IRACEMA LENDA DO CEARÁ JOSÉ DE ALENCAR “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a...

Post on 22-Apr-2015

122 views 12 download

Transcript of IRACEMA LENDA DO CEARÁ JOSÉ DE ALENCAR “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a...

IRACEMALENDA DO CEARÁ

JOSÉ DE ALENCAR

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia

nas frondes da carnaúba; ...”[Ceará = canto de jandaia]

IRACEMA = LENDA DO CEARÁ

Pelo subtítulo (Lenda do Ceará), JOSÉ DE ALENCAR parece ter por objetivo contar a origem lendária do Ceará, buscando elementos históricos para que sirvam de base às ações por ele desenvolvidas na obra.

Diz o autor: “Iracema pertence a essa literatura primitiva, cheia de santidade e enlevo, para aqueles que... não enxergam apenas o chão onde pisam.”

ESTRUTURA NARRATIVA

NARRADOR = onisciente ( o que tudo sabe) = (observador) = 3ª Pessoa = A NARRATIVA:

ORA = possui o distanciamento e a objetividade necessárias para contar uma história sobre o passado heróico.

ORA = sofre a intromissão do autor que parece dar uma dimensão de lenda (uma história ouvida e passada por meio da tradição oral) ao relato: “Uma história que me contaram...” = Passou entre diversas gerações até chegar ao narrador que conta essa história.

ESTRUTURA NARRATIVA

PADRÃO ÉPICO = (narrativas épicas = “Os Lusíadas” + “A Ilíada” + “A Odisséia”, etc.) = Inicia quase pelo seu final = (in media res = no meio da coisa)

1º Capítulo = (poderia ser colocado entre o penúltimo e último) = um moço guerreiro + criança + cachorro partem sobre “frágil lenho” para a Europa. QUEM SÃO? QUAL A SUA HISTÓRIA?

DO Capítulo 2º ao 33º = narrativa linear sobre a história de amor entre Martim e Iracema.

LINGUAGEM

Iracema = “POEMA EM PROSA” Mistura dos padrões clássicos da língua de

CAMÕES com “tintas tropicais” = muitos vocábulos da língua indígena (tupi) + recursos líricos + rica adjetivação + sonoridade poética (muitas aliterações = repetição sonora):

“Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras”.

UMA HISTÓRIA DE AMOR

IRACEMA: História de amor & rejeição Conflito entre: O dever e a paixão. A paixão avassaladora da donzela núbil

(em idade de casar) que se entrega de corpo e alma ao seu amado e o dever (a guerra, o clã, a viagem) que a este é imposto.

O INDIANISMO EM IRACEMA

Séc. XIX = Romantismo = Brasil independente = Projeto nacionalista dos autores românticos = Construir uma identidade cultural brasileira:

iluminar o berço da nacionalidade. Necessidade burguesa de forjar uma nobre

estirpe, um tronco ancestral em cujas veias corresse o impoluto ainda que bárbaro sangue da honra e da dignidade.

O INDIANISMO EM IRACEMA

RESULTADO: Passado mítico forjado segundo as

necessidades do presente e marcados pelo sinete indelével do bom selvagem afanado às pressas de Rousseau, Chateaubriand (Atala) e Fenimore Cooper (O último dos moicanos), salvo as diferenças de ponto de vista.

O INDIANISMO EM IRACEMA

ÍNDIOS = heróis da nascente nacionalidade pós-colonial. Por intermédio desses guerreiros audaciosos (Poti, Caubi, Andira, etc.) e dessa mulher disposta a qualquer sacrifício (Iracema), os leitores do século XIX podiam se orgulhar de suas supostas origens americanas e de sua ancestral nobreza.

O INDIANISMO EM IRACEMA

A poetização (idealização) da vida aborígene X silêncio absoluto sobre o papel do negro na formação social brasileira =

Da mesma forma que a Independência não incluiu a abolição da escravatura em seu processo, os artistas da 1ª geração romântica ignoraram o problema dos negros. Assim, a temática indianista desempenhou o papel de compensação às misérias do presente histórico desses escritores.

O INDIANISMO EM IRACEMA

O ÍNDIO = Aquele que “entrou em íntima comunhão com o colonizador”. Essa conciliação “violava abertamente a história da ocupação portuguesa”, feita de violência e destruição dos primitivos habitantes. Por isso, “a exaltação dos índios ocorre somente quando os mesmos perdem a sua identidade e os seus valores, integrando-se (de forma submissa) à cultura dos conquistadores brancos.”

