamente. Os
dadosdascriançasde4ede6anosapresentaramumadiferençaestatisticamente
significativa (Teste de Igualdade de Proporções, p-valor < 0.01, para ambos os
grupos),enquantoqueascriançasde5anoseosadultosnãoapresentaramuma
diferença significativa entre a frequência de uso de estratégias de esquiva e de
relativasdeobjetodireto(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor>0.07,parao
grupode5anos,ep-valor>0.05,paraosadultos).Istoé,paraascriançasde4ede
6anos,adiferençaentreousodeestratégiasdeesquivaedeobjetodiretoindica
umamaiordificuldadecomessaconfiguraçãodeanimacidade,enquantoque,para
ascriançasde5anoseosadultos,adiferençaentreessasduasclassificaçõesnão
sugerequeasrelativascomessaconfiguraçãodeanimacidadesejadifícil(apesarde
essesresultadosseaproximaremmaisdop-valorqueindicariadificuldadecomessa
configuração do que em nas configurações com sujeito [+animado] e núcleo
relativizado[±animado]).
131
As porcentagens de uso de cada construção referente às estratégias de
esquivaseguemnatabelaabaixo.
Tabela16:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos.60
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 18,1%(13)
15,3%(11)
1,4%(1)
34,7%(25)
0,0%(0)
1,4%(1)
0,0%(0)
29,1%(21)
5anos 18,5%(10)
20,4%(11)
9,3%(5)
20,4%(11)
0,0%(0)
1,8%(1)
0,0%(0)
29,6%(16)
6anos 16,4%(10)
29,6%(18)
26,2%(16)
18,0%(11)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
9,8%(6)
Adultos 2,6%(1)
2,6%(1)
92,2%(35)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
2,6%(1)
Atabelaacimamostraque,entreascriançasde4anos,aconstruçãoabsoluta
éamaisfrequentedentreasestratégiasdeesquivaqueenvolvemumarelativade
sujeito.Jáascriançasde5anosutilizamtantoasconstruçõesabsolutas,quantoum
outro verbo e um adjetivo ou um verbo demudança de estado. Por sua vez, as
crianças de 6 anos utilizam um adjetivo ou um verbo de mudança de estado e
construções passivas mais frequentemente. Por fim, os adultos massivamente
utilizaramconstruçõespassivascomoestratégiadeesquiva.
Comrelaçãoàsproduçõessemumarelativa,notamosqueascriançasde4e
5anosasutilizaramcomfrequênciaparecida(29,1%e29,6%,respectivamente),
enquantoqueascriançasde6anosutilizaramessaestratégiamenosvezes(9,8%).
Nogrupodeadultos,houveapenasumaocorrênciadeconstruçãosemumaoração
relativa(2,7%).
Atabelaabaixomostraafrequênciadeusoderelativasdeobjetodiretoem
cada grupo, dividida entre a frequência de elementos resumptivos e de lacunas
nessaconfiguração.
60Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
132
Tabela 17: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].61
4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna
5,5%(1)
16,7%(3)
77,8%(14)
2,8%(1)
13,9%(5)
83,3%(30)
0,0%(0)
3,4%(1)
96,6%(28)
0,0%(0)
0,0%(0)
100%(22)
Aocontráriodoquetemosnacondiçãoanterior,todososgruposdecrianças
produziram relativas comumNP resumptivo.A frequência total deusode itens
resumptivosemcadagrupofoide22,2%,16,7%e3,4%nosgruposde4,5e6anos,
respectivamente.Osadultos,porsuavez,nãoproduziramitensresumptivos.
Em todos os grupos estudados, a construção mais utilizada dentre as
construçõescomumarelativadeobjetocontinhaumalacuna.
3.6.4.5.Análiseediscussão
Dentreasquatroconfiguraçõesdeanimacidadequetestamosaoeliciaras
relativasdeobjetodireto,inicialmenteobservamosqueostrêsgruposdecrianças
(alémdogrupodeadultos)demonstrarammaisdificuldadeparaproduzirrelativas
deobjetodiretocomlacunanaconfiguraçãoemqueosujeitoéinanimadoeonúcleo
relativizado é animado. Os exemplos abaixo ilustram uma relativa com essa
configuraçãoeexemplosdeproduçõesenvolvendoestratégiasdeesquiva.
25. Relativaalvo: “...acachorraqueoaspiradorlimpou.”
[+animado][–animado]
a. Relativaproduzida: “...acachorraquetálimpando.”B.C.(4;11)
b. Relativaproduzida: “...acachorraquetásendolimpada.”L.S.(5;6)
c. Relativaproduzida: “...acachorraquetálimpa.”A.B.(6;7)
d. Relativaproduzida: “...acachorraquetásendolimpapeloaspirador.”G.V.(adulto)
61 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.
133
EssaconclusãoébaseadanoTestedeIgualdadedeProporções,queaponta
paraumadiferençasignificativaentreousodeestratégiasdeesquivaeousode
relativas de objeto direto em todos os grupos estudados nessa configuração de
animacidade.Paratodososgrupos,otesteestatísticoresultouemp-valor<0.01.
Nossosresultadosacercadaproduçãoderelativasdeobjetodiretocomessa
configuração de animacidade corroboram estudos que indicam que tarefas
envolvendo relativas com um sujeito [–animado] e um núcleo relativizado
[+animado] acarretam dificuldades no processamento e na produção dessas
sentenças(GennarieMacdonald(2008),Gennarietal.(2012)eMaketal.(2002,
2006),porexemplo).
Podemos ver na tabela comparativa abaixo que essa configuração de
animacidade foi a que resultou nas menores frequências de relativas de objeto
direto.
Tabela18:Frequênciadeusoderelativasdeobjetodiretocomlacuna,emtodososgruposecondiçõesdeanimacidadetestadas.62
Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]
Suj.[+an.]N.R.[–an.]
Suj.[–an.]N.R.[+an.]
Suj.[–an.]N.R.[–an.]
4anos 28,9%(26)
31,1%(28)
21,1%(19)
20,0%(18)
5anos 47,8%(46)
43,3%(39)
34,4%(31)
40,0%(36)
6anos 35,6%(32)
35,6%(32)
21,1%(19)
32,2%(29)
Adultos 41,7%(25)
38,3%(23)
30,0%(18)
36,7%(22)
Emcomparaçãoàsoutrastrêsconfiguraçõesdeanimacidade,vemosquea
condição com sujeito [+animado] e núcleo relativizado [–animado] foi a que
resultounamaiorfrequênciadeusodeumoutroverbocomoestratégiadeesquiva
(cf.tabela19).Noentanto,épossívelnotarque,natabelaabaixo,acondiçãoemque
ambososujeitoeonúcleorelativizadosão[–animado]resultouemumafrequência
deusodeumoutroverbocomoestratégiadeesquivapróximada frequênciada
configuraçãoanterior.
62Asporcentagenssereferemà frequênciadeproduçõesderelativasdeobjeto frenteaototaldeproduçõesemcadaconfiguraçãodeanimacidade.
134
Tabela19:Frequênciadeusodeumoutroverboaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas.63
Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]
Suj.[+an.]N.R.[–an.]
Suj.[–an.]N.R.[+an.]
Suj.[–an.]N.R.[–an.]
4anos 3,1%(2)
4,8%(3)
18,3%(13)
18,1%(13)
5anos 10,6%(5)
7,8%(4)
20,3%(12)
18,5%(10)
6anos 10,3%(6)
6,9%4
29,6%(21)
16,4%(10)
Adultos 0,0%(0)
0,0%(0)
2,6%(1)
2,6%(1)
Issoindicaque,quandoumpredicadoenvolvendoumsujeito[–animado]é
apresentado, a produçãode uma relativa contendo amesma relação entre esses
argumentos é feita mais facilmente utilizando um verbo diferente daquele
apresentado,emqueoelementorelativizado(nocaso,oobjetodireto[±animado])
ocupaaposiçãodesujeitosintático.
