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Escola Secundária/3 Abade Baçal
GUERRA
COLONIAL
PORTUGUESA
Trabalho de História
Elaborado por Sónia Alexandra Rodrigues Cova - 9ºB (2006-2007)
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INTRODUÇÃO
A Guerra Colonial (1961/1974)
A Guerra Colonial desenrolou-se nas colónias de Moçambique, Guiné e Angola, no período
de 1961 a 1974. Estiveram em confronto as Forças Armadas Portuguesas e as forças
organizadas pelos movimentos de libertação de cada uma daquelas colónias.
Os primeiros confrontos ocorreram em Angola, na zona a que se viria chamar Zona
Sublevada do Norte, traduziram-se, a partir de 15 de Março de 1961, em bárbaros massacres
de populações brancas e trabalhadores negros oriundos de outras regiões de Angola.
Nos três teatros de operações (Angola, Moçambique e Guiné os efectivos das forças
portuguesas foram aumentando constantemente em relação ao aumento das frentes de
combate, atingindo-se, no início da década de 70, o limite crítico da capacidade de
mobilização de recursos.
Pela parte portuguesa, a guerra era sustentada pelo princípio político da defesa
daquilo que era considerado território nacional, baseado no conceito de nação
pluricontinental e multirracial.
Pela parte dos Movimentos de Libertação, a guerra justificava-se pelo inalienável
princípio de autodeterminação e independência, num quadro internacional de apoio ao
incentivo à sua luta.
O Estado Novo, primeiro com Salazar e depois com Marcelo Caetano, manteve com
grande rigidez o essencial da política colonial, fechando todas as portas a uma solução
credível para o problema de qualquer dos territórios.
O 25 de Abril de 1974, trouxe alterações à natureza do regime político português, os
novos dirigentes de Portugal, aceitavam naturalmente os princípios da autodeterminação e
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independência, pelo que as fases de transição foram negociadas com os movimentos de
libertação, traduzindo-se rapidamente no fim das acções militares envolvendo forças
portuguesas.
Embarque
A viagem para África começava muito antes do embarque. O processo que levava
um jovem até Angola, Guiné ou Moçambique iniciava-se habitualmente logo após o final da
instrução da especialidade. Para um atirador, e tanto fazia sê-lo de infantaria, cavalaria ou
artilharia, após ser dado como pronto vinha a ordem de mobilização. O caso mais vulgar e
típico era o de o militar pertencer a uma companhia e esta a um batalhão.
A ordem de mobilização originava a guia de marcha para a unidade mobilizadora.
Aí se juntavam os militares vindos dos vários centros de instrução, os graduados e os
comandantes. A companhia e o batalhão já tinham um número de código atribuído e, aos
poucos, surgiam os especialistas diversos, os condutores, transmissões, enfermeiros e
cozinheiros, de modo a que se preenchesse o quadro orgânico respectivo.
Enquanto se formava a unidade, realizavam-se os exercícios de instrução - IAO, a
instrução de aperfeiçoamento operacional -,com os conselhos sobre o que fazer em África
para sobreviver, recebiam-se as vacinas, o camuflado e, por fim, a unidade estava pronta.
Chegava a ordem de embarque e então o contingente formava em parada no quartel. Nos
primeiros tempos, o capelão rezava uma missa campal, que depois caiu em desuso; o
comandante da unidade mobilizadora, um coronel, proferia umas palavras alusivas à missão
e entregava o guião ao comandante do
batalhão mobilizado, um tenente-
coronel, ou então da companhia, um
capitão; as tropas desfilavam ao som
da música, era concedida a licença de
dez dias antes de embarque e pagas as
ajudas de custo. Neste momento, o
militar era um mobilizado, ia a casa,
despedia-se da família, fazia umas
asneiras por conta, arranjava umas correspondentes para lhe escreverem, ou umas madrinhas
de guerra, e voltava à unidade mobilizadora para daí iniciar verdadeiramente a viagem.
Embarque em Lisboa
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Neste regresso faltavam uns quantos camaradas, que tinham decidido dar o salto para o
estrangeiro ou baixado ao hospital com uma doença mesmo a calhar, mas os que restavam
formavam-se de novo em parada no quartel, com as malas, e embarcavam nas viaturas
militares para a estação de caminho de ferro mais próxima.
Na estação, quase sempre de noite, o contingente embarcava num comboio especial
em direcção a Lisboa, ao Cais da Rocha ou ao de Alcântara. O navio que os iria levar estava
atracado e as famílias apinhavam-se nas varandas da gare marítima com lenços a acenar,
cartazes com o nome do militar, para chamar a atenção, e lágrimas da despedida. A tropa,
vinda de vários pontos em quantidade suficiente para encher o navio, desfilava de novo,
agora em continência perante
um alto representante militar,
com as senhoras do
Movimento Nacional
Feminino e da Cruz Vermelha
a distribuírem lembranças e
mais folhetos sobre o
território de destino. Chegava
o momento do embarque.
Subiam-se as escadas e arrumava-se a bagagem junto ao beliche armado nos porões,
transformados em casernas. Depois, voltava-se ao convés, lutava-se por um lugar na
amurada ou trepava-se aos mastros, para os últimos acenos.
Por volta do meio-dia, o navio recolhia as escadas e os cabos, a sirene apitava e,
durante alguns anos, a instalação sonora tocava uma marcha intitulada ANGOLA É
NOSSA independentemente do destino - um ritual abandonado nos anos mais próximos do
fim da guerra. O navio afastava-se lentamente, virava a proa à foz do Tejo, passava por
baixo da ponte e deslizava diante da Torre de Belém. A fome já apertava e eram dadas
instruções para a primeira refeição a bordo.
A meio da viagem realizavam-se exercícios de salvamento a bordo, e todo o
contingente enfiava o colete salva-vidas e cada um apresentava-se junto à baleeira que lhe
estava destinada em caso de naufrágio. Tiravam-se umas fotografias e estava passada mais
uma tarde. Os dias de calma eram gastos a jogar às cartas e a receber alguma instrução sobre
o destino, em que ninguém, verdadeiramente, queria pensar.
Rumo a um novo continente
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A passagem do equador fornecia o pretexto para uma cerimónia da praxe e,
entretanto, aproximava-se a chegada, que, quase sempre de manhã, era o tempo da
curiosidade de África, o tempo de refazer as malas e o desembarque. Nova formatura, agora
o calor, um desfile e um discurso. Depois, a partida para um campo militar, o Grafanil, em
Luanda, o Cumeré, em Bissau.
