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SBPC: 50 ANOS NOVOS ESTUDOS EM DEFESA SOBRE DIARRÉIA DA CIÊNCIA BACTERIANA
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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
COMO VOTA O ELEITOR
BRASILEIRO Pág.14
CIÊNCIA E INDÚSTRIA, UMA PARCERIA POSSÍVEL A FAPESP apresentou, em seminário realizado no Salão Nobre da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), e para uma platéia de pesquisadores e empresários, o funcionamento e os resultados dos seus dois
programas de inovação tecnológica, selando, em definitivo, um modelo de desenvolvimento unindo instituições acadêmicas e o setor empresarial.
As chances de reeleição A tipologia do eleitorado brasi
leiro começou a ser levantada em 1990, quando foi realizada uma pesquisa nacional com base nas eleições presidenciais de 1989. A intenção era conhecer a motivação estratégica do voto. O trabalho continuou em 1994, quando ocorreram eleições nacionais e estaduais e buscou-se conhecer o perfil do eleitor do Estado de São Paulo. Nesta fase , a finalidade era confirmar a primeira hipótese e ainda observar se em uma eleição mais complexa haveria continuidade de coerência.
A resposta foi positiva. O comportamento do eleitorado levou à seguinte conclusão: as pessoas tendem a votar nos mesmos partidos ou em partidos com a mesma tendência ideológica ao longo do tempo. Em 1996, quando houve eleições municipais, o alvo foi o eleitor da Capital. E mais uma vez a estabilidade da escolha eleitoral se confirmou.
Todas as conclusões levam a crer que o presidente Fernando Henrique Cardoso tem boas chances de reeleição. "Para Lula ganhar, ele precisa passar uma imagem confiável de alguém capaz de promover uma reforma moderada na sociedade, que promova melhoras sem colocar em risco a estabilidade" comenta o professor Guilhon.
O método utilizado nesse trabalho foi a pesquisa de amostragem probabilística, em que as amostras basearam-se em como as pessoas tinham votado anteriormente. Os pesquisadores elaboraram um questionário em que indagavam sobre filiação partidária, preferência partidária, inclinação ideológica, atitudes e opiniões políticas e orientação do voto. Primeira surpresa: as pessoas sabiam distinguir ideologicamente o seu partido e votavam de acordo com sua orientação. Ponto para o eleitor.
Além do professor Guilhon, fazem parte do Grupo de Pesquisas Eleitorais os professores Elizabeth Balbachevsky e André Singer, do Departamento de Ciência Política, Carlos Alberto Bragança Pereira e Sérgio Weschler, do Instituto de Matemática e Estatística, além dos assistentes de pesquisa Amâncio Jorge de Oliveira, doutorando em Ciência Política, e Denilde Silva de Oliveira, mestranda. Em 1994, participaram o professor Fernando Limongi, de Ciência Política, e a assistente de pesquisa Lourdes Inoue, mestranda em Estatística.
Tabela 1
1990- VOTO NO SEGUNDO TURNO POR RAZÃO DE VOTO NO CANDIDATO
BENEFÍCIO OPOSIÇÃO IDENTIFICAÇÃO TOTAL LULA 19,7% 43,2% 48,4% 649
38,2% COLLOR 80,3% 56,8% 51,6% 1.048
61,8% TOTAL 544 308 844 1.697
32,1% 18,2% 49,8% 100,0% A orientação ou estratégia do voto foi decisiva para explicara preferência por Collor no segundo turno, bem como o desempenho inferior
de Lula. Como mostra o quadro, os elertores que votaram por identificação e por oposição se dividiram entre os dois candidatos, com
vantagem reduzida para Collor. Entre os que votaram por benefício, a vrtóna de Collor foi avassaladora, na proporção de SOo/, a 20%.
Como vota o paulistano Na pesquisa de 1996, desta vez sobre a
Tipologia do Eleitorado Paulistano, a grande revelação ficou por conta do voto eletrônico, que provou ser um instrumento eficaz de democratização do pleito, reduzindo praticamente a zero o número de pessoas que votavam em branco ou anulavam o voto porque não entendiam o sistema de votação.
