Post on 10-Nov-2018
Conservar a biodiversidade do planeta e demons-
trar que as sociedades humanas podem viver em
harmonia com a natureza é a missão da
Conservation International. Para enfrentar esse
grande desafio, a Conservation International
adotou a estratégia dos Hotspots e amplia esse
conceito que destaca as 25 regiões mais ricas e
ameaçadas do mundo. Ao lançar uma campanha
mundial para proteger esses Hotspots, estamos
contribuindo para salvar mais de 60% de toda a
diversidade da vida da Terra.
PRESERVANDO AS RIQUEZAS
MAIS AMEAÇADAS DA TERRA
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Destruição da camada de ozônio, chuva ácida, erosão,poluição do ar, do solo e da água… Estes problemas,combinados com a pressão do crescimento popula-cional nos países em desenvolvimento e o consumodesenfreado nos países desenvolvidos, apresentamum cenário sombrio que ameaça atualmente a vida noplaneta. No entanto, por mais sérios que sejam, nãose comparam ao efeito amplo e devastador que a des-truição em grande escala da biodiversidade tem sobreo meio ambiente.
A destruição da biodiversidade – ou seja, a perda dasespécies existentes na Terra – não só causa o colapsodos ecossistemas e seus processos ecológicos, como éirreversível. Nem a mais alta tecnologia, nem asdescobertas biotecnológicas, nem as imagens com-putadorizadas ou a realidade virtual podem compen-sar o prejuízo inigualável da extinção das espécies;certamente nada pode recuperar o que foi formado deforma tão singular, ao longo de bilhões de anos, nahistória evolutiva de nosso planeta.
A importância da conservação da biodiversidadealcançou destaque mundial durante a ECO-92, a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambientee Desenvolvimento. Desde então, foram consolidadosfundos mundiais voltados especificamente para aconservação e cresceram os investimentos de agên-cias multi-laterais e bilaterais de fomento, assimcomo os de fundações privadas ligadas ao meio ambi-ente. Vale notar que o interesse e a consciência sobrea importância da biodiversidade também têm aumen-tado significativamente entre o setor privado, com umnúmero crescente de empresas que apóiam projetosde conservação em todo o mundo.
Apesar desses avanços, ainda há muito a ser feito, jáque grande parte dos recursos humanos e financeirosdestinados à área não são utilizados de maneira efi-caz. Dessa forma, os grandes desafios são estabelecerprioridades claras para ações de conservação e sabercomo investir os escassos recursos humanos e finan-ceiros de maneira eficiente.
Em resposta a essas necessidades, a ConservationInternational segue uma estratégia que concentra seusesforços e investimentos em áreas prioritáriase e temcomo diretriz o conceito dos Hotspots.
H O T S P O T S
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Diversidade e Endemismos do Cerrado
EspéciesEndêmicas
4.40019292445
Total deEspécies
10.000161837120150
PlantasMamíferos
AvesRépteisAnfíbios
A grande surpresa da nova lista de Hotspots foi ainclusão do Cerrado. É a segunda maior ecoregião doBrasil, cobrindo 20% do território. Com uma floraconsiderada entre as mais ricas das savanas tropicais,o Cerrado possui alto grau de endemismo. De suas10.000 espécies de plantas, 44% são endêmicas,incluindo quase todas as gramíneas. A diversidade deespécies de vertebrados também é consideravelmentealta, estando em quarto lugar no mundo em va-riedade de aves.
Preservado durante a colonização do país, o Cerradopassou a sofrer maior ameaça a partir da década de50 com a construção de Brasília. Nas décadas de 70 e80, inúmeros financiamentos foram destinados para
transformar a região num centro de agricultura. Ogrande crescimento destas atividades econômicas jáfizeram com que 67% das áreas de Cerrado sejamconsideradas como "altamente modificadas". Apenas20% encontram-se em seu estado original.
Apesar de sua extensão e de sua importância para aconservação da biodiversidade, infelizmente oCerrado é fracamente representado em áreas protegi-das. Apenas 3% de sua extensão original estão pro-tegidos em parques e reservas federais e estaduais.Para agravar a situação, a maioria das áreas protegi-das do Cerrado tem tamanho reduzido, inferior a100.000 hectares, o que coloca em evidência o graude fragmentação do ecossistema.
C E R R A D O
Muitas espécies-bandeira do Cerra-
do, como o lobo guará, o tatu canastra e a ema, só sãovistas regularmente dentro de parques e reservas. Outrosímbolo da região, o tamanduá-bandeira pode medir até1,90 m do nariz até a ponta do grande rabo, o qual temforma de bandeira. Esse animal singular é encontradoem áreas protegidas do Cerrado e também no Pantanal.
O Parque Nacional das Emas é uma das áreas maisimportantes para a proteção da biodiversidade doCerrado. A Conservation International, juntamente coma Fundação Emas, vem desenvolvendo um programapara proteger esse parque e implementar um grandecorredor ecológico que se estende até o Pantanal.