Aqueles para quem Moçambique era o destino, prosseguiam viagem de Lourenço Marques
para norte, até à Beira, Nacala ou Porto Amélia. A partir daqui, seguiam-se os dois anos da
comissão.
Meios de Transporte
As guerras de África implicaram a manutenção da maior força armada no exterior,
que Portugal alguma vez formou ao longo dos seus oito séculos de história. Em 1974, eram
mais de 130 000 homens que se mantinham em pé de guerra a milhares de quilómetros da
metrópole (27 000 na Guiné, 57 000 em Angola e 50 000 em Moçambique). O seu simples
transporte e apoio logístico era problema de grande envergadura para um país das dimensões
de Portugal e com os seus recursos, mas sem esse problema ser resolvido não podia haver
guerras de África.
Podemos dizer que a solução começou a ser pensada logo após a Segunda Guerra
Mundial. Em 1939-45, tornou-se evidente que um dos pontos que criavam maiores
dependências do país em relação ao exterior, em alturas de crise, era a falta de uma marinha
mercante e de ligações regulares com o império. Durante a guerra, por exemplo, os produtos
de Angola apodreciam nos portos e, embora fosse possível comprar petróleo, não se
conseguia assegurar o seu transporte.
O Governo decidiu dar prioridade à resolução desse problema. Logo em 1945
foram aprovadas duas medidas que implicaram vultosos investimentos nesse sentido. A
primeira foi o despacho de 10 de Agosto do ministro da Marinha, onde se previa a ampla
renovação da marinha mercante nacional por meio da construção de 70 navios, com apoio
do Estado, entre os quais nove grandes paquetes. A segunda foi a decisão de criar uma
companhia aérea do Estado (a TAP), com a prioridade de iniciar as operações da chamada
linha imperial, de ligação regular com Angola e Moçambique.
Em finais dos anos 50, depois de investimentos públicos de grande envergadura, a
marinha mercante portuguesa teve o seu desenvolvimento máximo. Contava,
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nomeadamente, com 22 paquetes, no total de 167 000 toneladas. Entre eles estavam os
quatro "gigantes": Santa Maria, Vera Cruz, Príncipe Perfeito e Infante D. Henrique, com
cerca de 30 000 toneladas cada, capazes de transportar mias de 1000 passageiros ou mais de
2000 soldados. Muitos destes paquetes foram requisitados em diversas ocasiões para
transporte de tropas, muito especialmente na fase inicial da guerra, e as restantes unidades
da marinha mercante seriam essenciais para manter o esforço em África.
Os paquetes mais requisitados na ligação a África foram o Vera Cruz, o Niassa, o
Lima, o Império e o Uíje. O Niassa foi o primeiro paquete afretado como transporte de
tropas e de material de guerra, por portaria de 4 de Março de 1961, mas seria o Vera Cruz a
fazer mais viagens, chegando a realizar 13 num ano. Em 1961, efectuaram-se 19 travessias
por nove paquetes em missão militar e o ritmo aumentou à medida que a força
expedicionária em África crescia: em 1963, tinham-se efectuado 27 viagens por oito
paquetes e, em 1967, 33 por nove.
Até 1974, o mar era a grande via de ligação ao império, tendo mais de 90 por cento da
carga e de 80 por cento do pessoal metropolitano empenhado na guerra sido transportado em
navios.
A linha aérea imperial começou a funcionar em 1947, mantida inicialmente pelos
velhos Dakotas da TAP, que asseguravam a ligação a Luanda e a Lourenço Marques. Em
1948, os bimotores foram substituídos pelos quadrimotores DC-4 Skymaster, com os quais
se conseguiu, pela primeira vez, a ligação semanal regular com o império. Mais tarde, os
DC-4 foram substituídos pelos Constellation e, desde, 1955, pelos Super Constellation, que
Baleeiras do Navio «Vera Cruz» Navio «Niassa»
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transportavam 83 passageiros para Luanda em menos de 24 horas. Só em 1965 estes
aparelhos foram substituídos na TAP pelos Boeing 707, os primeiros aviões a jacto de longo
curso usados por Portugal.
O esforço de guerra não podia ser mantido só com a linha da TAP e assim a Força
Aérea, desde muito cedo, tentou desenvolver
os transportes aéreos estratégicos, missão
entregue aos TAM (Transportes Aéreos
Militares), que começaram a operar na
primeira metade dos anos 50 a partir do AB1,
em Lisboa, para o que usaram dois C-54 (o
equivalente do Skymaster), cedidos pelos
americanos para uso nos Açores. Em 1955, os TAM contavam já com uma frota de 11 C-54
ou DC-4, mas todos antiquados.
Quando a luta armada rebentou em Angola, os Constellation da TAP foram
requisitados e fizeram viagens como transportes de tropas, enquanto os C-54 dos TAM
tentaram manter a ligação regular com Luanda, em voos que demoravam 22 horas. As
dificuldades eram muitas para os velhos aviões e quatro deles perderam-se em acidentes.
A renovação da frota de longo curso dos TAM era prioritária, mas os EUA
recusaram-se a vender os C-130 ou outros aparelhos modernos, pelo que teve de se recorrer
à TAP, que comprou oito DC-6 no mercado civil, passando-os depois aos TAM, os quais
mantiveram a ligação regular com Luanda até 1971. Dos dez aviões deste tipo usados pelos
TAM nas ocasiões de maiores dificuldades, só um estava operacional e era sempre difícil
comprar peças no mercado americano, mesmo através da TAP, por isso os C-54 foram
desviados para a rota da Guiné, bastante mais curta.
Em 1970, mais uma vez com
recurso a vários subterfúgios, foi possível
comprar dois Boeing 707 para os TAM. A
primeira viagem para Luanda fez-se em
1971, numa ligação que, com os aparelhos a
jacto, só durava dez horas.
Em resumo, o esforço para manter a
ligação adequada entre a metrópole e o império foi dos mais significativos e importantes das
«Dakota (DC-3)»
«Boeing 707 – 320C»
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guerras de África. Em termos de meios aéreos, só no final se encontrou a resposta
tecnicamente adequada, em larga medida devido à falta de apoio activo americano.
Efectivos militares:
Após a Segunda Guerra Mundial,
adensam-se, mais uma vez, as nuvens de
ameaça sobre o Império Colonial
Português. Embora com lentidão, o regime
trata de reestruturar o aparelho militar.