O eleitor gostou da novidade e 91 ,6% dos entrevistados responderam que o voto eleIrânico facilitou o ato de votar. Diante dos dados, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o voto eletrônico melhorou o processo eleitoral, deixando claro que o ato de não votar foi realmente uma decisão do eleitor e não o resultado de um erro.
Nos demais quesitos, a pesquisa não apresentou surpresas. Os dados indicaram estabilidade de ponta a ponta: na escolha eleitoral, nos fatores que determinam o voto, nas inclinações ideológicas e identidade partidária. A eleição do prefeito Celso Pitta é um exemplo claro deste quadro.
Na avaliação dos pesquisadores, Pitta manteve-se na frente porque conseguiu representar estabilidade e realizações para um público que tende a preferir cada vez mais estes valores: o público conservador. Com isso, o candidato conseguiu conquistar todo o voto
conservador e a maioria do centrista. A estabilidade da escolha eleitoral pode
ser confirmada a partir das seguintes constatações da pesquisa, que foi realizada após os resultados do primeiro tu mo: dentre os eleitores que votaram em algum candidato no primeiro turno, 95% pretendiam votar no segundo turno. Destes, 58,2% disseram que votariam em Pitta e 28,8%, em Erundina. Outro indicador foi a fidelidade demonstrada aos candidatos escolhidos em 3 de outubro. Dos que optaram por Pitta, 95% continuariam votando nele, enquanto 93% disseram manter seu voto em Erundina.
A identidade partidária também se mostrou estável em seu efeitos sobre a eleição. Os partidos conservadores votaram maciçamente em Pitta, numa proporção entre 80% e 90%. Enquanto isso, a candidata petista continuou a ter como base essencialmente o próprio PT (79,5%).
A partir do quadro esboçado em 96, segundo o professor José Augusto Guilhon, é possível prever o que vai acontecer este ano. Na sua opinião, não é tanto o desgaste de Paulo Maluf que vai influenciar os resultados: • A mesma tendência que beneficiou Pitta, de não arriscar mudanças radicais, pode beneficiar o governador Mário Covas".
Tabela2
FHC
OUTROS
LULA
TOTAL
1994- VOTO PARA PRESIDENTE POR RAZÃO DE VOTO
RAZÃO DO VOTO IDENTIFICAÇÃO OPOSIÇÃO BENEFÍCIO
53,1% 68,0% 71,3%
14,3% 11,3% 9,5%
32,6% 20,7% 19,2%
350 646 1.103 16,7% 30,8% 52,5%
TOTAL 1.411 67,2% 228 10,9% 460 21,9% 2.099 100,0%
O que diferenciou os eleitores de Fernando Hennque Cardoso dos demais, no quadro acima, foi a escolha por expectativa
de benefício, enquanto a preferência por Lula esteve nitidamente associada à identificação do eleitor com o candidato.
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LIVRO
A habitação como questão social
O padrão da periferia de São Paulo, a partir dos anos 40, com loteamentos caóticos e favelas, e o processo que levou a moradia a se tomar uma questão social a ser enfrentada pelo governo contam agora com uma análise abrangente e meticulosa no livro Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura Moderna, Lei do Inquilinato e Difusão da Casa Própria (1998, Editora EstaçãoLiberdade/ FAPESP), de Nabil Bonduki.
Nessa edição em livro de sua tese de doutorado, Bonduki mostra como a moradia da classe trabalhadora foi motivo de intervenção direta do Estadonumperíodoemquetambémemergiu a autoconstrução da casa própria pelos trabalhadores, que foram sedeslocando para os inúmeros loteamentos que começaram a surgir na periferia nos anos 40.
O Estado Novo interferiu de duas formas principais: a adoção de uma Lei do Inquilinato, que congelou os aluguéis em 1942 e desestimulou a produção de imóveis para locação (em 1920, apenas 19,1% dos imóveis paulistanos eram de propriedade de seus moradores; em 1940, esse percentual ainda era de apenas 25%) e o estabelecimento de iniciativas de construção e fmanciamento através dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs).
