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Kit básico de alimentação para Vítimas e
Bombeiros em Situações de Catástrofe Natural.
Sofia Sousa Silva
Orientado por: Mestre Bárbara Camarinha
Monografia
Porto, 2007
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
AGRADECIMENTOS
À Mestre Bárbara Camarinha, por todo o apoio e orientação em todas as fases e
decisões da elaboração deste trabalho, pela simpatia e paciência, pela
disponibilidade e por todos os ensinamentos;
Ao Dr. Pedro Graça pela ajuda e capacidade criativa e inovadora, por todo o
apoio na realização deste trabalho;
Ao Comandante da Corporação de Bombeiros Sapadores de Vila Nova de Gaia,
pela sua disponibilidade, colaboração e ajuda, imprescindível para a realização
deste trabalho;
A todos os Bombeiros Sapadores, pela colaboração e boa disposição;
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Índice
Agradecimentos ...................................................................................................i
Testemunhos........................................................................................................iv
Lista de Abreviaturas ..........................................................................................v
Resumo e palavras chave ................................................................................vi
Abstract and key words.................................................................................... viii
1. Introdução ...................................................................................................... 1
2. Riscos e Vulnerabilidades em Portugal............................................................7
3. Responsabilidades Nacionais pela Assistência Humanitária em situação de
emergência .........................................................................................................9
4. Apoio alimentar em situação de emergência – Panorama Internacional .... .14
4.1. Avaliação Nutricional....................................................................................15
4.2. Necessidades energéticas diárias em situação de emergência.................17
4.3. Alimentos da ração geral............................................................................22
4.4. Programas de alimentação selectiva ........................................................ 26
4.4.1. Programa de alimentação suplementar......... ........................26
4.4.2. Programa de alimentação terapêutica....................................27
4.5. Deficiência de micronutrientes .................................................................. 28
5. Grupos de Risco.............................................................................................30
6. Kit básico de alimentação para situações de emergência..............................33
6.1. Kit de alimentação para vítimas.........................................................33
6.2. Kit de alimentação para bombeiros....................................................41
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7. Discussão.........................................................................................................45
8. Conclusões......................................................................................................50
9. Referências bibliográficas................................................................................51
Índice de Anexos..................................................................................................55
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TESTEMUNHOS
“Em situação de incêndio, o Centro Cultural e Desportivo, fornecia sandes, fruta e
sumos aos agentes de protecção civil no local” ex-funcionária da Câmara
Municipal de Vila Nova de Gaia.
“Os bombeiros que andam no fogo, muitas vezes comem o que a população lhes
dá ou às vezes compram-se umas cervejas e umas bifanas que é o que eles
querem...” director do Centro Distrital de Operações de Emergência da Protecção
Civil – Porto.
“A alimentação adequada é a possível e o mínimo para não ter problemas...”
responsável pela resposta da Cruz vermelha e Crescente Vermelho em situações
de catástrofe, Dr. José Valato Ramos.
“Muitas são as vezes que deixamos o almoço a meio e não sabemos quando
voltamos a comer” Bombeiro Sapador da Corporação de Bombeiros Sapadores
de Vila Nova de Gaia.
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Lista de Abreviaturas
ONG – Organizações Não Governamentais
HC – Hidratos de Carbono
C.B.S. – Corporação de Bombeiros Sapadores
V.N.G. - Vila Nova de Gaia
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica
PE – Plano de Emergência
PME – Plano Municipal de Emergência
IMC – Índice de Massa Corporal
VET - Valor Energético Total
Vit - Vitaminas
OMS - Organização Mundial de Saúde
UHT -
SNBPC – Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil
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Resumo
As situações de catástrofe natural têm crescido dramaticamente nos
últimos anos e parece terem continuidade no futuro. A ajuda alimentar adequada
é determinante para a sobrevivência de vítimas de catástrofes naturais. É
determinante também para o desempenho exemplar da missão, que profissionais
como os Bombeiros, desempenham em resposta a estas situações.
A ajuda alimentar é determinada maioritariamente por disponibilidade de
alimentos, traduzindo-se muitas vezes em alimentos pouco adequados para a
situação em causa. Desta forma, uma orientação para a escolha adequada de
alimentos e uma coordenação eficaz entre as autoridades responsáveis pelo
apoio alimentar e os dadores é crucial para uma intervenção eficaz.
O objectivo deste trabalho foi elaborar um kit básico de alimentação para
vítimas e Bombeiros em situação de emergência, servindo como linha orientadora
às entidades municipais responsáveis a prestarem esse auxílio.
O kit básico de alimentação para as vítimas foi calculado com base nas
recomendações das ONG que prestam assistência humanitária (2200Kcal, 10-
12% de proteína e 17-20% de gordura). O kit dos Bombeiros foi calculado com
base nas recomendações militares (1100-1500Kcal; 50-70g de proteína e 100g de
hidratos de carbono). Além da satisfação das recomendações nutricionais, a
escolha dos alimentos teve ainda em consideração factores como adequação
cultural, disponibilidade e perecibilidade. Este trabalho conclui que os kits
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elaborados, embora equilibrados nutricionalmente, poderão apenas servir como
orientação, devendo ser adaptadas a cada situação.
Palavras-Chave
Catástrofe Natural, Emergência, Apoio Alimentar, Protecção Civil, Vítimas,
Bombeiros, Kit Básico de Alimentação.
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Abstract
The situations of natural catastrophe have been growing dramatically in the
last years and it seems they tend to continue growing in the future.
An adequate food aid is determinant to the survival of these natural
catastrophes' victims. The food aid is also determinant to the exemplary
performance of the missions which the firemen take as an answer to these natural
catastrophe situations.
Food aid is mostly determined by the availability of food which usually turns
into inadequate food to the specific situation. Thus, an orientation to the correct
selection of food and an effective coordination between the authorities who are
responsable for the food aid and the donators is crucial to an effective intervention.
The aim of this paper was to develope a basic food kit to the victims and
firemen involved in emergencies in order to elucidate the
responsable municipal entities with a guide line on how to provide help in these
situations.
The victims' basic food kit was calculated based on the recommendations of
the ONG which provide humanitary aid (2200Kcal,10-12% of protein and 17-20%
of Fat). The firemen's basic food kit was calculated based on military
recommendations (1100-1500Kcal; 50-70g of protein and 100g of carbon
hydrates). Besides the satisfaction of nutricional recommendations, the selection
of food items was made having in mind different factors such as cultural
adequation, availability and price.
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This paper concludes that the food kits developed, though being nutritionaly
adequate, can only be used as a guide and must always be adapted to each
situation.
Key words
Natural disaster, Emergency, food aid, civil protection, victims, firemen, basic food
kit.
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1. INTRODUÇÃO
O tsunami no Oceano Índico, o furacão Katrina, o terramoto na Índia e
Paquistão, são provavelmente, as situações de emergência de origem natural
mais recentes nas nossas memórias.
Além dos milhares de mortos, consequências devastadoras atingiram a
vida de muitos outros milhares de pessoas. Habitações destruídas, rotura no
fornecimento de água potável, acesso inadequado a alimentos, exposição
ambiental a tóxicos, interrupção dos serviços de saúde e o stresse físico e
emocional conduzem a uma maior fragilidade das vítimas levando muitas vezes
ao desenvolvimento de graves situações de doenças, em especial dos grupos
mais vulneráveis da população afectada (1, 2).
As situações de catástrofe natural, bem como as de ordem humana, têm
crescido dramaticamente nos últimos anos (3-5). Na realidade, desde os anos 70
do século XX, as catástrofes acontecem três vezes mais do que em anos
precedentes e têm consequências muito mais graves (4). O número de pessoas
afectadas por desastres naturais aumentou de 50 milhões em 1980 para 250
milhões em 2000. Apenas pelas inundações foi afectada uma média de 140
milhões de pessoas em cada ano. Em 2002, mais de 600 milhões de pessoas
foram afectadas por alterações climáticas bruscas, sendo que mais de metade por
secas na África e Ásia (6).
Portugal também já viveu situações que acabaram por se traduzir em
emergências. O sismo que ocorreu em Lisboa em 1755 e mais recentemente, as
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secas, as temperaturas extremas e os fogos florestais do ano de 2003 afectaram
milhares de pessoas (7).
Face a esta realidade, o auxílio urgente é necessário. Vidas estão em risco
e salvá-las é a prioridade.
A Assistência Humanitária, organizada por Agências Governamentais,
Organizações Não Governamentais (ONG) e Entidades Nacionais prestam
assistência às vítimas de fenómenos naturais, em diversas vertentes (3, 8). O
apoio alimentar é das vertentes mais importantes (2, 3, 6, 9-13) e mais urgentes,
constituindo cerca de 90% da resposta humanitária (12).
O acesso a alimentos e a manutenção do estado nutricional adequado são
factores decisivos para a sobrevivência adequada das pessoas nas fases iniciais
de emergência, desta forma uma rápida e eficaz intervenção é crucial para salvar
vidas. Manter a vida e a dignidade das pessoas afectadas por catástrofes,
segundo o conjunto do direito internacional, é a base dos serviços que as
organizações humanitárias oferecem (6).
Todas as pessoas precisam de consumir quantidades adequadas de
alimentos e de qualidade suficiente para assegurar a sua saúde e o seu bem-
estar (11). Assim sendo, se os meios normais de abastecimento de alimentos de
uma comunidade se ressentiram devido a um desastre, uma intervenção de apoio
alimentar é necessário.
Quando as pessoas não podem ter acesso a alimentos suficientes, é muito
provável que adoptem estratégias de sobrevivência a curto prazo, tal como
desfazerem-se de bens do agregado familiar, o que pode levar ao seu
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empobrecimento, a problemas de saúde e a outras consequências negativas a
longo prazo (11). A ajuda alimentar pode, então, ser também um mecanismo
importante para ajudar a desenvolver a auto-suficiência da população e a
restabelecer a sua capacidade para fazer frente a futuras comoções (11).
Todavia, a alimentação e a nutrição, não pode ser considerada de forma
isolada. A saúde, a agricultura, a economia, as crenças religiosas e tradicionais,
são alguns dos factores mais importantes que têm influência na situação
nutricional. Desta forma, identificar causas subjacentes à desnutrição pode ser um
processo complexo, mas indispensável para se poder garantir o estabelecimento
de programas eficazes. Neste contexto, a actuação de profissionais de
alimentação e nutrição torna-se imprescindível para a compreensão da situação,
no sentido de desenhar programas destinados a satisfazer as necessidades das
populações afectadas por fenómenos naturais (11, 14).