Macau está sob constante ameaça da
Revolução Chinesa, e na Índia é tudo uma
questão de tempo. Quando a guerra começa em Angola (4-2-1961), há militares que se
levantam. Convencidos da impossibilidade de uma solução militar, chegam mesmo a fazer
uma tentativa de golpe de Estado (General Júlio Botelho Moniz, 13 de Abril), mas o regime
endurece as suas posições, mantém-se surdo e mudo. Apesar disso, as Forças Armadas,
dispondo de efectivos reduzidos e meios obsoletos, não tinham capacidade de resposta.
Inicialmente, o regime tenta minimizar os acontecimentos e fala de “ acções de
polícia” para manter a ordem. Mas enquanto a guerra de Angola ganhava terreno,
desenvolvida a norte pelo U.P.A. (depois F.N.L.A.), de Holden Roberto, e a leste pelo
M.P.L.A. de Agostinho Neto (a U.N.I.T.A., de Savimbi, só aparece em 1966) o P.A.I.G.C.
inicia a luta armada na Guiné, em meados de 1962,e a F.R.E.L.I.M.O., em Moçambique, no
segundo semestre de 1964.
No final de 1960, o dispositivo militar em Angola limitava-se a três regimentos
(Luanda, Nova Lisboa/Huambo e Sá da Bandeira/Lubango), dois batalhões de Caçadores
(Cabinda e Carmona/Uíge), um grupo de reconhecimento e um batalhão de Engenharia, num
total de 6 500 militares, dos quais 1 500 metropolitanos. Um ano depois 33 mil, valor que
foi subindo sempre até 1965, ano em que se cifra em 57 mil. No ano seguinte, baixou e, com
algumas, oscilações (55 mil, em 1970, foi o mínimo), ultrapassou os 60 mil, em 1971,
atingindo o valor mais alto (65 mil) em 1973.
O efectivo, em Moçambique, começou a ser reforçado logo em 1961 (11 mil homens),
aumentando até 1973, ano em que se cifra em 51 mil. Na Guiné, de cerca de 5 mil homens,
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passando para 9 mil, em 1963, número que cresce sempre, até atingir 32 mil, dez anos
depois.
Feitas as contas, os efectivos militares nas três frentes de guerra, em 31 de
Dezembro de 1973, totalizavam cerca de 149 mil homens. A campanha Africana começara
em 1961 - quase 13 anos que mudaram Portugal.
Mortos:
Durante os 13 anos de Guerra, e segundo elementos incluídos na Resenha Histórico-
Militar das Campanhas de África (1961-1974), registou-se um total de 8 290 mortos nas três
frentes de combate.
O sub total mais elevado refere-se a Angola (3 258), embora a exiguidade do território
leve a ter de se referir a Guiné, com 2 070.
A grande maioria dos que morreram caiu em combate, e aqui o número mais elevado
registou-se em Moçambique (1 481); seguem-se Angola (1 306) e Guiné (1 240).
Feridos:
O número é difícil de calcular. A Associação de Deficientes das Forças Armadas
presta serviços a 13 mil sócios, todos, portanto, portadores de “ deficiência permanente e
adquirida durante o serviço militar”. Mais cerca de 3 mil processos aguardam solução.
Estimativas apontam para um total de 30 mil deficientes. Não custa aceitar que o número de
feridos, com maior ou menor gravidade, é bastante mais elevado, até porque, em muitos
caso, os ferimentos não deixaram marcas. Muitíssimo mais alto é o número de afectados,
sobretudo a nível psíquico. Médicos têm estudado o fenómeno, calculam em cerca de 140
mil os antigos militares “stress de guerra”,uma doença mais grave do que se supõe.
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Mas há outra ferida que as próprias autoridades procuram esconder o mais possível: os
desaparecidos em combate.
ARMAMENTO:
Dos Portugueses:
O armamento e equipamento do Exército português no início da década de 60
decorria de três períodos distintos:
- material adquirido no final da década de 30, perante a situação criada pela Guerra Civil
espanhola e pelo início da Segunda Guerra Mundial e essencialmente de origem alemã
(espingardas Mauser, metralhadoras ligeiras Dreyse e Borsig, obuses de 10,5 cm) e italiana
(metralhadoras Breda, obuses de 7,5 cm). Os calibres eram os dos países de Eixo,
nomeadamente o 7,92 mm (ou 7,9) das armas ligeiras;
- material recebido durante a II Guerra Mundial, sobretudo de contrapartidas da utilização
dos Açores. Era principalmente pesado (obuses de 8,8 cm e 14 cm, peças de 11,4 cm, peças
AA de 4 e 9,4 cm). Os calibres eram essencialmente ingleses;
- material recebido após a entrada na NATO e destinado essencialmente à 3ªDivisão
(canhões sem recuo de 57 mm, 75 mm e 106 mm, metralhadoras de 12,7 mm, morteiros de
60 mm, 81 mm e 107 mm, viaturas blindadas e carros de combate).
Espingardas:
O desencadear das hostilidades revelou, logo de início, em qualquer dos três teatros,
a falta de uma arma automática de base: em Angola, os ataques em massa não podiam ser
eficazmente contrariados com espingardas de repetição; na Guiné e em Moçambique, os
guerrilheiros dispuseram, desde o princípio, de armas automáticas que lhes davam nítida
vantagem sobre algumas das tropas portuguesas (caso das unidades de guarnição normal).
Assim, a prioridade, em 1961, foi a obtenção imediata de armas automáticas, mas tendo em
atenção a necessidade de garantir o fluxo de abastecimento de munições e sobressalentes, o
que só poderia ser plenamente conseguido através do fabrico nacional. Duas armas pareciam
corresponder aos desideratos operacionais então formulados: a FN, de origem belga, e a G-
3, de origem alemã. Quanto às munições, não havia problema, porquanto o cartucho de 7,62
mm era já fabricado em Portugal e exportado em larga escala, sobretudo para a RFA.
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Foram assim adquiridas (com dificuldades, como veremos), dois lotes destas duas armas:
- FN: 3835 sem bipé e 970 com bipé;
- G-3: 2400 sem bipé e 425 com bipé.
Antes da adopção da G-3, a
distribuição prevista de armas automáticas
era a de FN para Moçambique e de G-3
para Angola, mas problemas políticos
levaram a que, em certo período, a G-3
fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico
nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela
metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.
A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75
000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na
metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para
equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição.
É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada “arma
regulamentar”.
Morteiros:
O emprego eficaz dos morteiros (como da artilharia) pressupõe bom suporte
cartográfico e a observação do tiro. Durante todo o tempo da guerra, nenhum destes
desideratos foi plenamente atingido, pelo que o apoio próximo das tropas não foi
eficientemente conseguido. Assim, os morteiros de maiores calibres (81 mm e, mais tarde,
120 mm) foram essencialmente empregues em flagelações e reacções aos ataques a
aquartelamentos.