ALei do Inquilinato tomou-seuma medida planificadora que visava, de um lado, "reduzir o custo de reprodução da força de trabalho urbana, ampliando a taxa de acumulação da empresa industrial e, de outro, transferir para o setor industrial, estatal ou privado, investimentos que normalmente se inclinariam para o mercado de locação".
Professor de História daArquitetura e Urbanismo na Escola de Engenharia de São Carlos da USP e ex-superintendente de Habitação Popular da prefeitura de São Paulo (1986-92), Bonduki não vê o congelamento de alu-
guéiseaconstruçãodosconjuntoscomo uma tentativa de implantação de uma política habitacional, porém, identifica nos dois fatos um ponto em comum: "O reconhecimento de que a provisão habitacional era uma responsabilidade do Estadoequeex.igiasuaintervençãopara ser equacionada de forma adequada. Enfim, era uma questão social".
Apesar de tratar de aspectos de caráternacional, o objetivo empírico do estudo é a cidade de São Paulo, onde aconteceram situações peculiares que não podem ser generalizadas. Um exemplo é a complementação urbana dos loteamentos de periferia, que Bonduki considera um aspecto da incorporação da habitação como uma questão social no âmbito de "um clima político próprio do populismo paulistano".
Essas questões e outras, como o • crescimento demográfico, a imigração, a proliferação de cortiços, a industrialização, as vilas operárias, as primeiras favelas e os problemas sanitários, são abordadas de forma multidisciplinar, com enfoques políticos, econômicos, sociológicos, urbanísticos, arquitetônicos e de história social. A obra conta com vasto material iconográfico - fotografias, plantas e outras ilustraçõessobre a maioria dos temas.
Um dos destaques do trabalho é o resgate da arquitetura e do urbanismo dos primeiros conjuntos habitacionais. Fica evidente como a transformação da habitação numa questão social foi acompanhada pela adoção de propostas do movimento moderno de arquite-
SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
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tura e urbanismo e da produção em série, com padronização e pré-fabricação, para atender à grande demanda.
Essa parte da pesquisa é importante para uma revisão da historiografia da arquitetura modema brasileira, "que tem omitido sistematicamente a massiva produção habitacional dos anos 40, realizada pelos IAPs e apresentada pela primeira vez, de modo sistemático, neste livro".
O capítulo dedicado à produção dos IAPs é rico em informações sobre as influências da arquitetera modema (Le Corbusier, sobretudo) e dos ideais social-democrata europeus do período entre guerras nas concepções dos arquitetos e engenheiros responsáveis pelos projetos de conjuntos habitacionais como os de Pedregulho, Gávea e Realengo, no Rio de Janeiro, e o da Baixada do Carmo, em São Paulo, ou ainda do Edifício Japurá- que substituiu o grande cortiço Navio Parado, na baixada do Bexiga, também em São Paulo.
O livro destaca a atuação dos pioneiros desse período, entre eles a engenheira Carmen Portinho e os arquitetos Carlos Frederico Ferreira, Eduardo Reidy,Attílio Corrêa Lima e Eduardo Kneese de Melo.
As características básicas dos conjuntos eram a integração com a paisagem, construção sobre pilotis- permitindo um espaço de integração social no térreo-, áreas de serviço comuns- geralmente no último piso-e complementos como escolas e áreas esportivas. Em sua construção, era enfatizada a redução de custos, racionalidade do projeto e a utilização de novos materiais e elementos pré-fabricados.
A despeito da forte preocupação com a redução de custos, a qualidade e a durabilidade da construção eram requisitos essenciais, ainda mais porque os conjuntos constituíam patrimônio dos IAPs, que alugavam os imóveis aos associados. As unidades habitacionais só foram vendidas em 1964, ano em que foi criado o Banco Nacional de Habitação (BNH) e a produção da moradias populares tomou outros rumos.
GOVERNO DO ESTADO DESAOPAULO