A função do Nutricionista em situações de emergência é vasta e
abrangente, abrindo novos horizontes para esta profissão tão versátil, constituindo
mais uma das áreas a que os Nutricionistas podem dar resposta (11, 14).
A sua responsabilidade primordial é satisfazer as necessidades nutricionais
através do cálculo das necessidades energéticas e nutricionais da população
afectada. É também seu dever, em função de estudos de diagnóstico rápidos e o
mais exacto possível, definir estratégias de actuação, realizar a monitorização do
estado nutricional da população e, dar resposta à vasta gama de problemas que
surgem nestas situações, em conjunto com outros profissionais (8, 11, 14). Além
disso, o nutricionista deve estar implicado na supervisão da distribuição dos
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alimentos, observando possíveis irregularidades e verificar a idoneidade,
qualidade e quantidade dos alimentos, assim como a recepção por parte das
vítimas (15).
Se por um lado as vítimas de catástrofes naturais necessitam de ser
salvos, outros têm a missão de salvar.
Inúmeros são os profissionais que dedicam a sua vida a salvar outras.
Exemplos destes são os Bombeiros, profissionais que servem o seu país com
distinção. Todos os dias arriscam a sua própria vida para protegerem pessoas e
bens nas suas comunidades. Além disso, é destes que depende a resposta numa
primeira instância em situação de catástrofe natural. Desta forma, é importante
que estejam disponíveis e de boa saúde para que de acordo com as suas
qualificações e experiências, contribuam de uma forma mais eficaz às situações
de emergência.
A profissão de Bombeiro consiste em períodos pontuais de baixa actividade
e períodos de actividade enérgica intensa. Uma boa condição física é crucial para
a transição com sucesso, entre estes dois níveis de actividade física, em apenas
poucos minutos. Além disso, muitas vezes, têm de carregar equipamento pesado
e trabalhar em condições físicas extremas (16, 17). O stress, o calor, a elevação
da temperatura corporal e desidratação é uma combinação implacável, à qual o
organismo responde com elevado número de alterações fisiológicas como:
elevação da adrenalina, maior fluxo sanguíneo, maior tensão muscular, maior
número de movimentos respiratórios, aumento da pressão sanguínea e mais
batimentos cardíacos por minuto (17).
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As condições de trabalho extremamente stressantes e exigentes, a
ausência da prática da actividade física e uma alimentação pouco cuidada, levam
a uma deterioração gradativa da aptidão física destes profissionais (16, 18).
Vários estudos indicam que alguns dos Bombeiros não apresentam a sua
condição física devidamente adaptada às suas funções, comprometendo desta
forma, um desempenho exemplar da sua profissão (16, 17). Se por um lado
podem ser heróis, podem também, por outro lado ser vítimas se a sua condição
física não permitir ser a primeira personagem.
A alimentação destes profissionais, é determinante para o desempenho
exemplar da sua missão. Os macro e micronutrientes apresentam um potencial
papel primordial para optimizar a sua capacidade física (19).
Vários estudos demonstram que uma alimentação pouco adequada ou
insuficiente, em especial a privação ou inadequação de hidratos de carbono (HC),
durante períodos de tempo prolongados, em condições que se traduzem em
elevadas exigências físicas, resultam no aparecimento de fadiga prematura e
consequente diminuição da sua capacidade física para a realização do trabalho.
Além disso, demonstram menos disponibilidade de cooperação e maior irritação
no cumprimento das suas missões (19, 20).
Uma alimentação antes e durante exercício físico, rica em HC, aumenta a
capacidade endurance e performance durante exercícios prolongados (21).
Durante exercícios exigentes, o corpo humano produz uma quantidade de
calor 10 a 20 vezes superior ao produzido numa situação normal. Cerca de 20% é
usado para o desempenho, sendo o restante dissipado (transpiração),
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acompanhado por um aumento do suprimento sanguíneo para a pele. Assim
sendo, é vital manter o volume sanguíneo, ou seja, é vital manter a hidratação
(22). O suor libertado durante a transpiração é essencialmente composto por
água e uma pequena quantidade de sódio. Assim, a hidratação é determinante
para manter a performance durante o exercício (20), inferindo sobre a capacidade
de resposta às situações de stresse (22).
Estudos demonstram que os militares ingerem quantidade insuficiente de
fluidos para manter a hidratação e alimentos insuficientes para manter o equilíbrio
energético, em especial durante as operações (19). Uma boa hidratação e a
ingestão suficiente de HC afecta a performance destes profissionais, além de
diminuir a susceptibilidade a doenças e promover uma recuperação mais
adequada depois das operações (19, 23).
Em Portugal, existem quatro categorias de bombeiros: voluntários,
sapadores, militares e privados. A Corporação de Bombeiros Sapadores (C.B.S.)
constitui um corpo especial de funcionários especializados de protecção civil,
pertencentes ao quadro de pessoal das Câmaras Municipais. A C.B.S. é uma
peça fundamental no âmbito da segurança de pessoas e bens, através do seu
elevado grau de operacionalidade responsável e profissional em acções de
socorro e de prevenção.
Existem 6 corporações de Bombeiros profissionais em Portugal: Lisboa,
Porto, Vila Nova de Gaia (V.N.G.), Braga, Coimbra e Setúbal (24). A C.B.S. de
V.N.G. foi criada em 19 de Dezembro de 2003 e compreende a Divisão Municipal
de Planeamento e Prevenção e os Bombeiros Sapadores, sendo constituída por
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101 Bombeiros Profissionais, com os quais foi desenvolvido um estudo, no âmbito
da realização desta tese, cujo o objectivo foi avaliar o estado nutricional destes
profissionais.
Dada a importância da alimentação no estado de saúde quer das vítimas
quer dos Bombeiros, em situação de emergência, é importante que esta seja
planeada e preparada, adequando assim a resposta da ajuda humanitária. Por
esse motivo, a elaboração de um kit básico de alimentos a fornecer a Vítimas e a
Bombeiros em situação de emergência, surge com o intuito de servir como linha
orientadora às entidades responsáveis municipais a prestarem esse auxílio.
2. RISCOS E VULNERABILIDADES EM PORTUGAL
Segundo Carlos Garrido... “Existem duas perspectivas extremas relativas
ao estudo das alterações climáticas previstas: irresponsabilidade/catastrofismo ”
(25). Se por um lado não se pode encarar o futuro como o advento de situações
catastróficas, por outro lado, não é prudente ignorar os riscos acrescidos que as
sociedades, a longo prazo, irão defrontar.
As alterações climáticas, provavelmente ocasionarão um maior número de
fenómenos naturais extremos e de maior magnitude, prevendo-se situações de
seca e chuvas prolongadas e intensas e ciclones tropicais também mais
numerosos e intensos. Alguns estudos indicam que a Europa é particularmente
vulnerável às cheias, sendo mesmo de considerar a longo prazo, a possibilidade
de um aumento de frequência das mesmas (25).
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Em Portugal e em particular no Concelho de V.N.G. os principais riscos
naturais e com maior probabilidade de ocorrerem são os riscos de natureza
hidrológica (cheias e secas), riscos ligados a temperaturas extremas (ondas de
calor e vagas de frio), incêndios florestais, fenómenos de origem convectiva
(trovoadas, granizo, saraiva e tornados), ciclones e sismos. No entanto, as cheias
são o fenómeno que se manifesta com mais frequência em Portugal (7, 25, 26).
Esta sumária caracterização dos riscos naturais a nível nacional e
municipal por si só, adivinha múltiplos problemas motivadores de grande
preocupação, podendo constituir causas para o aparecimento de situações de
emergência.
“Se, por um lado, é difícil prever-se a data, hora e localização exactas da
próxima catástrofe, por outro, é possível estarmos preparados para evitar ou
minimizar o seu impacto” (4).
A prevenção e a preparação para situações de fenómenos naturais
extremos é o melhor meio de conseguir minimizar os efeitos negativos que estes
podem causar.
Os riscos naturais, podem reduzir o acesso directo da população a
alimentos ao afectar a sua produção ou reservas, ou podem reduzi-lo
indirectamente ao impedir, por exemplo, o acesso físico aos locais de venda.
Além dos circuitos normais de produção e distribuição poderem ser afectados, a
população poderá também ter dificuldade em conservar os alimentos pelo frio
e/ou de os confeccionar pelos processos habituais (27). Nestas situações cabe às
entidades responsáveis prestarem o auxílio necessário às populações afectadas.
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3. RESPONSABILIDADES NACIONAIS PELA ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA
Em Portugal, a coordenação técnica e operacional dos meios a empenhar
e a adequação das medidas de carácter excepcional a adoptar em situação de
acidente grave, catástrofe ou calamidade, e no caso de perigo de ocorrência
destes fenómenos são desencadeadas Operações de Protecção Civil em
harmonia com os Programas e Planos de Emergência (PE) previamente
elaborados (24, 28).
“A Protecção Civil é a actividade desenvolvida pelo Estado, Regiões
Autónomas e Autarquias locais, pelos cidadãos e por todas as entidades públicas
e privadas com a finalidade de prevenir riscos colectivos inerentes a situações de
acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as
pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram” (28).
A protecção civil é responsabilidade e dever de todos: entidades públicas,
empresas e cidadãos. É uma tarefa eminentemente cívica. No entanto, as
exigências de eficácia e eficiência exigem do Estado um papel determinante
enquanto entidade coordenadora e mobilizadora em caso de emergência de
origem natural.
A estrutura de protecção civil organiza-se ao nível municipal, distrital,
regional e nacional, tendo como responsáveis, respectivamente, o Presidente da
Câmara, o Governador Civil, o Presidente do Governo Regional e o Primeiro-
Ministro (7, 24, 28, 29).
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Os Agentes da Protecção Civil de acordo com as atribuições próprias são:
os Corpos de Bombeiros; as Forças de Segurança; as Forças Armadas; as
Autoridades Marítima e Aeronáutica; o INEM e demais serviços de saúde e os
Sapadores Florestais (7, 24, 28).
Desempenham ainda funções de protecção civil, de acordo com o seu
estatuto próprio: Cruz Vermelha Portuguesa, Associações Humanitárias de
Bombeiros Voluntários; Serviços de Segurança; Instituto Nacional de Medicina
Legal; Instituições de Segurança Social; Instituições com fins de Socorro e de
Solidariedade; Organismos responsáveis pelas florestas, conservação da
natureza, indústria e energia, transportes, comunicações, recursos hídricos e
ambiente; Serviços de Segurança e Socorro privativos das empresas públicas e
privadas, de portos e aeroportos (24, 28).
O serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil tem ainda protocolos de
cooperação com várias organizações que desenvolvem actividade de protecção
civil, no âmbito do voluntariado como: Corpo Nacional de Escutas, Federação
Portuguesa de Campismo e Montanhismo e cerca de vinte Associações de
Radioamadores (7).
Todos os agentes e instituições referidas são articuladas operacionalmente
sob um comando único nos termos do Sistema Integrado de Operações de
Protecção e Socorro (SIOPS), sem prejuízo da respectiva dependência
hierárquica e funcional (28).
Algumas das actividades de protecção civil incluem a prevenção e
monitorização de riscos colectivos, naturais ou tecnológicos; a análise
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permanente de vulnerabilidades; a informação e formação das populações; o
planeamento de emergência e a inventariação de meios e recursos (7).
Os PE de protecção civil classificam-se de acordo com dois critérios:
objectivo, relacionado com o risco ao qual se dirigem e âmbito relacionado com o
espaço físico a que o plano se aplica. Consoante o seu objectivo podem ser
gerais - aplicáveis a todos os riscos, num determinado espaço geográfico, ou
especiais - se apenas um risco é considerado. Consoante o âmbito o plano pode
ser Nacional, Regional, Distrital ou Municipal (29).
O objectivo do PE é fornecer um conjunto de directrizes e informações
visando a adopção de procedimentos técnicos e administrativos, lógicos e
estruturados de forma a propiciar resposta rápida e eficiente em situações de
emergência, além de ser um conjunto de normas e regras de procedimento com
vista a evitar ou minimizar os efeitos de um acidente grave ou catástrofe (24, 26).
No caso concreto de V.N.G. no Plano Municipal de Emergência (PME)
constam várias vertentes de apoio em situação de emergência. O apoio alimentar
é promovido pelo Grupo de Abastecimento e Armazéns. Este grupo tem como
tarefas: promover a inventariação de meios e recursos, designadamente no
âmbito dos sectores da alimentação, agasalhos, material sanitário e outros;
promover o estabelecimento de protocolos com entidades fornecedoras de bens e
géneros, para situações de emergência; garantir a instalação e montagem de
cozinhas e refeitórios; preparar e coordenar um sistema de recolha e por fim
distribuição de dádivas (26, 30).
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Este grupo é constituído por diversas entidades: Delegado da Direcção
Municipal de Bombeiros e Protecção Civil; Delegado da Direcção Municipal de
Administração Geral/Divisão de Máquinas e Viaturas; Delegado da Santa Casa da
Misericórdia; Delegado do Núcleo da Cruz Vermelha, Delegados das Juntas de
Freguesias; Delegado da Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Gaia;
Delegado das Águas de Gaia, EM e Delegado da Gaianima, EM (26).
Já a distribuição do apoio alimentar é da responsabilidade do Grupo de
Abrigo e Bem-Estar cuja tarefa é coordenar as actividades de fornecimento de
alimentação e outros (26).
A Administração e Logística, sob o encargo dos Serviços Municipais de
Protecção Civil, são também responsáveis pela alimentação do pessoal
voluntário, das populações evacuadas e dos delegados do Centro Municipal de
Operações de Socorro (26).
A nível Distrital, o Grupo de Abrigo e Bem-Estar, constituído pelo Delegado
do Centro Regional de Segurança Social do Norte e Delegado da Direcção
Regional de Educação do Norte tem como missão, no âmbito da alimentação:
determinar com maior exactidão possível o dispêndio diário dos meios e recursos
em alimentação a utilizar; estabelecer ementas tipo diárias, de acordo com as
várias fases da situação de emergência e disponibilidade de meios (30).
Apesar de em todos os PE elaborados e responsabilidades no que diz
respeito ao sector da alimentação já estarem delegadas, nenhum programa
alimentar nem meios de distribuição estão descritos nesses PE municipais,
distritais, regionais e nacionais, para vítimas e para profissionais e/ou outros, que
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actuam em socorro das primeiras. A decisão do tipo de alimentos a fornecer em
situações de emergência, segundo responsáveis, depende das associações
contactadas que prestem o referido apoio, não sendo efectuada pelos
responsáveis previstos no respectivo plano.
Contactadas todas as entidades envolvidas (todas as que constam no PME
e o Regimento de artilharia nº5 de Gaia, Manutenção Militar da Delegação Norte e
Delegação de Lisboa) no apoio alimentar em situação de emergência, não foram
encontrados responsáveis e nenhuma orientação alimentar e nutricional está
elaborada apesar de delegada como missão nos PE para os respectivos grupos
de intervenção. Além disso, todas as entidades contactadas remetem para o
Serviço Nacional de Protecção Civil. Desta forma, o apoio alimentar depende da
disponibilidade de recursos, não havendo qualquer planeamento do tipo de
alimentação a fornecer no contexto de situações de emergência.
Os PE não garantem que não ocorra um acidente ou uma catástrofe, no
entanto podem evitar que um acidente de pequeno porte se transforme numa
grande tragédia uma vez que constituem um instrumento prático, que propícia
respostas rápidas e eficazes em situações de emergência. Desta forma, todas as
vertentes de auxílio às vítimas em situação de emergência devem ser
convenientemente desenvolvidas e aprofundadas, tornando a resposta à situação
de emergência mais eficaz e adequada.
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
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4. APOIO ALIMENTAR EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA – PANORAMA
INTERNACIONAL
Sem alimentos suficientes, outras intervenções de assistência humanitária
poderão ser menos eficazes e os casos de desnutrição poderão aumentar. As
intervenções ao nível da saúde por si só não bastarão para prevenir doenças,
agravadas pela falta de ingestão adequada de nutrientes, e mesmo se as
instalações higiénicas forem apropriadas, a população continuará susceptível a
contrair doenças devido à debilitação do sistema imunitário e à diminuição de
reservas do organismo (11).
As situações de emergência são caracterizadas por uma elevada taxa de
malnutrição aguda e deficiências nutricionais, tendo aumentado a sua prevalência
ao longo das últimas décadas (5, 12) O risco nutricional em situações de
emergência é evidente e a frequência de malnutrição crónica evidencia-se muito
relevante (12), conduzindo a um aumento de doenças e índices de mortalidade (5,
31).
Desta forma, a alimentação e a nutrição são componentes chave na
resposta a situações de emergência (5). Estratégias planeadas são necessárias
para proteger e promover o estado nutricional da população afectada (12).
As intervenções da assistência humanitária têm um papel importante em
salvar vidas através da sua intervenção no estado nutricional e na saúde da
população afectada (5, 6).
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No âmbito da assistência humanitária, diversos programas de distribuição
de alimentos a populações que vivem situações de emergência são
desenvolvidos.
O apoio alimentar consiste na distribuição de uma ração geral de
alimentos, parcial ou completa, a todos os grupos afectados sem distinção, com o
objectivo fornecer em tempo certo, a quantidade de alimentos adequada e
prevenir a deterioração ou assegurar a manutenção e promover a recuperação do
estado nutricional (5, 6, 11-13, 15, 31, 32). Apesar das diferenças marcadas de
necessidades nutricionais entre crianças, adolescentes e adultos, fornecer rações
para diferentes idades em situações de emergência não é exequível. A ração a
distribuir deve ser exactamente igual (quantidade e tipo de alimentos) para todas
as pessoas afectadas, uma vez que as famílias irão dividir as rações entre si (5,
15, 33).
Programas de alimentação especiais são destinados a sub-grupos da
população com necessidades nutricionais acrescidas, desta forma, além da ração
geral devem receber um complemento através dos programas de alimentação
selectiva (5, 11, 15, 31, 33).
Todos os programas de alimentação implementados devem ser avaliados em
relação à sua eficácia, através da monitorização de indicadores (15, 33).
4.1. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Logo que possível deve estabelecer-se uma avaliação inicial do estado de
saúde e nutricional da população afectada (15, 33).
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Medidas antropométricas como o peso (o peso pela altura (ou pela
estatura, em crianças que meçam menos de 85cm) das crianças com idade entre
6 meses e 5 anos de idade), o perímetro do braço e sinais clínicos são utilizados
para determinar a malnutrição (5, 11, 12, 15, 32, 33).
A medida da circunferência do braço é um método adequado, no caso de
crianças e mulheres grávidas, para efectuar uma avaliação rápida do estado
nutricional, contudo nas crianças é necessário relacioná-la com valores da altura
ou idade, para avaliar o progresso individual. Esta pode também ser usada como
critério de admissão para programas de alimentação selectiva (5, 11, 12, 15).
Os valores de mortalidade e morbilidade são também importantes como
indicadores de malnutrição (33).
O Índice de Massa Corporal (IMC) é a medida antropométrica usada para
avaliar o estado nutricional de adultos e adolescentes, apesar da grande variação
individual e da grande dificuldade em realizar a medição a idosos e adultos
severamente malnutridos e, nos adolescentes devido à variação da idade da
puberdade (5, 11, 12, 32). Esta informação também não fornece dados sobre
possíveis deficiências nutricionais, mas fornece de forma rápida e simples
informação sobre o estado geral de nutrição do indivíduo, permitindo avaliar
progressos individuais em situações de emergência (5, 12, 15).
Nos adolescentes, o IMC deve ser relacionado com a idade ou com a
altura, devendo ser ainda considerados os indicadores de maturação,
especialmente a menarca e a mudança de voz, permitindo melhorar a
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interpretação dos dados de referência do IMC, devendo ainda estes valores ser
utilizados com prudência e acompanhados com uma avaliação clínica (11).
Além destes, o perímetro da circunferência do braço, é também uma
medição que deve ser efectuada, dada à grande variação do IMC em adultos.
O edema e os sinais clínicos como a incapacidade de manter de pé e
desidratação são usados em conjunto com as medições antropométricas e
factores sociais aumentando a sua sensibilidade e especificidade como
indicadores de malnutrição e critérios de admissão para programas de
alimentação selectiva, bem como para avaliar o progresso nutricional individual (5,
11, 12).
Esta informação é necessária para identificar necessidades, grupos de
risco ou áreas geográficas afectadas, no sentido de planear intervenções
nutricionais, planear recursos e também monitorizar a eficácia do programa de
ajuda alimentar, permitindo avaliar o seu impacto e adequação e ajustar de
acordo com as alterações das condições (5, 12, 15, 31, 33).