ESPÉCIES-BANDEIRA
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A Mata Atlântica está entre os cinco primeiros colo-cados na lista dos Hotspots. O total de mamíferos,aves, répteis e anfíbios que ali ocorrem alcança 1361espécies, sendo que 567 são endêmicas, representan-do 2% de todas as espécies do planeta, somente paraesses grupos de vertebrados. A Mata Atlântica, quepossui 20.000 espécies de plantas - das quais 8.000são endêmicas - é o segundo maior bloco de florestatropical do país. Inclui diversos tipos de ecossis-temas tropicais como as faixas litorâneas doAtlântico, as florestas de baixada e de encosta daSerra do Mar, as florestas interioranas e as matas deAraucária.
Originalmente, a Mata Atlântica ocupava 1.290.000km2 do território brasileiro. Os impactos de dife-rentes ciclos de exploração e a concentração dasmaiores cidades e núcleos industriais fizeram com
que a vegetação natural fosse reduzida drasticamente.A devastação foi maior nas áreas planas da regiãocosteira e na estreita faixa litorânea do Nordeste,onde resta menos de 1% da floresta original.
Diante desse quadro de destruição, a ConservationInternational do Brasil e a Fundação SOS MataAtlântica decidiram unir esforços para atender asnecessidades de conservação desse Hotspot. Em1999, foi estabelecida uma nova estratégia entreessas duas organizações, a "Aliança para aConservação da Mata Atlântica". Com a proposta do"Desmatamento Zero" (Rede de ONGs da MataAtlântica) e da "Perda de Espécies Zero", essa ini-ciativa busca amplificar a eficiência das duas orga-nizações e servir como um modelo para os Hotspots aoredor do mundo.
M A T A A T L Â N T I C A
A Mata Atlânticatem várias "espé-
cies-bandeira", que simbolizam a região e são uti-lizadas em campanhas de conscientização para a pro-teção desse ecossistema. Dentre elas, algumas espé-cies de primatas endêmicos, como os mico-leões(gênero Leontopithecus) e as duas espécies demuriquis (gênero Brachyteles), têm ajudado a popu-larizar essa floresta no Brasil e no mundo. O muriqui,por exemplo, é o maior macaco das Américas e tam-bém o maior mamífero endêmico do Brasil. No passa-do, essa espécie foi a principal fonte de proteína dosexploradores da região costeira. Hoje, o muriqui estárestrito a alguns blocos remanescentes de florestasna Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo e
suas populações estão reduzidas a cerca de 2.000indivíduos.
Para proteger essas e tantas outras espécies, aConservation International do Brasil desenvolve pro-jetos de conservação em vários pontos do país. Umdos exemplos é o projeto realizado, juntamente com oInstituto de Estudos Sócio-Econômicos do Sul daBahia (IESB), na região da Reserva Biológica de Una(Bahia), o último refúgio do mico-leão-de-cara-doura-da. Outra iniciativa importante busca proteger umadas últimas populações do "muriqui do norte" naEstação Biológica de Caratinga, Minas Gerais, emparceria com a Fundação Biodiversitas
ESPÉCIES-BANDEIRAS
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Diversidade e Endemismos da Mata Atlântica
EspéciesEndêmicas
8.0007318160253
Total deEspécies
20.000261620200280
PlantasMamíferos
AvesRépteisAnfíbios
O conceito dos Hotspots, criado em 1988 pelo Dr.Norman Myers, estabeleceu 10 áreas críticas paraconservação em todo o mundo. Essa estratégia foiadotada pela Conservation International para esta-belecer prioridades em seus programas de conser-vação, assim como pela John D. & Catherine T.MacArthur Foundation. Em 1996, um novo estudoliderado pelo Dr. Russell A. Mittermeier, presidenteda Conservation International, aperfeiçoou a teoriainicial de Myers, identificando 17 Hotspots. Estudosrecentes, conduzidos com a contribuição de mais de100 especialistas, ampliaram e atualizaram essaabordagem. Após quatro anos de análises, o grupo decientistas estabeleceu os 25 Hotspots atuais.
A escolha desses pontos críticos leva em consideraçãoque a biodiversidade não está igualmente distribuídaao redor do planeta, sendo que cerca de 60% de todasas espécies de plantas e animais estão concentradasem apenas 1,4% da superfície terrestre. Essa abor-dagem prioriza as ações nas áreas mais ricas - como osAndes Tropicais, Madagascar, Indonésia, entre outros -protegendo espécies em extinção e mantendo o amploespectro de vida no planeta.