IssovaiaoencontrodasobservaçõesdeBecker (2014)sobreoestudode
ClarkeBegun(1971)(apresentadasnocapítulo2,seção2.5).Considerandoqueas
posições de sujeito e objeto em uma construção transitiva são comumente
preenchidas por um argumento [+animado] e um argumento [–animado],
respectivamente, o planejamento do enunciado envolvendo uma oração relativa
podeserfacilitadocasooelemento[+animado]sejarelacionadoàposiçãodesujeito
daoraçãorelativa.Noentanto,arelativizaçãodeumargumentoemqueosujeitoé
inanimado é inesperada, sendo preterida durante o planejamento do enunciado.
Issoexplicaoelevadonúmerodeconstruçõesenvolvendoumoutroverbo(alémdo
usodeconstruçõesabsolutaseincoativas)nasduascondiçõesàdireitanatabela
acima.
Éprecisoobservarqueessecomportamentopodeestarrelacionadotantoà
presençadeumsujeito[–animado]comodiscutimosacimaquantoaosverbosque
utilizamos em nossos materiais. Os verbos utilizados nessas configurações
(derrubar,molhar,limpar,engolir,levaredestruir)sãocomumenterelacionadosa
umagentenaposiçãodesujeitoemconstruçãotransitiva.DeacordocomBecker
63Asporcentagenssereferemaousoumoutroverbocomoestratégiadeesquiva.Legenda:sujeitodarelativa(Suj.)enúcleorelativizado(N.R.).
135
(2014),argumentoscomotraço[+animado]sãomaisfrequentementerelacionados
aopapeltemáticodeagente.Portanto,aocorrênciadeumsujeito[–animado]com
esses verbos pode acarretar emuma sentençamais difícil de ser planejada pelo
falante,que,porsuavez,utilizaráumarelativadesujeitoparaevitarumarelativa
deobjeto(cujaderivaçãopartiriadeumaestruturatransitivacontendoumsujeito
[–animado]).
Comisso,aconclusãoaquechegamoséqueaproduçãoderelativascontendo
umsujeito[–animado]foimaisdifícilparaossujeitosdenossapesquisaeissotem
duascausasrelacionadas:otipodeverboenvolvidoe,consequentemente,ostipos
desujeitoqueessesverbosaceitam.
ComrelaçãoaousodepronomeseNPsresumptivos,nossosdadosatestam
asmenoresfrequênciasdeusodesseselementosparaascriançasquandoosujeito
é [+animado] e o núcleo relativizado é [–animado]. Considerando que esta é a
configuraçãorelacionadaàmaiorproduçãoderelativasdeobjeto,podemosdizer
queousoderesumptivostambémestárelacionadoàdificuldadeinerenteacertas
configuraçõesdeanimacidadenasrelativasdeobjetodireto.
Tabela20:Frequênciadeusoderesumptivosaoproduziumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas.
Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]
Suj.[+an.]N.R.[–an.]
Suj.[–an.]N.R.[+an.]
Suj.[–an.]N.R.[–an.]
4anos 30,8%(8)
7,7%(4)
26,8%(7)
22,2%(4)
5anos 25,6%(11)
5,1%(2)
29,0%(9)
16,7%(6)
6anos 15,6%(5)
3,1%(1)
26,3%(5)
3,4%(1)
Adultos 4,0%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
TambémvemosqueousomaisfrequentedepronomeseNPsresumptivos
ocorre quando o antecedente, isto é, o elemento relativizado, é [+animado],
conformevemosnosexemplosem(26).
136
26.
a. “...acaixaqueomoçotáempurrando.”C.M.(5;9)
[–animado]
b. “...acaixaqueeletáempurrando.”T.L.(6;1)
[–animado]
c. “...omeninoqueaondasómolhouele.”C.M.(5;9)
[+animado]
d. “...acorujaqueofuracãofezacorujacair.”T.L.(6;1)
[+animado]
EssesdadoslembramtrabalhossobreoobjetonuloemPB,comoodeCyrino
(1994, 2000) e Casagrande (2010). Cyrino nota que, em sentenças com um
antecedente[+animado],aposiçãodeobjetodiretoépreferencialmentepreenchida
por um pronome lexical de terceira pessoa, enquanto que o objeto nulo está
geralmente relacionado a um antecedente [–animado], conforme vemos nos
exemplosabaixo.
27.
a. OPedroidissequeaMariabeijouelei.
b. AJúliaisemprechoraquandoponhoelainoberço.
(Cyrino,2000:67-68)
c. Compreiocasacosemexperimentar___.
d. Ondeestáojornal?
Mariaperdeu___.
(Cyrino,1994:40-51)
Apesar de Cyrino analisar elementos livres em posição de objeto direto,
nossosdadoscompronomesA’-ligadosapresentamumacertasemelhançacomos
dados da autora no que diz respeito ao uso de pronomes (e NPs) resumptivos
preferencialmentequandooantecedenteé[+animado].Conformeveremosnaseção
137
3.6.6, os dados das relativas preposicionadas e animacidade indicam o mesmo
comportamento.64
Finalmente,considerandoquenossosresultadosindicamqueasrelativasde
objetodiretocontendoumsujeito[–animado]sãoasmaisdifíceisparaascrianças,
podemosdizerqueotraçodeanimacidadenãopodesercomputadoparafinsde
interveniência,comoemFriedmannetal.(2009).Istoé,considerandoaanálisedos
autores,quesugereque,diferentementedagramáticaadulta,agramáticainfantil
nãoaceitaumaespecificaçãodeinclusãodostraçosdoalvocomrelaçãoaoelemento
interveniente(i.e.agramáticainfantilrequerumaespecificaçãodisjuntadetraços),
poderíamos esperar que a semelhança dos traços de animacidade do elemento
relativizadoedosujeitodarelativapudessefazercomqueasrelativascomsujeito
enúcleorelativizadocomtraçosdeanimacidadeiguaisfossemmaisdifíceisparaa
produção das crianças. No entanto, os testes estatísticos indicam que apenas as
relativas com um sujeito [–animado] e um núcleo relativizado [+animado] são
difíceistantoparaascrianças,quantoparaosadultos,querecorreramaestratégias
de esquiva mais frequentemente. Nesses casos, nossos dados sugerem que a
dificuldade com as relativas de objeto direto tem uma relação com o traço de
animacidadedosujeitodarelativa,sendoqueasrelativasdeobjetosãomaisdifíceis
paraaproduçãodecriançasquandoosujeitoé[–animado].
Portanto,nossaanáliseéqueotraçodeanimacidadedosujeitoedonúcleo
relativizado,emoraçõesrelativasdeobjetodireto,nãosãocomputadosparafinsde
interveniência.
Napróximaseção,apresentaremososdadosrelativosàproduçãodeorações
relativasdeobjetopreposicionadoconsiderandoasconfiguraçõesdeanimacidade
queutilizamosemnossoexperimento,conformefizemosnaseção3.6.2.Apósessa
apresentação, verificaremos quais condições de animacidade influenciaram a
64 Cyrino (1994, 2000) analisa a lacuna em posição de objeto direto em sentenças como asexemplificadasem(27)comopro.Ressaltamosqueemnossadiscussãonaseção3.6.3,analisamosalacunaemposiçãodeobjetodiretodeumarelativacomoumvestígiodemovimento,considerandoqueasprimeirasrelativasaapareceremnafalainfantilsãoderivadasviamovimento(cf.Grolla2000,2005),umavezqueelas sãonaturaisaos falantesdePB.Com isso, reservamosnossaanáliseeacomparaçãocomosdadosdeCyrinoaosresumptivospronunciadosqueforamproduzidos.
138
produção de relativas de objeto preposicionado, com base nas frequências de
produçãoeemanálisesestatísticas.
3.6.5.RelativasdeObjetoPreposicionadoeanimacidade
3.6.5.1.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[+animado]
Iniciaremosnossaapresentação comosdados referentes às relativas com
sujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].Umexemplododessetipode
construçãosegueabaixo.
28. Relativaalvo:“...omeninoemquemameninacolocouochapéu.”
Relativaalvo:“...omeninodequemameninatirouochapéu.”
[+animado][+animado]
Figura7:Ameninacolocouochapéunomenino.vs.Ameninatirouochapéudomenino.