4.2. NECESSIDADES ENERGÉTICAS DIÁRIAS EM SITUAÇÂO DE
EMERGÊNCIA
Determinar necessidades alimentares em situação de emergência é
extremamente complexo e difícil (5, 34). É também muito difícil recolher dados
nestas circunstâncias que permitam fazer uma estimativa precisa das
necessidades, especificamente o número e o local das pessoas afectadas e em
especial, se o acesso à população é restrito (34).
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As estimativas das necessidades energéticas e nutricionais adequadas da
população afectada, quais os componentes das rações, as quantidades
necessárias, o apoio logístico e a necessidade de levar a cabo algum programa
de alimentação especial requer avaliação de alguns dados que deve ser
efectuada com base na informação específica do contexto em causa (11, 34). A
análise dos problemas nutricionais e uma compreensão das causas e potenciais
riscos de malnutrição são necessários (11, 31) numa primeira fase de avaliação.
Contudo, os primeiros dados são essenciais para desenhar o apoio alimentar:
� O número de pessoas afectadas (5, 11, 15, 32, 35);
� O estado nutricional (5, 6, 11, 15);
� Os hábitos alimentares da população afectada (5, 15, 33).
Além disso, é necessário dispôr, o mais rápido possível, de informação sobre:
a magnitude e extensão geográfica; o perfil demográfico da população (5, 6, 11,
31-33) por sexo e por idade (5, 15, 35), em particular a percentagem de crianças
com idade inferior a 5 anos e a percentagem de mulheres (11); a média do peso e
altura dos adultos (5, 11, 35); nível de actividade física (5, 6, 11, 31, 32, 35); as
condições climatéricas (5, 6, 11, 31, 32) e grau de adequação dos abrigos e roupa
(11); identificação de grupos de risco (6, 33); critérios psicológicos (31); gostos e
preferências (5, 6, 15, 31-33); a disponibilidade de alimentos (14, 15, 32-34); a
duração do apoio alimentar (34) e outras fontes de alimentos (5, 31, 33);
disponibilidade de utensílios e capacidade para preparar, cozinhar e armazenar
os alimentos (32, 33) são determinantes para desenhar o tipo de intervenção.
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Utensílios adequados para os alimentos serem cozinhados em situações que
se justifiquem, devem ser fornecidos (5, 31, 35), assim como água e combustível,
uma vez que a falta destes traduz-se numa inadequação da ração, podendo
traduzir-se em efeitos negativos no estado nutricional (5, 11, 15).
Conhecer as necessidades da população afectada é essencial para desenhar
uma resposta adequada ao contexto em causa, contudo, uma estimativa das
necessidades tem de ser efectuada rapidamente (34). Assim sendo, em situações
de emergência são usados valores iniciais de referência, fazendo-se ajustes
numa fase posterior, se as condições iniciais se alterarem (5, 6, 12, 15, 31, 33,
35).
Segundo os valores iniciais de referência das Agências Internacionais, que
prestam assistência humanitária, a energia mínima necessária para uma
população em situação de emergência, totalmente dependente da ajuda
alimentar, é de 2180 kcal, 2200 Kcal aproximadamente, variando geralmente de
1900Kcal a 2300 Kcal (5, 31).
Estas recomendações, incluem as necessidades de todos os grupos etários e
de ambos os sexos, não se referindo, portanto, a nenhum grupo etário ou sexual
em particular e não devem ser utilizadas para fazer a avaliação das necessidades
específicas de um indivíduo. Além disso, estas indicações baseiam-se numa série
de pressupostos, que a menos que sejam válidas para a população em questão,
podem conduzir a erros. Desta forma, estas recomendações iniciais surgem como
orientações, devendo ser ajustadas às alterações do meio e da população:
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Temperatura ambiente
Se a temperatura é inferior a 20ºC, as necessidades energéticas devem ser
ajustadas para mais 100Kcal por cada –5ºC abaixo de 20ºC (5, 14, 31, 32).
Estado nutricional, psicológico e de saúde
Se a população está mal nutrida ou possui estados psicológicos ou de saúde
comprometidos ou outro tipo de stresse fisiológico deve receber cerca de 100-
200Kcal a mais (5, 6, 14, 31-33, 35).
Nível de actividade física
Se o nível de actividade física aumentar, um aumento das necessidades
deverá também ser efectuado, na medida em que o cálculo das necessidades é
efectuado para manter o estado nutricional e de saúde de uma população com
baixo nível de actividade física (5, 6, 14, 31-33, 35).
Perfil demográfico da população
Se as características demográficas da população não corresponderem a uma
distribuição normal de um país industrializado, as necessidades deverão alterar-
se nesse sentido, adequando assim as necessidades à população afectada (5,
14, 31, 32).
Além disso, se os índices de mortalidade aumentarem, o valor energético total
(VET) também deverá ser aumentado (6, 35).
A ração deve fornecer cerca de 10-12% do VET de proteína e 17-20% de
gordura (5, 11, 14, 31-33).
Tradicionalmente, o seu objectivo nutricional, numa fase inicial, é promover
uma quantidade adequada de energia, mais do que proteína, sem atingir todas as
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necessidades nutricionais, principalmente ao nível dos micronutrientes, apesar da
marcada prevalência de deficiências nutricionais em situações de emergência (8,
12, 15, 33, 36).
Além do valor nutricional (5, 13, 31, 35) a ração deve satisfazer critérios de
qualidade, segurança (5, 13), variedade (5, 6, 31, 35), digestibilidade, em especial
para crianças e idosos (5, 11, 14, 35), deve ser fácil de preparar (35), armazenar
(5, 15) e manipular (5, 6), transportar e distribuir (5, 12, 15).
A aceitabilidade cultural é também determinante (5, 11, 12, 14, 15, 31-33, 35),
uma vez que as necessidades energéticas e nutricionais nunca serão atingidas se
as rações não forem culturalmente aceites. Além disso, deve ainda contemplar a
escolha de alimentos que necessitam de pouco combustível e água para a sua
confecção (5, 11, 14, 15, 32, 35).
A ração deve considerar perdas no transporte, manuseamento,
armazenamento, distribuição e cocção aumentando o fornecimento da ração
cerca de 5-10% (5, 14, 35). Deve ainda ter-se em linha de conta que a ração deve
ser disponibilizada o mais rapidamente possível, em especial para as populações
totalmente dependentes da ajuda alimentar (5, 14, 31, 35), fazendo-se uma
distribuição equitativa e eficaz pela população (5, 15).
Apesar de todos os ajustes para fornecer uma ração nutricionalmente
adequada à população afectada com um determinado perfil demográfico, não
significa que seja adequada a cada indivíduo uma vez que existe sempre variação
individual (35).
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4.3. ALIMENTOS DA RAÇÃO GERAL
Os alimentos que devem constituir a ração geral devem ser seleccionados de
forma a assegurarem as necessidades energéticas, proteicas, lipídicas e de
micronutrientes à população afectada (5, 11, 14, 31, 32).
Considerando os valores nutricionais requeridos e factores de perecibilidade,
facilidade de armazenamento, transporte, distribuição, manipulação, hábitos
alimentares, disponibilidade regular em grande quantidade e dos utensílios
necessários para sua confecção (5, 15, 32, 35), os alimentos que geralmente
constituem uma ração geral são:
� Cereais constituem a principal fonte de hidratos de carbono (5, 12,
31, 35, 37) e são fonte de vitamina (vit) do complexo, ferro e fibras alimentares (5,
15, 33, 37). Estes são os que proporcionam um maior fornecimento de energia e
proteína da ração (15, 33);
� Óleo vegetal, além de fonte concentrada de energia, aumenta a
palatibilidade da refeição (5, 12, 15, 31, 35, 38), e constitui uma fonte importante
de vit A, D, E e K (5, 15, 33, 38);
� Leguminosas como o feijão, lentilhas e ervilhas, além de fonte de
proteína vegetais fornecem também muitos micronutrientes como vit do complexo
B (B1 e B2), minerais (cálcio e ferro) e fibras alimentares (5, 15, 31, 33, 35, 37).
São importantes como fonte de proteína complementar aos cereais (5, 15), são
fáceis de transportar e distribuir e são menos susceptíveis a contaminação que
outras fonte proteicas como as de origem animal (5);
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Outros alimentos são necessários para aumentar a palatibilidade e
aumentar o fornecimento de vitaminas e minerais:
� Sal iodado Este não fornece valor energético, mas pode constituir
uma importante fonte de iodo, nas populações que têm hábito de baixo consumo
de pescado e compensa as perdas deste mineral em ambientes com
temperaturas elevadas. Cerca de 5g por pessoa por dia é o preconizado (5, 15,
39, 40). Pode ainda ser usado nas soluções de re-hidratação oral (5);
� Açúcar é uma fonte concentrada de energia, sendo muito útil para
os programas de alimentação suplementar, contudo apresenta algumas limitações
quanto ao seu armazenamento, na medida em que, é muito sensível à humidade.
(5, 15, 35);
� Chá ou café e especiarias apesar de não fornecerem nutrientes
são fáceis de obter, necessários em pequenas quantidades e aumentam a
aceitabilidade e palatibilidade da ração, sendo considerados como alimentos
conforto (5, 14, 15, 37);
A adição destes alimentos pode ser decisiva para a aceitação deste regime
alimentar, pelo seu valor cultural, promovendo o seu consumo e favorecendo
assim, o estado nutricional da população afectada (5, 8, 31, 35).
Outros alimentos são obtidos a partir de donativos, contudo, devido ao seu
valor nutricional e à sua disponibilidade inconstante, estes alimentos geralmente
são usados para os programas de alimentação selectiva ou devem ser rejeitados
sempre que não sejam adequados para situações de emergência (15).
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� Os enlatados e o peixe seco, ocasionalmente disponíveis são
também boas fontes proteicas e boas fontes minerais, em especial de iodo (5, 15,
38), mas também cálcio, ferro e vit do complexo B (33, 38);
� Carne, leite, ovos e suas conservas e derivados são fontes
proteicas por excelência, fontes de vit B, A e D e são ricos também em cálcio e
fósforo. Estes alimentos servem para melhorar a palatibilidade e qualidade da
ração, favorecendo também a absorção de ferro (5, 15, 37). Estes na sua grande
maioria, quando disponíveis são usados para os programas de alimentação
selectiva (5, 15). O leite geralmente não é distribuído na ração geral, a menos que
faça parte dos costumes e hábitos da população, constituindo desta forma uma
fonte importante de proteínas (15). Contudo, leite em pó não deve ser distribuído,
podendo constituir graves problemas de segurança, na medida em que as
condições de preparação daquele produto em situações de emergência estão
comprometidas (5, 14, 15, 31, 35);
� Bolachas são muitas vezes fornecidas em fases iniciais de
emergência, em especial quando não existem facilidades de cozinhar ou quando
não existem outros recursos. Este tipo de alimentos devem estar sempre
presentes como possível fonte de alimentos nos planos de emergência (35);
� Frutas e produtos hortícolas frescos são fracos fornecedores de
energia e proteína, contudo são excelentes fornecedores de vit A, B, e C, e
minerais como o ferro e cálcio, além de fornecerem fibra, importante para o
trânsito intestinal e para aumentar a saciedade (5, 15, 33, 37). Estes alimentos
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devem ser fornecidos em situações de emergência, quando estão disponíveis,
devendo ser adquiridos em mercados locais (5, 15);
� Frutos gordos e amiláceos como nozes e avelãs, além de serem
ricos em lípidos, proteínas de baixo valor biológico, vit do complexo B e minerais
(ferro, cálcio e magnésio) (37). São de fácil distribuição, devendo ser usados se
disponíveis e culturalmente aceites (5).
