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7/25/2019 [Jos William Craveiro Torres] Texto Completo - Manuel Bandeira
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MANUEL BANDEIRA, TROVADOR MODERNISTA
Jos William Craveiro Torres1
Universidade de Coimbra UC
INTRODUO
Ainda que o Brasil no tenha vivido a Idade Mdia, odemos a!irmar que semre
houve e"os do Trovadorismo #alai"o$ortu#u%s or terras brasileiras& o 'oman"eiro
ibri"o l( "he#ou or meio dos rimeiros "oloni)adores e alimentou, or s"ulos, uma
*iteratura oular+ Cantadores e "ordelistas nordestinos utili)am, ainda hoe, em suas
"omosi-.es, temas e t"ni"as medievais /ou tardo$medievais0 sem dar or isso ou sea,
de maneira in"ons"iente, simlesmente orque a tradi-o sobretudo a de base oral
assim os ensinou+
2or outro lado, houve, no Brasil, "om o advento do Modernismo, uma retomada
"ons"iente de t"ni"as e de temas trovadores"os uma es"ie de 34eotrovadorismo5+6
7esse 3movimento5 arti"iaram oetas "omo Martins 8ontes, Au#usto Me9er,
:uilherme de Almeida e Manuel Bandeira+ ; resente ensaio tem or obetivo tratar da
rodu-o 3neomedievalista5 de Bandeira, de modo a mostrar "omo ele re"uerou, em
tr%s de seus oemas 3Cantar de Amor5, 3Canti#a de Amor5, 3Cossante5 ,"ara"teratamente or esse
motivo, otamos or dis"utir tal retomada no s= or meio dos estudos te>tuais, mas
tambm ela =ti"a dos estudos "ulturais, a artir dos "on"eitos de residual e arcaico
!ormulados or 'a9mond Williams, em seu livro Marxismo e Literatura,@
e do "on"eitode imaginrioensado or inte#rantes dacole des Annales, notadamente or :eor#es
17outorando em *iteratura de *
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7ub9+Trataremos dos si#ni!i"ados que esto or tr(s desses tr%s termos, bem "omo dos
"on"eitos de intertextoe intertextualidade,Elo#o no rimeiro t=i"o+
4o se#undo t=i"o, !aremos uma breve e>osi-o a"er"a das "anti#as
trovadores"as de amor e de ami#o, ara que ossamos de!ini$las e "ara"teri)($las
devidamente ara os leitores deste ensaio, visto que somente assim esses odero
er"eber quais "ara"terto mantm "om outro/s0+ 2ara
evitar que atribu
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A#uiar e ilva o!ere"eu as se#uintes de!ini-.es de intertextualidade e intertexto&
3intertextualidade"omo a intera"-o semi=ti"a de um te>to "om outro/s0 te>to/s05
3intertexto"omo o te>to ou o corpusde te>tos "om os quais um determinado te>to
mantm aquele tio de intera"-o5D+
A intertextualidade, ara A#uiar e ilva, ode se mani!estar de duas !ormas& de
modo expl!cito, atravs de citaes, dapardiae da imita"o declarada e de modo
impl!cito, ocultoou dissimulado, or meio de aluses+
Vuanto ao "on"eito de imaginrio, retiramo$lo do livroA Histria Continua,1de
:eor#es 7ub9&
Vuanto ao outro termo, 3ima#in(rio5, tomava$o em seu sentido mais amlo, aradesi#nar o que s= e>iste na ima#ina-o, a !a"uldade do es
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'a9mond Williams, o arcaico seria todo e qualquer elemento "ultural ou !enPmeno
so"ial "aa) de ser identi!i"ado "omo al#o do assado, mas que estaria sendo revivido,
or al#uma ra)o, de !orma "ons"iente, or um determinado a#ruamento so"ial& 3?u
"hamaria de ar"ai"oN aquilo que totalmente re"onhe"ido "omo um elemento do
assado, a ser observado, e>aminado, ou mesmo, o"asionalmente, a ser revividoN de
