José, o coleciona-dor

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Fotodocumentário produzido para a disciplina de fotojornalismo pelos acadêmicos Caio Budel e Letícia Ferrari do 3º ano de Jornalismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

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JOSÉO COLECIONA-DOR

Fotodocumentário produzido pelos acadêmicos Caio Budel e Letícia Ferrari do 3º ano de Jornalismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) para disciplina de fotojornalismo.

Como dizia Aristóteles: “Quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus”. José dos Reis tem um pouco dos dois. O lado selvagem, compreende a

luta diária pela sobrevivência em meio aos perigos noturnos e, porque não diurnos; na caça ao alimento, à busca incessante por água e, sobretudo, pelo bem-estar de viver sozinho, sem nenhum parente, sem nenhum amigo, sem nenhum... alguém! Já a interface divina é afirmada por ele mesmo: “basta as pessoas acordarem para perceber. Eu sou Deus”. Soa estranho, gozado e maluco. Mas é quem que, quando

entregue à uma vida solitária, não perde um pouco da razão e encontra forças sobre-humanas para continuar vivendo?

E é em um morro, localizado às margens da BR 277, próximo ao acesso principal de Irati, em meio à natureza e bem pertinho do céu, que José dos Reis

vive. Há 14 anos ele foi abandonado pela família – por motivos que opta por não comentar. A única coisa que diz, com a boca, olhos e todo o corpo é falta que sente

dos seus quatro filhos. Para amenizar a dor, José preferiu juntar alguns objetos, uma tenda, fugir da civilização e viver em um mundo que é, literalmente, só seu.

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A casinha, ou melhor, tenda, está ali há quase dois anos. Quem passa pela BR 277 vê de longe o local que seu José escolheu como refugio: uma estrutura simples, construida a base de madeira e lona.

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O que os viajantes não imaginam é a vida que seu José leva embaixo de seu barraco. Além de muito entulho, existe também a dor do abandono.

“Estou esperando meus filhos voltarem e me tirarem daqui”.

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Em um espaço muito pequeno, José guarda apenas aquilo que lhe interessa. Por lá, não há lugar para mordomia, luxo ou tecnologia. Sequer um relógio ou rádio atraem a atenção dele.

Em baixo das lonas, existem apenas umas quatro ou cinco peças de roupas pinduradas em uma madeira adaptada de cabide, um colchão velho e utensílios como panelas.

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Do lado de fora da casa, em cima do fogão velho, está o alimento do dia: cascas de laranja que servem tanto para comer, como para fazer chá. Ao lado, as três garrafas que José usa para armazenar água, da chuva ou de uma vila que fica há 5 quilômetros dali.

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Para superar toda essa precariedade, José busca forças para se manter vivo, na fé. Além de acreditar que é o Deus dos católicos, ele nunca deixa de rezar. E não só pedindo por ele, como também por toda a humanidade.

“Rezo todos os dias para que o mundo fique melhor”.

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“Já me acostumei com essa vida. Estou há 14 anos na estrada sem minha mulher e meus filhos. Agora sou eu, Deus e meu barraco”.

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Mesmo com a vida simples, ele não deixa de lado os detalhes. Para deixar a “varanda” mais bonita, seu José produziu um enfeite com garrafa térmica e cd’s velhos.

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Aos 56 anos, o que ele gosta de fazer quando não está dentro da cabana é admirar aquilo que o envolve: a natureza e a sua beleza.

“Eu só me incomodo com esses carros passando toda hora, queria só ouvir os passarinhos”.

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Mas, em um local onde qualquer um pode chegar, seu José não confia sua defesa apenas à proteção divina. Com um facão colado na cintura, está preparado para alguma possível ameaça que se aproxime da sua casa.

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“Esse é um canto só meu. Não gosto de ser incomodado”.

Como se não bastasse o facão, ainda guarda, bem na entrada, uma foice que intimida qualquer um.

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Com uma rotina construida na solidão, após o tumulto das fotos e da conversa, é hora do seu José retornar ao seu

aconchego, seu refúgio, seu lar.

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