Nas intervenções das ONG é frequentes a distribuição de misturas de
alimentos como: cereais e leguminosas, pré fortificados em vit e minerais (12, 31,
35), uma vez que a ração geral, não contribui geralmente com as quantidades
necessárias para o aporte de micronutrientes.
� Água – O fornecimento de água exige uma atenção imediata desde
o início da situação de emergência. A água, deve ser prioridade, sendo distribuída
o mais rapidamente possível e em quantidade suficiente, assegurando a sua
potabilidade (15, 31, 36).
Cerca de 1-1.5L de água potável por dia, por pessoa adulta ou crianças e
adolescente deverá ser assegurados, nas primeiras fases de emergência e cerca
de 400-1000ml a crianças de 1 mês a 3 anos (5). Esta quantidade de água deve
ser ajustada quando a temperatura ambiente e o nível de actividade físico forem
mais elevados (36).
Para populações inteiramente dependentes do apoio alimentar, rações
completas devem ser adequadamente distribuídas. Contudo, numa fase de pós-
emergência ou quando as populações têm acesso a outras fontes de alimentos,
devem ser fornecidas rações parciais, assegurando o mínimo das necessidades
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energéticas (14). As rações parciais, dependem das condições locais, contudo,
habitualmente, têm um menor número de itens alimentares, comparativamente à
ração completa e também menor quantidade de cereais. Geralmente esta ração
parcial consiste em cereais e óleo alimentar. Em alguns casos, quando o
aprovisionamento de proteína está comprometida, o fornecimento de leguminosas
deve assegurar esta limitação (14).
4.4. PROGRAMAS DE ALIMENTAÇÃO SELECTIVA
Os programas de alimentação selectiva são constituídos por programas de
alimentação suplementar e terapêutica, sendo ambos aplicados a grupos
especificamente vulneráveis com necessidades especiais, com o objectivo de
reduzir a malnutrição e mortalidade dos grupos de risco (5, 15, 31-33, 35). Estes
programas devem ser desenhados com base na compreensão da complexidade e
dinâmica da situação nutricional em causa (11).
A decisão para serem implementados programas de alimentação selectiva
baseia-se na prevalência de dnutrição (10-14% ou superior, ou 5-9% ou superior
com factores de risco). Os factores de risco: elevada mortalidade (1 em cada
10.000 por dia), elevada prevalência de diarreia por infecção ou doenças
respiratórias, sarampo e a ração geral de alimentos fornecer nutrientes abaixo das
necessidades (12, 32, 33).
4.4.1. O programa de alimentação suplementar têm como objectivo reduzir
a prevalência de desnutrição moderada e promover a recuperação de grupos
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vulneráveis específicos (5, 6, 11, 12, 31-33, 35), com necessidades especiais, em
especial dos micronutrientes (5, 15) através do aprovisionamento adicional de
alimentos de elevada qualidade nutricional, como acréscimo à ração geral (5, 8,
15, 33).
O suplemento varia de a 500 a 1200 kcal/dia, devendo ser administrado um
suplemento de 500-700kcal/pessoa/dia com 15-25 gramas de proteína, se o
suplemento for administrado no centro de alimentação e pelo menos duas vezes
por dia, e cerca de 1000 a 1200 Kcal por pessoa por dia com 35 a 45 g de
proteína, se o suplemento é consumido em casa (5, 12, 33).
Os alimentos que mais frequentemente fazem parte deste programa são
misturas de alimentos fortificados (5, 12), leites densamente calóricos e prontos a
comer (5, 31), devendo em especial ser fornecido frutas e produtos hortícolas
frescos para o fornecimento de vit e minerais (15) e outros como pescado, açúcar
e misturas de cereais, produtos hortícolas e azeite (15).
4.4.2. O programa de alimentação terapêutica tem um papel importante na
redução da mortalidade repondo o estado nutricional de crianças severamente
desnutridas, fornecendo alimentos com elevada densidade energética combinada
com intervenções médicas (5, 6, 11, 12, 15, 32, 33). A alimentação neste
programa deve basear-se em refeições pequenas e frequentes e com quantidade
adequada ao peso corporal com correcção do balanço de electrólitos, (solução de
re-hiratação oral rica em potássio e pobre em sódio) e complicações infecciosas
(5, 12, 15). Neste programa de alimentação devem ser fornecidas cerca de 150-
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200Kcal por cada refeição e 2 - 4g de proteína por cada Kg de peso por dia (5, 15,
33).
Os alimentos mais frequentemente utilizados neste programas de alimentação
consistem numa mistura de água fervida, leites terapêuticos fortificados com vit e
minerais, (F75 e F100) azeite e açúcar (15) ou misturas de alimentos pré-
preparados (vários cereais) com azeite, como por exemplo K Mix II da UNICEF
(15).
4.5. DEFICIÊNCIA DE MICRONUTRIENTES
O aprovisionamento de vitaminas e minerais através da ração, que geralmente
consiste num número muito restrito de alimentos secos, é muito difícil (12, 32, 33,
35) sendo desta forma, frequentes as deficiências nutricionais em situações de
emergência.
Todavia, é importante distinguir deficiências nutricionais que são comuns em
muitas populações em situações de emergência e aquelas que são
especificamente deficiências de micronutrientes como consequência da situação
de emergência: vit C, vit do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina) pois os
grandes fornecedores destes micronutrientes não são geralmente fornecidos em
situação de emergência (5, 31).
As deficiências de micronutrientes podem levar ao aumento do risco de
mortalidade, morbilidade, aumento da susceptibilidade à infecção, crescimento
comprometido, diminuição da capacidade de trabalho, diminuição das
capacidades cognitivas e atraso mental (11, 31).
Sofia Sousa Silva 29
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Diferentes estratégias são usadas pela assistência humanitária, para tentar
colmatar a deficiência de micronutrientes da população afectada. Estas devem em
primeiro lugar passar por aumentar o consumo de alimentos ricos nos
micronutrientes em falta e em quantidade suficiente (5, 11, 14, 33). Outras
potenciais estratégias são usadas para prevenir as deficiências de micronutrientes
através da inclusão de alimentos como leguminosas, frutos gordos e amiláceos,
óleo de palma, frutos e produtos hortícolas frescos (5, 6, 11, 14, 31, 33, 35) na
ração de alimentos (12). Os frutos e produtos hortícolas frescos são
particularmente difíceis de incluir nas rações, na medida em que são difíceis de
serem conseguidos para um grande número de pessoas regularmente (12, 35),
por dificuldades logísticas no transporte e distribuição e elevado custo (35). No
entanto, produtos hortícolas menos perecíveis, como as cebolas podem ser
incluídos (35).
A incorporação de sumos enriquecidos em vit, em especial C, em
determinados contextos pode ser exequível e muito útil (35). Importante será
também promover uma maior variedade de alimentos na ração, em especial para
as populações que dependem integralmente da ajuda alimentar (6, 14).
Outras alternativas devem ser desenvolvidas de acordo com o contexto em
causa e a disponibilidade de alimentos necessários (5). Apesar da fortificação de
alimentos (5, 6, 13, 31, 33, 35) e suplementação (5, 33) de vit A (31, 35, 41) e C
(31, 35) serem praticadas rotineiramente em situações de emergência, depende
do contexto específico e de dificuldades operacionais (31, 41), bem como do
custo, diminuição do tempo de vida útil e condições de armazenamento,
30 Sofia Sousa Silva
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nomeadamente a humidade, a luz e a elevada temperatura que conduzem a
perdas de micronutrientes durante o armazenamento e transporte (41).
Na maioria dos casos, a estratégia combinada de alimentos fortificados e
suplementados é mais eficaz e a mais praticada em situações de emergência (5).
A informação sobre os principais alimentos que devem ingerir para aumentar a
quantidade de micronutrientes e, em determinadas situações a implementação de
programas de agricultura parece também ter resultados positivos (35, 41). As
medidas a adoptar para solucionar este problema depende do tipo de deficiências
e das circunstâncias locais (35).
5. GRUPOS DE RISCO
Em situações de emergência o sexo, a idade, o estado nutricional e o
estado de saúde têm um papel importante para a determinação de grupos em
risco nutricional (1, 12, 35) sendo as mulheres, em especial grávidas e lactantes,
crianças e idosos, particularmente vulneráveis (5, 11, 15, 32, 33).
� CRIANÇAS
A amamentação exclusiva até aos 6 meses de idade reduz a morbilidade e
mortalidade, consequência de doenças infecciosas (12, 31), mas também fornece
todos os nutrientes necessários (31) essenciais para o seu crescimento e
desenvolvimento durante os primeiros meses de vida (5, 11). Em situações de
emergência, as práticas de higiene estão comprometidas e o risco de diarreia e
infecções é muito elevado. O uso seguro de substitutos de amamentação (35), a
água limpa (31, 35), combustível disponível (31), facilidades para preparar em
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condições de higiene (5, 31, 35) e um fornecimento regular são difíceis de garantir
e os riscos associados são elevados (5, 12, 31) como a diarreia, a malnutrição e o
aumento os índices de mortalidade (31). Desta forma, a amamentação é
essencial, devendo ser promovida (11, 15, 41) e encorajada até pelo menos aos 6
meses de idade (5, 31, 33), em especial em situações de catástrofes naturais (1,
5, 12, 15, 31). O leite materno é o melhor alimento e o mais seguro. A
amamentação consiste numa fonte de alimento segura e higiénica, fornece
anticorpos contra alguns agentes infecciosos e está sempre disponível. Desta
forma, deve ser estimulada e prolongar-se o mais possível no tempo (11, 15, 33).