Pelo contrário, os morteiros de 60 mm seriam largamente utilizados, sobretudo no
apoio imediato das tropas, colmatando assim a falta já assinalada de um lança-granadas
eficaz. Os morteiros eram transportados pelos grupos de combate, sem tripé nem prato-base,
baseando-se a pontaria na experiência do apontador.
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Artilharia: A artilharia existente em África era, de início, composta pelos materiais mais
antiquados e de menor calibre, de difícil integração em forças da NATO, sendo já
problemática a obtenção de munições. A solução foi o aproveitamento desses materiais até
ao esgotamento dessas munições e depois a sua substituição. Assim, os primeiros obuses
10,5 cm m/941/62 seriam testados operacionalmente em Angola, em 1968. Na Guiné, a
situação em 1966 era a utilização dos obuses 8,8 cm por pequenas unidades (nove pelotões a
duas bocas de fogo cada), mas a partir de 1968 passaram a existir meios mais modernos e
mais potentes:
- 19 obuses de 10,5 cm, correspondendo a três baterias;
- Seis obuses de 14 cm, correspondendo a uma bateria;
- Seis peças de 11,4 cm, correspondendo a uma bateria.
Das Guerrilhas Os movimentos de libertação utilizaram armamento e equipamento de diversas
proveniências, mas a grande maioria do seu material de guerra tinha origem em países do
bloco socialista. A URSS e os seus aliados foram os principais fornecedores das forças de
guerrilha. Os tipos de armas individuais e colectivas, ligeiras ou pesadas, eram os mesmos,
embora por vezes os modelos mais antigos do que aqueles que equipavam os respectivos
países, incluindo a China. Ao longo da guerra, e sobretudo no seu início, surgiram armas e
minas de países ocidentais, nomeadamente pistolas-metralhadoras Thompson, minas
italianas e inglesas e metralhadoras alemãs, sendo algumas destas armas também utilizadas
pelas tropas portuguesas.
Os movimentos de libertação, apesar de algumas dificuldades em armar e equipar
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as suas forças, dispuseram, de modo geral, de armas mais adequadas à guerra do que os
soldados portugueses. Neste campo, como no da organização, instrução e capacidade para
combater, o PAIGC foi o movimento que dispôs de melhor e mais moderno material,
cobrindo toda a panóplia de meios, desde o armamento ligeiro para a infantaria aos
morteiros, lançadores de foguetes e obuses de artilharia, armas anti antiaéreas, incluindo
mísseis, e viaturas blindadas, que utilizou no início de 1974, no Sul da Guiné, no ataque à
guarnição de Bedanda. Estava prestes a dispor de aviões, contando já com os respectivos
pilotos. A Frelimo também evoluiu rapidamente na capacidade para operar armas mais
eficazes e em grande quantidade, preparando-se para o emprego de mísseis antiaéreos em
1974, tendo já elevada capacidade para usar minas. O MPLA, por sua vez, após vários anos
de grandes dificuldades de acesso a fornecimentos de material, que reflectia a indefinição
dos seus apoios políticos, melhorou rapidamente o potencial militar a partir da instalação na
Zâmbia, o que lhe permitiu obter hegemonia no Leste de Angola. A FNLA recebeu sempre
o apoio do Congo-Zaire e do seu exército, mas empregou as suas capacidades,
prioritariamente, no combate ao MPLA e em disputas internas, enquanto a UNITA se
defrontou com carências de toda a ordem, sendo o movimento mais fracamente armado.
As minas
Foram as mais temidas de todas as armas que os nossos militares enfrentaram nos três
teatros de operações. Utilizadas de forma isolada, ou conjugadas com emboscadas,
limitaram fortemente a mobilidade das forças portuguesas em acções tácticas e logísticas,
apeadas ou em viatura, sendo também responsáveis por atrasos nos reabastecimentos, por
destruições em veículos e, acima de tudo, por elevada percentagem de baixas.
Embora a estatística não esteja feita, amostragens dos três teatros de operações permitem
considerar que, no mínimo, 50 por cento das baixas portuguesas (mortos e feridos) foram
provocadas por engenhos explosivos. Um tipo de guerra altamente compensador para os
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movimentos de libertação, cujos objectivos eram apresentados do seguinte modo, nos
apontamentos de um curso frequentado na Argélia por quadros do PAIGC: "Realiza-se a
guerra de destruição e de minas para fazer obstáculo atrás dos inimigos, para aniquilar as
suas armas modernas, ameaçá-los e paralisá-los.
"Contudo a utilização das minas na guerra não foi exclusivo dos guerrilheiros, pois as
forças portuguesas também fizeram largo emprego delas e de outros engenhos explosivos,
usando-os na defesa das suas instalações, para proteger as tropas em operações e para
provocar baixas, mas, ao contrário dos guerrilheiros, recorreram maioritariamente às minas
anti-pessoais e às armadilhas com granada explosiva de fragmentação e rebentamento
instantâneo, detonada através de arame de tropeçar. Por parte dos movimentos de libertação,
além das minas anti-carros foram também utilizados "fornilhos", quase sempre constituídos
por granadas de mão, de morteiro e de artilharia, não rebentadas, e bombas de avião
conjugadas com explosivos e accionadas por mecanismo de explosão - detonador eléctrico
ou pirotécnico. Os "fornilhos" eram colocados nos itinerários e conjugavam o efeito das
minas anti-carros com as minas anti-pessoais.
A primeira mina utilizada pelos movimentos de libertação contra as forças
portuguesas era anti-pessoal (A/P) implantada na estrada Zala-Vila Pimpa, no Norte de
Angola, em 6 de Junho de 1962. A primeira mina anti-carro (A/C) surgiu seis dias depois,
em 12 de Junho de 1962, na pista da povoação de Bembé. Em 1963, a colocação de
engenhos explosivos estendeu-se ao Leste e a Cabinda.
Na Guiné, a primeira mina referenciada era anti-carro, colocada na estrada
Fulacunda-São João, em Julho de 1963, tendo sido aqui também utilizadas minas aquáticas
nos rios, que chegaram a inutilizar lanchas. Um documento elaborado depois de uma
operação realizada, em 1970, por um DFE e por uma secção de mergulhadores-sapadores
refere a existência de engenhos explosivos submersos colocados na confluência do rio
Cobade com o rio Como, reunidos num grupo de quatro a seis flutuadores, bem como a
suspeita de "outros objectos flutuando a meia água que denunciam a existência de um
campo de minas estendendo-se por uma zona de cerca de 600metros".
