Post on 19-Jul-2015
O Design de Informação na Produção de Material para a Inclusão Social Manuela Coitinho1
Sassaki (apud SILVA; PINTO; 2010) define “inclusão social” como o
processo pelo qual a sociedade e a pessoa com deficiência procuram se adaptar
visando a equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma “sociedade
para todos”.
A importância do design como acelerador do desenvolvimento social é um
assunto discutido com afinco a cada dia, uma vez que novos produtos são lançados
a partir da busca de novas tecnologias e conceitos oriundos dos estudos de design
da informação e da semiótica2.
O presente artigo tratará a inclusão social e o papel do design a fim de
colaborar com a reflexão de que esta ciência volta-se para as necessidades de
todos não focando apenas a população mais abastada. Ao contrário do que muitos
leigos pensam o Design não visa apenas finalidades estéticas, ao contrário,
envolve-se igualmente na inserção das minorias, como é o caso das pessoas com
deficiência.
O design colaborando com a Inclusão Social
A inclusão de PNEs3 é um assunto muito discutido, inclusive
academicamente.
Muitas são as formas de inclusão estudadas hoje, principalmente quando
se refere aos deficientes visuais. Muitos são os modelos criados em sistemas
diferentes que usam as tecnologias mais avançadas, como é o caso da pesquisa por
voz utilizada pelo Google, o projeto Voim4, ou ainda mais antigo – a empresa Natura
1 Acadêmica do Bacharelado em Design do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense - Campus Pelotas; e-mail: coitinho.m@gmail.com. 2 Ciência que investiga as linguagens; tem como objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido. 3 Portadores de necessidades especiais são pessoas que necessitam de uma atenção maior por qualquer limitação ou condição física e/ou psicológica que traga dificuldade em alguma atividade comum a maior parte da população. Para o governo, em linhas gerais, no artigo 3º do Decreto 3298 de dezembro de 1999, um portador de necessidade especial é qualquer ser humano que tenha a incapacidade para o desenvolvimento de atividades dentro do padrão considerado normal para ele, sendo ela permanente por não permitir recuperação ou alteração apesar do aparecimento de novos tratamentos, por já ter ocorrido a sua consolidação. 4 Projeto dos designers Youngseong Yeom Kim e Eunsol; significa ‘ver’ em coreano. É um novo conceito de smartphone para cegos que inclui reconhecimento de palavras e identificação de objetos exibidos em braille em uma tela de silicone ou transmitidos como sinais de áudio através do fone de ouvido bluetooth destacável.
do Brasil, que faz uso de códigos em Braille em todas as suas embalagens. Aqui,
como podemos ver, há uma atualização nas formas de inclusão social bem como
uma grande busca específica no desenvolvimento de novos produtos. Ainda entre as
diferentes áreas do design que tratam de inclusão, podemos citar o Ecodesign5 que
não somente trata das questões ambientais, como produzir novos produtos com
elementos naturais e recicláveis, mas principalmente da educação ambiental entre
os grupos de risco social, como os catadores de resíduos recicláveis, em função do
artesanato, principalmente.
Semiótica aliada a Inclusão
Mager (2010) considera que, na base da comunicação, as informações
são construídas em função dos componentes integrantes do processo comunicativo.
Desse modo, o designer alicerça seus projetos no impacto que irá causar nos
usuários e na qualidade de sua interação. Para que o impacto e a interação gerem
efeitos significativos, devem ser considerados diversos pontos, dentre eles o estudo
da semiótica, que possibilita o desenvolvimento ou construção de simbolismos
eficientes e coesos. Reafirmando essa ideia, Queiroz (2010) afirma que as
consequências mais incisivas da construção desses simbolismos dependem da
manipulação de signos específicos que são capazes de prover soluções para
problemas também específicos, como no caso dos PNEs.
Ao sintetizar o pensamento de Charles Piece baseado em seu livro The
Collected Papers of Charles S. Peirce: Elements of Logic (1932) Queiroz (2010)
destaca que uma importante propriedade do símbolo é a representação das coisas
que não precisam, necessariamente, existir. Desta forma a relação entre signo e
objeto torna-se dependente de um terceiro termo, o interpretante (usuário): “o
símbolo está conectado com o objeto em virtude da ideia de uma mente que usa o
símbolo, sem a qual tal conexão não existiria” (QUEIROZ, 2010). Sendo assim,
[...] através da aquisição gradual de um sistema simbólico, o homem descobre uma maneira de adaptação ao meio, transformando toda a vida humana. Esta capacidade de abstração, responsável pela formalização de todo um universo simbólico, representa uma capacidade exclusiva do
5 É todo o processo que contempla os aspectos ambientais onde o objetivo principal é projetar ambientes, desenvolver produtos e executar serviços que de alguma maneira irão reduzir o uso dos recursos não-renováveis ou ainda minimizar o impacto ambiental dos mesmos durante seu ciclo de vida. Isto significa reduzir a geração de resíduo e economizar custos de disposição final.