As crianças até aos 6 meses de idade que não têm acesso ao leite materno
devem ser alimentadas com substitutos, contudo, em condições rigorosamente
controladas e por pessoas treinadas para tal. O uso de biberões nestas situações
é desencorajado e promovido o uso de chávenas ou copos e colheres, na medida
em que são mais fáceis de higienizar (5, 11, 15, 31).
A partir dos 4-6 meses de idade as crianças devem começar a receber
alimentos complementares ao leite materno. Estes devem ser especialmente ricos
em energia e fornecer os macronutrientes em quantidades adequadas e devem
ainda ser facilmente digeridos (5, 15). Este suplemento deverá fornecer de 30-
40% do VET de gordura e 12% de proteína para crianças. Em especial para as
crianças, os alimentos devem ser concentrados em energia e fornecer maior
quantidade de nutrientes em menor volume (11, 15).
Além disso devem ainda, ter acesso a todos os micronutrientes
imprescindíveis ao seu crescimento e desenvolvimento, em especial ferro, vit A e
32 Sofia Sousa Silva
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C (5, 31). Durante uma situação de emergência, a disponibilidade de alimentos e
a sua preparação na forma semi-sólida, pode ser difícil, além das condições
higiénicas não serem as mais seguras para a sua preparação (5, 15). Assim, a
alimentação para as crianças deve ser baseada em cereais, leguminosas, óleo e
açúcar e, quando possível adicionar produtos hortícolas e frutos (5).
� MULHERES GRÁVIDAS E ALEITANTES
As necessidades nutricionais destas mulheres são maiores que a média da
população (5, 31). É muito importante manter a ingestão nutricional evitando não
só efeitos directos no seu estado de saúde, no peso à nascença e no crescimento
e desenvolvimento das crianças, mas também para a protecção da qualidade
nutricional do leite materno (31).
As mulheres grávidas requerem uma adição de 250 Kcal e as lactantes de
500 Kcal/dia, tendo ambas necessidades acrescidas de micronutrientes,
particularmente de vit A, iodo, ferro e folato (5, 31).
Estas necessidades acrescidas são geralmente asseguradas pelo
programa de alimentação suplementar, sendo uma intervenção muito importante
para a protecção da qualidade nutricional do leite materno (31).
� POPULAÇÃO ENVELHECIDA
O efeito das situações de emergência neste grupo da população é
claramente reconhecido (12). As doenças, o frio, o stress e o trauma psicológico,
a diminuição da mobilidade (31), a maior dificuldade de acesso aos alimentos e
Sofia Sousa Silva 33
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
de os preparar (31) e as alterações sociais, tornam este grupo particularmente
vulnerável afectando o seu estado nutricional e aumentando o risco de
desnutrição (11, 12).
Aumentar o acesso às rações e aos programas de alimentação
suplementar, assegurar que as rações são facilmente digeríveis e fáceis de
preparar e que contemplam as necessidades nutricionais acrescidas deste grupo,
especificamente dos micronutrientes (11), são medidas necessárias para este
grupo de risco. Além disso, é importante assegurar que a ingestão de líquidos é
suficiente para prevenir a desidratação e facilitar a digestão (31).
6. KIT BÁSICO DE ALIMENTAÇÃO PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA
6.1. KIT DE ALIMENTAÇÃO PARA VÍTIMAS
O kit básico de alimentação tem como objectivo servir não só como linha
orientadora às entidades responsáveis, para escolha de alimentos adequados
para situações de emergência mas como ponto de partida para a determinação
das necessidades energéticas da população afectada.
Foi elaborado com base nas recomendações calóricas que a Organização
Mundial de Saúde (OMS) preconiza para situações de emergência em países
industrializados com perfil demográfico com distribuição normal, com temperatura
de 20ºC e com baixo nível de actividade física, devendo ser logo que possível
ajustado às condições do meio e da população afectada (5, 31).
34 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
As necessidades calóricas preconizadas pela OMS são de aproximadamente
2200 Kcal com cerca de 10-12% de proteína e cerca de 17-20% de gordura (5,
31).
Para a escolha dos alimentos que satisfaçam as necessidades de vítimas de
fenómenos naturais, nas fases iniciais de emergência foram considerados os
seguintes factores: o valor nutricional dos alimentos (energia, proteína, gordura e
micronutrientes) (5, 13, 31, 35, 42), variedade (5, 6, 31, 35), rapidez de rotação de
stocks em situação normal (27), baixo custo (5, 27), baixa perecibilidade (5, 27,
31, 42), facilidade de preparação/confecção, reduzido consumo de água (5, 15,
27, 35, 42) e combustível para a sua confecção (5, 15, 35), logisticamente fácil de
distribuir, armazenar (5, 15, 42) e transportar (5, 12, 15, 27, 31, 42) e
considerando ainda hábitos culturais (5, 15, 31, 35, 43), gostos e preferências da
população Portuguesa (5, 6, 15, 31, 43).
Pressupostos do kit de alimentos:
� O fenómeno natural que dá origem à emergência ocorre em área
limitada (cidade de V.N.G.);
� Impossibilidade de cozinhar nos três primeiros dias;
� Impossibilidade de aceder a produtos frescos ou congelados;
� O fenómeno natural que dá origem à situação de emergência
consiste num dos que têm maior probabilidade de ocorrência em V.N.G., secas,
fogos florestais ou inundações (24-26);
Sofia Sousa Silva 35
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Os kits básicos de alimentação apresentados são sugestões para 3 dias em
situação de emergência.
Alguns dos alimentos apresentados são comuns aos 3 dias, pretendendo-se
que sejam consumidos nas refeições do pequeno-almoço, merendas da manhã e
da tarde e ceia, sendo eles: o leite (este alimento, não recomendado pelas ONG
devido à sua dificuldade de preparação em condições higiénicas seguras, é
incluído neste kit de alimentação, uma vez que o UHT tem um período de
conservação relativamente alargado – 6 meses, além de ser rapidamente
conseguido pelas autoridades e ter um elevado valor nutricional e cultural) (5, 31,
37, 43), o pão, as bolachas ou os cereais, compotas, doces ou marmelada, o
açúcar, café solúvel e chá de ervas.
Os restantes alimentos, pretende-se que sejam consumidos nas refeições do
almoço e jantar.
Nestas refeições e considerando todos os factores enunciados, os alimentos
mais adequados são:
� Os enlatados devido à baixa perecibilidade e elevado período de conservação
e elevado valor proteico;
� Os cereais devido à sua riqueza nutricional em energia, hidratos de carbono e
micronutrientes, em especial vit do complexo B e também baixa perecibilidade
e elevado período de conservação;
� O pão, devido ao seu elevado valor cultural, em situações em que pode ser
fornecido e não há capacidade de cozinhar devendo ser o preferido ao arroz e
massa (5, 27, 42, 43);
36 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
� O chá e o café, porque são considerados alimentos conforto e fazem parte dos
hábitos alimentares mais comuns dos Portugueses, devendo por isso ser
incluídos no kit de alimentação (43);
� Os frutos gordos e amiláceos porque são ricos em energia e vit do complexo B
e apresentam baixa perecibilidade (37, 39);
A composição nutricional dos kits foi calculada recorrendo à Tabela de
Composição dos Alimentos Portuguesa ou à pesquisa de rótulos em superfícies
comerciais que permitiram estimar a quantidade e composição nutricional de
determinados alimentos da ração. O cálculo foi realizado de acordo com as
seguintes fórmulas:
� (N x P)/100= quantidade do nutriente (g ou Kcal);
(N – quantidade do nutriente em 100g de alimento (g ou Kcal) e P – peso
do alimento a fornecer (g);
� % do nutriente do kit = (Kcal do nutrientex100) / Kcal totais do kit.
Sofia Sousa Silva 37
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Alimentos Quantidade Energia (Kcal) Proteína (g) Gordura (g) HC (g)
Leite UHT Gordo 500ml 310,0 15,0 17,5 23,5
Pão Mistura 400g 1052,0 23,6 3,2 225,6
Compota 35g 83,3 0,14 0 21,7
Açúcar 20g 78,2 0,0 0 19,9
Café solúvel 4g 9.2 0.6 0.0 1.6
Chá Ervas 3g 0.0 0,0 0,0 0.0
Total - 1532.7 39.4 20.7 292.3
Salada
Mediterrânea* 157g 129,0 10,2 9,0 1,8
Atum** 100g 214,0 24,3 13,0 0,0
Frutos Gordos e
Amiláceos 20g 137,8 3,3 13,5 0,7
Feijão com
chouriço** 425g 113,0 5,7 4,8 11,7
Total - 2126.5 82.9 61.0 306.5
Água 1,5L 0 0 0 0
Recomendação -- 2200,0 66,0 48,9 374,0
*Salada enlatada compota por: atum, cenoura, pimento, ervilhas, cebola, água, azeite, óleo, vinagre e sal. ** Alimentos enlatados. Atum em conserva de óleo vegetal.
Tabela 1 - Composição nutricional em macronutrientes do kit básico de
alimentação para o 1ºdia de emergência.
38 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Alimentos Quantidade Energia (Kcal) Proteína (g) Gordura (g) HC (g)
Leite UHT Gordo 500ml 310,0 15,0 17,5 23,5
Pão Mistura 200g 526,0 11,8 1,6 112,8
Bolachas 150g 654,0 12,6 18,3 108,0
Doce 35g 79,8 0,1 0,0 21,2
Açúcar 20g 78,2 0,0 0,0 19,9
Café solúvel 4g 9.2 0.6 0,0 1.6
Chá Ervas 3g 0,0 0,0 0,0 0.0
Total - 1657,0 40.1 37.4 286.9
Salada Califórnia* 157g 129,0 10,2 9,0 1,8
Polvo** 72g 149,2 23,7 3,6 5,5
Fruto Gordo e
Amiláceo 20g 137,8 3,3 13,5 0,7
Grão-de-bico com
chouriço** 425g 113,0 5,7 4,8 11,7
Azeitonas** 30g 51,6 0,4 5,6 0,0
Total - 2237.8 83.5 73,9 306.7
Água 1.5L 0,0 0,0 0,0 0,0
Recomendação - 2200,0 66,0 48,9 374,0
* Salada enlatada composta por: atum, milho, cenoura, azeitonas, azeite, óleo, vinagre e vinho.
** Alimentos enlatados. Polvo em conserva de óleo vegetal.
Tabela 2 - Composição nutricional em macronutrientes do kit básico de
alimentação para o 2º dia de emergência.