maneira "ons"iente, de uma !orma deliberadamente ese"iali)ante51@+
; residual, or sua ve), seria tudo aquilo !ormado no assado, mas asseri%n"ias, si#ni!i"ados e valores que no se odeme>ressar, ou veri!i"ar substan"ialmente, em termos da "ultura dominante, ainda sovividos e rati"ados L base do res
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/Y0+ ; trovador, amado in"ondi"ionalmente ela mo-a /Y0, roeta$se no seu rimi$lo, o trovador re"orria Ls mesmas e>ress.es, aenas utili)ando sinPnimos nasrimas, t
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e "ousi$as, e ben are"ian,ero, senhor, quero$vos al di)er&quantas m(is doSnas, senhor, ala vi,tanto vos eu mui m(is re"ei des i+1D
Non oso di-e" n%*a "en
Martim oares
4on ouso di)er nulha rena mha senhor e sen seu bennon ei mui #ram "o9tNa erder+edes que "o9ta de so!rer&
dNamar a quen non ousarei!alar& ero non erderei#ran "oita sem seu bem !a)er+
edes que "o9ta de so!rer\2or #ran "oita er$tenho taldNamar a quen nun"a meu malnen mha "oita ei a di)er+edes que "oita de so!rer\
? veo que mo9ro dNamor? ero veN a mha ssenhor4un"a o er min ( a ssaber+edes que "o9ta de so!rer\6
A'i$os, non oss/ e ne$a"
Johan :ar"ia de :uilhade
Ami#os, non ossNeu ne#ara #ran "o9ta que dNamor e9,"a me veo sandeu andar,e "on sande"e o dire9&os olhos verdes que eu vime !a)en ora andar assN entender(
aquestes olhos quaes son,e dN estN al#uen se que9>ar(ma9s eu a quer mo9ra quer non&os olhos verdes que eu vime !a)en ora andar ass
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me !a)en ora andar ass
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mesma ideia, o mesmo "onteRdo, ou sea, aresentam 3alavras5 /versos0 "om os
mesmos si#ni!i"ados, odemos di)er que estamos diante de uma "anti#a 3aralel,
di!ere$se das demais ( a artir do seu eu lonadas /verdadeiras amantes0, saudosas, inse#uras as
3ami#as5+
0. Das intertextualidadese dos arcasmos"esentes na oesia de Bandei"a
Maleval, em seu livroPoesia medieval no Brasil,6E assim se re!eriu L retomada
das "anti#as trovadores"as /l
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modernistas& 3via de re#ra movidos or uma auto$"ons"iente interte>tualidade que !a)
dialo#ar, mantendo$lhe as di!eren-as, o resente "om o assado56K+ Com essa a!irma-o,
a esquisadora aontou ara os leitores as motiva-.es /imitar, ara!rasear, arodiar0 e o
ro"esso /via intertextualidade0 que levaram esses es"ritores do 3resente5 a retornarem
ao 3assado5+ Con"ordamos "om Maleval, visto que muitos dos modernistas brasileiros
or ela re!eren"iadosFestudados ( tinham entrado em "ontato "om as "omosi-.es
medievais a que !i)emos aluso, antes de se dedi"arem L es"rita dos seus oemas&
eramFso ro!undos "onhe"edores da ^ist=ria da *iteratura 2ortu#uesa+ 4esse sentido,
mostra$se bastante interessante, orque revelador dapo!esis, este deoimento de Manuel
Bandeira&
*i tanto e to se#uidamente aquelas deli"iosas "anti#as que !iquei "om a "abe-a "heia de3velidas5 e 3mha senhor5 e 3nula ren5 sonhava "om as ondas do mar de i#o e "om asromarias a an ervando+ ; Rni"o eito de me livrar da obsesso era !a)er uma "anti#a /aobsesso era sintoma de oema em estado larvar0+ ?s"revi o 3Cantar de amor5 no voro=sito de !a)er um oema "em or "ento tre"entista+6H
Como todos sabem, Bandeira /1K$1DK0 !oi ro!essor e historiador de *iteratura