139
Gráfico 7: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].
Nessaconfiguraçãodeanimacidade,adiferençaentreasporcentagensdeuso
das estratégias de esquiva e de relativas de objeto preposicionado se mostra
estatisticamentesignificativa,istoé,todososgruposestudadosapresentaramuma
diferença significativa entre essas duas classificações, de acordo como Teste de
IgualdadedeProporçõesaplicadoaessesdados(TestedeIgualdadedeProporções,
p-valor<0.01,paratodososgrupos).
As porcentagens das construções utilizadas relativas às estratégias de
esquiva,nessacondiçãodeanimacidade,emcadafaixaetáriaconstamnatabelaa
seguir.
140
Tabela 21: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado, na condição sujeito [+animado] e núcleo relativizado [+animado], porcriançaseadultos.65
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 29,6%(24)
1,2%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
34,6%(28)
0,0%(0)
34,6%(28)
5anos 58,2%(39)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
28,4%(19)
0,0%(0)
13,4%(9)
6anos 57,1%(44)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
31,2%(24)
0,0%(0)
11,7%(9)
Adultos 69,3%(27)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
20,5%(8)
5,1%(2)
5,1%(2)
Na tabela acima, vemos que, no grupo de crianças de 4 anos, entre as
estratégias que envolvem a produção de uma relativa de sujeito, as crianças
utilizaramumoutroverbo (29,6%)ouumaestruturacontendoa reversibilidade
(34,6%)depapeis,comonasentençaem(18),abaixo.Porsuavez,aestratégiamais
utilizadapelosgruposdecriançasde5e6anos,alémdogrupodeadultos,foiouso
deumoutroverbo(frequênciasde58,2%,57,1%e69,3%,respectivamente).
29. Relativaalvo:“...ameninacomquemomeninodançou.”
a. Relativaproduzida:“...ameninaquedançou.”J.G.(4;10)
b. Relativaproduzida:“...ameninaquetádançandocomomenino.”L.S.(5;6)
c. Relativaproduzida:“...ameninaquedançoucomomenino.”H.S.(6;1)
Asproduçõessemumarelativaparaosgruposestudados representamas
seguintesporcentagensdefrequência,respectivamenteparaosgruposde4,5e6
anos,eparaogrupodeadultos:34,6%,13,4%,11,7%e5,1%.
Com relação à frequência de elementos resumptivos e lacunas, para as
relativas de objeto preposicionado nessa configuração de animacidade, temos a
tabelaabaixo.
65Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
141
Tabela 22: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito [+animado]enúcleorelativizado[+animado].66
Pron.Resump.
NPResump.
LacunasemPied-piping
LacunacomPied-Piping
4anos 18,2%(2)
18,2%(2)
63,6%(7)
0,0%(0)
5anos 17,4%(4)
26,1%(6)
56,5%(13)
0,0%(0)
6anos 30,8%(4)
15,4%(2)
54,8%(7)
0,0%(0)
Adultos 0,0%(0)
0,0%(0)
78,3%(18)
21,7%(5)
Conformevemosacima,nenhumdosgruposinfantisproduziurelativascom
pied-piping preposicional. A construçãomais utilizada em todos os grupos foi a
relativa cortadora (i.e. com uma lacuna, mas sem pied-piping preposicional). A
frequênciacomqueelementosresumptivos(pronomesouNPs)foramusadospelos
gruposde4,5e6anosfoi,respectivamente:36,4%,43,5%e46,2%.Jáosadultos
nãorecorreramaousoderesumptivos.
3.6.5.2.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[–animado]
Passaremos agora para as produções relativas às orações relativas
preposicionadascomumsujeito[+animado]eumnúcleorelativizado[–animado].
Em(30),temosumexemplodecomoessaconfiguraçãofoiapresentadaemnosso
experimento.
30. Relativaalvo:“...acaixaemqueomeninocolocouacorda.”
Relativaalvo:“...acaixadeondeomeninotirouacorda.”
[–animado][+animado]
66Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.
142
Figura8:Omeninocolocouacordanacaixa.vs.Omeninotirouacordadacaixa.
Gráfico 8: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].
Nessaconfiguraçãodeanimacidade,adiferençaentreasporcentagensdeuso
das estratégias de esquiva e de relativas de objeto preposicionado se mostra
estatisticamentesignificativa,istoé,todososgruposestudadosapresentaramuma
diferença significativa entre essas duas classificações (Teste de Igualdade de
Proporções,p-valor<0.01,paratodososgrupos).
143
As porcentagens das construções utilizadas relativas às estratégias de
esquiva,nessacondiçãodeanimacidade,emcadafaixaetária,constamnatabelaa
seguir.
Tabela 23: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionadocomsujeito [+animado]enúcleorelativizado [–animado],porcriançaseadultos.67
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A
4anos 23,6%(17)
2,8%(2)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
18,1%(13)
0,0%(0)
55,5%(40)
5anos 29,5%(18)
3,3%(2)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
34,4%(21)
0,0%(0)
32,8%(20)
6anos 53,1%(34)
4,7%(3)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
35,9%(23)
0,0%(0)
6,3%(4)
Adultos 63,2%(24)
7,9%(3)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
21,1%(8)
2,6%(1)
5,2%(2)
De acordo comosdadosda tabela acima, vemosqueas construçõesmais
utilizadaspelossujeitosdepesquisaenvolvemumoutroverboouumaestrutura
contendo a reversibilidade. Já as porcentagens relativas às construções que não
continhamumaoraçãorelativaaparecemdeformadecrescentenosgruposde4,5
e 6 anos, e no grupo de adultos (frequências de 55,5%, 32,8%, 6,3% e 5,2%,
respectivamente).
Atabelaaseguirmostraafrequênciaderesumptivoselacunasnaprodução
de relativas de objeto preposicionado, com um sujeito [+animado] e um núcleo
relativizado[–animado].
67Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”
144
Tabela 24: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].68
Pron.Resump.
NPResump.
LacunasemPied-piping
LacunacomPied-Piping
4anos 15,0%(3)
20,0%(4)
65,0%(13)
0,0%(0)
5anos 3,5%(1)
20,7%(6)
75,8%(22)
0,0%(0)
6anos 11,5%(3)
11,5%(3)
77,0%(20)
0,0%(0)
Adultos 4,5%(1)
0,0%(0)
81,9%(18)
13,6%(3)
Quantoàproduçãoderelativasdeobjetopreposicionadonestacondiçãode
animacidade, assim como nos dados concernentes à condição de animacidade
apresentadaanteriormente,aconstruçãomaisutilizadaemtodososgrupos foia
relativacortadora.Afrequênciadeusodeelementosresumptivosnosgruposde4,
5 e 6 anos foi respectivamente 35%, 24,2% e 23%, enquanto que os adultos
produziramapenasumarelativacomumpronomeresumptivo,equivalentea4,5%.
3.6.5.3.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[+animado]
A seguir, veremos os dados referentes à eliciação de orações relativas
preposicionadas, em que o sujeito é [–animado] e o núcleo relativizado é
[+animado].Oexemploem(31)ilustraessaconfiguração.
31. Relativaalvo:“...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”
Relativaalvo:“...ovelhodequemaondalevouagarrafa.”
[+animado][–animado]
68Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.
145
Figura9:Aondatrouxeagarrafaprovelho.Vs.Aondalevouagarrafadovelho.
Gráfico 9: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].
Novamente,oTestedeIgualdadedeProporçõesindicaqueadiferençaentre
o uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto preposicionado nessa
configuraçãodeanimacidadefoiestatisticamentesignificativaparatodososgrupos
estudados(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor<0.01,paratodososgrupos).
Asporcentagensnatabelaabaixosereferemàsconstruçõesutilizadasnas
estratégiasdeesquiva,emtodososgruposestudados.