Sofia Sousa Silva 39
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Alimentos Quantidade Energia (Kcal) Proteína (g) Gordura (g) HC (g)
Leite UHT Gordo 500ml 310,0 15,0 17,5 23,5
Pão Mistura 200g 526,0 11,8 1,6 112,8
Cereais 150g 540,0 21,0 3,8 103,5
Marmelada 40g 108,4 0,0 0,0 27,9
Açúcar 20g 78,2 0,0 0,0 19,9
Café solúvel 4g 9.2 0.6 0.0 1.6
Chá Ervas 3g 0.0 0,0 0,0 0.0
Total - 1571.8 48.5 22,9 289.2
Salada Milanesa* 157g 122,6 9,0 7,8 4,1
Sardinha** 95g 176,7 24,9 8,6 0,0
Fruto Gordo e
Amiláceo 20g 137,8 3,3 13,5 0,7
Lentilhas com**
Chouriço 425g 100,0 5,5 4,5 9,5
Total - 2108.9 91.3 57.2 303.5
Água 1.5L 0,0 0,0 0,0 0,0
Recomendação -- 2200,0 66,0 48,9 374,0
*Salada composta por: atum, milho, cenoura, cogumelos, pimento, azeite, óleo e vinagre.
**Alimentos enlatados. Sardinha em conserva de óleo vegetal.
Tabela 3 – Composição nutricional em macronutrientes do kit básico de
alimentação para 3º dia de emergência.
40 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Alternativas:
No caso da situação de emergência se prolongar por mais de 3 dias sem a
possibilidade de preparar/cozinhar alimentos, as refeições prontas a comer como
feijoada, dobrada com grão-de-bico, lulas e salsichas, não consideradas nos kits
de alimentação podem ser incluídas para aumentar a sua variedade, uma vez que
respondem aos critérios utilizados para a escolha dos alimentos para situações de
emergência. Para a substituição das saladas fornecidas nos kits, os enlatados de
cogumelos, milho, ervilha e tomate podem constituir alternativas nutricionalmente
aceitáveis e possíveis de serem fornecidas.
Determinados alimentos foram escolhidos, de acordo com os gostos e
consumos dos Portugueses, como o chá, café e compota ou equivalentes, não
pelo seu valor nutricional, mas para tornarem o kit mais aceite culturalmente (8).
Os cereais e bolachas pretendem constituir uma alternativa à impossibilidade de
fornecer pão, podendo ser substituído total ou parcialmente em todos os kits, de
acordo com a situação em causa. Outros alimentos como “barritas de cereais”,
podem também constituir alternativa.
Nas situações em que é possível preparar/cozinhar alimentos, substituir
120g de pão por 100g de arroz ou massa, nas refeições do almoço e jantar
aumentaria a adequabilidade nutricional do kit e seria culturalmente mais aceite,
de acordo com o estudo do Consumo Alimentar no Porto de 2006 (43). Nestas
circunstâncias, as sopas pré-confeccionadas, podem também constituir boas
fontes de nutrientes.
Sofia Sousa Silva 41
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Kit de alimentos Quantidade em (g)
Alimentos
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3
Energia (Kcal) 2127,0 2238,0 2109,0
Proteínas(%VET) 15.6% 14.9% 17.3%
Gordura (%VET) 25.8% 29.7% 24.4%
Hidratos de
Carbono (%VET)
57.7% 54.8% 57.7%
Tiamina (mg)* 1.02 1.61 0.76
Niacina (mg)* 16.78 7.58 17.38
Vitamina B2(mg)* 1.09 1.59 1.16
Vitamina C (mg)* 0.20 0.20 0.20
*ANEXO 2, 3 e 4.
Tabela 4 – Caracterização da percentagem (%) cada nutriente nos kits de
alimentação dos 3 dias considerados, respectivamente tipo 1, 2 e 3 e quantidade
de alguns micronutrientes em miligramas (mg).
6.2. KIT DE ALIMENTAÇÃO PARA BOMBEIROS
O kit básico de alimentos para os Bombeiros tem como objectivo servir
como linha orientadora, às entidades responsáveis, para escolha de alimentos
adequados para Bombeiros que actuam em situações de emergência, e estão
privados, por longos períodos de tempo, de alimentos fornecedores de energia
que lhes permitam enfrentar situações de maiores exigências físicas e
emocionais.
42 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
A escolha dos alimentos para satisfazer as necessidades energéticas e
nutricionais destes profissionais foi baseada, nos gostos, nas preferências e
hábitos culturais (43), na variedade de alimentos, na facilidade de adquirir e
preparar em situação de emergência, bem como na facilidade de transporte,
distribuição e comodidade para consumir rapidamente, uma vez que apesar do
estado de saúde de cada profissional ser primordial, determinadas emergências
não permitem despender muito tempo. Além disso, foi considerado o tipo de
emergência – consequente dos fenómenos mais prováveis de ocorrerem em
Portugal e, mais especificamente no Concelho de V.N.G: fogos florestais, secas e
inundações (7, 25, 26).
Segundo as recomendações militares, as rações restritas, usadas em
situações de operações, devem fornecer pelo menos 1100 a 1500 Kcal (cerca de
50 a 70 g de proteína, um mínimo de 100g de HC por cada ração, devendo estes
variar cerca de 300 a 400g de HC ao longo do dia) (19). Contudo, alguns estudos
demonstram que uma grande quantidade de HC ingeridos não tem benefício na
performance. A ingestão de cerca de 16g por hora é suficiente para o
desempenho óptimo da sua capacidade física (21).
Manter a hidratação através da ingestão regular de água, ao longo de todo
o dia e, em especial durante exercícios e operações, são as recomendações da
força aérea - cerca de ¼ de um cantil (aproximadamente ¼ de litro) de água por
hora (20, 22, 23).
O nível de sódio deve ser mantido através da ingestão de uma alimentação
adequada e equilibrada.
Sofia Sousa Silva 43
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Enquanto a água é usualmente a bebida mais adequada para promover a
hidratação durante a actividade física militar, segundo as recomendações da US
Army, bebidas desportivas contendo HC e sódio, pode ser adequado para
aumentar a ingestão energética e manter a performance dos militares durante
operações, quando a disponibilidade de alimentos ou a ingestão destes é
inadequada (19, 22, 23).
Os alimentos que mais adequadamente podem satisfazer as necessidades
nutricionais destes profissionais, promovendo hidratação e suprimento adequado
de HC e minerais como o sódio podem ser através de alimentos na forma sólida
como frutas (banana) e pão ou bolachas ou barras de cereais ou na forma líquida
como bebidas desportivas (21).
Este kit de alimentação fornece uma lista de alimentos mais adequados a
estes profissionais em situações de cerca de 8 horas em emergência, fornecendo
dois tipos de kit a serem fornecidos, mediante uma situação de pequeno-almoço,
merenda ou ceia, na 1ª opção e de almoço ou jantar na 2ª opção. Contudo, deve
ser ajustado a cada situação.
A composição nutricional dos kits foi calculada recorrendo à Tabela de
Composição dos Alimentos Portuguesa ou à pesquisa de rótulos em superfícies
comerciais que permitiram estimar a quantidade e composição nutricional de
determinados alimentos da ração. O cálculo foi realizado de acordo com a
seguinte fórmula:
� (N x P)/100= quantidade do nutriente (g ou Kcal);
44 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
(N – quantidade do nutriente em 100g de alimento (g ou Kcal) e P – peso
do alimento a fornecer (g);
Alimento Quantidade Proteína (g) Gordura (g) HC(g) VE (Kcal)
Pequeno-almoço/Merendas/Ceia
Leite 250ml 8.25 4 12.25 117.5
Queijo 60g 15.6 14.04 0.12 189.6
Banana 120g 1.92 0.48 26.16 114
Pão 100g 5.9 0.8 56.4 263
Frutos
Gordos e
Amiláceos
25g 4.175 16.875 0.9 172.25
Total - 35.845 36.195 95.83 856.35
Almoço/Jantar
Carne
Assada 120g 33.84 13.32 0 255.6
Pão 100g 5.9 0.8 56.4 263
Banana 120g 1.92 0.48 26.16 114
Frutos
Gordos e
Amiláceos
25g 4.175 16.875 0.9 172.25
Água 3L 0 0 0 0
Total - 75.78 67.67 179.29 1661.2
Tabela 5 – Caracterização em macronutrientes do kit de alimentação para
Bombeiros.
Sofia Sousa Silva 45
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Alternativas a estes alimentos podem ser efectuadas, sobretudo
adequando o tipo de alimentos ao tipo de emergência. As bebidas desportivas e
as barras de cereais são boas alternativas, quando alimentos adequados não
estão disponíveis, pois além de baixa perecibilidade, podem ser adquiridos e
armazenados, facilitando o suprimento das necessidades destes profissionais de
forma mais eficaz (Anexo1).
7. DISCUSSÃO
A missão em situação de emergência das autoridades responsáveis é
salvar vidas e aliviar o sofrimento das vítimas, sendo o fornecimento de alimentos
e o cuidado nutricional de extrema importância para esta problemática (44).
Contudo, em situação de emergência, as decisões mais importantes sobre
nutrição são efectuadas por pessoas com pouca ou nenhuma experiência quanto
a questões nutricionais. Esta particularidade conduz muitas vezes a decisões e
escolhas alimentares pouco acertadas e pouco adequadas nutricionalmente,
sendo ainda, muitas vezes politicamente determinada, acabando por ter um
considerável impacto nos problemas nutricionais em situações de emergência (8,
44). Além disso, o apoio alimentar exige uma coordenação de actividades e
responsabilidades nem sempre conseguidas (8).
Na realidade, a ração distribuída é, muitas vezes, substancialmente
diferente da ração desejada. Dificuldades logísticas e de disponibilidade de certos
alimentos determinam a composição da ração deixando para segundo plano as
necessidades nutricionais da população afectada (35).
46 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Diferenças de interesse e orientações das diferentes ONG contribuem
ainda para particulares dificuldades na coordenação na assistência humanitária
(44).
O papel dos profissionais de nutrição revela-se desta forma, crucial na
prevenção e solução de problemas nutricionais em situações de emergência (6,
15, 44).
Em média, todos os kits de alimentação elaborados para as situações de
emergência fornecem cerca de 2158 kcal, assegurando as 2200 kcal
recomendadas pela OMS para situações de emergência. Os kits apresentam
cerca de 15% do VET de proteína, sendo acima dos 12% preconizados pela
OMS. Relativamente à gordura, todos os kits apresentam mais de 20% do VET
deste nutriente, podendo ser considerado adequado, na medida em que não
ultrapassa os 30% recomendados pela mesma agência, para uma população
adulta saudável e em situação de normalidade (45). Quanto aos HC, nutriente
essencial para o fornecimento da maior parte da energia do kit, são asseguradas,
garantindo todos os kits mais de 50% do VET sob a forma deste nutriente.