Em Moçambique, o aparecimento de engenhos explosivos ocorreu em 29 de Maio de 1965,
em Nova Coimbra, no Niassa, e em 4 de Julho, em Nancatari, Cabo Delgado, enquanto q
primeira mina anti-pessoal (A/P) surge em 14 de Junho, em Coubé (Niassa), e a primeira
anti-carro (A/C) em 10 de Outubro, em Sagal (Cabo Delgado), na estrada Mueda-Mocímboa
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da Praia.
Ao longo dos anos da guerra, a utilização de minas por parte dos guerrilheiros nos três
teatros teve a máxima expressão em Moçambique. Primeiro nas zonas do Niassa e do Cabo
Delgado/Mueda e, posteriormente, na de Tete/Cahora Bassa. Moçambique reunia as
condições ideais para a utilização deste tipo de arma por parte da Frelimo, pois as vias de
comunicação indispensáveis às forças portuguesas eram extensas e más, não existindo nas
zonas de guerra estradas alcatroadas. Por seu lado, os guerrilheiros dispunham da vantagem
de as acções bélicas se desenrolarem relativamente próximo das suas base logísticas, o que
facilitava o transporte do grande volume de cargas que a guerra de minas exige. Não admira,
pois, que em Moçambique os principais itinerários de restabelecimento das forças
portuguesa se tenham transformado em verdadeiros campos minados. No início dos anos 70,
o percurso de cerca de 200 quilómetros entre Mueda e Mocímboa da Praia chegou a
demorar 11 dias, quando habitualmente era percorrido entre quatro a seis horas, e num só
quilómetro de estrada encontraram-se, frequentes vezes, mais de 70 minas!
No Niassa, nas estradas que irradiam de Vila Cabral para Metangula, Nova Viseu ou
Tenente Valadim, as minas, associadas à quase inexistência de vias, ao clima chuvoso e ao
terreno ravinado junto ao lago transformaram os movimentos necessários à sobrevivência
das tropas e ao seu emprego em combate em operações de grande duração e desgaste, que
esgotavam só por si as suas capacidades e lhes retiravam a iniciativa.
È ainda em Moçambique que se regista o maior emprego de minas por parte das forças
portuguesas. O general Kaúlza de Arriaga, em carta ao ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo,
em 29 de Janeiro de 1973, solicitou o fornecimento de 150 000 minas anti-pessoais para
Cahora Bassa e um milhão para interdição da fronteira norte, junto ao rio Rovuma.
Num ponto de situação feito ao comandante-chefe, em Vila Cabral, foi referido que na
zona do Niassa, em 1972, os guerrilhemos haviam realizado 412 acções, das quais 223
foram colocação de engenhos explosivos (54 por cento do total). Destas, 78 foram
accionadas pelas forças portuguesas, que sofreram 43 mortos, 51 feridos graves e 151
feridos ligeiros.
De 1964 a Junho de 1970, foram detectadas pelas nossas tropas 5290 minas e engenhos
explosivos, das quais 1894 accionadas por militares ou viaturas.
Em Moçambique, tal como em Angola, no caminho de ferro de Benguela, também nas
linhas férreas da Beira e de Nacala foram implantadas minas, que dificultaram o transporte
de mercadorias e reabastecimentos, obrigando a complexas e desgastantes operações de
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escolta.
As minas são constituídas normalmente, por três partes: caixa, de madeira, plástico ou
metal, carga explosiva e espoleta para accionar.
O seu efeito pode ser por sopro ou pela sua conjugação com os estilhaços provocados pela
explosão, e a pressão sobre um prato foi a forma mais comum de accionamento dos que
foram utilizados durante a guerra. Quanto à sua finalidade, as
minas podem ser contra pessoas e contra viaturas. As primeiras
têm cargas explosivas variáveis, que vão das cem gramas, como
a Encrier, às quatrocentas da Viúva Negra ou da PMD-6, sendo
reguladas de modo a que o peso de um homem faça accionar a
espoleta. As minas anti-carros, podem ter cargas explosivas de
alguns quilos, dependendo do tipo de viatura que se pretende
atingir e variando as pressões de acordo com essa intenção.
Durante a guerra foram utilizadas, quer pelas forças
portuguesas quer pelos guerrilheiros, combinações de minas
anti-pessoais e anti-carros com outros tipos de explosivos e
materiais destinados a provocar estilhaços ou a propagar fogo,
assim como técnicas de armadilhar minas, colocando-lhes por baixo, ou em zona próxima,
engenhos que rebentavam quando essas minas eram levantadas.
As minas que os movimentos de libertação utilizaram com maior frequência, tinham
quase todas origem em países de bloco de leste,
embora aparecessem algumas francesas e
italianas.
As forças portuguesas utilizaram, ao
longo da guerra, todos os meios conhecidos de
detecção de minas e explosivos, destacando-se a
picagem, cuja morosidade apenas permitia o seu
emprego em área limitada; os pesquisadores,
meio mais eficaz, mas igualmente demorado; e
os rebenta minas, abundantemente utilizados nas
colunas motorizadas, permitindo velocidades de
progressão consideradas consideráveis.
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A coluna um a um, em fila indiana ou a bicha de pirilau, foi a formação de combate
mais utilizada pelos militares portugueses nas suas deslocações apeadas pelas matas de
África. Seguir por trilho já aberto na floresta ou avançar a corta-mato era a difícil opção a
tomar em cada momento da progressão. Abrir caminho na floresta densa ou na savana de
arbustos e ramos entrançados e espinhosos era mais seguro, mas constituía esforço tremendo
que os esgotava em poucos quilómetros enquanto que aproveitar os trilhos já batidos pelas
populações ou abertos por outros militares permitia avançar com maior facilidade, mas
representava risco acrescido de enfrentar uma emboscada ou mina. Optar por uma ou outra
das soluções resultava da análise da situação, mas era sempre jogo perigoso. Quando havia
que chegar rapidamente aos objectivos e os tropas julgavam que a sua presença não for a
ainda detectada escolhia-se marchar pelos trilhos e confiava-se na sorte. O soldado numero
um da formação procurava ler o terreno onde lia os pés e ver para alem das árvores que se
encontrava diante de si, de modo a evitar as minas e a estar preparado para reagir a alguma
emboscada.
Viver em combate
A ida para África, África e seus mistérios, África e a guerra, provocavam de forma
geral, nos jovens na iminência de serem mobilizados, reacções de receio, mas também de
curiosidade. Nos anos de 60, os Portugueses tinham
de África e da guerra um conhecimento povoado de
mitos e fantasias construídos sobre a vida da selva e o
contacto com populações estranhas. em época de
informação controladas pela censura e propaganda, e
condicionada pela relativa pobreza dos métodos e
processos de a difundir, transformar rapidamente
jovens europeus, camponeses e citadinos, em
soldados capazes de viver e combater nos teatros
africanos exigia o recurso a todos os meios, incluindo
a arte e o humor.