146
Tabela 25: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado, na condição sujeito [–animado] e núcleo relativizado [+animado], porcriançaseadultos.69
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. TerDPPRT N/A
4anos 51,4%(37)
1,4%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
2,8%(2)
0,0%(0)
44,4%(32)
5anos 72,6%(45)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
1,6%(1)
0,0%(0)
25,8%(16)
6anos 76,3%(58)
3,9%(3)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
1,3%(1)
0,0%(0)
18,4%(14)
Adultos 89,5%(34)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
10,5%(4)
0,0%(0)
Osdadosnatabelaacimaindicamque,paratodososgruposinfantiseparao
grupo de adultos, amaioria das construções relativas produzidas (diferente das
relativasdeobjetodireto)envolviamumoutroverbo.Porsuavez,asporcentagens
de construções sem uma oração relativa nos grupos de 4, 5 e 6 anos são,
respectivamente,de44,4%,25,8%,18,4%e5,2%,Ogrupodeadultosnãoutilizou
construçõessemumarelativacomoestratégiadeesquiva.
Na tabela abaixo, temos a frequência de produção de relativas de objeto
preposicionadocomelementosresumptivosecomlacunas.
Tabela 26: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito [–animado]enúcleorelativizado[+animado].70
Pron.Resump.
NPResump.
LacunasemPied-piping
LacunacomPied-Piping
4anos 44,5%(8)
22,2%(4)
33,3%(6)
0,0%(0)
5anos 28,6%(8)
25,0%(7)
46,4%(13)
0,0%(0)
6anos 52,9%(9)
17,7%(3)
29,4%(5)
0,0%(0)
Adultos 0,0%(0)
4,6%(1)
81,8%(18)
13,6%(3)
69Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.70Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.
147
Atabelaacimamostraqueascriançasde4,5e6anosutilizaramrelativasde
objeto preposicionado com elemento resumptivo pronunciado com as seguintes
frequências,respectivamente:66,7%,53,6%e70,6%.Asrelativascortadorasforam
usadas por esses mesmos grupos com frequência de 33,3%, 46,4 e 29,4%,
respectivamente. Por sua vez, os adultos utilizaram esse tipo de construção em
81,8%das relativas de objeto preposicionadoproduzidas, nesta configuração de
animacidade.
3.6.5.4.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[–animado]
Em seguida, apresentaremos os dados relativos à eliciação de orações
relativasdeobjetopreposicionadocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[–
animado].Umexemplodessetipodeconfiguraçãoéilustradoem(32),abaixo.
32. Relativaalvo:“...amesaparaaqualoventotrouxeoaviãodepapel.”
Relativaalvo:“...amesadaqualoventolevouoaviãodepapel.”
[–animado][–animado]
Figura10:Oventotrouxeoaviãodepapelpramesa.vs.Oventolevouoaviãodepapeldamesa.
148
Gráfico 10: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].
OTestede IgualdadedeProporções paraosdadosdessa configuraçãode
animacidade indicam que, para as crianças de 4 e 6 anos há uma diferença
significativa entre a frequência de uso de estratégias de esquiva e de objeto
preposicionado(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor<0.01,paraosgrupos
de4e6anos).Porsuavez,ascriançasde5anoseosadultosnãoapresentaramuma
diferença significativa entre a frequência de uso de estratégias de esquiva e de
relativasdeobjetodiretonessacondição(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor
=0.24,paraogrupode5anos,ep-value=0.24,paraosadultos).
Asporcentagensdasconstruçõesutilizadascomoestratégiadeesquivaem
cadafaixaetáriaconstamnatabelaaseguir.
149
Tabela 27: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado, na condição sujeito [–animado] e núcleo relativizado [–animado], porcriançaseadultos.71
Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. TerDPPRT N/A
4anos 31,3%(21)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
3,0%(2)
0,0%(0)
65,7%(44)
5anos 41,3%(21)
1,9%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
3,8%(2)
0,0%(0)
53,0%(27)
6anos 52,5%(32)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
47,5%(29)
Adultos 65,7%(23)
2,9%(1)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
0,0%(0)
20,0%(7)
11,4%(4)
Osdadosnatabelaacimaindicamque,paratodososgruposdecriançase
paraogrupodeadultos,amaioriadasrelativasdesujeitoproduzidasenvolviamum
outro verbo (31,3%, 41,3%, 52,5% e 65,7%, para cada grupo, respectivamente).
Comrelaçãoàsproduçõessemumarelativa,ascriançasde4,5e6anosasutilizaram
com as seguintes frequências: 65,7%, 53% e 47,5%. No grupo de adultos, há 4
ocorrênciasdeconstruçõessemumaoraçãorelativa(11,4%).
Finalmente,atabelaabaixomostraafrequênciadeproduçãoderelativasde
objetopreposicionadocompronomeseNPsresumptivos,alémde lacunascome
sempied-pipingpreposicional.
71Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.
150
Tabela 28: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].72
Pron.Resump.
NPResump.
Lacunasempied-piping
Lacunacompied-Piping
4anos 0,0%(0)
17,4%(4)
82,6%(19)
0,0%(0)
5anos 0,0%(0)
25,6%(10)
74,4%(29)
0,0%(0)
6anos 0,0%(0)
20,7%(6)
79,3%(23)
0,0%(0)
Adultos 4,0%(1)
4,0%(1)
72,0%(18)
20,0%(5)
Em nossos dados, não houve uso de pronomes resumptivos na condição
sujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado]pelascriançasde4,5e6anos.
Esses grupos utilizaram NPs resumptivos respectivamente com as seguintes
frequências: 17,4%, 25,6% e 20,7%. As construções com uma lacuna sem pied-
pipingpreposicional foram usadas por essesmesmos grupos com frequência de
82,6%, 74,4 e 79,3%, respectivamente. Por sua vez, os adultos utilizaram essa
construção em 72% das relativas de objeto preposicionado produzidas, nesta
configuração de animacidade. 20% das construções utilizadas pelos adultos
correspondem à relativas com pied-piping preposicional. Quanto ao uso de
resumptivos, 4% das produções dos adultos continham pronomes resumptivos,
enquanto4%continhamNPsresumptivos.
3.6.6.Análiseediscussão
Nossosdadosexperimentaisindicamque,dentreasquatroconfiguraçõesde
animacidadequeutilizamosemnossomaterialdepesquisaparaeliciarasrelativas
deobjetopreposicionado,trêsdelasforamproblemáticasparanossossujeitosde
pesquisa.Istoé,emtrêsconfiguraçõesdeanimacidade,tantoascriançasquantoos
adultos utilizaram estratégias de esquiva mais frequentemente, sendo que nos
testesestatísticosháumadiferençasignificativaentreafrequênciadeusodessas
estratégiasdeesquivaeafrequênciadeusoderelativasdeobjetopreposicionado
72Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.
151
emtodososgruposestudados(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor<0.01).
Essesdadoscorroborampropostasquetomamasrelativaspreposicionadascomo
construçõesmaisdifíceisparaaprodução (Corrêa (1998)eGuasti eCardinaletti
(2003),porexemplo).
Noquediz respeitoàsconstruçõesrelativasutilizadascomoestratégiade
esquiva,emtodasascondiçõesdeanimacidade,aconstruçãomaisutilizadaenvolve
umoutroverbo.Istoé,nossossujeitosdepesquisaapresentaramumapreferência
porconstruçõesquefavorecessemarelativizaçãodeumelementoemposiçãode
sujeito, assim como foi feito com as relativas de objeto direto. Entretanto,
diferentementedoquevimoscomasrelativasdeobjetodireto(emqueossujeitos
depesquisautilizaramconstruçõespassivaseabsolutasmais frequentemente),a
estratégiadeesquivamais frequentequando tentamoseliciar relativasdeobjeto
preposicionadofoiousodeumoutroverbo.Podemosconcluirque,umavezque
argumentos preposicionados não podem ser passivizados, a solução encontrada
pelas crianças e pelos adultos para relativizar um elemento preposicionado foi
utilizarumverbodiferenteparapromoveroelementorelativizadoparaumaoutra
posiçãosintática.Ouseja,essessujeitosdepesquisautilizaramumoutroverbona
maioriade suas respostas, demodoque (i) o elemento relativizado estivessena
posiçãodesujeitodarelativae (ii)overboutilizado fossecapazdeespecificaro
núcleorelativizadoparacumpriratarefaproposta.