Estes valores de proteína e gordura acima das recomendações da OMS
para situações de emergência deve-se à inclusão de alimentos ricos em proteína
como o leite, o pão, as saladas, o atum, o polvo, a sardinha e o feijão, grão-de-
bico e lentilhas com chouriço. Os alimentos que mais contribuem para o
fornecimento de gordura são o leite, os frutos gordos, as saladas, o atum e a
sardinha. Estes alimentos, geralmente não são incluídos nas rações utilizadas
pelas ONG, contudo, adequando as recomendações à realidade Portuguesa,
Sofia Sousa Silva 47
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
estes alimentos são bons fornecedores de energia e de nutrientes, são de baixo
custo, baixa perecibilidade, apresentam facilidade de armazenar, transportar e
distribuir e são culturalmente aceites.
Os micronutrientes são menos relevantes nestas circunstâncias, em
especial nas fases iniciais de emergência. Tendo em conta a curta duração desta
emergência, não seria relevante serem considerados, no planeamento do kit.
Contudo, por curiosidade, foi avaliada a composição em micronutrientes dos kits
propostos e verificou-se que estes kit apresentam deficiência nos micronutrientes
previstos de ocorrer em situação de emergência (ANEXOS 2,3,4).
Estas deficiências, ocorrem essencialmente devido à dificuldade de
aprovisionamento de alimentos ricos na deficiência em causa, quer por
dificuldades logísticas quer por disponibilidades, custos ou perecibilidades.
A grande deficiência nutricional considerada foi a vitamina C. Os frutos e
produtos hortícolas frescos, grandes fornecedores desta vitamina, devido à sua
elevada perecibilidade, dificuldades logísticas de armazenamento e transporte,
custo e disponibilidade em grandes quantidades, não podem ser fornecidos
nestas circunstâncias, justificando assim a sua deficiência em todos os kits.
Contudo, considerando esta situação de emergência de curta duração, esta
deficiência nutricional poderá não ser motivo de preocupação, não sendo
necessário proceder a medidas nutricionais suplementares.
As outras deficiências nutricionais, a ribloflavina no kit 1 e 3, a niacina no kit
2 e a tiamina no kit 3, não são de todo tão marcadas como a falta da vitamina C.
48 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
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Estas diferenças na composição de micronutrientes pode dever-se à
omissão da composição nutricional em micronutrientes das saladas e dos
enlatados de chouriço com feijão, grão-de-bico e lentilhas e por fim do polvo.
Relativamente ao kit para os bombeiros, está de acordo com o preconizado
pelas recomendações militares no que respeita aos HC, proteína e VET.
Este kit de alimentação, tendo sido calculado com base nas
recomendações militares, apesar de poder não ser o mais adequado à população
em causa, é de qualquer forma mais adequado que a praticada actualmente.
Contudo, as recomendações militares baseiam-se no pressuposto de que os
militares praticam uma alimentação saudável.
Em situações de emergência, a principal prioridade das autoridades
competentes deverá ser fornecer alimentos, em especial fornecedores de energia
e HC aos profissionais que actuam no terreno, de forma a optimizar as suas
capacidades físicas, melhorando o desempenho da sua missão. Contudo, é
urgente cuidar da alimentação e nutrição desta população, antes de situações de
emergência, à luz das conclusões da avaliação efectuada, no sentido de
promover, melhorias no estado de saúde e capacidade física, que se reflectirá no
desempenho das suas missões.
A falta de comunicação e coordenação com os dadores de alimentos a
nível nacional e internacional, reflecte-se na inadequação de alimentos que são
recebidos para as situações de emergência (44).
Os donativos, são na maioria das situações de emergência, os maiores
determinantes para o fornecimento de alimentos, mais do que as necessidades
Sofia Sousa Silva 49
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
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nutricionais da população afectada. Todavia, a ajuda alimentar deverá basear-se
nas necessidades da população afectada e não em políticas internacionais,
elaboradas no contexto dos dadores (8).
Em Portugal, seria interessante estabelecer uma comunicação entre o
Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC), o Banco Alimentar e o
fundo de emergência da Cruz Vermelha Portuguesa, na medida em que estas
duas últimas instituições têm interesses comuns no sentido de adquirir alimentos
adequados para stocks, para fazer face a situações de emergência (4), ao passo
que o SNBPC tem interesse em fornecer uma alimentação adequada. Para isso
devem dar orientações quanto ao tipo de alimentação a fornecer em situações de
emergência, através das especificações da alimentação adequada que deverão
constar no PME. Desta forma, regulamentar os donativos adequados e publicitá-
los, fazendo-os chegar aos dadores, poderá consistir numa estratégia eficaz para
os tornar mais adequados às situações de emergência.
Visto não existir regulamentada, pelas autoridades competentes, o que é
uma alimentação adequada para as situações de emergência, este trabalho não
pretende ser de forma alguma o ideal, mas apenas um ponto de partida para o
esclarecimento da dita alimentação adequada para as situações de emergência.
Desta forma, muito ainda há a fazer e muito há ainda a descobrir.
A realização deste trabalho além de todo o conhecimento que me
transmitiu abre uma porta para num futuro próximo explorar esta vertente tão
interessante e pouco considerada por todos.
50 Sofia Sousa Silva
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
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8. CONCLUSÕES
� Apesar dos planos Municipais, Distritais, Regionais e Nacionais
existirem, estes necessitam de ser desenvolvidos em todas as suas vertentes da
assistência humanitária, no sentido de aumentar a qualidade de resposta a
situações de emergência, no que diz respeito a questões alimentares e
nutricionais;
� Os kits de alimentação elaborados para as vítimas e Bombeiros em
situação de emergência são adequados nutricionalmente, contudo devem ser
usados como linhas orientadoras para a escolha de alimentos adequados,
devendo ser adaptados a cada situação de emergência;
� Este trabalho pretende não terminar por aqui. A inclusão dos kits
básicos de alimentação elaborados pretende fazer parte do próximo PME do
município de V.N.G.
Sofia Sousa Silva 51
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Natural
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
ANEXOS
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Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Índice de Anexos
Alternativa do kit básico de alimentação para os Bombeiros
Sapadores..........................................................................................................a1
Kit básico de alimentação para 2º dia de emergência – composição em
micronutrientes..................................................................................................a2
Kit básico de alimentação para 3º dia de emergência – composição em
micronutrientes..................................................................................................a3
Kit básico de alimentação para 3º dia de emergência – composição em
micronutrientes..................................................................................................a4
a1
Anexo 1
Alimento Quantidade Proteína
(g)
Gordura
(g)
HC (g) VE
(Kcal)
Sódio
(mg)
Bebida
desportiva*
500 ml 0,00 0,00 137,00 555,00 258.30
Barra de
Cereais*
23.8g 1.30 1.50 18.30 88.60 0.07
Total - 1.30 1.50 155.30 643.60 258.37
*valores obtidos a partir da média de três marcas de bebidas desportivas e barras de cereais.
Tabela 7 – Caracterização da composição nutricional em macronutrientes e
sódio de um kit básico de alimentação alternativo para Bombeiros em situações
de emergência.
a2
Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Anexo 2
Alimentos Tiamina (mg) Niacina (mg) Ribloflavina (mg) Vit C (mg)
Leite UHT
Gordo 0,200 1,000 0,700 0,000
Pão Mistura 0,720 4,800 0,320 0,000
Compota 0,005 0,000 0,011 0,000
Açúcar 0,000 0,000 0,000 0,000
Café solúvel 0,002 1,000 0,008 0,000
Chá Ervas 0,000 0,000 0,000 0,000
Total 0,930 6.800 1,040 0,000
Salada
Mediterrânea - - - -
Atum 0,022 9,800 0,022 0,000
Frutos Gordos
e amiláceos 0,066 0,180 0,028 0,200
Feijão com
chouriço - - - -
Total 1,020 16.780 1,090 0,200
Água 0,000 0,000 0,000 0,000
Recomendação 0,900 12,00 1,400 28,000
Tabela 10 - Composição nutricional em micronutrientes do kit básico de
alimentação para 1º dia de emergência.
a3
Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Anexo 3
Alimentos Tiamina (mg) Niacina (mg) Ribloflavina (mg) Vit C (mg)
Leite UHT Gordo 0,200 1,000 0,700 0,000
Pão Mistura 0.360 2.400 0.160 0,000
Bolachas 0.975 2.850 0.675 0,000
Doce 0,000 0,000 0,000 0,000
Açúcar 0,000 0,000 0,000 0,000
Café solúvel 0,002 1,000 0,008 0,000
Chá Ervas 0,000 0,000 0,000 0,000
Total 1.540 7.250 1.540 0,000
Salada Califórnia - - -
Polvo - - -
Fruto Gordo 0.066 0.180 0.028 0.200
Grão-de-bico
com chouriço - - - -
Azeitonas 0.006 0.150 0.021 0,000
Total 1.610 7.580 1.590 0.200
Água 0,000 0,000 0,000 0,000
Recomendação 0.900 12,000 1.400 28,000
Tabela 8 – Composição nutricional em micronutrientes do kit básico de
alimentação para 2º dia de emergência.
a4
Kit básico de alimentação para Vítimas e Bombeiros em Situação de Catástrofe
Natural
Anexo 4
Alimentos Tiamina (mg) Niacina (mg) Ribloflavina (mg) Vit C(mg)
Leite UHT
Gordo 0,200 1,000 0,700 0,000
Pão mistura 0,360 2,400 0,160 0,000
Cereais 0,120 6,150 0,225 0,000
Marmelada 0,000 0,000 0,000 0,000
Açúcar 0,000 0,000 0,000 0,000
Café solúvel 0,002 1,000 0.008 0,000
Chá de Ervas 0,000 0,000 0,000 0,000
Total 0.680 10.550 1.090 0,000
Salada
Milanesa - - - -
Sardinha 0,009 6,650 0,038 0,000
Frutos Gordos 0,066 0,180 0,028 0,200
Lentilhas com
chouriço - - - -
Total 0.760 17.380 1.160 0,200
Água 0,000 0,000 0,000 0,000
Recomendação 0,900 12,000 1,400 28,000
Tabela 9 – Composição em micronutrientes do kit básico de alimentação para 3º
dia de emergência.