homem, diferente em espécie de qualquer outro organismo. (CORREIA, 2009)
Design Informacional aplicado a uma realidade
A título de exemplificação, neste artigo, será apontado um produto de
design de informação, o ColorAdd® do designer português Miguel Neiva6, que aos
poucos está se destacando pela inovação em produtos já existentes para a inclusão
de daltônicos no convívio social. A partir desta informação poderemos inferir que é
aliado, neste momento, o design de informação ao design de produto, minimizando
as dificuldades impostas pela deficiência visual (IZIDORO; ALENCAR; MENEZES;
2006). Neiva (2010) destaca que o ColorAdd® é
[...] um código monocromático, sustentado em conceitos universais de interpretação e desdobramento de cores, que permite finalmente aos daltônicos a correta identificação das cores. Este código visa oferecer aos daltônicos independência aquisitiva, uma mais fácil integração social em situações em que a opção e escolha da cor é relevante e a minimização do sentimento de perda gerada pela deficiência, com o consequente aumento de bem-estar e autoconfiança. (NEIVA, 2010)
Segundo o site Revista De2ign, o ColorAdd®, obviamente, não é a
solução para o daltonismo mas configura-se em uma alternativa, mesmo que
temporária, para cerca de 10% dos homens do planeta que sofrem com este
problema. Neiva (2010) estudou o problema por mais de 8 anos até desenvolver
este sistema de códigos, que consiste em combinar cinco símbolos (um para cada
cor primária – azul, verde e vermelho –, e para as cores branca e preta) para
identificar a maior parte das cores utilizadas no dia-a-dia, em produtos, nas ruas,
dentre outros.
Nas figuras 1 e 2 apresentamos o diagrama desenvolvido pelo designer,
em uma associação de círculos e em formato tabela que possibilita aos daltônicos a
discriminação de cores primárias e secundárias de acordo com a simbologia
adotada para cada informação.
6 Licenciado em Design de Comunicação Visual pala ESAD de Matosinhos (1983); membro efetivo da direção da Associação Portuguesa de Designers; Mestre em Design e Marketing pela Universidade do Minho; professor na área do design gráfico, componente design de moda e design têxtil (1997 até hoje).
Figura 1: Miguel Neiva, Cores primárias e secundárias indicadas pelo ColorAdd®, 2010.
Fonte: http://www.coloradd.net
Figura 2: Miguel Neiva, Cores primárias e secundárias indicadas pelo ColorAdd®, 2010.
Fonte: http://www.coloradd.net
A Revista De2ign informa ainda que o projeto já foi implantado em uma
marca de lápis de cor portuguesa, como destacado na figura 3.
Figura 3: Viarco Portugal, Lápis de cor com o sistema ColorAdd®, 2010.
Fonte: http://www.coloradd.net/index.asp
Esta metodologia está em estudo para ser adaptado ao metrô da cidade
do Porto – Portugal (figura 4), que será o primeiro metrô adaptado para daltônicos
no mundo.
Figura 4: Metrô em Portugal, Proposta de adaptação do sistema ColorAdd® em Porto, 2010. Fonte:
http://www.coloradd.net
Há, inclusive, um adendo a um projeto de lei no Brasil para tentar incluí-lo
nos sinais de trânsito, como apontamos na figura 5.
Figura 5: Semáforo no Brasil, Proposta de adaptação do sistema ColorAdd® em semáforos no Brasil, 2011. Fonte:
http://caras.uol.com.br
Considerações finais
A inclusão social é um assunto em evidência e que se destaca ainda mais
por conta da mídia. A inserção de um PNE, independente do modo, se deve a partir
de projetos mecânicos e visuais onde são necessários estudos físicos e psicológicos
anteriores a execução de um projeto.
O profissional de design, aliado à tecnologia, deve tomar conhecimento
de todos os pontos relevantes à questão e estudar a melhor maneira de intervir na
relação homem x mundo existente naquele instante, em tal ponto específico.
Com isso, surgem novas propostas e produtos capazes de prover a
inserção de indivíduos com alguma necessidade diferenciada, de maneira com que
ele não se sinta “excluído” por si próprio através da redução do impacto que esta
deficiência gera na sociedade.
Referências
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MANSO, Maria Elisa G. Os portadores de necessidades especiais e o novo Código Civil. Revista Jus Navigandi. In: Portal R7 , 2003. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4314/os-portadores-de-necessidades-especiais-e-o-novo-codigo-civil>. Acesso em: 10 mai. 2013, 00:13.
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