Apreferênciapelasrelativasdesujeitosefundamentanamesmaexplicação
dosfatosobservadosacercadasrelativasdeobjetodireto.CombaseemDeVicenzi
(1991),apromoçãodoelementorelativizadoparaaposiçãodesujeito,pormeiodo
usodeumoutroverbo, fazcomqueoantecedente (filler)estejaomaispróximo
possíveldalacunaondeeledeveserinterpretado.Destaforma,oparserécapazde
produzir uma construção com uma operaçãomais local (no que diz respeito às
operaçõesderelativização).
Alémdisso,emtodasascondiçõesdeanimacidade,ascriançasutilizamum
outroverbocomoestratégiadeesquivacadavezmaisfrequentemente,deacordo
comaidade.Ascriançasde5anosutilizamessaconstruçãomaisfrequentemente
doqueascriançasde4anos,enquantoqueascriançasde6anosasutilizammais
frequentementedoqueascriançasde5anos.Porsuavez,osadultosforamosque
152
maisutilizaramumoutroverbocomoestratégiadeesquiva.Comisso,vemosqueos
dadossugeremqueocomportamentoinfantilmudaemdireçãoaocomportamento
adulto,noquedizrespeitoàescolhadasestratégiasdeesquiva.
ComrelaçãoaousodepronomeseNPsresumptivos,nossosdadosindicam
queousomaisfrequenteporpartedascriançasdeelementosresumptivosocorre
quandooelementorelativizadoé[+animado].
Tabela 29: Frequência de uso de resumptivos ao produzir uma relativa de objetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas.73
Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]
Suj.[+an.]N.R.[–an.]
Suj.[–an.]N.R.[+an.]
Suj.[–an.]N.R.[–an.]
4anos 36,4%(4)
35,0%(7)
66,7%(12)
17,4%(4)
5anos 43,5%(10)
24,2%(7)
53,6%(15)
25,6%(10)
6anos 46,2%(6)
23,0%(6)
70,6%(12)
20,7%(6)
Adultos 0,0%(0)
4,5%(1)
4,6%(1)
8,0%(2)
Assimcomonaanálisesobreosresumptivosnasoraçõesrelativasdeobjeto
direto,verificamosque,enquantoasrelativasdeobjetopreposicionadocontêmuma
lacuna quando o antecedente é [–animado], há um pronome lexical de terceira
pessoaemsentençascomumantecedente[+animado].
Outropontocomparávelàsconclusõesnaseção2.6.5dizrespeitoaousode
construçõessemumaoraçãorelativacomoestratégiadeesquiva.
73Asporcentagenssereferemaousodeelementosresumptivos(NPs+pronomes)frenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:sujeitodarelativa(Suj.)enúcleorelativizado(N.R.).
153
Tabela30:Frequênciadeusodeconstruçõessemumarelativaparaseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas.74
Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]
Suj.[+an.]N.R.[–an.]
Suj.[–an.]N.R.[+an.]
Suj.[–an.]N.R.[–an.]
4anos 34,6%(28)
55,5%(40)
44,4%(32)
65,7%(44)
5anos 13,4%(9)
32,8%(20)
25,8%(16)
53,0%(27)
6anos 11,7%(9)
6,3%(40
18,4%(14)
47,5%(29)
Adultos 5,1%(2)
5,2%(2)
0,0%(0)
11,4%(4)
Emtodasascondiçõestestadas,afrequênciadeusodeconstruçõesquenão
contêmumarelativadiminuientreosgruposde4e6anos.Issoindicaqueépossível
detectarumpercursodedesenvolvimentorumoaocomportamentoadultoemse
tratandodousoderelativasparacumpriratarefaproposta.Portanto,concluímos
que as criançasmais velhas sãomais aptas a seguir as instruçõesdeuma tarefa
envolvendoaeliciaçãoderelativasdepreposicionado.
Com relação a propostas que sugerem que a similaridade de traços do
elementorelativizadoedosujeitodarelativapodeinduzirefeitosdeinterveniência
paraomovimentorelativo,comoemFriedmannetal.(2009),nossosdadossugerem
queotraçodeanimacidadenãopodesercontabilizadoparafinsdeinterveniência.
EmPBpelomenos,asrelativaspreposicionadassãoinerentementedifíceis,sendo
derivadaspelascriançasexclusivamentepormeiodeestratégiasnão-padrão(com
uma lacuna ou comumelemento resumptivo seguindo a preposição). Ou seja, a
manipulaçãodotraçodeanimacidadeemnossosmateriaisnãoresultouemuma
maior facilidade ou dificuldade para a produção de relativas de objeto
preposicionado,diferentementedoque foiobservadoparaas relativasdeobjeto
direto(emqueotraçodeanimacidadesemostrouserumfatordeterminantepara
modularadificuldadecomqueessasoraçõesrelativassãoproduzidas).
74Asporcentagensdatabelasereferemàsconstruçõessemumarelativafrenteaototaldeestratégiasdeesquivautilizadasemcadagrupo.Legenda:sujeitodarelativa(Suj.)enúcleorelativizado(N.R.).
154
3.7.Síntesedosresultados
Nestecapítulo,apresentamoscomoorganizamosnossoexperimento,como
classificamosnossosdadoseosresultados.Aseguir,listaremososprincipaispontos
quelevantamosnasduasseçõesdeanáliseediscussãolevando-seemconsideração
asposiçõesrelativizadaseascondiçõesdeanimacidadetestadas.
• Nas duas posições sintáticas e em todas as condições de animacidade
testadas,foiverificadoumfrequenteusoderelativasdesujeito.Baseamos
nossaanálisenapropostadoMinimalChainPrinciple(deVincenzi,1991).De
acordo com esse princípio, assim que um elemento de uma cadeia é
identificado, o parser deve associá-lo à lacuna mais próxima possível,
postulandoarelaçãomaislocalpossível;
• É possível detectar um percurso de desenvolvimento acerca do uso das
estratégias de esquiva ao se eliciar relativas de objeto direto: as crianças
utilizam as construções absolutas cada vez menos em favor do uso de
passivas,queéaestratégiadeesquivamaisutilizadapelosadultos(cf.Grolla
eAugusto(2016)eRezende(2016));
• Com relação às relativas de objeto preposicionado, todos os grupos
utilizaramumoutroverbocomoestratégiadeesquivamaisfrequente.Em
nossa análise, isso ocorre uma vez que argumentos preposicionados não
podemserpassivizados.Comisso,osnossossujeitosdepesquisarecorreram
aousodeumoutroverbodemodoapromoveroelementorelativizadopara
aposiçãodesujeitodarelativa,postulandoumarelaçãomaislocal;
• O uso da estratégia padrão nas relativas de objeto preposicionado, i.e.
relativascompied-pipingpreposicional,ocorreuapenasnogrupodeadultos,
sendoqueseuusosemostroususcetívelaerros,assimcomonoaprendizado
deumasegundalíngua(cf.GuastieCardinaletti,2003);
• Háumadiferençasignificativaentrea frequênciadeusodeestratégiasde
esquiva ao tentarmos eliciar relativas de objeto direto e de objeto
155
preposicionado. Issosugerequeasrelativasdeobjetopreposicionadosão
maisdifíceisdoqueasrelativasdeobjetodireto;
• Alémdisso,aeliciaçãoderelativasdeobjetopreposicionadoapresentouuma
diferençasignificativaentreousodeestratégiasdeesquivaeusoderelativas
empraticamentetodasascondiçõesdeanimacidadetestadas,para;
• Asrelativasdeobjetocomumsujeitoinanimadosãoasmaisdifíceis,dentre
as relativas de objeto direto. Analisamos essas condições como as mais
difíceis uma vez que a posição de sujeito tende a ser preenchida por um
argumento animado (cf. Becker, 2014). Nessas condições, a estratégia de
esquivamaisutilizadafoiousodeumoutroverbo,demodoapromovero
elementorelativizadoparaaposiçãodesujeitodarelativa;
• Emgeral,ousodepronomeseNPsresumptivosémaisfrequentequandoo
antecedente, isto é, o elemento relativizado, é animado (cf. Cyrino (1994,
2000)eCasagrande(2010));
• O traço de animacidade não é computado para fins de Minimalidade
RelativizadaEstendida(cf.Friedmannetal.,2009).Noquedizrespeitoàs
relativasdeobjetodireto,nossosdadosindicamqueadificuldadecomessas
relativas está relacionada à presença de um sujeito inanimado.Ou seja, a
similaridade do traço de animacidade nas relativas não faz com que a
estruturasejadifícilparaofalante(i.e.umaestruturaemqueosujeitoeo
objetosãoanimados,ouemqueosujeitoeoobjetosãoinanimados);
• Comrelaçãoàsrelativasdeobjetopreposicionado,otraçodeanimacidade
tambémnãoécomputadoparafinsdeMinimalidadeRelativizadaEstendida
(cf.Friedmannetal.,2009),jáquetodasasconfiguraçõesdeanimacidadese
mostraramdifíceisparaosfalantes.