As Forças Armadas, especialmente o exército
por ser o ramo que mais efectivos mobilizou,
deitaram mão a esses recursos como complemento da preparação dos seus soldados para a
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realidade que iriam encontrar e a melhor forma de enfrentar situações em que poderiam ver-
se envolvidos.
Aproveitando a arte e o engenho de alguns militares em campo de guerra, eis alguns que
salientamos, o oficial de cavalaria Vicente da Silva e José Rui, entre outros que mais tarde
obtiveram sucesso como desenhadores de cartoons, o Jornal do Exército publicou, nos
primeiros anos de guerra, uma série de “Conselhos aos Soldados no Ultramar “, que,
embora enquadrados nas actividades de acção psicológica, revelavam apurado sentido de
humor e de crítica. Também as páginas humorísticas relativas às missões dos corpos de
tropas e às situações vividas nas várias fases da comissão contribuíam para integrar os
jovens soldados nas realidades que viviam ou iriam viver.
O dia-a-dia dos militares nos quartéis do mato passava-se entre tarefas de segurança,
as operações e a rotina dos longos dias. Excepto nas guarnições sujeitas a grande pressão
dos guerrilheiros, nos dias cumpriam-se no contacto com as populações, nas permanências
no bar, na correspondência com a família, na prática de algum desporto e, por vezes, na
caça. A ideia prevalecente na maioria dos militares era de que a comissão durava duas vezes
365 dias. A partir da data do embarque, iniciava-se a contagem decrescente até ao regresso.
A partir do local onde se encontrava, media-se a distância a que se estava de casa.
Os quartéis portugueses em África reproduziam a cultura de origem dos seus ocupantes,
sendo vulgar organizarem-se pequenas explorações agrícolas, onde se cultivavam produtos
metropolitanos que melhoravam a dieta da alimentação.
As relações com a população local eram, regra geral, fáceis e traduziam-se na troca de
serviços, dos domésticos aos sexuais, por algum tipo de remuneração, alimentos e
tratamentos sanitários.
Principais protagonistas:
Quando Salazar saiu da cena política, em 1968, deixou ao sucessor um regime
desacreditado, com mais de 100 000 homens em armas em três frentes de combates e mais
de um terço dos gastos do Estado afectos às despesas militares.
A subida de Marcelo Caetano ao poder, em Portugal, em 1983, gerou em
todo o mundo, em especial nos círculos ligados a África, enorme
expectativa. Para a maioria dos intervenientes no processo colonial, era a
última oportunidade de dar ao problema solução razoável. Houve, por isso,
da parte das Nações Unidas, dos movimentos de libertação e da oposição portuguesa uma
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pausa, apesar de tudo, carregada de cepticismo, até se perceber o que significavam as
"reformas necessárias" que Marcelo Caetano prometia no seu discurso.
Pouco tempo durou a expectativa. Sem capacidade para romper o círculo vicioso que
herdara, Marcelo Caetano depressa reafirmou a política colonial anterior, optando pela
continuidade da guerra e assumindo a responsabilidade histórica de encaminhar o seu
regime para um beco sem saída.
António Sepínola, oficial oriundo da arma de cavalaria, começou a
construir a imagem de chefe militar que vai onde os seus homens vão
desde que, como tenente-coronel, se ofereceu para comandar um
batalhão em Angola. Nomeado em 1968 por Salazar para governador e
comandante-chefe da Guiné, no primeiro estudo da situação,
apresentado por Marcelo Caetano, afirmava ter a guerra a finalidade de
"resistir para permanecer"; ligava entre si a sorte de cada território, de modo a evitar as
tentações do regime se libertar da ovelha negra que era a Guiné; e caracterizava o PAIGC
como o movimento de libertação mais consequente de quantos se opunham ao colonialismo
português, classificado por Amílcar Cabral como líder merecedor do maior respeito. A sua
acção na Guiné cobre toda a panóplia de manobras politícas e militares, subordinando
sempre esta àquelas e tendo por finalidade a conquista das populações. Promove
coversações ao mais alto nìvel com Leopoldo Senghor; tentando chegar a Amílcar Cabral,
procura cindir o PAIGC, num episódio de que resulta a morte de três majores da sua
confiança; lança uma operação contra Conacri para derrubar Sekou Touré, mas realiza
também congressos do povo, liberta presos políticos, cria uma força africana. Nunca um
governador de provincía ultramarina, e muito menos um general, ousara ir tão longe.
Amílcar Cabral ocupou um dos mais importantes lugares entre todos
os dirigentes nacionalistas das colónias portuguesas. A ele se deve o
essencial das doutrinas, das estratégias, da organização de esforços e
do estabelecimento de objectivos na luta contra o regime colonial
português. Os seus princípios procuraram ser claros tanto quanto à
Guiné, como aos povos dos outros territórios portugueses, tendo
orientado o seu pensamento e acção por duas ideias fundamentais: a luta nacionalista fazia-
se contra o regime português e não contra o povo português, também ele vitíma da ditadura;
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e a luta contra o regime português era a luta comum dos nacionalistas de todas as colónias
portuguesas. A sua morte não afectou a caminhada da Guiné-Bissau para a proclamação da
independência, mas viria a pôr em causa aquele que terá sido o seu mais acarinhado sonho –
juntar as suas duas pátrias, Guiné e Cabo Verde.
Costa Gomes, oficial do Exército, oriundo da arma de cavalaria, foi o
general que maiores efectivos e durante mais tempo comandou tropas
em operações durante a guerra.
A sua figura apagada e pouco carismática escondia um estrategista
que conduzia as tropas no terreno com o rigor de jogador de xadrez,
preparando antecipadamente as jogadas, e prevendo todas as
eventualidades. A sua acção como comandante-chefe em Angola é o
culminar de uma carreira que o faz estar presente nos grandes momentos da hisória
portuguesa da segunda metade do séc. XX. Costa Gomes é dos oficiais da "geração NATO"
que, desde os anos 50, vai introduzir profundas mudanças no aparelho militar português. Foi
subsecretário de Estado do Exército do Governo de Salazar, esteve envolvido na tentativa de
golpe de Botelho Moniz, foi o segundo-comandante militar em Moçambique e responsável
pela montagem do sistema logístico naquele teatro de operações, tão exigente nessa área, e
comandante-chefe em Angola, onde, do ponto de vista estritamente militar, esteve prestes a
vençer a guerra.