O INDIANISMO EM IRACEMA

SIMBOLOGIA = (IRACEMA + POTI) = IRACEMA = Anagrama = AMÉRICA = Processo de substituição de culturas = nativa

pela européia. AMÉRICA = dominada pela civilização

branca (pelo colonizador): IRACENA = entrega a vida POTI = entrega a identidade

“Tupy or not tupy, that is the question.” Oswald de Andrade

O que representa o índio na literatura brasileira? Séculos XVI e XVII = perspectiva dupla = elemento

exótico a ser conquistado X elemento a ser “salvo” via catequese.

Séc. XVIII = Arcadismo = sentido ideológico = mito do “bom selvagem” (Rousseau).

Séc. XIX = Romantismo = personificação da pátria que alcançara a independência política em 1822 + Herói (idealizado) da nacionalidade.

Séc. XX = Modernismo (Oswald de Andrade & Mário de Andrade) = a busca da síntese brasileira = nacionalismo crítico.

PERSONAGENS

IRACEMA = “lábios de mel” = Heroína da história, filha do pajé (feiticeiro = líder espiritual) da tribo dos tabajaras. Possui o status de sacerdotisa (e de virgem vestal, aquela que deve manter-se pura e casta para poder administrar os segredos dos deuses). Guardiã do segredo de Jurema. É bela, ingênua e pura, corajosa e leal até a morte. Ideal masculino da mulher que se submete, se resigna e se anula em função da missão superior do homem.

PERSONAGENS

MARTIM = Herói-protagonista. Seu nome é diminutivo de Marte (Deus romano da guerra), significando filho de guerreiro. É uma personagem histórica, um dos colonizadores do Ceará. É a síntese de todos os valores heróicos medievais de bravura, fidalguia, sinceridade, fidelidade, etc. Aceita o fardo de sua missão civilizatória.

PERSONAGENS

ARAQUÉM = Pajé da tribo tabajara = Líder espiritual = homem respeitável que controla as forças da natureza = Pai de Iracema.

ANDIRA = irmão de Araquém. Velho guerreiro da tribo, também muito respeitado pelos jovens tabajaras.

PERSONAGENS

IRAPUÃ = “Mel Redondo” = Também personagem histórico = Antagonista da narrativa = representa o esforço para preservar as tradições indígenas, em oposição à cultura que se formava, de dominação européia. Nutre uma paixão não correspondida por Iracema, o que intensificará o seu ódio por Martim e seus aliados.

PERSONAGENS

POTI = (nome de batismo) = Antônio Felipe Camarão = Também personagem histórico. Grande amigo de Martim (irmão em armas) = Guerreiro pitiguara (irmão do chefe) = Reúne características de um cavaleiro medieval, dotado de valentia, prudência, audácia, esperteza, etc.

PERSONAGENS

CAUBI = Irmão de Iracema, bom caçador e muito corajoso. Ajuda Martim em sua fuga.

JACAÚNA = Chefe dos índios do litoral = aliados dos portugueses (os pitiguaras). Irmão de Poti.

PERSONAGENS

MOACIR = “filho da dor” (Filho de Iracema & Martim ) = Sofrimento do trabalho de parto de Iracema + Situação de solidão que ela enfrenta por seu marido ter ido para a guerra =

Simboliza = o sofrimento necessário para se forjar um nação a partir de culturas tão distintas.

PERSONAGENS

BATUIRETÉ = (Avô de Poti) Aparece em uma única cena (Cap. XXII) com a função de anunciar (numa espécie de profecia) o fim das nações indígenas causado pelos brancos (gavião), com a frase: “Tupã quis que estes olhos vissem antes de se apagarem, o gavião branco junto da narceja”. Depois disso morre.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

GONZAGA, Sergius (Roger Rouffiax e Fernando Brum). Leituras Obrigatórias: Vestibular UFRGS 2007/2008. 1ª ed. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.

DACANAL, José Hildebrando. Romances Brasileiros I: contexto, enredo e comentário crítico. 1ª ed. Porto Alegre: Leitura XXI, 2000.

ALENCAR, José de. Iracema. 1ª ed. São Paulo: Editora Scipione, 1994.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Ed. 33ª. São Paulo: Editora Cultrix, 1994.

CANDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. Ed. 8ª. Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 1997.