156
Capítulo4:CONSIDERAÇÕESFINAIS_______________________________________________________________________________________________
4.1.Síntesedadissertação
Estadissertaçãotevecomoobjetivoinvestigarocomportamentolinguístico
decriançasadquirindooPBcomoprimeiralínguanoquedizrespeitoàprodução
deoraçõesrelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado,pormeiodeuma
tarefadeproduçãoeliciadacomparesdefiguras.Nossoestudopartedacomparação
dediferentesresultadosexperimentaisacercadomesmotema:adificuldadecomas
oraçõesrelativasdeobjeto.
Primeiramente, consideramos trabalhos recentes sobre a produção e a
compreensãodeoraçõesrelativasdeobjeto.TrabalhoscomoBelletti(2008e2009),
BellettieContemori (2010),Costaetal. (2014),Friedmannetal. (2009)eUtzeri
(2007)propõemqueasrelativasdeobjeto,emgeral, sãomaisdifíceisdoqueas
relativasdesujeitodevidoàsemelhançaestruturaldosujeitodarelativaedonúcleo
relativizado.Maisespecificamente,essestrabalhossugeremqueapresençadotraço
[+NP]nosujeitoenonúcleorelativizadoéresponsávelporessadificuldade,sendo
o sujeito da relativa um elemento interveniente para o movimento do núcleo
relativizadode suaposiçãodentrodaoração relativapara suaposiçãodepouso
(considerando que o movimento do núcleo relativizado “cruza” o sujeito da
relativa).Nessaproposta,asrelativasdeobjetoemqueambososujeitodarelativa
eonúcleorelativizadopossuemo traço[+NP]sãoagramaticaisparaascrianças,
umavezqueagramáticainfantilnãoécapazdecomputarumelementoparafinsde
movimentocombaseemtodoumfeixedetraços,i.e.agramáticainfantiléviolada
quandoumapartedessestraçoséigual.
Emsegundo lugar, consideramosestudosqueobservamqueadificuldade
com as relativas de objeto apenas está presente quando o sujeito da relativa é
inanimadoeonúcleorelativizadoéanimado,masqueéaconfiguraçãoinversanão
édifícilparaaproduçãoeacompreensãodessasrelativasi.equandoosujeitoda
157
relativaéanimadoeonúcleorelativizadoéinanimado(GennarieMacdonald,2007;
Gennarietal.,2012;Maketal.,2006).
Partindodessesestudos,lançamosaseguintehipótese:
Hipótesedetrabalho:
O traço de animacidade de um NP e seu papel temático influenciam as
estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem sentenças envolvendo
relativas.
Hipótesenula:
OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemáticonãoinfluenciamas
estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem sentenças envolvendo
relativas.
Paraverificarnossahipótese,desenhamosumexperimentodemodoaeliciar
relativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado,comquatroconfiguraçõesde
animacidade,obtendo-seassimumestudo2x4.Nossossujeitosdepesquisaforam
criançasagrupadasporidade(4;0a4;11,5;0a5;11e6;0a6;11anosdeidade)e
adultosdemaisde20anosdeidade.
Nossosdadosindicamqueasrelativasdeobjetodiretomaisdifíceisparaas
crianças são aquelas com sujeito inanimado, independentemente do traço de
animacidadedonúcleorelativizado.Aconfiguraçãocontendoumsujeitoinanimado
e um núcleo relativizado animado foi amais difícil para as crianças, seguida da
configuração contendo um sujeito inanimado e um núcleo relativizado também
inanimado.Poroutro lado,vimosqueasconfiguraçõesdeanimacidadecontendo
umsujeitoanimadoeumnúcleorelativizadotambémanimado,ouinanimadonão
foram difíceis para as crianças. Essas foram as condições em que elas mais
produziramrelativasdeobjetodireto,sugerindoqueasrelativascomumsujeito
animadonãosãodifíceisparaascrianças.Seessaanáliseestivernocaminhocerto,
podemosdizerqueotraçodeanimacidadeinfluenciaasestratégiasutilizadaspelos
sujeitosdepesquisa,verificandoassimnossahipótesedetrabalho.
Além disso, nossa análise é que o traço de animacidade não deve ser
computadoparafinsde“MinimalidadeRelativizadaEstendida”,àlaFriedmannet
158
al. (2009). Caso tivéssemos verificado que as relativasmais difíceis para nossos
sujeitosdepesquisatinhamtraçosdeanimacidadeiguaisparaambososujeitoeo
núcleorelativizado,poderíamosterrelacionadoessadificuldadeàsimilaridadedos
traçosdeanimacidade.Noentanto,issonãoseverificou.
Noqueconcerneàsrelativasdeobjetopreposicionado,asaltastaxasdeuso
deestratégiasdeesquivanasquatroconfiguraçõesdeanimacidadesugerequeelas
sãomaisdifíceisparaascriançasdoqueasrelativasdeobjetodireto.Alémdisso,o
númerodeproduçõessemumarelativa foimaisaltoquando tentamoseliciaras
relativas de objeto preposicionado. Por sua vez, as relativas com alçamento de
preposiçãosóforamatestadasnogrupodeadultos.Issosugerequeessasrelativas
sãoaprendidastardiamente,provavelmenteduranteosanosfinaisdoEnsinoMédio
(Corrêa,1998).Comisso,podemosdizerqueotraçodeanimacidadenãoinfluencia
asestratégiasutilizadaspelosfalantesquantoàsrelativasdeobjetopreposicionado.
Com relação ao uso de estratégias de esquiva, observamos sua ampla
utilização na eliciação dos dois tipos de relativas (de objeto direto e de objeto
preposicionado), independente da configuração de animacidade, em todos os
grupos.Noquedizrespeitoàsrelativasdeobjetodireto,ascriançasmaisnovas(i.e.
as criançasde4;0 a4;11 anosde idade)preferiramutilizarumadjetivo (ouum
verbo incoativo)econstruçõesabsolutascomoesquiva,enquantoqueosadultos
utilizam construções passivas majoritariamente. Por sua vez, as produções das
criançasde5e6anos indicamqueháumamigraçãogradualdocomportamento
infantil emdireção ao comportamento adulto (cf. tabela 5, capítulo 3). Isto é, as
criançasde4;0-4;11anosdeidadeforamasquemenosutilizaramaspassivascomo
estratégia de esquiva, enquanto que as crianças de 5;0-5;11 anos de idade as
utilizarammaisfrequentemente,ficandoatrásapenasdascriançasde6;0-6;11anos
de idade (e dos adultos). Ao mesmo tempo, o uso de outras construções como
estratégiadeesquiva,comoasabsolutas,diminuicomaidade(4;0-4;11<5;0-5;11
anosdeidade<6;0-6;11anosdeidade<adultos),algoobservadoemoutrosestudos
sobreaaquisiçãodoPB(GrollaeAugusto(2016)eRezende(2016)).Concluímos
que essa mudança de comportamento está ligada à complexidade estrutural
inerente às passivas. Por serem mais custosas, as passivas são evitadas pelas
crianças, queutilizam, entre outras construções, as absolutas, quepossuemuma
159
complexidade estrutural menor em comparação às passivas, já que elas não
projetamumargumentoexterno(cf.seções2.4e3.6.3).