Este médico angolano (Agostinho Neto) formado em Lisboa, fez parte,
com Amílcar Cabral e Mário Andrade, entre outros, da geração de
estudantes africanos que, tendo ganho consciência nacionalista, viria a
desempenhar papel decisivo na independência dos seus países. Preso
pela PIDE e deportado para o Tarrafal, foi-lhe fixada residência em
Portugal, de onde fugiu para o exílio, assumindo a direcção do MPLA,
do qual já era o presidente honorário desde 1962.
O que caracteriza a acção política deste homem culto, intelectualmente respeitado e poeta
de reconhecido mérito, é a dificuldade em afirmar a autoridade no interior do seu
movimento e de se impor externamente.
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Jonas Savimbi, político angolano, fundador da UNITA. Frequentou o
sétimo ano do liceu em Lisboa, de onde saiu em 1961 apoiado por uma
organização protestante americana, que dirigia jovens estudantes para
o escritório da UPA em Paris.
Foi funcionário da UPA, tendo sido representante de Holden Roberto
na Europa no início dos acontecimentos desencadeados por aquele
movimento no Norte de Angola, em Março de 1961, e secretário-geral e ministro dos
Negócios Estrangeiros aquando da fundação da FNLA e da constituição do GRAE.
Desde o início da sua actividade política, Savimbi manteve contactos privilegiados com
organizações políticas e religiosas conotadas com a CIA americana e promoveu
repetidamente tendências fraccionastes de raiz étnica.
Samora Machel era uma força da natureza que libertava energia e tinha
um carisma que contagiava e fazia agir.
Antigo enfermeiro, nascido no Sul de Moçambique, pertence ao
primeiro grupo de nacionalistas moçambicanos que rompe com o
marasmo da discussão política e decide passar à luta armada. Estará
sempre ligado às tarefas da organização militar, porque entende que é
através de acções bélicas que tudo o resto virá. E o tudo era não só a independência política
formal de Moçambique, mas o estabelecimento de novo poder e de nova sociedade.
João Bernardo Vieira, conhecido por Nino ou Nino Vieira, é o
exemplo mais marcante do guerrilheiro que se transformou em lenda
viva.
Nasceu em Bissau, em 1939, e pertenceu ao primeiro grupo de
militantes do PAIGC que frequentou a Academia Militar de Pequim,
na China, logo em 1960. No regresso à Guiné dedicou-se à
organização militar da guerrilha no Sul do território. Em 1964, durante a grande Operação
Tridente, em que as forças portuguesas reocuparam a ilha de Como, numa acção que durou
60 dias, Nino era já, com apenas 25 anos, o comandante militar da zona sul, que abrangia a
região de Catió até à fronteira com a Guiné-Conacri.
Será quase sempre no Sul que Nino actuará, transformando esta zona, que abrangia o
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Cantanhez e o Quitafine, num dos mais duros, senão o mais duro, de todos os teatros de
operações em que as forças portuguesas estiveram empenhadas e do qual ainda restam
nomes míticos de Guileje, que ele veio a ocupar em 1973, Gadamael, Gandembel, Cacine,
Catió, Cufar, Cadique, Bedanda e tantos outros.
Embora se tenha dedicado principalmente à actividade militar, como comandante de
unidades de guerrilheiros, Nino Vieira ocupou os mais altos cargos na estrutura do PAIGC,
sendo membro eleito do bureau político do seu Comité Central desde 1964, vice-presidente
do Conselho de Guerra presidido por Amílcar Cabral em 1965, acumulando com o comando
da Frente Sul, e ainda comandante militar de operações, a nível nacional, a partir de 1970.
Em 1973, foi eleito deputado e, posteriormente, presidente da Assembleia Nacional Popular,
que proclamou a República da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973.
O FIM DO IMPÉRIO
O golpe de Estado do 25 de Abril de 1974, levado a efeito por militares dos três
ramos das Forças Armadas, dirigidos pelo MFA, pôs fim a 41 anos de Estado Novo e a 48
anos de ditadura em Portugal. Ao 25 de Abril
seguiu-se um período revolucionário que
transformou radicalmente o Estado e a Sociedade.
Em apenas dois anos, Portugal sofreu a mais
profunda mudança na sua história não só do ponto
de vista do sistema político, mas também nas
concepções, estruturas e relações sociais e económicas. As independências dos territórios
coloniais, ocorrida entre Outubro de 1974 e Novembro de 75.
A guerra colonial constituiu a motivação dominante do MFA para conceber e
preparar um golpe de estado contra o regime. O golpe de Estado obedeceu a um
planeamento muito cuidadoso e a execução de grande eficácia, baseada em princípios
militares muito simples (surpresa, coordenação e concentração de forças)
O sinal utilizado pelos golpistas foi uma canção de José Afonso "Grândola, Vila Morena",
transmitida pela rádio Renascença. Estava assim iniciada a revolta.
Definido, com a Lei 7/74, o direito dos povos coloniais à autodeterminação, com
todas as suas consequências, incluindo «a aceitação da independência dos territórios
ultramarinos», estava dado o sinal para as populações brancas das colónias de que o
Autometralhadoras no T. do Paço
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processo de descolonização iria entrar na fase definitiva. O comunicado conjunto de
Portugal - ONU, publicado em 4 de Agosto, pôs fim às últimas dúvidas.
Com base neste novo enquadramento, foram retomadas as negociações com o PAIGC e a
Frelimo, chegando as delegações à assinatura de protocolos de acordo. Em Argel, em 26 de
Agosto, ficou concluído o processo de conversações entre Portugal e o PAIGC, no sentido
do reconhecimento da «República da Guiné-Bissau como Estado soberano pelo Estado
Português». Em Lusaca, a 7 de Setembro, foi solenemente assinado pela delegação
portuguesa e pela Frelimo um «acordo conducente à independência de Moçambique».
Contudo neste mesmo dia, vários grupos de brancos organizados num movimento contrário
ao acordo assaltaram, em Lourenço Marques e noutras cidades moçambicanas, as
instalações do Rádio Clube de Moçambique e dos seus emissores regionais, preconizando,
em contínua emissão radiofónica, a independência branca e a intervenção da África do Sul.
Apesar da dificuldade de que se revestiu a acção das Forças Armadas para pôr termo à
situação a tentativa acabou por fracassar.
Criados assim os instrumentos de transmissão para a Guiné e para Moçambique, com
respeito pelo direito dos povos à independência, com o reconhecimento dos respectivos
movimentos de libertação e com a marcação de um calendário de transferência de poderes,
efectivaram-se os actos que concretizaram as cláusulas dos acordos.