do Col#io 2edro II /'io de Janeiro0, o que re!or-a o !ato de ele ter mesmo "onhe"ido
autores e obras das *iteraturas 2ortu#uesa e :ale#o$2ortu#uesa+ ; deoimento tambm
dei>a "laro que ele es"reveu elo menos um de tr%s dos seus oemas, que (aresentaremos, "om base nas leituras que reali)ou de determinadas "anti#as l
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7+ 7inis
Mha senhor, "omNoe dia son,Atan "uitadNe sen "or assi\? ar 7eus non sei que !arei i,Ca non dormho ( mui #ran sa)on+Mha senhor, ai meu lumNe e meu bem,Meu "ora-on non sei o que ten+
4oitNe dia no meu "ora-on4ulha ren se non a morte vi,? ois tal "oita non mere"i,MoirNeu lo#o, se 7eus mi erdon+Mha senhor, ai meu lumNe meu ben,Meu "ora-on non sei o que ten+
7es oimais o viver mN rison&
:rave diNaquel en que na"i\Mha senhor, ai re)ade or mi,Ca erN-o sem e er-Na ra)on+Mha senhor, ai meu lumNe meu ben,Meu "ora-on non sei o que ten+6D
+anti$a de a'o"
Mulheres neste mundo de meu 7eusTenho visto muitas #randes, equenas,'uivas, "astanhas, bran"as e morenas+? amei$as, or mal dos e"ados meus\
Mas em arte al#uma vi, ai de mim,4enhuma que !osse bonita assim\
Andei or o 2aulo e elo Cear(/4o !alo em 2ernambu"o, onde nas"i0Bahia, Minas, Belm do 2ar(Y7e muito olhar de mulher ( so!ri\Mas em arte al#uma vi, ai de mim,4enhuma que !osse bonita assim\
Atravessei o mar e, no estran#eiro,?m 2aris, Basilia e nos :ris.es,
*u#ano, :%nova or derradeiro,i mulheres de todas as na-.es+Mas em arte al#uma vi, ai de mim,4enhuma que !osse bonita assim\
Mulher bonita no !alta, ai de mim\4enhuma, orm, to bonita assim\@
+ossante
;ndas da raia onde vos vi,
29Maleval, 66, + 6+30Maleval, 66, + 6D+
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;lhos verdes sem d= de mim,Ai AvatlQnti"a\
;ndas da raia onde morais,;lhos verdes interse>uais+Ai AvatlQnti"a\
;lhos verdes sem d= de mim,;lhos verdes, de ondas sem !im,Ai AvatlQnti"a\
;lhos verdes, de ondas sem d=,2or quem me romo, e>austo e s=,Ai AvatlQnti"a\
;lhos verdes, de ondas sem !im,2or quem urei de vos ossuir,
Ai AvatlQnti"a\;lhos verdes sem lei nem rei,2or quem uro vos esque"er,Ai AvatlQnti"a\@1
7e a"ordo "om Maleval, Bandeira, em seu oema 3Cantar de amor5&
aenas na !orma "onse#uiria esse obetivo 3!a)er um oema "em or "ento tre"entista5 muito embora o tenha !eito atravs de uma "anti#a de re+r"o, sem reduli"ar a "anti#ade maestriado rei$trovador evo"ada na ealta as
qualidades morais e a bele)a ini#ual(vel da sua 3senhor5 e tamou"o "hora a "oita
amorosa da !orma "omo !e) o eu l
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em que !oram rodu)idas essas "anti#as, e aresenta re!ro, "omo a maioria dessas
rodu-.es medievais e se bem verdade que no e>alta uma 3senhor5 ou "hora a
3"o9ta5 amorosa da maneira "omo !e) o eu l.es, amor+ ; eu listir5, "omo disse Maleval, mas, no nosso entendimento, devido ao !ato de o eu
lressar seus
sentimentos+
4o oema 3Canti#a de amor5, "omo bem notou Maleval, o eu l+ ?m"omum "om essa "anti#a, Maleval aonta no s= 3o motivo das ondas5, mas tambm 3a
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estrutura estr=!i"a aralel, "omo os 3olhos verdes5+ 4este ase"to,
o oema bandeiriano aro>ima$se mais das "anti#as de amor em que os 3olhos verdes5
de!la#ram a ai>o, o amor, no "ora-o do eu l
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