Noquedizrespeitoàsrelativasdeobjetopreposicionado,todososgrupos
preferiram utilizar um outro verbo para produzir uma relativa de sujeito como
estratégiadeesquiva,sendoquepodemosobservarqueascriançasutilizamessa
estratégia cada vezmais frequentemente, em direção ao comportamento adulto
(4;0-4;11<5;0-5;11anosdeidade<6;0-6;11anosdeidade<adultos).Conforme
previmos,onúmeroderelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãofoipróximo
azero.Apenasosadultosproduziramrelativascomessaconstrução(em17,8%das
relativasde objetopreposicionadoproduzidas), indicandoque aproduçãodessa
estratégiadependedeseuensinoformalemcontextoescolar(cf.Corrêa(1998)).
4.2.AlgumasespeculaçõessobreaaquisiçãodasrelativasemPB
Nestaseção,especularemossobrecomoocorreaaquisiçãodasrelativasnão-
padrãoemPB,nosbaseandonostrabalhosdeGrolla(2000)eKatoeNunes(2009).
Também apresentaremos uma breve discussão sobre uma possível causa para a
ausênciadeoraçõesrelativascompied-pipingpreposicional.
Conforme vimos na seção 2.2.2, Kato e Nunes (2009) propõem que, nas
oraçõesrelativascontendoumpronomeresumptivo(abertoounulo),oelemento
relativizadoégeradoemposiçãodeLD.Porsuavez,nasoraçõesrelativaspadrão,o
elementorelativizadoéalçadodedentrodaoraçãorelativa.Noquedizrespeitoà
aquisiçãodessasduasestratégiasderelativizaçãodoPB,podemosnosperguntar
comoelassãoadquiridas.
Naseção2.3.3,apresentamosotrabalhodeGrolla(2000),queanalisadados
longitudinaisdeumacriançaadquirindooPBnoquedizrespeitoàaquisiçãoda
periferiaesquerda.Emseuestudo,osdadosanalisadospelaautorasugeremqueas
primeirasoraçõesrelativasqueaparecemnafalainfantilsãoaquelasqueenvolvem
movimentodoelementorelativizado.Alémdisso,aautorasugerequeaaquisição
doselementosresumptivosemPBsegueumpadrãoespecífico.
Primeiramente, a criança deve verificar se sua língua licencia esses
elementosemdependências-A’.Duranteesseestágio,nãoháproduçãodepronomes
160
resumptivos em contextos de aparente alternância entre pronome resumptivo e
lacuna, comoemrelativasdeobjetodireto (cf. (1a-b) abaixo). Segundoa autora,
nesse período, as produções relacionadas a dependências-A’ são derivadas por
movimento.
1.
a. Ameninaqueeuvi___.
b. Ameninaqueeuviela.
Quandoacriançadetectaapossibilidadedeusodepronomesresumptivos
emdependências-A’,suaproduçãoserestringeacontextosemqueomovimento
não é permitido, como exemplificam as relativas preposicionadas (2a-b). Nesses
casos,aderivaçãosetornariaagramaticalsemapresençaderesumptivos.
2.
a. Sócarrãograndãoqueviraarodadele.(2;11)
b. Euvônoseucolo,porquelátemaquelacobrinhaqueasmulerdançanela.(3;1)
(Grolla,2000:72)
Enquantoaaquisiçãoderesumptivosabertosapenasdependequeacriança
os identifique no input, a aquisição dos resumptivos nulos em dependências-A’
dependedeumaanálisemaisdetalhadade construções envolvendouma lacuna,
como os exemplos abaixo. Durante esse período, a criança ainda não produz
relativas com um resumptivo em contextos de aparente livre alternância entre
resumptivoabertoelacunademovimento.
3.
a. Esselivro,euconheço[umameninaquejáleueledezvezes].
b. Esselivro,euconheço[umameninaquejáleu___dezvezes].
c. EsseéolivroqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveuele].
d. EsseéolivroqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveu___].
(Grolla,2000:67)
161
Finalmente, quando a criança adquire os pronomes resumptivos nulos,
construções envolvendo uma aparente livre alternância entre um pronome
resumptivoabertoecomumalacuna(istoé,emcontextosdeambiguidadeentre
movimentoepronomeresumptivo)passamaserlícitasnagramáticainfantil.
4.
a. OAdriano,numvielelá.(3;5)
b. Essaeunumquero___mais.(3;6)
(Grolla,2000:72)
É nessemomento que a criança também começa a produzir resumptivos
nuloscorrespondentesatodoumPP,comonosexemplosabaixo.Nessassentenças,
o verbo brincar seleciona um PP como seu complemento. No entanto, a lacuna
correspondente ao PP é co-referente ao tópico DP. Essa falta de identidade
categorialéumaindicaçãodequenãohouvealçamentodoPP.
5.
a. Nenhumbrinquedoeubrinco.(3;7)
b. Essabonecaeuvoubrincarodiainteiro.(3;10)
(Grolla,2000:73)
Posto isso, podemos formular uma resposta para nossa pergunta acima:
comoasestratégiasderelativizaçãodoPBsãoadquiridaspelacriança?
SegundoGrolla(2000),enquantoacriançaestáverificandoapossibilidade
dousoderesumptivosemsualíngua,elautilizaapenasaestratégiademovimento
paraderivarasprimeirasoraçõesrelativas,jáqueelaéuniversal.Ouseja,podemos
dizerqueaprimeiraestratégiaderelativizaçãoadquiridapelacriançaéaestratégia
padrão,envolvendoomovimentodeumDPrelativo.
162
6.
a. Comeapedrinhaquetáaqui.(2;10)
b. Querovêapelotaquevocêviu.(3;2)
(Grolla,2000:47)
Paraadquirirasestratégiasnão-padrão,i.e.asestratégiascomumpronome
resumptivoabertoouumpronomeresumptivonulo,acriançadependedaanálise
dasconstruçõesenvolvendoumalacunaemdependências-A’.Umpossíveltrigger
paraaaquisiçãodessasestratégiassãoconstruçõesemqueseverificaumafaltade
identidade categorial entre um elemento topicalizado e um elemento dentro da
sentença.Em(7a-b)abaixo,oselementostopicalizadossãoDPs:amesmacategoria
selecionada pelos verbos no interior das sentenças. Já em (7c-d), os verbos no
interior da sentença selecionam elementos preposicionados. No entanto, esses
mesmoselementosaparecemnaperiferiaesquerdasemapreposição.
7.
a. Tudovocêtem.(2;5)
b. Essedaquieuachei.(2;8)
c. Mastapeteelenumanda.(2;9)
d. Nenhumbrinquedoeubrinco.(3;7)
(Grolla,2000:33-34)
Grolla assume que essas estruturas são derivadas pela geração dos
elementostopicalizadosnabaseemTopP.Nasentença,háumproespecial,quenão
manifestaidentidadecategorialcomotópico.Istoé,nointeriordasentença,háum
proocupandoaposiçãodeumPP,enquantooelementoemTopPéumDP.
Essafaltadeidentidadecategorialtambémseverificanasrelativasdeobjeto
preposicionadoderivadaspormeiodasestratégiascortadoraeresumptiva.Nessas
estratégias não-padrão, não se verifica pied-piping preposicional, sendo que, na
análisedeKatoeNunes(2009),oselementosrelativizadostambémnãosãogerados
dentrodaoraçãorelativa,masemLD.
163
8.
a. olivroquevocêestavaprecisando
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêestavaprecisandoprok]]]]]
b. olivroquevocêvaiprecisardele
[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêvaiprecisardelek]]]]]
(KatoeNunes,2009:114-115)
Portanto, uma possível explicação para a aquisição das estratégias de
relativização não-padrão do PB é que a criança, ao verificar que construções de
tópico-comentário podem apresentar falta de identidade categorial entre o
elementotopicalizadoeoelementonointeriordasentença,entendequeépossível
relativizar elementos gerados emLD e, consequentemente, utilizar umpronome
resumptivo(abertoounulo)nointeriordasentença.