Na Guiné fez-se a transferência administrativa, que poderia prolongar-se até 31 de
Outubro. De forma geral decorreu sem incidentes, publicando o governo português a
declaração de reconhecimento solene da independência da República da Guiné- Bissau em
10 de Setembro de 1974.
Relativamente a Moçambique, o governo português accionou rapidamente os mecanismos
acordados em Lusaca nomeando, ainda em 10 de Setembro, o alto-comissário previsto no
acordo, cargo em que foi investido Vítor Crespo, destacado elemento da Comissão
Coordenadora do MFA, que de imediato partiu para Moçambique. Entretanto, numa
operação de grande envergadura planeada pelo quartel-general de Nampula e pela e pela
direcção da Frelimo, foram transportados para o interior do território e para as principais
cidades os efectivos militares e quadros dirigentes deste movimento de libertação por forma
a cumprir-se ao Acordo de Lusaca e a permitir que o governo de transição, presidido por
Joaquim Chissano, tomasse posse a 21 de Setembro.
Quanto a Angola, considerando as previsíveis dificuldades de aproximação dos três
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movimentos de libertação e a amplitude da comunidade branca angolana, o Presidente da
República, e de forma geral os órgãos de soberania portugueses, interrogava-se
legitimamente sobre a melhor forma de levar à prática a descolonização. Com efeito, os
altos interesses em jogo no território angolano quer do ponto de vista da África do Sul e dos
países ocidentais, quer do ponto de vista da União Soviética e dos seus aliados faziam
adivinhar o alargamento de um confronto à margem de Portugal. Na sequência de várias
decisões, Spínola encontrou-se com Mobutu na ilha do Sal, em 15 de Setembro, reunião que
se revestiu de grande sigilo, mas cujo objectivo foi a questão de Angola. As iniciativas de
Spínola tiveram ainda alguma continuidade quando, em 27 de Setembro, exactamente nas
vésperas da sua ruptura com o novo regime, recebeu uma delegação das «forças vivas de
angola», a quem apresentou «as linhas gerais do programa de descolonização daquele
território», o seu último acto oficial relativo a tal matéria. Três dias depois, Spínola
renunciaria ao cargo.
Com Costa Gomes na Presidência da República
não diminuíram as preocupações com a
descolonização e, em especial, com a resolução do
caso de Angola.
O processo de negociações conheceu várias
frentes, desenvolvendo-se essencialmente em torno
de acções da Presidência da República, do ministro
Melo Antunes, do ministro dos negócios
estrangeiros e das autoridades portuguesas de
Angola. Neste período, uma primeira frente de
conversações desenvolveu-se em direcção à FNLA,
a partir de Kinshasa, onde esteve presente uma
delegação portuguesa em 11 e 12 de Outubro,
prosseguindo estas conversações, alguns dias depois, em Luanda. Ainda durante o mês de
Outubro, no interior de Angola, encontraram-se delegações de Portugal e do MPLA, vindo a
ser acordado um cessar-fogo.
Entretanto, várias diligências ao nível diplomático e político procuraram desbloquear
algumas desconfianças mútuas e várias dificuldades práticas, até poder ser anunciado, os
últimos dias do ano, uma cimeira dos três movimentos em Mombaça, preparatória de uma
Embarque das Últimas Tropas Portuguesas em Luanda
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plataforma comum perante o Governo português. Efectuada esta nos primeiros dias de 1975,
foi possível dar mais um passo em direcção à assinatura de um acordo global, com
realização, no Algarve, de uma cimeira dos três movimentos e de Portugal, entre 10 e 15 de
Janeiro. Neste último dia foi assinado o Acordo de Alvor, que definia um modelo de
transferência de poderes e criava os instrumentos-base do entendimento mútuo e do esforço
comum no sentido de Angola se tornar num Estado independente a partir de 11 de
Novembro de 1975. Contudo, os interesses brevemente silenciados não tardaram a fazer-se
ouvir, desfazendo em migalhas as esperanças de Alvor. Sem que a data da independência
tivesse sido posta em causa, o edifício constitucional laboriosamente construído durante as
conversações acabou rapidamente por ruir.
Nos outros territórios processaram-se entretanto os últimos actos da presença
portuguesa.
Da República da Guiné-Bissau, o último contingente militar regressou a Lisboa em 15 de
Outubro.
Em Moçambique prosseguiu a acção do alto-comissário e do Governo de transição, que,
apesar de alguns incidentes puderam ultrapassar as dificuldades e conjugar esforços para a
preparação da independência de Moçambique, em 25 de Junho de 1975.
Relativamente a São Tomé e Príncipe foi assinado um acordo em 26 de Novembro de
1974, em Argel, entre o Governo português e o respectivo Movimento de Libertação, que
marcou, a independência do território para 12 de Julho de 1975.
Quanto a Cabo Verde, o acordo assinado entre Portugal e PAIGC, em Agosto de 1974,
estabelecia o princípio do acesso do arquipélago a autodeterminação e independência. Em
17 de Dezembro, foi publicado o Estatuto Constitucional de Cabo Verde, prevendo a
realização de eleições por sufrágio directo e universal, em 30 de Julho de 1975, para uma
assembleia com «poderes soberanos e constituintes». Esta proclamou a independência do
território em 5 de Julho de 1975.
Em Angola, a guerra civil fez do processo de descolonização um desastre, com milhares de
vítimas e a fuga dos portugueses.
Também em Timor se viveram dias dramáticos, com as facções locais envolvidas em
luta aberta e sem que as autoridades portuguesas dispusessem de capacidade para por fim à
situação, acabando a Indonésia por invadir a ilha.
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Bibliografia
Diciopédia Multimédia, Porto Editora 2006
Enciclopédia Universal, Texto Editora 2001
Resenha Histórico-Militar das campanhas de África (1961-74), Arquivo Histórico-Militar,
Lisboa 1988
http://www.google.com/guerra colonial
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Índice Introdução ........................................................................................................ pág. 2 Embarque ......................................................................................................... pág. 3 Meios de transporte ......................................................................................... pág. 5 Efectivos militares ........................................................................................... pág. 8 Armamento dos portugueses ........................................................................... pág. 10 Armamento das guerrilhas ............................................................................... pág. 12 Minas ............................................................................................................... pág. 13 Viver em combate ............................................................................................ pág. 17 Principais protagonistas ................................................................................... pág. 18 O fim do império ............................................................................................. pág. 22 Bibliografia ...................................................................................................... pág. 26