O critério mais importante na determinação dosHotspots é a existência de espécies endêmicas, isto é,que são restritas a um ecossistema específico e, portanto, sofrem maior risco de extinção. É o caso domico-leão-dourado, encontrado apenas no estado doRio de Janeiro e em mais nenhum outro lugar domundo. Outro critério importante é o grau de ameaçaao ecossistema, sendo consideradas como Hotspots, asbioregiões onde 75% ou mais da vegetação originaltenha sido destruída. Muitas áreas mantém apenas 3 a8% do que existia inicialmente, como a Mata Atlântica,que hoje guarda entre 7 a 8% de sua extensão original. Enquanto o conceito de Hotspots concentra-se em ecos-
sistemas fragmentados e devastados, dois outros con-ceitos, desenvolvidos pelo Dr. Russell A. Mittermeier,vêm complementar as diretrizes para a priorização deáreas para conservação. O segundo conceito é o deWilderness Areas, que identifica os grandes blocos deflorestas tropicais, praticamente intactos (ou seja, quepossuem mais de 75% de sua vegetação original) e combaixa densidade populacional (menos de 1 habitantepor km2). Nessas regiões, como é o caso de grande parteda Floresta Amazônica, encontram-se algumas popu-lações indígenas que têm conseguido manter sua iden-tidade cultural. O terceiro conceito leva em consideraçãoas fronteiras políticas e a riqueza biológica encontradadentro de cada nação. Os 17 países de Megadiver-sidade são aqueles com os mais altos índices de riquezanatural do mundo.
Em todas as três abordagens, o Brasil tem posição dedestaque. É o país campeão de Megadiversidade,tendo maior número de espécies do que qualqueroutra nação. Possui também o maior bloco de áreaverde do planeta, a Floresta Amazônica. Além disso,em território brasileiro podem ser encontrados doisHotspots importantes, a Mata Atlântica e o Cerrado.
Para a definição de estratégias nacionais para osHotspots brasileiros, a Conservation International doBrasil colaborou com o Projeto de Ações Prioritáriaspara a Conservação da Biodiversidade dos BiomasBrasileiros, do Ministério do Meio Ambiente. Centenasde especialistas e representantes de várias instituiçõestrabalharam em conjunto para a indicação das áreasmais críticas e importantes para conservação doCerrado em 1998, e da Mata Atlântica em 1999.
H O T S P O T S E W I L D E R N E S S A R E A S
07
Andes Tropicais
Chile Central
Choco-Darien /Equador Ocidental
Mata Atlântica
Cerrado
Florestas da Guiné /Africa Ocidental
ReP
Caribe
Mesoamérica
Província Florísticada Califórnia
Ilhas da Polinésia e Micronésia
Mediterrâneo
A S R E G I Õ E S M A I S R I C A S E
HOTSPOTSDiversidade de
Plantas Vasculares
Endemismo de Plantas
Vasculares
1 • Andes Tropicais2 • Sundaland (Indonésia)3 • Mediterrâneo4 • Madagascar e Ilhas do Oceano Índico5 • Mata Atlântica6 • Região da Indo-Birmânia7 • Caribe8 • Filipinas9 • Privíncia Florística do Cabo
10 • Mesoamérica11 • Cerrado12 • Sudoeste da Austrália13 • Montanhas do centro-sul da China14 • Ilhas da Polinésia e Micronésia15 • Nova Caledônia16 • Choco-Darien / Equador Ocidental17 • Florestas da Guiné / Africa Ocidental18 • Ghats Ocidentais (Índia) e Sri Lanka19 • Província Florística da Califórnia20 • Região do Karoo das Plantas Suculentas21 • Nova Zelândia22 • Chile Central23 • Cáucaso24 • Wallacea (Indonésia)25 • Montanhas do Arco Oriental
Total de EndemismoPorcentagem da Diversidade Global(300.000 plantas vasculares)
45.00026.00025.00012.00020.00013.50012.0007.6208.200
24.00010.0005.469
12.0006.5573.3329.0009.0004.7804.42648492.3003.4296.300
10.0004.000
20.00015.00013.0009.7048.0007.0007.0005.8325.6825.0004.4004.3313.5003.3342.5512.2502.2502.1802.1251.9401.8651.6051.6001.5001.500
133,49944.5
Província Florística do Cabo
Montanhas do Arco Oriental,Florestas da Tanzânia e Quênia
egião do Karoo daslantas Suculentas
Montanhas do centro-sul da China
Filipinas
Wallacea(Indonésia)
Madagascar e Ilhas doOceano Índico
Cáucaso
Sundaland(Indonésia)
Ghats Ocidentais (Índia) e Sri Lanka
Sudoeste da Austrália
Região da Indo-Birmânia
Nova Caledônia
Nova Zelândia
A M E A Ç A D A S D O P L A N E T A
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A Conservation International tem se dedicado a
fortalecer e expandir o envolvimento do setor pri-
vado com a proteção do meio ambiente, acreditan-
do que os elementos que garantem o sucesso de
empresas - pessoas comprometidas, tecnologias
inovadoras, produtos de qualidade e estratégias de
marketing - também podem ser poderosos aliados
na conservação da biodiversidade. No Brasil, os
Hotéis Transamérica e o Grupo Agropalma,
patrocinadores da publicação do livro sobre os
Hotspots, são exemplos de empresas que têm
investido na proteção do meio ambiente e colhido
resultados ambientais e econômicos.
PA R C E R I A S C O R P O R AT I VA S UM INSTRUMENTO CHAVE PARA A CONSERVAÇÃO DOS HOTSPOTS
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