9. Vocêqueria[aborsinhaqueeutavajuntocomela]?(3;6)
(Grolla,2000:48)
Em nossos dados experimentais, todas as crianças que participaram da
pesquisa lidaram com a falta de identidade categorial demaneira parecida: um
elemento resumptivo foi utilizado ao produzirem uma relativa de objeto
preposicionado. Além disso, a estratégia de esquivamais utilizada por todos os
sujeitosdepesquisafoiousodeumoutroverboemsuasproduções.Possivelmente,
essa construção foi frequentemente utilizada de modo que a oração relativa
produzida apresentasse identidade categorial entre o elemento relativizado e o
elementoselecionadopeloverbonointeriordaoraçãorelativa.
Nossos dados indicam que, ao produzirem orações relativas de objeto
preposicionado, as crianças utilizam exclusivamente as estratégias cortadora e
resumptivas.Conformeapontamosanteriormente,essecomportamentodeveestar
relacionadoaumaconjunçãodefatores,comoaausênciadaestratégiapadrãono
inputdisponívelàcriança,afatoresligadosàeconomiaderivacional(nostermosde
Roeper, 2003) e a dependência do ensino formal da estratégia padrão. Outra
possível explicaçãoparao comportamentoobservadoemnossoexperimentodiz
164
respeito ao número de adjunções envolvido na derivação das relativas
preposicionadas compied-piping. Comopodemosver em (10), a relativizaçãode
livroenvolveumaoperaçãodeadjunçãoamaisdoquenosexemplosem(8).
10. olivrodequevocêprecisa
[DPo[CP[PPlivroi[PPde[DPtiqueti]]]]k[CPC[IPvocêprecisatk]]]]
(KatoeNunes,2009:114)
Em (10), o PP relativo se adjunge a CP. Em seguida, livro se adjunge
primeiramenteaoDPrelativoedepoisaoPPrelativo.Nosexemplosem(8),oDP
relativoseadjungeaCP.Emseguida,livroapenasseadjungeaoDPrelativo.Ouseja,
naderivaçãopormeiodaestratégiapadrão,háumaoperaçãodeadjunçãoamaisdo
quenasderivaçõespormeiodasestratégiasnão-padrão.Poderíamos suporque,
quantomaioronúmerodeadjunçõesnecessáriasemumaderivação,maisdifícil
seráasuaprodução.Essahipótese,aindaqueembrionária,nãosefundamentaem
propostas que tratam pied-piping preposicional como algo problemático ou
antinatural nas línguas. Pesquisas como a de Labelle (1990, 1996) indicam que,
apesarpied-pipingpreposicionalserraramenteusadoporcriançasaoproduzirem
oraçõesrelativas,elasnãoapresentamproblemascominterrogativas-Qucompied-
piping preposicional. Portanto, o problema com as relativas de objeto
preposicionado poderia estar relacionado apenas ao número de adjunções
empregadas(seguidamente)emumaderivação.
Nestabreveseção,apresentamosalgumashipótesessobreaaquisiçãodas
estratégiasderelativizaçãonão-padrãodoPBesobreaquasequetotalausênciade
pied-piping preposicional nas produções de relativas preposicionadas em nosso
experimento.Buscamosaquiapresentaralgunstemasdiretamenterelacionadosà
nossapesquisademaneiraespeculativa,umavezqueofocodestadissertaçãoéa
análisedocomportamentolinguísticodecriançasde4a6anosdeidadeacercada
produçãoeliciadadeoraçõesrelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado,
relacionandoessasconstruçõescomdiferentesconfiguraçõesdeanimacidade.
165
4.3.Possíveisdesdobramentosdestapesquisa
Acreditamosqueessadissertaçãopodecontribuirparaasinvestigaçõeseo
debate sobre a produção de orações relativas de objeto direto e de objeto
preposicionado, além do papel do traço de animacidade nessas construções.
Entretanto, há questões que podem ser exploradas e que são diretamente
relacionadas a nosso trabalho. Por exemplo, com relação às relativas de objeto
preposicionado, um estudo comparando diferentes tipos de relativas
preposicionadas(elementosgenitivosvs.elementoslocativos;PPsargumentosvs.
PPsadjuntos)podeapontarumamaiorfrequênciadeusodeestratégiasdeesquiva
aotentareliciarcadatipoderelativa,considerandoquepied-pipingpreposicionalé
algoquenãoatestamosnasproduçõesdeoraçõesrelativas,masquesãoproduzidas
porcriançasdesdemuitocedoemperguntas,comoatestaGrolla(2000,2005b).
Umaoutra possibilidade de estudo é comparar perguntas e relativas com
pied-pipingpreposicionaleestruturasdetópico-comentário,demodoaverificarse
aproduçãodeperguntaserelativascomumalacuna,sempied-pipingpreposicional,
comoem“quebrinquedovocêgosta?”e“obrinquedoqueeugosto”,possuialguma
relaçãocomaproduçãodeestruturasdetópico-comentáriocomfaltadeidentidade
categorial,comoem“esselivro,eupreciso”.
Por fim, esperamosquenosso trabalho tenha contribuído comos estudos
sobreasoraçõesrelativasesobreanimacidade,umavezque,conformeapontamos
anteriormente, nosso tema de pesquisa é bastante profícuo para os estudos em
gramática gerativa. Ademais, esperamos que nossos dados contribuam com o
debateacercadasestratégiasdeesquivautilizadasaoeliciaroraçõesrelativasde
objetodiretoepreposicionado,tantoemPBadultoePBinfantil,comoemestudos
translinguísticos.
166
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173
Anexo:Estímulosutilizadosnoexperimento_______________________________________________________________________________________________
Relativasdeobjetodireto
Ameninaempurrouocachorro,eameninaabraçouocachorro.Qualcachorrovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])
Ameninamolhouomenino,eameninasujouomenino.Qualmeninovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])
Ocachorromordeuamulher,eocachorrolambeuamulher.Qualmulhervocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])
Omeninoempurrouacaixa,eomeninolevantouacaixa.Qualcaixavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])
174
Omeninosujouabicicleta,eomeninomolhouabicicleta.Qualbicicletavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])
Ameninalambeuosorvete,eameninamordeuosorvete.Qualsorvetevocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])
Aquiaondaderrubouomenino,eaquiaondasómolhouomenino.Qualmeninovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])
Oaspiradorlimpouacachorra,eoaspiradorengoliuacachorra.Qualcachorravocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])
175
Ofuracãoderrubouacoruja,eofuracãolevouacoruja.Qualcorujavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])
Oaspiradorengoliuatoalha,eoaspiradorsólimpouatoalha.Qualtoalhavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])
Ofuracãodestruiuacasa,eaquiofuracãolevouacasa.Qualcasavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])
Achuvaderrubouovaso,eachuvamolhouovaso.Qualvasovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])
176
Relativasdeobjetopreposicional
Ameninacolocouochapéunomenino,eameninatirouochapéudomenino.Qualmeninovocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])
Omeninofaloucomamenina,eomeninodançoucomamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])
Omeninocontouumahistóriaparaamenina,eomeninomostrouumafiguraparaamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])
Omeninofaloucomaboneca,eomeninodançoucomaboneca.Qualbonecavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])
177
Omeninocolocouacordanacaixa,eomeninotirouacordadacaixa.Qualcaixavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])
Omeninocontouumahistóriaparaaboneca,eomeninomostrouumafiguraparaaboneca.Qualbonecavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])
Ocomputadortocouamúsicaparaamenina,eocomputadormostrouovídeoparaamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])
Oventotrouxeopapelparaamenina,eoventolevouopapeldamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])
178
Aondatrouxeagarrafaparaovelho,eaondalevouagarrafadovelho.Qualvelhovocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])
Oventobalançouopneudaárvore,eoventoarrancouopneudaárvore.Qualárvorevocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])
Aondatrouxeoremoparaobarco,eaondalevouoremodobarco.Qualbarcovocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])
Oventotrouxeoaviãodepapelparaamesa,eoventolevouoaviãodepapeldamesa.Qualmesavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])